A população negra e a cultura afro-descendente estão sendo sub-representadas na TV públicas
A programação atual das TVs Pública expressa um baixo perfil de reflexão sobre o pluralismo cultural brasileiro. Ela deixa especialmente de incorporar as matrizes etnico-racial negra e indígena, vertentes que imprimiram, na fusão com a cultura européia, a originalidade da cultura brasileira e o grande patrimônio simbólico deste país. Conceitualmente, foram classificados como programas que trataram da temática raça ou cultura negra aqueles que mencionaram direta ou indiretamente os elementos caracterizados como pertencentes à cultura negra brasileira ou estrangeira (religiosidade, comida, música, dança, folclore etc.).Um exemplo é o programa de entrevista com uma banda de rock, classificado na categoria“um pouco”, no que diz respeito à abordagem da cultura negra, porque o líder euro-descendente do grupo citou que produzia “um som” com muita influência do blues. Tais elementos foram suficientes para, positivamente, considerarmos que o programa de alguma forma citou a cultura negra, mesmo que diaspórica, e de passagem.
O mesmo padrão foi apresentado pela TV Cultura. Em todos os canais foi impossível identificar qualquer apresentador deste gênero que não fosse do segmento racial euro-descendente.
Relembrando.:Em 1988 foi marcado foi uma série de movimentações sociais resultantes do movimento negro e que, evidentemente, eram noticiados pelos diversos tipos de mídia. Além do movimento internacional liderado pela ONU para o fim da apartheid, no Brasil era comemorado o centenário da abolição da escravatura, a Campanha da Fraternidade tinha como tema o combate ao racismo e a vencedora do carnaval carioca foi à escola de samba Vila Isabel, que falou do movimento negro.
A nova Constituição brasileira de 1988 passou a considerar o racismo como crime, o que foi regulamentado no ano seguinte, pela a Lei 7.716, do então deputado negro Carlos Alberto Caó.
Embora o nosso País, segundo os especialistas, seja detentor de uma admirável lei
de combate à discriminação, em especial à discriminação racial (podemos citar a Constituição Federal, os diferentes tratados internacionais, como por exemplo, a Convenção 111 da Organização Internacional do Trabalho - OIT e as leis penais que sinalizam e dão os caminhos de combate à discriminação) persistem sistematicamente as disparidades entre brancos e negros.
O trecho transcrito faz parte do editorial "Ironia de um congresso", do jornal Folha da Manhã (atual Folha de S.Paulo), publicado num domingo, 12 de janeiro de 1930.
“Por que motivo os negros, em grande maioria, moram nos cortiços? A resposta assegura-lhe, é muito fácil: a pouca valia que imprimem aos seus trabalhos; a pouca ou nenhuma cultura e a acentuada dolência dos seus passos; a inércia e a falta de vontade e iniciativa para uma reação na trilha do progresso são as causas principais que obrigam os negros às misérias do cortiço."
É muito pouca a participação de profissionais negros na mídia ainda hoje em pleno século XXI e esta não é uma característica apenas do meio televisivo.
A imprensa direcionada a negros, produzida por negros e retomada pela revista Raça,por exemplo data do início do século XX. Sentindo a impermeabilidade da "imprensa branca", um grupo de negros paulistas fundou, em 1915, uma imprensa alternativa. É o que a antropóloga Miriam Nicolau Ferrara, estudiosa do assunto, chama de "imprensa negra". Pela primeira vez o negro tornou-se o alvo de um conjunto de periódicos específicos, que se sucederam durante quase cinqüenta anos, até 1963, quando foram reprimidos pela ditadura.
Os jornais da imprensa negra concentraram o seu noticiário apenas nos acontecimentos da comunidade, divulgando a produção dos seus intelectuais e não priorizando fatos de grande repercussão nacional e internacional (como as duas Grandes Guerras, a Coluna Prestes, entre outros). "Movimentos de militância, como a imprensa negra, foram e são formas de valorizar a cultura negra e de aumentar a sua auto-estima"
O Brasil, institucionalmente falando, avançou significativamente na discussão sobre o tema mais apenas do discurso. O país se reconheceu oficialmente como racista, afirmação até há pouco tempo interditada pelo discurso oficial. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu publicamente em reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) que o problema secular de desigualdade no País possui um viés marcadamente racial. Ele também afirmou categoricamente que para compreender os extremos da exclusão no Brasil era necessário se remeter à situação de uma mulher negra nordestina, que reúne ao mesmo tempo as dimensões de gênero, raça e pertencimento geográfico.
.Propostas:
· Que sejam reconhecidas pelo conjunto da categoria as ações contra todo e qualquer tipo de discriminação e em defesa da igualdade étnica desenvolvidas pelo Núcleo de Comunicadores Afro-descendentes do Rio de Janeiro.
· Que os sindicatos de comunicação acompanhem relatos sobre as questões específicas dos afro-brasileiros e outros segmentos discriminados da população brasileira.
· Realização de parcerias com instituições entidades e organizações não governamentais venha a auxiliar no desenvolvimento de ações e políticas para atender as demandas históricas da comunidade negra brasileira, com o objetivo de promover a igualdade racial entre os trabalhadores dos meios de comunicação e também para melhorar a qualidade da cobertura jornalística dos temas relacionados com a etnia negra e indígena.
· A inclusão da auto-declaração étnico-racial nas fichas sindicais, medida que deve ser precedida por uma campanha de esclarecimento junto à categoria.
· Apoio e execução de políticas (ações afirmativas, cotas) para os meios de comunicação.
· Monitorar as discussões e aplicação metas dos organismos nacionais e internacionais (ONU, OEA, Conferências, DHESCs) que regem os princípios dos direitos humanos e relações raciais no Brasil e no resto do mundo.
A mídia dominante insiste que o racismo no Brasil não tem um caráter sistêmico, abordando a questão sempre pela ótica individual. “A ação da mídia é sempre no sentido de minorar a questão, tirando a seriedade para que não entre na agenda e FALE RIO e um importante instrumento de luta e debate.
Um afro abraço.
Claudia Vitalino
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