JINGA...
No tempo em que Cristina da Suécia foi formalmente nomeada rei do seu país, outra mulher em Angola quis também ser reconhecida como rei. Isto no princípio do século XVII. Os portugueses tiveram de esperar cerca de trinta anos para assinar um tratado de paz com esta poderosa mulher que na História de Portugal ficou conhecida por Ana de Sousa e Angola recorda como a Rainha Jinga.
Os primeiros contactos dos portugueses com o Ngola Quiloanji (ou Angola Aquiloangi), senhor do Dongo ou Angola, foram amistosos. Este rei não inviabilizou o comércio de escravos, que foi a grande receita dos portugueses durante largos anos, mas, em contrapartida, exigiu que os portugueses não fizessem como no vizinho reino do Congo, onde impuseram baptismos em massa. Astuto, Quiluanji aproveitou este mercado de escravas que eram levados para longes paragens para, de início, se ver livre de prisioneiros de guerra e outros elementos perigosos que albergava ao seu reino.
Mas a paz com os portugueses era demasiado precária e o soba, de feitio despótico e humor variável, acabou por entrar em conflito aberto com os portugueses em 1581 ano do nascimento da sua filha Jinga. Muito provavelmente por não ter chegado a acordo, em termos de contrapartidas. Quanto ao número de homens que permitia que fossem levados do seu reino para serem vendidas como escravos. Aponta-se, como outra motivo dessas guerras a construção, nas terras de Quiluanji, do presídio de Ambaca, em 1614.
Referir que, desde 1581, em Portugal existia a União Ibérica - governo dos reis espanhóis.
Por volta de 1617, morreu, ou foi morto, Quiluanji, que deixou três filhas e um filho adulto. Ngola Mbandi, e outro ainda criança, que, devido ao seu nascimento era o legitimo herdeiro do trono, por ser filho da mulher principal, considerada a legitima, enquanto o filho adulto provinha de uma ligação com uma concubina real (mocama), criada ou escrava. Como se vê mesmo em reinos africanos há estritas hierarquias.
Porém, o filho mais velho, ávido de poder mata o irmão e o sobrinho mais velho, filho da irmã Jinga, afastando assim qualquer hipótese de presumíveis adversários, e assume-se como sucessor. Jinga e as irmãs, Funji (ou Kifuní e Mucambo (ou Cambo), eram também filhas legitimas à luz dos costumes daquele reino.
Quando o governador Luís Mendes de Vasconcelos chegara a Luanda, em Agosto de 1616, havia paz entre os portugueses e o usurpador. Mas, em 1620, voltaram os conflitos. O governador invadiu as terras de Ngola (chefe) Mbandi inflige-lhe duras perdas e além de raptar a mulher principal, aprisiona muitos outros membros da sua família.
Em Dezembro de 1621, o novo governador João Correia de Sousa chega a Luanda e adopta unia atitude mais diplomática, enviando ao rei, Ngola Mbandi, uma pequena embaixada encabeçada pelo padre Dionísio Faria Barreto que dominava bem a língua nativa e lhe propôs a paz e a conversão ao catolicismo. O rei aceitou a paz mas impôs que os portugueses abandonassem o presídio de Ambaca e se comprometessem a apoiá-lo nas lutas contra o Jaga Cassanji, inimigo comum. Por último, pediu que os portugueses lhe restituíssem os prisioneiros feitos pelo anterior governador. Chegou-se a um acordo.
Entretanto, Jinga afastara-se já deste irmão que passou odiar desde que este lhe matara o filho e ela muda-se da capital do Dongo com o marido e as irmãs. Vai então viver para a região montanhosa da Matamba que mais tarde lhe irá servir de fortaleza natural contra os ataques dos portugueses.
É no período do governo de João Correia de Sousa que se vai dar o célebre encontro com Jinga que vai a Luanda negociar a paz. Há discrepâncias quanto à data deste encontro, mas o facto em si é que é relevante.
UMA FABULOSA EMBAIXADA
Jinga prepara um séquito numeroso e com todos os atributos da sua condição de princesa faz-se anunciar em Luanda. Os portugueses vão recebê-la como uma verdadeira rainha, com tropas perfiladas e descargas de mosquetes, sendo-lhe dada hospedagem e casa condigna.
No dia marcado para a audiência, Jinga, acompanhada do seu séquito, dirige-se à casa do governador. Entrou para a sala onde este ainda se não encontrava e, num relance percebe que na sala só havia uma cadeira e duas almofadas de veludo franjadas a ouro sobre um tapete.
De imediato, a perspicaz Jinga percebe que pode ficar em desvantagem. Ficar de pé perante um homem sentado. Ordena a uma das suas escravas que se dobre e lhe sirva de assento e é assim sentada que vai encarar o governador — de igual para igual. Escusado será dizer que esta atitude de Jinga deixou estupefactos todos os presentes, muito particularmente o governador que percebeu imediatamente que a mulher que estava na sua presença ora especial e que deveria usar com ela de toda a diplomacia e cortesia. Até porque muita coisa estava em jogo e um gesto em falso podia representar o recrudescer da guerra.
As negociações ocorrem com sucesso, começando a princesa Jinga por apresentar as desculpas em nome do irmão. A sua maneira de falar e a sua postura vão deixar a assistência perfeitamente espantada. Não podemos esquecer que até ao século XIX houve antropólogos que defenderam que a raça branca era superior á negra. Imaginemos o que não seria no século XVII uma africana saber exprimir-se bem e adoptar uma atitude de superioridade para com os conquistadores.
No final, João Correia de Sousa argumentou que, para que o acordo ficasse bem cimentado, deveria o irmão de Jinga pagar aos portugueses um tributo anual. Porém, ela contrapôs que tributo só pagavam os povos subjugados, o que não era o caso. Uma última exigência por parte dos angolanos era a devolução dos escravos. Aqui os portugueses não puderam prometer que cumprissem, porque era um negócio que envolvia muita gente, mas mostraram boa vontade para o problema.
À despedida, o governador, reparando que a escrava se mantinha acocorada na posição de assento, perguntou à altiva Jinga porque não a manda levantar, ao que a sobranceira guerreira angolana terá respondido: “Já não preciso dela, nunca me sento duas vezes na mesma cadeira!”
A divulgação deste facto foi, em grande medida, obra de um holandês que poucos anos depois fez desenhos deste insólito comportamento e que veio contribuir muito para a aura de admiração que se gerou em torno desta mulher angolana, uma, se não a maior heroina do seu país.
Muito provavelmente como estratégia diplomática, Jinga deixa-se baptizar com toda a pompa e circunstância, e muda o nome para Ana de Sousa, tendo por padrinho o próprio governador João Correia de Sousa. Dai ter adoptado o seu apelido, como era costume. Isto terá ocorrido em 1622, contando Jinga 40 anos.
A verdade é que Jinga deixara em todos os portugueses uma profunda admiração e respeito e vai regressar ao seu reino com prendas preciosas oferecidas pelos portugueses.
Relata então ao irmão o sucesso da sua missão. Este, entusiasmado com a descrição do baptismo, manda comunicar ao governador que lhe mande missionários para ser também ele baptizado. É incumbido dessa missão o padre Dionísio de Faria, natural do reino de Matamba. Porém, quando Mbandi vê que os portugueses lhe enviaram um padre da sua raça, isto é negro, tomando isso como uma afronta, recomeça de imediato a guerra contra os portugueses que, muito mais bem preparados o vão perseguir. Cobardemente, foge e refugia-se numa pequena ilha do Quanza, onde acaba por morrer ou ser envenenado, a mando da irmã, que percebe que é chegada a sua hora da mandar. Ela possuía já um exército fiel, engrossado continuamente com escravos que fugiam a refugiar-se nas suas terras para escaparem ao seu trágico destino.
As mensagens entre os portugueses e a rainha Jinga prosseguiam, havendo, por parte do governador, alguma relutância em combater esta mulher que para todos os efeitos era cristã. O governador teria gostado de cumprir a sua palavra, mas as pressões de Lisboa para se aumentar o mercado de escravos para o Brasil eram demasiado fortes para que o governador pudesse agir segundo a sua consciência.
Em Agosto muda mais uma vez o governador, tendo assumido esse cargo o bispo Frei Simão Mascarenhas.
Embora, neste período, na correspondência trocada entre por e a princesa Jinga, esteja assinada como Ana do Sousa, não deixa de insistir para que Portugal cumpra as suas promessas e devolva os homens do seu reino que foram feitos escravos. Ora, o tráfico de escravos era um grande negócio na altura e Portugal não estava interessado em abandonar essa fonte de rendimento, passe tudo o que é hoje a nossa visão da escravatura. Estava-se noutra época em que a escravatura existia em quase todo o mundo. E como “para grandes males grandes remédios”, em 1625, o governador Fernão de Sousa decide acabar com a supremacia crescente de Ana de Sousa. Para isso, manda colocar no trono do reino do Dongo (que ficava na região das Pedras de Maupungo ou Pungo um parente dela, Ari Quíluanji, que não passava de um rei-fantoche, pronto a fazer o que os portugueses lhe ordenassem. Este deixa-se baptizar e adopta o nome cristão de Filipe. E Bento Banha Cardoso, capitão- mor do governador, quem vai executar esta missão. E o rei-fantoche compro meteu-se a prestar vassalagem ao colonizador, fornecendo 100 escravos por ano à Fazenda Real. Reinava então Filipe III. Com o evoluir dos acontecimentos era quase certo que Ana de Sousa assumiria mais cedo ou mais tarde o que a sua natureza lhe pedia. Renegou o baptismo e assumiu-se como Rainha Jinga. Ao contrário de muitas outras histórias de rainhas africanas, Jinga não foi uma figura lendária. Há documentos mais que suficientes, onde constam cartas suas, o que para época era raríssimo numa mulher africana. Ela tinha sido educada por frades italianos e aprendera a ler e escrever.
E se a lenda diz que nas altas montanhas de Matamba está lá uma pegada sua, este é o pormenor mitológico que dá sabor a todas as grandes figuras da história dos povos.
Para os portugueses parecia fácil domesticar esta mulher que para ser respeitada se vestia de homem, com as habituais peles de animais. Usava machado à cintura e manejava sem dificuldade o arco e a flecha. Ela exigiu ser considerada rei e não rainha, mantendo mesmo, à maneira de rei, o seu harém onde tinha mais de cinquenta jovens que eram para todos os efeitos as suas mulheres, como teria qualquer rei homem. Algo que não lembraria às mais belicosas feministas uns séculos mais tarde.
Em Fevereiro de 1626. Bento Banha Cardoso parte de Luanda acompanhado de um número considerável de cavaleiros e padres para tentarem pelas armas ou pela pregação reconquistar a rainha guerreira. Foram pelo Quanza até Massangano. Estava-se já no mês de Março. Vai haver confrontos. A rainha Jinga ataca de noite. Conhece o seu território. Há feridos e mortes. Debalde os portugueses lhe vão no encalço. Bento Cardoso, por agora, retira-se, visto ignorar o paradeiro da rainha que entre tanto se aliara ao Jaga Caza contra o rei--fantoche do Dongo. Os Jagas eram guerreiros por profissão e tinham fama de praticar ritos canibais, eram preparados desde jovens para essa função. Dai que, como mercenários, terem uma grande mobilidade, pois não lutavam por causas mas sim ao lado de quem dava mais vantagens. Os próprios portugueses vão ter jagas pelo seu lado, em várias fases das guerras angolanas, que duram várias décadas.
Morre, entretanto, Bento Banha Cardoso, antes de poder irem auxílio do rei do Dongo.
Os exércitos organizam-se de parte a parte e há novos recontros com a rainha Jinga. Estamos em Maio de 1629. Não conseguindo derrotá-la, os portugueses raptam-lhe as duas irmãs, Cambo, Funji e um número considerável de sobas que a apoiavam. As irmãs da rainha são entregues à guarda da mulher do capitão-mor, em Luanda, que terá a incumbência de as mandar baptizar. Tomarão os nomes de Bárbara e Graça (ou Engrácia).
UMA GUERRA DE TRINTA ANOS
Entretanto Jinga organiza os seus exércitos que passam a contar agora com o apoio explícito do Jaga Cassangi, possuidor de oitenta mil arcos de guerra. Neste momento a rainha guerreira só deseja que os portugueses lhe reconheçam legitimidade para governar o reino do Dongo. O próprio António de Oliveira Cardonega, escritor considerado “o pai da História de Angola”, na sua obra escrita em 1680, é de opinião que os vinte e oito anos de lutas entre a rainha Jinga e os portugueses se deveram em grande parte à má política dos governadores de Luanda. Ele diz mesmo que os portugueses primeiro, roubaram o Ngola Mbandí: depois, fizeram rei um fantoche só para não reconhecer como legitima sucessora a rainha Jinga. Por fim são também os portugueses os culpados daquela rainha africana ter ido pedir auxilio aos holandeses.
Por volta de 1630, a rainha Jinga promete casar com o chefe jaga para cimentar a aliança mas tal não se vem a concretizar. No entanto, entre 1630 e 1635, dada esta aliança, consegue-se que as lutas tribais acabem. Quase sem se aperceberem, diversas tribos reúnem-se em torno da rainha Jinga e tomam consciência da sua força, centrada na região da Matamba.
Portugal enfrenta, neste período, um poderoso inimigo—os holandeses que queriam maiores lucros no comércio africano, nomeadamente no tráfico de escravos. Com os holandeses ao longo da costa e com a rainha Jinga à frente dos seus exércitos, no interior do território, o governo português resolveu tentar refazer a aliança com a rainha. E, em 1639, realiza-se um encontro entre as duas partes, mas não se chega a acordo.
Com o avanço dos holandeses, o rei do Congo, Garcia II entra também na guerra, ficando os portugueses com três frentes de conflito.
Em 1641 reinava já novamente em Portugal um rei português: D. João IV. De Luanda parte um exército para combater o rei do Congo e a rainha Jinga da Matamba. Mas era demasiado tarde e Luanda cai nas mãos dos holandeses. Os portugueses fogem para o interior.
O MASSACRE DE MASSANGANO
Em 1645 a rainha Jinga cerca os portugueses que se encontravam em Massangano. Estes defendem-se heroicamente até ao limite das suas forças. Vários autores portugueses vão enaltecer este comportamento que faz parte daquela dupla visão histórica dos acontecimentos, que tem sempre dois lados. Para a história angolana heróicos terão sido os homens da rainha Jinga, daí ela ser a maior heroina angolana, que aos sessenta anos ainda comandava ela mesma os seus homens.
Jinga, aliada ao rei do Congo, com o apoio da Holanda e com os guerreiros de vários chefes jagas está prestes a vencer os portugueses, mas dá-se uma imprevista mudança de apoios. Os jagas abandonam-na, para se aliarem aos portugueses, que recebem também apoio do Brasil.
Os portugueses organizam-se e em 1646 vão atacar em força os acampamentos da rainha africana, matando mais de duas mil pessoas.
Luanda é reconquistada, em 1648, por Salvador Correia de Sá e Benevides. Nesse mesmo ano, este governador envia-lhe uma embaixada para que se converta, mas ela recusou.
O adido militar holandês Fuiler vai ser uma das principais fontes de informação sobre os acontecimentos em Angola no tempo da rainha Jinga, visto que ele é testemunha ocular de muitos destes acontecimentos, pois lutou ao lado dela, durante alguns anos. E ele testemunha a adoração que o povo angolano tinha por aquela extraordinária mulher, chegando muitos a beijar o chão quando ela se aproximava. Para o capitão Fuller, ela era tão generosamente valente que nunca feriu um português depois deste se render e tratava os seus soldados e escravos como iguais.
O acordo de paz entre portugueses e a rainha Jinga acontece em Outubro de 1656, sendo cento e trinta escravos trocados pela princesa Bárbara (nome de uma das irmãs depois de baptizada).
Em 1657, religiosos capuchinhos italianos aproximam-se da rainha Jinga e convencem-na a voltar à fé cristã e a vestir-se de mulher. Quem vai ter um papel importante nesta conversão é frei João António Cavazzi de Monte Cuccolo, conhecido simplesmente por Cavazzí. Com ele a rainha vai trocar cartas importantes. Os frades capuchinhos vão tomar a responsabilidade de edificar uma igreja paga pela já não rainha Jinga, mas pela novamente Ana de Sousa. A igreja de Santa Maria da Matamba é benzida em Agosto de 1663 por Cavazzi.
Aos 75 anos, acabara o reinado do rei/ rainha Jinga. Os seus últimos oito anos de vida são de uma pacífica e devota católica que assegurou a continuidade do reino ao aconselhar o casamento da irmã Bárbara com um general do seu exército. A sua longevidade foi extraordinária para a época. Morreu aos 83 anos, a l7de Dezembro de 1663, na presença de Cavazzi. Mas a memória dos seus feitos e a extrema dignidade do seu porte permanecem como uma referência para todos os angolanos.
FONTE:www.leme.pt › Conteúdos › BiografiasEm cache/
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segunda-feira, 4 de junho de 2012
Lendas Africanas III: O príncipe leão Sundiata Keita...
A História do Mali está intimamente ligada ao nome de um herói lendário: Sundiata Keita. Homem tão extraordinário que a sua vida converteu-se numa lenda. Ele, o fundador do império malinqué, assentou as bases para fazer nascer nesta região africana um dos mais imponentes reinos do continente, onde floresceu o comércio com todo o seu esplendor.
A origem de Sundiata é um pouco confusa. As fontes escritas que se referem a ele são escassas. São as tradições orais que constituem a fonte genuína de documentação.
O seu nascimento dá-se em circunstâncias extraordinárias. É filho da segunda esposa do rei Naré Fa Maghan. Nasce feio, com deficiência motora e débil por volta de 1210. Com três anos ainda não sabe andar e fala mal. Diz uma tradição que uma doença incurável o impedia de caminhar.
A primeira mulher do rei, chamada Samura, nada teme com este nascimento. A sucessão do trono está garantida para o seu filho primogénito. Vive tranquila. Um príncipe incapacitado não pode ser um grande governante.
Os acontecimentos, porém, precipitam-se. Sumaoro Kantê, rei dos Sosso, ocupa o Mali e mata todos os filhos do rei Naré… menos Sundiata. O menino salva a vida, porque a sua deficiência não aparenta qualquer perigo. Sumaoro lamentará por toda a vida este erro.
O príncipe Sundiata refugia-se no Gana. Converte-se num grande mago e, graças ao seu poder mágico, cura a sua enfermidade. O exílio dura muitos anos. Aprende a caçar, a lutar e a recitar os provérbios que contêm a sabedoria dos seus antepassados. Começa a recrutar um bom grupo de soldados e forma um exército.
Ele decide reconquistar o trono do seu pai e, durante o regresso à terra, passa por todos os reinos que conheceu quando ia para o exílio. Reúne mais soldados, arqueiros e cavaleiros.
fonte:www.audacia.org/cgi-bin/pt.shvoong.com › Livros › Infância E Juventude.
O anúncio da sua chegada suscita um grande entusiasmo entre os Malinqués, cujos clãs haviam formado exércitos próprios. Também estes se aglutinam à volta de Sundiata.
Conta a lenda que tanto o príncipe Sundiata como o rei Sumaoro são feiticeiros. Este último é vulnerável ao ferro e o seu animal preferido é um galo branco. Apenas um esporão de galo branco poderia destruí-lo.
Sabendo disso, Sundiata constrói um arco de madeira com um esporão branco numa das extremidades. O dia da batalha decisiva ocorre em 1235. Os adversários medem forças em Kirina.
Na véspera da batalha, cumprem o ritual de declaração de guerra:
– Eu sou o inhame selvagem das rochas (planta de raiz semelhante à batata-doce). Ninguém me fará sair de Mali – grita Sumaoro.
– Tenho no meu acampamento sete ferreiros que te despedaçarão. Então, inhame, eu te comerei – replica Sundiata.
– Eu sou o musgo venenoso que faz vomitar os valentes.
– Eu sou o galo voraz. O veneno não me preocupa.
– Tem cuidado, Sundiata, ou queimarás o pé, porque eu sou um carvão em brasa.
– Pois eu sou a chuva que apaga o fogo.
As intenções dos litigantes são manifestas. No decorrer da batalha, Sundiata armou a flecha no seu arco especial e disparou. O esporão de galo branco roçou o ombro esquerdo do rei Sumaoro. E o monarca sente que as forças lhe escapam. Foge e a sua derrota consuma-se.
O príncipe Sundiata persegue-o, mas não consegue capturá-lo. A cidade de Sosso é arrasada.
Depois da grande vitória de Kirina, o rei Sundiata estabelece a capital do reino em Niani, na actual fronteira do Mali com a Guiné-Conacri. Sela uma grande aliança com os chefes da região, para criar um grande império. É aclamado solenemente Mansa – o rei dos reis ou imperador. Nasce, deste modo, um dos grandes impérios de África, que floresceram na Idade Média.
A vitória de Kirina favorece a economia. Depois dela, a agricultura desenvolve-se com o cultivo de arroz, favas, inhame, cebolas e do algodão. O imperador Sundiata controla o comércio na zona e também as minas de ouro do Gana.
No seu apogeu, este império abarcou grande parte da curva do rio Níger.
Tal como o nascimento, também a morte de Sundiata está envolvida de mistério. Segundo uma tradição, ele morre no decurso de uma cerimónia, trespassado por uma flecha. Outra tradição diz que morre afogado em circunstâncias inexplicáveis. O que se sabe é que falece por volta do ano 1255.
"O império malinqué"
As origens do império do Mali remontam ao século vii. No início do século x, os Malinqués impuseram a sua dinastia às outras comunidades e no século xi o seu rei converteu-se ao Islão, embora «a grande massa do povo continuasse na idolatria», como comentava um explorador em 1068.
Os descendentes de Sundiata tornaram-no esplendoroso no século xiv, graças sobretudo aos feitos de Kanka Mussa, em cujo reinado o império se estende muito para fora das suas fronteiras.
Os seus sucessores não tiveram a mesma audácia e, a partir do século seguinte, muitos povos proclamaram independência e o Mali ficou reduzido a um território sem importância.
Na actualidade, os Malinqués vivem quase de costas voltadas para este passado glorioso e a sua vida desenvolve-se em aldeias tranquilas.
Um afro abraço.
fonte: Contos Africanos/lendasafricanas33c.blogspot.com
FIQUE LIGADO:Simpósio de identidades áfricas na pan-amazónica no Acre
O VI Simpósio “Linguagens e Identidades da/na Amazônia Sul-Ocidental” e o V Colóquio Internacional “As Amazônias, as Áfricas e as Áfricas na Pan-Amazônia”, a ser realizado entre os dias 05 a 09 de Novembro de 2012, na Universidade Federal do Acre (UFAC), em Rio Branco.
Gostaria ainda de lembrá-los que nesta edição teremos um GT especialmente dedicado à performance e às práticas pedagógicas em música nas Amazônias, intitulado “Linguagens musicais da/na Amazônia: educação e performance”.
Para mais informações, bem como para ter acesso à chamada de trabalhos na íntegra, por favor visite a página do evento em .
O evento é realizado pela Universidade Federal do Acre e pelo Centro de Estudos Africanos e da Diáspora da PUC/SP, por meio do Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagem e Identidades (UFAC), do Núcleo de Estudos das Culturas Amazônicas e Pan-Amazônicas e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- IPHAN.
Por fim, peço a gentileza da divulgação do evento entre seus pares.
Cordialmente,
Elder Gomes da Silva
Professor Auxiliar – UFAC
Mestrando em Música – UFPR
fonte: UNEGRO BRASIL
INSCRIÇÕES PARA AS CÚPULAS DOS POVOS DA RIO + 20 : JUVENTUDE
Abertas as inscrições para o Território das Juventudes na Cúpula dos Povos
Movimentos de Juventudes de todo o país e também internacionais já podem se inscrever para participação no Território das Juventudes na Cúpula dos Povos. Entre os dias 15 e 23 de junho, o campus Urca da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Avenida Pasteur, 250, Urca) vai sediar uma série de atividades entre as juventudes, voltadas à discussão dos temas da Cúpula. São previstas rodas de conversa, mobilizações de rua e partilha coletiva de tarefas. Além disso, serão realizadas atividades autogestionadas das Juventudes no Aterro do Flamengo, espaço comum da Cúpula dos Povos. Em breve será divulgada a programação geral do Território.
As inscrições devem ser realizadas pelas entidades, redes ou movimentos de juventude interessados, indicando a quantidade de jovens participantes e a data de chegada e partida do Território. Serão oferecidos alimentação e espaço para acampamento, mediante pagamento de uma taxa simbólica por pessoa (R$20).
O Território é organizado pelo Enlace das Juventudes na Cúpula dos Povos, articulação de redes, movimentos e entidades juvenis que tem como objetivo fomentar uma participação qualificada das juventudes na Cúpula. Foi formado em janeiro deste ano, no contexto do Fórum Social Temático, em Porto Alegre. O Fórum das Juventudes da Grande BH é uma das organizações que compõem o Enlace.
As inscrições para o Território deverão ser feitas até o dia 7 de junho, na página da Cúpula dos Povos. Para saber mais sobre o Enlace das Juventudes, acesse www.enlacedasjuventudes.wordpress.com.
ESCREVA-SE PELA UNEGRO BRASIL: http://www.unegro.org.br/site/conteudo.php?
domingo, 3 de junho de 2012
3 De Junho – Dia Nacional Da Educação Ambiental : Rio+ 20...
Educação ambiental:
Educação Ambiental (EA) é tudo isso, mudar um conceito, um hábito e formar uma nova inteligência, coração e espírito para o ambiente, desenvolver as faculdades de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, criar, nutrir e fazer crescer o amor pelo planeta. É mudar hábitos antigos de destruição, degradação e desvalorização e criar novos hábitos para deixar nossa vida e a vida dos outros habitantes do planeta um pouco melhor, criando assim expectativas de vida futura com qualidade de vida.
No Brasil, a Educação Ambiental assume uma perspectiva mais abrangente, não restringindo seu olhar à proteção e uso sustentável de recursos naturais, mas incorporando fortemente a proposta de construção de sociedades sustentáveis. Mais do que um segmento da Educação, a Educação em sua complexidade e completude.
A educação ambiental tornou-se lei em 27 de Abril de 1999. A Lei N° 9.795 – Lei da Educação Ambiental, em seu Art. 2° afirma: "A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.
A educação ambiental tenta despertar em todos a consciência de que o ser humano é parte do meio ambiente. Ela tenta superar a visão antropocêntrica, que fez com que o homem se sentisse sempre o centro de tudo esquecendo a importância da natureza, da qual é parte integrante.Desde muito cedo na história humana para sobreviver em sociedade, todos os indivíduos precisavam conhecer seu ambiente. O início da civilização coincidiu com o uso do fogo e outros instrumentos para modificar o ambiente, devido aos avanços tecnológicos, esquecemos que nossa dependência da natureza continua.
"Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade."
No Brasil, a educação ambiental emerge somente na década de 1980 como um campo de saberes e práticas, e na década de 1990 se consolida a partir da Conferência das Nações Unidades para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio-92.
A Educação Ambiental é definida pela Política Nacional de Educação Ambiental - PNEA – Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999 como processo por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia qualidade de vida. Essa política reforça a educação ambiental como um componente permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.
A baixo a Carta do Movimento Negro para o Rio+20.
Reunidos no seminário “Desenvolvimento Sustentável e Erradicação da Pobreza pela ótica do Movimento Negro”, preparatório para a Conferência Rio + 20, realizado nos dias 28 e 29 de abril no Rio de Janeiro, nós do Movimento Negro brasileiro declaramos que envidaremos todos os esforços necessários em defesa do povo negro, dos povos indígenas e dos povos vítimas do racismo, discriminação racial, xenofobia e diversas formas de opressão e intolerâncias.
Uma síntese dos indicadores sociais produzidos por diversas agências de pesquisas como a Fundação Instituto Brasileiras de Geografia Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Organização das Nações Unidas (ONU) dentre outras, nos permite afirmar que nos últimos 10 anos, quase 22 milhões de pessoas saíram da situação de pobreza extrema, graças aos programas sociais do governo. Hoje, no Brasil, 20% das famílias vivem de programas de transferência de renda através dos recursos públicos como aposentadorias, “bolsa família”e assistência social.
No entanto, cabe considerar que a população brasileiraextremamente pobre, ou seja, aquela que sobrevive com menos de um dólar por dia, é estimada em 16 milhões de habitantes, dos quais 9,6 milhões ou 59% estão concentrados no Nordeste. Do total de brasileiros residentes no campo, um em cada quatro se encontra em extrema pobreza (4,1 milhões de pessoas ou 25,5%). 51% têm até 19 anos de idade. 53% dos domicílios não estão ligados a rede geral de esgoto pluvial ou fossa séptica. 48% dos domicílios rurais em extrema pobreza não estão ligados a rede geral de distribuição de água e não tem poço ou nascente na propriedade. 71% são negros (pretos e pardos). 26% dos que tem 15 anos ou mais, ou seja, 4 milhões são analfabetos.
A realidade vivida pelas comunidades quilombolas no Brasil e pelas comunidades religiosas de matriz africanas e pela maioria negra, não parece ser muito diferente da época do Brasil escravocrata. É diante desse quadro, que o Movimento Negro brasileiro realizou o Seminário “Desenvolvimento Sustentável e Erradicação da Pobreza”, nos dias 28 e 29 de abril, com o objetivo de preparar a militância negra para participar da Cúpula dos Povos, na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20, que será realizada em junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro.
Entendemos que o agravamento das questões ambientais tem atingido significativamente as comunidades negras, submetendo-as a um quadro de injustiça ambiental alarmante.
Em quase todos os indicadores econômicos e sociais, observamos a ampliação do abismo social entre negros e brancos com relação a emprego, renda, escolaridade, acesso à justiça, poder. O drama social acomete com maior gravidade a população negra, que habita as favelas e periferias desestruturadas, torna-se presa fácil da criminalidade, assiste seus jovens serem mortos pela violência urbana e nega oportunidades de mobilidade social.
Cerca de 50 mil brasileiros são assassinados por ano. Contudo, essa violência se distribuiu de forma desigual: as vítimas são, sobretudo, jovens negros do sexo masculino, entre 15 e 24 anos. O Índice de Homicídio na Adolescência (IHA) evidencia que a probabilidade de ser vítima de homicídio é mais do dobro para os negros em comparação com os brancos.
Temos assistido um silencioso massacre dos quilombolas pelas empresas construtoras de hidrelétricas, grandes proprietários de terras, latifundiários que roubaram as terras dos povos indígenas e dos quilombolas e mineradoras quecada dia mais avança suas minas sobre os territórios quilombolas e envenenam as terras com pilhas de rejeitos e resíduos tóxicos. O terror do racismo no espaço rural se agrava ainda mais com quilombolas sendo ameaçados de morte, comunidades sendo manipuladas para assinarem documentação de venda ou cessão de terras com o beneplácito das polícias estaduais.
O capitalismo é o grande responsável pelas crises econômica, alimentar e ambiental. O modelo de produção e consumo capitalista é incompatível com a preservação ambiental, como o uso coletivo das riquezas naturais e com a justiça social.
Os verdadeiros responsáveis pela devastação das florestas, pela poluição dos rios, mares, pela degradação dos biomas e insustentabilidade urbana em todo planeta são os países imperialistas e colonialistas, por isso afirmamos que os nossos povos não são responsáveis por tamanha espoliação dos seres humanos e da natureza. Não apoiamos o principio da responsabilidade comum, pois cabe aos países ricos o principal ônus da preservação. São nos países pobres e em desenvolvimento que encontramos a maioria dos povos vítimas da degradação ambiental, vítimas do racismo ambiental.
O Movimento Negro brasileiro compreende os quilombos como verdadeiros territórios de resguardo da biodiversidade, como verdadeiras escolas de diversidade cultural. No diálogo do Movimento Negro com povos e comunidades tradicionais de matriz africana, fica cada vez mais fortalecida de a idéia de que nós não somos responsáveis pela crise ecológica, pela pré-agonia dos nossos ecossistemas como a Amazônia e o Cerrado ou que restou da nossa Mata Atlântica.
Muito pelo contrário, o nosso ponto de partida é a cosmovisão de mundo negro-africana que tanto para as comunidades quilombolas quanto para os povos e comunidades tradicionais de matriz africana, a terra é concebidacomo território de reprodução cultural vivo, e portanto sagrado, ao contrario da lógica dos tecnocratas eurocêntricos , que vê a natureza apenas como fator de produção e lucro, matéria prima morta e os seres humanos como mercadoria e objetos de descarte.
É com a perspectiva de perceber a biodiversidade como um direito é que o Movimento o Negro buscará ampliar o debate no campo da ecologia política e dos direitos étnico raciais, onde diversas temáticas como o desenvolvimento sustentável, racismo ambiental, justiça e ética ambiental se interpenetram.
No centro das nossas reflexões impõe-se a critica a denominada “economia verde”, cujo eixo principal tem sido a mercantilização da natureza por parte do Capital. A adoção de políticas como: sequestro de carbono, privatizações das águas, do subsolo, fazem parte das estratégias de venda de bem público, que são os elementos da natureza, como “serviços” que são passíveis de privatização.
Consideramos que a “economia verde” é uma falsa saída para a crise ambiental e ecológica, porque os países ricos para não abrirem mão de sua qualidade de vida e consumo propõe implicitamente um desenvolvimento sustentável aos pobres, que na prática transforma o principio ecológico da sustentabilidade em merchandising, e transforma os recursos da natureza e os direitos dos povos em mercadorias, e assim mantém a desigualdade na posse e uso das riquezas naturais.
O Movimento Negro não concorda com isso. Lembremo-nos da África do Sul nos tempos do Apartheid onde a água era dos brancos e não um bem público. Portanto, vamos intensificar o diálogo com a nossa população para a importância da Cúpula dos Povos na Rio + 20 e a articulação com os povos indígenas e os movimentos sociais, buscando a construção de pontes e pontos de convergência.
Exigimos que o Estado brasileiro utilize sua influência política na Conferência Rio + 20 em defesa dos povos e nações pobres e em desenvolvimento, que defenda sua população vítima da ganância da elite capitalista brasileira e dos conflitos ambientais, destacadamente, as comunidades quilombolas, as comunidades religiosas de matriz africana, as comunidades tradicionais e das periferias dos grandes centros urbanos.
Enquanto militantes e cidadãos, não podemos, e não vamos permitir que o racismo nos submeta a violência simbólica e física, e que inclusive destrua o nosso legado ancestral e espiritual africano. Esse legado é libertário, ecológico e sagrado. A nossa emancipação é a tomada da consciência negra, dos nossos direitos enquanto sujeitos de nossa história, cuidadores do planeta Terra.
Rio de Janeiro, 29 de abril de 2012.
UNEGRO – União de Negros pela Igualdade.
MNU – Movimento Negro Unificado
CONEN – Coordenação Nacional de Entidades Negras
CENARAB – Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira
AMNB - Articulação de Mulheres Negras Brasileiras
FÓRUN NACIONAL DE MULHERES NEGRAS
ASPUC.
CEAP – Centro de Articulação de Populações marginalizadas – RJ
ENEGRECER – Coletivo Nacional de Juventude Negra
CONAQ- Coordenação Nacional de Quilombos
CNAB - Congresso Nacional Afro-Brasileiro
CIRCULO PALMARINO
REDE AMAZÔNIA NEGRA
ANCEABRA – Associação Nacional de Empresários Afro Brasileiros
CONAMI- Conselho Nacional de Mulheres Indígenas
APNS - Agentes de Pastoral Negro
SOWETO – Organização Negra - SP
SECRETARIA NACIONAL DE COMBATE AO RACISMO DA CUT
INTECAB – Instituto da Tradição e Cultura Afro-Brasileira
MONER
OFARERE MOVIMENTO AFRORELIGIOSO
Omokorins do Ilê de Oxaguian - MG
IPAC - Incubadora Afro Brasileira – RJ
AFRO BRASIL
CEDINE – Conselho Estadual de Direitos do Negro - RJ
INSTITUTO DO NEGRO PADRE BATISTA
ASCEB
MAMATERRA
PASTORAL AFRO-BRASILEIRA DA CNBB
BAZAFRO
CRIAR
REDE ALIMENTAÇÃO ECOSOL – BAHIA
CONAM NACÃO BLACK
GAICUNE - RJ
TJ NEGRO
COJIRA – RIO
NEGRA SIM
FENAFAL
ASHOGUN
NUCLEO DE COMUNIDADES NEGRAS DE OSACO
CEN - COLETIVO DE ENTIDADES NEGRAS
IGERE – MG
DANDARA MULHERES DO CERRADO
SINTERGIA – RJ
Objetivos
Sensibilização ambiental: Processo de alerta, considerado como primeiro objetivo para alcançar o pensamento sistêmico da Educação Ambiental.
Compreensão ambiental: Conhecimento dos componentes e dos mecanismos que regem o sistema natural.
Responsabilidade ambiental: Reconhecimento do ser humano como principal protagonista para determinar e garantir a manutenção do planeta.
Competência ambiental: Capacidade de avaliar e agir efetivamente no sistema (ambiental).
Cidadania ambiental: Capacidade de participar ativamente, resgatando os direitos e promovendo uma nova ética capaz de conciliar a natureza e a sociedade.
A questão racial nos dias atuais é uma tod@s ;esta tematica que ultimamente tem ser colocado de forma transversal para a valorização e o respeito entre os povos das mais diversas origens. O Rio + 20 necessita ter um olhar diferenciado para os de origem negra e indígena entre as mesas tematicas o resgatar os valores dessas culturas milenares hoje muito desvalorizadas e esquecidas em nossos dias.
Um afro abraço.
fonte:UNEGRO/.ipe.org/wiki/Educação_ambiental.
sábado, 2 de junho de 2012
1º de Junho dia da Imprensa.
Até o século XV não existia o um alemão, João Gutenberg, foi o inventor do processo de impressão com tipos móveis, e desse aperfeiçoamento nasceu à verdadeira imprensa, que tem sido sempre mais aperfeiçoada até os nossos dias.
Foi D. João VI quem criou a imprensa no Brasil, quando, a 13 de maio de 1808, decretou a instalação da imprensa Régia no país.
No Brasil temos duas histórias interessantes:
A primeira e que o jornal diário brasileiro, o "Diário do Rio de Janeiro", aparecido a 1° de junho de 1821, foi fundado por Zeferino Vitor Meireles, que trabalhava na imprensa Régia e onde por concessão especial do Príncipe Regente, imprimiu os primeiros números do seu jornal.
Grandes jornalistas foram Evaristo da Veiga, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa, José do Patrocínio, Ferreira Viana, Assis Chateaubriand, etc.
A segunda e que com a lei 9831/99, que definiu a data oficial da Imprensa Brasileira no dia 1º de junho, data do primeiro número do Correio Brasiliense, jornal editado pelo brasileiro Hipólito José da Costa em Londres também em 1808. Esse periódico foi lançado três meses antes d’A Gazeta com o intuito de informar a população brasileira sobre os eventos da Europa, sem a censura da Coroa Portuguesa.
A mudança no calendário oficial de duas datas, em função de duas publicações lançadas no mesmo ano, mas com linhas editoriais totalmente diferenciadas, mostra a síntese da Imprensa Brasileira: ora defensora dos interesses da população e das liberdades políticas e individuais, ora porta-voz do poder sem relação com esta mesma população.
O primeiro repórter negro da America
Este ano, cidades e organizações em todo o USA comemoraram o 150 º aniversário do início da Guerra Civil americana, que durou de 1861 a 1865. Na história do jornalismo, a Guerra Civil marcou a primeira vez que um grande número de repórteres,artistas e fotógrafos seguiram tropas para a batalha para noticiar em primeira mão.
O repórter Thomas Morris Chester do Philadelphia Press foi o único negro cobrindo a Guerra Civil para um grande jornal. Ele estava em Richmond, Virgínia, em 1865, quando tropas da União invadiram a capital confederada.
Chester, o filho de um catador de ostras e um escravo fugido, entrou em Richmond com soldados negros da União que estavam lutando para ganhar a liberdade, não apenas para sua raça, mas também o reconhecimento como patriotas por seu país.
Logo no início, Chester passou apoiar o movimento de colonização africano, defendendo os assentamentos da Libéria. Ele imigrou para a Libéria em 1853 com idade de 19 anos, onde se tornou editor do jornal Star of Libéria newspaper em Monróvia. Ele voltou para os Estados Unidos depois de um ano, mas viajou frequentemente para a Libéria nos 13 anos seguintes. Ingressou no Philadelphia Press em 1864, tornando-se primeiro repórter de jornal da raça negra.
Depois da guerra, Chester viajou por toda a Europa defendendo a Libéria, estudou Direito na Inglaterra e mais tarde tentou a política na Louisiana.
Em 1892, amargurado pelas leis e doente, ele retornou à sua cidade na Pensilvânia, onde morreu de um ataque cardíaco. Ele foi enterrado em um cemitério para segregados em Harrisburg sua cidade natal.
A Mulher e o Jornalismo Alternativo no Mundo: as experiências do The
Revolution e das mulheres negras norte-americanas
As jornalistas mulheres norte-americanas, segundo Chambers, Steiner e Fleming
(2004), começaram a ocupar certo espaço na grande imprensa apenas nas últimas
Décadas do século XIX, quando os jornais passaram a depender de renda publicitária.
Para a sobrevivência, com o objetivo de atrair a audiência feminina. De qualquer forma,
Tratava-se também de uma participação bastante restrita. Além de estarem confinadas ao
Tipo de matéria que não era de interesse dos homens jornalistas, dos 12.308 empregados.
De 1880, apenas 288 eram mulheres.
O jornalista Edwin Shuman chegou a escrever, em 1899, que “o trabalho de
Coleta de notícias, via de regra, é muito rude e exigente para as mulheres. O trabalho de reportagem local lida muito exclusivamente com homens e com os negócios dos
“Homens para dar às mulheres uma única chance nisso”.
Muitas mulheres, no entanto, lutaram pelo direito de discutir as questões
Políticas através da entrada em veículos da imprensa alternativa.
Em 1868, por exemplo, é lançado por Amélia Blommer e Elizabeth Staton o
Primeiro jornal explicitamente feminista dos Estados Unidos, chamado The Revolution.
Em um dos editoriais, Staton afirma que “nós declaramos guerra até a morte à ideia de.
Que a mulher foi criada para o homem. Nós conclamamos a mais alta verdade de que,
Como o homem, ela foi criada por Deus para a responsabilidade moral individual e para.
“O progresso, aqui e para sempre”.
Nesta época, um jornal de mainstream, o The New York Sun2, publicou uma
crítica severa ao The Revolution, sugerindo que a senhora Staton “prestasse um pouco
mais de atenção aos seus deveres domésticos e um pouco menos para os assuntos de
interesse público”.
Outras participações femininas importantes podem ser encontradas na imprensa
dirigida por negros do século XIX. Só durante a Guerra Civil Norte Americana, há uma
estimativa que surgiram mais de 40 jornais alternativos cujos donos eram negros. E
muito embora já houvesse participação feminina nestes jornais, sua presença se tornou
muito mais maciça nos jornais que surgiram após o fim da Guerra Civil como, por
exemplo, o New National Era. Neste período, o número de periódicos cresceu ainda
mais3.
Para Chambers et alii (2004: 23) as mulheres jornalistas negras conseguiram se
impor enquanto membros de um gênero com mais força do que as mulheres jornalistas
brancas. Segundo as autoras, para as afro-americanas, “o jornalismo não era apenas umaprofissão, mas um chamado do qual elas atenderam especifica e explicitamente como
mulheres afro-americanas”. Mesmo que por diversas razões históricas ligadas às
barreiras de raça e gênero essas mulheres fossem mantidas longe da imprensa de
mainstream, elas exerciam uma atividade literária volumosa e constante, valorizada por
seu público-alvo. Mais do que isso, “elas eram tidas como muito importantes para a
imprensa negra”
A construção de um modelo de história dos sistemas de comunicação.
Um historiador disse certa vez que os meios de comunicação têm uma história, embora nem sempre haja historiadores dispostos a estudá-la. Essa máxima é também profundamente verdadeira no que se refere ao Brasil. À análise histórica dos meios de comunicação tem sido o mais das vezes, relegada o segundo plano. Por outro lado, numa espécie de contradição, nas Faculdades de Comunicação proliferam as disciplinas que falam, pelo menos em tese, de variadas histórias: história da comunicação, história da imprensa, história do rádio e da televisão, história da publicidade, entre outras menos cotadas.
Seriam necessárias tantas “histórias”? Qual a diferença entre uma história da comunicação e uma história da imprensa? Onde estariam os limites entre uma história do rádio e da televisão e uma história dos livros e das bibliotecas? Não seria mais apropriado postular-se, então, uma história dos sistemas de comunicação?
Mas para isso é preciso saber de que história está falando, que visão de história é essa que é capaz de visualizar o processo de comunicação entendida como um sistema complexo, onde é preciso dar voz não apenas aos produtores de mensagens e às mensagens, mas, sobretudo a quem recebe e se apropria, de forma diferenciada, dessas mensagens.
No limiar do século XXI ainda ficamos ensimesmados num conceito ou numa visão de história ultrapassada, definida pelo objeto e não pela forma como se conduz a sua análise. Daí a existência de múltiplas histórias, quando deveríamos produzir uma história dos sistemas de comunicação.
Essa história - na qual se destaca a apreensão do social como total e a percepção da narrativa histórica como artefato literário - visualizaria o processo da comunicação como um sistema, no qual tem tanta importância o conteúdo da mensagem, o produtor da mensagem, como também a forma como o leitor/espectador entendeu, nos limites de sua cultura, os sinais emitidos ou impressos. Importa, pois, numa história dos sistemas de comunicação a apropriação diferenciada de mensagens feita por um leitor/espectador, um sujeito social e histórico, vivendo num mundo pleno de significados.
“A imprensa é um dos esteios da ordem, do direito, da justiça e verdade,” Por seu intermédio, ou através dela se propagam as boas e generosas causas e aquelas não tão boas também. Por isto precisamos ficar atentos e críticos, pois também e fruto do meio e infelizmente pode ser corrompida e usada para interesses pessoais vendo que as ideias difundem conhecimentos e advogam e pregam princípios.
Um afro abraço.
Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/junho/dia-nacional-da-imprensa.php#ixzz1wb1BGUAI/revistahistorien.blogspot.com /www.jornalistasp.org.br/ kduko// www.usp.br/alterjor
sexta-feira, 1 de junho de 2012
Todo dia é dia de Samba...
o Samba nosso de cada dia.
A Origens:"Samba na Raiz"
As raízes do samba foram fincadas em solo brasileiro na época do Brasil Colonial, com a chegada da mão-de-obra escrava em nosso país.O batuque praticado durante o Brasil do século XIX, em pintura de Johann Moritz Rugendas.Existem várias versões acerca do nascimento do termo "samba". Uma delas afirma ser originário do termo "Zambra" ou "Zamba", oriundo da língua árabe, tendo nascido mais precisamente quando da invasão dos mouros à Península Ibérica no século VIII. Uma outra diz que é originário de um das muitas línguas africanas, possivelmente do quimbundo, onde "sam" significa "dar", e "ba" "receber" ou "coisa que cai". Ainda há uma versão que diz que a palavra samba vem de outra palavra africana, semba, que significa umbigada.
No Brasil, acredita-se que o termo "samba" foi uma corruptela de "semba" (umbigada), palavra de origem africana - possivelmente oriunda de Angola ou Congo, de onde vieram a maior parte dos escravos para o Brasil.
Um dos registros mais antigos da palavra samba apareceu na revista pernambucana O Carapuceiro, datada de fevereiro de 1838, quando Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama escrevia contra o que chamou de "samba d'almocreve" - ou seja, não se referindo ao futuro gênero musical, mas sim a um tipo de folguedo (dança dramática) popular de negros daquela época. De acordo com Hiram da Costa Araújo, ao longo dos séculos, as festas de danças dos negros escravos na Bahia eram chamadas de "samba".
O samba é um gênero musical, do qual deriva um tipo de dança, de raízes africanas surgido no Brasil e considerado uma das principais manifestações culturais populares brasileiras.O primeiro samba gravado no Brasil foi Pelo Telefone, no ano de 1917.
Dentre suas características originais, está uma forma onde a dança é acompanhada por pequenas frases melódicas e refrões de criação anônima, alicerces do samba de roda nascido no Recôncavo Baiano e levado, na segunda metade do século XIX, para a cidade do Rio de Janeiro pelos negros que trazidos da África e se instalaram na então capital do Império. O samba de roda baiano, que em 2005 se tornou um Patrimônio da Humanidade da Unesco, foi uma das bases para o samba carioca.
Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo:
Os tipos de samba mais conhecidos e que fazem mais sucesso são os da Bahia, do Rio de Janeiro e de São Paulo. O samba baiano é influenciado pelo lundu e maxixe, com letras simples, balanço rápido e ritmo repetitivo. A lambada, por exemplo, é neste estilo, pois tem origem no maxixe.
Já o samba de roda, surgido na Bahia no século XIX, apresenta elementos culturais afro-brasileiros. Com palmas e cantos, os dançarinos dançam dentro de uma roda. O som fica por conta de um conjunto musical, que utiliza viola, atabaque, berimbau, chocalho e pandeiro.
No Rio de Janeiro, o samba está ligado à vida nos morros, sendo que as letras falam da vida urbana, dos trabalhadores e das dificuldades da vida de uma forma amena e muitas vezes com humor.
Entre os paulistas, o samba ganha uma conotação de mistura de raças. Com influência italiana, as letras são mais elaboradas e o sotaque dos bairros de trabalhadores ganha espaço no estilo do samba de São Paulo,pelo menos por enquanto.
Principais tipos de samba:
Samba-enredo
Surge no Rio de Janeiro durante a década de 1930. O tema está ligado ao assunto que a escola de samba escolhe para o ano do desfile. Geralmente segue temas sociais ou culturais. Ele que define toda a coreografia e cenografia utilizada no desfile da escola de samba.
Samba de partido alto
Com letras improvisadas, falam sobre a realidade dos morros e das regiões mais carentes. É o estilo dos grandes mestres do samba. Os compositores de partido alto mais conhecidos são: Moreira da Silva, Martinho da Vila e Zeca Pagodinho.
Pagode
Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, nos anos 70 (década de 1970), e ganhou as rádios e pistas de dança na década seguinte. Tem um ritmo repetitivo e utiliza instrumentos de percussão e sons eletrônicos. Espalhou-se rapidamente pelo Brasil, graças às letras simples e românticas. Os principais grupos são : Fundo de Quintal, Negritude Jr., Só Pra Contrariar, Raça Negra, Katinguelê, Patrulha do Samba, Pique Novo, Travessos, Art Popular.
Samba-canção
Surge na década de 1920, com ritmos lentos e letras sentimentais e românticas. Exemplo: Ai, Ioiô (1929), de Luís Peixoto.
Samba carnavalesco
Marchinhas e Sambas feitas para dançar e cantar nos bailes carnavalescos. exemplos : Abre alas, Apaga a vela, Aurora, Balancê, Cabeleira do Zezé, Bandeira Branca, Chiquita Bacana, Colombina, Cidade Maravilhosa entre outras.
Samba-exaltação
Com letras patrióticas e ressaltando as maravilhas do Brasil, com acompanhamento de orquestra. Exemplo: Aquarela do Brasil, de Ary Barroso gravada em 1939 por Francisco Alves.
Samba de breque
Este estilo tem momentos de paradas rápidas, onde o cantor pode incluir comentários, muitos deles em tom crítico ou humorístico. Um dos mestres deste estilo é Moreira da Silva .
Samba de gafieira
Foi criado na década de 1940 e tem acompanhamento de orquestra. Rápido e muito forte na parte instrumental, é muito usado nas danças de salão.
Sambalanço
Surgiu nos anos 50 (década de 1950) em boates de São Paulo e Rio de Janeiro. Recebeu uma grande influência do jazz.. Um dos mais significativos representantes do sambalanço é Jorge Ben Jor, que mistura também elementos de outros estilos.
02 de Dezembro: "Dia nacional do Samba"
E viva o Samba!!!
Um afro abraço.
fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre/www.suapesquisa.
O Que estamos Nossa Crianças: Trabalho Infantil parte II.
Desde o início da colonização, as escolas jesuíticas eram escarças e para alguns. As crianças indígenas tinham algum acesso a elas, o mesmo não aconteceu com as crianças negras, embora saibamos que alguns escravos aprendiam a ler e escrever com os padres. O ensino público só foi instalado, e muito precário, durante o governo do Marquês de Pombal, na segunda metade do século XVIII. Os cuidados com a evasão, com o ensino da religião cristã, e “obrigações civis” ou dos chamados “Estudos Maiores” não cobriam, contudo, as necessidades de uma parcela que não era conciderada importante da população: aquela constituída de filhos de forros. Nos documentos, nem uma palavra sobre a educação de crianças negras ou de filhos de escravos, salvo a religiosa que, segundo o jesuíta Antonil, era obrigatória. Essa obrigatoriedade acabou empurrando o catolicismo para dentro dos rituais de candomblé afro-banto: “O kêrêkêrê – relampejou! Pelo Cálice e pela Hóstia! Noé, Noé, Sua barca é-vem!
É-vem cheia de caboco, completa ou sozinha sem mais ninguém!”
No século XIX, a unica auternativa para os filhos dos pobres não seria a educação, mas a sua transformação em cidadãos úteis e produtivos na lavoura, enquanto os filhos de uma pequena elite eram ensinados por professores particulares. Reclamada desde 1824, e criada em 1856 para atender às necessidades de uma população livre e vacinada, a escola pública proibia seus assentos às crianças escravas. Às pobres, provavelmente mestiças e negras, reservava espaço quando se tratavam daquelas que demonstravam “acentuada distinção e capacidade”. Examinando relatórios de mestres, lecionando em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, no final do século XIX, Alessandra Martinez de Schueler6 demonstra que, segundo esses, uma parcela diminuta de alunos era constituída por libertos “pretos”, além de um “número pequeno de cor parda”. A desigualdade social e racial inscrevia-se, portanto, nas origens do ensino público que não era para todos. Mas para alguns.
Para as crianças libertas com a Lei do Ventre Livre (28/09/1871), sobrou a perspectiva do ensino profissionalizante. Institutos privados, na sua maior parte de origem religiosa, como o do Sagrado Coração de Jesus ou o abrigo Santa Maria em São Paulo, recolhiam crianças pobres e davam-lhes um mínimo de preparo prático para ofícios manuais5. Schueler lembra ainda, num dos seus artigos, que a mesma lei previa que a educação dos “ingênuos” (termo que designava crianças de até 5 anos) fosse entregue ao governo pelos senhores. A instrução primária e o encaminhamento dos filhos livres das escravas para os ofícios manuais foram projetados no texto legal. Quando das grandes reformas urbanas que atingiram as capitais dos Estados, no final do século XIX, vozes como as de Cândido Motta, Moncorvo Filho e Bush Varella, juristas e médicos, imprecavam contra a presença crescente de crianças nas ruas – as negras eram maioria –, exigindo solução para estancar a circulação desses “desgraçados, sem teto, sem lar, sem educação, sem instrução e sem ordem”. Na República, recém-proclamada e que ostentava na bandeira o lema “Ordem e Progresso”, a infância negra prometia desordem e atraso. Na capital, Rio de Janeiro, pequenos mendigos, indigentes e vadios faziam da Praça XV, do Arco do Telles e das portas de igrejas o seu ponto de apoio.6 Quarenta anos depois, o Estado Novo criava, em 1941, o Serviço de Atendimento ao Menor (SAM), sistema que ajudou a criminalizar definitivamente o menor de rua7. No primeiro quartel do século XX, a população de crianças carentes tinha que defrontar-se com um binômio imposto pela sociedade burguesa: lazer versus trabalho e honestidade versus crime. Normalmente foram associadas ao trabalho e, na ausência deste, ao crime. Os rostos de crianças negras são os mais freqüentes nas imagens mostradas sobre a Febem.
No final aquele mesmo século, o trabalho infantil continua, contudo, sendo visto, pelas camadas subalternas, como “a melhor escola”. Pais pobres, com renda inferior a meio salário mínimo, exigem que seus filhos trabalhem para incrementar os rendimentos do grupo familiar. “O trabalho – explica uma mãe pobre – é uma distração para a criança. Se não estiverem trabalhando, vão inventar moda, fazer o que não presta. A criança deve trabalhar cedo.” E, pior, hoje, afogados pelo trabalho, quase 60% desses pequenos trabalhadores, no Nordeste, são analfabetos e entre eles a taxa de evasão escolar chega a 24%. No sul do País o cenário não é muito diferente. Trabalhando em lavouras domésticas ou na monocultura, as crianças interrompem seus estudos na época da colheita, demonstrando que estar inscrito numa escola primária não significa poder freqüentá-la plenamente. Assim, o trabalho, como forma de complementação salarial para famílias pobres ou miseráveis, sempre foi priorizado em detrimento da formação escolar. Nesse quadro, a criança negra e analfabeta tornava-se uma espécie de testemunha muda, silenciosa, de seu tempo.
Quanto à evolução da intimidade, sabemos o quanto ela sempre foi precária entre nós. Os lares mono-parentais; a mestiçagem; a pobreza material e arquitetônica, que traduzia-se em espaços onde misturavam-se, indistintamente, crianças e adultos de todas as condições; a presença de escravos, forros e libertos; a forte migração interna, capaz de alterar os equilíbrios familiares; a proliferação de cortiços, no século XIX, e de favelas, no XX, são fatores que alteravam a noção de que se pudesse ter no Brasil, até bem recentemente, privacidade, tal como ela foi concebida pela Europa urbana, burguesa e iluminista. A noção de privacidade para escravos é ainda mais complexa de ser pensada. Ela não passa pela constituição de espaços de intimidade. Passa, sim, por seu corpo. Seu território privado é o “eu”, espécie de bolha irregular e protetora, mais ou menos desenvolvida de acordo com a sua condição na sociedade. Na busca de interação ou em atitudes de rejeição, o território do eu permitia marcar um certo espaço ou violar o dos outros. A intimidade de mães e filhos, por exemplo, elaborava-se não em casa, mas na rua. Nos relatos de viajantes, demonstra Kátia Q. Mattoso,11 crioulinhos e pardinhos acompanham suas mães nas tarefas do cotidiano. Quando, muito novos para correrem pelos caminhos e pelas vias públicas, iam arrimados nas costas de suas mães, envolvidos por panos coloridos. A proximidade do seio materno, do dialeto no qual as mulheres se comunicavam, os adornos de coral e os balangandãs que usavam contra forças maléficas e até a forma como penteavam seus cabelos e o de suas crias faziam parte desse território do eu, dividido, no aconchego do colo, entre mãe e filho.
A passagem da alimentação mista para a semi-sólida operava-se com infinita precaução, não percebida, todavia, pelos viajantes estrangeiros. A técnica de pré-digestão de alimentos embebidos na saliva materna significava muito mais um cuidado do que falta de higiene. Na tradição africana, era comum a mastigação de sólidos e a passagem destes, em forma de bolo cremoso, para a boquinha dos pequenos. Era habitual, também, dar de comer aos pequenos pirão de leite ou farinha seca com açúcar bruto, de manhã, leite com jerimum ou escaldado de carne no almoço. O prato de resistência era o feijão cozido, servido com farinha ou machucado à mão. Leite de cabra era considerado fortificante. Para se comunicar, as mães negras criaram uma linguagem que em muito colaborou para enternecer as relações entre o mundo infantil e o mundo adulto. Reduplicando as sílabas tônicas, pronunciavam com especial encanto: dodói, cacá, pipi, bumbum, tentém, dindinho, bimbinha. Para adormecê-los, contavam-lhes estórias de negros velhos africanos, papa-figos, boitatás e cabras-cabriolas. A cultura africana inundou o imaginário infantil com assombrações como o mão-de-cabelo, o quibungo, o xibamba.
Não poderíamos, tampouco, incorporar as teses de um epígono americano de Ariès, Lloyd de Mause, para quem a história dos pequenos seria apenas um catálogo de barbáries, maus-tratos e horrores. No que diz respeito à História do Brasil, encontramos, de fato, passagens de terrível sofrimento e violência. Mas não só. Os testamentos feitos por jovens mães, negras livres, escravas ou forras, no século XVIII, não escondem a preocupação com o destino de seus “filhinhos do coração”. Os viajantes estrangeiros não cessaram de descrever o demasiado zelo com que, numa sociedade pobre e escravista, os adultos tratavam as crianças.
Hoje seculo XXI e nossas crianças:
O trabalho infantil no Brasil ainda é um grande problema social. Milhares de crianças ainda deixam de ir à escola e ter seus direitos preservados, e trabalham desde a mais tenra idade na lavoura, campo, fábrica ou casas de família, muitos deles sem receber remuneração alguma. Hoje em dia, em torno de 4,8 milhões de crianças de adolescentes entre 5 e 17 anos estão trabalhando no Brasil, segundo PNAD 2007. Desse total, 1,2 milhão estão na faixa entre 5 e 13 anos.
A maioria dos problemas políticos, sociais e econômicos enfrentados pela sociedade contemporânea são fruto do pensamento capitalista, que estimula a produção de riqueza por pessoas que são impedidas de usufruírem-na. Pior ainda quando se fala em trabalhadores infantis, que são milhões ao redor do mundo.
O trabalho infantil não é um fenômeno recente no Brasil. Desde o início da colonização, as crianças negras e indígenas eram submetidas ao trabalho. Com a revolução industrial no final do século XIX, novas formas de divisão do trabalho facilitaram a inclusão da mão-de-obra infantil a custos mais baixos, principalmente na indústria têxtil. A partir do século XX, a urbanização promoveu uma ampliação ainda maior nos ramos de atividade para as crianças.
Atualmente, estima-se que há mais de 350 milhões de crianças e adolescentes menores de 18 anos economicamente ativos no mundo e cerca de 5 milhões no Brasil, empregados em atividades mal-remuneradas ou submetidos ao trabalho escravo. As principais causas do trabalho infantil no país são: a excessiva concentração de renda, a precarização das relações trabalhistas e o papel que a sociedade atribui ao trabalho, vendo-o muitas vezes de forma tolerável e, às vezes, desejável.
O percentual de “pequenos trabalhadores” na zona rural é maior que nos centros urbanos. Nos canaviais, na cultura do sisal ou nas plantações de fumo, crianças e jovens se expõem ao manejo de ferramentas cortantes e tóxicas, colocando em risco sua própria saúde. Na zona urbana, boa parte das crianças está empregada no setor informal, seja vendendo produtos nos semáforos, engraxando sapatos ou se prostituindo em estradas, boates e casas de show, influenciadas muitas vezes pelos próprios pais.
Portanto, embora o trabalho de menores seja usado como estratégia de sobrevivência à fome, à miséria e à marginalidade, ele aprofunda a desigualdade social e prejudica o desenvolvimento físico, psicológico e social na infância. Criança que trabalha não estuda bem, não vive bem. Trabalho infantil não é solução. É problema para a criança e para a sociedade.
Perfil do trabalho infantil no Brasil
Como já era de se esperar, o trabalho infantil ainda é predominantemente agrícola. Cerca de 36,5% das crianças estão em granjas, sítios e fazendas, 24,5% em lojas e fábricas. No Nordeste, 46,5% aparecem trabalhando em fazendas e sítios.
A Constituição Brasileira de 1988 diz: menores de 16 anos são proibidos de trabalhar, exceto como aprendizes e somente a partir dos 14. Não é o que vemos na televisão. Há dois pesos e duas medidas. Achamos um absurdo ver a exploração de crianças trabalhando nas lavouras de cana, carvoarias, quebrando pedras, deixando sequelas nessas vítimas indefesas, mas costumamos aplaudir crianças e bebês que tornam-se estrelas mirins em novelas, apresentações e comerciais.
A UNICEF declarou no Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil (12 de junho) que os esforços para acabar com o trabalho infantil não serão bem sucedidos sem um trabalho conjunto para combater o tráfico de crianças e mulheres no interior dos países e entre fronteiras. No Dia Mundial contra o Trabalho Infantil, a UNICEF disse/referiu com base em estimativas que o tráfico de Seres humanos começa a aproximar-se do tráfico ilícito de armas e drogas.
Longe de casa ou num país estrangeiro, as crianças traficadas – desorientadas, sem documentos e excluídas de um ambiente que as proteja minimamente – podem ser obrigadas a entrar na prostituição, na servidão doméstica, no casamento precoce e contra a sua vontade, ou em trabalhos perigosos.
Embora não haja dados precisos sobre o tráfico de crianças, estima-se que haverá cerca de 1.2 milhões de crianças traficadas por ano.
A divisão da sociedade, velha divisão dos tempos da escravidão entre os que possuem e os que nada têm, só fez agravar a situação dos nossos pequenos.Por fim, parece-nos evidente que querer conhecer mais sobre a trajetória histórica dos comportamentos, das formas de ser e de pensar em relação às nossas crianças negras é também uma forma de amá-las, todas e indistintamente, melhor.
Se liga Brasil nosso espelho reflete a sociedade que construimos.
Um afro abraço.
fonte:http://br.guiainfantil.com/direitos-das-criancas/
Nossos Herois, nossa historia: Laceiros Negros
"Eu vi batalhas mais disputadas, mas nunca vi em nenhuma parte homens mais valentes nem cavaleiros mais brilhantes que os da cavalaria rio-grandense, em cujas fileiras comecei a desprezar o perigo e combater dignamente pela causa sagrada das gentes”.
Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha são os nomes pelos quais ficou conhecida a revolução ou guerra regional, de caráter republicano, contra o governo imperial do Brasil, na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e que resultou na declaração de independência da província como estado republicano, dando origem à República Rio-Grandense.
Estendeu-se de 20 de setembro de 1835 a 1° de março de 1845
A revolução, de caráter separatista, influenciou movimentos que ocorreram em outras províncias brasileiras: irradiando influência para a Revolução Liberal que viria a ocorrer em São Paulo em 1842 e para a Revolta denominada Sabinada na Bahia em 1837, ambas de ideologia do Partido Liberal da época. Inspirou-se na recém findada guerra de independência do Uruguai, mantendo conexões com a nova república do Rio da Prata, além de províncias independentes argentinas, como Corrientes e Santa Fé. Chegou a expandir-se à costa brasileira, em Laguna, com a proclamação da República Juliana e ao planalto catarinense de Lages. Teve como líderes: general Bento Gonçalves, general Neto, coronel Onofre Pires, coronel Lucas de Oliveira, deputado Vicente da Fontoura, Pedro Boticário, general Davi Canabarro, coronel Corte Real, coronel Teixeira Nunes, coronel Domingos de Almeida, major Vicente Ferrer de Almeida,coronel Domingos Crescêncio de Carvalho, general José Mariano de Mattos, general Gomes Jardim , além de receber inspiração ideológica de italianos da Carbonária refugiados, como o cientista e tenente Tito Lívio Zambeccari e o jornalista Luigi Rossetti, além do capitão Giuseppe Garibaldi, que embora não pertencesse a carbonária, esteve envolvido em movimentos republicanos na Itália. A questão da abolição da escravatura também esteve envolvida, organizando-se exércitos contando com homens negros que aspiravam à liberdade.
Mesmo na historiografia e na literatura produzidas no Rio Grande do Sul há distorções que confundem os fatos. Alguns fazem apologia dos heróis e condenam os traidores. Outros tentam desmistificar, mas pouco acrescentam ao conhecimento do contexto, às motivações e conseqüências do movimento dos farrapos. Colocam-se como discussões o caráter separatista ou não do movimento, gerando posições apaixonadas ou constrangedoras para a problemática da identidade regional e nacional.
Estudos históricos e produções literárias mais recentes têm sido mais objetivos. O movimento farroupilha rio-grandense fez parte de exigências locais e esteve inserido no jogo das questões nacionais e internacionais típicas da primeira metade do século XIX.
Com base nessa historiografia mais recente, pretende-se compreender as relações do movimento farroupilha no contexto brasileiro, platino e do mundo ocidental. Além disso, responder a indagações como: quem fez e por que fez a guerra? Quais os interesses em jogo na eclosão e duração do movimento? De que forma foi realizada a paz e por que ela apresenta um certo espírito de "comemoração" entre os legalistas e insurretos? Finalmente, criticar as reivindicações dos farrapos a partir da constatação dos limites da pecuária rio-grandense
Lanceiros Negros é o nome dado a dois corpos de lanceiros constituídos, basicamente, de negros livres ou de libertos pela República Rio-Grandense que lutaram na Revolução Farroupilha. Possuíam 8 companhias de 51 homens cada, totalizando 426 lanceiros .
Tornou-se célebre o 1.º Corpo de Lanceiros Negros organizado e instruído, inicialmente, pelo Coronel Joaquim Pedro, antigo capitão do Exército Imperial, que participara da Guerra Peninsular e se destacara nas guerras platinas. Ajudou, nesta tarefa, o Major Joaquim Teixeira Nunes, veterano e com ação destacada na Guerra Cisplatina. Este bravo, à frente deste Corpo de Lanceiros Negros, libertos, prestaria relevantes serviços militares à República Rio-Grandense.
Foram seus oficiais, entre outros:
Coronel Joaquim Pedro
Coronel Joaquim Teixeira Nunes
Tenente Manuel Alves da Silva Caldeira
Capitão Vicente Ferrer de Almeida
Capitão Marcos de Azambuja Cidade
Primeiro-tenente Antônio José Coritiba
O derradeiro combate
Em 28 de novembro de 1844, Teixeira Nunes e remanescentes de seu legendário Corpo de Lanceiros Negros travaram o último combate da Revolução em terras do Rio Grande do Sul, consta que em terras do atual município de Arroio Grande, berço do Visconde de Mauá.
A morte de Teixeira Nunes foi assim comunicada pelo então barão de Caxias, em ofício: Posso assegurar a V. Exa. que o Coronel Teixeira Nunes foi batido no campo de combate, deixando o campo, por espaço de duas léguas, juncando de cadáveres. Eram seguramente cadáveres de Lanceiros negros.
Teixeira Nunes foi um dos maiores lanceiros de seu tempo, e como uma ironia do destino teria caido mortalmente ferido por uma lança manejada pelo braço vigoroso do Alferes Manduca Rodrigues.
"O único ponto controverso da paz firmada entre Caxias e farroupilhas, a liberdade dos escravos que lutaram com os rebeldes, foi resolvido de forma pragmática e cruel: o batalhão dos chamaos Lanceiros Negros, desarmado por seu comandante, Davi Canabarro, foi massacrado em novembro de 1844, em Porongos." (Eduardo Bueno, História do Brasil, 1997.)
A LiberdadeDos Lanceiros Negros restaram mais de 120, que após a paz de Ponche Verde foram mandados incorporar pelo Barão de Caxias aos três Regimentos de Cavalaria de Linha do Exército na Província.
O Império manteve suas liberdades na cláusula IV da Paz de Ponche Verde. São livres e como tais reconhecidos todos os cativos que serviram à República.
Cláusula respeitada por conta e risco pelo Barão de Caxias contrariando determinação superior de os recolher como escravos estatais para a Fazenda de Santa Cruz no Rio de Janeiro .
Caxias usou o seguinte expediente para não os enviar para o Rio. Considerou que eles haviam se apresentado livremente. E a seguir os libertou e os incorporou as três unidades de Cavalaria Ligeira do Exército Imperial no Rio Grande .E em Ponche Verde em D. Pedrito foram acolhidos pelos coronéis Manuel Marques de Sousa e Manuel Luís Osório comandantes de duas unidades de Cavalaria.
Dentre em breve iriam lutar na Guerra contra Oribe e Rosas, pela Integridade e Soberania brasileiras no Sul, ameaçadas por caudilhos platinos.
Segundo-tenente Caetano Gonçalves da Silva (filho de Bento Gonçalves)
Segundo-tenente Ezequiel Antônio da Silva
Segundo-tenente Antônio José Pereira
Resultados do Movimento
Por dez anos, a guerra civil prejudicou o setor pecuarista.
As perdas foram muito maiores do que os lucros políticos e econômicos do movimento. Os pecuaristas saíram mais endividados junto aos comerciantes e banqueiros. Propriedades rurais, gado e escravos foram perdidos e tornou-se muito difícil repô-los posteriormente.
A paz honrosa de Poncho Verde, em 1845, acomodou as crescentes dificuldades dos farrapos, pois não interessava ao governo monárquico reprimir uma elite econômica. Aos oficiais do Exército farroupilha foram oferecidas possibilidades de se incorporarem aos quadros do Exército nacional. Líderes presos foram libertados e a anistia foi geral e imediata.
Antes e depois da Guerra dos Farrapos, os rio-grandenses lutaram contra os platinos, defendendo militarmente os interesses da coroa portuguesa e, a partir de 7 de setembro de 1822, os da corte brasileira. Ou seja, interessava ao governo do Rio de Janeiro assinar o acordo de Poncho Verde porque a política externa brasileira ainda necessitaria dos serviços militares (sempre disponíveis) da Guarda Nacional formada por estancieiros e peões rio-grandenses.
Quanto à política tarifária, medidas sem expressividade e pouco duradouras tentaram transparecer um melhor tratamento dado ao produto nacional. A estrutura produtiva ultrapassada (baseada na escravidão) não foi alvo de preocupações.
A sensação que existe hoje, passado um século e meio, é a de que as motivações daquele movimento não foram superadas. Por um lado, o Rio Grande do Sul continua em situação de mando político dependente, com uma economia pouco beneficiada no processo de acumulação capitalista que se reproduz no Brasil. Por outro, o Rio Grande do Sul não consegue "enxergar o próprio umbigo" e compreender que suas dificuldades resultam da forma como tem sido realiada sua inserção como sócio menor no sistema capitalista brasileiro. Expressando-se de forma figurativa, o Rio Grande do Sul continua produzindo e vendendo charque, subsidiando (perifericamente) o funcionamento do mercado exportador brasileiro e sem cacife no processo político-decisório nacional.
fonte:www.paginadogaucho.com.br/hist/revfarr.htm/www6.ufrgs.br/ensinodareportagem/cidades/lanceirosnegros.html/UNEGRO-RGS
quarta-feira, 30 de maio de 2012
"Nossa Poesias"
Sou Negro porque encaro minhas origens
Negro
Não precisa ter cor, nem raça, nem etnia.
É preciso amar
É preciso respeitar
Não sou negro porque minha pele é negra
Não sou negro porque tenho cabelo embolado de “pixain”
Não sou negro porque danço a capoeira
Não sou negro porque vivo África
Não sou negro porque canto reggae.
No sou negro porque tenho o candomblé como minha religião
Não sou negro porque tenho Zumbi como um dos mártires da nossa raça.
Não sou negro porque grito por liberdade
Não sou negro porque declamo Navio Negreiro
Não sou negro porque gosto das músicas de Edson Gomes,
Margareth Menezes ou Cidade Negra.
Não sou negro porque venho do gueto.
Não sou negro porque defendo as ideias e Nelson Mandela
Não sou negro porque conheço os rituais afro.
Sou negro porque sou filho da natureza
Tenho o direito de ser livre.
Sou negro porque sei encarar e reconhecer as minhas origens.
Sou negro porque sou cidadão.
Porque sou gente.
Sou negro porque sou lágrimas
Sou negro porque sou água e pedra.
Sou negro porque amo e sou amado
Sou negro porque sou palco, mas também sou plateia.
Sou negro porque meu coração se aperta
Desperta,
Deseja,
Peleja por liberdade.
Sou negro na igualdade do ser
Para o bem à nossa nação.
Porque acredito no valor de ser livre
Porque acredito na força do meu sangue numa canção que jamais será calada.
Sou negro porque a minha energia vem do meu coração.
E a minha alma jamais se entrega não.
Sou negro porque a noite sempre virá antecedendo o alvorecer de um novo dia.
Acreditando num povo afro-descendente que ACORDA, LEVANTA E LUTA.
Por:Genivaldo Pereira dos Santos Floresta Azul - BA.
Um afro abraço.
Um Olhar Racial na Política Brasileira...
Visões raciais, mudança de regime e política partidária
Através dos anos as elites políticas têm tido visões raciais explícitas. No primeiro período, a visão dominante pode ser descrita como abertamente racista (Skidmore 1993b; Schwarcz 1993), chegando mesmo a haver uma preocupação generalizada de que a população do Brasil fosse muito negra ou escura, o que contribuiu para a negligência da população recentemente liberta e a motivação para importar trabalhadores imigrantes, mais claros e melhores. O embranquecimento, assim, tornou-se a política não oficial daqueles que acreditavam na superioridade branca e na inferioridade negra, explícita no estado de São Paulo, que recebeu a maior parte dos imigrantes europeus do país durante esse período (Andrews 1991: 54-89). Os negros eram vistos como física e intelectualmente inferiores aos brancos .
A política nacional brasileira pós-abolição da escravatura pode ser dividida basicamente em cinco períodos: o período republicano inicial dominado pela oligarquia constitucional (1889-1930); a revolução de 1930 e o primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-45); o período de competição política (1945-64); o autoritarismo militar (1964-85); e finalmente o período de (re)democratização, de 1985 até hoje. Uma das características mais notáveis dessa história de mais de cem anos é sua natureza elitista. Como salientado pela senadora Benedita da Silva na epígrafe e em sua autobiografia (Silva et al 1997: 61), a maioria dos líderes brasileiros são homens originários dos setores brancos, abastados e privilegiados da sociedade (Conniff & McCann 1989; Lamounier 1989; e Roett 1992), enquanto muitos pobres e negros têm sido impedidos de participar da política em função do pré-requisito da alfabetização eleitores e outros mecanismos de controle da elite (Love 1970; Leal 1986).
O congresso:
o Congresso brasileiro esta representado quanto ao âmbito racial . O seu argumento principal consiste de duas afirmações: "os afro-brasileiros estão dramaticamente sub-representados no Congresso em relação a sua proporção na população geral.
Ao verificar-mos a atividade política, as legislaturas e os políticos eleitos, os estudiosos fazem uma distinção entre dois tipos não mutuamente excludentes de representação: a descritiva e a substantiva. Na primeira, os representantes compartilha nas características sociais ou demográficas dos representados (Mansbridge 1996; Pitkin1967: 60-90); na segunda, buscam estabelecer políticas favoráveis aos interesses daqueles que representam (Swain 1993: 5; Lublin 1997:12). Na perspectiva desses autores, a representação substantiva pode ser atingida sem a descritiva.Vários eventos enfatizaram, nos anos 1980 e 1990, a sobre-representação de brancos e a sub-representação de negros na política brasileira.
Abdias Nascimento:
O saudoso Abdias do Nascimento tornou-se o primeiro deputado federal (e mais tarde senador)negro a estabelecer uma defesa consistente e explícita da população afro-brasileiradentro do Congresso Nacional; Benedita da Silva tornou-se a primeira mulher negracom mandato de deputada federal e posteriormente senadora; o deputado Paulo Paim propôs uma legislação que reivindicava a reparação para os descendentes de escravos;Edmilsom Valentim;Celso Pitta tornou-se o primeiro prefeito negro de São Paulo, a maior cidade brasileira e uma das mais populosas do mundo( mais teve uma atuação ruim no cargo, o que teve um peso negativo mesmo sua trajetoria politica não tendo vinculação com o mov. negro);e políticos afro-brasileiros como Alceu Collares,João Alves e Albuíno Azeredo exerceram mandatos como governadores. Através dessasvitórias eleitorais, atividades políticas ou apoio a políticas públicas com conteúdo racial específico, esses políticos negros de presença nacional têm acentuado questão da representação racial.
Nossa Constituição de 1988 delineou a estrutura formal institucional atual. Os membros da Câmara dos Deputados são eleitos em cada estado para um mandato de quatro anos, utilizando-se um sistema de representação proporcional de lista aberta. Todo o estado funciona como um distrito eleitoral; o Brasil não tem o sistema de distritos legislativos intra-estaduais que, nos Estados Unidos, tem sido tão importante para a eleição de negros para a House of representatives (Swain 1993; Lublin 1997). O número total de deputados (513, aproximadamente) deve ser proporcional à população, não tendo nenhum estado menos de oito ou mais de setenta deputados. Cada estado também elege, pelo voto majoritário, três senadores, cujos mandatos duram oito anos. Com 27 estados (incluindo o Distrito Federal), o Brasil tem portanto 81 senadores se eu não me engano.
A maioria dos estudos sobre a política brasileira geralmente ignora ou diminui o peso da questão racial, em função de dois fatores principais. Primeiro, argumenta-se que asociedade brasileira não é organizada de uma maneira racial rígida, e portanto a raçanão é uma clivagem relevante, que possa provocar conflitos, violência ou algum tipo dedistúrbio da vida política (movimentos de massa ou revoltas). Segundo, alguns analistas alegam que os brasileiros não possuem forte consciência racial, econseqüentemente não se comportam racialmente em formas politicamente relevantes(isto é, votando de acordo com a linha racial ou recorrendo à discriminação racial) .
Os parlamentares negros do Congresso têm tentado introduzir algumas importantes mudanças na política brasileira. Políticos negros encorajam atores políticos brancos e o público mais amplo a confrontar o racismo e a desigualdade racial, e se organizam formal e informalmente dentro dos partidos políticos e instituições governamentais, buscando políticas públicas que levem em conta o fator racial, além de advogar um novo e mais proeminente papel para os negros na política e na sociedade brasileira.
"Há um estereótipo sobre quem pode ser inteligente e competente, quem pode exercer o poder. No Brasil, são homens brancos e ricos que representam a face do poder."
Benedita da Silva
Deputada Federal.
Um afro abraço.
fonte:desafios2.ipea.gov.br/www.scielo.br/
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