européia, asiática, entre outras culturas) e da equidade em saúde. Como campo de
intervenção social, podemos verificar que o racismo e a discriminação racial expõem
mulheres e homens negros a situações mais perversas de vida e de morte, as quais
só podem ser modificadas pela adoção de políticas públicas de equidade, capazes de
reconhecer os múltiplos fatores que resultam em condições adversas.Em que pese o SUS garantir a universalidade da saúde, numa sociedade profundamente desigual como a brasileira, a conquista da universalidade dos serviços tem se mostrado insuficiente para assegurar a equidade pois, ao subestimar as necessidades de grupos populacionais específicos, contribui para agravar quadro das condições sanitárias nas quais vivem muitas pessoas negras.
Há ainda poucos estudos e pesquisas sobre o processo saúde doença da população negra e principalmente sobre o impacto do racismo sobre esta população.
É necessário que os gestores e os profissionais dos serviços de saúde, diante da diversidade cultural brasileira, considerem as teorias transculturais e de bioética para abordar a discriminação, o preconceito e o estigma nas relações inter-étnicas entre o sistema de saúde e o cliente, assim como o processo de trabalho em saúde.
A dificuldade que o brasileiro sente em identificar a própria cor ou raça revela, na verdade, mais uma face do racismo e da discriminação; mas não pode mais continuar negando o componente indígena e negro. "Ao olhar para o Brasil negro, não estamos mais falando de uma minoria"
Por isso acreditamos que o racismo no Brasil é um dos mais sérios do mundo, pois é a negação de si próprio. Historicamente, o negro escutou que é feio, sujo, incapaz, inferior. Claro que sua auto-estima ficou abalada; valores negros foram negados, e negar a própria origem causa conflitos e sofrimento.
Na área da saúde, a preocupação mais gritante é a doença falciforme, uma alteração
provocada nos glóbulos vermelhos do sangue. Além da doença falciforme, chamam à
atenção as doenças com componente genético que se manifestam mais intensamente
entre os negros, como a hipertensão ou
diabete. Sem falar das doenças
agravadas pelas condições socioeconômicas, bastante desfavoráveis para a grande
maioria da população negra.
A população negra deve saber quais as doenças a que
está mais sujeita, quais são os riscos e o que fazer para evitar os problemas.
Pesquisa feita pelo
Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) sobre a
extrema pobreza no Brasil, com base nas informações coletadas no
Censo 2010 realizado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (FIBGE), na qual é considerada extremamente pobre a pessoa que
possua rendimento mensal de até R$ 70,00, confirma de modo inequívoco a
assertiva de que a pobreza no Brasil tem cor e é
negra. Pelos resultados da pesquisa do MDS, considerando
o Brasil como um todo, 70,8% das pessoas que se encontram na situação
de extrema pobreza no Brasil são ou negras ou pardas, sendo
que esse percentual atinge 77% na região Norte e 75,1% no Nordeste. Os
percentuais aqui mencionados foram obtidos em Nota do MDS datada de 2 de maio
de 2011, disponível no endereço.
A população que se declara
negra ou parda possui renda em torno da metade da renda recebida pelos brancos,
a taxa de desemprego entre os negros é bastante mais elevada do que entre os
não negros, a escolaridade dos segmentos afro-brasileiros é significativamente
menor em relação àquela possuída pelos contingentes da
população brasileira de origem européia, a parcela da renda nacional
detida pelos brasileiros de ascendência africana é demasiadamente menor do
que a parcela possuída pelos segmentos brancos. Toda essa realidade, comprovada
pelas estatísticas sociais do órgão oficial do Governo, é irrefutável e não pode
ser negada. Será que essas características estruturais da
sociedade brasileira são causadas por uma incapacidade congênita dos
afro-brasileiros, ou há explicações de caráter histórico e sociológico que são
responsáveis pela existência das características antes mencionadas?
Racismo institucional
O racismo institucional é
definido como o "fracasso coletivo de uma organização para prover um
serviço apropriado e profissional para as pessoas por causa de sua cor,
cultura, origem religiosa ou origem étnica. Ele pode ser visto ou detectado em
processos, atitudes e comportamentos que totalizam em discriminação por
preconceito involuntário, ignorância, negligência e estereotipação racista, que
causa desvantagens a pessoas de minoria étnica". A prática do racismo
institucional na área da saúde afeta preponderantemente as populações negra e
indígena.
A Constituição Federal de
1988 tornou a prática do racismo crime sujeito a pena de prisão, inafiançável,
imprescritível através do artigo 5º, onde "Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]." Também no
artigo 196 declara-se que "A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação", isto posto que todas
as etnias possuam esse direito fundamental para que tenham uma melhor condição
de vida.
O SUS (Sistema Único de Saúde) deve promover um conjunto de ações e serviços de
saúde que entre seus princípios estão à universalidade, a equidade, a
integralidade, a hierarquização, a participação popular e a descentralização
entre as três esferas de governo. O Conselho de Saúde é existente para
construir - com participação popular - políticas públicas que combatam o
racismo de qualquer gênero.
Sabe-se que um dos desafios do Brasil, com relação à
saúde publica, é diminuir a mortalidade entre os negros, pois a qualidade de
vida, o acesso à saúde e a educação determinam diferenças importantes.
Considerando que a maioria da população de baixa renda é negra para melhor
acesso a serviços de saúde, precisa-se eliminar a desigualdade de forma a
garantir o bem estar e saúde a esta população.
Outro aspecto
importante é que já existem estudos que não apontam diferenças genéticas entre
as raças. Considerando o DNA como o material hereditário e o gene como unidade
de análise biológica, é impossível dizer que as estruturas pertencem a uma
pessoa negra, branca ou amarela, pois o gene carrega as possibilidades de
caracteres e não os caracteres. A sua importância está em provar que não
existem humanos superiores ou inferiores.
Disparidades – diferenças na incidência, prevalência, mortalidade,
carga de doenças e outras condições de saúde adversas; Cultura afro-brasileira
– processos de diagnóstico, alívio e cura que devem ser conhecidos e
valorizados. “O racismo continua de variadas formas e, todo mundo sabe que um
conjunto de fatos isolados que ocorrem de forma esporádica, sendo
consensualmente considerados execráveis. Racismo não é só episódico, não é
somente a ofensa ou o olhar torto. O atendimento no sistema de saúde pública
brasileiro é um exemplo emblemático, pois mostra uma das piores faces da
descriminação racial: a morte de negros e negras”,
”Os preconceitos que existem estão arraigados na forma como a instituição se organiza, como o serviço se organiza, como os profissionais foram formados e a cultura da própria instituição. Por isso que nós queremos uma campanha permanente de combate ao racismo institucional nos serviços públicos e privados de saúde”, destaca.
Alguns estudos já apontaram as diferenças no tipo de atendimento prestado a pessoas brancas e negras. Um deles revelou que, na hora do parto, mulheres negras acabam recebendo menos anestesia do que as brancas. A diretora do Departamento de Apoio à Gestão Participativa do Ministério da Saúde, Julia Roland, explica que é preciso conscientizar os profissionais de saúde. ”A primeira coisa para termos um combate efetivo é reconhecer que o problema existe. E ver medidas também para combatê-lo, que é o caso do próprio profissional de saúde tomar consciência disso na medida que acolhe e recebe o usuário do SUS, seja negro, índio ou de qualquer outra etnia com tratamento digno a todos”,
O racismo
sempre coloca pessoas de grupos raciais ou étnicos discriminados em situação de
desvantagem no acesso a benefícios gerados pela ação de instituições e
organizações.
Desenvolver
entre os profissionais da saúde habilidades que lhes permitam identificar o
racismo no trabalho cotidiano e propor formas para sua superação.
Fortalecer o debate sobre a redução das iniqüidades raciais na saúde, abordando
a importância da adoção de políticas de saúde da população negra no âmbito do
sistema único de saúde.
O racismo institucional
sempre coloca pessoas de grupos étnicos ou raciais discriminados em situação de
desvantagem para aceder aos benefícios derivados da ação das instituições e
organizações.
Precisamos combater e prevenir o racismo
institucional e no sistema de saúde são condições fundamentais para construir
um SUS para tod@s
Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
Secretaria de Gênero Raça e
Etnia/SINDSPREV/RJ
Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano –
racismo, pobreza e violência. Brasília: 2005/ A Prática do Serviço
Social: cotidiano, formação e alternativas de saúde. 2ª Edição. São Paulo:
Cortez, 2003/ Cadernos saúde coletiva. Rio de Janeiro. v. 12, n. 1, p. 87 - 92,
2004.
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