UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

domingo, 21 de outubro de 2012

UM REFLEXO SOBRE RELIGIÃO, JUVENTUDE NEGRA E FÉ...


A Campanha da Fraternidade de 2013 terá como tema a Juventude. Ótimo! Mais do que necessária. Oxalá a juventude da igreja católica e de outras igrejas, as comunidades cristãs da Igreja Católica e de outras igrejas e pessoas de boa vontade deem as mãos e unam os corações para que a Opção Preferencial pelos Pobres e pelos Jovens se torne uma realidade concreta entre tod@s na atualidade, no Brasil.

Acredito que uma das tarefas dos jovens, hoje, é olharmos um pouco para a história da nossa América Afrolatíndia. Segundo Eduardo Galeano, autor do livro As veias abertas da América Latina – de leitura indispensável – e de muitos outros livros necessários para uma boa compreensão da nossa história, a América Latina é uma peça fundamental para o enriquecimento das nações dominadoras, restando como consequência dessa lógica de exploração imperialista o subdesenvolvimento crônico do nosso continente e as intermináveis crises sociais que vivemos por nunca conseguirmos nos desvencilhar do status de colônia. A riqueza das potências é a pobreza da América Latina.”.
O Brasil enquanto nação formou-se a partir da fusão de três grupos étnicos: a população negra africana escravizada, os europeus e os indígenas. No entanto, o reconhecimento da contribuição civilizacional para a construção deste país é hierarquicamente diferenciada, restando aos negr@s e indígenas uma posição marginalizada social e economicamente.

Ao longo da História deste país, instituiu-se um padrão de cidadão, que a pesar da tão propalada teoria da mestiçagem, deveria ser branco e cristão. É por isso que invariavelmente @s brasileir@s tem dificuldade em assumir as suas heranças negras e indígenas. É por essa razão que nas escolas e programas de televisão comumente observam-se piadas racistas e inúmeras formas de discriminação que constroem uma cultura racista e preconceituosa.
A população negra, apesar de sua garra e determinações históricas e ideológicas, ocupou um lugar subalterno nos mais diversos setores da vida social. Constatam-se omissões e lacunas presentes no tratamento da história, da cultura, do trabalho e da resistência negra no Brasil e desinformações sobre o continente africano. As muitas instituições culturais – escola, TV, rádio, cinema, e etc. - têm desempenhado um papel importante na reprodução de padrões e valores eurocêntricos negando os referenciais históricos e culturais da população negra brasileira.
Durante a Colônia e o Império no Brasil, a reprodução da força de trabalho e a inserção da ideologia dominante – ao contrário do que ocorreu na Europa onde a educação e a cultura tiveram papéis fundamentais – eram exercidos pela violência da Escravidão com a conivência da igreja. O projeto de país era claro e objetivo: a população negra e, portanto, a juventude negra era alvo da violência explicita da elite escravocrata e do Estado.

O extermínio físico e mental fazia parte da estrutura organizativa da sociedade. Não havia dissimulação e legitimavam de inúmeras formas. Uma das maneiras de justificar a exploração e opressão sobre a população negra estava na ideologia religiosa da Igreja Católica.

Sabe-se que muitas ideias e justificativas foram utilizadas para escravizar @s african@s. Uma tem importância fundamental: a justificativa religiosa. Setores da Igreja Católica buscando legitimar a escravização africana afirmaram baseados na Bíblia (Gênesis 9, 21-27) que @s african@s eram herdeiros de Cam, filho de Noé, amaldiçoado por seu pai e predestinado a ter uma vida de servo, bem como seus descendentes. Num malabarismo histórico, @s african@s foram tornados descendentes de Cam e, portanto, passíveis do amaldiçoamento bíblico.
Nesse sentido, a escravização e o extermínio seriam o preço a pagar pela redenção do pecado cometido por Cam. Era a sina da população negra africana e seus descendentes visando à regeneração e purificação dos pecados, dizia o repertório ideológico da classe dominante branca, masculina, judaico-cristã, latifundiária e escravocrata.
“A ordem e o progresso que a elite quer atingir por meio da eliminação cultural e física da população negra ainda continua e não tem prazo de validade.”

Acredito que pensamento como estes funciona para a classe dominante legitimar e perpetuar suas condutas, mais não serve para nós negr@s e nossa juventude. Muito pelo contrário, desde os primeiros dias da escravidão e da montagem do capitalismo dependente que a resistência se faz sentir de inúmeras formas e de variadas ações: fugas, quilombos, quebra de maquinaria, queima da produção, “assassinato” dos senhores e revoltas, muitas revoltas...
Desde a chegada dos primeiros Navios Negreiros transportando africanos escravizados para o território brasileiro que a História da população negra tem sido de superar os obstáculos postos à sua existência.

Conceitos...

 Penso que verdade não é adequação de um conceito a um objeto. Isso é verdade formal. “Verdade é o que liberta todos e tudo”, diz o quarto evangelho da Bíblia. A verdade deve ser buscada conjuntamente. Ninguém é dono da verdade, mas verdade como o que liberta deve ser buscada a partir dos pobres, excluído, sem terra, indígenas, negros, pessoas com deficiências, idosos, desempregados, homossexuais, mãe terra, irmã água, favelados, vítimas da violência...

Tá e o que este discurso histórico tem haver com Fé?
Precisamos perceber que a coisa sagrada é também profana. Profanar é retirar do uso exclusivo para dar acesso a todos. Profanar vem do verbo grego faneo, que quer dizer “brilhar”. Ou seja, que o brilho do sagrado seja estendido a todos sem distinção, sem nenhuma discriminação ou qualquer dualismo. Dizer não há separação entre espiritual e material, entre sagrado em profano, entre divino e humano, entre santo e pecador, entre puro e impuro...

Precisamos buscar vida e liberdade para todos e tudo – e não apenas para alguns – mas a partir dos últimos.

O apóstolo Paulo (Saulo), ao escrever sobre o Concílio de Jerusalém, acontecido por volta dos anos 49/50 do século 1º disse que a circuncisão, a maior de todas as barreiras, tinha sido abolida e que a única coisa que os apóstolos fizeram questão de alertar foi: “Não esqueçam os pobres.” (Gal 2,10) Esse alerta deve ser acolhido pelos jovens também. Mas faz bem ter um bom entendimento sobre quem é pobre...

 O carente economicamente, a mulher, o indígena, o negro, o homossexual, a divorciada, a mãe terra, a irmã água, o meio ambiente.

Enxerga o pobre apenas como um poço de carência, como um coitado, e um equivoca. Eu acredito que o Criador, Deus, Oxalá ou como você queira chamar age de dentro pra fora, pois de enxerga da mesma forma... sem mascaras ou títulos.

A Teologia da Libertação acredita que “o mundo será melhor quando o menor que padece acreditar no menor”, conforme dizia Dom Hélder Câmara.

Cada experiência religiosa é sempre um novo nascimento, um renascer. No Candomblé há essa fé muito arraigada da comunidade com a ancestralidade, onde se entende que somos tod@s um. É a união do Orum com a terra. Tod@s estamos ligad@s e os orixás nos fazem viver essa força, o axé. O axé tem essa dimensão de vir de não se sabe onde e seguir para qualquer lugar, é o vento que sopra, é à força do Espírito. É interessante que na doutrina judaica não há, propriamente, uma teologia do Espírito Santo, porque o monoteísmo judaico não distinguiu as três pessoas da divindade como o fez o Cristianismo. Porém, o judaísmo fala da Ruah, o sopro de Deus. A imagem do sopro, da brisa, está no livro dos Reis, na história de Elias, por exemplo, que ouve trovões, barulhos fortes e depois ouve a brisa, e na brisa é que Deus se revela. A brisa, o vento que sopra Deus que se mostra para cada uma e cada um de nós, como essa força unificadora, que nos faz buscar sermos aquelas e aqueles que buscam fazer a terra ser habitável para todas e todos, na força do Espírito, o espiritísmo fala de superar a si mesmo e que nos somos nosso maior inimigo que sem caridade não há salvação, na busca da Maíra de tudo (a Terra sem Males, dos Guarani).

Refletir sobre as juventudes negras como sujeitos de direito e assumir os seguintes compromissos de incidência pública:

1.    Construir, nas comunidades, possibilidades de diálogos e intervenções a partir dos Direitos Humanos com intuito de fortalecer as ações a serem descendentes;
2.    Oportunizar liturgias a partir das experiências corpóreas, identitárias e culturais das juventudes;
3.    Fortalecer a implementação das Leis 10.639/03 e 11.645/08 – inclusão das temáticas (negra e indígena), nas Escolas Dominicais e de Formação Teológica;
4.    Garantir espaços de participação e visibilidade para as juventudes, com equidade de gênero e etnia;
5.     Politização das Comunidades: organização por meio de conferências livres, para enviar o maior número de propostas para a Conferência Nacional da Juventude.
 7.    Fortalecer as campanhas nacionais contra o extermínio das juventudes.

Precisamos nos posicionar como corpos negros que resistem às desigualdades e injustiças e continuam a afirmar e construir em esperança uma casa realmente habitável para tod@s em diversidade-irmandade.


Claudia Vitalino (UNEGRO/RJ)
UM AFRO ABRAÇO.
Rebele-se contra o Racismo!

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre/momentodereflexao-angelo. blogspot.com/www.ecodebate.com.br/ujab.ieab.org.br/category/ecumenismo/.         


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