UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

terça-feira, 24 de julho de 2012

"Solano Trindade “poeta, ator, pintor, teatrólogo, militante político, militante do movimento negro"


De todos os escritores negros ligados à coletividade negra brasileira, o que deixou presença mais forte foi Solano Trindade. Foi o primeiro, naquele tempo, a escrever com especificidade, para negros.






“Solano Trindade nasceu no Recife, em 1908, e morreu em São Paulo, em 1974. Foi poeta, ativista político e homem de teatro. Participou dos históricos congressos afro-brasileiros realizados em 1934 e em 1937, respectivamente, em Recife e em Salvador.


Criador da Frente Negra de Pernambuco e do Centro de Cultura Afro-Brasileira, estruturou em Pelotas, RS, um grupo de arte popular já existente, transformando-o, em 1943, no Teatro Popular Brasileiro. No Rio de Janeiro, participou da fundação do TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO. Ao mesmo tempo, destacou-se como grande nome da poesia de temática e vivência negras no Brasil.

Além disso, fundou em Embu, SP, um importante centro de arte popular. Segundo Souza, 2004, sua produção, elogiada por intelectuais estabelecidos, como Otto Maria Carpeaux, Roger Bastide e Sérgio Milliet, reconfigurou a história e a memória dos afro-brasileiros.

A MILITÂNCIA POLÍTICA.






Tem gente com fome
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Piiiiii
Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bonsucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar  
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuuun

Movimento negro...
No Recife do início do século 20, iluminado por lampiões a gás, vendedores perambulavam pelas ruas do bairro de São José, cantando pregões que seriam a primeira referência poética popular do menino Solano, como este: "Pitomba, tomba não tomba/ chora menino por um vintém/ pede a papai que mamãe não tem".
O contato com o folclore se deu pelas mãos do pai, exímio dançarino das danças populares pernambucanas, e por isso mesmo apelidado de "menino de ouro". Vem do berço, portanto, além do apurado sentido rítmico de sua poesia, a máxima que Solano usava para resumir seu método de criação: "Pesquisar na fonte de origem e devolver ao povo em forma de arte".
No Liceu de Artes e Ofícios da capital pernambucana, Solano cursou o propedêutico, equivalente ao atual ensino médio. Daí por diante, é como autodidata que ele constrói sua trajetória intelectual, com um curioso ponto de partida: uma breve atuação como diácono da Igreja Presbiteriana. Nessa época, suas primeiras poesias, publicadas por uma revista escolar de Garanhuns (PE), falavam do Gólgota e dos apóstolos, impregnadas de misticismo. Decepcionado, porém, com o distanciamento que a religião na época guardava dos problemas sociais, incluindo a discriminação contra os negros, ele logo a abandona, justificando sua saída com um versículo da própria Bíblia: "Se não amas a teu irmão, a quem vês, como podes amar a Deus, a quem não vês?"
Na década de 1930, ele abraça a causa de sua raça e funda no Recife, com o escritor José Vicente Lima e o pintor Barros Mulato, o Centro de Cultura Afro-Brasileiro, que tinha por finalidade divulgar o trabalho de intelectuais e artistas negros, e a Frente Negra Pernambucana, cujo manifesto de fundação resume o que seria, durante toda a sua vida, a postura de Solano perante a questão: "Não faremos lutas de raça, porém ensinaremos aos irmãos negros que não há raça superior nem inferior, e o que faz distinguir uns dos outros é o desenvolvimento cultural. São anseios legítimos a que ninguém de boa-fé poderá recusar cooperação".

Surgem então os seus "Poemas Negros", que exaltam Zumbi e a resistência negra, mas também deixam clara uma postura que não admite xenofobia, nem um racismo às avessas, expresso na visão maniqueísta que transforma os negros em "bons" e os brancos, indistintamente, em "maus". No poema "Negros", Solano adverte: "Negros que escravizam e vendem negros na África não são meus irmãos/ Negros senhores na América a serviço do capital não são meus irmãos/ Negros opressores em qualquer parte do mundo não são meus irmãos/ Só os negros oprimidos, escravizados, em luta por liberdade, são meus irmãos./ Para estes tenho um poema grande como o Nilo".
Após participar do 1º e do 2º Congresso Afro-Brasileiro, no Recife e em Salvador, e depois de breve estada em Belo Horizonte, em 1940 Solano aceita o desafio proposto pelo poeta Balduíno de Oliveira, de criar um Grupo de Arte Popular em Pelotas (RS). Essa primeira tentativa de dar forma a um teatro do povo, num estado embranquecido e europeizado pela imigração, fracassa por causa de uma enchente, que carregou instrumentos e figurinos.

Militancia Politica...

O Vermelhinho era um local onde se reuniam jovens artistas, poetas, intelectuais e jornalistas de esquerda. Ali era amigo de pessoas como o Barão de Itararé e Santa Rosa, Aníbal Machado, a escritora Eneida ... Raquel lembra que discutiam sobre a Segunda Guerra, sobre a União Soviética, sobre Stálin, sobre Trotski.
Na década de 40, Solano Trindade ingressou no Partido Comunista. Pouco depois ele e a família mudam-se para a cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Pertencia à célula Tiradentes, que funcionava em sua própria casa, onde se reuniam camponeses, intelectuais e operários. Sobre esse período da sua militância quem se lembra é Raquel:
— Ele tinha tarefas que o partido passava. Muita coisa a gente não podia saber. Tinha as festas do aniversário de Prestes. Tinha os comícios, teve a época do "O petróleo é nosso", eu até fui ajudar a colher assinatura, teve uma época depois contra a bomba atômica. Muita coisa eu não sabia, mas eu era mocinha e ainda não estava ligada.
Solano foi preso duas vezes, uma em Niterói e outra durante a perseguição comunista do governo Dutra, quando morava em Duque de Caxias. Raquel conta que a polícia chegou, e seu irmão, Liberto, estava adoentado, com sarampo. Os policiais viraram o colchão com o menino e tudo para ver se tinha armas, Disseram que tinha uma denúncia.
— Levaram ele preso. Primeiro nós pensávamos que era por causa do poema (Tem gente com fome), mas agora com um levantamento no Dops que eu descobri que foi denúncia, de uma pessoa que convivia no vermelhinho — conta Raquel. Mãe e filha percorreram todas as prisões para achar o pai na preocupação com as torturas. Acharam e ele não foi torturado.
Solano saiu do partido porque acreditava que o problema dos negros não era apenas econômico, era racial também. Acreditava que o povo pobre precisava também ter mais acesso à cultura e às artes para ter igualdade "Não faremos lutas de raças, porém ensinaremos aos irmãos negros que não há raça superior nem inferior e o que faz distinguir um dos outros é o desenvolvimento cultural. São anseios legítimos a que ninguém de boa fé poderá recusar cooperação" , disse Solano.

Solano Trindade foi militante comunista, poeta, pintor, teatrólogo. Foi contra a injustiça social e racial e amante das artes. 



Obras publicadas:
Poemas d’uma vida simples (1944)
Seis tempos de poesia (1958)
Cantares ao meu povo (1961) inveredas, revista de letras da Universidade de São Paulo, nº 1, setembro de 1979.”





Recuperando eventos e trajetórias que negam os estereótipos de passividade e submissão, esforçou-se em contribuir, com sua poesia, para a difusão de fatos históricos ou já esquecidos, ou mostrados através de outra perspectiva nos livros de História do Brasil.







Solano Trindade faleceu de pneumonia em uma clínica em Santa Teresa, no Rio de janeiro, em 19 de fevereiro de 1974.

UNEGRO 24 ANOS DE LUTA!
Um afro abraço.

fonte:ww.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=14088/ww.sescsp.org.br › sesc são paulo  revistas/negritudepernambucana.blogspot.com/.../edvaldo-ramos-e-historia-d.

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