UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

domingo, 18 de novembro de 2012

Homofobia no Brasil: Intolerância


Homofobia no Brasil ainda é um problema presente e constante, havendo estatísticas compiladas pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) que sugerem que o Brasil é o país com a maior quantidade de registros de crimes homofóbicos do mundo, seguido pelo México e pelos Estados Unidos. De acordo com o GGB, um homossexual é morto a cada 36 horas no país.
Segundo o professor Luiz Mott, fundador do GGB e membro do departamento de antropologia da Universidade Federal da Bahia, a homofobia é uma "epidemia nacional". Ele assevera que o Brasil "é o campeão mundial em assassinatos de homossexuais, sendo que a cada três dias um homossexual é barbaramente assassinado, vítima da homofobia." Para a advogada Margarida Pressburger, membro do Subcomitê de Prevenção da Tortura da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil ainda é "um país racista e homofóbico.
No Brasil, manifestações homofóbicas são por vezes registradas, sendo muitas delas violentas.
A Luta:
Em 2010, uma publicação homofóbica de um jornal estudantil de farmácia da Universidade de São Paulo (USP) que incitava estudantes a atirarem excrementos humanos a homossexuais e oferecia em troca bilhetes grátis para uma festa também foi considerada homofóbica por movimentos LGBT a psicóloga Rozângela Alves Justino, que atende no Rio de Janeiro, punida pelo Conselho Federal de Psicologia por tentar "curar" pessoas homossexuais que procuravam seu consultório. A classificação oficial da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 1990 e a resolução específica do Conselho Federal de Psicologia do Brasil (CFPB) de 1999, excluem a tipificação de patologia à homossexualidade.
Crianças e adolescentes estudantes sofrem com discriminação e preconceito tanto por parte de estudantes, quanto de professores e diretores das escolas, Estudo realizado em 501 escolas detectou que 80% dos alunos gostariam de manter algum tipo de distanciamento de portadores de necessidades especiais, homossexuais, pobres e negros. 17,4% relataram ter conhecimento de alunos vítimas de bullying devido à sua homossexualidade, O Ministério da Educação passou a financiar projetos para ajudar as escolas a lidarem com o problema da homofobia.
Tambem em 2010, o deputado federal Jair Bolsonaro se envolveu em polêmicas ao declarar ser a favor de dar surras em crianças e adolescentes que tenham tendências homossexuais, se colocando como defensor da "família tradicional". Segundo o deputado: "O filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um coro, ele muda o comportamento dele. Olha, eu vejo muita gente por aí dizendo: ainda bem que eu levei umas palmadas, meu pai me ensinou a ser homem." A fala de Bolsonaro repercutiu negativamente entre defensores dos direitos humanos e associações de defesa dos direitos LGBT. A ABGLT defendeu que Bolsonaro fosse processado por sua postura discriminatória. A Câmara dos Deputados do Brasil procurou punir o deputado, alegando que ele não poderia participar da comissão de direitos humanos por defender violência contra crianças e homossexuais. Em reunião da Comissão dos Dreitos Humanos da Câmara, Bolsonaro manteve todas as declarações; na ocasião, ele também foi defendido pelo deputado Fernando Chiarelli (PDT-SP). O parlamentar, que é membro do Partido Progressista, já se manifestou contra o casamento homossexual, classificando-o como "ridículo" e "horroroso". Petições pela cassação de Bolsonaro e de repúdio às falas do parlamentar foram realizadas na internet. Uma petição da Avaaz contava com cerca 81 mil assinaturas em 9 de abril de 2011.
Em maio de 2011, com o reconhecimento da união estável de casais homossexuais pelo Supremo Tribunal Federal, Jair Bolsonaro se envolveu em novas polêmicas de teor homofóbico. Segundo o portal Terra, Bolsonaro afirmou que o "próximo passo vai ser a adoção de crianças (por casais homossexuais) e a legalização da pedofilia", forçando uma associação entre pedofilia e homossexualidade, As falas de Bolsonaro foram ironizadas por internautas no Twitter, que comemoravam a decisão do STF. Em julho de 2011, Bolsonaro disse, ao ser perguntado sobre o projeto de lei 122, em entrevista à revista Época, que "a maioria dos homossexuais é assassinada por seus respectivos cafetões, em áreas de prostituição e de consumo de drogas.
A Religião:
Alguns dos maiores fomentadores da homofobia no Brasil têm surgido no meio eclesiástico, tanto protestante como católico. Isso, porém, não significa que haja unanimidade. Diversas igrejas chamadas "inclusivas" têm surgido no Brasil, como resposta à exclusão de pessoas com base na orientação sexual por parte de igrejas preconceituosas que fazem parte do mainstream evangélico no Brasil. Dentro das próprias denominações evangélicas e em diversos níveis da hierarquia católica existem simpatizantes dos direitos dos homossexuais.
Alguns movimentos pára-eclesiásticos, ou seja, criados para servirem às igrejas, mas geralmente sem bandeira denominacional, também têm promovido falsos conceitos a respeito dos homossexuais e têm feito esforços para contrariar a inclusão dos mesmos, tais como são, propondo que a homossexualidade pode e deve ser alterada. Alguns exemplos são a Exodus, o G.A. (Grupo de Amigos), o Ministério Deus se Importa, o Movimento Pela Sexualidade Sadia (MOSES), grupo brasileiro que propõe ser possível reverter o comportamento homossexual, dentre outros.
Combate a Homofobia:

Ao lutar pela visibilidade, a homofobia também tende a crescer, como o aumento de número de casos de ataques a homossexuais ocorridos em São Paulo após cada edição da Parada do Orgulho LGBT. Segundo Luiz Mott, no seu livro Causa Mortis: Homofobia, a homofobia é danosa mesmo quando não explicitamente manifestada, uma vez que as pessoas podem inrustir seu preconceito sem exteriorizar os motivos como acontece com o racismo. Numa eventual lei contra a homofobia, Mott explica que ela não seria coibida totalmente, criando uma tensão nos relacionamentos cotidianos, gerando discriminação sutil como acontece com os negros no Brasil. A proposta de lei, ainda segundo Mott, mesmo que aprovada teria o grande desafio de superar os valores da sociedade tradicional, e somente a conscientização na sociedade é capaz de transformar a realidade do homossexual no país.
"Apesar de o crime de homofobia ainda não ter sido tipificado na lei penal brasileira, por falta de vontade política e descaso, este assassinato precisa ser punido com o máximo rigor, como crime hediondo, intolerável sob todos os aspectos."

Em 2004, o Ministério da Saúde, dentro de suas ações de combate a AIDS, criou o programa "Brasil sem Homofobia". Marta Suplicy, enquanto Ministra do Turismo, defendeu que se desenvolvam ações para que o país possa ser conhecido "com homofobia zero e sem pessoas com medo de ser homossexual".
Em fevereiro de 2011, foi lançado pelo governo do Brasil o número de telefone "Disque 100" para denunciar atos homofóbicos.
Ser Gay e Negro.
A gente não pode esquecer que as questões em torno da identidade, são sempre delicadas e profundamente sutis. A identidade é da ordem do intimo, do privado, daí a importância de que os espaços sejam eles nos grupos, nas salas de aula, entre amigos, no movimento social - sejam sempre espaços de respeito, de vivencias e sobretudo espaços para as pessoas se tornarem cada vez mais elas mesmas.
 O preconceito contra gays e negros vive no inconsciente das pessoas. Foram duas classes muito preteridas ao longo dos anos, e isso ainda sobrevive. É uma luta demorada por garantia de direitos e ainda me sinto inseguro, apesar de ter orgulho de ser gay e negro.
Os números não mentem. Segundo dados do ISP, Instituto de Segurança Pública, cerca de 200 homossexuais são assassinados no Brasil, anualmente, exclusivamente por serem gays. Entre eles, muitos adolescentes. E mais da metade, são negros. Apesar disso, a homofobia ainda é presente mesmo no Congresso Nacional, e apesar de ter entrado em discussão no STF e no STJ, é tabu para muitos políticos conservadores.
"Ninguém pode ser vítima de tratamento degradante por discriminação de raça, cor, sexo, sexualidade, credo, condição social ou cultural. Aos pais e responsáveis que ensinem aos filhos que homofobia e outros tipos de intolerância descabidas são graves violações de direitos humanos.  Intolerância discriminatória é crime inaceitável. Prisão aos quadrilheiros intolerantes. Preconceito fútil e descabido tem limites".
Um afro abraço.




fonte: enciclopédia livre/UNEGRO-LGBT.

sábado, 17 de novembro de 2012


Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, (Ouro Preto, ca. 29 de agosto de 1730 ou, mais provavelmente, 1738 — Ouro Preto, 18 de novembro de 1814) foi um importante escultor, entalhador e arquiteto do Brasil colonial.

Pouco se sabe com certeza sobre sua biografia, que permanece até hoje envolta em cerrado véu de lenda e controvérsia, tornando muito árduo o trabalho de pesquisa sobre ele e ao mesmo tempo transformando-o em uma espécie de herói nacional. A principal fonte documental sobre o Aleijadinho é uma nota biográfica escrita somente cerca de quarenta anos depois de sua morte. Sua trajetória é reconstituída principalmente através das obras que deixou, embora mesmo neste âmbito sua contribuição seja controversa, já que a atribuição da autoria da maior parte das mais de quatrocentas criações que hoje existem associadas ao seu nome foi feita sem qualquer comprovação documental, baseando-se apenas em critérios de semelhança estilística com peças documentadas.


Muitas dúvidas cercam a vida de Antônio Francisco Lisboa. Praticamente todos os dados hoje disponíveis são derivados de uma biografia escrita em 1858 por Rodrigo José Ferreira Bretas, 44 anos após a morte do Aleijadinho, baseando-se alegadamente em documentos e depoimentos de indivíduos que haviam conhecido pessoalmente o artista.Contudo, a crítica recente tende a considerar essa biografia em boa medida fantasiosa, parte de um processo de magnificação e dramatização de sua personalidade e obra, numa manipulação romantizada de sua figura cujo intuito era elevá-lo à condição ícone da brasilidade, um misto de herói e artista, um "gênio singular, sagrado e consagrado", como descreveu Roger Chartier. O relato de Bretas, contudo, não pode ser completamente descartado, pois sendo a mais antiga nota biográfica substancial sobre Aleijadinho, sobre ela se construiu a maioria das biografias posteriores, mas as informações que traz precisam ser encaradas com algum ceticismo, sendo difícil distinguir o que é fato do que foi distorcido pela tradição popular e pelas interpretações do escritor.

Biografias e estudos críticos realizados pelos modernistas brasileiros na primeira metade do século XX também fizeram interpretações tendenciosas de sua vida e obra, aumentando a quantidade de estereótipos em seu redor, que ainda hoje se perpetuam na imaginação popular e em parte da crítica, e são explorados tanto por instâncias culturais oficias como pelas agências de turismo das cidades onde ele deixou sua produção.
A primeira notícia oficial sobre Aleijadinho apareceu em 1790 em um memorando escrito pelo capitão Joaquim José da Silva, cumprindo ordem régia de 20 de julho de 1782 que determinava se registrassem em livro oficial os acontecimentos notáveis, de que houvesse notícia certa, ocorridos desde a fundação da Capitania de Minas Gerais. O memorando, escrito ainda em vida de Aleijadinho, continha uma descrição das obras mais notáveis do artista e algumas indicações biográficas, e em parte nele se baseou Bretas para escrever os Traços biográficos relativos ao finado Antônio Francisco Lisboa, distinto escultor mineiro, mais conhecido pelo apelido de Aleijadinho, onde reproduziu trechos do documento original, que mais tarde se perdeu.

"o novo Praxíteles... que honra igualmente a arquitetura e escultura… Superior a tudo e singular nas esculturas de pedra em todo o vulto ou meio relevado e no debuxo e ornatos irregulares do melhor gosto francês é o sobredito Antônio Francisco. Em qualquer peça sua que serve de realce aos edifícios mais elegantes, admira-se a invenção, o equilíbrio natural, ou composto, a justeza das dimensões, a energia dos usos e costumes e a escolha e disposição dos acessórios com os grupos verossímeis que inspira a bela natureza. Tanta preciosidade se acha depositada em um corpo enfermo que precisa ser conduzido a qualquer parte e atarem-se-lhe os ferros para poder obrar"

Mesmo que tenha sido um dos maiores artistas do Brasil, restam apenas fragmentos biográficos da vida do Aleijadinho, a maioria deles envolta em lendas. Sua primeira biografia "Traços Biográficos Relativos ao Finado Antônio Francisco Lisboa", escrita apenas 44 dias depois de sua morte, por Rodrigo Bretãs, é repleta de exageros, mostrando um artista que seria "dado aos vinhos, às mulheres e aos folguedos".

Aos 40 anos de idade, Antônio Francisco Lisboa foi atacado por uma doença que o deixou gravemente deformado. Existem apenas hipóteses sobre a terrível enfermidade. Em 1929, o médico Renê Laclette optou por "lepra nervosa" como diagnóstico "menos improvável", visto que no quadro clínico do escultor se encontravam também sintomas específicos do mal de Hansen. Outra hipótese citada com freqüência é a da zamparina (doença advinda de um surto gripal que irrompeu no Rio em 1780, responsável por alterações no sistema nervoso). As demais especulações, citadas em mais de 30 estudos, incluem escorbuto, encefalite e sífilis.

O fato é que, aos poucos, o Aleijadinho foi perdendo o vigor físico, o que não o impossibilitou de trabalhar. Conta-se que ao perder os dedos dos pés ele passou a andar de joelhos, protegendo-os com dispositivos de couro, ou a se fazer carregar. E ao perder os dedos das mãos, passou a esculpir com o cinzel e o martelo amarrados aos punhos. Em fins de 1777, o escultor já perdera os dedos dos pés, "do que resultou não poder andar senão de joelhos", e os dedos das mãos se atrofiaram de tal forma que o artista teria decidido cortá-los, servindo-se do formão com que trabalhava. Também perdeu quase todos os dentes, a boca entortou-se, o queixo e o lábio inferior abateram-se e o olhar adquiriu uma expressão sinistra que o deixou com um aspecto medonho.

O Aleijadinho passou a evitar o contato público: ia para o trabalho de madrugada e só voltava para casa com a noite alta. "Ia sempre a cavalo, embuçado em ampla capa, chapéu desabado, fugindo a encontros e saudações", escreveu o poeta Manuel Bandeira. No próprio local da obra, ficava coberto por uma espécie de tenda. Diz a lenda que, depois de ser chamado de "homem feio" por José Romão, ajudante-de-ordens do governador Bernardo Lorena, o artista se vingou esculpindo uma estátua de são Jorge com a cara "bestificada" de seu desafeto.

A doença dividiu em duas fases nítidas a obra do Aleijadinho. A fase sã, de Ouro Preto, se caracteriza pela serenidade equilibrada. Na fase do enfermo, surge um sentimento mais gótico e expressionista. O ressentimento tomou a expressão de revolta social contra a exploração da metrópole. As figuras de "brancos", "senhores" e "capitães romanos" são deformadas.

Suas obras mais famosas são o conjunto do Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas do Campo, um patrimônio histórico e artístico com 66 imagens esculpidas em madeira de cedro (1796-1799) e os 12 majestosos profetas em pedra-sabão (1800-1805). Suas esculturas desviam-se do estilo barroco português, ganhando características muito pessoais, com alguma influência bizantina e gótica.

Os trabalhos do Aleijadinho podem ser vistos em Ouro Preto, Congonhas do Campo, Sabará e outras cidades mineiras. Observando-se os traços, as expressões das esculturas, é impossível evitar o sentimento de emoção e respeito que elas despertam. O esplendor e o requinte, as sutilezas e a suntuosidade das dezenas de estátuas, pias batismais, púlpitos, brasões, portais, fontes e crucifixos revelam que o Brasil teve um escultor e arquiteto de primeira grandeza nos tempos coloniais.
 

"No Brasil o Aleijadinho não teria escapado a essa representação coletiva que circunda a figura do artista. O relato da parteira Joana Lopes, uma mulher do povo que serviu de base tanto para as histórias que corriam de boca em boca quanto para o trabalho de biógrafos e historiadores, fez de Antônio Francisco Lisboa o protótipo do gênio amaldiçoado pela doença. Obscurece-se sua formação para fixar a ideia do gênio inculto; realça-se sua condição de mulato para dar relevo às suas realizações no seio de uma comunidade escravocrata; apaga-se por completo a natureza coletiva do trabalho artístico para que o indivíduo assuma uma feição demiúrgica; amplia-se o efeito da doença para que fique nítido o esforço sobre-humano de sua obra e para que o belo ganhe realce na moldura da lepra."

Um afro abraço.

fonte: enciclopédia livre.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Nossa historia nossa gente:'Chiquinha Gonzaga"

 A mulher ousada que sacudiu o Rio de Janeiro na segunda metade do século 19 com sua música atendia pelo nome de Francisca Edwiges Neves Gonzaga, ou então, pelo carinhoso diminutivo de Chiquinha Gonzaga.

Sua passagem pela música nacional é também um marco na história das mulheres do país. Feminista, Chiquinha desafiou e transgrediu muitos costumes machistas na época em que viveu, e, ainda mais: é atualmente tida como uma das maiores compositoras e instrumentistas da música brasileira. Sua obra tem mais de 2000 composições.

Nascida no Brasil ainda escravocrata, mais precisamente no dia 17 de outubro de 1847, Chiquinha era filha do rico militar José Basileu Neves Gonzaga e da negra Rosa Maria de Lima Gonzaga.
Numa época em que a mulher deveria se casar, ter filhos e sair pouquíssimo de casa, devotando toda sua vida ao marido e sendo obrigada a viver dentro de um sufocante regime patriarcal, Chiquinha fez seus estudos de música. Seu professor de piano foi o maestro Lobo.

Ela casou-se aos 13 anos com o oficial de marinha mercante Jacinto Ribeiro do Amaral, o qual nunca aceitou que sua esposa fosse a rodas boêmias, fato que tornou o casamento, imposto pelo pai de Chiquinha, rápido e cheio de brigas.
Aos 18 anos, Chiquinha deixou o marido e saiu de casa. Desfeito o casamento, ela se apaixonou por um engenheiro de estradas de ferro e os dois passaram a viver juntos.

Enquanto ele construía a estrada de ferro da Serra da Mantiqueira, viveram juntos e felizes, percorrendo o interior por causa da obra. Mas quando a construção acabou e eles voltaram ao Rio de Janeiro, o confronto com uma sociedade que os conhecia e os condenava, fez o amor durar pouco tempo. Separaram-se e ela passou a trabalhar, vivendo pobremente.

Sozinha, Chiquinha foi obrigada a dar aulas de piano para sustentar os filhos. Conheceu então o flautista Antônio da Silva Calado, que a introduziu nas festas e rodas de chorões. Num desses encontros com os músicos boêmios do Rio, em 1877, ela compôs, de improviso, a polca "Atraente", seu primeiro grande sucesso.
Foi também nesse período que Chiquinha Gonzaga, desejando entrar no teatro [na época era um tanto fechado às mulheres], musicou o libreto de Artur Azevedo "Viagem ao Parnaso", o qual, apesar de ser esplêndido, foi recusado por vários empresários de teatro por ter sido feito por uma autora, uma mulher. Mas isso não a fez desistir. Escreveu e musicou a peça em um ato "Festa de São João", em 1883.

Dois anos mais tarde, musicou a opereta de costumes "A Corte na Roça", com poesia de Francisco Sodré. A estréia dessa obra ocorreu no Teatro Imperial (mais tarde São José), no Rio de Janeiro, pela companhia portuguesa Souza Bastos. Foi com essa opereta que Chiquinha conseguiu impor-se no mundo musical brasileiro. No mesmo ano, dirigiu os músicos do teatro e a banda da Polícia Militar, tornando-se a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Em 1887, fez no Teatro São Pedro, no Rio, um concerto com 100 violões. Nessa época, Chiquinha participava ativamente do movimento pela libertação dos escravos. Vendia de porta em porta suas partituras a fim de angariar fundos para a Confederação Libertadora (organização antiescravista). Com o dinheiro que conseguiu ao vender a partitura de sua música "Caramuru", Chiquinha Gonzaga comprou, em 1888, a alforria do escravo e músico José Flauta, antecipando-se poucos meses à Lei Áurea. Foi também uma participante ativa da campanha pela proclamação da República.

Em 1897, compôs no ritmo rural estilizado do corta-jaca o tango "Gaúcho", lançado na peça "Zizinha Maxixe", de Machado Careca, o qual fez, na época, muito sucesso ao dançar esta música com sua parceira Maria Lino. Machado Careca, quatro anos mais tarde, faria uma letra para a composição, que passaria a se chamar "Corta-Jaca". Esta música fez tanto sucesso que foi incluída na revista luso-brasileira "Cá e Lá", encenada em Portugal e executada numa audição no Palácio do Catete, feita pela esposa do presidente Nair de Tefé. A execução da música de Chiquinha pela esposa do presidente foi considerada na época uma quebra de protocolo, causando escândalo nas altas esferas do poder brasileiro. Rui Barbosa deu o seu "pronunciamento", após a quebra de protocolo feito por Nair de Tefé, sobre a música e a dança da moda "...a mais baixa, mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba".
Em 1899, enquanto ouvia o ensaio do Cordão Rosa de Ouro, no Andaraí, Chiquinha compôs a primeira marcha carnavalesca intitulada "Ó Abre Alas". Depois, em 1902, fez uma viagem à Europa, na qual visitou Portugal, Espanha, Itália, França, Alemanha, Bélgica, Inglaterra e Escócia. Dois anos mais tarde seria convidada para apresentar-se no salão Neuparth, de Lisboa, e na igreja de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica, Lisboa. Em 1906, tornou-se muito conhecida do público português ao musicar várias peças de autores portugueses, entre elas, "As Três Graças e A Bota do Diabo". Voltou ao Brasil somente em 1912, para assistir a estréia de "Forrobodó" —opereta em três atos escrita por Luíz Peixoto e Carlos Bittencourt, a qual Chiquinha musicara. A opereta —uma proposital caricatura de um baile da elite brasileira— teve 1500 apresentações e foi um grande sucesso popular.

Em 1915, Chiquinha musicou a peça "A Sertaneja", de Viriato Correia. No dia 27 de setembro de 1917, participou da fundação da Sociedade de Arrecadadora, o SBAT. Em 1919, lançou campanha de fundos destinados à construção de uma nova sepultura para Francisco Manuel da Silva, compositor do Hino Nacional Brasileiro. Sua última obra,aos 85 anos a música da peça "Maria",  de Viriato Correia, data de 1933. 

 Durante a sua vida enfrentou todos os tipos de preconceitos.Chiquinha morreu em 1935. Durante a sua vida, musicou aproximadamente 77 peças de teatro. Sua obra reúne mais de 2.000 composições, entre valsas, polcas, tangos, maxixes, lundus, fados, serenatas, músicas sacras. Entre suas inesquecíveis criações estão "Ó Abre Alas", "Atraente", "Casa de caboclo", "Faceiro", "Falena" e "Lua branca", entre outras.

Teve problemas com o governo, afrontou muitas "opiniões" maldosas que a sociedade tinha a seu respeito e foi considerada subversiva.

Tudo isso a custa de sua genialidade e de seu espírito libertário. Foi ela quem pela primeira vez promoveu concertos em teatros onde não era permitido a apresentação de certos instrumentos como o violão, pois estes instrumentos mais populares eram considerados pertencentes a um mundo de marginais e prostitutas. Chiquinha foi uma das pessoas responsáveis pela nacionalização da música brasileira num tempo em que tudo vinha da Europa.


Participou ativamente na luta pelo direito autoral e participou da campanha abolicionista, atitudes que a tornaram alvo dos preconceituosos da época. Autora de numerosa e variada obra musical que contribuiu para fixar o cancioneiro popular brasileiro com maxixes, modinhas e o nascente samba urbano. Essa compositora também teve o mérito de aproximar a música erudita da popular e foi uma das primeiras a introduzir o violão nos salões cariocas.

Um afro abraço.
UNEGRO 25 ANOS DE LUTA...
REBELE-SE CONTRA O RACISMO! fonte:cafehistoria.ning.com/www.brasilescola.com .

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Gandhi:A filosofia de 'não-violência'



Satyagraha, a força da verdade.



O principio do  santyagraha frequentimente traduzido como o caminho da verdade ou busca da verdade tambem inspirou gerações de ativistas  e anti-racistas Martin Luther Kinge e Nelson Mandela


Frequentimente Gandhi afirmava que a simplicidas de seus valores, derivados das crenças tradicionais do hindu: verdade  e a não violencia:ahimsa 

 Gandhi sugeriu aos indianos que levassem um penhor em nome de Deus; embora eles fossem hindus e muçulmanos, todo acreditavam em um e no mesmo Deus. Gandhi decidiu chamar esta técnica de recusar submeter a injustiça de Satyagraha que quer dizer literalmente: "força da verdade". Uma semana depois de desobediência, as mulheres Asiáticas foram dispensadas do registro. Quando o governo de Transvaal finalmente pôs em pratica o "Ato de Inscrição Asiático" em 1907, Gadhi e vários outros hindus foram presos.

Sendo civil aos oponentes durante a desobediência, Gandhi desenvolveu o uso de ahimsa que significa "sem dor" e normalmente é traduzido "não violência". Gandhi seguiu o Ódio de preceito "o pecado e não o pecador. Desde que nós vivemos espiritualmente, ferir ou atacar outra pessoa são atacar a si mesmo. Embora nós possamos atacar um sistema injusto, nós sempre temos que amar as pessoas envolvidas. Assim ahimsa é a base da procura para verdade".
Gandhi também foi atraído a vida agrícola simples. Ele começou duas comunidades rurais em Satyagrahis: "Phoenix Farm" e "Tolstoy Farm". Escreveu e editou o diário "Opinião indiana", para elucidar os princípios e a prática de Satyagraha. Três assuntos foram apontados: a indagação para direitos dos hindus na África do Sul; sobre a proibição de imigrantes Asiáticos; e por fim, sobre o invalidamento de todos casamentos não Cristãos.
Gandhi constatou o poder do método de Satyagraha e profetizou como poderia transformar a civilização moderna. "É uma força que, se ficasse universal, revolucionaria ideais sociais e anularia despotismos e o militarismo."
A luta pela independência continua desafiadora...

Quase 60 anos após a morte de Mahatma Gandhi, seu princípio de "não-violência" continua a desafiar espíritos em todo o mundo. Preso, humilhado e subjugado várias vezes em vida devido à cor, origem, nacionalidade, ele respondeu a seus agressores de muitas maneiras – apresentando a lei, jejuando, liderando boicotes econômicos. Nenhuma de suas respostas, porém, continha qualquer ato de agressão. Absorvendo conceitos do hinduísmo, do islamismo e até do cristianismo, abandonou todos os requintes da vida e escolheu o caminho da simplicidade. E ainda conduziu uma nação, a Índia, à independência.
Mohandas Gandhi (seu verdadeiro nome) nasceu no dia 3 de outubro de 1869, na cidade de Porbandar. Seus pais eram descendentes de mercadores – a palavra gandhi, aliás, identifica os vendedores de alimentos e a casta à qual a família pertencia. Aos 13 anos, casou-se com Kasturbai, de mesma idade, numa união acertada entre as famílias. Aos 19, partiu para Londres para estudar Direito. Formado, transferiu-se para Durban, na África do Sul, onde verdadeiramente começou sua jornada política, pacifista e espiritual.

A jornada – Certa vez, quando viajava na primeira classe de um trem, foi informado de que teria que se transferir para a terceira classe devido à cor de sua pele – morena, tipicamente hindu. Gandhi se recusou a obedecer a ordem e foi atirado para fora da composição. O incidente, dizem os biógrafos, deram e ele a consciência das desigualdades de cor e poder. Logo em seguida, ele iniciou a trajetória como advogado, militando contra leis discriminatórias. Já em 1913, foi preso pela primeira vez, ao liderar uma marcha de mineiros indianos em greve.
Ao voltar à Índia natal, adotou um novo modo de vida. Iniciou a prática de jejuar freqüentemente e meditar, além de se manter em silêncio durante um dia inteiro, uma vez por semana. Também adotou os trajes simples de fazendas típicas de seu país: deixava, assim, de lado qualquer ostentação ou conforto material.

Desobediência civil – As ações pela independência da Índia, então ligada ao Império Britânico, intensificaram-se após o término da I Guerra Mundial, em 1918. Então, Gandhi se filiou ao Congresso Nacional Indiano, cuja atuação seria decisiva no processo de separação. Porém, a autonomia ainda estava distante, e muitas vidas se perderiam até a independência. Cedo, Gandhi ganhou notoriedade por suas posições, como a política de desobediência civil e o jejum como forma de protesto. Por isso, foi preso várias vezes pelas autoridades inglesas, que o viam como uma ameaça ao poder estabelecido.
Estrategista, Gandhi detonou a política conhecida como swadeshi, um boicote por parte dos indianos a todos os produtos importados da Grã-Bretanha. Era a sua forma de provocar prejuízos aos britânicos com o objetivo de tornar a Índia um negócio pouco rentável à Coroa. Para colocar a idéia em prática, estimulou os indianos a vestir o khadi, traje caseiro, interrompendo a compra dos têxteis britânicos. Outra ação eficiente que feriu os cofres da rainha foi a chamada Marcha do Sal, ocorrida entre 12 de março e 5 de abril de 1930. Gandhi conduziu milhares de indianos ao mar, a fim de coletarem seu próprio sal de cozinha, deixando de adquirir o produto industrializado dos britânicos – além de não pagar impostos.

Partilha – Em maio de 1933, iniciou uma greve de fome de 21 dias em protesto contra a "opressão" colonialista. Seis anos depois, voltou a protestar da mesma forma. Cada vez que iniciava o jejum, seguia-se uma comoção nacional que alimentava o desejo de libertação. Aliados propuseram várias vezes que Gandhi apoiasse um levante armado para expulsar os britânicos, mas o líder nunca permitiu. Nem mesmo em situações radicais com a do Massacre de Amritsar, em 1920: soldados britânicos abriram fogo contra uma multidão, matando centenas de pessoas que protestavam pacificamente contra a prisão de líderes nacionalistas indianos.

Encerrada a II Guerra Mundial, os britânicos não tinham mais condições de manter o domínio sobre um território tão grande como a Índia. Em sua terra, Gandhi era uma liderança quase incontestável. Assim, em 1947, britânicos, hindus e muçulmanos se sentaram para discutir a partilha do território. Optou-se pela criação de duas nações: o Paquistão, uma República muçulmana, e a Índia, República laica de maioria hinduísta. Gandhi não comemorou a partilha, à qual se opunha.

Para a formação dos dois Estados, milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas e rumar para o novo país. Muçulmanos foram para o Oeste e hinduístas marcharam para o Oriente. Durante o êxodo, houve inúmeros confrontos e milhares de mortes. Em janeiro de 1948, Gandhi iniciou outro jejum – o último –, desta vez visando a pacificação dos povos que até ali haviam dividido uma única nação. No dia 30, foi assassinado por Nathuram Godse, um hindu radical que acreditava que o líder pacifista havia feito muitas concessões ao Paquistão: Gandhi havia, por exemplo, concordado em honrar dívidas durante a criação dos dois Estados. O assassino, um ex-admirador de Gandhi, não fora capaz de seguir o principal ensinamento do líder: o da não-violência.

Gandhi sugere que a Índia pode ganhar sua independência por meios não violentos e por via da ego-confiança. Ele rejeita a força bruta e sua opressão e declara que a força da alma ou amor e que se mantém a unidade das pessoas em paz e harmonia.
"A não-violência e a covardia não combinam. Posso imaginar um homem armado até os dentes que no fundo é um covarde. A posse de armas insinua um elemento de medo, se não mesmo de covardia. Mas a verdadeira não-violência é uma impossibilidade sem a posse de um destemor inflexível."Mahatma GandhiUm afro abraço.
fonte:noticias.terra.com.br/Wikipédia, a enciclopédia livre.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Nossa história:"Dandara dos Palmares"

Dandara foi esposa e guerreira de Zumbi dos Palmares. Junto com ele, lutava para livrar os negros da dura vida que levavam. 
Ela representa, até hoje, liberdade e igualdade, o significado deste nome é "a mais bela".
 
 
Embora não haja registros de seu local de nascimento nem de sua ascendência africana, acredita-se que nasceu no Brasil e foi viver no Quilombo de Palmares ainda menina.
 
 Dandara dos Palmares, uma guerreira negra que lutou contra o sistema escravocrata do período colonial brasileiro  no Século XVII, casada com Zumbi dos Palmares e mãe de seus três filhos. Os nomes dos seus filhos eram Motumbo, Harmódio e Aristogíton.
De Zumbi muitos já ouviram falar, mas há inúmeros outros líderes negros que não entraram nas páginas dos nossos livros escolares, pois apesar da escravidão no Brasil ter durado quase 400 anos, grande parte deste momento histórico foi apagado das páginas da História Oficial. 
Até mesmo por isso, muitas informações sobre sua vida se perderam, pois a maioria da cultura negra sobrevive através de relatos e lendas. Não sabemos o local de seu nascimento e nem qual era sua ascendência africana, mas acredita-se que se estabeleceu ainda criança em Alagoas, no Quilombo dos Palmares, uma comunidade que durou mais de 100 anos e que chegou a abrigar mais de 20 mil negros foragidos das fazendas.
Líder nata, Dandara chegou a se opor contra os termos do Tratado de Paz assinado por Ganga-Zumba (tio de Zumbi) e pelo governo português, que estabelecia que os negros livres ficariam livres e que os escravos voltariam a ser escravos; pois defendia junto com Zumbi, que a liberdade é para todos, tanto faz se é um negro livre, um escravizado, um mestiço ou um índio.
 
Cuidava das crianças com anemia, dos anciões, dos que ficaram deficientes devidos aos maus tratos sofridos pelos senhores, do galinheiro, da horta... Enfim, lutava ao lado de Zumbi, mas 
Dandara não era apta apenas aos serviços domésticos. Plantava como todos, trabalhava na produção de farinha de mandioca, aprendeu a caçar, mas além disso aprendeu a lutar capoeira, empunhar armas e liderou as falanges femininas do exército palmarino derrubando mais uma vez o mito de que a mulher é o sexo frágil.
 Dandara compartilhava a posição de Zumbi contra o tratado de paz assinado por Ganga-Zumba. Entre outras negociações, o acordo requeria a mudança dos habitantes de Palmares para as terras no Vale do Cacau. Para Dandara, o tratado traria a destruição da República de Palmares e a volta à escravidão.
 
Suicidou-se depois de presa, em 6 de fevereiro de 1694, ao ser capturada e levada como escrava após a destruição da Cerca dos Macacos, que fazia parte do Quilombo dos Palmares, por não aceitar ser escravizada.
 
Pertencia à nação nagô-jejê, da Tribo de Mahi, religião Muçulmana, africanos conhecidos como Malês. 
 
Um afro abraço.
fonte:http://www.overmundo.com.br/http://jornalcucalivre.blogspot.com/dandara-face-feminina-de-palmares-eu.html/http://gicult.com.br/blog/http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/de+dandara+a+sinha+moca/ http://gicult.com.br/blog/?p=1438
 

Nossa historia - Guerra dos Farrapos:"lanceiros negros"



"Em 06 de novembro de 1836, líderes dos farrapos no Rio Grande do Sul proclamam a República Piratini. Oficiais revolucionários reunidos na Câmara de Piratini elegem Bento Gonçalves presidente da República. Os oficiais de três brigadas elegem João Manoel de Lima e Silva general e comandante das armas."


A Farroupilha, ou Guerra dos Farrapos, foi a mais longa rebelião do período regencial, durando dez anos. Circunstâncias históricas, sociais e econômicas, como também a estreita relação que os gaúchos mantinham com o Uruguai, contribuíram para que o sul conservasse certa autonomia em relação ao governo do Império.
Os motivos da revolta foram vários, mas o principal foi a insatisfação dos gaúchos com os impostos excessivos e a taxação do gado na fronteira uruguaia, que dificultava a circulação dos rebanhos entre os dois países. No lado político, havia o ressentimento com relação à nomeação direta dos presidentes de província pelo poder central.Em 1836, os gaúchos promulgaram a separação da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul do território do Império, iniciando uma luta engendrada pela ocupação econômica da região. Em 1838, proclamaram a República Rio Grandense ou República de Piratini, estendendo o movimento no ano seguinte a Santa Catarina, proclamando a República Catarinense ou República Juliana. A revolta terminou em 1845; quando Caxias pacificou a província, vencendo os grupos rebeldes e estabelecendo, novamente, a ordem política do Império. Um acordo definitivo concedeu aos farrapos anistia irrestrita e recursos para saldar as dívidas contraídas durante a guerra.

Meses finais da Guerra dos Farrapos. Madrugada de 14 de novembro de 1844. Tropas imperiais comandadas pelo coronel Francisco Pedro de Abreu (1811-1891), o Moringue, atacam soldados farroupilhas que estavam acampados nas imediações do Cerro de Porongos, no atual município de Pinheiro Machado, no estado do Rio Grande do Sul, resultando na morte e na prisão de muitos. Em sua maioria, eram lanceiros negros, escravos que lutavam no exército farroupilha em troca da promessa de alforria. Anos depois, a divulgação de um documento que ficaria conhecido como Carta de Porongos, revelando um suposto acordo entre lideranças militares para dizimar esses lanceiros, inicia uma controvérsia que gera polêmica até hoje.


Para arregimentar soldados, os farroupilhas incorporaram escravos às suas fileiras, prometendo em troca a liberdade após o fim do conflito. De olho na alforria, alguns negros fugiram das propriedades onde eram mantidos escravos para aderir à luta. Outros foram cedidos por senhores de terra que apoiavam a revolução. Já senhores contrários ao movimento podiam ter seus escravos capturados à força, como aconteceu nas charqueadas – propriedades rurais onde se produz o charque (carne salgada) – de Pelotas.
Estima-se que em alguns momentos os lanceiros negros, como ficaram conhecidos estes soldados, tenham representado metade do exército rio-grandense. O africano José, de nação angola, foi um desses homens que sonharam em conquistar a liberdade pegando em armas. Em dezembro de 1837, José foi preso e interrogado pelas autoridades imperiais em Porto Alegre, informando que quase toda a “infantaria dos brancos” já havia desertado e que naquele momento os combatentes seriam quase exclusivamente “pretos, uns com armas e outros com lanças”. Estas eram as principais armas do conflito, já que as de fogo ficaram restritas a uma minoria. Além disso, pelo próprio caráter de guerra móvel, muitas vezes os lanceiros negros entravam nos batalhões sem maiores treinamentos.
No final da década de 1850, o político, charqueador e ex-líder farroupilha Domingos José de Almeida (1797-1859) denunciou publicamente o conteúdo da correspondência que teria sido enviada pelo então barão de Caxias (1803-1880) a Francisco Pedro de Abreu. A Carta de Porongos conteria evidências de um acordo prévio entre Caxias (comandante do Exército imperial no conflito) e o líder farroupilha Davi Canabarro (1796-1867). O objetivo seria favorecer a vitória imperial no combate do Cerro de Porongos. Em determinado trecho, Caxias informaria a Francisco Pedro o local, o dia e o horário para o ataque, garantindo-lhe que a infantaria farroupilha estaria desarmada pelos seus líderes.


A partir de então, o Combate de Porongos gerou uma acalorada controvérsia entre os historiadores e estudiosos que se debruçaram sobre o tema da Guerra dos Farrapos. Com base na Carta de Porongos, surgiram acusações de que o general Davi Canabarro – comandante do destacamento de negros – teria traído a causa farroupilha ao desarmar e facilitar a derrota dos lanceiros. Essa atitude teria como objetivo facilitar a assinatura do tratado de paz que vinha sendo negociado, já que o governo imperial era contra a ideia farroupilha de conceder a alforria aos escravos que lutaram como soldados. Por outro lado, negar a liberdade e mandar os lanceiros de volta às senzalas era algo não cogitado nem por alguns farroupilhas, devido ao temor de que um grande contingente de escravos militarizados, politizados e insatisfeitos com o não cumprimento da prometida alforria insuflasse levantes – a quantidade de escravos na província do Rio Grande do Sul em 1846, um ano após o término da Guerra dos Farrapos, correspondia a 20,9% da população.
Relatos da época, como o de Manuel Alves da Silva Caldeira, farroupilha presente em Porongos, afirmam que Canabarro teria sido avisado da aproximação de tropas inimigas e, mesmo assim, não teria tomado providência alguma. Pelo contrário, teria propositalmente desarmado e separado os lanceiros do resto das tropas acampadas perto do Cerro de Porongos. Dando crédito a estes argumentos, o episódio teria sido uma traição aos soldados negros.


A autenticidade da Carta de Porongos, no entanto, é questionada por alguns estudiosos, já que a versão que se tornou pública é uma cópia, e a original nunca foi encontrada. Uma das explicações é que o documento teria sido forjado pelo coronel Francisco Pedro de Abreu após o combate para desmoralizar Canabarro, único chefe farroupilha que ainda teria condições de reaglutinar as desgastadas forças rebeldes. Félix de Azambuja Rangel, subordinado ao coronel Francisco Pedro, afirma ter presenciado o momento em que seu comandante levou a carta para Caxias assinar e em seguida distribuir cópias entre os adversários. Por essa versão, os lanceiros negros não teriam sido traídos, e sim pegos de surpresa pelas tropas imperiais, assim como seus comandantes.
Parece haver consenso entre os pesquisadores de que os lanceiros foram atacados em condições extremamente desfavoráveis, com inferioridade de armamentos, e que acabaram eliminados em quantidade considerável.


Somente nos últimos anos a importância e a dimensão da participação negra neste conflito têm recebido maior atenção. Hoje é possível afirmar com segurança que negros, índios e mestiços desempenharam papel fundamental na Guerra dos Farrapos não somente como soldados, mas também trabalhando em diversos outros setores importantes da economia de guerra, como nas estâncias de gado, na fabricação de pólvora e nas plantações de fumo e erva-mate cultivadas pelos rebeldes.

Apesar das promessas, em nenhum momento a República Rio-Grandense libertou seus escravos. A questão da abolição era controversa entre seus líderes. Ao mesmo tempo em que o governo rebelde prometia liberdade aos escravos engajados e condenava a continuidade do tráfico de escravos, seu jornal oficial, O Povo, estampava anúncios de fugas de cativos. Houve uma tentativa de abolição por meio de projeto apresentado na Assembleia Constituinte de 1842 por José Mariano de Mattos (1801-1866), que foi recusado. Anos após o fim do conflito, vários líderes farroupilhas ainda tinham escravos, como Bento Gonçalves (1788-1847), que morreu deixando 53 cativos para seus herdeiros.

O destino dos lanceiros negros no fim do conflito também é tema controverso. As negociações de paz, que resultaram na assinatura do Tratado de Ponche Verde em 1845, definiram que os escravos ainda engajados deveriam ser entregues ao barão de Caxias e reconhecidos como livres pelo Império. Sabe-se que, juntamente com outro grupo feito prisioneiro em batalhas, foram enviados ainda em 1845 para o Rio de Janeiro na condição de libertos, como noticiaram o Jornal do Comercio e o Diário do Rio de Janeiro de 26 de agosto daquele ano. Se de fato receberam a liberdade ao chegarem a seu destino, não se tem certeza. O ex-farroupilha Manuel Caldeira levantou suspeitas de que tenham sido novamente escravizados e levados para a Fazenda de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, agora como propriedade do Estado.

Alguns soldados negros podem ainda, ao longo do conflito, ter escapado para o Uruguai, formado quilombos ou mesmo buscado refúgio nas cidades, onde tentaram se passar por homens livres. Muitos permaneceram escravos no próprio Rio Grande do Sul. Um sobrinho-neto do general Antônio de Souza Netto (1801-1866) relata que, após a batalha de Porongos, uma parte dos lanceiros negros teria acompanhado seu antepassado farroupilha até sua propriedade no Uruguai, e que descendentes destes soldados viveriam até hoje nessa área rural conhecida como Estância “La Gloria”, na região de Paissandu.

fonte:Vinicius Pereira de Oliveira é autor de De Manoel Congo a Manoel de Paula: um africano ladino em terras meridionais (EST Edições, 2006); Cristian Jobi Salaini é autor da dissertação “Nossos heróis não morreram: um estudo antropológico sobre as formas de ‘ser negro’ e de ‘ser gaúcho’ no estado do Rio Grande do Sul” (UFRGS, 2006). CARRION, Raul K. M. “Os lanceiros negros na Guerra dos Farrapos”. In: Ciências e Letras nº 37, jan. 2005portoAlegre:FaculdadePorto-Alegrensede ducação./www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/escravos-farrapo

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