A discriminação racial na vida das mulheres negras é constante; apesar disso, muitas constituíram estratégias próprias para superar as dificuldades decorrentes dessa problemática.
O silêncio existente sobre a participação do negro na história do Brasil retrata um dos aspectos perversos do racismo na sociedade brasileira. No ensino de história é negado o protagonismo negro e aprendemos erroneamente que as grandes lideranças, os grandes feitos das personalidades do país, foram protagonizados somente pelos brancos.
Como os negros estiveram em situação desigual em relação aos brancos, poucas histórias a seu respeito foram registradas. Sem contar, nos poucos casos registrados, omitiram a origem etnicoracial ou, simplesmente mudaram a cor dos mesmos, a tal ponto, de pessoas, mesmo lendo e estudando sobre determinadas personalidades negras brasileiras de séculos passados, as imaginarem como brancas.
Isso porque a imagem de alguns foram veiculadas como brancos, como o caso, de Machado de Assis e Aleijadinho.
Na história brasileira, mesmo vivendo em situações de extrema adversidade e sobreviveram a ausência da História Africana que é uma das lacunas de grande importância nos sistemas educacionais brasileiros. Esta ausência tem quatro conseqüências sobre a população brasileira. Tomando o ambiente brasileiro como de exclusões étnicas, os quais denominamos de racismos, existe um processo de criação de credos sobre a inferioridade do negro, do africano e dos afrodescendentes. Desta forma a ausência de uma história Africana, em primeiro lugar, retira a oportunidade dos Afrodescendentes em construírem uma identidade positiva sobre as nossas origens. Segundo, a ausência abre espaço para hipóteses preconceituosas, desinformadas ou racistas sobre as nossas origens, criando assim terreno fértil para produção e difusão de idéias erradas e racistas sobre as origens da população negra. Alimenta um universo do Africano e Afrodescendente como ignorante, inculto, incivilizado. Os seres vindos da tribo dos homens nus. É o eixo central determinante dos conceitos inferiorizantes sobre nós negros no país. Em terceiro lugar a ausência da história Africana coloca a apresentação dos continentes e das diversas culturas a nível mundial, em desigualdade de informação sobre os conteúdos apresentados pela educação. Visto termos uma ampla abordagem da história européia, a ausência da história africana nos currículos, induz a idéia de que ela não existe. Que ela não faz parte do conhecimento a ser transmitido.
Raça
No interior dos Movimentos Sociais e Sindicais tem surgido um debate sobre a natureza dos enfoques. Debate que me parece de um grande retrocesso e construído por força de conservadorismos rearticulados. Hoje parecem presos à necessidade de definirmos se as questões tratadas são de etnia ou de raça. Avançamos nos Movimentos Negros, por quase duas décadas, com um enfoque amplo no campo da etnia e agora grupos se rearticulam em torno da idéia de raça. Contrariando assim a amplitude do enfoque dado pelos Movimentos Negros, onde a definição de negro foi flexível ao ponto de dar opção aos indivíduos sobre o critério da auto identificação, portanto uma opção nitidamente étnica.
As idéias de raça, construídas sobre fenótipos produziram grandes catástrofes sociais, traduziram-se no fortalecimento de sistema autoritários, como o nazismo alemão ou o aparthaid na África do Sul. As idéias sobre raça são simplificadoras da complexidade humana e social, a simplicidade dos fenótipos.
As idéias de raça eliminam o sustentáculo da história dos indivíduos e das populações que são as culturas produzidas. Os enfoques no campo da raça, pelos movimentos sociais, vão eliminar a amplitude necessária para o trato das questões sociais gerais. Produzem um debate de ações limitadas apenas no campo do combate aos racismos. Eliminando as necessidades de uma percepção dos processos históricos e culturais contidos nas Africanidades e nas Afro-descendências.
Com base no conceito de raça teremos uma estratégia limitada ás alusões dos fenótipos, do combate às manifestações no campo limitado dos racismos, entendidos estes racismos na sua forma mais estreita e menos genérica.
O racismo é alimentado e retroalimentado pelo capital, em uma sociedade que se estrutura de forma hierárquica necessária para a manutenção do status quo.
O machismo – a expressão mais cotidiana do sexismo – é mais antigo, e torna hierárquica a relação entre os gêneros, subjugando as mulheres ao poder dos homens.
A articulação entre o capitalismo e o patriarcado é fundamental para a naturalização de uma suposta inferioridade da mulher. A condição de mulheres negras e indígenas, a partir desta articulação, é de subordinação ao paradigma branco e ocidental, de natureza inferior.
Finalizando:
Temos uma história única de lutas e resistências que apesar dos dados e do pouco respeito de “Bolsonaros” (pai e filho), mostram a necessidade de políticas mais focalizadas, mas principalmente, de outra sociedade, sem hierarquias de gênero e de raça. Uma sociedade sem classes, que valorize as histórias das que fizeram história. Histórias de Dandara, Aquatune, Luíza Mahin, Mariana Crioula, Xica da Silva, Antonieta de Barros, Tia Ciata, Chiquinha Gonzaga e muitas outras...
Um afro abraço.
Um afro abraço.
fonte: Introdução a Cultura Africana. Editora Instituto Nacional do Livro e do Disco. 1977. Luanda, Rep. de Angola/unegro -mulher/acabrasil.uol.com.br/
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