UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

domingo, 16 de outubro de 2016

Haiti.. Caetano Veloso e Gilberto Gil





O território que atualmente corresponde ao Haiti era ocupado por índios arauaques, quando, em 1492, Cristóvão Colombo chegou à ilha. Os espanhóis batizaram o lugar de Hispaniola, ocupando, primeiramente, a porção oriental do território. Escravizaram os índios que ali vivam, e até o final do século XVI, a população nativa foi reduzida em quase toda sua totalidade.

Em 1697, através da assinatura do Tratado de Ryswick envolvendo Espanha e França, a parte ocidental da ilha, onde atualmente fica o Haiti, foi cedida à França, recebendo o nome de Saint Domingue, sendo a mais importante possessão francesa nas Américas, onde ocorreu o cultivo de açúcar com a utilização de mão de obra escrava africana. Porém, os escravos africanos, influenciados pela Revolução Francesa, rebelaram-se em 1791, liderados pelo ex-escravo Toussaint L’Ouverture.

A abolição da escravidão ocorreu no ano de 1794, Toussaint foi nomeado governador vitalício em 1801. No entanto, uma expedição francesa encarregada de reconquistar a ilha prendeu Toussaint, que fora enviado para França, onde morreu em 1803.
Jean-Jacques Dessalines, antigo escravo, deu continuidade ao movimento de resistência, o resultado foi positivo, pois o país obteve sua independência no dia 1° de janeiro de 1804 e passou a se chamar Haiti, sendo a primeira República Negra das Américas e o primeiro país latino-americano a se declarar independente.

A elite, composta por mestiços, ficou insatisfeita com a nova política instalada no país, e, em 1806, tomou o poder após o assassinato de Dessalines. O Haiti teve sua administração fragmentada, o norte ficou sob domínio de Henri Christophe, o sul foi governado por Alexandre Pétion. Somente em 1820, sob o governo de Jean-Pierre Boyer, o país foi unificado.

Um dos períodos mais conturbados da história do Haiti teve início em 1957. Naquele ano, o médico François “Papa Doc” Duvalier foi eleito presidente da nação, instalando um regime ditatorial baseado na repressão militar que perseguiu muitos opositores – inclusive a Igreja Católica –, sua guarda pessoal, os tontons macoutes (bichos papões) eram os responsáveis pelos massacres.

O Papa Doc foi assassinado em 1971, no entanto, seu filho Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, assumiu a presidência do Haiti, dando continuidade às perseguições. Os protestos populares contra o regime ditatorial se intensificaram, e Baby Doc fugiu para a França em 1986, deixando no poder uma junta chefiada pelo general Henri Namphy.

Sob nova Constituição, realizaram eleições presidenciais livres em 1990, a maioria dos eleitores (67%) optou pelo padre esquerdista Jean-Bertrand Aristide. Porém, no mesmo ano, Aristides foi deposto por um novo golpe militar e a ditadura foi novamente imposta no país. A Organização das Nações Unidas (ONU) impôs sanções econômicas ao Haiti para forçar a volta de Aristides. Somente em 1994, Aristide retornou ao cargo de presidente do Haiti.

Entretanto, os problemas no Haiti persistiram, fazendo com que Aristides fugisse para a África em fevereiro de 2004 e, atualmente, o país sofre intervenção internacional pela ONU.

Além de todos esses entraves políticos, a população haitiana enfrenta vários problemas de ordem socioeconômica. O Haiti é o país economicamente mais pobre das Américas, cerca de 60% da população é subnutrida e mais da metade vive com menos de 1 dólar por dia.
Em janeiro de 2010, um terremoto de magnitude 7,0 na escala Richter atingiu o país, provocando uma série de feridos, desabrigados e mortes. Estima-se que mais de 120 mil pessoas morreram em consequência desse terremoto.

Seis anos após o terremoto, chefe da ONU pede ao mundo que ‘continue ao lado do Haiti’
Na véspera do aniversário de seis anos do terremoto que devastou o Haiti, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon prestou homenagem as mais de 200 mil vítimas que faleceram durante a tragédia, incluindo 102 integrantes da ONU, e pediu nesta segunda-feira (11) que a comunidade internacional continue “ao lado do Haiti” em seu caminho rumo à reconstrução

“Unidos e em solidariedade com todos os haitianos que perderam entes queridos nesta catástrofe, honramos a memória de nossos colegas”, disse Ban, em uma declaração publicada por seu porta-voz.

O chefe da ONU reconheceu que o caminho para a recuperação e o desenvolvimento a longo prazo não é fácil e lembrou dos múltiplos desafios que os haitianos ainda vivenciam, como o deslocamento, a insegurança alimentar e a falta de acesso à água e saneamento. Para isso, pediu a comunidade internacional para continuar a apoiar esses esforços no país.


Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:www.actionaid.org.br

Racismo é burrice






Racismo É Burrice 

Gabriel O Pensador

Salve, meus irmãos africanos e lusitanos
Do outro lado do oceano
"O Atlântico é pequeno pra nos separar
Porque o sangue é mais forte que a água do mar"

Racismo, preconceito e discriminação em geral
É uma burrice coletiva sem explicação
Afinal, que justificativa você me dá
Para um povo que precisa de união
Mas demonstra claramente, infelizmente
Preconceitos mil
De naturezas diferentes
Mostrando que essa gente
Essa gente do Brasil é muito burra
E não enxerga um palmo à sua frente
Porque se fosse inteligente
Esse povo já teria agido de forma mais consciente
Eliminando da mente todo o preconceito
E não agindo com a burrice estampada no peito
A "elite" que devia dar um bom exemplo
É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento
Num complexo de superioridade infantil
Ou justificando um sistema de relação servil
E o povão vai como um bundão
Na onda do racismo e da discriminação
Não tem a união e não vê a solução da questão
Que por incrível que pareça está em nossas mãos
Só precisamos de uma reformulação geral
Uma espécie de lavagem cerebral

Racismo é burrice

Não seja um imbecil
Não seja um ignorante
Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante
O que que importa se ele é nordestino e você não?
O quê que importa se ele é preto e você é branco
Aliás, branco no Brasil é difícil
Porque no Brasil somos todos mestiços
Se você discorda, então olhe para trás
Olhe a nossa história
Os nossos ancestrais
O Brasil colonial não era igual a Portugal
A raíz do meu país era multirracial
Tinha índio, branco, amarelo, preto
Nascemos da mistura, então por que o preconceito?
Barrigas cresceram
O tempo passou
Nasceram os brasileiros, cada um com a sua cor
Uns com a pele clara, outros mais escura
Mas todos viemos da mesma mistura
Então presta atenção nessa sua babaquice
Pois como eu já disse: racismo é burrice
Dê a ignorância um ponto final
Faça uma lavagem cerebral

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Mãe África (Paulo César Pinheiro & Sivuca)

Carta A Mãe África -Compositor: Genival Oliveira Gonçalves


É preciso ter pés firmes no chão
Sentir as forças vindas dos céus, da missão...
Dos seios da mãe África e do coração
É hora de escrever entre a razão e a emoção
Mãe! Aqui crescemos subnutridos de amor
A distância de ti, o doloroso chicote do feitor...
Nos tornou! Algo nunca imaginavel, imprevisível
E isso nos trouxe um desconforto horrível
As trancas, as correntes, a prisão do corpo outrora...
Evoluiram para a prisão da mente agora
Ser preto é moda, concorda? Mas só no visual
Continua caso raro ascensão social
Tudo igual, só que de maneira diferente
A trapaça mudou de cara, segue impunemente
As senzalas são as anti-salas das delegacias
Corredores lotados por seus filhos e filhas...
Hum! Verdadeiras ilhas, grandes naufrágios
A falsa abolição fez vários estragos
Fez acreditarem em racismo ao contrário
Num cenário de estações rumo ao calvário
Heróis brancos, destruidores de quilombos
Usurpadores de sonhos, seguem reinando...
Mesmo separado de ti pelo Atlântico
Minha trilha são seis românticos cantos
Mãe! Me imagino arrancado dos seus braços
Que não me viu nascer, nem meus primeiros passos
O esboço! É o que tenho na mente do teu rosto
Por aqui de ti falam muito pouco
E penso... Qual foi o erro cometido?
Por que fizeram com agente isso?
O plano fica claro... É o nosso sumiço
O que querem os partidários, os visionários disso
Eis a questão...
A maioria da população tem gueto fobia
Anormalia sem vacinação.
E o pior, a triste constatação:
Muitos irmãos, patrocinam o vilão...
De várias formas, oportunistas, sem perceber
Pelo alimento, fome, sede de poder
E o que menos querem ser e parecer...
Alguém que lembre, no visual você.

( Refrão 2x ) (Colagem: A Carne - Ellen Oléria)
A carne mais barata do mercado é a negra,
A carne mais marcada pelo Estado é a negra
A carne mais barata do mercado é a negra,
A carne mais marcada pelo Estado é a negra

Os tiros ouvidos aqui vêm de todos os lados
Mas não se pode seguir aqui agachado
É por instinto que levanto o sangue Banto-Nagô...
E em meio ao bombardeio
Reconheço quem sou, e vou...
Mesmo ferido, ao fronte, ao combate
E em meio a fumaça, sigo sem nenhum disfarce


Pois minha face delata ao mundo o que quero:
Voltar para casa, viver meus dias sem terno
Eterno! É o tempo atual, na moral
No mural vedem uma democracia racial
E os pretos, os negros, afro-descendentes...
Passaram a ser obedientes, afro-convenientes.
Nos jornais, entrevistas nas revistas
Alguns de nós, quando expõem seus pontos de vista
Tentam ser pacíficos, cordiais, amorosos
E eu penso como os dias tem sido dolorosos
E rancorosos, maldosos muitos são,
Quando falamos numa mínima reparação:
-Ações afirmativas, inclusão, cotas?!
-O opressor ameaça recalçar as botas..
Nos mergulharam numa grande confusão
Racismo não existe e sim uma social exclusão
Mas sei fazer bem a diferenciação
Sofro pela cor, o patrão e o padrão
E a miscigenação, tema polêmico no gueto
Relação do branco, do índio com preto
Fator que atrasou ainda mais a auto-estima:
-Tem cabelo liso, mas olha o nariz da menina
O espelho na favela após a novela é o divã
Onde o parceiro sonha em ser galã
Onde a garota viaja...
Quer ser atriz em vez de meretriz
Onde a lágrima corre como num chafariz
Quem diz! Que este povo foi um dia unido
E que um plano o trouxe para um lugar desconhecido
Hoje amado (Ah! muito amado..), são mais de quinhentos anos
Criamos nossos laços, reescrevemos sonhos
Mãe! Sou fruto do seu sangue, das suas entranhas
O sistema me marcou, mas não me arrebanha
O predador errou quando pensou que o amor estanca
Amo e sou amado no exílio por uma mãe branca

( Refrão 2x )
A carne mais barata do mercado é a negra,
A carne mais marcada pelo Estado é a negra
A carne mais barata do mercado é a negra,
A carne mais marcada pelo Estado é a negra


REBELE-SE CONTRA O RACISMO!

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O outubro rosa: Câncer de mama: risco de mulheres negras é maior antes dos 40 anos...

O outubro rosa é uma campanha que acontece no mundo inteiro e tem o objetivo de
alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama. Esta campanha acontece desde 1997 e  tem como simbolo o laço cor de rosa.



Para além de monumentos iluminados com luz rosa (e o uso comercial que algumas empresas fazem, óbvio), existe um pano de fundo muito importante: o câncer de mama é a segunda maior forma de morte da mulher brasileira, são mais 12 mil mulheres mortas por ano a cada ano, além de quase 60 mil novos casos (Dados do Instituto Brasileiro de Câncer). 

Recentemente, descobri que o índice de mortalidade de mulheres negras vítimas de câncer de mama é maior, ainda que este tipo de câncer atinja em maior número as mulheres brancas. De acordo com TheLedger.com, a taxa de mortalidade para as mulheres negras com câncer de mama é 60% maior. São cerca de 56,8 mortes por 100 mil, enquanto entre as mulheres brancas média 35,6.

Logo pensei que este índice tinha relação apenas com as maiores dificuldades de acesso que às mulheres negras têm aos serviços de saúde, devido às condições socioeconômicas que somos submetidas: nossos salários são menores, nossa carga horária de trabalho é maior, o índice de escolaridade é menor.

Entre 5% e 10% das mulheres têm câncer de mama por conta do fator hereditariedade.

São genes anormais que passam de mãe para filha, sendo formados por DNA (ácido desoxirribonucleico) – material que contém instruções para a síntese de proteínas e sua replicação.
As proteínas, por sua vez, controlam a estrutura e o funcionamento de todas as células que formam o corpo humano. Sendo assim, qualquer anormalidade no DNA leva a um crescimento desordenado das células.

Estudo publicado no jornal Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention revela uma mutação genética que acomete famílias afrodescendentes. Especificamente, mulheres negras têm mais chances de serem diagnosticadas com câncer de mama do que mulheres brancas antes dos 40 anos.
Cientistas supõem haver mais genes anormais associados ao câncer de mama do que os conhecidos BRCA1 e BRCA2. Esses genes são considerados supressores de tumor. Em células normais, contribuem para a estabilidade do material genético.

Quando sofrem mutações, aumentam os riscos de a paciente desenvolver câncer de mama e

de ovário. Através de um exame de sangue periférico (comum) e do preenchimento de um questionário para testes genéticos, a paciente saberá se carrega ou não uma mutação nos genes BRCA1 e BRCA2.

No estudo Jewels in Our Genes, pesquisadores investigaram o DNA de mais de cem famílias afrodescendentes que desconheciam qualquer anormalidade nos genes BRCA1 e BRCA2. Entre as participantes havia 179 mulheres que tinham sido diagnosticadas com câncer de mama e 76 de suas irmãs, que nunca tinham sido diagnosticadas.


Os pesquisadores encontraram três regiões anormais do DNA. De acordo com Heather
Ochs-Balcom, coordenadora do estudo na Universidade de Buffalo (Estados Unidos), a descoberta dessas regiões levanta a possibilidade de haver genes de câncer de mama ainda não descobertos e que estão relacionados à raça.

Como as pessoas não podem mudar a genética, mulheres negras devem estar mais atentas à prevenção do câncer de mama, que inclui – além dos exames preventivos – manter um peso saudável, se exercitar regularmente, limitar o consumo de álcool, evitar gordura trans, alimentos processados, muito sal e açúcar na dieta, e não fumar.

Prevenção é Tudo...
De acordo com a American Cancer Society, cerca de 80% das alterações submetidas à biópsia por agulha (mamotomia) são consideradas benignas. Na opinião da doutora Vivian Schivartche, especialista em diagnósticos de câncer de mama do Centro de Diagnósticos Brasil (CDB), em São Paulo, o rastreamento mamográfico deve começar aos 40 anos. Entretanto, é importante estar sempre alerta porque há mulheres que notam o aparecimento de um nódulo no seio antes disso.

"Hoje em dia, as pacientes contam com recursos diagnósticos de ponta. A tomossíntese, ou mamografia tomográfica, proporciona aumento de sensibilidade (maior detecção de câncer) e especificidade (menos falso-positivos e imagens que simulam tumores, mas são apenas tecido normal superposto).

Como esse exame permite distinguir entre as imagens verdadeiramente suspeitas e aquelas provocadas apenas por superposição de estruturas normais, uma importante vantagem é a redução do número de biópsias. Esse dado é bastante relevante, haja vista que mais e mais pacientes têm sido poupadas de procedimentos complexos que acabam gerando estresse e desgaste emocional”, diz a médica.

De acordo com a especialista, além de aumentar a detecção do câncer da mama, a tomossíntese possibilita a detecção de tumores menores, fato que tem implicação direta
tanto na sobrevida quanto na qualidade de vida das pacientes. "Tumores menores permitem a realização de cirurgias menos mutilantes e a um custo consideravelmente mais baixo de tratamento.


Se liga meninas:
Os seios das mulheres negras são mais densos- O significado prático disso é que a detecção do câncer na mamografia é mais difícil. Os seios mais densos também aumentam o risco de desenvolvimento de câncer.

Triplo negativo- Um tipo de câncer chamado “triplo negativo” é 2 vezes mais comum em mulheres negras. Este tipo específico de câncer cresce e se espalha rapidamente e não é tratável por hormônios como o estrogênio, progesterona. A questão é que estes são os hormônios geralmente utilizados na terapia hormonal para tratar o câncer de mama.

Mulheres Negras ter câncer de mama em idades mais precoces- As mulheres negras podem apresentar diagnóstico de câncer antes dos 30 anos. O problema é que as diretrizes de prevenção e detecção precoce no Brasil, um país em que a maioria das mulheres são negras, indica que a mamografia de rotina para mulheres entre 50 e 69 anos.

Ou seja, não há um recorte racial nas ações educacionais e preventivas. Mesmo para mulheres negras que tem acesso à informação este dado não é conhecido.

É fundamental que o SUS adote uma ação preventiva com recorte racial e as mulheres negras possam ter exames adequados ainda mais cedo.

- "Tudo isso tem impacto na qualidade de vida da paciente e deve ser priorizado sempre

que possível. Com esse exame, há melhor definição das bordas das lesões, proporcionando melhor caracterização de seu aspecto benigno ou maligno. Também é possível obter melhor detecção de lesões sutis e saber exatamente onde, na mama, a lesão está.”

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

Fonte: Portal Segs/UNEGRO SAUDE

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Manoel Bonfim:Pensadores da Pátria convenientimente esquecido...

Ao desembarcarem na América, os espanhóis encontraram aí dois impérios [Inca e
Asteca], cujo estado de civilização era superior ao da Europa central no século IV, ou no V. [...] se estes povos puderam [...] alcançar o grau de organização social em que estavam, poderiam muito bem avançar até chegar ao mesmo estado de civilização e cultura de que se orgulham os europeus. 

Manoel Bonfim.

Esquecido pela historiografia oficial brasileira, mais de 100 anos depois o pensamento de Manoel Bonfim em “A América Latina – Males de origem” é tanto atual quanto pertinente. Um homem à frente de sua época, no início do século passado seus estudos já apontavam para a consciência ambiental, o homem cordial brasileiro, a defesa do miscigenamento contra o então arianismo na moda e criticava o surgimento do imperialismo norteamericano. Ele é pioneiro nos estudos latinoamericanos no Brasil, além de antecipar várias ideias depois defendidas por renomados intelectuais. Não foi à toa que ninguém menos que o gênio de Darcy Ribeiro, que o chamou de grande intérprete do processo de formação do povo brasileiro, prefaciou em seu clássico: “… nossos males não vêm do povo. São, isto sim, produto da mediocridade do projeto das classes dominantes que aqui organizaram nossa sociedade em proveito próprio, com o maior descaso pelo povo trabalhador, visto como uma mera fonte de energia produtiva, que ele podia desgastar como bem quisesse”, diz Darcy, reforçando as teses de Bonfim.

Manoel Bonfim defende os índios, contra o extermínio dos nativos que têm todo o “conhecimento de uma perfeita adaptação à natureza americana”. Os defende devido à “necessidade orgânica” a “um amor violento à liberdade” indígena, e complementa afirmando que não os falta nenhuma das qualidades susceptíveis de cultura – “nem atividade intelectual, nem inclinação social”. Caracteriza o povo brasileiro com uma grande plasticidade intelectual e sociabilidade muito desenvolvida, “qualidades preciosas para o

progresso”. E já alfineta o neoliberalismo naquele período, ao dizer que a fórmula liberdade de comércio nada mais é que as nações mais fortes mascarando seus privilégios exploradores.
A integração dos países de nosso continente, primeiro tentada por Simon Bolívar e depois por Che Guevara, também é dada como solução contra a opressão que os sulamericanos sofrem desde antes do nascimento de suas nações. “Os americanos do Sul não se conhecem uns aos outros, como não conhecem aos próprios compatriotas. É noção que ainda não entrou no ânimo das gentes letradas deste continente – que é possível aprender fora dos livros”. “É preciso considerar que há entre essas nacionalidades sul-americanas uma certa homogeneidade de sentimentos, ou que, pelo menos, não existe nenhuma incompatibilidade de raça ou de tradições, que as impeça de se unirem e se acordarem para a resistência”, reclama o antropólogo.


[...] é preciso considerar que há entre estas nacionalidades sul-americanas uma certa homogeneidade de sentimentos, ou que, pelo menos, não existe nenhuma incompatibilidade [...] que as impeça de se unirem e se acordarem para a resistência.”
Manoel Bonfim.

Seus estudos, que recorrem a diversos campos do conhecimento, buscam as raízes dos problemas e não os sintomas. Nepostismo e clientelismo não fogem à sua vista, ao apontá-los como vícios enraizados nos nossos costumes por meio das relações sociais durante a colonização. “Tradição tirânica e espoliadora do estado brasileiro”, com privilégios que se opõem ao progresso, também não passam despercebidos, assim como as oligarquias. Como deixa claro na introdução de seu livro, o escritor assume suas opiniões ao criticar as “hipócritas imparcilidades do meio acadêmico”.

Suas críticas são ácidas em relação às análises feitas por estrangeiros sobre a América Latina, pois, segundo ele, são firmadas nas mais ligeiras aparências sem fundamentos nas raízes históricas, pegando uma série de sintomas de atraso e os apresentando como causas. Isso pode ser visto hoje na tendência editorial de todos os meios de comunicação tradicionais em nossa região, quando a pauta é relacionada aos países da América Latina. Nesse sentido, ele volta à história da Espanha e Portugal, passando pela Inqusição, escravidão, e outras instiuições que fizeram parte da construção de nossos países, e atribui a origem de nossos problemas como reflexo das atitudes dos colonizadores. É na história que ele desenvolve sua principal tese, associada à biologia, ao definir a degeneração das colônias luso-espanholas como “parasitismo depredador”.

“Não há na história da América Latina um só fato provando que os mestiços houvessem degenerado de caráter, relativamente às qualidades essenciais das raças progenitoras. Os defeitos e virtudes que possuem vêm da herança que sobre eles pesa, da educação recebida e

da adaptação às condições de vida que lhes são oferecidas”. E complementa: “Enquanto houve riqueza acumulada, ele foi depredador, guerreiro, conquistador. Esgotaram-se as riquezas, ele fez-se imediatamente sedentário. Colheu os restos de populações índias sobreviventes às matanças, escravizou-as e fê-las produzir riquezas para ele – cavando a mina ou lavando a terra”, afirma o intelectual.

Desde então o parasitismo normalizou-se, entrou nos costumes, como a coisa mais natural da vida, dizia. Séculos depois, pode-se dizer que a burguesia continua parasitando nos monopólios e comércios privilegiados, vide o caso Palocci, que expõe toda uma engrenagem promíscua. Do que ele chama de “tirania e autoritarismo egoístico-conservador, – essencial e característico das classes parasitárias, para reduzir a massa popular à ignorância e abjeção” – Bonfim pula para a educação popular como remédio para os nossos povos. Com uma clarividência notável, após apontar as mazelas históricas que realimentam a desigualdade em nossa região, ele aponta a educação popular como indispensável em nosso esforço de autosuperação. Segundo ele, em nossa cultura, principalmente por meio da educação, sempre houve “um conservantismo essencial, mais afetivo que intelectual”. O bacharelismo, nesse sentido, se impõe por força da tradição como um dos problemas principais.

“São nações, estas, em que tudo está por fazer, a começar pela educação política e social das populações”, diz em seu livro. “Não se gasta nem um vintém para fomentar a instrução da massa popular, cuja ignorância é indiscutível, e é ao mesmo tempo a causa primeira dessas desordens, e de males certos, fatais, mais graves ainda que esses males problemáticos”, complementa o escritor. Trazendo para hoje sua reflexão, vale observar que no Rio de Janeiro o orçamento principal é direcionado para a pasta de segurança pública enquanto a educação, que inclusive seus professores estão realizando manifestações para denunciar o descaso das autoridades e a falta de recursos, fica a segundo plano. Ele clama pela redenção social contra o monopólio do saber, a emancipação pela crítica, em combate a um “mal orgânico” da herança da nossa educação social e política imposta pela opressão parasitária.

“Obstinam em curar os sintomas, desprezando as causas dos males sociais. Pretendem a conciliar antagonismos: república, democracia e liberdade – e ignorância”. Em outra passagem ele observa: “O progresso há de ser da própria sociedade, no seu todo; e isto só se obtém pela educação e cultura de cada elemento social. Não se eleva o meio sem melhorar os indivíduos; não há progresso para quem seja incapaz de compreendê-lo e desejá-lo, prevê-lo e buscá-lo”. Instruir, para ele, é fazer pensar.

Um dos caminhos apontado para a conquista de avanços seria uma espécie de auto consciência oligarquica, com a classe dirigente se esforçando sobre si mesma para vencer a influência do passado que nelas revive “adotando um programa inteiramente oposto ao que, consciente ou inconscientemente, vêm seguindo até hoje”. Pois, na sua opinião, vivendo parasitariamente as classes dominantes perderam todas as qualidades de caráter, moralidade e inteligência: “quanto mais se corrompiam mais conservadoras se faziam”. Na sua concepção, o dever supremo das posições dominantes é suprimir a injustiça, quanto possível, defender a liberdade e estabelecer a igualdade. Bonfim já pensava no socialismo, antes da revolução russa.

Na conclusão do clássico “América Latina – males de origem”, ele sustenta que na economia social de nossa época, dizer país de analfabetismo é dizer país de miséria, pobreza e degradação. Por isso, defende o intelectual, é preciso oferecer uma instrução que “eles

desconhecem e os reerguerá, e começar pelo princípio: difusão do ensino primário”. Ele menciona também a imprensa e principalmente a criação de universidades populares – “verdadeiramente populares,e não arremedos de academias, de onde o povo foge, e com razão” – para contribuírem na construção do progresso social.
“Da própria obra virá auxiliar aqueles que a conduzem; da cooperação das ideias nascerá a cooperação das vontades. A sociedade que pretende durar deve não só organizar o presente como também preparar o futuro”, esclarece o pensador esquecido.


Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

fonte:www.insular.com.br/loja3/product_info.php/

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Em debate a Intolerância Religiosa que escancara uma ambição materialista e imediata na relação com Deus.

O Brasil é um país de Estado Laico, isso significa que não há uma religião oficial
brasileira e que o Estado se mantém neutro e imparcial às diferentes religiões

Desta forma, há uma separação entre Estado e Igreja; o que, teoricamente, assegura uma governabilidade imune à influência de dogmas religiosos. 

As liberdades de expressão e de culto são asseguradas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela Constituição Federal. A religião e a crença de um ser humano não devem constituir barreiras a fraternais e melhores relações humanas. Todos devem ser respeitados e tratados de maneira igual perante a lei, independente da orientação religiosa.
O Brasil é um país de Estado Laico, isso significa que não há uma religião oficial brasileira e que o Estado se mantém neutro e imparcial às diferentes religiões. Desta forma, há uma separação entre Estado e Igreja; o que, teoricamente, assegura uma governabilidade imune à influência de dogmas religiosos. Além de separar governo de religião, a Constituição Federal também garante o tratamento igualitário a todos os seres humanos, quaisquer que sejam suas crenças. Dessa maneira, a liberdade religiosa está protegida e não deve, de forma alguma, ser desrespeitada.

"A questão é tormentosa e envolve o ser humano em sua mais pura essência, na medida em que são colocadas em jogo sua consciência e crença."

Podemos citar a falta de bom senso e de respeito mínimo à diversidade como fatores que criam e fortalecem as situações de caos e violência vistas em todo canto do mundo, inclusive em nosso país, decorrentes de divergências que levam um ser humano, inconformado com a consciência e a crença esposadas por outro ser humano, a tentar impor-lhe a sua própria consciência e crença, o que se afigura absurdo desmotivado, inútil e ofensor à liberdade fundamental de cada pessoa.

A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu art. 5º, inciso VI, preceitua que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos veda, em seu artigo 2º, primeiro parágrafo, a discriminação por motivo de religião. Mais adiante, no art. 18, preceitua:

"Artigo 18
1. Toda pessoa terá direito a liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Esse direito implicará a liberdade de ter ou adotar uma religião ou uma crença de sua escolha e a liberdade de professar sua religião ou crença, individual ou coletivamente, tanto pública como privadamente, por meio do culto, da celebração de ritos, de práticas e do ensino.

2. Ninguém poderá ser submetido a medidas coercitivas que possam restringir sua liberdade de ter ou de adotar uma religião ou crença de sua escolha.

3. A liberdade de manifestar a própria religião ou crença estará sujeita apenas a limitações previstas em lei e que se façam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais pessoas.

4. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade dos países e, quando for o caso, dos tutores legais de assegurar a educação religiosa e moral dos filhos que esteja de acordo com suas próprias convicções."

Oportuno frisar que a Lei nº 12.288/2010 (Estatuto da Igualdade Racial), buscando proteger cultos religiosos de matriz africana, tidos como aqueles que estão entre os mais discriminados no Brasil, estatui, em seus arts. 24 e 26:

"Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício dos cultos religiosos de matriz africana compreende:

I - a prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas à religiosidade e a fundação e
manutenção, por iniciativa privada, de lugares reservados para tais fins;

II - a celebração de festividades e cerimônias de acordo com preceitos das respectivas religiões;

III - a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de instituições beneficentes ligadas às respectivas convicções religiosas;

IV - a produção, a comercialização, a aquisição e o uso de artigos e materiais religiosos adequados aos costumes e às práticas fundadas na respectiva religiosidade, ressalvadas as condutas vedadas por legislação específica;

V - a produção e a divulgação de publicações relacionadas ao exercício e à difusão das religiões de matriz africana;

VI - a coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais e jurídicas de natureza privada para a manutenção das atividades religiosas e sociais das respectivas religiões;

VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para divulgação das respectivas religiões;

VIII - a comunicação ao Ministério Público para abertura de ação penal em face de atitudes e práticas de intolerância religiosa nos meios de comunicação e em quaisquer outros locais.

Art. 26. O poder público adotará as medidas necessárias para o combate à intolerância com as religiões de matrizes africanas e à discriminação de seus seguidores, especialmente com o objetivo de:

I - coibir a utilização dos meios de comunicação social para a difusão de proposições, imagens ou abordagens que exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por motivos fundados na religiosidade de matrizes africanas;

II - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e outros bens de valor artístico e cultural, os monumentos, mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às religiões de matrizes africanas;

III - assegurar a participação proporcional de representantes das religiões de matrizes africanas, ao lado da representação das demais religiões, em comissões, conselhos, órgãos e outras instâncias de deliberação vinculadas ao poder público."

-Todas as pessoas e suas respectivas religiões merecem proteção e respeito. Mencionamos dispositivos de lei que se referem propriamente a cultos de matriz africana apenas a título de ilustração, para indicar a preocupação do legislador em resguardar as liberdades de cada indivíduo, inclusive com relação a diferenças humanas de consciência e de crença, e em combater a disseminação do ódio entre as pessoas, fundado em intolerância religiosa.

Convém anotar que a Lei nº 11.635/07 instituiu o dia 21 de janeiro como o "Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa".

"Não se pode olvidar, outrossim, que o Brasil deve adotar uma postura neutra no campo religioso, de sorte a não apoiar ou discriminar nenhuma religião".

Com efeito, em consonância com a Constituição da República Federativa do Brasil e com toda a legislação que asseguram a liberdade de crença religiosa às pessoas, além de proteção e respeito às manifestações religiosas, a laicidade do Estado deve ser buscada, afastando a possibilidade de interferência de correntes religiosas em matérias sociais, políticas, culturais, etc.

A laicidade do Estado tem interface com diversos direitos humanos fundamentais, como a liberdade de expressão, a liberdade de crença e de não crença, a igualdade de gênero , de raça e os direitos da população LGBT, população esta que sofre forte discriminação em virtude de dogmas religiosos.

Aperfeiçoar a tolerância às diferenças é indispensável no regime democrático. Quando se consegue fazer valer a laicidade do Estado, preservam-se direitos fundamentais.

Se liga: O Brasil a muito já não e um pais de maioria católico e não dá mais para fingir que não vemos. Um a cada seis brasileiros já é evangélico - e o número continua crescendo. Se você quer entender o Brasil e antever o futuro, precisa antes saber como isso foi acontecer.
Um Cristo, duas religiões...


No começo, essa explosão se deu em silêncio, praticamente ignorada pelas classes médias. Os templos evangélicos surgiam nas cidadezinhas perdidas e nas periferias miseráveis das metrópoles. Já não é mais assim. No primeiro dia de 2004, a Igreja Pentecostal Deus é Amor inaugurou no coração de São Paulo o seu novo templo. A obra tem tamanho de shopping center, arquitetura de gosto duvidoso e comporta 22 mil pessoas sentadas.

Há meio século os evangélicos são a religião que mais cresce no país. Nos últimos 20 anos, mais que triplicou o número de fiéis: de 7,8 milhões de pessoas em 1980 para 26,4 milhões em 2001, um pulo de 6,6% para 15,6% da população brasileira. Em algumas cidades, foram criados vagões de trem exclusivos para crentes, em que as pessoas podem viajar ouvindo pregações bíblicas. Em outras, não parece longe o dia em que eles representarão mais de 50% dos habitantes. Com mais de 400 anos de atraso, finalmente estamos sentindo os efeitos da Reforma protestante que varreu a Europa no século 16.

Um terreninho do Céu - Evangélicos, é importante esclarecer, é a mesma coisa que protestantes. As duas palavras são sinônimas. Ou seja, evangélicas são praticamente todas as correntes nascidas do racha entre o teólogo alemão Martinho Lutero e a Igreja Católica, em 1517 (veja infográfico na página 54). O alemão estava especialmente chateado com o comportamento dos padres, que, segundo ele, tinham virado corretores imobiliários do céu, comercializando indulgências – vagas no Paraíso para quem pagasse.

Lutero abriu a primeira fenda
no até então indevassável poder papal sobre as almas do Ocidente. A ele se seguiram outros. Na Inglaterra, o rei Henrique VIII criou sua própria dissidência do catolicismo – depois batizada de anglicanismo – só porque o papa não queria que ele se divorciasse e casasse de novo. Na Suíça, Ulrico Zwinglio e João Calvino aprofundaram as reformas de Lutero. Zwinglio pregava o princípio que fundamentaria todo o movimento: o cristão deve seguir apenas a Bíblia (os católicos aceitam influências de teólogos, como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino). Já Calvino foi o responsável pela introdução do puritanismo, que combinava regras rígidas de conduta com uma fervorosa dedicação ao trabalho. No começo do século 20, o sociólogo alemão Max Weber publicou o texto clássico A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, no qual atribui a essa invenção de Calvino o sucesso do capitalismo em países evangélicos.

Todos esses movimentos estimulavam o fim do monopólio da Igreja sobre a interpretação da Bíblia. Cabia a todo e qualquer cristão ler as Escrituras e tirar delas o que quisesse. Os protestantes recusavam a idéia de que um único líder – o papa – deveria guiar os rumos da religião. Foi isso que começou a fragmentação do movimento em diversas correntes, com pequenas diferenças doutrinárias. Surgem os batistas, os metodistas, os presbiterianos...

Mas o Brasil colonial passou quase imune à avalanche protestante. Houve apenas algumas exceções, como os calvinistas franceses e holandeses que invadiram o país – o primeiro culto evangélico por estas terras foi celebrado por franceses no Rio de Janeiro, em 1557, só 57 anos depois da missa católica inaugural. Era proibido realizar cultos de qualquer religião que não o catolicismo no território português.

A liberdade religiosa no Brasil só veio com a independência, na Constituição de 1824, ainda que impondo restrições de que as reuniões acontecessem em locais que não tivessem “aparência exterior de templo”. No mesmo ano, alemães fundaram a primeira

comunidade luterana do Brasil. Logo depois chegaram as correntes missionárias, como os metodistas, dispostas a pregar nas ruas para salvar almas. Eles caíram nas graças da elite intelectual republicana que, impressionada com a “ética protestante”, defendia a presença de evangélicos como condição para a modernização do país.

Mas os protestantes que prosperaram no Brasil pouco tinham a ver com a tal ética protestante de Weber. No início do século 20, a fundação de duas igrejas seria decisiva para definir o perfil evangélico nacional: a Congregação Cristã no Brasil, inaugurada em São Paulo pelo italiano Luigi Francescon, em 1910, e a Assembléia de Deus, aberta um ano depois em Belém pelos suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg. Apesar da origem européia, eles chegaram ao país via Estados Unidos, onde se envolveram com uma nova corrente protestante, o pentecostalismo, um grupo que crescia em popularidade por lá desde a virada do século.

Outra diferença é a radicalização da divisão do Universo entre Deus e o Diabo. Para os neopentecostais, os homens não são responsáveis pelos atos de maldade que cometem: é o Diabo que os leva a pecar. Numa sessão de descarrego da Igreja Universal, o pastor explicou que, se o fiel enfrenta um problema há mais de três meses, é provável que esteja carregando um encosto. “Se a dificuldade completar um ano, daí não há dúvida: a culpa é do demônio”, disse para a congregação. Ele não se referia só a entraves financeiros ou comportamentais. A receita vale para tudo, inclusive para doenças incuráveis. Assim, expulsar o demônio do corpo é a receita única para todos os males, de casamento infeliz até câncer no pulmão.

O ritual é feito aos gritos de “sai, capeta”, às vezes com lágrimas escorrendo pelo rosto e transes que terminam no exorcismo. Os cultos tornaram-se mais ativos, incluindo aplausos para Jesus e música gospel. Mas a inovação mais profunda do neopentecostalismo foi a aplicação da teologia da prosperidade, aquela exposta no primeiro parágrafo desta reportagem. Graças a ela, o neopentecostalismo ganhou o apelido de “fé de resultados”.

A teologia da prosperidade faz o fiel encarar Deus como um office-boy”, diz o cientista da religião e pastor Paulo Romeiro, autor de Supercrentes – O Evangelho Segundo os Profetas da Prosperidade. “O crente dá ordens e determina o que pretende. Não há qualquer reconhecimento das fragilidades humanas e de suas necessidades em relação a um Deus superior”, afirma Romeiro. No Brasil, além da Universal, a Renascer em Cristo, a Sara Nossa Terra e a Internacional da Graça de Deus adotam a teologia da prosperidade.

A força de enxurrada com que o neopentecostalismo cresceu desorganizou todo o protestantismo. “Há uma verdadeira perda de identidade no movimento evangélico mundial. O pentecostalismo flexibilizou suas exigências comportamentais e até os protestantes históricos passaram a aceitar a participação mais ativa do fiel no culto e algumas manifestações sobrenaturais”, afirma o pastor batista Joaquim de Andrade, pesquisador da Agência de Informações da Religião. Mais e mais, boa parte do mundo protestante aceita a teologia da prosperidade.

A onda de mudança foi bater até onde a Reforma de Lutero não tinha chegado: nas praias do catolicismo. A influência neopentecostal sobre a renovação carismática católica é tão grande que seu maior expoente no Brasil, padre Marcelo Rossi, é acusado de ter gravado hinos religiosos tirados de templos evangélicos.

Promessas de um novo mundo - Mas por que cada vez mais pessoas abandonam suas religiões para tornarem-se evangélicas? Nos anos 60, a nova religião era vista como uma forma de migrantes de zonas rurais enfrentarem a falta de valores e regras da sociedade moderna e estabelecerem relações de solidariedade na metrópole. Demorou dez anos para essa hipótese ser desacreditada por estudos que mostraram que as igrejas eram compostas igualmente pelos pobres nascidos e viventes na cidade e no campo.

Houve espaço para teorias conspiratórias: o avanço evangélico seria um plano dos Estados Unidos (ou do Diabo) para dominar a América Latina. A hipótese foi defendida a sério pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, que na década de 80 enviou memorando ao Vaticano, citado no livro de Mariano, afirmando que a CIA, aliada à direita brasileira, acelerava a “expansão dessa religião alienante no continente para frear a proliferação da Igreja Católica progressista”.

Mas essas explicações não convencem ninguém e o avanço neopentecostal exigiu um novo foco nos estudos. Em seu mais recente trabalho, o “Análise Sociológica do Crescimento Pentecostal no Brasil”, Mariano afirma que as motivações para a conversão estariam nas soluções mágicas oferecidas. “Uma grande parcela da população não tem acesso ao serviço de saúde – e, quando tem, recebe atendimento precário e mal entende os médicos. É muito mais fácil, e faz mais sentido, acreditar que os problemas são causados pelo demônio e se tratar na igreja”, afirma o sociólogo.

Não é apenas a questão médica que está em jogo. A dualidade entre Deus e o Diabo é uma das mais eficientes respostas para a eterna pergunta sobre como é possível existirem tantas coisas ruins. Um presidiário pode culpar a influência do demônio pelo passado violento – uma explicação para o sucesso da religião nas prisões. Essa dualidade também pode estar na raiz da popularidade evangélica entre ex-viciados em drogas – e de sua comprovada eficácia na luta contra o vício. O apelo pode efetivamente ajudar ex-criminosos e ex-viciados a deixarem seus “maus hábitos” para trás. Com isso, os neopentecostais respondem satisfatoriamente às questões dos nossos tempos – coisa que outras religiões nem sempre conseguem fazer.

Juntando tudo, o que se tem é uma religião que escancara uma ambição materialista e imediata na relação com Deus. Um apelo e tanto, que parece ter especial atração para os mais pobres. Estaríamos, portanto, diante de uma mudança naquilo que as pessoas esperam da experiência religiosa? “Não”, responde o estudioso de religiões Antonio Flávio Pierucci, da Universidade de São Paulo. “A maior parte das religiões tem esse viés materialista. As pessoas sempre rezam com o objetivo de pedir e receber algo. A diferença é que os evangélicos assumem essa faceta sem se envergonhar.”

Seria injusto, no entanto, listar apenas explicações sociológicas para justificar a onda de conversões. Poucas religiões têm tanta disposição para atrair fiéis como os evangélicos. Templos são abertos nos mais distantes rincões e pastores dedicam-se com fervor. As igrejas estão à frente das demais no entendimento de que evangelizar é como convencer um consumidor a comprar. “Os depoimentos de fiéis na TV e no rádio são o apelo de marketing para demonstrar a eficiência dos serviços”, diz Ari Pedro Oro, antropólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e organizador do livro Igreja Universal do Reino de Deus. As igrejas seduzem com um produto atraente e oferecem bom serviço. São religiosamente adeptas da mais pura e simples mentalidade empresarial.

Crescei e mutiplicai - Em novembro do ano passado, um evangélico foi ao Programa do Ratinho pedir a devolução dos dízimos que havia dado à igreja. Argumentava que o pastor lhe prometera prosperidade em troca do dinheiro. Sem melhorar de vida, o fiel, como se fosse um consumidor lesado, foi ao Ratinho pedir o dinheiro de volta.

Essa história ilustra de modo brilhante a relação que as neopentecostais criaram com seus fiéis-clientes. Elas prestam um serviço. E eles pagam. É bom lembrar que dar dinheiro a Deus, seja através da caridade ou de doações, é parte da doutrina de diversas religiões, incluindo todas do braço judaico-cristão. Com a teologia da prosperidade, no entanto, o dinheiro ganhou nova função. Agora é preciso dar para receber. Num de seus livros, Edir Macedo, o líder da Universal, explica que devemos formar uma “sociedade com Deus”. “O que nos pertence (nossa vida, nossa força, nosso dinheiro) passa a pertencer a Deus; e o que é d’Ele (as bênçãos, a paz, a felicidade, a alegria, tudo de bom) passa a nos pertencer”, afirma o bispo.

É uma leitura polêmica do Evangelho. A idéia de que dar dinheiro é parte de uma relação de troca com Deus desperta calafrios em muitos religiosos. “É uma contradição. A Reforma protestante começou justamente porque Lutero se levantou contra a venda das indulgências”, diz o pastor Paulo Cezar Brito, líder da Igreja Evangélica Maranata, uma pentecostal que rejeita a teologia da prosperidade.

“Templo é dinheiro”, diz a maldosa adaptação do ditado popular. “Deus é o caminho, Edir Macedo é o pedágio”, diz outra. Na cabeça de muita gente, as igrejas evangélicas são ótimas opções de carreira para quem pretende enriquecer facilmente. Não dá para negar que muitos realmente ganharam dinheiro com a fé alheia – em especial os líderes das grandes igrejas (veja no quadro da página 60 como se sobe na carreira evangélica). Como em qualquer empresa moderna, pastores hábeis que trazem muito dinheiro para a igreja ganham bem – ninguém confirma a informação, mas comenta-se que alguns salários se parecem com os de astros de futebol, na casa das várias dezenas de milhares de reais. Mas essas afirmações escondem também um preconceito. Em termos legais, não há diferença entre um templo evangélico e qualquer outro local de cultos religiosos. A Constituição garante a todos – evangélicos, católicos ou budistas – a mesma isenção de vários tributos, entre eles o IPTU e o Imposto de Renda.

Além disso, o crescimento da concorrência faz ser cada vez mais difícil sobreviver entre tantas denominações evangélicas (conheça as cinco maiores igrejas no quadro da página 61). Calcula-se que uma congregação precise ter no mínimo 50 integrantes para recolher dízimos e doações em quantidade suficiente para cobrir as despesas mínimas, como aluguel e contas de luz e água. Nessas horas, ser a religião dos pobres não é vantagem. Por isso, cada denominação procura seu nicho de atuação. A Assembléia de Deus prefere abrir templos dentro de bairros isolados, enquanto a Universal opta pelas grandes vias de acesso – uma decisão que pouco tem a ver com a fé, segue mais a lógica da competição de qualquer mercado capitalista.

O maior país católico do mundo pode estar se tornando uma nação de maioria evangélica? Dificilmente, concorda a maioria dos especialistas. Mas eles discordam na hora de prever o ritmo do crescimento. De um lado, estão os que acham que o boom já passou e que a Igreja Católica, com a renovação carismática, equilibrou o jogo. Do outro,
pesquisadores que vêem no frágil compromisso dos brasileiros com a religião um prato cheio para os neopentecostais. Cerca de 80% dos nossos católicos se dizem não-praticantes. É um enorme mercado para os evangélicos.

Não é à toa que a maioria dos convertidos vem do catolicismo. Mas, na hora de afirmar a identidade e escolher um adversário, o pentecostalismo ataca o candomblé e a umbanda. E vai na jugular, às vezes escorregando para a intolerância religiosa. Em quase todos os templos é possível ouvir que essas religiões cultuam o Diabo. Também há casos de ataques a terreiros estimulados por pastores. Pode-se dizer que a briga contra as religiões afro-brasileiras, e não contra o catolicismo, o verdadeiro rival, seja uma estratégia de marketing. Quando enfrentaram os católicos, os evangélicos levaram um contra-ataque duro, que envolveu denúncias de charlatanismo e estelionato e ameaçou a sobrevivência das igrejas, além de provavelmente afastar fiéis. A popularidade dos evangélicos chegou ao fundo do poço quando um pastor da Universal chutou na TV uma estátua de Nossa Senhora Aparecida (os evangélicos não cultuam imagens).

Mas, embora esses episódios possam dar a impressão de que o fanatismo religioso esteja em alta no Brasil, muitos especialistas defendem a tese de que o crescimento evangélico seja um indício do contrário: de que cada vez mais gente rejeita a religião. É o que sugerem pesquisas mostrando concentrações de evangélicos nas mesmas regiões onde há altos índices de pessoas “sem religião” – caso do estado do Rio e da zona leste paulistana. “As pessoas estão experimentando uma nova crença. Se perceberem que não está dando certo, que Deus não é tão fiel, podem desistir da busca”, diz o sociólogo Pierucci. “Abandonar a religião oficial é o primeiro passo de saída do mundo religioso”, afirma.

Um indício de que a conversão ao mundo evangélico significa um arrefecimento do fervor religioso é o fato de que as neopentecostais exigem poucas mudanças nos fiéis. O resultado é que, quanto mais crescem, menos os evangélicos mudam a cara do país – bem ao contrário da revolução que ocorreu na Europa com as idéias de Lutero e Calvino. Prova disso é a programação da Rede Record, comprada pela Igreja Universal com o dinheiro do dízimo, que pouco difere das concorrentes.

Talvez o trunfo evangélico para conquistar almas seja sua capacidade de adaptação. Com a rejeição à centralização da interpretação bíblica herdada da Reforma protestante, qualquer um pode abrir um templo e pregar como quiser. Assim, enquanto seus “irmãos” se expandiam em áreas pobres, a Igreja Bola de Neve cresceu 1 100% em três anos orando para os ricos. Seus dez templos, cuja marca registrada são as pranchas de surfe como púlpito e os hinos religiosos em ritmo de reggae, funcionam em áreas de classe média-alta de São Paulo e cidades de praia como Florianópolis, Itacaré e Guarujá. O público são jovens da classe A e B, com curso superior. Para quem está acostumado a fiéis pobres e pouco instruídos, a Bola de Neve é uma surpresa desconcertante. Para os evangélicos, somente mais uma prova de que a obra de Deus chegará a todos os corações.

Isto posto, gostaria de elencar aquilo que considero os 10 principais erros de uma pregação neopentecostal: 

1-) Alegorização das Escrituras -Uma das principais características do pregador neopentecostal é o uso de alegorias em seus sermões. É comum por exemplo observamos muitos dos pastores neopentecostais dizendo aquilo que as Escrituras não ensinam. Outro dia eu ouvi um "Apóstolo" ensinando que os Jebuseus, heteus e amorreus (Dt 7:01; 20:17; Js 3:10) simbolizam, o diabo, a carne e o mundo. Para o pregador em questão toda vez que a bíblia faz menção aos amorreus, (Marcos 2: 3-12) significa que Deus deseja a morte do "eu". Noutra ocasião soube de um pregador que ensinou que os amigos do paralítico curado por Jesus simbolizavam, amor, compaixão, misericórdia e companheirismo.

2-) Ausência de uma hermenêutica Bíblica -Um dos maiores problemas dos pastores neopentecostais é a falta do conhecimento das regras da Hermenêutica Bíblica para a pregação da Palavra. Em virtude disso é extremamente comum ouvirmos absurdos, que, muitas vezes, acabam causando enormes contradições doutrinárias e até mesmo as famosas “heresias de púlpito”.

3-) Exagero nas expressões coloquiais e chavões eclesiásticos - Uma das práticas pentecostais mais comuns é uso de chavões. Confesso que ouvir alguns dos nossos pastores pregando é um verdadeiro desafio. Se não bastasse o constante atentado ao vernáculo, suas mensagens estão repletas de expressões e chavões. É comum em meio às pregações ouvirmos: “Este varão é canela de fogo. Aquela irmãzinha que caiu no rétété. Deus desenrolou o mistério pro vaso? Eita manto, né? Não dá mole não que o chicote queima irmão! Ah! graças a Deus que eu conquistei a minha rebeca! Sim, porque jovem solteiro é treva, irmão! Tá amarrado! A abençoada é uma jovem crente! Consegui fugir dessa Jezabel que era laço! Julgo desigual não vale! É benção. Misericórdia! Oh glória! Somos cabeça, não cauda. Determine a benção! Quando eu era do mundo... Queima! Geração apostólica. Amém ou não amém? E diga para a pessoa que está ao seu lado. Repita comigo!.

4-) O uso e a miscigenação de textos bíblicos com textos bíblicos fora de contexto - Essa é uma prática muito comum entre os pregadores neopentecostais. Para fundamentar sua teologia os pastores em questão misturam textos variados usando-os fora de contexto para justificar seus ensinos equivocados. Nessa perspectiva por exemplo é comum o pregador neopentecostal ao ensinar sobre sobre um determinado assunto usar versos isolados das Escrituras, misturando-os segundo seu próprio entendimento, criando assim distorções doutrinárias das mais sérias. O interessante é que dificilmente você encontrará um pregador neopentecostal pregando as Escrituras de forma expositiva, até porque, se pregasse expositivamente ele não teria como sustentar seus ensinamentos.
5-) A forte ênfase na satisfação das necessidades humanas - Uma das principais ênfases da pregação neopentecostal é a satisfação das necessidades humanas. O púlpito neopentecostal não fala do pecado, das consequências dele, da salvação pela graça mediante a fé em Cristo Jesus, bem como das doutrinas fundamentais a fé cristã. Antes pelo contrário, no púlpito neopentecostal não há espaço para as doutrinas da graça, mesmo porque o foco principal do pastor neopentecostal é satisfazer o cliente.

6-) Foco constante em autoajuda e no bem estar humano - Os púlpitos neopentecostais estão repletos de pregadores que abandonaram a exposição das Escrituras em detrimento a técnicas de autoajuda. Nessa perspectiva é comum encontrarmos nas homilias neopentecostais ênfases quase que exclusivas na satisfação humana, para tanto, tornou-se comum por parte dos pastores neopentecostais o uso de técnicas de psicologia e psicanálise em suas homilias. Pois é, a impressão que tenho é que alguns pregadores em nome da "satisfação humana" abdicaram da mensagem da Cruz tornando-se mestres de autoajuda, afagadores do ego.

7-) Ausência das principais doutrinas cristãs como salvação pela graça, perdão de pecados e vida eterna
O pregador neopentecostal não prega sobre as principais doutrinas do Cristianismo. No púlpito neopentecostal não encontramos qualquer tipo de menção a doutrinas como Salvação pela graça, Imputação de pecados, volta de Cristo, destino eterno dos homens, juízo final e muito mais.
8-) Foco em riquezas e prosperidade - O pregador neopentecostal não tem outro tipo de pregação a não ser aquela que foque em prosperidade, riqueza material e sucesso. No púlpito neopentecostal tudo está relacionado ao aqui e agora, e o foco da mensagem é a

satisfação humana. Para o pregador neopentecostal o que mais importa é a bênção de Deus sobre todos aqueles que invocarem poderoso nome do Senhor.

9-) Ausência do Evangelho- No púlpito neopentecostal prega-se tudo menos o evangelho. Nessa perspectiva dificilmente encontramos o pregador pregando sobre pecado, arrependimento, fé e necessidade de salvação. A mensagem do Evangelho para o pregador neopentecostal relaciona-se diretamente as bênçãos de Deus e nunca a necessidade de arrepender-se de salvação e vida eterna.

10-) A super valorização do poder do diabo- Alguns pregadores neopentecostais enxergam o diabo em tudo. Os pastores em questão construíram em suas mentes a ideia de que a vida é um grande conflito entre forças opostas.

Porque levei tanto tempo escrevendo sobre o "Movimento neopentecostal"...
O "demônio" nos livros - A visão demoníaca das religiões afro-brasileiras, propagada pelo neopentecostalismo, já estava presente nas fases anteriores do movimento pentecostal como elemento da teologia da cura divina. A cura, sendo uma das partes constitutivas do ritual da benção aos doentes, servia para mostrar a vitória de Deus sobre o demônio, geralmente identificado com a umbanda e o candomblé (Rolim 1990:49). Nesse período, entretanto, não se convocavam os "exércitos de Cristo" para saírem às ruas e impedirem rituais afro-brasileiros, ou mesmo tentar fechar terreiros, como tem ocorrido nas duas últimas décadas.

Aqui os temas centrais desse antagonismo estão postos: 1. Identificação das divindades do panteão afro com o demônio; 2. Libertação pelo poder (maior) do sangue vivo de Jesus (em oposição ao sangue "seco" ou "fétido" da iniciação ou das oferendas); 3. Em conseqüência da libertação, a conversão. McAlister escreve que ao tomar contato no Brasil com a "macumba", inicialmente achou tratar-se de "folclore", depois, ao curar uma mulher cuja perna estava paralisada desde que ela dera um pontapé em um despacho, percebeu o quanto essas "crendices" eram nocivas e reais.(Pronto falei)

O Movimento neopentecostal tem contribuído efetivamente com a propagação deste conceito, concedendo a Deus e o diabo; pesos idênticos. Para estes, a vida é uma grande trincheira, onde satanás e o nosso Deus lutam de igual para igual pelas almas da humanidade. Esta afirmação aproxima-se em muito da antiga heresia conhecida como maniqueísmo que ensinava que o universo é dominado por dois princípios antagônicos e irredutíveis: Deus ou o bem absoluto, o Diabo ou o mal absoluto. Infelizmente por considerar o bem e mal, como forças idênticas em peso e poder, os pregadores desta doutrina rejeitam a soberania de Deus sobre o inimigo de nossas almas.

Por favor, pare, pense e responda: Quem está regendo os acontecimentos na terra, Deus ou o diabo? Quem reina majestosamente no céu, Deus ou o diabo? Quem a Bíblia diz que estabelece e destitui reis, conforme a sua soberana vontade?

Ora, a visão de Deus reinando de seu trono é repetida nas Escrituras inúmeras vezes (I Rs 22.19; Is 6.1; Ez 1.26; Dn 7.9; Ap 4.2). Na verdade, os muitos textos bíblicos possuem a função de nos lembrar em termos explícitos, que o SENHOR reina como rei, exercendo o seu domínio sobre grandes e pequenos. O senhorio de Deus é total e nem mesmo o diabo pode deter seu propósito ou frustrar os seus planos.

Os neomaniqueistas sem que percebam rejeitam o governo de Deus na história, fundamentando sua fé em achismos e impressões absolutamente antagônicas ao ensino bíblico. Nas doutrinas neomaniqueistas, Caim virou Vampiro, portais dimensionais se abriram, trazendo a tona lobisomens, dentre outras lendas e superstições absurdas. Além disso, batalhas hercúleas são travadas a cada dia no mundo espiritual por Deus e o diabo, demonstrando assim o “quão forte e poderoso é o inimigo de nossas almas”.

Finalizando mesmo gente o relatório:   Os dados do Disque 100, criado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, apontam 697 casos de intolerância religiosa entre 2011 e dezembro de 2015, a maioria registrada nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. No Estado do Rio, o Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos (Ceplir), criado em 2012, registrou 1.014 casos entre julho de 2012 e agosto de 2015, sendo 71% contra adeptos de religiões de matrizes africanas, 7,7% contra evangélicos, 3,8% contra católicos, 3,8% contra judeus e sem religião e 3,8% de ataques contra a liberdade religiosa de forma geral.

Dentre as pesquisas citadas, um estudo da PUC-Rio sugere que há subnotificação no tema. Foram ouvidas lideranças de 847 terreiros, que revelaram 430 relatos de intolerância, sendo que apenas 160 foram legalizados com notificação. Do total, somente 58 levaram a algum tipo de ação judicial.

O trabalho também aponta que 70% das agressões são verbais e incluem ofensas como "macumbeiro e filho do demônio", mas as manifestações também incluem pichações em muros, postagens na internet e redes sociais, além das mais graves que chegam a invasões de terreiros, furtos, quebra de símbolos sagrados, incêndios e agressões físicas.

Reconhecendo que a prática de ato de intolerância religiosa constitui violação ao Estado Democrático de Direito, que não se coaduna com a finalidade de construção de uma sociedade livre, justa e solidária, esta Coordenadoria de Direitos Humanos buscará combater tais atos de intolerância e, também, contribuir para a laicidade do Estado, municiando, sempre que possível, os órgãos de execução do Ministério Público, para que adotem as providências cabíveis, a fim de preservar os direitos fundamentais das pessoas

, independentemente de sua crença religiosa. 

Apenas caminhando a gente não se entende precisamos acompanhar de perto porque a fé em o trivo da razão do respeito,ao movimento religiosas sendo usado como arma politica e de interesses onde entra  YHWH (IAUÊ) nesta historia  e se Yeshua  estivessem hoje na terra seria crucificado de novo.
Esta aberto o debate.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino (Historia das regiões da America latina)

fonte:https://projetoredacao.com.br/www.mprj.mp.br/comissão de intolerancia religiosa da UNEGRO\www.bbc.com/portuguese/noticias/fotos net

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Cabelo hoje e identidade cultural e politica ...

INTRODUÇÃO
Os sistemas de ensino no Brasil atualmente têm incorporado às suas práticas pedagógicas dispositivos visando à efetivação de ações afirmativas relativas à dívida contraída para com a população afro-descendente, como é o caso da Lei 10639 de 2003, que trata de incorporar ao currículo oficial a história e historicidade dos povos que aqui chegaram no Brasil colônia.
Considerando os aspectos pedagógicos inerentes ao processo em que se desenvolve a dialética entre educação e estética no universo das relações inter-raciais, e tendo em vista as teorias que sustentam as práticas educativas neste cenário, propõe-se através deste trabalho refletir sobre o posicionamento a ser assumido pela mulher negra, entendendo a estética além dos padrões pré-estabelecidos cultural e socialmente, identificando uma postura crítica e reflexiva sobre os desdobramentos advindos de tais questionamentos.
Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica contemplando estudos sobre a mulher negra, a estética e suas concepções de beleza, convergindo para os aspectos educativos, considerando que tais pressupostos estão diretamente vinculados aos tipos de relação que se efetivarão em suas práticas pedagógicas, desde que estas se incorporem à vivência cotidiana.
Nessa perspectiva espera-se contribuir para a emergência de uma mentalidade livre de estereótipos, em que a identidade negra e a valorização da mulher nesse contexto sejam

objetos de reflexão, abrindo discussão e possibilidades de debate no espaço acadêmico, tratando as questões étnico-raciais como relações sociais, promotoras de valorosos preceitos éticos e estéticos.

“Cabelo, cabeleira, cabeludo, descabelado…” Considerado por muitos apenas um instrumento estético, o cabelo vai muito além disso. Uma simples opção por um corte ou penteado diz bastante sobre a personalidade de uma pessoa. Para os negros especialmente, que desde a década de 1950 desfilam com seus black power imponentes, ele transcende o campo da beleza e significa um encontro com a identidade e, por quê não, uma ferramenta de afirmação.

A trajetória do black power tem início ainda nos anos 20, quando Marcus Garvey, tido como o precursor do ativismo negro na Jamaica, insistia na necessidade de romper com padrões de beleza eurocêntricos e a partir disso promover o encontro dos negros com suas raízes africanas. Décadas depois, nos Estados Unidos, o afro também começou a ganhar espaço e se tornou um dos protagonistas na luta pelos direitos civis nos anos 60. No entanto, foram as mulheres as grandes protagonistas dessa história. Condicionadas desde o tempo da escravidão a alisar o cabelo, elas bateram o pé e decidiram andar pelas ruas ao natural, o que causou espanto e resistência da comunidade branca.

Entre muitos, o nome de Angela Davis surge como um dos principais marcos nesta luta. Ativista desde os primeiros anos de sua juventude, a norte-americana fez parte do Partido
Comunista e também do movimento Panteras Negras. Em pouco tempo Angela havia se tornado uma das principais referências na luta pelos direitos dos negros e muito deste respeito vinha de seu afro, que de tão imponente, se tornava mais uma maneira de intimidar opressores.

Mesmo durante os tempos de opressão, os negros sempre estiveram presentes no campo das artes, estilos consagrados como jazz e blues, o último precursor do rock, são exemplos desta presença. Além de brindar o público com seu talento, estes artistas foram responsáveis por um braço da afirmação da estética afro nos quatro cantos do mundo. Jimi Hendrix, revolucionando com sua guitarra, criou tendência ao deixar seus esvoaçados cabelos crespos crescerem ao natural.

"A identidade negra é construída (ou reconstruída) cotidianamente como uma forma de autoafirmação em um ambiente hostil, onde qualquer relação com a África é vista como portadora de inferioridade. Há varias formas de se (re)construir essa identidade, e uma delas é através da adoção do cabelo afro"

Ainda no rock, o tecladista Billy Preston, famoso por ter tocado com os Beatles, também aderiu ao movimento e passou boa parte dos anos 70 excursionando com um black power de dar inveja. Por fim pinçamos o nome da sul-africana Miriam Makeba, carinhosamente chamada de Mama Africa, que durante seu exílio nos Estados Unidos, adotou o black power. Ainda em 1970, o fenômeno da disco music ganhou espaço e liderado pelos negros, surgiu com força total e logo caiu nas graças do público, tendo sido o black power um dos principais ícones do movimento, destacado na cabeça de membros de grupos como o
Earth Wind and Fire.Apesar de sair de moda nos anos 80, o afro voltou com força total no começo do século 21, mais uma vez amplamente difundido na música. A partir de 2000, Lauryn Hill e Lenny Kravitz e um pouco antes, a cantora Erykah Badu repescaram o fluxo da estética como mensagem de afirmação. Com o avanço dos anos, o estilou ganhou ainda mais força, e nomes como a baixista Esperanza Spalding e a cantora brasileira Anelis Assumpção foram exemplos da preferência aos cabelos naturais.


São quase 70 anos na luta da afirmação de estética como identidade na diáspora, em que o cabelo e sua naturalidade sobressaem aos padrões de beleza ocidentais para se afirmar como instrumento de resistência e cultura. Nesse contexto, seja na política ou nas artes, o black power foi e é um símbolo que transcende as fronteiras da beleza e significa para o negro o resultado da luta de seus antepassados e também a determinação em manter viva a identidade de quem lutou pelos seus direitos. Na busca de direitos, cabelo é identidade e é também um símbolo de respeito.

Cabelo hoje e identidade: quebrando estereótipos aqui no Brasil.

Ao passo em que se aprofundam as discussões sobre questões que envolvem padrões de beleza, fica a inferência de que a busca pela beleza tem raízes ainda na antiguidade, revelando-se tão antiga quanto a história da própria humanidade.

O discurso de que não há preconceito no Brasil, porque aqui existe a chamada democracia racial, há muito vem sendo questionado no campo acadêmico. A democracia racial foi definida como o mito fundador das relações raciais brasileiras, muito difundida por Gilberto Freyre, que em seu livro Casa Grande & Senzala pregava que no Brasil as três raças conviviam harmonicamente. Assim, parte-se do pressuposto de que por ser um país onde há uma mistura das “três raças – indígena, branca e negra”, todo mundo é um pouco miscigenado e portando não é possível se ter preconceito “é o mito aceito pela grande maioria, reproduzido na vida cotidiana”

Não e fácil - Aliada às mais diversas formas de discriminação ao negro, a capilar se faz uma das mais evidentes. Fruto de uma cultura seletiva, que busca impregnar que o ideal de beleza é aquele em que os cabelos devem ser controlados pela química com os processos
de alisamentos, às vezes nocivos à saúde da consumidora, como é a crítica que gira em torno das escovas permanentes, as chapinhas, etc., especialmente a mulher negra é alvo de múltiplas críticas devido seus cabelos não corresponderem aos "padrões de comportamentos" típicos da raça branca.

Na verdade, as críticas às afro-descendentes revelam a constante onda de discriminação ainda existente na sociedade brasileira, que por intermédio de uma ideologia padronizadora, vão de encontro à valorização dos traços e características raciais, desprezando a cultura e as tradições negras. 


Finalizando:

É evidente que apenas a adoção do estilo de cabelo africano não significa a adoção da identidade negra. Como vimos a construção da identidade se dá através de vários mecanismos sociais e culturais, onde o negro vai se familiarizando com a chamada cultura negra e com a causa de valorização do grupo. O movimento negro tem papel fundamental neste processo, visto que é através dele que várias conquistas em prol dos negros são conseguidas, e, além disso, permite a difusão de discussões sobre o que é ser negro em um país onde o mito da democracia racial já está impregnado na sociedade. Porém,
devemos ressaltar que a utilização do cabelo afro tem importância, pois demarca a conquista de território na sociedade pelo negro, sempre subjugado e visto com inferior. 

A conquista da equidade se dá através de pequenos passos, onde o principal dele é a aceitação do ser negr@ e o entendimento do que é ser negr@.

Um afro afro braço.

Claudia Vitalino.

FONTE:www.acaoeducativa.org.br/

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