Não há como falar em movimento negro e resistência negra se não pensar nas músicas, danças e toda a beleza das cores e estampas que caracterizam os blocos afro, samba, samba-reggae pagode e afoxés.
A história brasileira é marcada por vários episódios de luta popular em defesa de direitos,que garantem dignidade, respeito e, acima disso, a vida. É neste contexto, que o
povo negro, vítima da diáspora que os retirou do seu continente de origem – África -, conduziu o enfrentamento cotidiano na defesa de todas as dimensões sociais e culturais que reafirmam o lugar de protagonismo na construção de uma identidade e representatividade social.Na Bahia, estado brasileiro cuja população é majoritariamente composta por negros e negras, a professora Railma Souza explica que a resistência passa, em primeiro lugar, pelo enfrentamento à visão eurocêntrica. “Infelizmente, ainda enchemos a boca para dizer que pessoas cultas são as que ouvem alguns tipos de música, leem muitos livros […] o que constitui uma hierarquização da cultura”, pontua.Nesse sentido, Railma considera fundamental romper com essas noções estereotipadas e tentar compreender a complexidade das expressões da cultura do povo negro, do povo indígena, rural, periférico. “Enxergar a poesia de rua como poesia, o reggae, o rap, o hip hop, o funk e mesmo o pagode enquanto estilos musicais”
Mas as transformações não ocorrem apenas nas manifestações culturais. Mesmo nas religiões de divindades e de encantados as adaptações, apropriações e invenções estão presentes, sob todas as formas possíveis, mostrando-nos sua intensa complexidade. Neste sentido, a história e a cultura, em minha visão, é terreno da invenção de seres humanos, e disto não tenho como fugir, caso queira transformar meu desejo de entendimento das práticas e dos costumes em realidade. Afoxés e religiões não podem ser vistos como frutos da natureza, e, por conseguinte seus liames foram estabelecidos em processos variados ao longo do tempo como forma de resposta para diferentes fins, sendo impossível estabelecer um começo ou origem para tal questão. Além do samba, que é o estilo brasileiro mais famoso no mundo, outros ritmos também vieram da mãe África: Maracatu, Congada, Cavalhada, Moçambique. Além disso, muitos instrumentos musicais como: afoxé (tipo de chocalho feito com uma cabaça e uma rede de miçangas), agogô (cones de metal tocados com uma baqueta), barimbau, caxixi (cesto de vime em forma de chocalho encerrado no fundo uma cabaça com sementes), atabaque, cuíca (parecido com tambor, mas com uma varinha encostada à pele, que fricciona produzindo som) e entre outros.
As práticas e os costumes humanos são construções culturais e isto, até prova em contrário, não é nenhuma novidade entre estudiosos, notadamente os mais afeitos à Antropologia. No tocante a História, ao historicizar os processos de construção das manifestações culturais, pode-se perceber que muitas observações foram feitas (e ainda o são!) de forma naturalizadora, ora tomando o discurso dos “nativos” como plena verdade, ora utilizando-se de narrativas míticas, atribuindo uma origem na perspectiva de entender e traduzir determinado fenômeno. Há também estudos que preconizam por um ponto de vista que atribui às práticas determinadas funções ou utilidades, privilegiando às vezes uma das muitas facetas existentes no fazer cultural. Infelizmente ainda hoje existem trabalhos sendo feitos com uma perspectiva que atribui ao “fazer popular” a pecha de sobrevivência, reminiscência ou puro folclore.
Os afoxés - “Os Afoxés surgem como um elemento de resistência. Os primeiros afoxés registrados como tal datam de 1895, momento muito próximo do pós-abolição. Os negros ainda tinham seus direitos restringidos pelo Estado e pelas elites brancas. E os afoxés começaram a ir para as ruas como forma de levar a alegria e as festividades negras para desfilar nos carnavais”, diz o artista, gestor e pesquisador cultural, Chicco Assis. Segundo Chicco, a trajetória dos afoxés na história brasileira é de altos e baixos. Os primeiros afoxés registrados foram “Embaixada Africana” e “Pândegos d’África”. Houve momentos de proibição dos batuques nas ruas e de desarticulação. Em 1949, surgiu os Filhos de Gandhy, um dos afoxés mais antigos ainda em funcionamento na cidade. Já em 1978 foi criado o Afoxé Badauê, que trouxe inovações na forma de fazer o afoxé, no desfile e nas performances, com Moa do Katendê e Jorjão Bafafé como fundadores.
“Pensar em afoxé, que tem como um possível significado ‘a força que vem de dentro’, é considerar que essa força vem de dentro dos terreiros de candomblé, já que muitos afoxés nascem dentro dos terreiros. Moa do Katendê traduzia a palavra badauê como “mensageiro da alegria”. Então, o afoxé, através da alegria, é esse espaço de resistência negra, de valorização das culturas afro-brasileiras, de valorização e de respeito das religiões de matriz africana. Não dá para pensar na luta do movimento negro, nas lutas de resistência se a gente não pensa nos afoxés”, ressalta.
Assis pontua ainda sobre importância do diálogo entre os blocos afro, como o Ilê Aiyê que Ttem maais de 45 anos, e os afoxés para a construção do movimento negro na Bahia e no Brasil. Para o pesquisador, a participação dos afoxés é muito significativa, mas por vezes é silenciada. “Quando a gente pensa no final da década de 1970, quando esses afoxés ressurgem e agregam a juventude negra soteropolitana, deram muito fôlego para essa revolução racial que começou a acontecer a partir do carnaval. Os afoxés deram o axé para que essa revolução pudesse acontecer. E que a gente até hoje pudesse reverenciar essas entidades carnavalescas.
UNEGRO e a CULTURA PRETA- Nesse a UNEGRO em Marica criou o Projeto Identidade Preta – Ritmos Afro com o intuito de manifestar, resgatar, fortalecer e manter a cultura
negra. Os ritmos como dança, cantos, culinária afro, a capoeira e os turbantes, são símbolo da resistência. Os ritmos afro ensaiados semanalmente são o jongo, ijexá, samba de roda e samba reggae. Contendo como um dos idealizadores da UNEGRO RJ Ricardo Teixeira e ex diretora Luciane Vieira .
O bom trabalhos dos organizadores do projeto, a coordenadora Geral e diretora tb diretora UNEGRO em Marica Nilcea Nascimento, o Coordenador Afro, e diretor da UNEGRO RJ nucleo Marica Mestre Nego da Serrinha e por todos os componente da entidade da organização incluindo a atual presidente Monica Gurjão.
Registramos que este projeto de sucesso vai se estender por mais 3 cidades do estado do Rio de Janeiro.
Enfim o curso da história, vai se modificando com sua prática ao sabor do cotidiano, disputando espaços com os maracatuzeiros e se inserindo no cenário político atual. Eis algumas das questões que necessitam ainda serem mais bem trabalhadas, mas isso é motivo para outras histórias.
Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
fonte:
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