UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

sábado, 29 de agosto de 2020

Chadwick o PANTERA NEGRA

Ainda de acordo com o site, a família do astro divulgou um comunicado. "É com tristeza incomensurável que confirmamos o trágico falecimento de Chadwick Boseman. Chadwick foi diagnosticado com câncer de cólon em estágio III em 2016, e lutou contra ele nos últimos 4 anos enquanto progredia para o estágio IV".
"Um verdadeiro lutador,

Chadwick perseverou por tudo, e trouxe a vocês muitos dos filmes que tanto amam. De 'Marshall: Igualdade e Justiça' a 'Destacamento Blood', 'Ma Rainey's Black Bottom' de August Wilson e muitos mais, todos foram gravados durante e entre incontáveis cirurgias e quimioterapia. Foi a honra de sua carreira trazer à vida o rei T'Challa em 'Pantera Negra'."
De acordo com a nota, ele morreu em sua casa, acompanhado da mulher e da família. Ele nunca tinha falado sobre a doença publicamente.
Nascido na Carolina do Sul, o americano Chadwick Aaron Boseman começou a carreira na televisão, com um pequeno papel na série "Parceiros da Vida".
Conheça a carreira de Chadwick Boseman, ator de ‘Pantera Negra"
Depois de participações em séries como "Lei & Ordem" e "Plantão médico", ele ganhou seu primeiro papel regular em "Lincoln Heights", em 2009.
Seu primeiro personagem de destaque no cinema veio como o protagonista de "42: A História de uma Lenda" (2013).
No filme baseado em fatos, interpretou o jogador de beisebol Jackie Robinson, que em 1947 se tornou o primeiro negro a entrar para um time da principal competição dos Estados Unidos, a Major League Baseball.
Chadwick Boseman interpretou o jogador de baseball Jackie Robinson no filme "42"; na foto, ator posa na premiere do filme em 2013 — Foto: Chris Pizzello/Invision/AP
Chadwick Boseman interpretou o jogador de baseball Jackie Robinson no filme "42"; na foto, ator posa na premiere do filme em 2013 — Foto: Chris Pizzello/Invision/AP
O papel marcaria uma carreira repleta de personagens importantes da cultura negra americana, como o cantor James Brown, em "Get on Up: A História de James Brown" (2014), e o juiz Thurgood Marshall, primeiro membro negro da Suprema Corte americana, em "Marshall: Igualdade e Justiça" (2016).
Ainda em 2016, ele estreou no papel pelo qual seria mais lembrado. Em "Capitão América: Guerra Civil", Boseman apareceu pela primeira vez como T'Challa. Criado pela Marvel em 1966, o Pantera Negra foi o primeiro super-herói negro dos quadrinhos americanos.
Dois anos depois, estrelou seu próprio filme, "Pantera Negra". Sucesso com crítica e com o público, a história do herói de um reino africano fictício e avançado bateu a marca do US$ 1 bilhão nas bilheterias mundiais, ganhou três Oscar e foi indicado a outros quatro — entre eles, o de melhor filme.
"Pantera Negra" foi o primeiro filme de super-herói indicado à principal categoria do Oscar e o personagem, cuja alcunha remete ao grupo de ativistas negros, se tornou um símbolo cultural.
O filme, primeiro blockbuster de super-herói protagonizado por um afro-americano e dirigido por um, Ryan Coogler, foi o quinto mais exitoso dos filmes do Universo Marvel.
Nas primeiras semanas de estreia do filme em Nova York, nas salas do Magic Johnson Theatre, cinema no Harlem, histórico bairro negro de Nova York, as sessões estavam sempre cheias.
Lá, espectadores usavam maquiagens e acessórios que evocavam a estética afro-futurista do filme —e vários deles tiram fotos imitando a pose do super-herói.
Como o herói, ele ainda participou de "Vingadores: Guerra Infinita" (2018) e de "Vingadores: Ultimato (2019), e tinha presença confirmada em um novo "Pantera Negra", previsto para 2022.
Seu trabalho mais recente já lançado foi "Destacamento Blood", dirigido por Spike Lee, que estreou em junho. Ele ainda esteve em "Ma Rainey's Black Bottom", com Viola Davis, que tinha estreia prevista em 2020.
Representatividade
Em 2018, no lançamento de seu maior sucesso as sesões de 'Pantera Negra' com jovens negr@s lotarem shopping do Rio de Janeiro,do Brasil e do mundo repetindo a saudação do repetida no longa.
Um afro abraço.
Claudia Vitalino- Históriadora- dirigente da UNEGRO
FONTE: G1- TMZ


sexta-feira, 28 de agosto de 2020

RACISMO INSTITUCIONAL NO MUNDO DO TRABALHO

Entendendo racialização como um processo discursivo através do qual significados e sentidos raciais são atribuídos, de forma que há um controle e uma classificação de indivíduos a partir de categorias racialmente hierarquizadas (SOUZA, 2018), é necessário compreender a relação das estruturas sociais que reproduzem comportamentos racistas (ALMEIDA, 2018). Nono caso de pesquisas em administração, mais precisamente nos estudos organizacionais, tal olhar também é importante uma vez que a distinção provocada pela racialização de sujeitos produz desigualdades de oportunidade e interfere na subjetividade destes. Há estudos que discorrem sobre esta problemática no que diz respeito às relações raciais, organizações, universidade e mundo do trabalho (TEIXEIRA, 2015; CONCEIÇÃO, 2006; ROSA, 2014; SOUZA, 2017; OLIVEIRA, 2015; MIRANDA; CAPELLE; CUNHA; BUJATO; BARBOSA; SAMPAIO, 2015; LAGE; SOUZA, 2016; NASCIMENTO; OLVEIRA; TEIXEIRA; CARRIERI, 2016).


AS RELAÇÕES RACIAIS NO BRASIL - O período colonial brasileiro juntamente com o processo de escravidão, no que diz respeito às relações raciais, apresenta-se como momento histórico carregado de distinção. Desde a navegação, europeus que aqui pisaram já não sabiam como denominavam os povos, tamanha estranheza a qual reagiram no primeiro contato (MUNANGA, 2010). Schwarcz (2012) afirma que para eles a natureza era exuberante e paradisíaca, mas os povos, por sua vez, estranhos. Já os cientistas, em meados do século XVIII, denominavam os descobertos como povos de “raças diferentes” devido à cor de suas peles.

Mais tarde, entre os séculos XIX e XX, características morfológicas também são evidenciadas: o tamanho do rosto e do crânio, formato do nariz e lábios; mais uma maneira de estigmatizar os negros, cientificamente, como raça diferente (MUNANGA, 2010). A partir daí, raça passa a segregar, estereotipar e discriminar (SCHWARCZ, 2012); tendo-se, então, o racismo científico no período colonial (TEIXEIRA, 2015). Enquanto escravos, Pereira (2011) apresenta os negros como atores sociais dominados. Porém, mesmo reféns, alguns possuíam uma consciência crítica e de luta, fosse nos quilombos ou nas senzalas. Posteriormente ao processo histórico de “libertação”, agora trabalhadores na estrutura social, ocupavam espaços de mão-de-obra desqualificada e massa de manobra da sociedade (PEREIRA, 2011; FERNANDES, 2007).

Em “Rediscutindo a Mestiçagem no Brasil: Identidade nacional versus identidade negra”, Munanga (1999) apresenta a questão da mestiçagem. No intervalo entre independência e abolição, o autor mostra em seus escritos o quanto a presença do negro foi ressignificada. Mesmo que o plano tivesse sido o desparecimento dos negros com a miscigenação, “no lugar de uma sociedade totalmente branca, ideologicamente projetada, nasceu uma nova sociedade plural” (MUNANGA, 1999, p. 15); uma sociedade de diferentes raças e que, segundo o autor “dão ao Brasil seu colorido atual” (MUNANGA, 1999, p. 15). Além disso, há algo pra o qual Munanga se atenta ao enxergar raça: a mestiçagem tem mais de ideológico do que, propriamente falando, de biológico.

COMPORTAMENTOS RACISTAS
As desigualdades estruturais e institucionais no mundo do trabalho se relacionam a corpos físicos (COTTINGHAM; JOHNSON; ERICKSON, 2018). Desde quando a abolição se concretizou e os negros ocuparam posições subalternas enquanto trabalhadores por terem sido considerados mão de obra desqualificada, instaurou-se racismo e, a partir do momento em que políticas públicas não foram pensadas para que tal realidade chegasse ao fim, este se solidificou e permaneceu (BENTO, 2002).

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça - 1995 a 2015” mostra que no que diz respeito ao mercado de trabalho, há uma discrepância que coloca homens brancos no topo da pirâmide e mulheres negras em sua base (IPEA, 2017). Ao discutir mulheres negras no mundo do trabalho, Conceição (2016) apresenta em seu texto dados da Pesquisa por Amostra de Domicílio (PNAD) do ano de 2012 a respeito da composição da sociedade brasileira: homens e mulheres, brancos e negros. Mulheres negras se apresentam como 26,54% da população, enquanto brancas, 24,36%. No caso dos homens, Conceição (2016) traz dados de 26,43% de negros, enquanto 21,86% brancos. Ante a isso, a autora afirma que o favorecimento de certos grupos sociais na hora de empregar indivíduos é uma forma de propagar a desigualdade do país. Ações de organizações públicas e privadas têm favorecido mulheres brancas em detrimento das negras quanto às oportunidades; quando há o fortalecimento negro, este é mais focado nos homens que nas mulheres (CONCEIÇÃO, 2016).

Entende-se como delimitação deste trabalho o fato que o mesmo identificar e analisa apenas questões que dizem respeito ao racismo e suas diferentes formas de expressão. Os relatos trazem indícios de outros pontos para investigação juntamente com o analisado e que são aqui apresentados como possiblidade de estudos futuros. As impressões estabelecidas pelos “outros” com relação aos docentes negros no contexto da universidade, por exemplo, podem ser entendidas e analisadas enquanto conceitos de estereótipos e fenótipos diante de tais expressões. A interseccionalidade também é uma temática percebida ao se observar os relatos das mulheres negras docentes e entender que, juntamente com o racismo, outras violências relacionadas ao gênero também acontecem no espaço da universidade. Nesse sentido a universidade - enquanto organização e mundo do trabalho - abre espaço em suas relações para que determinadas categorias, além da raça, possam influenciar e se sobrepor a outras e (re)produzir diferentes expressões racistas.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino- Historiadora-pesquisadora


fonte:ALMEIDA, S. L. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte (MG): Letramento, 2018. [ Links ]
BACKES, J. L. Articulando raça e classe: efeitos para a construção da identidade afrodescendente. Educ.Soc., Campinas, v. 27, n. 95, p. 429-43, maio./ago. 2006. [ Links ]
BARDIN, A. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2004. [ Links ]
BENTO, M. A. S. BRANQUEAMENTO E BRA BRASIL. Resolução nº 510, de 07 de abril de 2016. Dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais. Conselho Nacional de Saúde, Brasília, 07 de abril de 2016. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf. Acesso em: NQUITUDE NO BRASIL In: Psicologia social do racismo - estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil / Iray Carone, Maria Aparecida Silva Bento (Organizadoras) Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p. (25-58) [ Links ]
BRASIL. Resolução nº 510, de 07 de abril de 2016. Dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais. Conselho Nacional de Saúde, Brasília, 07 de abril de 2016. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf. Acesso em:10 de dezembro de 2019. [ Links ]
CARVALHO, J. J. O confinamento racial do mundo acadêmico brasileiro. REVISTA USP, São Paulo, n.68, p. 88-103, dezembro/fevereiro 2005-2006 [ Links ]
CICONELLO, Alexandre. O desafio de eliminar o racismo no Brasil: a nova institucionalidade no combate à desigualdade racial. From Poverty to Power: Oxfam International, 2008 [ Links ]
CLEALAND, D. P. When ideology clashes with reality: racial discrimination and black identity in contemporary Cuba. Ethnic and Racial Studies, 36:10, 1619-1636, 2013. DOI: 10.1080/01419870.2013.783928 [ Links ]
COLBARI, A. A Análise de conteúdo e pesquisa empírica qualitativa. In: SOUZA, E. M. (Org.) Metodologias e analíticas qualitativas em pesquisa organizacional: uma abordagem teórico-conceitual. Vitória : EDUFES, 2014. 296 p. : il. [ Links ]
CONCEIÇÃO, E. B. DA. Mulher negra em terra de homem branco: mecanismos de reprodução de desigualdades. In: CARRIERI, A. DE P.; TEIXEIRA, J. C.; NASCIMENTO, M. C. R. (Eds.). . Gênero e trabalho: perspectivas, possibilidades e desafios no campo dos estudos organizacionais. Salvador: EDUFBA, 2016. p. 277-319. [ Links ]
CRESWELL, J. W. Projeto de Pesquisa: métodos qualitativos, quantitativos e mistos. Porto Alegre: Artmed, 2003. [ Links ]


quinta-feira, 16 de julho de 2020

Não há como falar em movimento negro e resistência negra se não pensar...

Não há como falar em movimento negro e resistência negra se não pensar nas músicas, danças e toda a beleza das cores e estampas que caracterizam os blocos afro, samba, samba-reggae pagode e afoxés.

A história brasileira é marcada por vários episódios de luta popular em defesa de direitos,que garantem dignidade, respeito e, acima disso, a vida. É neste contexto, que o 
povo negro, vítima da diáspora que os retirou do seu continente de origem – África -, conduziu o enfrentamento cotidiano na defesa de todas as dimensões sociais e culturais que reafirmam o lugar de protagonismo na construção de uma identidade e representatividade social.Na Bahia, estado brasileiro cuja população é majoritariamente composta por negros e negras, a professora Railma Souza explica que a resistência passa, em primeiro lugar, pelo enfrentamento à visão eurocêntrica. “Infelizmente, ainda enchemos a boca para dizer que pessoas cultas são as que ouvem alguns tipos de música, leem muitos livros […] o que constitui uma hierarquização da cultura”, pontua.Nesse sentido, Railma considera fundamental romper com essas noções estereotipadas e tentar compreender a complexidade das expressões da cultura do povo negro, do povo indígena, rural, periférico. “Enxergar a poesia de rua como poesia, o reggae, o rap, o hip hop, o funk e mesmo o pagode enquanto estilos musicais”

Mas as transformações não ocorrem apenas nas manifestações culturais. Mesmo nas religiões de divindades e de encantados as adaptações, apropriações e invenções estão presentes, sob todas as formas possíveis, mostrando-nos sua intensa complexidade. Neste sentido, a história e a cultura, em minha visão, é terreno da invenção de seres humanos, e disto não tenho como fugir, caso queira transformar meu desejo de entendimento das práticas e dos costumes em realidade. Afoxés e religiões não podem ser vistos como frutos da natureza, e, por conseguinte seus liames foram estabelecidos em processos variados ao longo do tempo como forma de resposta para diferentes fins, sendo impossível estabelecer um começo ou origem para tal questão. Além do samba, que é o estilo brasileiro mais famoso no mundo, outros ritmos também vieram da mãe África: Maracatu, Congada, Cavalhada, Moçambique. Além disso, muitos instrumentos musicais como: afoxé (tipo de chocalho feito com uma cabaça e uma rede de miçangas), agogô (cones de metal tocados com uma baqueta), barimbau, caxixi (cesto de vime em forma de chocalho encerrado no fundo uma cabaça com sementes), atabaque, cuíca (parecido com tambor, mas com uma varinha encostada à pele, que fricciona produzindo som) e entre outros.
As práticas e os costumes humanos são construções culturais e isto, até prova em contrário, não é nenhuma novidade entre estudiosos, notadamente os mais afeitos à Antropologia. No tocante a História, ao historicizar os processos de construção das manifestações culturais, pode-se perceber que muitas observações foram feitas (e ainda o são!) de forma naturalizadora, ora tomando o discurso dos “nativos” como plena verdade, ora utilizando-se de narrativas míticas, atribuindo uma origem na perspectiva de entender e traduzir determinado fenômeno. Há também estudos que preconizam por um ponto de vista que atribui às práticas determinadas funções ou utilidades, privilegiando às vezes uma das muitas facetas existentes no fazer cultural. Infelizmente ainda hoje existem trabalhos sendo feitos com uma perspectiva que atribui ao “fazer popular” a pecha de sobrevivência, reminiscência ou puro folclore. 

Os afoxés - “Os Afoxés surgem como um elemento de resistência. Os primeiros afoxés registrados como tal datam de 1895, momento muito próximo do pós-abolição. Os negros ainda tinham seus direitos restringidos pelo Estado e pelas elites brancas. E os afoxés começaram a ir para as ruas como forma de levar a alegria e as festividades negras para desfilar nos carnavais”, diz o artista, gestor e pesquisador cultural, Chicco Assis. Segundo Chicco, a trajetória dos afoxés na história brasileira é de altos e baixos. Os primeiros afoxés registrados foram “Embaixada Africana” e “Pândegos d’África”. Houve momentos de proibição dos batuques nas ruas e de desarticulação. Em 1949, surgiu os Filhos de Gandhy, um dos afoxés mais antigos ainda em funcionamento na cidade. Já em 1978 foi criado o Afoxé Badauê, que trouxe inovações na forma de fazer o afoxé, no desfile e nas performances, com Moa do Katendê e Jorjão Bafafé como fundadores.

“Pensar em afoxé, que tem como um possível significado ‘a força que vem de dentro’, é considerar que essa força vem de dentro dos terreiros de candomblé, já que muitos afoxés nascem dentro dos terreiros. Moa do Katendê traduzia a palavra badauê como “mensageiro da alegria”. Então, o afoxé, através da alegria, é esse espaço de resistência negra, de valorização das culturas afro-brasileiras, de valorização e de respeito das religiões de matriz africana. Não dá para pensar na luta do movimento negro, nas lutas de resistência se a gente não pensa nos afoxés”, ressalta.

Assis pontua ainda sobre importância do diálogo entre os blocos afro, como o Ilê Aiyê que Ttem maais de 45 anos, e os afoxés para a construção do movimento negro na Bahia e no Brasil. Para o pesquisador, a participação dos afoxés é muito significativa, mas por vezes é silenciada. “Quando a gente pensa no final da década de 1970, quando esses afoxés ressurgem e agregam a juventude negra soteropolitana, deram muito fôlego para essa revolução racial que começou a acontecer a partir do carnaval. Os afoxés deram o axé para que essa revolução pudesse acontecer. E que a gente até hoje pudesse reverenciar essas entidades carnavalescas.

UNEGRO e a CULTURA PRETA-  Nesse a UNEGRO em Marica criou o Projeto Identidade Preta – Ritmos Afro com o intuito de manifestar, resgatar, fortalecer e manter a cultura
negra. Os ritmos como dança, cantos, culinária afro, a capoeira e os turbantes, são símbolo da resistência. Os ritmos afro  
ensaiados semanalmente são o jongo, ijexá, samba de roda e samba reggae. Contendo como um dos idealizadores da UNEGRO RJ Ricardo Teixeira e ex diretora Luciane Vieira .
O bom trabalhos dos organizadores do projeto, a coordenadora Geral e diretora tb diretora UNEGRO em Marica Nilcea Nascimento, o Coordenador Afro, e diretor da UNEGRO RJ nucleo Marica Mestre Nego da Serrinha e por todos os componente da entidade da organização incluindo a atual presidente Monica Gurjão.
Registramos que este projeto de sucesso vai se estender por mais 3 cidades do estado do Rio de Janeiro.

Enfim o curso da história, vai se modificando com sua prática ao sabor do cotidiano, disputando espaços com os maracatuzeiros e se inserindo no cenário político atual. Eis algumas das questões que necessitam ainda serem mais bem trabalhadas, mas isso é motivo para outras histórias.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:

ALMEIDA, Renato. História da música brasileira. Rio de Janeiro: F. Briguiet $ Comp., 1942. _____. Vivência e projeção do folclore. Rio de Janeiro: Livraria Agir, 1971. ANDRADE, Mário. Danças dramáticas do Brasil. 2o tomo. Belo Horizonte / Brasília: Ed. Itatiaia / INL / Fundação Nacional Pró-memória, 1982. ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore Nacional. Danças, recreação, música. V. II. São Paulo: Melhoramentos, 1967. BARTH, Fredrik. A análise da cultura nas sociedades complexas. In: LASK, Tomke (Org). O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro: Contracapa, 2000. BASTIDE, Roger. Imagens do Nordeste místico em branco e preto. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1945. _____. O carnaval de Recife. Revista do Brasil, abril de 1944. _____. Sociologia do folclore brasileiro. São Paulo: Editora Anhambi, 1959. BOAS, Franz. A formação da antropologia americana – 1883-1911. Rio de Janeiro: Contraponto/ Ed. UFRJ, 2004 (a). _____. Antropologia cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004 (b). CAPONE, Stefania. A busca da África no candomblé. Tradição e poder no Brasil. Rio de Janeiro: Pallas/Contracapa, 2004. CARNEIRO, Edison. Folguedos tradicionais. Rio de Janeiro: Conquista, 1974.

domingo, 5 de janeiro de 2020

O Negro André o abolicionista


André Rebouças (1838-1898) foi um engenheiro, professor, abolicionista e monarquista brasileiro. O primeiro engenheiro negro a se formar pela Escola Militar

André Pinto Rebouças nasceu em plena Sabinada, a insurreição baiana contra o governo regencial. Seu pai era Antônio Pereira Rebouças, um mulato autodidata que obteve o direito de advogar, representou a Bahia na Câmara dos Deputados em diversas legislaturas e foi conselheiro do Império. Sua mãe, Carolina Pinto Rebouças, era filha do comerciante André Pinto da Silveira.
André tinha sete irmãos, sendo mais ligado a Antônio, que se tornou seu grande companheiro na maioria dos seus projetos profissionais. Em fevereiro de 1846, a família mudou-se para o Rio de Janeiro. André e Antônio foram alfabetizados por seu pai e frequentaram alguns colégios até ingressarem na Escola Militar.

Em 1857 foram promovidos ao cargo de segundo tenente do Corpo de Engenheiros e complementaram seus estudos na Escola de Aplicação da Praia Vermelha. André bacharelou-se em Ciências Físicas e Matemáticas em 1859 e obteve o grau de engenheiro militar no ano seguinte.
Os dois irmãos foram pela primeira vez à Europa, em viagem de estudos, entre fevereiro de 1861 e novembro de 1862. Na volta, partiram como comissionados do Estado brasileiro para trabalhar na vistoria e no aperfeiçoamento de portos e fortificações litorâneas.

Na guerra do Paraguai, André serviu como engenheiro militar, nela permanecendo entre maio de 1865 e julho de 1886, quando retornou ao Rio de Janeiro, por motivos de saúde. Passou então a desenvolver projetos com seu irmão Antônio, na tentativa de estruturação de companhias privadas com a captação de recursos junto a particulares e a bancos, visando a modernização do país.
As obras que André realizou como engenheiro estavam ligadas ao abastecimento de água na cidade do Rio de Janeiro, às docas dom Pedro 2o e à construção das docas da Alfândega (onde permaneceu de 1866 até a sua demissão, em 1871).

Paralelamente, André dava aulas, procurava apoio financeiro para Carlos Gomes retornar à Itália, debatia com ministros e políticos por diversas leis. Foi secretário do Instituto Politécnico e redator geral de sua revista. Atuou como membro do Clube de Engenharia e muitas vezes foi designado para receber estrangeiros, por falar inglês e francês.

Participou da Associação Brasileira de Aclimação e defendeu a adaptação de produtos agrícolas não produzidos no Brasil, e o melhor preparo e acondicionamento dos produzidos aqui, para concorrerem no mercado internacional. Foi responsável ainda pela seção de Máquinas e Aparelhos na Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.

Na década de 1880, André Rebouças se engajou na campanha abolicionista e ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e outros. Participou também da Confederação Abolicionista e redigiu os estatutos da Associação Central Emancipadora. Participou da Sociedade Central de Imigração, juntamente com o Visconde de Taunay.

Entre setembro de 1882 e fevereiro de 1883, Rebouças permaneceu na Europa, retornando ao Brasil para dar continuidade à campanha. Mas o movimento militar de 15 de novembro de 1889 levou André Rebouças a embarcar, juntamente com a família imperial, com destino à Europa.
Por dois anos, ele permaneceu exilado em Lisboa, como correspondente do “The Times” de Londres. Transferiu-se, então, para Cannes, na França, até a morte de D. Pedro 2o.

Em 1892, com problemas financeiros, aceitou um emprego em Luanda, Angola, onde permaneceu por 15 meses. Fixando-se em Funchal, na Ilha da Madeira, a partir de meados de 1893, seu abatimento intensificou-se. Suicidou-se no dia 9 de maio de 1898, e seu corpo foi resgatado na base de um penhasco, próximo ao hotel em que vivia.

O QUE POUCA GENTE SABE É :Projetado e construído no século XIX pelo engenheiro negro André Rebouças, sem a utilização de mão de obra escrava, o edifício Galpão Docas Pedro II, localizado na Avenida Barão de Tefé, região central do Rio, virou alvo de uma disputa judicial. É que no imóvel deveriam ser instalados um centro de acolhimento turístico e um memorial de celebração à herança africana, espaços integrados ao Cais do Valongo. O memorial e o centro turístico fazem parte da exigência imposta pela Unesco na ocasião em que foi concedido ao sítio arqueológico o título de patrimônio cultural mundial. Apesar da exigência, o prédio, que fica bem em frente ao ao Valongo, tem sido utilizado para outros fins.

O edifício Galpão Docas Pedro II é um imóvel que pertence à União. Mas, segundo o Ministério
Público Federal (MPF), desde de o ano 2000, o imóvel é ocupado pela ONG Ação da Cidadania. Ainda de acordo com o MPF, a ONG, que é uma entidade privada, utiliza o imóvel para, sem nenhum custo, exercer atividades remuneradas. Por conta disso e para que as exigências da Unesco em relação ao Cais do Valongo sejam atendidas, o MPF entrou com uma ação judicial exigindo a reintegração de posse do imóvel. "Vê-se clara distorção: aquilo que deveria, quando muito, ser um convênio temporário para o desenvolvimento de um projeto social, eterniza-se como principal fonte de receita de uma entidade privada, literalmente servindo para remunerar todos os seus diretores e empregados", afirmam os procuradores do MPF, para justificar a ação judicial.

Se liga:somente em 2016, a ONG Ação Cidadania teve uma receita de R$ 1, 4 milhão e que pagou aos seus diretores, a título de pró-labores, R$ 119 mil. Os números sugerem que a organização não governamental está utilizando um imóvel público para desenvolver atividades com fins lucrativos. 

Apenas no final de  2019 as partes entraram em um acordo e a ong se comprometeu a deixar o prédio..."Queremos um centro de referência da memória do Valongo, com a proposta de se trabalhar os achados arqueológicos feitos neste local, para estarem em exposição. Precisamos de um museu no prédio das Docas Pedro II, tombado pelo Iphan no ano passado, um espaço construído pelo engenheiro negro André Rebouças. É um museu que terá a participação da comunidade negra.”


A lendade Oxum (Oro mi maió)

Dona de beleza e meiguice sem iguais, a todos seduzia pela graça e inteligência. -Oxum era também extremamente curiosa e apaixonada.

Oxum era rainha de um grande e rico território.
Este foi invadido pelos Ionis, atraídos pelo renome dessa riqueza fabulosa. Triunfaram da rainha, apoderaram-se da capital, saquearam o país, tomaram conta da fortuna da soberana.
Oxum, para não ser aprisionada, foi obrigada a fugir aproveitando a escuridão da noite; subiu numa jangada e dirigiu a Deus oração fervorosa. Depois, sob inspiração divina, pediu para seus súditos que preparassem abarás e os deixassem nas margens. Quando os invasores chegaram a beira da praia, estavam famintos; precipitaram-se sobre os abarás e os comeram.
Dentro não havia veneno, e sim, força divina - axé -. Todos caíram mortos. E assim Oxum pode retomar posse, ao mesmo tempo, de sua fortuna e de seu território. Daí por diante, devido a vitória tomou o nome de Oxum-Ioni.E quando certa vez se apaixonou por um dos orixás, quis aprender com Orunmilá, o melhor amigo de seu pai, a ver o futuro.

Oxum então seduziu Exu, que não pôde resistir ao encanto de sua beleza e pediu-lhe roubasse o jogo de ikin (cascas de coco de dendezeiro) de Orunmilá. Para assegurar seu empreendimento Oxum partiu para a floresta em busca das Iyami Oshorongá, as perigosas feiticeiras africanas, a fim pedir também a elas que a ensinassem a ver o futuro. Como as Iyami desejavam provocar Exu há tempos, não ensinaram Oxum a ver o futuro, pois sabiam que Exu já havia roubado os segredos de Orunmilá, mas a fazer inúmeros feitiços em troca de que a cada um deles elas recebessem sua parte.

Tendo Exu conseguido roubar os segredos de Orunmilá, o Deus da adivinhação se viu obrigado a partilhar com Oxum os segredos do oráculo e lhe entregou os 16 búzios com que até hoje as mulheres jogam. Oxum representa, assim a sabedoria e o poder feminino.

Em agradecimento a Exu, Oxum deu a Exu a honra de ser o primeiro orixá a ser louvado no jogo de búzios,
e entrega a eles suas palavras para que as traga aos sacerdotes. Assim, Oxum é também a força da vidência feminina.

Mais tarde, Oxum encontrou Oxóssi na mata e apaixonou-se por ele. A água dos rios e floresta tiveram então um filho, chamado Logun-Edé, a criança mais linda, inteligente e rica que já existiu.

Apesar do seu amor por Oxóssi, numa das longas ausências destes Oxum foi seduzida pela beleza, os presentes (Oxum adora presentes) e o poder de Xangô, irmão de Oxóssi, rompendo sua união com o Deus da floresta e da caça. Como Xangô não aceitasse Logun-Edé em seu palácio, Oxum abandonou seu filho, usando como pretexto a curiosidade do menino, que um dia foi vê-la banhar-se no rio. Oxum pretendia abandoná-lo sozinho na floresta, mas o menino se esconde sob a saia de Iansã a Deusa dos raios que estava por perto. Oxum deu então seu filho a Iansã e partiu com Xangô tornando-se, a partir de então, sua esposa predileta e companheira cotidiana.

O CHAMADO DE OXUM- OXUM, aparece sedutoramente em sua vida e adula você para lembrá-la de reverenciar a sua sensualidade. A totalidade é alimentada quando você concentra sua atenção e seu tempo no corpo, respeitando e dando espaço aos sentidos e à sensualidade.

Oxum está aqui para dizer que é hora de assumir sua sensualidade sem culpa.

Sua influência nos inspirará quando estivermos em busca de uma atitude mais independente em relação ao amor, além de aumentar a nossa auto-estima.

Os rituais de banho são os que mais nos favorecem quando desejamos refletir profundamente sobre um assunto sentimental.

Realize seus rituais de banho sempre na Lua Nova ou Cheia.

BANHO DE OXUM- Ache um tempinho para cuidar de si mesma e relaxar com o banho de Oxum. Coloque um fundo musical baixinho. Acenda uma vela amarela no banheiro, de modo a tornar o ambiente suave e agradável. Antes de entrar no banho acrescente algumas das ervas de Oxum e algum óleo na água para ficar envolta em sua fragrância.

Dizem que: As mulheres que desejarem ter filhos dirigem-se a Oxum pois ela controla a fecundidade graças aos laços mantidos com Ìyámi-Ajé (Minha mãe feiticeira).

Sobre esse tema, uma lenda conta que: "Quando todos os orixás chegaram à Terra, organizaram reuniões em que as mulheres não eram admitidas. Oxum ficou aborrecida por ser posta de lado e por não poder participar de todas as deliberações. Para se vingar, tornou as mulheres estéreis e impediu que as atividades desenvolvidas pelos deuses chegassem a resultados favoráveis.

Entregue-se à sensação prazerosa do calor da água, sentindo eliminar toda a tensão de todos os pontos de seu corpo, substituindo-a pela descontração e receptividade. Boie na água, aquecendo-se no calor, no aroma e na música. Feche os olhos e respire fundo.

Sinta o prazer! Sinta-se à vontade, sinta-se grata pelos dons do corpo e dos sentidos. Fique neste estado de relaxamento o tempo que quiser. Quando terminar o banho, passe um óleo natural no corpo. Sopre a vela agradecendo a Oxum.

Troque a roupa de cama e vista uma camisola amarela para continuar recebendo a energia da Deusa Oxum durante toda a noite.

"Eu vi Mamãe Oxum na cachoeira sentada na beira de um rio colhendo lírios, lírio ê colhendo lírios, lírio á colhendo lírios pra enfeitar nosso congá."
ORA IEIÊ Ô!!!
Claudia Vitalino
fonte:centropaijoaodeangola.com/

domingo, 15 de dezembro de 2019

Ensaio breve sobre: Cristãos Negros

"A Bíblia tem a cor de todas as culturas; é contemporânea de todas as eras. Ela é um livro apaixonadamente humano
Um passado destes poderia incitar à modéstia, mas os cristãos reivindicam, pelo contrário, o
monopólio da ética. Proclamam que adoram o Deus único, que deus é “amor”, e se consideram melhores que o resto da humanidade.

Sem querer agredir a fé cristã dogmática (a qual merece todo o nosso respeito), nem diminuir o valor histórico do cristianismo e da Igreja Católica, mas apenas contribuir para o diálogo inter-religioso, a fim de buscarmos o conhecimento da verdade que nos liberta (“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”), resumo nesta semana alguns dos principais dados da história negra do cristianismo dos cristãos, dados esses que comprovam minha tese de que essa modalidade de cristianismo não pode ter sido fundada pelo verdadeiro Jesus de Nazaré, o qual resumiu toda a sua doutrina religiosa na prática do amor: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (João 13,35). “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros” (João 13,34). “Amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu sentimento e com toda a tua força. 

Mitos dogmáticos ou dogmas mitológicos?- Já disseram que a cor negra é o sinal que o Senhor colocara em Caim por haver este matado a Abel, seu irmão (Gn 4.15). Outros, interpretando de maneira equivocada a profecia enunciada por Noé aos seus filhos, alimentam a hipótese de que o negro surgiu por causa da maldição imposta pelo patriarca sobre a irreverência de Cam (Gn 9.25).
Erudição alguma é necessária para se constatar a incongruência de tais mitos. Uma leitura atenta e descompromissada do Livro Santo há de mostrar que semelhantes teses não resistem a um exame mais atento. Teológica e historicamente, são falhas, dúbias, perniciosas.

Da História sagrada, infere-se ter sido toda a descendência de Caim destruída pelo Dilúvio. Além disso, a marca que pôs o Senhor no homicida não foi a cor, e, sim, um ideograma, denunciando-lhe o crime. Quanto ao caçula de Noé, o texto do Gênesis não comporta dúvidas: apenas um ramo dos camitas foi amaldiçoado: os cananeus. E a maldição cumpriu-se quando os hebreus tomaram-lhes as terras no século 15 aC. Os outros filhos de Cam são mencionados na Bíblia como nações fortes, poderosas e aguerridas. Haja vista o Egito, a Etiópia, a Líbia e as cidades de Tiro e Sidom.
De acordo com a concepção hebraico-cristã, não há nenhuma maldição em ser negro nem bênção alguma em ser branco. A bem-aventurança reside em se guardar os mandamentos de Deus, praticar a justiça e observar a beneficência:


"... Deus não faz acepção de pessoas; Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e obra o que é justo.", At 10.34-35.

A África no índice Bíblico das Nações - Conhecido como o índice das Nações, o capítulo 10 do primeiro livro da Bíblia faz referências a pelo menos três grandes nações africanas: Cuxe, Mizraim e Pute (Gn 10.6). Ou seja: Etiópia, Egito e Líbia. Apesar das muitas tribulações de sua história, estes povos vingaram: no passado, império; no presente, o vivo testemunho do vigor das civilizações negras. Durante toda a História Sagrada, o Egito sempre foi temido como potência mundial. À Etiópia era uma nação tão aguerrida e expansionista que, no tempo dos reis de Judá, invadiu aTerra Santacom um exército de um milhão de homens (2Cr 14.9). Quanto à Líbia, era vista pela Assíria como um contrapeso às ambições babilônicas (Na 3.9). Se coletivamente os africanos foram marcantes, individualmente destacam-se no texto bíblico.

A mulher negra de Moisés -No capítulo 12 de Números, lemos: "E falaram Miriã e Aarão contra Moisés, por causa da mulher cuxita, que tomara: porquanto tinha tomado a mulher cusita", Nm 12.1. Não fora o contexto deste triste e lamentável episódio, seríamos levados a pensar que a profetisa e o sumo sacerdote hebreus eram tão racistas quanto os criadores do apartheid. Todavia, mostra-nos o desenrolar da história que a má vontade de ambos não tinha como motivação o fato de Moisés haver tomado uma negra por mulher. O que eles não toleravam eram os privilégios que o grande líder desfrutava junto a Deus. Como não achassem nenhuma falha no legislador, houveram por bem censurar-lhe a união inter-racial que, diga-se de passagem, não era algo incomum entre os israelitas. Afinal, não se unira Abraão com uma egípcia e com uma egípcia não se casara José?

Eu sou negra e aprazíve -Como você imagina a Sulamita dos Cantares? Uma nórdica encontradição nas pinturas sacras da Renascença italiana? E se você descobrisse que o maior poema de amor deEu sou morena, mas agradável, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão." (Ct 1.5) Se o texto em português deixa alguma dúvida quanto à cor da formosíssima jovem, o texto inglês, apesar da infelicidade da partícula adversativa, é concludente: I am black but comely. Esta tradução parece estar mais de acordo com o original hebraico.
todos os tempos foi dedicado a uma negra? Ficaria escandalizado? As filhas de Jerusalém indignaram-se quando Salomão elegeu a formosa pastora de Quedar como a predileta de seu coração. Diante de tão descabida acepção, Sulamita protesta: "

O negro que ajudou a Jeremias -Jeremias profetizou no momento mais crucial e ingente do Israel do Antigo Testamento. Em breve, seriam os judeus entregues aos babilônios; perderiam em breve a soberania e em breve ficariam sem os mais caros símbolos nacionais e religiosos. É neste momento que aparece o profeta com uma mensagem impopular e nada patriótica: apregoa a submissão ao opressor e condena qualquer esboço de resistência. Por causa de sua atitude, foi Jeremias lançado no calabouço de Malaquias (Jr 38.6). E só não morreu porque um etíope chamado Ebede-Meleque intercedeu por ele junto ao rei Zedequias. Por sua corajosa postura, o negro Ebede é honrado até hoje.

Os negros no Novo Testamento- Muitos africanos ainda vêem a Igreja como típica empresa européia. Ainda se assustam com os pioneiros brancos e barbudos que, desde David Livingstone, cortam a negritude daquelas terras levando a mensagem do Cristo. Em sua origem, porém, a Igreja era tão multirracial quanto hoje. No Dia de Pentecostes encontravam-se em Jerusalém, além dos gregos, romanos e asiáticos, várias nações negras: Egito, Líbia e Cirene. E, nestes países, o Evangelho floresceu de maneira surpreendente. Haja vista a Igreja de Alexandria. Dela sairiam os teólogos Orígenes, Clemente e Atanásio.


Lembremo-nos também do ministro da Fazenda da Etiópia que se converteu quando retornava ao seu país (At 8.26-38). Acredita-se ter sido com este eunuco que teve início a Igreja Copta.


 Uma visão universal e transcultural da Bíblia -Durante vários séculos, a Bíblia foi vista como um livro exclusivamente branco e interpretado colonialisticamente pelas nações europeias. Deste triste contexto, excetuamos os missionários que sempre tiveram uma visão universal e trans-cultural das
Sagradas Escrituras. Jamais nos esqueçamos de que a Bíblia começou a ser escrita na África. Não é um livro branco, como pensamos; ou exclusivamente negro. A Bíblia tem a cor de todas as culturas; é contemporânea de todas as eras. Ela é um livro apaixonadamente humano e comprovadamente divino.

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

fonte: publicado no Jornal Mensageiro da Paz de Dez/98 por Claudionor Corrêa de Andrade é pastor e chefe do Setor Hispânico da CPAD




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