Uma das mais populares vozes da música africana de todos os tempos, a cantora sul-africana Miriam Makeba, que além de seu imenso talento, estabeleceu-se durante os mais de 50 anos de carreira, como um símbolo de resistência e combate contra os governos pró-imperialistas e colônias que até hoje oprimem centenas de milhares de negros em todo o continente africano. Particularmente na África do Sul, seu país natal, sua vida foi um exemplo de luta contra oapartheid, regime de segregação e terror que oprimiu os negros sul-africanos durante cerca de quatro décadas.Ao longo de mais de trinta anos de exílio, denunciando através do canto a situação de seus conterrâneos, o retorno de Makeba à África do Sul após a queda do apartheid foi celebrado como um fato político e simbólico importantíssimo para o País e a cantora acolhida como uma verdadeira heroína nacional. A cantora, parte do movimento nacionalista sul-africano dirigido pelo CNA de Nélson Mandela, acabou nos últimos anos se adaptando ao regime conciliador dirigido por este último.
Internacionalmente conhecida como "A imperatriz da canção africana" e "Mama África", ainda hoje, Makeba permanece como a mais celebrada cantora surgida no continente africano.
A ebulição cultural nos anos 50
Nascida em março de 1932 em Johannesburgo, capital industrializada e cosmopolita da África do Sul, sua vida foi, desde cedo, marcada pelas dificuldades. Filha de uma sangoma, curandeira tradicional da tribo sul-africana dos Swazi, ela passou seis meses de seu primeiro ano de vida na prisão com sua mãe, após esta ter sido presa pela venda ilegal de cerveja caseira. Seu pai, membro da tribo dos Xhosa, morreu quando ela tinha apenas seis anos de idade. Na adolescência, trabalhou como doméstica em casas de famílias brancas e chegou a sofrer ainda jovem, agressões físicas de seu primeiro marido, com quem casou-se em 1959, divorciando-se no mesmo ano.
Teve o primeiro contato significativo com a música na adolescência, ao ingressar no Kilmerton Training Institute, na cidade de Pretória, no qual ela estudou durante oito anos. Chegou a fazer uma turnê com um grupo amador nos anos 40, mas foi apenas em meados da década de 50 que ela ingressou seriamente na carreira musical, integrando o grupo negro Manhattan Brothers.
Nestes anos, Johannesburgo vivia seus anos áureos como uma das mais efervescentes capitais culturais do continente africano, principalmente no terreno musical. Eram dezenas de novos artistas e bandas que disputavam apresentações entre os clubes noturnos da cidade.
Manhattan Brothers era um grupo que chamava especial atenção devido às suas inovadoras misturas de ritmos e melodias derivados do jazz e do blues norte-americanos, com os tradicionais elementos percussivos sul-africanos.
Mas toda essa atividade cultural tinha de conviver também com o clima de permanente perseguição imposta pelo governo.
Vivendo sob o apartheid...
Desde 1947, o país assistiu a subida ao poder do Partido Nacional, representante dos africaners, grupo étnico integrado por sul-africanos brancos de origem holandesa e estreitos vínculos com o imperialismo europeu. Em apenas um ano de governo, os africaners instituíram uma série de leis segregacionistas contra a população negra do país, organizadas sob o nome de apartheid. A palavra, de origem africana, significa algo como “vida separada”. Durante o apartheid, o governo implementou leis fascistas que impunham uma série de restrições à vida dos negros, e que na prática representavam uma brutal ditadura racista
contra a imensa maioria da população sul-africana, que na época era formada por 70% de cidadãos negros.Entre as lei segregacionistas, estavam a exclusão do direito ao voto no governo nacional, a proibição de atuarem em uma série empregos, a impossibilidade de pequenos empresários negros empregarem funcionários brancos, além da restrição aos negros freqüentarem certos espaços públicos. A maior parte da população negra foi sendo expulsa dos centros urbanos para uma periferia chamada de “bantustões”. A implementação destas medidas resultaram no confisco das propriedades, a prisão e mesmo a extradição de milhares de negros.
Essa perseguição estendeu-se, obviamente, a todas as áreas da atividade social, inclusive no terreno da cultura. Durante todos os anos 50, dezenas de grupos negros foram perseguidos, sua participação em casas de shows foram vetadas e seus contratos com gravadoras suspensos.
A implantação desta brutal ditadura contra os negros levou a centenas de manifestações e conflitos no decorrer de todos os anos 50 e 60. A música sul-africana irá expressar de maneira especialmente impactante todo o drama dessas lutas, e nesse sentido, a música de Miriam Makeba será uma das mais importantes porta-vozes destas lutas.
Cantando então no popularíssimo Manhattan Brothers, eram freqüentes as declarações de Makeba, nos clubes noturnos onde tocavam, contra o impopular regime racista. Tais posições dificultavam ainda mais o desenvolvimento de sua carreira dentro do País. Nenhuma casa de espetáculos queria se envolver em problemas com o governo.
Sua extradição da África do Sul
Em decorrência desse isolamento, a cantora mudou-se, em 1959, para os Estados Unidos, pensando em tentar estabelecer-se e viver de sua arte dentro de uma indústria musical mais ampla e desenvolvida.
Naqueles anos, os Estados Unidos abrigavam um dos cenários musicais mais dinâmicos no mundo. Novos ritmos surgiam a todo momento, na maioria, como expressão direta da população negra norte-americana. Eram desenvolvimentos modernos de escolas mais antigas, como no caso do jazz, que nos anos 50 aflorava com ocool jazz, o West coast, o hard bop e o free jazz; ou ritmos mais recentes, como o rythm & blues e o popular rock´n´roll.
Desde o surgimento do be-bop, o interesse geral pairava na experimentação de novos estilos e tendências. Os ritmos africanos interessavam especialmente os novos músicos do hard bop, vinculados com o resgate das tradições negras, expressão que antecedeu as lutas políticas impulsionadas pela população entre os anos 60 e 70. Neste contexto, a exótica combinação de ritmos percussivos e melodias africanas de Makeba foram recebidas com entusiasmo pelos norte-americanos.
Ao mesmo tempo, os EUA ingressariam também em um período de grande mobilização da juventude, dos trabalhadores e da população negra, o que estimula ainda mais a mistura de inovação musical e radicalismo político.Lá, ajudou a denunciar o revoltante regime do apartheid entre um novo público também profundamente ligado com os mesmos ideais, visto que nos Estados Unidos, diversas cidades ainda conviviam com leis racistas tão hediondas quanto as que estavam em vigor no país africano. Apenas um ano após sua chegada, recebeu o convite para participar do documentário "Come Back, Africa", de denúncia do apartheid. O filme teve imensa repercussão, sendo inclusive premiado no Festival de Veneza daquele ano. A cantora tinha então apenas 27 anos.
Naquele mesmo ano, falece sua mãe, que vivia ainda em seu país natal. Makeba imediatamente comprou passagens para retornar à África do Sul e participar do funeral, mas, como personalidade internacionalmente conhecida por sua participação naquele documentário, o governo cuidou de cancelar o passaporte da cantora e impedir definitivamente a entrada dela no País.
Os anos de exílio e a luta contra o apartheid...
Foram mais de trinta anos em que Makeba impulsionou sua carreira como exilada política. Seu primeiro álbum surgiu em 1860, Mirian Makeba Sings, lançado pela RCA e distribuído amplamente por diversos países. Durante este período, Makeba fez de sua música uma verdadeira arma de propaganda contra a ditadura racista sul-africana, divulgando entre os mais diversos países do globo, as duras condições de vida dos negros de seu país, seus dramas, e o combate por eles travado.
Nesse tempo, morou em países como Inglaterra, Estados Unidos, Guiné, França e Bélgica, entre outros. Após a proibição de sua entrada na África do Sul, Miriam seguiu então para Londres, onde conheceu o ator negro Harry Belafonte, um norte-americano ativista pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Com ele, produziu-se uma fértil parceria criativa, lançando uma série de músicas que figurariam nas paradas de sucessos das rádios de toda Europa e Estados Unidos. Era a primeira vez que uma cantora sul-africana estourava internacionalmente em diversos países ao mesmo tempo.
O álbum lançado pela dupla, "An Evening with Belafonte/Makeba", angariou um Grammy de melhor música folk na premiação de 1966.
Nesse meio tempo, durante todo o ano de 1964, participou também das reuniões do Comitê das Nações Unidas, onde denunciou as diversas arbitrariedades cometidas pela ditadura sul-africana durante o apartheid, que ajudaram o fato a ganhar repercussão internacional. Em reação a estas denúncias, o governo da África do Sul proibiu a distribuição e venda de todos os discos da cantora em território nacional, e em seguida cassou sua cidadania, tornando-a apátrida.
Em 1964, ela casou-se com o trompetista negro Hugh Masekela, mas a união não foi bem sucedida e eles separaram-se em 1966. Em 68, ela foi laureada com o Prêmio da Paz Dag Hammerskjold, por sua posição antiapartheid.
Uma nova perseguição nos Estados Unidos...
Vivia então nesta época nos Estados Unidos e fazia já um imenso sucesso. Neste período, acontecia também neste país uma intensa luta política impulsionada pelos negros norte-americanos contra as leis de segregação racial vigentes no País. Os conflitos haviam sido deflagrados em 1955, quando Rosa Parks, uma costureira negra norte-americana, recusou-se a ceder seu lugar dentro de um ônibus a um branco.Atuavam nestas lutas, figuras como o nacionalista negro Malcolm X, pela esquerda, bem como seus sucessores do movimento Black Power e o grupo armado Panteras Negras, que participaram das mobilizações até meados dos anos 70.
A luta da população negra pelas suas liberdades democráticas ameaçava então adquirir um caráter verdadeiramente revolucionário. Estas perspectivas preocupavam permanentemente o governo dos Estados Unidos, que buscavam a todo custo impedir que o movimento saísse totalmente do controle, lançando mão de personalidades como o ativista pacifista negro Martin Luther King Jr.
Nesse sentido, o apoio de Miriam Makeba aos guerrilheiros dos Panteras Negras, bem como sua posterior união, em 1969, com Stokely Carmichael, um dos principais líderes do grupo, deixaram os agentes do governo em estado de alerta.
Iniciou-se a partir daí um intenso boicote à carreira de Makeba na “terra da democracia”. Ela teve seus contratos com rádios e gravadoras cancelados, bem como uma recusa generalizada por parte dos empresários das grandes casas de espetáculos, em deixá-la se apresentar. Isolada em todos os meios de difusão, ela e Carmichael mudam-se então para a Guiné, na costa oeste do continente africano.
A cantora teve ainda que lutar contra um câncer na coluna, após um longo tratamento e diversas operações, ela recuperou-se afinal. Após o longo isolamento artístico por que passara, consegue finalmente lançar um novo disco, Songoma, de 1988, que tem ampla recepção principalmente entre o público europeu.
Com a perda de sua única filha, Bongi, em 1985, que morreu dando a luz a uma criança morta, Miriam saiu da Guiné e voltou a viver na Europa. Lá ela morou até 1990, quando, com a intensificação das mobilizações populares no final dos anos 80, o governo racista sul-africano, que estava por um fio, teve de ser substituído rapidamente por um regime que aboliu as leis mais custosas do apartheid para evitar a revolução negra em marcha.Nelson Mandela, que permaneceu durante todo o período do apartheid na cadeia, foi retirado às pressas para conter as mobilizações e canalizar uma alternativa burguesa e de reservação da classe dominante branca. Mandela, que seria eleito presidente da África do Sul quatro anos depois, chamou Makeba a retornar ao País, no período em que se efetuavam as reformas realizadas por Frederik de Klerk, na expectativa de conter a revolução iminente que aterrorizava toda a burguesia local.
Makeba, símbolo da luta contra o racismo...
Após cerca de 31 anos de exílio, quando Miriam se dizia uma “cidadã do mundo”, ela pôde pisar novamente em sua cidade natal, Johanesburgo.
Ao retornar ao seu país ela afirmaria: "Foi como renascer", e "Nunca compreendi por que não podia vir ao meu país. Nunca cometi crime algum."No ano seguinte, ela lançou o famoso álbum de protesto Olhar para o Amanhã, com a participação de jazzistas consagrados como os trompetistas Dizzy Gillespie, e Hugh Masekela e a cantora Nina Simone. Este álbum geralmente é citado como o mais popular disco já lançado na carreira de Mirian Makeba.
Em 1987 ela havia publicado sua autobiografia, Makeba: Minha História, que obteve grande sucesso e foi traduzida para o francês, alemão, italiano, espanhol, holandês e japonês. Um testemunho musical e social que diz respeito não só à luta dos negros na África do Sul e nos Estados Unidos, mas em todo o mundo.De volta ao seu país, ela participou também de dois filmes políticos importantes. O primeiro, que traçava um expressivo panorama das condições de vida da população negra sul-africana no período do apartheid, e o segundo, que tratava especificamente de uma das mais importantes revoltas populares contra o regime, conhecida como O Levante de Soweto, ocorrida em 1976, e que contribuiu com a crise da ditadura e seu posterior esfacelamento, no final dos anos 80.
Após a queda do apartheid, Miriam passou boa parte da década de 1990, cantando em campanhas contra a disseminação da AIDS no continente Africano, tornando-se uma figura pública do novo regime. Certa vez ela declarou: "Na nossa sociedade, nós sempre passamos mensagens e expressamos nós mesmos através de nossas canções. Eis a razão pela qual o antigo governo tinha tanto medo dos músicos".
Miriam participava de um show em Castel Vonturno, em defesa do escritor Roberto Saviano. Ele recebera ameaças de morte de integrantes da Camorra, uma máfia napolitana, após a publicação de seu livro Gomorra em que denunciava o assassinato de imigrantes africanos na Itália.
Durante o show, após ter cantado por cerca de meia hora, Miriam desmaiou no palco. Poucos minutos após ela era levada às pressas para a Clínica Pineta Grande, onde teve uma parada cardíaca logo após a internação.
Morria assim, no dia 10 de novembro, aos 76 anos, a voz mais querida do continente africano, fazendo o que acreditava. Cantando e protestando contra a opressão dos negros no mundo.
Essa perseguição estendeu-se, obviamente, a todas as áreas da atividade social, inclusive no terreno da cultura. Durante todos os anos 50, dezenas de grupos negros foram perseguidos, sua participação em casas de shows foram vetadas e seus contratos com gravadoras suspensos.
A implantação desta brutal ditadura contra os negros levou a centenas de manifestações e conflitos no decorrer de todos os anos 50 e 60. A música sul-africana irá expressar de maneira especialmente impactante todo o drama dessas lutas, e nesse sentido, a música de Miriam Makeba será uma das mais importantes porta-vozes destas lutas.
Cantando então no popularíssimo Manhattan Brothers, eram freqüentes as declarações de Makeba, nos clubes noturnos onde tocavam, contra o impopular regime racista. Tais posições dificultavam ainda mais o desenvolvimento de sua carreira dentro do País. Nenhuma casa de espetáculos queria se envolver em problemas com o governo.
Sua extradição da África do Sul
Em decorrência desse isolamento, a cantora mudou-se, em 1959, para os Estados Unidos, pensando em tentar estabelecer-se e viver de sua arte dentro de uma indústria musical mais ampla e desenvolvida.
Naqueles anos, os Estados Unidos abrigavam um dos cenários musicais mais dinâmicos no mundo. Novos ritmos surgiam a todo momento, na maioria, como expressão direta da população negra norte-americana. Eram desenvolvimentos modernos de escolas mais antigas, como no caso do jazz, que nos anos 50 aflorava com ocool jazz, o West coast, o hard bop e o free jazz; ou ritmos mais recentes, como o rythm & blues e o popular rock´n´roll.
Desde o surgimento do be-bop, o interesse geral pairava na experimentação de novos estilos e tendências. Os ritmos africanos interessavam especialmente os novos músicos do hard bop, vinculados com o resgate das tradições negras, expressão que antecedeu as lutas políticas impulsionadas pela população entre os anos 60 e 70. Neste contexto, a exótica combinação de ritmos percussivos e melodias africanas de Makeba foram recebidas com entusiasmo pelos norte-americanos.
Ao mesmo tempo, os EUA ingressariam também em um período de grande mobilização da juventude, dos trabalhadores e da população negra, o que estimula ainda mais a mistura de inovação musical e radicalismo político.Lá, ajudou a denunciar o revoltante regime do apartheid entre um novo público também profundamente ligado com os mesmos ideais, visto que nos Estados Unidos, diversas cidades ainda conviviam com leis racistas tão hediondas quanto as que estavam em vigor no país africano. Apenas um ano após sua chegada, recebeu o convite para participar do documentário "Come Back, Africa", de denúncia do apartheid. O filme teve imensa repercussão, sendo inclusive premiado no Festival de Veneza daquele ano. A cantora tinha então apenas 27 anos.
Naquele mesmo ano, falece sua mãe, que vivia ainda em seu país natal. Makeba imediatamente comprou passagens para retornar à África do Sul e participar do funeral, mas, como personalidade internacionalmente conhecida por sua participação naquele documentário, o governo cuidou de cancelar o passaporte da cantora e impedir definitivamente a entrada dela no País.
Os anos de exílio e a luta contra o apartheid...
Foram mais de trinta anos em que Makeba impulsionou sua carreira como exilada política. Seu primeiro álbum surgiu em 1860, Mirian Makeba Sings, lançado pela RCA e distribuído amplamente por diversos países. Durante este período, Makeba fez de sua música uma verdadeira arma de propaganda contra a ditadura racista sul-africana, divulgando entre os mais diversos países do globo, as duras condições de vida dos negros de seu país, seus dramas, e o combate por eles travado.
Nesse tempo, morou em países como Inglaterra, Estados Unidos, Guiné, França e Bélgica, entre outros. Após a proibição de sua entrada na África do Sul, Miriam seguiu então para Londres, onde conheceu o ator negro Harry Belafonte, um norte-americano ativista pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Com ele, produziu-se uma fértil parceria criativa, lançando uma série de músicas que figurariam nas paradas de sucessos das rádios de toda Europa e Estados Unidos. Era a primeira vez que uma cantora sul-africana estourava internacionalmente em diversos países ao mesmo tempo.
O álbum lançado pela dupla, "An Evening with Belafonte/Makeba", angariou um Grammy de melhor música folk na premiação de 1966.
Nesse meio tempo, durante todo o ano de 1964, participou também das reuniões do Comitê das Nações Unidas, onde denunciou as diversas arbitrariedades cometidas pela ditadura sul-africana durante o apartheid, que ajudaram o fato a ganhar repercussão internacional. Em reação a estas denúncias, o governo da África do Sul proibiu a distribuição e venda de todos os discos da cantora em território nacional, e em seguida cassou sua cidadania, tornando-a apátrida.
Em 1964, ela casou-se com o trompetista negro Hugh Masekela, mas a união não foi bem sucedida e eles separaram-se em 1966. Em 68, ela foi laureada com o Prêmio da Paz Dag Hammerskjold, por sua posição antiapartheid.
Uma nova perseguição nos Estados Unidos...
Vivia então nesta época nos Estados Unidos e fazia já um imenso sucesso. Neste período, acontecia também neste país uma intensa luta política impulsionada pelos negros norte-americanos contra as leis de segregação racial vigentes no País. Os conflitos haviam sido deflagrados em 1955, quando Rosa Parks, uma costureira negra norte-americana, recusou-se a ceder seu lugar dentro de um ônibus a um branco.Atuavam nestas lutas, figuras como o nacionalista negro Malcolm X, pela esquerda, bem como seus sucessores do movimento Black Power e o grupo armado Panteras Negras, que participaram das mobilizações até meados dos anos 70.
A luta da população negra pelas suas liberdades democráticas ameaçava então adquirir um caráter verdadeiramente revolucionário. Estas perspectivas preocupavam permanentemente o governo dos Estados Unidos, que buscavam a todo custo impedir que o movimento saísse totalmente do controle, lançando mão de personalidades como o ativista pacifista negro Martin Luther King Jr.
Nesse sentido, o apoio de Miriam Makeba aos guerrilheiros dos Panteras Negras, bem como sua posterior união, em 1969, com Stokely Carmichael, um dos principais líderes do grupo, deixaram os agentes do governo em estado de alerta.
Iniciou-se a partir daí um intenso boicote à carreira de Makeba na “terra da democracia”. Ela teve seus contratos com rádios e gravadoras cancelados, bem como uma recusa generalizada por parte dos empresários das grandes casas de espetáculos, em deixá-la se apresentar. Isolada em todos os meios de difusão, ela e Carmichael mudam-se então para a Guiné, na costa oeste do continente africano.
A cantora teve ainda que lutar contra um câncer na coluna, após um longo tratamento e diversas operações, ela recuperou-se afinal. Após o longo isolamento artístico por que passara, consegue finalmente lançar um novo disco, Songoma, de 1988, que tem ampla recepção principalmente entre o público europeu.
Com a perda de sua única filha, Bongi, em 1985, que morreu dando a luz a uma criança morta, Miriam saiu da Guiné e voltou a viver na Europa. Lá ela morou até 1990, quando, com a intensificação das mobilizações populares no final dos anos 80, o governo racista sul-africano, que estava por um fio, teve de ser substituído rapidamente por um regime que aboliu as leis mais custosas do apartheid para evitar a revolução negra em marcha.Nelson Mandela, que permaneceu durante todo o período do apartheid na cadeia, foi retirado às pressas para conter as mobilizações e canalizar uma alternativa burguesa e de reservação da classe dominante branca. Mandela, que seria eleito presidente da África do Sul quatro anos depois, chamou Makeba a retornar ao País, no período em que se efetuavam as reformas realizadas por Frederik de Klerk, na expectativa de conter a revolução iminente que aterrorizava toda a burguesia local.
Makeba, símbolo da luta contra o racismo...
Após cerca de 31 anos de exílio, quando Miriam se dizia uma “cidadã do mundo”, ela pôde pisar novamente em sua cidade natal, Johanesburgo.
Ao retornar ao seu país ela afirmaria: "Foi como renascer", e "Nunca compreendi por que não podia vir ao meu país. Nunca cometi crime algum."No ano seguinte, ela lançou o famoso álbum de protesto Olhar para o Amanhã, com a participação de jazzistas consagrados como os trompetistas Dizzy Gillespie, e Hugh Masekela e a cantora Nina Simone. Este álbum geralmente é citado como o mais popular disco já lançado na carreira de Mirian Makeba.
Em 1987 ela havia publicado sua autobiografia, Makeba: Minha História, que obteve grande sucesso e foi traduzida para o francês, alemão, italiano, espanhol, holandês e japonês. Um testemunho musical e social que diz respeito não só à luta dos negros na África do Sul e nos Estados Unidos, mas em todo o mundo.De volta ao seu país, ela participou também de dois filmes políticos importantes. O primeiro, que traçava um expressivo panorama das condições de vida da população negra sul-africana no período do apartheid, e o segundo, que tratava especificamente de uma das mais importantes revoltas populares contra o regime, conhecida como O Levante de Soweto, ocorrida em 1976, e que contribuiu com a crise da ditadura e seu posterior esfacelamento, no final dos anos 80.
Após a queda do apartheid, Miriam passou boa parte da década de 1990, cantando em campanhas contra a disseminação da AIDS no continente Africano, tornando-se uma figura pública do novo regime. Certa vez ela declarou: "Na nossa sociedade, nós sempre passamos mensagens e expressamos nós mesmos através de nossas canções. Eis a razão pela qual o antigo governo tinha tanto medo dos músicos".
Miriam participava de um show em Castel Vonturno, em defesa do escritor Roberto Saviano. Ele recebera ameaças de morte de integrantes da Camorra, uma máfia napolitana, após a publicação de seu livro Gomorra em que denunciava o assassinato de imigrantes africanos na Itália.
Durante o show, após ter cantado por cerca de meia hora, Miriam desmaiou no palco. Poucos minutos após ela era levada às pressas para a Clínica Pineta Grande, onde teve uma parada cardíaca logo após a internação.
Morria assim, no dia 10 de novembro, aos 76 anos, a voz mais querida do continente africano, fazendo o que acreditava. Cantando e protestando contra a opressão dos negros no mundo.
Um afro abraço.
UNEGRO 25 ANOS DE LUTA...
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!
fonte Causa Operaria/
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