Tentarplicar
o que a genética tem a ver com a supremacia dos africanos
e seus descendentes nos esportes...
A tese de que raça faz a diferença nos esportes
não é nova...e precisamos ter muito cuidado com esta argumentação... (Adolf Hitler organizou uma olimpíada
em Berlim em 1936 com o objetivo de consagrar a superioridade
física ariana, e saiu humilhado do estádio),
mas está novamente em cena, reaquecida por uma mistura
de estatísticas esportivas e ciência, num livro
recém-lançado e que está causando polêmica
nos Estados Unidos: Taboo – Why black athletes dominate
sports and why we're afraid to talk about it (Tabu –
Por que os atletas negros dominam o esporte e por que nós
temos medo de falar disso). O autor, o jornalista Jon Entine,
reconhece que as influências geográficas e
culturais são grandes e as diferenças genéticas,
mínimas. Mas sustenta que, no esporte de alta competição
que se tem hoje em dia, são esses pequenos detalhes
que diferenciam um campeão de um mero participante.
"Pesquisas demonstram que os atletas de elite negros têm
uma estrutura óssea e muscular diferente, um sistema
metabólico e outras características forjadas
em dezenas de milhares de anos de evolução",
escreve Entine.
Se
ninguém fala nisso claramente (daí o tabu
do título), provoca Entine, é porque os americanos
temem legitimar a existência de raças humanas
e fornecer munição aos racistas. O risco é
realmente grande. Uma vez que se isole uma característica
genética numa população racial, mesmo
que vantajosa, abre-se caminho para que se encontrem outros
atributos raciais, alguns bem ruins. No século XIX,
quando se cunharam as bases do racismo moderno, partiu-se
do pressuposto de que os brancos não apenas eram
mais inteligentes, mas também melhor fisicamente.
Hoje é impossível manter a mentira da fragilidade
física da população africana, mas não
falta quem diga que isso ocorre para compensar uma natural
escassez de inteligência. De modo geral, a ciência
moderna considera a noção de raça puramente
subjetiva, uma idéia social sem maior sentido biológico.
As diferenças genéticas entre indivíduos
de uma mesma população podem ser maiores do
que as existentes entre populações distintas.
Significa que os branquíssimos finlandeses podem
ser geneticamente mais parecidos com os moçambicanos
do que um finlandês com outro finlandês Nenhum estudo da biologia molecular descobriu a chave
do sucesso esportivo dos africanos. O que se tem é
puro palpite, a maioria infeliz. A supremacia esportiva
dos negros se tornou notória a partir dos anos 60,
depois que os países africanos conquistaram a independência
política e aumentaram sua participação
em competições internacionais. A partir desse
momento, começou também a investigação
e a procura de explicações para o fato. Uma
tese atrevida refere-se à depuração
natural feita com a importação de africanos
como escravos para a América. Os traficantes evidentemente
escolhiam o melhor exemplar da raça. Só os
mais fortes resistiam à viagem e, para completar,
os patrões promoviam a reprodução entre
os melhores. O resultado teria sido a seleção
de um time de super-atletas. Não é uma boa
explicação, pois os excelentes atletas africanos
da atualidade seriam os descendentes da "escória"
rejeitada.
Teorias raciais sempre devem ser encaradas com desconfiança,
pois em geral são produzidas sob encomenda para demonstrar
preconceitos. Por mais intrigantes que sejam, a influência
do meio ambiente ainda é a explicação
mais razoável para a supremacia de determinada população
num esporte específico. Num artigo crítico,
o jornalista Jim Holt, do prestigiado The New York Times,
observou que se Taboo tivesse sido escrito nos
anos 30 teria de começar com a afirmação
de que o basquete é um esporte de judeus. Acreditava-se
então que os judeus tinham por natureza a ginga,
a velocidade e a visão ideais para o esporte. A razão
não estava na genética, evidentemente. O basquete
sempre foi o esporte dos bairros pobres americanos. Nos
anos 40, os judeus começaram a deixar as favelas
e foram substituídos pelos negros recém-chegados
do campo – e o perfil étnico do basquete mudou
junto.
Até
1960, os brancos eram maioria nas filas dos times de basquete
da liga americana na mesma proporção dos negros
hoje em dia: 80% contra 20%. No início do século
XX os finlandeses dominaram as corridas de média
e longa distância com a mesma eficiência revelada
pelos africanos hoje. A seleção brasileira
que está disputando as eliminatórias da Copa
do Mundo é composta majoritariamente por jogadores
com doses variadas de ascendência negra. Quando ganhou
a primeira Copa, apenas metade estava na mesma condição.
Aliás, no Brasil, esse tipo de raciocínio
não leva a nenhuma conclusão – como saber
qual herança genética, se a africana, a branca
ou a índia, era responsável pelos dribles
maravilhosos de Mané Garrincha?Do ponto de vista estatístico não existe
dificuldade em identificar habilidades e talentos variados
de uma determinada população em determinada
atividade. Os russos são os melhores jogadores de
xadrez, assim como os orientais revelaram-se excelentes
instrumentistas de corda nas grandes orquestras do mundo
ou os cubanos são os melhores em cima de um ringue
de boxe. A dificuldade de transpor isso para a genética
é que se trata de situação volátil.
Da mesma forma que existem esportes dominados pelos negros,
em outros os brancos são imbatíveis. O tênis,
o golfe e a natação são exemplos disso.
Ninguém ousa explicar geneticamente a supremacia
do branco Mark Spitz, o mais notável nadador olímpico
de todos os tempos. Além do biotipo adequado para
a prática do esporte, ele contava com um pai-treinador
que o orientava com mão de ferro e repetia todo dia
a seus ouvidos: "O importante não é nadar,
é vencer".
Já se tentou explicar a ausência quase total
de campeões negros nas piscinas com base nas diferenças
fisiológicas. De acordo com essas teorias, os negros
teriam maior densidade óssea, o que dificultaria
sua flutuação na água. Os aspectos
socioeconômicos pesam muito mais que a massa de ossos
e músculos. O acesso às piscinas é
mais difícil para os pobres. Isso explica, em parte,
por que esportes como o basquete dos negros americanos,
ou o vôlei dos negros cubanos, sejam predominantemente
branco no Brasil.
Aqui, os negros se sobressaem de maneira
significativa nos esportes de acesso mais democrático,
como o futebol e o atletismo, que não requerem equipamento
especial ou filiação a clubes. Deve-se considerar
também a oportunidade de ascensão social rápida
e segura oferecida pelo futebol. O inglês Linford
Christie, negro e campeão dos 100 metros nas Olimpíadas
de Barcelona, passou por tudo isso. Ele acha bobagem a idéia
de que os negros contam com a vantagem de uma carga genética
favorável.
O que carregam é uma carga de preconceitos,
de barreiras sociais e econômicas mais pesadas, que
os impede de prosperar em outras atividades profissionais.
"A grande chance de ascensão social do negro é
o esporte, e nós corremos todos para ele", diz Christie.
A genética é o que menos importa".
Um afro abraço.
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!
UNEGRO 25 ANOS.
fonte:abril.com.br/inciclopedia livre.
UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ
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