A Campanha da Fraternidade de 2013 terá como tema a
Juventude. Ótimo! Mais do que necessária. Oxalá a juventude da igreja católica
e de outras igrejas, as comunidades cristãs da Igreja Católica e de outras
igrejas e pessoas de boa vontade deem as mãos e unam os corações para que a Opção Preferencial pelos Pobres e pelos
Jovens se
torne uma realidade concreta entre tod@s na atualidade, no Brasil.
Acredito que uma das tarefas dos jovens, hoje, é olharmos um
pouco para a história da nossa América Afrolatíndia. Segundo Eduardo Galeano,
autor do livro As veias abertas da América Latina – de leitura
indispensável – e de muitos outros livros necessários para uma boa compreensão
da nossa história, “a América Latina é uma peça
fundamental para o enriquecimento das nações dominadoras, restando como consequência
dessa lógica de exploração imperialista o subdesenvolvimento crônico do nosso
continente e as intermináveis crises sociais que vivemos por nunca conseguirmos
nos desvencilhar do status de colônia. A riqueza das potências é a pobreza da América Latina.”.
O Brasil enquanto nação formou-se a partir da fusão de três
grupos étnicos: a população negra africana escravizada, os europeus e os
indígenas. No entanto, o reconhecimento da contribuição civilizacional para a
construção deste país é hierarquicamente diferenciada, restando aos negr@s e indígenas uma posição marginalizada social e economicamente.
Ao
longo da História deste país, instituiu-se um padrão de cidadão, que a pesar da
tão propalada teoria da mestiçagem, deveria ser branco e cristão. É por isso
que invariavelmente @s brasileir@s tem dificuldade em assumir as suas heranças
negras e indígenas. É por essa razão que nas escolas e programas de televisão
comumente observam-se piadas racistas e inúmeras formas de discriminação que
constroem uma cultura racista e preconceituosa.
A
população negra, apesar de sua garra e determinações históricas e ideológicas,
ocupou um lugar subalterno nos mais diversos setores da vida social.
Constatam-se omissões e lacunas presentes no tratamento da história, da
cultura, do trabalho e da resistência negra no Brasil e desinformações sobre o
continente africano. As muitas instituições culturais – escola, TV, rádio,
cinema, e etc. - têm desempenhado um papel importante na reprodução de padrões
e valores eurocêntricos negando os referenciais históricos e culturais da
população negra brasileira.
Durante
a Colônia e o Império no Brasil, a reprodução da força de trabalho e a inserção
da ideologia dominante – ao contrário do que ocorreu na Europa onde a educação
e a cultura tiveram papéis fundamentais – eram exercidos pela violência da
Escravidão com a conivência da igreja. O projeto de país era claro e objetivo:
a população negra e, portanto, a juventude negra era alvo da violência
explicita da elite escravocrata e do Estado.
O
extermínio físico e mental fazia parte da estrutura organizativa da sociedade.
Não havia dissimulação e legitimavam de inúmeras formas. Uma das maneiras de
justificar a exploração e opressão sobre a população negra estava na ideologia
religiosa da Igreja Católica.
Sabe-se
que muitas ideias e justificativas foram utilizadas para escravizar @s african@s.
Uma tem importância fundamental: a justificativa religiosa. Setores da Igreja
Católica buscando legitimar a escravização africana afirmaram baseados na
Bíblia (Gênesis 9, 21-27) que @s african@s eram herdeiros de Cam,
filho de Noé, amaldiçoado por seu pai e predestinado a ter uma vida de servo,
bem como seus descendentes. Num malabarismo histórico, @s african@s foram
tornados descendentes de Cam e, portanto, passíveis do amaldiçoamento bíblico.
Nesse
sentido, a escravização e o extermínio seriam o preço a pagar pela redenção do
pecado cometido por Cam. Era a sina da população negra africana e
seus descendentes visando à regeneração e purificação dos pecados, dizia o
repertório ideológico da classe dominante branca, masculina, judaico-cristã,
latifundiária e escravocrata.
“A ordem
e o progresso que a elite quer atingir por meio da eliminação
cultural e física da população negra ainda continua e não tem prazo de validade.”
Acredito
que pensamento como estes funciona para a classe dominante legitimar e
perpetuar suas condutas, mais não serve para nós negr@s e nossa juventude. Muito
pelo contrário, desde os primeiros dias da escravidão e da montagem do
capitalismo dependente que a resistência se faz sentir de inúmeras formas e de
variadas ações: fugas, quilombos, quebra de maquinaria, queima da produção,
“assassinato” dos senhores e revoltas, muitas revoltas...
Desde
a chegada dos primeiros Navios Negreiros transportando africanos escravizados
para o território brasileiro que a História da população negra tem sido de
superar os obstáculos postos à sua existência.
Conceitos...
Penso que verdade não é adequação de um
conceito a um objeto. Isso é verdade formal. “Verdade é o que liberta todos e
tudo”, diz o quarto evangelho da Bíblia. A verdade deve ser buscada
conjuntamente. Ninguém é dono da verdade, mas verdade como o que liberta deve ser
buscada a partir dos pobres, excluído, sem terra, indígenas, negros,
pessoas com deficiências, idosos, desempregados, homossexuais, mãe terra, irmã
água, favelados, vítimas da violência...
Tá e o que este discurso
histórico tem haver com Fé?
Precisamos
perceber que a coisa sagrada é também profana. Profanar é retirar do uso
exclusivo para dar acesso a todos. Profanar vem do verbo grego faneo, que quer dizer “brilhar”. Ou seja, que o brilho
do sagrado seja estendido a todos sem distinção, sem nenhuma discriminação ou
qualquer dualismo. Dizer não há separação entre espiritual e material, entre
sagrado em profano, entre divino e humano, entre santo e pecador, entre puro e
impuro...
Precisamos buscar
vida e liberdade para todos e tudo – e não apenas para alguns – mas a partir
dos últimos.
O apóstolo Paulo (Saulo),
ao escrever sobre o Concílio de Jerusalém, acontecido por volta dos anos 49/50
do século 1º disse que a circuncisão, a maior de todas as barreiras, tinha sido
abolida e que a única coisa que os apóstolos fizeram questão de alertar foi:
“Não esqueçam os pobres.” (Gal 2,10) Esse alerta deve ser acolhido pelos jovens
também. Mas faz bem ter um bom entendimento sobre quem é pobre...
O carente economicamente, a mulher, o
indígena, o negro, o homossexual, a divorciada, a mãe terra, a irmã água, o
meio ambiente.
Enxerga
o pobre apenas como um poço de carência, como um coitado, e um equivoca. Eu
acredito que o Criador, Deus, Oxalá ou como você queira chamar age de dentro
pra fora, pois de enxerga da mesma forma... sem mascaras ou títulos.
A Teologia da
Libertação acredita que “o mundo será melhor quando o menor que padece
acreditar no menor”, conforme dizia Dom Hélder Câmara.
Cada
experiência religiosa é sempre um novo nascimento, um renascer. No Candomblé há
essa fé muito arraigada da comunidade com a ancestralidade, onde se entende que
somos tod@s um. É a união do Orum com a terra. Tod@s estamos ligad@s e os
orixás nos fazem viver essa força, o axé. O axé tem essa dimensão de vir de não
se sabe onde e seguir para qualquer lugar, é o vento que sopra, é à força do
Espírito. É interessante que na doutrina judaica não há, propriamente, uma
teologia do Espírito Santo, porque o monoteísmo judaico não distinguiu as três
pessoas da divindade como o fez o Cristianismo. Porém, o judaísmo fala da Ruah,
o sopro de Deus. A imagem do sopro, da brisa, está no livro dos Reis, na
história de Elias, por exemplo, que ouve trovões, barulhos fortes e depois ouve a brisa, e na brisa é que Deus
se revela. A brisa, o vento que sopra Deus que se mostra para cada uma e cada
um de nós, como essa força unificadora, que nos faz buscar sermos aquelas e
aqueles que buscam fazer a terra ser habitável para todas e todos, na força do
Espírito, o espiritísmo fala de superar a si mesmo e que nos somos nosso maior
inimigo que sem caridade não há salvação, na busca da Maíra de tudo (a Terra
sem Males, dos Guarani).
Refletir sobre as
juventudes negras como sujeitos de direito e assumir os seguintes compromissos
de incidência pública:
1. Construir, nas comunidades, possibilidades de diálogos e intervenções a partir dos Direitos Humanos com intuito de fortalecer as ações a serem descendentes;
2. Oportunizar liturgias a partir das experiências corpóreas, identitárias e culturais das juventudes;
3. Fortalecer a implementação das Leis 10.639/03 e 11.645/08 – inclusão das temáticas (negra e indígena), nas Escolas Dominicais e de Formação Teológica;
4. Garantir espaços de participação e visibilidade para as juventudes, com equidade de gênero e etnia;
5. Politização das Comunidades: organização por meio de conferências livres, para enviar o maior número de propostas para a Conferência Nacional da Juventude.
Precisamos nos posicionar como corpos negros que resistem às desigualdades e injustiças e continuam a afirmar e construir em esperança uma casa realmente habitável para tod@s em diversidade-irmandade.
Rebele-se contra o Racismo!
Fonte:
Wikipédia, a enciclopédia livre/momentodereflexao-angelo.
blogspot.com/www.ecodebate.com.br/ujab.ieab.org.br/category/ecumenismo/.
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