UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

"A luta anti-racista."

O Brasil é um país de dimensões continentais, dotado de recursos inimagináveis e, em sua maioria, ainda inexplorados. Além disso, desde que se tornou uma "esperança" mundial em tempos passados, como o "Jardim do Éden" dos povos em sua maioria provenientes da Europa e que fugiam de focos de guerras e revoluções que assolaram o continente, principalmente no século XIX e atual, esta terra se transformou numa gigantesca "Arca de Noé", acolhendo diversas raças e culturas que aqui depositaram sua confiança, sonhos e expectativas. O Brasil possui uma formação populacional altamente heterogênea em índices não experimentados por nenhuma outra nação do planeta, o que faz dele, realmente, um lugar especial e a prova viva de que é possível viver em harmonia étnica e cultural em meio a um oceano de miscigenação. Evidentemente que esta "harmonia" é relativa e deve ser observada com olhos atentos. Mas não se pode negar que o cenário nacional encontra-se livre de antecedentes históricos envolvendo atentados à bomba contra templos religiosos ou grupos racistas radicais declarados como se vê em países como Estados Unidos, França e Alemanha. O povo brasileiro, em toda a sua diversificação, é um povo uno, uma raça só oriunda de diversas outras raças, uma só entidade socio-política de larga base territorial. Mas esta aparente unidade não pode esconder uma outra realidade nacional: o racismo.
A luta anti-racista
A luta anti-racista experimentou um crescimento sem precedente, tanto em função do fortalecimento das organizações autônomas, quanto pela multiplicação de entidades em todo o país, ou pelas novas formas de articulação e de expressão da militância em todo país.
Com certeza, principalmente nas últimas duas décadas. Desde que nós vivenciamos o centenário da abolição, em 1988, quando vários seguimentos da sociedade fizeram manifestações questionando a validade da abolição, porque concretamente o país viveu uma abolição que não mudou as condições de vida da população negra. Os negros, que antes eram escravos, foram colocados em liberdade, mas sem trabalho, sem educação, sem terra, sem nenhum tipo de política que favorecesse o seu desenvolvimento. Em 1995 houve a Marcha Zumbi dos Palmares pela Cidadania e pela Vida, promovida pelo Movimento Negro, que foi até Brasília apresentar uma pauta de reivindicações para o governo federal. Nos anos 1990, o Estado reconheceu internacionalmente que o Brasil é um país onde tem racismo e que isso determina desigualdades.
Nos últimos dez anos se destaca, por exemplo, a criação da Seppir. Pela primeira vez o país passa a ter um organismo federal para cuidar de promoção da igualdade racial. O 20 de Novembro vêm se fortalecendo porque no país esta se formando um conjunto de políticas de promoção da igualdade racial e de combate ao racismo.
Podemos citar a criação da Seppir e a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial. No início deste ano nós tivemos a aprovação pelo STF [Supremo Tribunal Federal] da constitucionalidade das ações afirmativas e mais recentemente a sanção da chamada Lei de Cotas, que institui reserva de 50% das vagas para egressos de escolas públicas e dentro deste percentual, 50% para população negra e indígena. 

A violência contra o negro:
Assassinatos de negros no país crescem 29,8%, enquanto de brancos caem 25,5%

No que diz respeito à violência policial no Brasil, segundo pesquisa do Datafolha, os negros são abordados com mais freqüência durante as blitz, recebem mais insultos e mais agressões físicas que os brancos. A desvantagem, revelada pela pesquisa Datafolha, não pára por aí: percentualmente, também há mais revistados negros que qualquer outro grupo étnico.
Entre os da raça negra, quase metade (48%) já foi revistada alguma vez. Desses, 21% já foram ofendidos verbalmente e 14%, agredidos fisicamente por policiais. Os pardos superam os negros em ofensas: 27% deles foram ofendidos verbalmente e 12% agredidos fisicamente. Ao todo, 46% já foram revistados alguma vez. A população branca é menos visada pela polícia. Entre estes, 34% já passaram por uma revista, 17% ouviram ofensas e 6% já foram agredidos, menos da metade da incidência entre negros. Em cada três negros, um (35%, exatamente) teme mais a polícia que os bandidos e outro teme os dois na mesma proporção, aponta o levantamento. Para os entrevistados de cor branca, somente 19% (um em cada cinco) temem mais a polícia. Quase a metade, 47%, tem mais medo dos bandidos do que da polícia.
Quanto à criminalidade, constatou-se que dos homicídios dolosos contra menores, 54% das vítimas eram menores negros e 33,9% eram brancas, inserindo-se as restantes a outras categorias. Da população dos presídios, 68% das pessoas presas têm menos de 25 anos de idade, sendo que 2/3 são negros e mulatos;


O estudo 'Mapa da Violência 2012: A cor dos homicídios no Brasil' mostra que os negros têm significativamente mais possibilidades de serem assassinados do que os brancos em um país em que 50,7% da população se declara descendente de africanos.
Os responsáveis pelo estudo consideram que o número de homicídios no Brasil, de 30.269 na média por ano, é altamente preocupante para um país que não sofre com conflitos étnicos, religiosos, fronteiriços, raciais ou políticos.
'Trata-se de um volume de mortes violentas muito superior ao de muitas regiões do mundo que sofrem conflitos armados, mas o que mais inquieta é a tendência crescente dessa mortalidade seletiva. Há uma associação inaceitável e crescente entre os homicídios e a cor da pele das vítimas', alerta a pesquisa.
'A população negra é precisamente a mais numerosa entre os pobres no Brasil. É portanto a população mais afetada por situações de exclusão e a mais vulnerável à violência', disse à Agência Efe o presidente do Cebela, Jorge Werthein.
Para Werthein, que foi representante da Unesco no Brasil, como os serviços do Estado não chegam à população mais necessitada, os negros, maioria entre os pobres, passam a ser mais vulneráveis à violência e aos homicídios.
Segundo o estudo, a taxa de homicídios de brancos por cada 100 mil habitantes no Brasil caiu de 20,6 em 2002 até 15,5 em 2010.
No mesmo período, a taxa de homicídios de negros por cada 100 mil habitantes subiu de 34,1 até 36.

Proporcionalmente, morrem vítimas de homicídio 132,3% mais negros que brancos, o que significa que no Brasil há uma relação de 2,3 negros assassinados por cada branco que perde a vida dessa maneira.
'Outro dado significativo é que o motor desses dados não é o crescimento dos homicídios de negros, mas a forte queda dos homicídios de brancos, o que indica que as estratégias e políticas de segurança e proteção à cidadania incidem de forma diferente na população segundo sua cor', acrescenta o relatório
O relatório revelou, além disso, que essa brecha é ainda maior para os negros jovens (entre 12 e 21 anos).

Enquanto a taxa de homicídios para os negros em geral foi de 36 por cada 100 mil habitantes em 2010, para os negros jovens foi de 72.
Para Werthein, os dados mostram que, além de segurança, a educação e a inclusão são outros serviços públicos que o Estado tem que oferecer à população mais pobre, na qual os negros são maioria, para enfrentar o problema. EFE
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Nosso desafios:2013
Nós ainda temos fortes desigualdades no país. As estatísticas de órgãos oficiais demonstram que a população negra está em situação de desvantagem. Ainda que a gente viva um momento de crescimento do país, ele não tem beneficiado de forma igualitária a população. As desigualdades permanecem. Nós temos dados como: 60% das mulheres que morrem por problemas na maternidade são negras, 75% dos jovens assassinados no país são negros e o fato de um jovem negro ter 135% mais chance de morrer de forma violenta que um branco, de acordo com o Mapa da Violência de 2011. Por isso, o principal desafio é superar as desigualdades com políticas efetivas. 
Outro desafio é a mudança de comportamento. O racismo é algo que está no cotidiano, mas ainda há uma resistência de as pessoas em assumirem isso. É preciso romper com o comportamento racista e isso requer uma mudança profunda, comportamental. A população não se assume como racista. Temos racismo, mas não temos racistas.


Inclusão no mercado de trabalho dos trabalhadores negros e negras;· titulação das terras das Comunidades Quilombolas;

· Democratização do acesso da juventude negra à universidade pública;

· Aprovação do Estatuto da Igualdade Racial;

· Melhor distribuição de renda; acesso à saúde e educação com qualidade;

· Cultura e lazer; habitação;· Respeito às religiões de matrizes africanas;

· Contra o racismo, o machismo e a homofobia.

· Participação política nos trabalhadores, nos sindicatos e movimentos popularas.




 Melhor distribuição de renda; acesso à saúde e educação com qualidade

· Cultura e lazer; habitação;· Respeito às religiões de matrizes africanas;

· Contra o racismo, o machismo e a homofobia.


· Participação política nos trabalhadores, nos sindicatos e movimentos popularas



fonte:


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Um afro abraço




segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

As inúmeras etnias países africanos e as tradições persistem, ainda que de forma tímida.

A maior parte das religiões africanas sucumbiu ao processo de colonização imposto pelos europeus. Mas em alguns países africanos, as tradições persistem, ainda que de forma tímida. 

Os europeus e os árabes impuseram à África seus costumes cristãos e islâmicos milenares. Alguns cultos afros politeístas, também milenares, ainda resistem a essa influência estrangeira, mas a maioria das religiões africanas perdeu-se ou se transformou em meio aos processos de catequização.

Vamos pegar o exemplo da Guiné Bissau, país da costa oeste africana colonizado por Portugal e que só teve a independência reconhecida em 1973. Seu território é relativamente pequeno. A Guiné Bissau abriga cerca de 30 grupos étnicos diferentes numa área menor do que a do estado do Rio de Janeiro.


Muitos desses povos são politeístas e suas celebrações eram muito ligadas a elementos da natureza e do cosmos, como o sol, a lua, a chuva e o vento.


O estudante guineense Gorki Joaquim pertence à etnia balanta, também presente em terras do Senegal e de Gâmbia. Ele pôde acompanhar de perto o declínio da tradição religiosa africana a partir da propagação das celebrações estrangeiras, inclusive o natal.


"Os povos africanos, principalmente da minha etnia, manifestam o dia de Natal, mas de uma outra forma que não é o Natal ocidental. Eles comemoram esse dia com a primeira chuva: a primeira chuva que cai na terra, eles fazem uma festa para chamar o Deus da Agricultura para que haja uma boa colheita nesse ano. Mas depois, com esse Natal ocidental, acabou que essas coisas de tradição perderam a tradição africana. Quando eu tinha nove ou 10 anos de idade, havia essa tradição da primeira chuva. Cada etnia da Guiné Bissau tem a sua tradição".


Gorki Joaquim tem hoje 28 anos e estuda sociologia na Universidade de Brasília. Como o Cristianismo lá da Guiné Bissau é o mesmo difundido em todas as ex-colônias européias espalhadas pelo mundo, Gorki não vê muita diferença entre o Natal comemorado aqui no Brasil e nas áreas urbanas de seu país.


"Natal não é uma cultura dos países periféricos. Foram os colonizadores que trouxeram o Natal. Guiné-Bissau foi colonizada por Portugal, aí a gente comemora o Natal como os brasileiros comemoram o Natal: a família tem que estar junto, convidam-se amigos para participar do Natal. É igual no Brasil: as pessoas compram roupas para as crianças, vão para o supermercado para comprar coisas para as crianças".


O quadro é o mesmo em Cabo Verde, arquipélago africano de colonização portuguesa. Quem conta é a estudante caboverdeana Denise Fernandes, que faz geografia na UnB.


"É a época que mais junta a família, porque Cabo Verde tem muitos emigrantes que, aí, aproveitam a época do Natal para ficar junto com a família e festejar o Natal em família. É bem baseado na culinária portuguesa: bacalhau, cabrito, porco."

Apesar de uma certa padronização mundial na comemoração do Natal, cada etnia ou grupo religioso africano acaba incorporando um ou outro pequeno elemento às celebrações do nascimento do filho de Deus.


Os coptas, que são os cristãos ortodoxos do Egito, fazem um jejum de carnes e laticínios nos 40 dias que antecedem o Natal. A compensação, porém, vem na ceia natalina, repleta de pão, alho, arroz, carne fervida e fata, que é um prato egípcio típico.


No Quênia, parte da população aproveita a data para visitas aos amigos ao longo do dia. Quem tem condições financeiras não deixa de oferecer bebida, pão e carne ao visitante durante o período natalino.


Já na emergente África do Sul, a ceia de Natal costuma acontecer no quintal ou no jardim de casa para espantar o calor de dezembro.



Entre os balantas da Guiné Bissau, Senegal e Gâmbia, há o costume de se criar animais durante o ano, especialmente para que sejam saboreados na ceia, como conta o guineense Gorki Joaquim.


"A única coisa diferente que tem no interior do país é essa coisa de criar animais durante seis meses. Por exemplo, o cara cria galinha ou galo durante seis meses só para preparar esse galo para o Natal. Ou preparar um cabrito para o Natal. Só para o Natal. Aí, ele é intocável. Aí, os grupos, a juventude, também faz um trabalho comunitário, juntando dinheiro e esse dinheiro vai servir, no dia de natal, para comprar algumas coisas, como óleo, arroz e algumas coisas de necessidade básica para o natal".


Mas como será o Natal dos países mergulhados em guerra civil e assolados pela fome, pela miséria e pela Aids?


Bem, nesse caso, as lembranças festivas do nascimento de Cristo, da farta ceia natalina e dos presentes de Papai Noel não passam de pura ficção.


O Natal em algumas áreas de Uganda, Etiópia, Ruanda, Eritreia, Sudão, Zimbábue, República Democrática do Congo, entre outros, depende muito das ações humanitárias e solidárias desenvolvidas por organismos internacionais.



Celebração da união e valorização dos afrodescendentes

Cada família celebra Kwanzaa da sua própria maneira, mas as celebrações geralmente incluem canções e danças ,batucada com tambores africanos, leitura de histórias e poesias e uma grande refeição tradicional. A celebração dura sete dias, iniciando no dia 26 de dezembro e encerrando no dia 1º de janeiro.
Em cada uma das sete noites, a família se reúne  ao redor  das luzes uma das velas no Kinara (castiçal) onde os princípios da Kwanzaa são discutidos. Esses princípios, chamados de Saba Nguzo (sete princípios em suaíli) são valores da cultura africana que contribuem para a construção e reforço comunidade entre afrodescendentes



NATAL AFRICANO




A CANÇÃO DOS HOMENS

"Quando uma mulher, de certa tribo da África,
sabe que está grávida, segue para a selva com outras mulheres
e juntas rezam e meditam até que aparece a "canção da criança".

Quando nasce a criança, a comunidade se junta

e lhe cantam a sua canção.
Logo, quando a criança começa sua educação
o povo se junta e lhe cantam sua canção.

Quando se torna adulto, a gente se junta novamente e canta.

Quando chega o momento do seu casamento a pessoa escuta a sua

canção.


Finalmente, quando sua alma está para ir-se deste mundo,
a família e amigos aproximam-se e,igual como em seu nascimento,
cantam a sua canção para acompanhá-lo na "viagem".

"Nesta tribo da África há outra ocasião na qual os homens cantam a

canção.
Se em algum momento da vida a pessoa comete um crime
ou um ato social aberrante, o levam até o centro do povoado
 a gente da comunidade forma um círculo ao seu redor.

Então lhe cantam a sua canção".

"A tribo reconhece que a correção para as condutas
anti-sociais não é o castigo;
é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade.

Quando reconhecemos nossa própria canção

já não temos desejos nem necessidade de prejudicar ninguém."
"Teus amigos conhecem a "tua canção"
e a cantam quando a esqueces.

Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos erros que cometes

ou as escuras imagens que mostras aos demais.
Eles recordam tua beleza quando te sentes feio;
tua totalidade quando estás quebrado;

tua inocência quando te sentes culpado

e teu propósito quando estás confuso."

Tolba Phane

Um afro abraço e boas festas!!!!
fonte:Wikipédia, a enciclopédia livre/www.sanbona.com/Tati Amaro, Astrid Van Rooy e Lyvia Sayã
/www.mundonegro.com.br/www.vagalume.com.br 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A Saúde do Trabalhador


 Qualidade de vida no trabalho e a legislação pertinente de Saúde do Trabalhador
 Política Nacional de Saúde do Trabalhador visa à redução dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, através de ações de promoção, reabilitação e vigilância na área de saúde. Suas diretrizes compreendem a atenção integral à saúde, a articulação intra e intersetorial, a participação popular, o apoio a estudos e a capacitação de recursos humanos.
A qualidade de vida no trabalho é uma compreensão abrangente e comprometida das condições de vida no trabalho, que inclui aspectos de bem-estar, garantia da saúde e segurança física, mental e social, e capacitação para realizar tarefas com segurança e bom uso de energia pessoal. Não depende só de uma parte, ou seja, depende simultaneamente do indivíduo e da organização, e é este o desafio que abrange o indivíduo e a organização.
 À medida que o indivíduo está inserido no contexto organizacional, está sujeito a diferentes variáveis que afetam diretamente o seu trabalho. Atualmente, existe uma preocupação na saúde do indivíduo neste contexto, pois se relaciona, principalmente, com a produtividade da empresa.
Ou seja, para que se atinja produtividade e qualidade, é preciso ter indivíduos saudáveis e atribuídos de qualidade. Em contrapartida, a organização atua de forma onde muitas vezes pressiona-se o indivíduo, levando-o a estados de doenças, de insatisfação e desmotivação. Dentre estes, encontra-se a fadiga, distúrbios do sono, alcoolismo, estresse e a síndrome de Burnout. De fato, em função de sua forma de ser, os indivíduos podem vivenciar suas próprias experiências de trabalho. As diferenças individuais são um componente importante, que atuam de uma forma ou de outra no trabalho. Em uma perspectiva interacionista que considere um ajuste dinâmico entre pessoa, local de trabalho e organização, pode-se perceber que o ajuste nem sempre é adequado, e quando assim está, o indivíduo tende a perceber que não dispõe de recursos suficientes para ajustar-se, surgindo assim o estado de estresse. Estas experiências são geralmente, negativas e podem ter conseqüências graves e, muitas vezes, irreparáveis tanto para a saúde e bem estar físico quanto psicológico e social.
Percebe-se ainda, que o número de doenças diretamente relacionadas com o estresse está aumentando, e, concomitantemente, a preocupação sob formas de prevenção e cura. O estresse e seus estados crônicos afetam diretamente a execução de tarefas e desenvolvimento do trabalho.
E mesmo o trabalho que motiva e gratifica, nos lembra Kanaane (1994), quando realizado com afinco, exige esforço, capacidade de concentração, de raciocínio, implica desgaste físico e/ou mental, atuando na qualidade de vida. Muitos autores afirmam que o relacionamento com outras pessoas no âmbito de trabalho é uma fonte de estresse. E neste sentido, aparece em meados da década de 70 o termo Burnout, que no sentido literal significa “estar esgotado” ou “queimado”, e que é característico de profissões de ajuda, serviços humanos ou como Vidal (1993) afirma: “aqueles profisionais que consistente principalmente em oferecer serviços humanos direitos  de grande relevancia para o usuario”.

Cabe salientar que o Burnout é formado por diversos estados sucessivos que ocorrem em um tempo e representam uma forma de adaptação às fontes de estresse. Assim, Burnout e estresse são fenômenos que expressam sua relevância na saúde do indivíduo e da organização.
Portanto, ao considerar qualidade de vida no trabalho, de forma a englobar aspectos de bem-estar e saúde biopsicossocial, deve-se tomar medidas de prevenção e tratamento para que esses estados não afetem a organização de maneira a impedir a produtividade e o desenvolvimento, nem mesmo ao indivíduo na sua saúde e qualidade de vida. Acrescentando que, ao se tomar medidas, sejam de prevenção ou tratamento, é preciso conhecer os conceitos de tais estados na sua essência, para que não ocorram distorções como comumente acontece, referindo-se ao Burnout como um sinônimo de estresse, quando na verdade é uma resposta de um estresse crônico. É, no entanto, relevante associar esse termos relacionando-os com a prática dentro do contexto organizacional.
Saúde e doença não são fenômenos isolados que possam ser definidos em si mesmos, pois estão profundamente vinculados ao contexto sócio-econômico e cultural, tanto em suas produções como na percepção do saber que investiga e propõe soluções. Todas as concepções de doença pressupõem uma norma objetiva que permita determinar um modelo referencial. Isto fica superlativamente evidente quando a questão é doença mental. Machado et. al. (1978) afirmam que para medir o que é ou não é razoável em uma conduta será preciso compará-la com ela mesma e com outros comportamentos comumente aceitos em cada sociedade e em dado momento histórico. Esse critério comparativo, ao mesmo tempo em que possibilita estabelecer a norma a partir da observação do desvio, e promovê-la autoritariamente na prática, permite articular história individual e história da sociedade, entendendo-as como mudança progressiva e interdependente. Segundo Codo, Sampaio e Hitomi (1995), do choque entre um indivíduo, dotado de uma história personalizada e a organização do trabalho, portadora de uma injunção despersonalizante, emergem uma vivência e um sofrimento que determinarão a saúde na organização e seu funcionamento.
E o sofrimento do indivíduo traz conseqüências sobre o seu estado de saúde e igualmente sobre o seu desempenho, pois existem alterações e/ou disfunções pessoais e organizacionais. Esse sofrimento advém de sentimentos gerados por diversos aspectos e que atingem a organização em todo o seu contexto. Os sentimentos como geradores de disfunções são inúmeros e, entre eles estão:
*    Sentimento de indignidade: experimentado como a vergonha de ser robotizado, de não ser mais que um apêndice da máquina, às vezes de ser sujo, de não ter mais imaginação ou inteligência, etc; 
*   Sentimento de inutilidade: percebido pela falta de qualificação e de finalidade de trabalho, já que muitas vezes não conhecem a própria significação de seu trabalho em relação ao conjunto da atividade da organização;
*  Sentimento de desqualificação: cujo sentido repercute não só para si com para o ambiente de trabalho.
A vivência depressiva condensa de alguma maneira os sentimentos de indignidade, de inutilidade e de desqualificação, ampliando-os. Esta depressão é dominada pelo cansaço. Cansaço que se origina não só dos esforços musculares, mas também dos psicosensoriais. Associados ao cansaço por serem também importantes estão:
*    Fadiga - resultante da sobrecarga de trabalho;
*   Insatisfação - resultante do confronto com a esfera das aspirações, motivações ou desejos;
*  Satisfação - a satisfação do trabalho ocupa uma posição fundamental na problemática da relação saúde-trabalho. Muitas vezes, negligenciada ou desconhecida, está na origem não só de numerosos sofrimentos somáticos de determinismo físico direto, mas também de outras doenças do corpo mediatizadas por algo que atinge o aparelho mental;
*    Frustração - resultante de um significante conteúdo inadequado às potencialidades e às necessidades do indivíduo;
*   Angústia - resultante de um conflito intra-psíquico, isto é, de uma contradição entre dois impulsos inconciliáveis (duas pulsões, dois desejos...);
*   Medo - está presente em todos os tipos de ocupações profissionais, principalmente, aquelas que estão expostas a riscos relacionados à integridade física. Uma prova a mais da existência e da intensidade do medo é fornecida pelos problemas de sono e, sobretudo, pelo consumo de medicamentos psicotrópicos;
 Ansiedade,  tensão nervosa e carga psicosensorial – relacionadas ao medo, geralmente decorrentes da vigilância, da concentração e memorização, contribuindo para o sofrimento sentido;
* Ansiedade - em uma organização é facilmente identificada em relação ao desempenho de cada indivíduo, principalmente relativa à produtividade, ritmo, cotas de produção, rendimento, aos prêmios e bonificações;
*Agressividade, hostilidade e perversidade - geradas pelas relações do trabalho, isto é: com a hierarquia, chefia, supervisão, outros trabalhadores;
*    Alcoolismo.
*   Uso de drogas.
    Com isso, muitos argumentam que ainda há forte preconceito dentro da sociedade brasileira, o que seria uma forma a mais de dificultar a inserção do negro na sociedade. O último relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), "A Hora da Igualdade no Trabalho", divulgado no dia 12 de maio, mostra que, apesar de avanços em alguns indicadores sociais, a situação de desemprego persiste na população negra brasileira: a renda mensal de um trabalhador negro é 50% inferior a do branco.
Dados Demográficos

  A voz corrente nas famílias negras, assim como na população geral, frases do tipo: Negro é forte, negro não adoece, negro tem saúde de ferro, negro vive mais, negro é resistente a dor, negro não chora, negro não vai ao medico, negro é alegre, negro é festeiro, negro é bom de samba, negro está sempre rindo....
   Cabe a nós mulheres e homens negros, desconstruirmos esses resquícios do escravismo no qual não podíamos adoecer e, continuarmos na luta em defesa do SUS para que nós negros, agora 52% da população brasileira,sejamos contemplados em nossas especificidades para que o Brasil seja de fato e de direito, um país de todas e todos, independentemente da sua origem ou etnia.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPEA elaborou um documento trazendo informações do Censo Demográfico de 2010 sinalizando que 97 milhões de brasileiros se declararam negros, ou seja, pretos ou pardos,e 91milhões de pessoas se declararam.
brancas.

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
fonte:Comissão Nacional de Combate ao Racismo da CTB
Lei nº. 12.288, de 20FONTE:/07/2010: Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nºs 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de novembro de 2003. Portaria MS/GM nº 992, de 13/05/2009: institui a Política Nacional de Saúde da População Negra

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Línguas africanas no português do Brasil


A cultura afro-brasileira participou ativamente na construção da cultura do nosso país e ainda vemos sua influência em vários aspectos...

A língua de um povo é o reflexo dele mesmo, mas vertido em sons e palavras. Através dela nos expressamos e manifestamos nossa própria existência. E a nossa língua portuguesa é resultado de muitas e diversas existências, dentre elas, a do negro africano. Ainda que uma existência difícil – esta que veio carregada pelos braços hostis da escravidão –, é rica e forte, poderosa de incutir na cultura do colonizador, dar-se com ela e sintetizar o que hoje conhecemos como genuinamente brasileiro.
Tão corriqueiro, mas um verdadeiro pilar da nossa identidade, a língua e seus contornos nos passam despercebidos e sua importância pode equivocadamente parecer pouca. Merecem então um olhar mais atento as raízes da nossa língua.
Detivemo-nos às africanas, partindo da sua origem até suas aplicações, ressaltando palavras que delas herdamos e observando as peculiaridades de sua construção.
Tanta riqueza não deve manter-se escondida, é preciso tê-la sabida e passá-la o prestígio que merece.

Recurso aos empréstimos de línguas africanas no português do Brasil

Durante o estabelecimento da população africana no Brasil, foram constituídas duas “línguas gerais” dos negros: o nagô ou iorubá na Bahia e o quimbundo nas outras regiões. O quimbundo foi muito mais empregado, por maior número de indivíduos, numa área geográfica maior, e por isso, tem um vocabulário mais expressivo.
Uma característica em comum entre as duas línguas é a falta de flexão. Na língua quimbundo, a concordância é feita por meio de prefixos especiais repetidos junto ao termo subordinado.
Os escravos africanos utilizavam o português como segunda língua, portanto imprimiam nela antigos hábitos lingüísticos, executando-a com sotaque peculiar e deformador, e simplificando sua morfologia até reduzir-lhe a reflexões.
Dada a permanência do negro e sua intromissão profunda na família e na sociedade brasileira, os afro-descendentes constituíram força de resistência à ação niveladora das ondas lingüísticas do português, nas camadas populares, explicando-se assim a redução de flexões que se nota no linguajar de pessoas mais simples.

Origem ...

 O Banto no Brasil


No Brasil, o povo banto ficou conhecido por denominações muito amplas, principalmente congos e angolas, sendo que nos países do Congo e da Angola existem inúmeras etnias e línguas, o que dificulta para a precisão de suas origens.
Entre os bantos, destacaram-se pela superioridade numérica, duração e continuidade no tempo de contato direto com o colonizador português, três povos litorâneos: os bacongo, os ambundo e os ovimbundo.

BACONGO, falantes de quicongo, língua que engloba vários falares regionais de territórios correspondentes a “grosso modo” com os limites do antigo Reino do Congo. Desse local, foram levados para Lisboa os primeiros negros bantos escravizados.
AMBUNDO, falantes de quimbundo, concentrados na região central da Angola.
Para essa região o tráfico se voltou, no século XVII, após a decadência do Reino do Congo, e Luanda foi tão importante para o Brasil nesse processo, que é invocada, em versos, por diferentes manifestações do folclore brasileiro.
OVIMBUNDO, falantes de umbundo, localizados nas províncias de Bié, Huambo e Benguela, ao sul da Angola. A presença ovimbundo no Brasil exerceu mais importância nos estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.


Línguas e povos oeste-africanos na Brasil

A África Ocidental se caracteriza por um grande número de línguas tipologicamente muito diferenciadas e faladas em uma região geográfica menor, porém mais densamente povoada do que aquela onde o tráfico se estabeleceu no domínio banto. Seus territórios compreendem os seguintes países: Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau, Guiná-Conacri, Serra Leoa, Libéria, Burquina-Fasso, Costa do Marfim, Gana, Togo, Benim e Nigéria.
Dentre os povos trazidos dessa região, destacam-se, pela superioridade numérica em relação aos demais oeste-africanos, os da família lingüística kwa. As línguas que se mostraram mais significativas no Brasil foram as do grupo ewe-fon, principalmente a iorubá.
Iorubá é uma língua constituída de vários falares regionais, pouco diferenciados. Chamados de “ànàgó” pelos seus vizinhos, termo por que ficaram genericamente conhecidos no Brasil como nagô. 

Em 1830, foram trazidos em grandes contingentes para a Bahia, já na última fase do tráfico, e empregados em sua maioria, em trabalhos urbanos e domésticos na cidade de Salvador.


Palavras de origem banta: 

BAGUNÇA – desordem, confusa, baderna, remexido.
BANZÉ – confusão, barulho.
BATUCAR – repetir a mesma coisa insistentemente.
BELELÉU – morrer, sumir, desaparecer.
BERIMBAU – arco-musical, instrumento indispensável na capoeira.
BIBOCA – casa, lugar sujo.
BUNDA – nádegas, traseiro.
CACHAÇA – aguardente que se obtém mediante a fermentação e destilação do mel ou barras do melaço.
CACHIMBO – pipo de fumar.
CAÇULA – o mais novo dos filhos ou irmãos.
CAFOFO – quarto, recanto privado, lugar reservado com coisas velhas e usadas.
CAFUNÉ – ato de coçar, de leve, a cabeça de alguém, dando estalidos com as unhas para provocar o sono. 
CALANGO – lagarto maior que lagartixa.
CAMUNDONGO – ratinho caseiro.
CANDOMBLÉ – local de adoração e de práticas religiosas afro-brasileiras da Bahia.
CANGA – tecido utilizado como saída-de-praia.
CANGAÇO – o gênero de vida do cangaceiro.
CAPANGA – guarda-costas, jagunço.
CAPENGA – manco, coxo.
CARIMBO – selo, sinete, sinal público com que se autenticam os documentos. 
CATINGA – cheiro fétido e desagradável do corpo humano, certos animais e comidas deterioradas.
CHIMPANZÉ – espécie muito conhecida de macaco.
COCHILAR (a ortografia correta deveria ser coxilar) – dormir levemente.
DENDÊ – palmeira ou fruto da palmeira.
DENGUE – choradeira, birra de criança, manha. 
FUNGAR – aspirar fortemente com ruído.
FUZUÊ – algazarra, barulho, confusão.
GANGORRA – balanço de crianças, formado por uma tábua pendurada em duas cordas. 
JILÓ – fruto do jiloeiro, de sabor amargo. 
MACUMBA – denominação genérica para as manifestações religiosas afro-brasileiras.
MANDINGA – bruxaria, ardil, mau-olhado.
MARIMBONDO – vespa.
MAXIXE - fruto do maxixeiro.
MINHOCA – verme anelídeo. 
MOLEQUE – menino, garoto, rapaz.
MOQUECA – guisado de peixe ou de mariscos, podendo também ser feito de galinha, carne, ovos etc.
MUCAMA – criada, escrava de estimação, que ajudava nos serviços domésticos e acompanhava sua senhora à rua, em passeios.
QUIABO – fruto do quiabeiro.
QUILOMBO – povoação de escravos fugidos.
SENZALA – alojamentos que eram destinados aos escravos no Brasil.
SUNGA – calção de criança.
TANGA – tapa-sexo.
TITICA – fezes, coisa sem valor, excremento de aves.
ZABUMBA – bombo.

Palavras de origem kwa:

ABADÁ – túnica, casaco folgado e comprido.
ACARAJÉ – bolo de feijão fradinho, temperado e moído com camarão seco, sal e cebola, frito com azeite-de-dendê.
ANGU – pirão de farinha de mandioca, de milho ou de arroz temperado com sal e cozido para ser comido com carne.
ASSENTO – altar das divindades, dentro ou fora do terreiro.
AXÉ – todo objeto sagrado da divindade; o fundamento, o alicerce mágico da terreiro.
BOBÓ – comida feita de uma variedade de feijão, inhame ou banana da terra com camarão e azeite-de-dendê.
ERÊ – um dos estados de transe; espíritos infantis também cultuados pelos iniciados ao lado da divindade a que foram consagrados.
EXU – divindade nagô-queto, capaz de fazer tanto bem quanto mal, tido como mensageiro dos orixás.
FÉ – gostar de, querer.
JABÁ – carne seca, charque.
LELÉ – maluco, adoidado; ingênuo, indolente, simplório. 
ORIXÁ – designação genérica das divindades do panteon iorubá ou nagô-queto.

Segundo muitos autores, como Gladstone Chaves de Melo, a contribuição das línguas africanas para o vocabulário do português no Brasil não foi tão grande quanto à influência que exerceu o escravo no nosso modo de falar.
Um afro abraço.

Fontes:
CHAVES DE MELO, Gladstone - A Língua do Brasil. Fundação Getúlio Vargas/
HORTA NUNES, José; PETTER, Margarida (2002) – História do saber lexical e constituição de um léxico brasileiro. Editora Humanitas./JUSTO CANIATO, Benilde (2005) – Percursos pela África e por Macau. Ateliê Editorial/
PESSOA DE CASTRO, Yeda (2001) – Falares africanos na Bahia – Um Vocabulário Afro-Brasileiro. Topbooks Editora.

Dossiê Línguas do Brasil da revista Ciência

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Militantes negros e negros intelectuais...

O Número de negros na universidade triplica em dez anos, mas ainda está abaixo dos brancos. Pesquisa do IBGE aponta que o índice subiu de 10,2% em 2001 para 35,8% em 2011. A Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2012, divulgada hoje pelo IBGE, mostra melhoria na educação, na década 2001-2011, especialmente na educação infantil (0 a 5 anos), onde o percentual de crianças cresceu de 25,8% para 40,7%. Dentre as mulheres com filhos de 0 a 3 anos de idade na creche, 71,7% estavam ocupadas. Entre os adolescentes de 15 a 17 anos, 83,7% frequentavam a rede de ensino, em 2011, mas apenas 51,6% estavam na série adequada para a idade. Já a proporção de jovens estudantes (18 a 24 anos) que cursavam o nível superior cresceu de 27,0% para 51,3%, entre 2001-2011, sendo que, entre os estudantes negros ou pardos nessa faixa etária, a proporção cresceu de 10,2% para 35,8%.
Se intelectuais negros sempre existiram na academia brasileiranegros intelectualiseram raríssimos, como, por exemplo, Lélia Gonzales e Alberto Guerreiro Ramos, que portavam uma ética da convicção antirracismo incorporada dos movimentos sociais negros, assim como um ethos acadêmico-científico ativo, posicionado pró-igualdade racial e pró-políticas de promoção da igualdade racial; ethos este oriundo da interatividade dessa ética com o conhecimento acadêmico-científico adquirido de cursos universitários de pós-graduação stricto sensu. É sobre o surgimento dos negros intelectuais no campo acadêmico-científico brasileiro que trata este artigo. Mas devemos explicitar que não pretendemos fazer aqui uma distinção explícita, com características e fronteiras rígidas, entre quem ou o que são negros intelectuais e quem ou o que são intelectuais negros. Visamos, sobretudo, demonstrar que está surgindo uma nova categoria de intelectuaismBrasil que estamos classificando de negros intelectuais.

Além da baixa quantidade desses intelectuais nas universidades brasileiras, até muito recentemente os negros no Brasil eram considerados por alguns cientistas sociais apenas como informantes e/ou objetos de pesquisa, ou até mesmo como “um micróbio” e/ou “material de laboratório”, conforme afirmou categoricamente o cientista social Costa Pinto (Costa Pinto apud Nascimento, 1982: 61-62). Ou seja, geralmente na academia brasileira os afro-brasileiros são tratados no máximo como seres subordinados e dependentes do conhecimento colonizador e/ou eurocêntrico de alguns intelectuais que estudam e pesquisam relações raciais brasileiras.


Ainda  raros intelectuais negros antes da década de 1970

Pode-se dizer queaté o terceiro quartel do século XX, não havia possibilidade de se terintelectuais negros nas universidades públicas brasileiras. Segundo o antropólogo José Jorge de Carvalho, as universidades públicas brasileiras se constituíram como espaços institucionais num clima de hostilidade e de racialização inferiorizante dos negroscresce significativamente o protesto negro contra a discriminação racial no Brasil e,consequentementeaumenta o debate sobre a questão racial brasileira, inclusive com anstitucionalização de alguns órgãos públicos estaduaismunicipais e até federais

 O espaços para a luta antirracismo
          O  processo de redemocratização do Brasil nos anos oitenta do século passado, surgem condições sociais para a formação e o florescimento de uma geração de intelectuais negros oriundos desses movimentos ou que ouviram as vozes destes por justiça e igualdade racial. Esses “novos intelectuais negros”, ao participarem como ativistas nesses movimentos ou sofrerem indiretamente a sua influência (ouvindo o seu clamor por igualdade racial), tornaram-se ciosos de novos ou outros métodos de pesquisas, indagações, categorias analíticas e conhecimentos para estudar, pesquisar e compreender as relações raciais brasileiras, assim como por apresentar propostas para promover a igualdade racial no Brasil, com o objetivo de eliminar o racismo da sociedade brasileira, especialmente em algumas áreas que eles consideravam estratégicas, como a educação. Nessa área, os ativistas negros brasileiros tiveram papel preponderante ao demonstrar os conteúdos racistas transmitidos pelo sistema formal de ensino. 
 Contudo, somente o ativismo não lhes proporcionava as condições necessárias para a produção de um conhecimento com autonomia, independência e descolonização intelectual. Ou seja, a militância nos movimentos negros não possibilitava o controle ideológico que o rigor acadêmico exige para a produção de um conhecimento científico em qualquer área, especialmente na de relações raciais. Assim, aqueles ativistas precisavam de um acompanhamento acadêmico-formal. Portanto, eles precisavam ser educados com esmero por meio de métodos, técnicas e conhecimentos científicos que controlassem a subjetividade, a ideologia, etc., e produzissem conhecimentos sobre as relações raciais brasileiras de acordo com os padrões do rigor acadêmico e/ou da ciência. Dito de outra maneira, essas pretensões de produzir conhecimento dos ativistas negros precisavam de orientação e acompanhamento acadêmico-científicos.
Um afro abraço.
fonte:Racismo sem etnicidade: políticas públicas e discriminação racial em perspectiva comparada. Dados: Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 41, n. 4, p. 751-783, 1998./Parecer n. 3/2004, das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Relatório do Proc. 23001.000215/2002-96”. In: BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Ministério da Educação/Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: MEC/SECAD/INEP, 2004.

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