UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

domingo, 7 de setembro de 2014

Nossa História um mosaico em construção II:Reis de Cor escura e Nariz Chato...

A aceitação geral da hipótese da origem monogenética e africana da humanidade suscitada pelos trabalhos do professor Leakey tornou possível colocar em termos totalmente novos a questão do povoamento do Egito, e mesmo do mundo. 

Há mais de 150 mil anos, a única parte do mundo em que viviam seres morfologicamente iguais aos homens de hoje era a região dos Grandes Lagos, nas nascentes do Nilo. Essa noção – e outras que não nos cabe recapitular aqui – constitui a essência do último relatório apresentado pelo dr. Leakey no VII Congresso Pan-Africano de Pré-História, em Adis Abeba, em 1971 1. Isso quer dizer que toda a raça humana teve sua origem, exatamente como supunham os antigos, aos pés das montanhas da Lua. Contra todas as expectativas e a despeito das hipóteses recentes, foi desse lugar que o homem partiu para povoar o resto do mundo.
Disso resultam dois fatos de capital importância: (a) necessariamente, os primeiros homens eram etnicamente ho­mogêneos e negróides. A lei de Gloger, que parece ser aplicável também aos seres humanos, estabelece que os animais de sangue quente, desenvolvendo-se em clima quente e úmido, secretam um pigmento negro (melanina) 2. Por­tanto, se a humanidade teve origem nos trópicos, em torno da latitude dos Grandes Lagos, ela certamente apresentava, no início, pigmentação escura, e foi pela diferenciação em outros climas que a matriz original se dividiu, mais tarde, em diferentes raças; (b) havia apenas duas rotas através das quais esses primeiros homens poderiam se deslocar, indo povoar os outros continentes: o Saara e o vale do Nilo. É esta última região que será discutida aqui.
A partir do Paleolítico Superior até a época dinástica, toda a bacia do rio foi progressivamente ocupada por esses povos negróides.Preparem as melhores montarias de seus estábulos", ordenou ele a seus comandantes. A magnífica civilização que construíra as grandes pirâmides havia perdido o rumo, destroçada por medíocres chefes guerreiros.

Evidências da antropologia física sobre a raça dos antigos egípcios
Poder-se-ia pensar que, trabalhando com evidências fisiológicas, as descobertas dos antropólogos poderiam dissipar todas as dúvidas por fornecerem verdades confiáveis e definitivas. Isso não é, de maneira nenhuma, o que acontece: a natureza arbitrária dos

critérios utilizados – para mencionarmos apenas um aspecto -, ao mesmo tempo que afasta qualquer possibilidade de uma conclusão ser aceita sem reservas, introduz tanta discussão supérflua entre os cientistas que às vezes nos perguntamos se a solução do problema não teria estado muito mais próxima se não tivéssemos o azar de abordá-lo sob esse ângulo.
No entanto, embora as conclusões desses estudos antropológicos se detenham um pouco aquém da realidade, elas são unânimes em mencionar a existência de uma raça negra desde as mais distantes épocas da Pré-História até o período dinástico. Não é possível, no presente capítulo, citar todas essas conclusões. Elas estão sumarizadas no Capítulo X de Histoire et Protohistoire d’Egipte (Institut d’Ethnologie, Paris, 1949), do dr. Emile Massoulard. Citaremos apenas alguns itens:
“Miss Fawcett acredita que os crânios de Negadah compõem uma coleção com homogeneidade suficiente para fundamentar a hipótese da existência de uma raça de Negadah. Quanto à altura total do crânio, à altura auricular, do comprimento e largura da face, ao comprimento do nariz, ao índice cefálico e ao índice facial, essa raça parece aproximar-se da raça negra; quanto à largura do nariz, à altura da órbita, ao comprimento do palato e ao índice nasal, ela parece mais próxima dos povos germânicos; assim, os negadenses pré-dinásticos provavelmente se assemelhavam, quanto a algumas de suas características, aos negros e, quanto a outras, às raças brancas” ( pp. 402-3 ).

É importante observar que os índices nasais dos etíopes e dos dravidianos os aproximariam dos povos germânicos, embora ambos pertençam a ra (???) perdeu-se

É importante observar que os índices nasais dos etíopes e dos dravidianos os aproximariam dos povos germânicos, embora ambos pertençam a raças negras.


Essas medidas – que deixariam abertas alternativas possíveis entre os dois extremos, representados pelas raças negra e germânica – dão uma idéia da elasticidade dos critérios empregados. Eis um exemplo:
“Tentando determinar com maior precisão a importância do elemento negróide nas séries de crânios de El-Amra, Abidos e Hou, Thomson e Ran­dall MacIver dividiram-nos em três grupos: 1. crânios negróides (aqueles com índice facial abaixo de 54 e índice nasal acima de 50, isto é, face curta e larga e nariz largo); 2. crânios não-negróides (índice facial acima de 54 e índice nasal abaixo de 50, face comprida e estreita e nariz estreito); 3. crânios intermediários (podem ser atribuídos a indivíduos dos dois primeiros grupos, com base no índice facial ou nas evidências referentes ao índice nasal, e ainda a indivíduos marginais a ambos os grupos). A proporção de negróides no início do período pré-dinástico parece ter sido de 24% de homens e 19% de mulheres, e, no final desse mesmo período, de 25% de homens e 28% de mulheres.
Kieth contestou o valor dos critérios utilizados por Thomson e Randall MacIver para distinguir os crânios negróides dos não-negróides. Sua opinião é de que, se os mesmos critérios fossem aplicados para estudar qualquer série de crânios ingleses contemporâneos, a amostra conteria aproximadamente 30% de tipos negróides” (pp. 420-1).
Pode-se afirmar também o reverso da proposição de Kieth, isto é, que, se o critério fosse aplicado aos 140 milhões de negros que hoje vivem na África negra, no mínimo 100 milhões deles apareceriam “branqueados”. Deve-se enfatizar também que a distinção entre “negróides”, “não-negróides” e “intermediários” não é clara: “não-negróide” não significa de raça branca, e “intermediário”, muito menos.

“Falkenburger retomou o estudo antropológico da população egípcia num trabalho recente, no qual analisa 1 787 crânios masculinos do período que se estende desde o Pré-Dinástico Antigo até nossos dias. Ele distingue quatro grupos principais” (p. 421).

A classificação dos crânios pré-dinásticos nesses quatro grupos dá, para o total do período pré-dinástico, os seguintes resultados: “36% de negróides, 33% de mediterrânicos, I 1 % de cro-magnóides e 20% de indivíduos que não se enquadram em nenhum desses grupos, mas se aproximam dos cro-mag­nóides ou dos negróides”.
A proporção de negróides é definitivamente mais alta do que a sugerida por Thomson e Randall MacIver, a qual, no entanto, Kieth considera muito elevada.
“Os números de Falkenburger refletem a realidade? Não é nossa tarefa decidir. Se estiverem corretos, a polulação pré-dinástica, longe de representar uma raça pura, como disse Elliot Smith, compreendia pelo menos três elementos raciais distintos: mais de um terço de negróides, um terço de mediterrâni­cos, um décimo de cro-magnóides e um quinto de indivíduos mestiços em vários graus” (p. 422).

O fundamental em todas essas conclusões é que, a despeito das discrepâncias que apresentam, o seu grau de convergência prova que a base da população egípcia no período pré-dinástico era negra. Assim, todas elas são incompatíveis com a teoria de que o elemento negro se infiltrou no Egito em período tardio. Pelo contrário, os fatos provam que o elemento negro era preponderante do princípio ao fim da história egípcia, particularmente se observarmos, uma vez mais, que “mediterrânico” não é sinônimo de “branco”; esta­ria mais próximo da “raça morena ou mediterrânica” de Elliot-Smith.
“Elliot-Smith classifica esses protoegípcios como um ramo do que ele chama raça morena, que corresponde à ‘raça mediterrânica ou euro-africana’ de Sergi” (p. 418). O termo “moreno” neste contexto refere-se à cor da pele e é simplesmente um eufemismo de negro 3.
Assim, fica evidente que toda a população egípcia era negra, com exceção de uma infiltração de nômades brancos no período protodinástico.
O estudo de Petrie sobre a raça egípcia revela um elemento classificatório possível muito fecundo, que não deixará de surpreender o leitor.

“Petrie ( . . . ) publicou um estudo sobre as raças do Egito nos períodos pré­-dinástico e proto-dinástico, trabalhando apenas com representações. Além da raça esteatopígica, distinguiu seis diferentes tipos: um tipo aquilino, representante de uma raça líbia de pele branca; um tipo ‘com barba trançada’, pertencente a uma raça invasora, vinda provavelmente das costas do mar Ver­melho; um tipo ‘com nariz pontudo’, proveniente, sem dúvida, do deserto arábico; um tipo ‘com nariz reto’, do Médio Egito; um tipo ‘com barba protu­berante’, do Baixo Egito; e um

tipo ‘com nariz fino’, do Alto Egito. Segundo as representações, teriam assim existido sete tipos raciais diferentes no Egito durante os períodos que estamos considerando. Nas páginas seguintes, veremos que o estudo dos esqueletos parece conferir pouca validade a essas con­clusões” (p. 391) .

Esse modo de classificação dá uma idéia da natureza arbitrária dos critérios utilizados para definir as raças egípcias. Seja como for, é evidente que a antropologia está longe de ter estabelecido a existência de uma raça egípcia branca e, pelo contrário, tenderia a sugerir o oposto.

Nos manuais de maior divulgação, entretanto, a questão é suprimida: na maioria dos casos, afirma-se simples e claramente que os egípcios eram brancos, e o leigo fica com a impressão de que uma afirmação desse tipo deve necessariamente ter como base uma sólida pesquisa anterior. Mas, conforme se mostrou neste capítulo, essa pesquisa não existe. E, assim, gerações após gerações foram enganadas. Muitas autoridades no assunto contornam a dificuldade falando em brancos de pele vermelha e brancos de pele negra, sem que por isso se abale o seu senso de lógica.

“Os gregos chamam a África de Líbia, um nome equivocado ab initio, pois a África contém muitos outros povos além dos assim chamados líbios, que estão entre os brancos da periferia setentrional ou mediterrânica e, portanto, muito afastados dos brancos de pele morena ou vermelha) – os egípcios”. 4

Num livro didático destinado ao curso colegial, encontramos a seguinte frase: “Um negro se distingue menos pela cor da pele (pois existem ‘brancos’ de pele negra) do que por suas feições: lábios grossos, nariz chato…” 5 Apenas com tais distorções das definições básicas é que se pôde branquear a raça egípcia.

E importante ter em mente os exageros dos teóricos da antropossociolo­gia do século passado e do começo deste século, que, em suas microanálises fisionômicas, descobriram estratificações raciais até mesmo na Europa, e particularmente na França, onde, na verdade, havia um único povo, hoje praticamente homogêneo. 6 Atualmente, os ocidentais que valorizam sua coesão nacional evitam zelosamente examinar suas próprias sociedades sob a luz de hipóteses tão divisionistas, mas continuam, irrefletidamente, a aplicar os velhos métodos às sociedades não-européias.

As representações humanas do período proto-hístórico: seu valor antropológico
O estudo das representações humanas realizado por Flinders Petrie, num outro plano, demonstra que o tipo étnico era negro: de acordo com Fetrie, esses povos eram os Anu, cujo nome, que conhecemos desde a época proto­-histórica, era sempre “escrito” com três pilares, nas poucas inscrições subsis­tentes do final do IV milênio antes da era cristã. Os nativos do país são sempre representados com inconfundíveis emblemas de chefia, que não encon­tramos entre as raras representações das outras raças, cujos elementos apare­cem todos como estrangeiros servis, que chegaram ao vale por infiltração (cf. Tera Neter 7 e o rei Escorpião, que Petrie reúne num mesmo grupo: “O rei Escorpião pertencia à raça anu, já citada; além disso, adorava Min e Seti”) 

Como veremos adiante, Min, assim como os principais deuses do Egito, era chamado, na própria tradição egípcia, “o Grande Negro”.
Depois de fazer um apanhado dos vários tipos humanos estrangeiros que disputaram o vale com os negros nativos. Petrie descreve estes últimos, os Anu, nos seguintes termos:
“Além desses tipos, característicos do norte e do leste, existe a raça autóctone dos Anu, ou Annu (escrito com três pilares), povo que constituiu parte dos habitantes da época histórica. O assunto se complica e dá margem a dúvidas se incluirmos todos os nomes escritos com um único pilar; mas, considerando apenas a palavra Annu, escrita com três pilares, descobrimos que esse povo ocupava o sul do Egito e a Núbia; o nome também é utilizado no Sinai e na Líbia. Quanto aos habitantes meridionais do Egito, temos o documento essen­cial: um retrato do chefe Tera Neter, rudemente modelado em relevo em faiança verde vitrificada, encontrado no mais antigo templo de Abidos. O endereço precede o nome, nesse primitivo cartão de visita: ‘Palácio dos Anu na cidade de Hemen, Tera Neter’. Hemen era o nome do deus de Tuphium. Erment, do lado oposto, era o palácio dos Anu do Sul Annu Menti. A próxima localidade ao sul é Aunti (Gefeleyn) e, depois. Aunyt-Seni (Esna)” 9.

Amélineau arrola, em ordem geográfica, as cidades fortificadas construí­das ao longo do vale do Nilo pelos negros anu.
= Ant (Esna)
ou = An = “On” do Sul (hoje Hermonthis)
= Denderah, tradicionalmente, a cidade natal de Ísis
= Uma cidade também chamada “On”, no nomo de Tínis
ou = A cidade chamada “On” do Norte, a célebre Heliópolis
O ancestral comum dos Anu estabelecidos ao longo do Nilo era Ani ou An, nome determinado pela palavra(khet), o qual, desde as primeiras versões do Livro dos Mortos, é atribuído ao deus Osíris.

A esposa de , o deus Ani é a deusa Anet , que é também sua irmã, da mesmã forma que Isis é irmã de Osíris.

A identidade do deus An com Osíris foi demonstrada por Pleyte 10; deve­mos lembrar que Osíris é também cognominado o Anu: “Osíris Ani”. O deus Anu é representado ora pelo símbolo , ora pelo símbolo. As tribos Anuak, que hoje habitam o Nilo superior, teriam alguma relação com os antigos Anu? Pesquisas futuras trarão resposta a esta questão.
Petrie acredita ser possível distinguir entre o povo pré-dinástico, representado por Tera Neter e pelo rei Escorpião (que, já nessa época, é um faraó, como mostram os enfeites em sua cabeça) e um povo dinástico, que adorava o falcão e que provavelmente é representado pelos faraós Narmer 11, Khasekhem, Sanekhei e Zoser 12. Observando-se os rostos reproduzidos na ilustração, percebe-se facilmente que não existem diferenças étnicas entre os dois grupos e que ambos pertencem à raça negra.

O mural da tumba SD 63 (Sequence Date 63) de Hieracômpolis mostra os negros nativos subjugando os invasores estrangeiros, se aceitarmos a interpretação de Petrie: “Abaixo, temos a embarcação negra em Hieracômpolis, pertencente aos homens negros, que aparecem subjugando os homens vermelhos” 13.
O cabo de faca de Djebel el-Arak também mostra cenas de batalhas similares: “Há também combates em que homens negros dominam homens vermelhos” 14. Entretanto, o valor arqueológico desse objeto, que não foi encontrado in situ, mas em poder de um mercador, é menor do que o dos itens anteriores.
O que expusemos acima mostra que as representações dos homens do período proto-histórico, e mesmo do período dinástico, são absolutamente incompatíveis com a idéia de raça egípcia difundida entre os antropólogos ocidentais. Onde quer que o tipo racial autóctone esteja representado com alguma clareza, ele é nitidamente negróide. Em parte alguma elementos indo­-europeus ou semitas são representados como homens livres, nem mesmo como cidadãos comuns a serviço de um chefe local. Eles aparecem invariavelmente como estrangeiros submetidos. As raras representações encontradas trazem sempre marcas inequívocas de cativeiro: mãos atadas atrás das costas ou amarradas sobre os ombros 15. Uma estatueta protodinástica representa um prisioneiro indo-europeu com uma longa trança, de joelhos e as mãos atadas ao corpo. As características do próprio objeto mostram que ele devia ser o pé de um móvel e representava uma raça conquistada 16. A representação é, com freqüência, deliberadamente grotesca, como ocorre com outras figuras protodinásticas, mostrando indivíduos com o cabelo trançado à maneira que Petrie denomina rabo de porco (pigtail). Na tumba do rei Ka (I dinastia), em Abidos, Petrie encontrou uma plaqueta representando um indo-europeu cativo, acor­rentado, com as mãos atrás das costas. Elliot-Smith acha que o indivíduo representado é um semita 17

A época dinástica forneceu também os documentos reproduzidos nas figu­ras 4 e 5 das páginas 49 e 50, que mostram prisioneiros indo-europeus e semitas. Em contraposição, as feições tipicamente negróides dos faraós Narmer, I dinastia, fundador da linhagem faraônica, Zoser, III dinastia, em cuja época todos os elementos tecnológicos da civilização egípcia já eram evidentes, Quéops, o construtor da Grande Pirâmide, um tipo característico da região da atual República de Camarões 18, Mentuhotep, fundador da XI dinastia, negro retinto 19,

Sesóstris I, a rainha Amósis Nefertári, e Amenófis I mostram que todas as classes da sociedade egípcia pertencem à mesma raça negra.
As figuras de 11 a 15 foram incluídas deliberadamente para contrastar tipos semitas e indo-europeus com as fisionomias bastante diferentes dos faraós negros e para mostrar claramente que não há traço de nenhum dos dois pri­meiros tipos na linhagem dos faraós, se excluirmos as dinastias estrangeiras (líbias e ptolomaicas).
É comum contraporem-se as negras da tumba de Horemheb ao tipo egípcio também representado. Na verdade, essa contraposição é falsa: é social e não étnica; há tanta diferença entre uma aristocrata senegalesa de Dacar e as camponesas da África antiga, de mãos calejadas e pés angulosos, quanto entre estas últimas e uma senhora egípcia das cidades da Antigüidade.
Existem duas variantes da raça negra:
– os negros de cabelos lisos, representados na Ásia pelos dravidianos e, na África, pelos núbios e os tubbou ou Tedda, todos com pele negro-azeviche; – os negros de cabelo crespo das regiões equatoriais.
Os dois tipos entraram na composição da população egípcia.

Teste de dosagem de melaninaNa prática, é possível determinar diretamente a cor da pele, e, portanto, a Filiação étnica dos antigos egípcios, através de análises microscópicas de laboratório; duvido que a perspicácia dos pesquisadores que se dedicaram à questão tenha ignorado essa possibilidade.
A melanina, substância química responsável pela pigmentação da pele, é, geralmente, insolúvel e preserva-se por milhões de anos na pele dos animais fósseis 20. Portanto há razões de sobra para que seja facilmente encontrada na pele das múmias egípcias, apesar da lenda persistente segundo a qual a pele das múmias, tingida pelo material de embalsamamento, já não é susce­tível de qualquer análise 21. Embora a melanina se localize principalmente na pele, os melanócitos que penetrarem a derme no nível da epiderme, mesmo onde esta última tenha sido praticamente destruída pelos materiais de embalsamamento, indicam um nível de melanina inexistente nas raças de pele branca. As amostras que eu mesmo analisei foram colhidas no laboratório de antropo­logia física no Museu do Homem, em Paris, das múmias provenientes das escavações de Marietta, no Egito 22. O mesmo método é perfeitamente utilizável para as múmias reais de Tutmés III, Séti I e Ramsés II, do Museu do Cairo, que estão em excelente estado de conservação. Há dois anos tenho pedido – ­em vão – ao curador do Museu do Cairo amostras similares para análise. Não seriam necessários mais do que alguns milímetros quadrados de pele para compor um espécime, com preparações de poucos [m de espessura e clareadas com benzoato de etila. Elas podem ser estudadas à luz natural ou sob luz ultravioleta, que torna os grãos de melanina fluorescentes. De qualquer forma, queremos simplesmente afirmar que a avaliação do nível de mela­nina através de exames de microscópio é um método de laboratório que nos permite classificar os antigos egípcios inquestionavelmente entre as raças negras.

Medidas osteológicas
Dentre os critérios aceitos pela antropologia física para a classificação das raças o das medidas osteológicas (osteometria) talvez seja o menos engana­dor (por oposição à craniometria) para distinguir um homem branco de um negro. Também segundo esse critério, os egípcios pertencem às raças negras. Tal estudo foi realizado pelo eminente sábio alemão Lepsius, no final do século XIX, e suas conclusões continuam válidas: os progressos metodológi­cos subseqüentes, no campo da antropologia física, não invalidaram em nada aquilo que se conhece como “cânone de Lepsius”, que estabelece, em núme­ros redondos, as proporções corporais do egípcio ideal, de braços curtos e tipo físico negróide ou negrito 23.
Grupos sangüíneos
E importante notar que, mesmo hoje, os egípcios, particularmente no Alto Egito, pertencem ao mesmo Grupo B que as populações da África ocidental, no litoral atlântico, e não ao Grupo A2, característico da raça branca antes de qualquer miscigenação 24. Seria interessante estudar a extensão da distribuição do Grupo A2 nas múmias egípcias, o que, aliás, já é possível realizar mediante as técnicas atuais.
A raça egípcia segundo os autores clássicos da Antigüidade
Para os escritores gregos e latinos contemporâneos dos antigos egípcios, a classificação física desses últimos não colocava problemas: os egípcios eram negros, de lábios grossos, cabelo crespo e pernas finas; será difícil ignorar ou subestimar a concordância entre os testemunhos apresentados pelos autores em referência a um fato físico tão evidente quanto a raça de um povo. Alguns dos testemunhos que se seguem são contundentes.

(a) Heródoto, “o pai da História”, – 480 (?) a – 425.
Com relação à origem dos Kolchu 25, ele escreve:
“E, de fato, evidente que os colquídios são de raça egípcia (…) muitos egípcios me disseram que, em sua opinião, os colquídios eram descendentes dos soldados de Sesóstris. Eu mesmo refleti muito a partir de dois indicado­res: em primeiro lugar, eles têm pele negra e cabelo crespo (na verdade, isso nada prova, porque outros povos também os têm) e, em segundo lugar – e este é um indicador mais consistente – os egípcios e os etíopes foram os únicos povos, de toda a humanidade, a praticar a circuncisão desde tempos imemoriais. Os próprios fenícios e sírios da Palestina reconhecem que aprenderam essa prática com os egípcios, enquanto os sírios do rio Termodon e da região de Pathënios e seus vizinhos, os macrons, dizem tê-la aprendido, recentemente, com os colquídios. Essas são as únicas raças que praticam a circuncisão, e deve-se observar que a praticam da mesma maneira que os egípcios. Quanto aos próprios egípcios e aos etíopes, eu não poderia afirmar quem ensi­nou a quem essa prática, pois ela é, evidentemente, muito antiga entre eles. Quanto ao fato de o costume ter sido aprendido através dos egípcios, uma outra prova significativa para mim é o fato de que todos os fenícios que comerciam com a Grécia param de tratar suas partes pudendas conforme a maneira egípcia e não submetem seus filhos à circuncisão” 26.

Heródoto retorna várias vezes ao caráter negróide dos egípcios, e a cada vez o utiliza como dado de observação para discutir teses mais ou menos complexas. Assim, para provar que o oráculo grego de Dodona, no Épiro, era de origem egípcia, um de seus argumentos é o seguinte: “e, quando eles acrescentam que a pomba era negra, dão a entender que a mulher era egípcia”. 27 As pombas em questão – na verdade, eram duas, de acordo com o texto – simbolizam duas mulheres egípcias, que se dizia terem sido trazidas de Tebas, no Egito para fundar oráculos respectivamente na Grécia (Dodona) e na Líbia (oásis de Júpiter Amon). Heródoto não partilha da opinião de Anaxágoras segundo o qual as enchentes do Nilo seriam causadas pelo degelo nas montanhas da Etiópia 28. Apoiava-se no fato de que na Etiópia não chove nem neva, “e lá o calor torna os homens negros” 29.
b) Aristóteles, -384 a -322, cientista, filósofo e tutor de Alexandre, o Grande.
Num de seus trabalhos menores, Aristóteles tenta, com surpreendente ingenuidade, estabelecer uma correlação entre a natureza física e a natureza moral dos seres vivos, e nos fornece evidências sobre a raça egípcio-etíope que confirmam o testemunho de Heródoto. Segundo Aristóteles, “Aqueles que são muito negros são covardes como, por exemplo, os egípcios e os etíopes. Mas os excessivamente brancos também são covardes, como podemos ver pelo exem­plo das mulheres; a coloração da coragem está entre o negro e o branco” 30.
(c) Luciano, escritor grego, + 125 (?) a + 190.

O testemunho de Luçiano é tão explícito quanto os de Heródoto e Aris­tóteles. Ele apresenta dois gregos, Licino e Timolaus, que iniciam um diá­logo:
“Licino [descrevendo um jovem egípcio]: – Este rapaz não é simplesmente preto; ele tem lábios grossos e pernas muito finas (. . .) seu cabelo trançado atrás mostra que não é um homem livre.
Timolaus: – Mas no Egito esse é um sinal das pessoas muito bem-nascidas, Licino. Todas as crianças nascidas livres trançam o cabelo até atingirem a idade adulta. Esse é um costume exatamente oposto ao dos nossos ancestrais, que achavam conveniente, para os velhos, prender o cabelo com um broche de ouro, para mantê-lo em ordem” 31.
(d) Apolodoro, século I antes da era cristã, filósofo grego.
“Egito conquistou o país dos homens de pés negros e chamou-o Egito, a partir de seu próprio nome.” 32
(e) Esquilo, – 525(?) a – 456, poeta trágico e criador da tragédia grega.
Em As Suplicantes, Dânaos, fugindo com suas filhas, as Danaides, e per­seguido por seu irmão, Egito, e os filhos deste, os Egitíados, que querem desposar suas primas à força, sobe em uma colina, olha para o mar e descreve nos seguintes termos os Egitíados que remavam ao longe: “Posso ver a tripulação com seus membros negros e suas túnicas brancas” 33.
Uma descrição similar do tipo egípcio aparece novamente poucas linhas abaixo, no verso 745.
(f) Aquiles Tácio de Alexandria.
Compara os guardadores de gado do Delta aos etíopes e explica que são escuros, como mestiços.
(g) Estrabão, – 58 a aproximadamente + 25.
Estrabão visitou o Egito e quase todos os países do Império Romano. Concorda com a teoria de que os egípcios e os Kolchu são da mesma raça, mas sustenta que as migrações para a Etiópia e Cólquida vieram apenas do Egito.

“Os egípcios estabeleceram-se na Etiópia e na Cólquida.” 34 Não há qual­quer dúvida sobre a concepção de Estrabão a respeito da raça egípcia, pois ele procura, em outra parte, explicar por que os egípcios são mais escuros do que os hindus, circunstância que permitiria a refutação, se necessário, de qual­quer tentativa de confundir “a raça hindu e a raça egípcia”.
(h) Diodoro da Sicília, aproximadamente – 63 a + 14, historiador grego e contemporâneo de César Augusto.
Segundo Diodoro, provavelmente foi a Etiópia que colonizou o Egito (no sentido ateniense do termo, significando que, devido à superpopulação, parte do povo emigrou para o novo território).
“Os etíopes dizem que os egípcios são uma de suas colônias” 35, que foi levada para o Egito por Osíris. Eles afirmam que, no começo do mundo, o Egito era apenas um mar, mas que o Nilo, transportando em suas enchentes grandes quantidades de limo da Etiópia, terminou por colmatá-lo e tornou-o parte do continente (…) Acrescentam que os egípcios receberam deles como de seus autores e ancestrais a maior parte de suas leis.” 36
(i) Diógenes Laércio.
Sobre Zenão, fundador da escola estóica (- 333 a – 261), Diógenes escreveu o seguinte: “Zenão, filho de Mnaseas ou Demeas, era natural do Cício, em Chipre, uma cidade grega que havia recebido alguns colonos fenícios”. Em suas Vidas, Timóteo de Atenas descreve Zenão como tendo o pescoço torcido. Apolônio de Tiro diz que ele era frágil, muito alto e negro, daí o fato, citado por Crisipo no Primeiro Livro de seus Provérbios de algu­mas pessoas o chamarem “broto de videira egípcio” 37.

(j) Amiano Marcelino, aproximadamente + 330 a + 400, historiador latino e amigo do imperador Juliano.
Com ele, atingimos o ocaso do Império Romano e o fim da Antigüi­dade clássica. Quase nove séculos se passaram entre o nascimento de Ésquilo e Heródoto e a morte de Amiano Marcelino, nove séculos durante os quais os egípcios, em meio a um mar de raças brancas, se miscigenaram constante­mente. Pode-se dizer sem exagero que, no Egito, uma casa em cada dez incluía um escravo branco, asiático ou indo-europeu 38.
É notável que, apesar de sua intensidade, a miscigenação não tenha alte­rado significativamente as constantes raciais. De fato, Amiano Marcelino es­creve: “. . . a maior parte dos homens do Egito são morenos ou negros, com uma aparência descarnada” 39. Ele também confirma o depoimento já citado sobre os Kolchu: “Além destas terras está a pátria dos Camarita 40, e o Fásis, com sua correnteza veloz, banha o país dos Kolchu, uma antiga raça de origem egípcia” 41.
Esta rápida revisão dos testemunhos apresentados pelos antigos escritores greco-latinos sobre a raça egípcia mostra que o grau de concordância entre eles é impressionante, constituindo um fato objetivo difícil de subestimar ou ocultar. A moderna egiptologia oscila constantemente entre esses dois pólos.
Foge à regra o testemunho de um cientista honesto, Volney, que viajou pelo Egito entre 1783 e 1785 – isto é, em pleno período da escravidão negra – e fez as seguintes observações sobre os coptas (representantes da verda­deira raça egípcia, aquela que produziu os faraós).

“Todos eles têm faces balofas, olhos inchados e lábios grossos, em uma palavra, rostos realmente mulatos. Fiquei tentado a atribuir essas características ao clima, até que, visitando a Esfinge e olhando para ela, percebi a pista para a solução do enigma. Completando essa cabeça, cujo traços são todos caracteristicamente negros, lembrei-me da conhecida passagem de Heródoto: “De minha parte, considero os Kolchu uma colônia do Egito porque, como os egípcios, eles têm a pele negra e o cabelo crespo”. Em outras palavras, os antigos egípcios eram verdadeiramente negros, da mesma matriz racial que os povos autóctones da África; a partir desse dado, pode-se explicar como a raça egípcia, depois de alguns séculos de miscigenação com sangue romano e grego, perdeu a coloração original completamente negra, mas reteve a marca de sua configuração. É mesmo possível aplicar essa observação de maneira ampla, e afirmar, em princípio, que a fisionomia é uma espécie de documento, utilizável em muitos casos para discutir ou elucidar os indícios da história sobre a origem dos povos…”
Depois de ilustrar esta proposição com o caso dos normandos, que, nove­centos anos depois da conquista da Normandia, ainda se assemelham aos dinamarqueses, Volney acrescenta:
“Mas, voltando ao Egito, sua contribuição para a história fornece muitos temas para a reflexão filosófica. Que temas importantes para meditação: a atual barbárie e ignorância dos coptas, considerados como tendo nascido do gênio dos egípcios e dos gregos; o fato de esta raça de negros, que hoje são escravos e objeto de nosso menosprezo, ser a mesma a quem devemos nossa arte, nossas ciências e mesmo o uso da palavra escrita; e, finalmente, o fato de, entre os povos que pretendem ser os maiores amigos da liberdade e dahumanidade ter-se sancionado a escravidão mais bárbara e questionado se os negros teriam cérebros da mesma qualidade que os cérebros dos brancos!” 42

A esse depoimento de Volney, Champollion-Figeac, irmão de Cham­pollion, o Jovem, iria responder nos seguintes termos: “Os dois traços físicos apresentados – pele negra e cabelo crespo – não são suficientes para rotular uma raça como negra, e a conclusão de Volney quanto à origem negra da antiga população do Egito é nitidamente forçada e inadmissível”. 43
Ser preto da cabeça aos pés e ter cabelo crespo não é suficiente para fazer de um homem um negro! Isso nos mostra o tipo de argumentação cap­ciosa a que a egiptologia tem recorrido desde seu nascimento como ciência. Alguns estudiosos sustentam que Volney estava tentando desviar a discussão para um plano filosófico. Mas basta reler Volney: ele simplesmente faz inferências a partir de fatos materiais brutos que se impõem como provas aos seus olhos e à sua consciência.

Os egípcios vistos por si mesmos
Não é perda de tempo conhecer o ponto de vista dos principais envolvidos. Como os antigos egípcios viam a si mesmos? Em que categoria étnica se colocavam? Como denominavam a si mesmos? A língua e a literatura que os egípcios da época faraônica nos deixaram fornecem respostas explícitas a essas questões, que os acadêmicos insistem em subestimar, distorcer e “interpretar”.
Os egípcios tinham apenas um termo para designar a si mesmos: = kmt = “os negros” (literalmente) 44. Esse é o termo mais forte existente na língua faraônica para indicar a cor preta; assim, é escrito com um hieróglifo representando um pedaço de madeira com a ponta carbonizada, e não com escamas de crocodilo 45. Essa palavra é a origem etimológica da conhecida raiz kamit, que proliferou na moderna literatura antropológica. Dela deriva, provavelmente, a raiz bíblica kam. Portanto foi necessário distorcer os fatos para fazer com que essa raiz atualmente signifique “branco” em egiptologia, enquanto, na língua-mãe faraônica de que nasceu, significava “preto­-carvão”.
Na língua egípcia, o coletivo se forma a partir de um adjetivo ou de um substantivo, colocado no feminino singular. Assim, kmt, do adjetivo = km = preto, significa rigorosamente “negro”, ou, pelo menos, “homens pretos”. O termo é um coletivo que descrevia, portanto, o conjunto do povo do Egito faraônico como um povo negro.

Em outras palavras, no plano puramente gramatical, quando, na língua faraônica, se deseja indicar “negros”, não se pode usar nenhuma outra palavra senão a que os egípcios usavam para designar a si mesmos. Além disso, a língua nos oferece um outro termo, = kmtjw = os negros, os homens pretos (literalmente) = os egípcios, opondo-se a “estrangeiros”, que vem da mesma raiz, km, e que os egípcios também utilizavam para descrever a si mesmos como um povo distinto de todos os povos estrangeiros 46. Esses são os únicos adjetivos de nacionalidade usados pelos egípcios para designarem a si mesmos, e ambos significam “negro” ou “preto” na língua faraônica. Os acadêmicos raramente os mencionam ou, quando o fazem, traduzem-nos por eufemismos, tais como “os egípcios”, nada dizendo sobre seu sentido etimológico 47. Eles preferem a expressão = Rmt kmt = os homens do país dos homens negros ou os homens do país negro.
Em egípcio, as palavras são normalmente seguidas de um determinante, indicando seu sentido exato; para essa expressão particular, os egiptólogos sugerem que = km = preto e que a cor qualifica o determinanteque o segue e que sígnifica “país”. Assim, eles alegam que a tradução deveria ser “a terra negra”, a partir da cor do limo ou “o país negro”, e não “o país dos homens negros”, como tenderíamos a interpretar hoje em dia, tendo em mente a África branca e a África negra. Talvez estejam certos; mas, se apli­carmos essa regra rigorosamente a = kmit, seremos obrigados a “admitir que aqui o adjetivo ‘preto’ qualifica o determinante, que significa todo o povo do Egito, representado pelos dois símbolos de ‘homem’ e ‘mu­lher’ e os três traços embaixo, designando plural”. Assim, se é possível levan­tar alguma dúvida sobre a expressão = kme não é possível fazê-lo no caso dos dois adjetivos de nacionalidade kmt e kmtjw, a menos que se estejam escolhendo os argumentos sem nenhum critério.

É interessante notar que os antigos egípcios nunca tiveram a idéia de aplicar esses qualificativos aos núbios e a outras populações da África, para distingui-las deles mesmos, da mesma forma que um romano, no apogeu do Império, não usaria um adjetivo de “cor” para se distinguir dos germânicos da outra margem do Danúbio, que eram da mesma matriz étnica mas se encontravam ainda num estádio de desenvolvimento pré-histórico.
Nos dois casos, ambos os lados pertenciam ao mesmo universo, em termos de antropologia física; portanto os termos usados para distingui-los relacionavam-se ao grau de civilização ou tinham sentido moral. Para o romano civilizado, os germânicos, da mesma matriz étnica, eram bárbaros. Os egípcios usavam a expressão= nahas para designar os núbios; e nahas 48, em egípcio, é o nome de um povo, sem conotação de cor. Trata-se de um equívoco deliberado traduzi-lo como “negro”, como aparece em quase todas as publicações atuais.

Os epítetos divinos
Finalmente, preto ou negro é o epíteto divino invariavelmente utilizado para designar os principais deuses benfeitores do Egito, enquanto os espíritos malévolos são qualificados como desrêt = vermelho. Sabemos que, entre os africanos, esse termo se aplica às nações brancas; é quase certo que isso seja verdade também para o Egito mas, neste capítulo, quero ater-me ao plano dos fatos menos sujeitos a controvérsias.
Os deuses recebiam os, seguintes epítetos:
= kmwr = o “Grande Negro” para Osíris 49;
= km = negro + o nome do deus 50;
= kmt = negro + o nome da deusa 51.

O qualificativo km (negro), , é aplicado a Hátor, Apis, Min, Tot, etc. setkmt = a mulher negra = Ísis 52. Por outro lado, seth, o deserto estéril, é qualificado pelo termo desrêt = vermelho 53. Os animais selvagens, que Hórus combateu para criar a civilização, são qualificados como desrêt = vermelhos, especialmente o hipopótamo 54. Analogamente, os seres malévolos expulsos por Tot são des = = desrtjw = os verme­lhos. Esse termo é o inverso gramatical de Kmtjw, e sua construção segue a mesma regra que a da formação de nisbés.

Testemunho da Bíblia
A Bíblia nos diz: “…os filhos de Cam [foram] Cush, e Mizraim (isto é, Egito), e Fut, e Canaã. E os filhos de Cush, Saba, e Hevila, e Sabata, e Regna, e Sabataca” 55.
De maneira geral, toda a tradição semítica (judaica e árabe) classifica o antigo Egito entre os países dos negros.
A importância desses depoimentos não pode ser ignorada, porque os judeus eram povos que viviam lado a lado com os antigos egípcios e, algumas vezes, em simbiose com estes, e nada tinham a ganhar apresentando uma falsa imagem étnica dos mesmos. Da mesma forma, neste caso não se sustenta a noção de uma interpretação errônea dos fatos 56.

Dados culturais
Dentre os inúmeros traços culturais idênticos documentados no Egito e na África negra dos nossos dias, vamos referir-nos apenas à circuncisão e ao totemismo.
Segundo o excerto de Heródoto citado anteriormente, a circuncisão é de origem africana. A arqueologia confirmou a opinião do Pai da História: Elliot-Smith pôde comprovar, a partir do exame de múmias bem conservadas, que a circuncisão já era praticada, entre os egípcios, em tempos que remontam à era proto-histórica 57, isto é, a antes de – 4000.
O totemismo egípcio manteve sua vitalidade até o período romano 58, e Plutarco também o menciona. As pesquisas de Amélineau 59, Loret, Moret e Adolphe Reinach demonstraram claramente a existência de um sistema totêmico no Egito, refutando os defensores da tese da zoolatria.
“Se reduzirmos a noção de totem à de um fetiche, geralmente animal, representando uma espécie com a qual a tribo acredita ter laços especiais, renovados periodicamente, e que é carregado para a batalha como um estandarte; se aceitarmos essa definição de totem, mínima mas adequada, pode-se dizer que não há outro país onde o totemismo tenha tido um reinado mais brilhante do que no Egito, e nenhum outro lugar onde ele possa ser mais bem estudado” 60



Afinidade lingüística
O walaf 61, língua senegalesa falada no extremo oeste da África, na costa atlântica, é, talvez, tão próxima do egípcio antigo quanto o copta. Recentemente foi feito um estudo exaustivo sobre essa questão 62. Neste capítulo, apresenta­mos apenas o suficiente para mostrar que o parentesco entre as línguas do antigo Egito e as da África não é uma suposição, mas um fato demonstrável e impossível de ser ignorado pelos círculos acadêmicos.
Como veremos, o parentesco é de natureza genealógica.

Egípcio Copta Walaf
= kef = agarrar, pegar, despojar (de alguma coisa) 63 (dialeto saídico) keh = domesticar 64 Kef = apanhar uma presa.

Conclusão
A estrutura da realeza africana, em que o rei é morto, real ou simbolicamente, depois de um reinado de duração variável – em torno de oito anos -, lembra a cerimônia de regeneração do faraó, através da festa de Sed. Os ritos de circuncisão já mencionados, o totemismo, as cosmogonias, a arquitetura, os instrumentos musicais, etc. também são reminiscências do Egito na cultura da África Negra 70. A Antigüidade egípcia é, para a cultura africana, o que é a Antigüidade greco-romana para a cultura ocidental. A constituição de um corpus de ciências humanas africanas deve ter isso como base.
Çompreende-se como é difícil escrever um capítulo como este numa obra deste gênero, onde o eufemismo e a transigência via de regra, prevalecemcem. Por isso, na tentativa de evitar o sacrifício da verdade científica, insistimos na realização de três sessões preliminares à preparação deste volume o que foi aceito na sessão plenária realizada em 1971 71. As primeiras duas sessões levaram à realização do simpósio do Cairo, de 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 1974 72. Gostaria de mencionar algumas passagens do relatório desse simpósio. O professor Vercoutter, que fora encarregado pela Unesco de escrever o relatório preliminar, reconheceu, depois de uma discussão exaustiva, que a idéia convencional de que a população egípcia se dividia eqüitativamente em brancos, negros e mestiços não podia ser mantida:
“O professor Vercoutter concordou que não se deve tentar estimar porcentagens; elas nada significariam na medida em que não se dispõe de dados estatísticos confiáveis para calculá-las”.
Sobre a cultura egípcia consta no relatório:
“O professor Vercoutter observou que, de seu ponto de vista, o Egito era africano quanto à escrita, à cultura e à maneira de pensar”
O professor Leclant, por sua vez, “reconheceu o mesmo caráter africano no temperamento e maneira de pensar egípcios”.

Quanto à lingüística, afirma-se no relatório que “este item, ao contrário dos outros discutidos anteriormente, revelou um alto grau de concordância entre os participantes. O relatório elaborado pelo professor Diop e o relatório do professor Obenga foram considerados muito construtivos”.
Da mesma maneira, o simpósio rejeitou a idéia de que o egípcio faraônico era uma língua semítica. “Abordando questões mais amplas, o professor Sau­neron chamou a atenção para o interesse do método sugerido pelo professor Obenga, seguindo o professor Diop. O egípcio manteve-se como uma língua estável por um período de, pelo menos, 4 500 anos. O Egito situa-se no ponto de convergências externas, e seria de se esperar, portanto, que se fizessem em­préstimos de outras línguas; mas as raízes semíticas se reduzem a algumas cen­tenas, para um total de muitos milhares de palavras. A língua egípcia não pode ser isolada de seu contexto africano, e sua origem não pode ser total­mente explicada a partir das línguas semíticas. Portanto é natural que se espere encontrar na África línguas aparentadas ao egípcio”.
A relação genética – isto é, não acidental – entre o egípcio e as lín­guas africanas foi reconhecida: “O professor Sauneron observou que o método utilizado era muito interessante, uma vez que a similaridade entre os sufixos dos pronomes da terceira pessoa do singular no egípcio antigo e na língua walaf não poderia ser mera casualidade; ele espera que se tente no egípcio antigo e na língua walaf reconstituir uma língua paleoafricana, tomando como ponto de partida as línguas atuais”.

Na conclusão geral do relatório, afirmava-se: “a despeito das especifica­ções constantes do texto preparatório distribuído pela Unesco, nem todos os participantes prepararam comunicações comparáveis às dos professores Cheikh Anta Diop e Obenga, meticulosamentc elaboradas. Conseqüentemente, houve uma considerável falta de equilíbrio nas discussões”.
Assim, escreveu-se no Cairo uma nova página da historiografia africana. O simpósio recomendou que se fizessem novos estudos sobre o conceito de raça. Tais estudos têm sido realizados desde então, mas não trouxeram nada de novo à discussão histórica. Dizem-nos que a biologia molecular e a genética reconhecem apenas a existência de populações, e que o conceito de raça já não tem qualquer significado. No entanto, sempre que aparece alguma questão sobre a transmissão de doenças hereditárias, o conceito de raça, no sentido mais clássico do termo, reaparece, pois a genética nos ensina que “a anemia falciforme ocorre apenas entre os negros”. A verdade é que todos estes “antropólogos” já esquematizaram em suas mentes as conclusões deriva­das do triunfo da teoria monogenética da humanidade, sem ousar dizê-lo expli­citamente, pois, se a humanidade teve origem na África, foi necessariamente negróide antes de se tornar branca através de mutações e adaptações, no final da última glaciação na Europa, no Paleolítico Superior. E agora compreen­de-se muito melhor por que os negróides grimaldianos ocuparam a Europa 10 mil anos antes do aparecimento do Homem de Cro-Magnon, protótipo da raça branca (por volta de – 20000).

O ponto de vista ideológico também é evidente em estudos aparentemente objetivos. Na
história e nas relações sociais, o fenótipo – isto é, o indivíduo ou o povo tais como são percebidos – é o fator dominante, em oposição ao genótipo. A genética atual nos autoriza a imaginar um Zulu com o “mesmo” genótipo de Vorster. Isso significa que a história que testemunhamos colo­cará esses dois fenótipos – isto é, os dois indivíduos – no mesmo nível em todas as suas atividades nacionais e sociais? Certamente não – a oposição continuará sendo étnica, e não social. Este estudo torna necessário que se reescreva a história da humanidade a partir de um ponto de vista mais científico, levando em conta o componente negro-africano, que foi, por longo tempo, preponderante. Assim, é, doravante, possível constituir um corpus de ciências humanas negro-africanas apoiado em bases históricas sólidas, e não suspenso no ar. Finalmente, se é fato que só a verdade é revolucionária, deve-se acrescentar que só um rapprochement realizado com base na verdade será dura­douro. Não se contribui para a causa do progresso humano lançando um véu sobre os fatos.
A redescoberta do verdadeiro passado dos povos africanos não deverá ser um fator de divisão, mas contribuir para uni-los, todos e cada um, estrei­tando seus laços de norte a sul do continente, permitindo-lhes realizar, juntos, uma nova missão histórica para o bem da humanidade, e isto em consonância com os ideais da Unesco 73.

O mais provável, contudo, é que os motivos do líder núbio continuem mergulhados na obscuridade, tal como a história de seu povo.

Um afro abraço.

fonte:Texto extraído de A África Antiga/ coordenador do volume G. Mokhtar; (tradução Carlos Henrique Davidoff… et al.). – São Paulo: Ática (Paris): Unesco; 1983.
(História Geral da África, v.2).Acima do título: Comitê Científico Internacional para a Redação de uma História Geral da Áftica (Unesco).

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O que é ser afro-brasileiro e qual o conceito...

O antropólogo Darcy Ribeiro considerava o contingente negro e mulato "o mais brasileiro dos componentes do nosso povo" vez que, desafricanizado pela escravidão e não sendo indígena nem branco reinol, só restava a ele assumir uma identidade plenamente brasileira. Isto não quer dizer que negros e mulatos tenham se integrado à sociedade brasileira sem serem estigmatizados. Muito pelo contrário, muitos brasileiros desenvolveram vergonha das suas origens negras, seja pelo fato de que descender de escravos remete a um passado de humilhações e sofrimentos que deveria ser esquecido ou pelos estereótipos negativos que foram construídos em torno da negritude, associando-a a mazelas sociais como a pobreza e a criminalidade.

Pra começo de conversar quem somo e de onde viemos: A  escravidão...
Segundo o historiador Orlando Patterson, praticamente não existe ser humano que não seja descendente de escravos ou de senhores de escravos. A escravidão foi adotada em diversas sociedades humanas, em diferentes regiões do mundo, vigorando nas populações mais primitivas até as civilizações mais sofisticadas.

No que viria a ser o Brasil, a escravidão já era praticada pelos índios, na sua forma mais primitiva, bem antes da chegada dos europeus. Entre os tupinambás, a escravidão não tinha um valor econômico, vez que os cativos serviam para serem exibidos como troféus de valor militar e honra ou como carne a ser devorada em rituais canibalescos que poderiam acontecer até quinze anos após a captura.


Pesquisas arqueológicas mostram que a escravidão foi praticada na Europa pelo menos desde o. Com a revolução urbana, iniciada a partir do V milênio a. C., os prisioneiros de guerra, no lugar de serem sacrificados em cerimônias antropofágicas, passaram a ser usados como trabalhadores cativos. O sistema escravista alcançou seu auge entre os europeus nas civilizações grega e romana, época em que milhares de pessoas foram traficadas como escravas no Mar Negro e no Mediterrâneo. A maioria desses escravos eram europeus, embora também viessem das colônias na África e na Ásia. A escravidão declinou no norte da Europa no fim da Idade Média, porém persistiu no sul até a Idade Moderna.
Entre os povos mais primitivos da África Subsaariana, assim como entre os índios do Brasil, os escravos raramente tinham um valor econômico, sendo símbolo de prestígio. Porém, a medida que os povos subsaarianos mais simples passaram a ter contato com povos mais avançados, os escravos geralmente constituíam a única mercadoria que eles poderiam oferecer em troca de bens de luxo. Em 1580 a.C, navios já partiam do Egito para a Somalilândia com o único objetivo de capturar escravos. Com o avanço do islamismo na Península Arábica e no Norte da África, o tráfico de escravos negros se intensificou, com a formação de postos comerciais na África oriental por comerciantes árabes. No início da Idade Média, traficantes árabes penetraram a África ocidental e iniciaram o tráfico transaariano de escravos, que culminou na escravização de milhões de africanos negros que foram mandados para as regiões islamizadas do norte da África e para os países árabes.

Portanto, assumir-se negro no Brasil sempre foi muito difícil, por todo o conteúdo ideológico anti-negro que historicamente se desenvolveu no país, onde ainda hoje impera a ideologia do branqueamento e um padrão branco-europeu estético e cultural. Portanto, no Brasil, apenas as pessoas de pele preta retinta são consideradas negras, sendo que o mulato já é pardo e portanto meio-branco e, se tiver a pele um pouco mais clara, passa a ser visto como branco. No passado, era raro o mulato saltar para o lado negro de sua dupla natureza vez que, diante da massa de negros afundados na miséria, com eles não queria se confundir.
O tráfico transatlântico de africanos escravizados....

Nenhum continente foi tão afetado pela escravidão como a África. O último e o maior sistema escravista da História da humanidade foi o tráfico de africanos para as Américas. Praticamente todos os povos da Europa ocidental estiveram envolvidos nesse altamente lucrativo tráfico, embora Portugal, Holanda, Inglaterra e França tenham se destacado. Com a chegada dos europeus ao continente africano no século XVI, o tráfico de escravos, intenso há vários séculos, cresceu ainda mais. Em troca de mercadoria e dinheiro oferecidos pelos comerciantes europeus, vários povos africanos venderam pessoas de tribos vizinhas para os traficantes de pessoas. Como resultado do estímulo econômico advindo do comércio de escravos, surgiram na África Estados centralizados cuja economia estava fortemente dependente da venda de escravos, como Daomé e o Império Ashanti. Neste processo, os comerciantes europeus e a elite africana lucravam por meio da escravização de milhões de africanos. De maneira geral, havia oito meios pelos quais as pessoas poderiam ser escravizadas:


Captura em guerras;

Rapto;
Pagamento de tributos e impostos;
Dívida;
Punição por crimes;
Abandono e venda de crianças;
Auto-escravização;
Nascimento

A maioria dos africanos chegou às Américas por meio de rapto, ou seja, foram vítimas de ataques e incursões feitas com o único propósito de se adquirir escravos. A maioria dos raptos eram feitos por intermediários africanos, que penetravam tribos vizinhas e vendiam os seus membros aos europeus embora, em muitos casos, os raptos fossem feitos pessoalmente pelos portugueses. A segunda forma mais comum da escravização foi por meio de capturas em guerras. Prisioneiros de guerra eram reduzidos à escravidão pela tribo vencedora e destinados à escravidão nas Américas. Rapto e captura em guerras não devem ser confundidos pois, no primeiro caso, a tribo é atacada com o único objetivo de se obter escravos e, no segundo, a tribo é escravizada como consequência de ter sucumbido na guerra. Patterson estima que, dos 1,6 milhão de africanos entrados no Novo Mundo antes do final do século XVII, 60% podem ter sido prisioneiros de guerra, enquanto menos de um terço foi raptado. Porém, dos 7,4 milhões entrados entre 1701 e 1810, 70% foram raptados e 20% foram vítimas de guerra.

Destinos dos escravos africanos (1519–1867)
DestinoPorcentagem
América Portuguesa38,5%
América Britânica (menos a América do Norte)18,4%
América Espanhola17,5%
América Francesa13,6%
América do Norte Inglesa6,45%
América Inglesa3,25%
Antilhas Holandesas2,0%
Antilhas Dinamarquesas0,3%
Participação do Brasil no trafico de seres humanos africanos...O Brasil recebeu cerca de 38% de todos os escravos africanos que foram trazidos para a América. A quantidade total de africanos subsaarianos que chegaram ao Brasil tem estimativas muito variadas: alguns citam mais de três milhões de pessoas, outros quatro milhões. Segundo uma estimativa, de 1501 a 1866, foram embarcados na África com destino ao Brasil 5.532.118 africanos, dos quais 4.864.374 chegaram vivos (667.696 pessoas morreram nos navios negreiros durante o trajeto África-Brasil). O Brasil foi, de longe, o país que mais recebeu escravos no mundo. Em comparação, no mesmo período, com destino à América do Norte foram embarcados 472.381 africanos, dos quais 388.747 chegaram vivos (83.634 não sobreviveram).

De acordo com a estimativa do IBGE, o número total de africanos que chegou ao Brasil foi de 4.009.400.

Os portugueses lideraram o tráfico de escravos por séculos. Herdaram da tradição islâmica sua cultura técnica, fundamentalmente para a navegação, produção de açúcar e incorporação de negros escravos para a força de trabalho. A mão-de-obra escrava de africanos na produção de açúcar já estava sendo utilizada nas ilhas atlânticas da Madeira e dos Açores à época do descobrimento do Brasil, seguindo uma nova forma de organização de produção: a fazenda. No início do século XVI, cerca de 10% da população de Lisboa era composta por escravos africanos, número surpreendentemente alto para um contexto europeu. Os portugueses, mais do que qualquer outro povo europeu, estavam culturalmente condiciados a lidar com povos de pele mais escura e preparados para contingenciar indígenas ao trabalho forçado e a aliciar multidões de africanos com o intuito de viabilizar seus interesses econômicos. O Brasil se configurou como uma formação colonial-escravista de caráter agromercantil. Primeiramente, o português usou do trabalho forçado do indígena. Porém, com a deterioração dessa população aborígene, o tráfico de pessoas oriundas da África se intensificou gradativamente, passando a compor a massa de trabalhadores no Brasil.
Entrada de escravos africanos no Brasil


(IBGE)
Período1500-17001701-17601761-18291830-1855
Quantidade510.000958.0001.720.000718.000
Nos últimos anos, contudo, cada vez mais brasileiros se assumem como negros. Isso é consequência do sucesso dos negros americanos, vistos pelos brasileiros como uma "vitória da raça" e, principalmente, devido à ascensão social de parcela da população afrodescendente que, tendo acesso à educação e a melhores oportunidades de emprego, deixa de ter vergonha de assumir a sua cor.

Raça é um conceito social, político e ideológico, não tendo uma sustentação biológica, vez que não é possível separar biologicamente seres humanos em raças distintas. Em um país profundamente miscigenado como o Brasil, não é fácil definir quem é negro, vez que muitos brasileiros aparentemente brancos são parcialmente descendentes de africanos, assim como muitos negros são parcialmente descendentes de europeus. Para o Movimento Negro, são consideradas negras todas as pessoas que têm essa aparência. Para o antropólogo Kabegele Munanga, da USP, a questão é problemática e, segundo ele, deve prevalecer a autoclassificação. Portanto, se uma pessoa, aparentemente branca, se declara negra e se candidata a uma vaga com base em cotas raciais, a sua decisão deve ser respeitada.

Se liga:
No censo do IBGE de 2010, 7,6% dos brasileiros identificaram sua cor ou raça como preta, 43,1% como parda e 47,7% como branca. Estes dados, contudo, devem ser analisados com cautela, haja vista a histórica tendência ao branqueamento que se observa nas

classificações raciais no país. Para efeitos estatísticos, o IBGE classifica como população negra a soma dos pretos e pardos,embora esta metodologia venha a ser questionada por alguns.

"O estado brasileiro, que historicamente assumiu diversas atitudes claramente racistas, como no final do século XIX, quando proibiu a entrada de imigrantes africanos e asiáticos no país, ao mesmo tempo em que promovia a entrada de imigrantes europeus, recentemente tem se redimido e tomado atitudes políticas que visam a melhora das condições de vida da população negra, tanto do ponto de vista sócio-econômico como ideológico. Dentre as quais, a Lei nº 10.639 de 2003, que tornou obrigatório o ensino da História e cultura afro-brasileira nas escolas, a Lei nº 12.288 de 2010, que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial, a Lei nº 12.519 de 2011 que instituiu o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra e Lei nº 12.711 de 2012 que tornou obrigatória a reserva de cotas raciais no Ensino Superior".


Um afro abraço.

fonte:Wikipédia, a enciclopédia livre.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Francisca da Silva de Oliveira, ou simplesmente Chica da Silva (Serro, ca. 1732 - 15 de
fevereiro de 1796 ), foi uma escrava, posteriormente alforriada, que viveu no Arraial do Tijuco, atual Diamantina, Minas Gerais, durante a segunda metade do século XVIII.

"Não é consenso entre pesquisadores como seria a aparência física de Chica e se seria este o atributo que seduzira o contratador. O historiador Joaquim Felício dos Santos, que chegou a recolher depoimentos de pessoas que conviveram com Chica, não poupa palavras para descaracteriza-la: "(...) não possuia graça, não possuia beleza, não possuia espírito, não tivera educação, enfim não possuia atrativo algum que pudesse justificar uma forte paixão", diz. Já Nazaré de Menezes diz o contrário: "poderia ser grosseira, mas nunca odienta e asquerosa (...) não fosse não teria inspirado paixão tão ardente e duradoura"
Manteve durante mais de quinze anos uma união consensual estável com o rico contratador dos diamantes João Fernandes de Oliveira tendo com ele treze filhos. O fato de uma escrava alforriada ter atingido posição de destaque na sociedade local durante o apogeu da exploração de diamantes deu origem a diversos mitos.
Origens e escravidão

Chica da Silva era filha de Antônio Caetano de Sá, homem branco, provavelmente nascido e batizado na Candelária, no Rio de Janeiro. Pouco se sabe sobre o pai de Chica a não ser que, em 1726, ocupava o posto de capitão das ordenanças de Bocaina, Três Cruzes e Itatiaia, distritos de Vila Rica. Isto indica que Antônio ocupava uma posição de distinção e
honra na sociedade. Chica herdou a condição de escrava da sua mãe, Maria da Costa. Africana da Costa da Mina, onde hoje se situam o Benim e a Nigéria, Maria foi trazida para o Arraial do Milho Verde ainda criança, por volta de 1720. Era escrava de Domingos da Costa, homem negro e forro. Chica foi registrada no Arraial do Milho Verde, no município de Serro Frio, atual Serro.

Quando ainda era escrava, Chica da Silva era tratada nos documentos como "Francisca mulata" ou "Francisca parda", vez que os escravos não tinham sobrenome e normalmente eram diferenciados de acordo com seu grupo étnico ou cor da pele. Contudo, em 1754, Chica já era identificada num documento como "Francisca da Silva, parda forra". O sobrenome Silva, bastante comum no mundo português, era adotado normalmente por pessoas sem procedência ou origem definida, fato que indica que Chica conquistou sua liberdade por conta própria, sem apadrinhamentos ou conexões. Com o nascimento da primeira filha, foi identificada no registro de batismo como "Francisca da Silva de Oliveira", denotando um pacto informal com seu companheiro, o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira.

Na juventude, Chica foi escrava do sargento-mor português Manuel Pires Sardinha , proprietário de lavras no Arraial do Tijuco. Nesta época, teve com ele um filho, Simão Pires Sardinha, nascido em 1751, que teve como padrinho de batismo o então Capitão dos Dragões do Distrito Diamantino, em homenagem ao qual recebeu o nome. O registro de batismo deste filho não declara a sua paternidade, mas Manuel Pires Sardinha deu-lhe alforria e nomeou-o como um de seus herdeiros no seu testamento, daí o uso do mesmo sobrenome. Simão foi educado em Portugal e veio a ocupar cargos importantes no governo da Corte.
Alforria e família

Em 1754, João Fernandes de Oliveira chegou ao Arraial do Tijuco para assumir a função de contratador dos diamantes , que vinha sendo exercida por seu pai homônimo desde 1740. Em 1754, Chica da Silva foi adquirida ou alforriada pelo novo explorador de diamantes, quando então passou a viver com o contratador, ainda que nunca tivessem se casado oficialmente.

Com João Fernandes ela teve treze filhos durante os quinze anos em que com ele conviveu: Francisca de Paula (1755); João Fernandes (1756); Rita (1757); Joaquim (1759); Antonio
Caetano (1761); Ana (1762); Helena (1763); Luiza (1764); Antônia (1765); Maria (1766); Quitéria Rita (1767); Mariana (1769); José Agostinho Fernandes (1770). Todos foram registados no batismo como sendo filhos de João Fernandes, ato incomum na época quando os filhos bastardos de homens brancos e escravas eram registrados sem o nome do pai.


Entre 1755 e 1770 João Fernandes e Chica da Silva habitaram a edificação existente no que hoje é a praça Lobo de Mesquita, no número 266, em Diamantina .

A união consensual estável de João Fernandes e Chica da Silva não foi um caso isolado na sociedade colonial brasileira de envolvimento de homens brancos com escravas. Distinguiu-se por ter sido pública, intensa e duradoura, além de envolver um dos homens mais ricos da região durante o apogeu econômico .

Os companheiros separaram-se em 1770, quando João Fernandes de Oliveira precisou retornar a Portugal para receber os bens deixados em testamento pelo pai. Ao partir, João

Fernandes levou consigo os seus quatro filhos homens. Em Portugal, os filhos homens de Chica da Silva receberam educação superior, ocuparam postos importantes na administração do Reino e até receberam títulos de nobreza .

Chica da Silva ficou no Arraial do Tijuco com as filhas e a posse das propriedades deixadas por João Fernandes, o que lhe garantiu uma vida confortável . Suas filhas receberam a melhor educação que se dava às moças da aristocracia local naquela época , sendo enviadas para o Recolhimento de Macaúbas , em Santa Luzia, onde aprenderam a fazer tricô, foram letradas, receberam instrução musical. Dali, só saíram em idade de se casar, embora algumas tenham seguido a vida religiosa.

Apesar de ser uma concubina, Chica da Silva alcançou prestígio na sociedade local e usufruiu das regalias privativas das senhoras brancas. Na época, todas as pessoas se associavam a irmandades religiosas de acordo com a sua posição social. Chica da Silva pertencia às Irmandades de São Francisco e do Carmo, que eram exclusivas de brancos, mas também às irmandades das Mercês - composta por mulatos - e do Rosário - reservada aos negros.
Portanto, Chica da Silva tinha renda para realizar doações a quatro irmandades diferentes, era aceita como parte da elite local composta quase que exclusivamente por brancos , mas também mantinha laços sociais com mulatos e negros por meio de suas irmandades. Apesar disto, como era costume da época, logo que foi alforriada passou a ser dona de vários escravos que cuidavam das atividades domésticas de sua casa.

Faleceu em 1796. Como era costume na época, Chica da Silva tinha o direito de ser sepultada dentro da igreja de qualquer uma das quatro irmandades a que pertencia. Foi sepultada dentro da igreja de São Francisco de Assis pertencente a mais importante irmandade local, um privilégio quase que exclusivo dos brancos ricos, o que demonstra que mantinha a condição social mais alta mesmo vários anos após a partida de João Fernandes para Portugal.


DescendênciaAo longo de sua vida, Chica da Silva teve quatorze filhos. O primogênito, Simão Pires Sardinha, era filho de seu antigo proprietário, Manuel Pires Sardinha e os outros treze do seu companheiro, João Fernandes de Oliveira. Chica e João Fernandes procuraram dar a melhor educação possível para seus filhos, de forma a garantir a sua inserção na sociedade. Os filhos homens se mudaram para Portugal junto com o pai em 1770 e todos lograram sucesso profissional: João Fernandes de Oliveira Grijó, o primogênito masculino, tornou-se o principal herdeiro do pai, porém a cor escura que herdara da mãe representou um problema para encontrar uma esposa, tanto que casou aos 28 anos com uma portuguesa humilde, filha de lavradores; José Agostinho recebeu a patente de capitão de milícias no Tejuco; Simão Pires Sardinha, que teve uma participação não esclarecida na Inconfidência Mineira, tornou-se nobre e amigo do príncipe regente D. João VI.

As filhas ficaram em Minas Gerais sob os cuidados de Chica, tendo sido mandadas para o Recolhimento de Macaúbas, onde as filhas da elite mineira eram recolhidas. Chica

preocupou-se em garantir bons casamentos para as suas filhas, pois na época o matrimônio ou o recolhimento religioso configuravam as duas únicas alternativas para as mulheres ditas "honradas". Apesar de serem mulatas, muitas das filhas de Chica casaram com homens portugueses, denotando que a herança que receberam do pai lhes garantiu um dote razoável, capaz de garantir casamento com consorte de melhor condição.

Segundo a historiadora Júnia Furtado, o que se depreende da história dos descendentes de Chica é a dualidade da inserção social dos descendentes de libertos na sociedade mineradora. Se, por um lado, a fortuna que herdaram e a importância social do pai e dos ascendentes paternos foram elementos facilitadores, a origem negra e escrava da mãe constituíam empecilhos. Enquanto algumas das filhas de Chica casaram na igreja com homens portugueses, outras tiveram filhos naturais, outras nunca legitimaram suas uniões ou só encontraram refúgio no recolhimento religioso. Já os filhos, embora todos tenham ascendido socialmente, tiveram maiores dificuldades em se notabilizar. Eles frequentemente tiveram que esconder ou camuflar a origem negra e escrava do lado materno nos processos de investigação familiar, pois naquela época o mulatismo era impedimento para ocupar cargos de prestígio. E, por fim, a trajetória da família de Chica revela uma tentativa de "branqueamento" pois, na sociedade preconceituosa do Brasil colonial, era uma forma de aumentar as chances de ascensão social, vez que havia fortes mecanismos de exclusão com base na cor, raça e na condição de nascimento do indivíduo.

O mito

Chica morreu em 1796 e foi enterrada na igreja de S. Francisco de Assis, privilégio reservado apenas aos brancos ricos...

Após a sua morte, Chica da Silva tornou-se desconhecida do grande público. Contudo, na segunda metade do século XIX,Joaquim Felício dos Santos, nas Memórias do Distrito Diamantino, trouxe à tona a existência da ex-escrava. Posteriormente, a história de Chica foi revisitada por diversos autores em romances, peças de teatro, poemas e também no cinema e na televisão. A historiadora Júnia Ferreira Furtado, que escreveu a biografia de Chica em 2009, tece diversas críticas a esses trabalhos. Segundo ela, praticamente tudo o que se fez sobre Chica da Silva foi baseado tão-somente nas informações fornecidas por Joaquim Felício dos Santos, sem o devido aprofundamento histórico. Com isso, a história de Chica foi contada sem a devida preocupação com a construção da realidade, distanciando-se da real trajetória de vida dessa figura histórica e caindo na ficção.

Em consequência, o que o grande público conhece de Chica da Silva é um mito no qual realidade e fantasia se misturam, a depender das intenções do autor a massificação do mito,

asseverando que "os limites do erótico e do mau gosto foram ultrapassados, sem nenhum compromisso com a realidade do século XVIII, que tem sido revelada na sua multiplicidade e complexidade pela pesquisa histórica"

Um afro abraço.
fonte:a enciclopédia livre/www.cidadeshistoricas.art.br

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Entre o Sagrado e o Profano:Padre:Benedito Batista de Jesus Laurindo

O imaginário nos conflitos sociais:
A prática da religiosidade popular vem se intensificando na contemporaneidade, seja para glorificá-la, ressaltando o seu caráter libertador, seja para exorcizá-la como pouco ortodoxa, do ponto de vista teológico, ou alienada sob outros prismas. Algumas correntes apresentam este conceito de forma reificada, isto é, tratam as formas populares de religiosidade como se fossem independentes das relações sociais nas quais se inserem. É o caso de artigos e de obras de alguns folcloristas que, preocupados com a preservação descritiva de nossas tradições culturais, revelam-se, na maior parte das vezes, desenraizados historicamente. Entendemos que algumas categorias básicas como o sagrado e o profano, o oficial e o popular, só poderão ser compreendidas dentro de um contexto de relações da religião com a sociedade.

Estas reflexões sobre as relações dos homens com o divino desdobraram-se necessariamente sobre questões ligadas à conceituação e à interpretação da cultura popular, na medida em que a experiência do sagrado é apropriada de maneiras diversas pelos grupos ou por indivíduos, caracterizando uma pluralidade de usos e de entendimentos.

O CATOLICISMO LETRADO E O SONHO AUNAMINISTA

A partir da segunda metade do século XIX, um novo modelo eclesial católico começou a ser implantado no Brasil: o ultramontanismo. De raízes conservadoras, essa autocompreensão nasceu sob o impacto das revoluções liberais européias que agitaram o próprio trono pontifício. Buscando uma consolidação doutrinária teológica, estruturou-se em torno de alguns anátemas: a rejeição à ciência, à filosofia e às artes modernas, a condenação do capitalismo e da ordem burguesa, a aversão aos princípios liberais e democráticos, e sobretudo ao fantasma destruidor do socialismo.

Engendrado com a mesma concepção medieval unitária do Universo, esse catolicismo estava marcado pelo centralismo institucional em Roma, por um fechamento sobre si mesmo e por uma recusa de contato com o mundo moderno. Conscientes de que essa ordenação doutrinária constituía-se na força mantenedora da unidade da Igreja, os pontífices romanos, desde Gregório XVI até Pio XII, não mediram esforços para a sua consolidação. Com uma rigidez hierárquica, reproduzida também pelas mais distantes células paroquiais, o ordenamento ultramontano aspirava a uma univocidade entre a Europa, Ásia, África e América.
Ancorado, portanto, na ortodoxia tridentina, e naturalmente no pensamento aristotélico-tomista, o ultramontanismo construiu um arcabouço religioso destinado a se derramar ainda por todos os poros da sociedade, e nos seus diferentes microcosmos desencadeou estratégias reformadoras. A expressão doutrinária mais explícita dessa concepção religiosa foi a encíclica Quanta Cura e o Syllabus que a acompanhava, em que se retomava a luta pela preponderância da autoridade espiritual da Igreja sobre a sociedade civil. De acordo com suas teses, a sociedade inteira deveria estar impregnada de catolicismo, a educação seria submetida à Igreja e os clérigos estariam fora da jurisdição do Estado.


Padre:Benedito Batista de Jesus Laurindo, nasceu em 05.08.1952, em Silvânia, perto de Matão, Araraquara, no estado de São Paulo.
Sua mãe, Dona Rosa Maria de Jesus Melga, hoje, com 73 anos de idade. Pe.Batista é filho do primeiro casamento!
Ficando viúva, casou-se novamente, vieram sete irmãos: Zilda, Maria; Oscar, Eugenio, Sonia, Elaine e Marcelo. ,
Hoje já são casados e tem filhos.
Sabemos do grande esforço do Pe. Batista para ajudar a cada um, cada uma em suas caminhadas.
Ainda, quando muito pequeno, de família, muito pobre, engraxava sapatos para ganhar uns trocadinhos e ajudar em casa.

• Coragem e dedicação não lhe faltaram.

Como seminarista
• Estudou e desde seminarista começou a trabalhar com crianças e jovens
• Estimulou a formação de Encontros de Jovens na Igreja da Penha;

Como diácono

• Motivou e trabalhou com os meninos na Associação dos Engraxates na região central da cidade;
• Depois foi mentor, implementou e coordenou o então Centro Comunitário do Menor- que atendia meninos e meninas, excluídos sociais, que viviam na Praça da Sé. Hoje CCCA – Centro Comunitário da Criança e do Adolescente, que funciona com quatro unidades na Região central da capital paulista.

Como padre
. Estimulou muito a Pastoral Catequética da Boa Morte e da Catedral; Criou a Casa da Menina mãe – para jovens em situação de rua que estavam grávidas.
. Foi pioneiro com o grupo de nascimento da Pastoral Afro;
com a fundação dos Agentes de Pastoral Negros
com a constituição do Instituto do Negro,
teve Ações de inculturação e foi o precursor de ações afirmativas

Outros dons

• Pe. Batista tinha uma voz que enchia a catedral e um dom especial para a liturgia – sempre estimulou as comunidades por onde passou, para melhor celebrar.
• Na Região Sé, com sede na Igreja N.Sra. do Carmo, na Rangel Pestana, fundou e estimulou por vários anos o Curso de Liturgia.
• Implementou também junto com outras religiosas as celebrações afro, realizadas nos primeiros encontros da Pastoral Afro e que continuam até hoje, realizando efetivamente a inculturação.


Sempre esteve ao lado das pessoas mais empobrecidas ou excluídas socialmente...
• Com grande afeição e carinho pelas pessoas que mais sofriam e junto com as Irmãs da Congregação de Jesus Crucificado montou um grupo de pastoral inovadora, com mulheres que trabalhavam como domésticas.
O trabalho foi tão estimulante que muitas voltaram a estudar e deram outros rumos às suas vidas, inclusive compondo o Sindicato das Empregadas Domésticas, fundado posteriormente.
• Tinha profundo respeito e consideração pelos homossexuais e com eles celebrava sempre.
• Foi muitas vezes parado pela polícia, era revistado, insultado, humilhado e o deixava de ser, quando se identificava como padre.
• Fundou o Instituto do Negro, em 20.11.1987, cujo principal objetivo era oferecer bolsas de estudos (parciais e quando possível integrais) a universitários /as negros /as de baixa renda.


Se liga:
Vitima de racismo, Padre Batista passou por impiedosas perseguições policiais, de família e empresários que não o aceitavam na paróquia e por seu idealismo de contemplar na região leste da capital paulista pessoas menos favorecidas.

Mesmo sofrendo tantas pressões, Pe. Batista seguiu enfrentando muitos que discordavam dos seus métodos inovadores de olhar para os excluídos, enfatizando a Teoria da Libertação e conseguiu unir o movimento negro e as comunidades católicas.

Em 25 de outubro de 1980, recebe o diaconato, se ordenando seminarista já em São Miguel Paulista. Em 1981 Dom Evaristo Arns o convida para ser diácono na Igreja da Sé, recebendo inicialmente a função de ser o primeiro negro cantor oficial das missas pontificiais, um fato inédito na história da Igreja, transformando a liturgia que tinha um caráter de serenidade, em algo animado, com hinos agitados, palmas e ritmos mais fortes.

Nesse processo, Batista realiza um trabalho assistencialista com as "crianças de rua" que
ficam na Praça da Sé, dando-lhes café e ensinando o ofício de engraxates e o trabalho se expandiu tornando-se Centro Comunitário da Criança e do Adolescente.

Em 1984, padre Batista foi ordenado sacerdote com uma das maiores celebrações já existentes na Catedral da Sé, estavam presentes todos os familiares, lideranças do movimento negro, Padres, Religiosos, os menores de rua, representantes de favelas, autoridades políticas, tudo registrado e televisionado pela TV Cultura. Nesse mesmo ano, foi nomeado vigário paroquial da Catedral da Sé e em junho foi nomeado reitor da Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, atuando também como Capelão.
O Padre Batista já identificava que estudos e pesquisas acadêmicas viriam confirmar – a imensa desigualdade no acesso às oportunidades educacionais na sociedade brasileira existente entre as populações das várias etnias, com destaque para a população negra.
Em 1991, após a sua morte, o Instituto passou a chamar Instituto do Negro Padre Batista.

Deus te salve, casa santa, / Onde Deus fez a morada, 
onde mora o caliz bento / e a hóstia consagrada. 
Deus te salve, ó lindo arco, / Deus te salve! Felizmente 
vai passar senhor Divino / com todo acompanhamento

Um afro abraço.

fonte: Folha Cidade

sábado, 23 de agosto de 2014

Shaka Zulu:Tshaka; Tchaka ; Chaka ou KwaZulu


Os zulus se estabeleceram na área conhecida atualmente como Kwa Zulu-Natal e participaram de batalhas épicas com líderes que entraram para a história, como o grande estrategista Shaka. Povo zulus ou zulos são povos do sul da África, vivendo em territórios correspondentes à África do Sul, Lesoto, Suazilândia,Zimbábue e Moçambique. Embora hoje tenham expansão e poder político restritos, os zulus foram, no passado, uma nação guerreira que resistiu à invasão imperialista britânica e bôere no século XIX.

A população de zulus na África do Sul foi estimada em 8.778.000 1995, correspondendo a 22.4% da população total do país ("The Economist"). Nos restantes países, o número de zulus é estimado em cerca de 400 mil.

A província sul-africana do KwaZulu-Natal é considerada a sua pátria original.

A língua dos zulus é denominada isiZulu, e, em sua língua, os zulus são chamadosamaZulu.


História
Os zulus eram originalmente um grande clã onde hoje é o norte do kwaZulu-Natal. Foi fundada por Zulu kaNtombhela. Em 1816, os zulus formaram um poderoso estado sob liderança de Shaka.

Em 11 de dezembro de 1878, os britânicos entregaram um ultimato aos onze chefes representados por Setshwayo. Os termos incluíam a rendição de seu exército e aceitar a autoridade britânica. Cetshwayo recusou e a guerra começou em 1879. Os zulus ganharam em 22 de janeiro a batalha de Isandlwana. A virada dos britânicos veio com a batalha em Rorke's Drift e sua vitória veio com a batalha de Ulundy em 4 de Julho.

Shaka Zulu foi um chefe tribal zulu e estrategista militar, que transformou os zulus de uma etnia com pouca expressão territorial em um império que ensombrou os desígnios coloniais britânicos.

Filho orfão e ilegítimo de Senzanganakhona, chefe do clã zulu dos nguni, Shaka e a mãe foram banidos da sua umuzi (aldeia), e forçados a viver no exílio entre os mtetwa, na altura do reinado deDingiswayo.

Ao atingir a puberdade, Shaka seguiu os costumes dos Mtetwa, e juntamente com os outros

rapazes da sua idade (intanga), integrou o regimento isiCwe do exército de Dingiswayo. Shaka integrou-se bem na vida militar, e à medida que a sua fama pessoal e autoridade aumentava, introduziu alterações às tácticas anteriormente utilizadas.

Uma das mudanças mais importantes foi o abandono das tácticas de combate "atacar e retirar", pelo combate corpo a corpo, perseguição do inimigo, e da aniquilação total do inimigo. Estas tácticas foram sendo adoptadas por outros clã dos Nguni. No início da década de 1810, contra os Buthelezi em 1810, e posteriormente contra os Nongoma em 1812, Shaka havia aperfeiçoado a implementação dos seus homens no campo de batalha numa formação de ataque em forma de lua, com as pontas denominadasizimpondo (cornos), e o centro de isifuba (peito), com a qual obteve grandes êxitos, e seria a formação de combate padrão dos zulus nos próximos noventa anos.

Em 1816 foi enviado por Dingiswayo, chefe dos mtetwa, e regressa do exílio, e rapidamente se afirma rei dos zulus, eliminando todos que se lhe opunham. Um dos seus primeiros actos é constituir quatro regimentos, que são a origem do impi, nome pelo qual os exércitos zulus ficariam conhecidos. Os impis estavam armados com uma pequena lança, a assegai, um escudo de couro de boi, uma espécie de porrete que podia ser arremessado no inimigo com grande precisão e ainda o "cuspe de veneno", substância tóxica encontrada numa erva que era mastigada pelos guerreiros de Shaka, que a cuspiam no rosto dos inimigos durante os combates, causando grande irritação nos olhos. Apoiado neste impi, parte para nesse mesmo ano para atacar novamente os Buthelezi.



Ao longo dos últimos 400 anos, os líderes do rei Shaka da tribo Zulu de Nelson Mandela viajavam para prestar homenagem à rainha, na esperança de serem abençoados por ela com dias de chuva (The Water Wheel 2006).

Em 1818 a sua atenção vira-se para os ndwandwe, que vence na batalha de Gqokli, de forma decisiva, apesar de a vantagem à partida não estar do seu lado. A mesma sorte tiveram outros clãs e tribos, contra quem os Zulus apontaram a sua máquina de guerra, numa

expansão territorial que iria aumentar o território sob o seu controlo cerca de 12 vezes.

1824 seria um ano marcante na histórios dos Zulus: Shaka autorizou o estabelecimento de europeus (H.F. Fynn e Lt. Farewell, fundadores da Natal Trading Company) no seu território. Estes fundaram Port Natal, a actual cidade de Durban.

Shaka foi assassinado em 1828 pelos seus meio-irmãos Dingane e Mhalangana, sucedendo-lhe Dingane.

Um afro abraço.
fonte: enciclopédia livre.

domingo, 17 de agosto de 2014

A História Política do Negro, Racismo a brasileira

Identidade coletiva negra e escolha eleitoral no Brasil
Pra vocês entenderem...Os negros escravos foram comparados a instrumentos de trabalho e animais: era-lhes negado o status de humanos. Com a abolição, o negro foi relegado ao status de cidadão de segunda classe, excluído dos direitos sociais e de cidadania e desconsiderado por uma concepção de história branca e européia que enfatizava o movimento operário na perspectiva do branco imigrante europeu. Mesmo em condições adversas os negros atuaram politicamente. Para compreender sua política é preciso considerar a política para além das instituições estatais. O artigo analisa as práticas políticas dos negros brasileiros através das suas organizações e a inserção na política institucional enquanto estratégias para a conquista e consolidação da cidadania. Ao mesmo tempo, explora as relações entre racismo e política, em outros termos, o racismo enquanto política de exclusão.

Os males de origem
No século XVI, a partir da terceira década, o Rei de Portugal convence-se de que é preciso efetivar a ocupação do território brasileiro para garantir seus direitos sobre a colônia, ameaçada pelos franceses, cada vez mais presentes nesses trópicos. Porém, realizar esse objetivo não é nada fácil: quem se interessaria por tal empreitada? “A não ser os traficantes de madeira – e estes mesmos já começavam a abandonar uma empresa cujos proveitos iam em declínio – ninguém se interessava seriamente, até então, pelas novas terras; menos ainda para habitá-las”, escreveu Prado Jr. (1976: 31)

Para atingir seus objetivos o soberano português não teve outra opção senão a de tornar o mais atrativo possível aos olhos de ambiciosos aventureiros a árdua tarefa de colonizarem a Terra Brasilis, oferecendo-lhes nada menos do que a partilha da soberania: os que aceitaram os desígnios reais, adquiriam soberania sobre as Capitanias Hereditárias (extensos territórios em que foi dividido o Brasil, nossos primeiros latifúndios). Mesmo assim, poucos se candidataram. A qualidade dos pretendentes pode ser inferida pelo simples fato de nenhum deles pertencerem à alta nobreza ou aos grandes mercadores do Reino. Eram, como observou Prado Jr., “indivíduos de pequena expressão social e econômica”.


E assim se iniciava o efetivo projeto de colonizar o Brasil. Sem braços dispostos a enfrentar os desafios de povoar produtivamente a terra e desenvolver a colônia, recorreu-se à escravidão: primeiro, do habitante nativo; depois, dos corpos africanos arrancados violentamente à mãe negra

A cidadania negada
“A Lei será igual para todos, quer proteja, quer castigue, e recompensará em proporção dos merecimentos de cada um.” (Art. 179, inciso XIII daConstituição Política do Império do Brasil, de 25 de março de 1824)
“Todos são iguaes perante a lei.” (Art. 72 § 2º da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891)
“Todos são iguaes perante a lei. Não haverá privilégios, nem distincções, por motivos de nascimentos, sexo, raça, profissões próprias ou dos paes, classe social, riqueza, crenças religiosas ou ideas políticas.” (Art. 113, § 6º da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de julho de 1934)

É ilustrativo que a moeda francesa inscreva em sua face o lema Liberté, Egalité, Fraternité. Essas belas palavras, que expressaram os sonhos de várias gerações e o combustível que alimentou movimentos liberais, humanitários e revolucionários, foram resumidas historicamente em uma: propriedade. Assim, metaforicamente, quanto mais francos franceses um indivíduo possuir (ou outra moeda qualquer – de preferência, dólares), mais gozará da liberdade, mais será cidadão (com direitos, muitas vezes, acima da lei). Quanto à fraternidade, a relegará às obras de caridade e filantrópicas, de caráter religioso ou não.

Não só o escravo foi excluído, mas também os homens livres pobres, mesmo brancos. Os direitos políticos foram encarados como pertinentes apenas aos que tinham posses. A Constituição de 1824 estabelecia um sistema de eleições indiretas, em dois graus, para a qualificação dos eleitores, de acordo com os bens possuídos, classificados segundo a renda anual.
Por outro lado, tratou-se de dar um verniz liberal: D. Pedro deu-se ao luxo de aceitar certos direitos como a liberdade de imprensa. Em suma, a Constituinte era uma paródia da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1789: manteve o poder absoluto da monarquia imperial e as vantagens políticas resultantes da independência foram reservadas à elite agrária. O critério de propriedade manterá o status quo: a elite colonial continuará a dominar o Estado. Este, manteve-se acima da sociedade, dominador e cabide de empregos de uma massa serviçal das classes dirigentes.

Negro: subcidadão
O 13 de maio de 1888 marcou um momento crucial de um processo iniciado ainda nos tempos do Brasil colonial: a luta do cativo pela liberdade. O escravo emancipado perceberá que esse processo ainda não findara e que, como assinala Bosi (1992: 271), avançava em duas direções:

“Para fora: o homem negro é expulso de um Brasil moderno, cosmético, europeizado. Para dentro: o mesmo homem negro é tangido para os porões do capitalismo nacional, sórdido, brutesco. O senhor liberta-se do escravo e traz ao seu domínio o assalariado, migrante ou não. Não se decretava oficialmente o exílio do ex-cativo, mas este passaria a vivê-lo como um estigma na cor da sua pele.”

Os caminhos dos negros após a abolição foram diferentes e de acordo com fatores como: particularidades regionais, conjuntura econômica, proporção em relação à população geral, concorrência no mercado de trabalho. Eles se espalharam nas zonas rurais – economias de subsistência, monoculturas – fundindo-se com as amplas camadas da população. Substituído nas fazendas de café pelo imigrante – branco europeu ou japonês – também foi preterido nas cidades enquanto mão-de-obra para a nascente indústria brasileira. Censo da época indica que a maioria absoluta (mais de 80%) dos operários eram imigrantes, sobretudo italianos. A experiência acumulada pelo ex-escravo durante anos não lhe era suficiente para enfrentar a concorrência. Escravo no passado, ele deveria se especializar e aprender a vender a sua força de trabalho.

Por outro lado, é preciso reconhecer que ele carregava o estigma de um passado marcado pelo trabalho escravo, gerador de conflitos entre as exigências do tipo de trabalho assalariado e a forma como os escravos o encaravam. Com analisa Florestan Fernandes, o imigrante embora se rebelasse contra as condições de vida e de trabalho, deformadas pelas sobrevivências do padrão de trabalho servil, aceitavam as condições impostas pelo contrato de trabalho capitalista e via nesse a possibilidade de constituir uma poupança e ascender socialmente.

A ação política do negro no inicio do seculo passado...
O povo negro teve dificuldade de se organizar na nova situação: a I República fomentou um clima desfavorável à sua atividade política. Sem espaço na política institucional e nos

sindicatos, ele desenvolveu formas de atuação amparadas numa imprensa própria surgida nas primeiras décadas do século XX: O Menelik (1915), A Rua (1916), O Alfinete (1918), A Liberdade (1919), A Sentinela (1920), O Getulino e oClarim d’ Alvorada (fundado, também em 1924, por José Correia Leite e Jaime de Aguiar). Nessa época, se falava em organização e conscientização dos homens de cor: só mais tarde que o termo negro passou a ser aceito.

Identificação pela cor e negritude
Definimos a identificação pela raça ou pela cor no Brasil como a auto atribuição de uma categoria racial ou de cor com a consciência da prevalência de uma hierarquia que ordena socialmente as cores. No topo está a cor branca, no meio, a parda e, na base, a negra.Conforme sugerido por Rogers Brubaker e Frederick Cooper (2000), utilizamos o termo identificação em lugar de identidade, porque ele parece capaz de levar em conta o fato de que as identidades não se revelam constantes ao longo do tempo. Apesar de os brasileiros não necessariamente concordarem com a hierarquia das cores, os cidadãos são conscientes de sua existência. Diversas tonalidades mestiças se distribuem ao longo desse espectro. Estão associadas às cores conotações transmitidas por meio do humor e de expressões populares que valorizam o branco como algo benigno e o negro como algo daninho. A identificação racial dos indivíduos pode variar de acordo com a circunstância social na qual se encontram. Além disso, os cidadãos, por vezes manipulam sua identificação para alterar sua posição no espectro das cores.
Raça é normalmente vista como algo biológico, enquanto a cor é composta pela aparência física e pela posição social. Por exemplo, a terminologia da cor inclui categorias como preto, pardo, moreno, moreno claro e branco. No entanto, o termo politicamente forte, negro, é uma categoria racial com a qual afrobrasileiros de todas as cores podem se identificar. Ela foi incialmente promovida por ativistas do
movimento negro, mas hoje é utilizada mesmo pelos grandes órgãos de imprensa ao veicular informações e dados relacionados aos afrobrasileiros e, quando utilizada, refere-se tanto a pretos como pardos.

Análise do voto em favor de um candidato negro


Aplicamos uma análise de regressão na qual o voto em favor de um candidato negro representa a variável dependente e identificação pela cor, cidade, sexo, idade, status socioeconômico, bairro e identidades coletivas forte e fraca atuam como variávéis independentes. O modelo de regressão mostra que a identificação pela cor e a identidade coletiva fraca são estatisticamente significantes com um intervalo de segurança de 95%, enquanto bairro, idade e status socioeconômico têm sua significância estatística situada num intervalo de segurança de 99% . Também uma regressão logística foi aplicada para extrair estimativas de probabilidade para o voto em favor de um candidato negro em função das variáveis independentes . Entrevistados foram questionados sobre se haviam votado em um candidato negro, podendo responder sim ou não. A identificação dos entrevistados pela cor se baseia na cor que escolheram na questão aberta. Não incluímos aqueles que se autoclassificaram como indígenas, afrodescendentes e brasileiros. Categorias de
cor e raça foram agrupadas da seguinte maneira: branco, mulato, moreno claro, pardo (abrangendo pardo, moreno e marrom), moreno escuro (moreno escuro e moreno jambo), a categoria racial negro (negro e “negão”) e a categoria de cor preto. Os níveis educacionais correspondem aos anos de escolarização formal, agrupados assim: 1-3 anos, 4-7, 8-10, 11-14 e mais de 15 anos. A renda familiar mensal engloba: sem renda, renda menor do que 2 salários mínimos, 2-5, 5-10 e 10-20 salários mínimos. O status socioeconômico é medido pela combinação das variáveis educação e renda. As categorias de idade são: 16-25 anos, 26-40, 41-54 e mais de 55 anos.

Idade e voto em candidatos negros

Tanto a análise de regressão como a regressão logística mostram que identificação pela cor, status socioeconômico, idade, identidade coletiva racial fraca e bairro são todos fatores estatisticamente significantes. A idade é especialmente significante, situando-se em um intervalo de segurança de 99%. Conforme aumenta a idade, aumenta também a probabilidade de que um entrevistado vote em favor de
um candidato negro. Mantendo constantes a cor, o bairro, o sexo, o status socioeconômico e as identidades coletivas raciais fraca e forte, a estimativa de probabilidade de que um afrobrasileiro no grupo etário dos 16 aos 25 anos em Salvador e São Paulo vote em um candidato negro é de .30. A probabilidade aumenta para .45 na faixa etária dos 26 aos 40 e para .62 na faixa dos 51 aos 55 anos. Finalmente, para aqueles acima de 56 anos, chega a .76. Afrobrasileiros na faixa etária mais velha são duas vezes e meia mais propensos a votarem em favor de candidatos negros do que afrobrasileiros situados nas faixas mais jovens.


Votos “preto” e “negro”
A maior estimativa de probabilidade de voto em candidatos negros em ambas as cidades é encontrada entre pretos. Conforme destacado anteriormente, preto é a categoria de cor que denota a cor da pele em lugar da adoção de em uma categoria racial. Apesar disso, ela tem forte significado político, especialmente num país em que a negritude não é suficientemente valorizada nos meios de comunicação ou na vida cotidiana. Afrobrasileiros podem voluntariamente optar por uma categoria não-negra e, ao fazê-lo, geralmente elegem a categoria parda, apesar de um certo número de afrobrasileiros se identificarem como pretos ou negros. Em comparação com as escolhas daqueles que optam por identidades não-negras, preto ainda tende a expressar uma consciência racial mais aguçada da negritude. Por essa razão, são mais propensos a apoiarem candidatos negros do que afrobrasileiros que se identificam por meio de outras categorias de cor. A pesquisa etnográfica de John Burdick (1998) oferece evidências de que pretos enfrentaram pessoalmente situações de racismo com muito mais frequência do que afrobrasileiros que anteriormente se identificavam com uma cor mais clara, passando posteriormente a identificar-se como negros. Diferente de Burdick, não acredito que afrobrasileiros que adotem a categoria preto se vejam condenados a essa opção.

 Em seu reconhecimento do racismo, são conscientes de sua raça e, em lugar de acatar o mito da democracia racial, segundo o qual a discriminação se deve unicamente à classe
social, eles acreditam genuinamente que ela se deve à cor da pele e, em decorrência, elegem uma categoria de cor correspondente. Apesar de existirem diferenças entre pretos e negros, ambas as categorias representam identidades negras e deveriam ser devidamente compreendidas ao se avaliar a consciência racial. 

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
fonte: Prado Jr (1976: 34)/o século XVII, territórios mais pobres, como São Paulo e a parte setentrional (Maranhão e Pará), o índio foi utilizado quase que exclusivamente. Os documentos da época referiam-se aos índios através do termo "negros". Essa palavra foi comumente utilizada para designar os indivíduos das raças dominadasBAILEY, S. R. e TELLES, E. E. “Multiracial vs. Collective Black Categories: Census
Classification Debates in Brazil”. Ethnicities , v.6, nº 1, 2006/BRUBAKER, R. e COOPER, F. “Beyond Identity”. Theory and Society, nº 8, 2000./BUTLER, K. Freedoms Given, Freedoms Won: Afro-Brazilians in Post-Abolition São Paulo and Salvador. News Brunswick: NJ: Rutgers University Press, 1998. /ASTRO, M. “Raça e Comportamento Político”. Dados , nº 36, 1993/DAWSON, M. Behind the Mule: Race and Class in African American Politics. /Princeton, NJ: Princeton University Press, 1994/ Black Visions: The Roots of Contemporary African-American Political/Ideologies. Chicago: University of Chicago Press, 2001.. 

Nossa gente nossa historia :Cultura Igbo


Os igbos (pronúncia ibos) são um dos maiores grupos étnicos africanos. Habitam do leste, sul e do sudeste da Nigéria, além de Camarões e da Guiné Equatorial.(em igbo: Asụsụ Igbo) é uma língua falada na Nigéria por cerca de 20-25 milhões de pessoas, os igbos,
especialmente na região sudeste, anteriormente conhecida como Biafra e em partes da região sul-sudeste da Nigéria. É escrita em alfabeto latino. O igbo é uma língua tonal, como o ioruba ou o chinês. Existem centenas de dialetos diferentes e línguas Igboides incluídas na língua igba, tais como os dialetos ikwerre enuane e o ekpeye. O igbo é uma das únicas línguas do mundo em que os sons podem produzidos de forma ingressiva, isto é, por meio da entrada de ar dentro do organismo.

Igbo-Ukwu é uma cidade situada no estado de Anambra. Trata-se de um sítio arqueológico importante, pois foi uma civilização que se desenvolveu na Nigéria oriental entre os séculos IX e X. É caracterizada pelo seu trabalho em cobre (proveniente das Montanhas de Aïr) e em bronze. Descoberta acidentalmente em 1938 por um morador que estava cavando um poço, ela não pode ser vinculado a qualquer outra cultura na região, mas revela a existência de um reino poderoso e refinado.

Foi um dos povos mais atingidos pelo comércio transatlântico de escravos seu dialeto o igbo se divide em vários dialetos, a maioria mutuamente inteligíveis entre si, são eles; bende, owerri, ngwa, umuahia, nnewi, onitsha, awka, abriba, arochukwu, nsukka, mbaise, abba, ohafia, agbor, wawa okigwe e ukwa/ndoki. O alto grau de semelhança entre estes dialetos faz com que formem uma continuidade dialectal.

Em 1967, apoiados pela multinacional francesa Elf-Aquitaine, declaram independência da região leste da Nigéria, formando a República de Biafra. Houve fome generalizada na região, guerra civil, o que acabou levando à derrota do ibos.

A cultura Igbo são os costumes, práticas e tradições dos Igbos do Sudeste da Nigéria. É composta por práticas arcaicas, bem como novos conceitos adicionados na cultura Igbo, quer pela evolução ou por influência externa. Estes costumes e tradições do povo Igbo incluem asartes visuais, música e formas de dança, bem como as suas vestimentas, culinária e idioma (dialetos). Considerando seus diversos subgrupos, a diversidade de sua cultura torna-se ainda maior.

O povo Igbo tem um estilo musical melódico e sinfônico, em que se incorporam vários instrumentos de percussão: oudu, que é um recipiente de argila; a ekwe, que é formado por escavação em madeira; e o ogene, um sino de ferro forjado. Outros instrumentos incluem o opi, um instrumento de sopro semelhante a flauta, o igba e a ichaka.

Música Igbo é a música do povo Igbo, que são indígenas da parte sudeste da Nigéria. Os Igbos tradicionalmente contam com instrumentos de percussão pesadamente tais como o Tambor e os Gong, que são os mais populares por causa de sua habilidade inata para proporcionar uma ordem diversificada de ritmo, som, e arremesso. A música Igbo geralmente é alegre, otimista, e espontânea que gera uma variedade de sons que permite aos igbos incorporarem a música em quase todas as facetas da sua vida quotidiana. Alguns estilos muito populares de música Igbo são: Fuji, Juju, Highlife, Waka, Reggae, Gospel e Hip-hop.

Outra forma musical popular entre os Igbo é o highlife, que é uma fusão de jazz e música tradicional muito popular naÁfrica Ocidental. O moderno highlife Igbo é visto na obra de Dr. Sir Warrior, Oliver De Coque, Bright Chimezie e Chief Osita Osadebe, que são os maiores músicos de Igbo highlife do século XX. Existem também outros notáveis artistas do extrato Igbo highlife, como Mike Ejeagha, Paulson Kalu, Ali Chukwuma e Ozoemena NWA Nsugbe.

gbo (ou ibo) pode referir-se a:
Igbo (povo), Um grupo étnico na África Ocidental
Língua igbo, A língua falada pelo povo Igbo do sudeste da Nigéria

Mitologia igbo
Música igbo
Arte igbo

Topônimos
Igbo Ukwu cidade da Nigéria, Anambra


Ijebu Igbo

Outros usos
Igbo Women's War
Delta Igbo
Nri Igbo, um subgrupo do povo Igbo
Igbo Judeu

Um afro abraço.

fonte: enciclopédia livre.Sources vary widely about the population. Mushanga, p. 166, says "over 20 million"; Nzewi (quoted in Agawu), p. 31, says "about 15 million"; Okafor, p. 86, says "about twenty-five million"; Okpala, p. 21, says "around 30 million"; and Smith, p. 508, says "approximately 20 million".

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Civilizações africanas da Antiguidade:O reino de Axum.

O reino de Axum se localizava na atual Etiópia. Segundo a lenda, esse reino teria sido
fundado por Menelik, filho do rei Salomão com a rainha de Sabá (o que nos remete à história contada no Livro dos Reis, no Antigo Testamento. Apesar de tal lenda não ter ainda nenhum fundamento comprovado, manteve-se por muitos séculos).
A cidade de Axum se localizava às margens do rio Atbara. Sua população era formada por povos locais (a Etiópia é considerada um dos mais antigos berços da humanidade) e por migrantes vindos da Arábia antes do século 6 a.C.

Em torno do século 3 a.C., os kushitas (ou meroítas) mantinham comércio com Axum. Em torno do século 2 a.C., o porto de Adulis, no mar Vermelho (que ficava a oito dias de viagem até Axum), era um dos maiores centros comerciais entre a África e a Arábia.
No século 1 d.C., o comércio transformou Axum num dos centros mais ricos da África. Entre os séculos 2 e 4 d.C., os axumitas controlavam grande parte da navegação, tanto mercante quanto de guerra, no mar Vermelho. Embaixadores axumitas viajavam pelos grandes reinos do Oriente Médio e da África, impondo os interesses comerciais de Axum.



Como os axumitas desenvolveram a escrita (chamada de gueze ou geês), escavações arqueológicas ainda hoje revelam muitos textos axumitas talhados em argila e pedra. E devido à grande atividade política de Axum, vários desses textos trazem uma versão em grego (a língua diplomática da época), o que facilita muito a compreensão da história desse povo.

Em 335 d.C., os axumitas invadiram, saquearam e incendiaram a capital kushita, Meroé, pondo fim ao reino de Kush, que representava um centro comercial concorrente. Acredita-se que a elite kushita tenha fugido em direção do oeste, chegando até o Chade, e difundindo assim a cultura kushita.


O império axumita se cristianizou a partir da influência egípcia, e se tornou um importante centro de difusão dessa nova religião no leste da África.

Com a expansão árabe muçulmana, a partir do século 7, o reino axumita cristão perdeu sua força, tanto econômica quanto cultural. Mesmo assim, séculos mais tarde, durante a expansão marítima e comercial de Portugal (século 15), muitos navegadores tinham como meta encontrar o reino lendário de Prestes João, um reino cristão africano que, provavelmente, seria o antigo reino de Axum.

E vale lembrar: muito tempo depois, enquanto toda a África era repartida e dominada pelas potências imperialistas europeias (no século 19), a Etiópia foi um dos poucos reinos que conseguiu manter sua independência. Ainda hoje, portanto, conhecer e valorizar a cultura etíope pode ser um caminho interessante para se compreender parte da história da humanidade.

Um afro abraço.


fonte:GIORDANI, Mário Curtis. História da África anterior aos descobrimentos. Rio de Janeiro: Vozes, 1985.
MUNANGA, Kabengele. Origens africanas do Brasil contemporâneo. São Paulo: Global, 2009.
SILVA, Alberto da Costa. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008.

Favelas as grandes vítimas do coronavírus no Brasil

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