UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

terça-feira, 8 de março de 2016

Dia Internacional da Mulher: 8 de março e um apanhado do feminismo negro...

- Mesmo com todos os avanços, elas ainda sofrem, em muitos locais, com salários baixos, violência masculina, jornada excessiva de trabalho e desvantagens na carreira profissional. Muito foi conquistado, mas muito ainda há para ser modificado nesta história.

Introdução:
Durante grande parte de sua história, a maioria dos movimentos e teorias feministas tiveram líderes que eram principalmente mulheres brancas de classe média, da Europa Ocidental e da América do Norte...

No entanto, desde pelo menos o discurso de Sojourner Truth, feito em 1851, às feministas dos Estados Unidos, mulheres de outras etnias e origens sociais propuseram formas alternativas de feminismo.

-"Esta tendência foi acelerada na década de 1960, com o movimento pelos direitos civis que surgiu nos Estados Unidos e o colapso do colonialismo europeu na África, no Caribe e em partes da América Latina e do Sudeste Asiático. "

Desde então as mulheres nas antigas colônias europeias e no países em desenvolvimento propuseram feminismos "pós-coloniais"- nas quais algumas postulantes, como Chandra Talpade Mohanty, criticam o feminismo tradicional ocidental como sendo etnocêntrico. Feministas negras, comoAngela Davis e Alice Walker, compartilham este ponto de vista.Desde a década de 1980, as feministas argumentaram que o movimento deveria examinar como a experiência da mulher com a desigualdade se relaciona ao racismo, à homofobia, ao classismo e à colonização. No fim da década e início da década seguinte as feministas ditas pós-modernas argumentaram que os papeis sociais dos gêneros seriam construídos socialmente,e que seria impossível generalizar as experiências das mulheres por todas as suas culturas e histórias.


Historia.
Desde o final do século 19, organizações femininas oriundas de movimentos operários protestavam em vários países da Europa e nos Estados Unidos. As jornadas de trabalho de aproximadamente 15 horas diárias e os salários medíocres introduzidos pela Revolução Industrial levaram as mulheres a greves para reivindicar melhores condições de trabalho e o fim do trabalho infantil, comum nas fábricas durante o período.

O primeiro Dia Nacional da Mulher foi celebrado em maio de 1908 nos Estados Unidos, quando cerca de 1500 mulheres aderiram a uma manifestação em prol da igualdade econômica e política no país. No ano seguinte, o Partido Socialista dos EUA oficializou a data como sendo 28 de fevereiro, com um protesto que reuniu mais de 3 mil pessoas no centro de Nova York e culminou, em novembro de 1909, em uma longa greve têxtil que fechou quase 500 fábricas americanas.

Em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas na Dinamarca, uma resolução para a criação de uma data anual para a celebração dos direitos da mulher foi aprovada por mais de cem representantes de 17 países. O objetivo era honrar as lutas femininas e, assim, obter suporte para instituir o sufrágio universal em diversas nações.

Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) eclodiram ainda mais protestos em todo o mundo. Mas foi em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário Juliano, adotado pela Rússia até então), quando aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra - em um protesto conhecido como "Pão e Paz" - que a data consagrou-se, embora tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher, apenas em 1921.

Somente mais de 20 anos depois, em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres. Nos anos 1960, o movimento feminista ganhou corpo, em 1975 comemorou-se oficialmente o Ano Internacional da Mulher e em 1977 o "8 de março" foi reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas.

Racializando a conversa: A Mulher Negra...
É fundamental explicitar as grandes distâncias que ainda separam homens e mulheres e negros e brancos no Brasil. O retrato das desigualdades no Brasil mostra como racismo e sexismo são elementos estruturantes que mantém as violências históricas contra a população negra.
O pensamento feminista negro coloca a mulher negra no centro do debate, não somente em termos de produção e análise, mas no sentido de privilegiar o lugar que a mulher negra ocupa na estrutura social. Para além da compreensão de que as desigualdades devem ser objetos de produção de conhecimento reflexivo e crítico dá espaço às vozes que foram historicamente silenciadas, as vozes das mulheres negras. Há importantes e diversas intelectuais e militantes negras, além das já citadas, como bell hooks (nascida Gloria Watkins, adotou o nome de sua avó, escrito assim mesmo, em minúsculo), Angela Davis, Audre Lorde, Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez, Jurema Werneck, Grada Kilomba, entre outras.

No Brasil, seu início se deu no final da década de 1970, a partir de uma forte demanda das mulheres negras feministas: o Movimento Negro tinha sua face sexista, as relações de gênero funcionavam como fortes repressoras da autonomia feminina e impediam que as ativistas negras ocupassem posições de igualdade junto aos homens negros; por outro lado, o Movimento Feminista tinha sua face racista, preterindo as discussões de recorte racial e privilegiando as pautas que contemplavam somente as mulheres brancas.

O problema da mulher negra se encontrava na falta de representação pelos movimentos sociais hegemônicos. Enquanto as mulheres brancas buscavam equiparar direitos civis com
os homens brancos, mulheres negras carregavam nas costas ainda o peso da escravatura, ainda relegadas à posição de subordinadas; porém, essa subordinação não se limitava à figura masculina, pois a mulher negra também estava em posição servil perante à mulher branca. A partir dessa percepção, a conscientização a respeito das diferenças femininas foi ganhando cada vez mais corpo. Grandes nomes da militância feminina negra foram fazendo história, a exemplo de Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro. A atenção e a produção de conteúdo foram dedicadas a discussões de raça e classe, buscando romper uma zona de conforto que o ativismo feminista branco cultivava, especialmente aquele que limitava sua ótica aos problemas das mulheres de boa condição financeira e acesso à educação.

No entanto, isso não foi suficiente para que o Feminismo Hegemônico passasse a reconhecer as ativistas negras e resgatasse as memórias das mulheres que lutaram na linha de frente de diversos movimentos sociais. Para as meninas e mulheres que vêm a conhecer os movimentos pelos direitos da mulher, há um vácuo de modelos negros nos quais se espelhar, mas não por falta de pessoas atuantes e sim por causa da invisibilidade. É preciso que haja a iniciativa de buscar figuras inspiracionais, caso contrário os nomes mais celebrados serão extremamente limitados.

 Rompimento e necessidade do feminismo negro
Grande parte das reclamações relatadas são repetições de um único discurso: as negras criam caso, plantam confusão e discórdia, enxergam racismo onde há boas intenções e não são compreensivas.Sera?
Isso acontece porque há a tendência de englobar as mulheres a partir de uma única característica em comum: o gênero. Supondo que todas passam pelos mesmos problemas e desejam as mesmas coisas, o Feminismo que não se atenta para as especificidades de cada grupo feminino acaba atuando sob omissão, muitas vezes deliberada. As necessidades das mulheres negras são muito peculiares e sem que seja feita uma profunda análise do racismo brasileiro, é impossível atender às urgências do grupo.
A luta das feministas negras é uma batalha contínua para nivelar seu lugar ao lugar das mulheres brancas. Isso, por si, levanta a importante reflexão sobre a representação feminina na mídia, seu espaço no mercado de trabalho, o lugar de vítima da violência sexual, o protagonismo da maternidade, entre outros temas, pois se há tanto por que as mulheres brancas precisam lutar, é bastante preocupante o fato de que as mulheres negras nem sequer conquistaram igualdade quando em comparação com outros indivíduos do seu próprio gênero.

Dados:Um pouco do retrato das desigualdades
Segundo a pesquisa “Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil” (IPEA, 2013), a taxa corrigida de feminicídios no Brasil foi de 5,82 óbitos por 100.000 mulheres no período de 2009 a 2011. Estima-se que ocorreram, em média, 5.664 mortes de mulheres por causas violentas a cada ano, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma a cada hora e meia.

No Brasil, 61% dos óbitos foram de mulheres negras (61%), que foram as principais vítimas em todas as regiões, à exceção da Sul. Merece destaque a elevada proporção de óbitos de mulheres negras nas regiões Nordeste (87%), Norte (83%) e Centro-Oeste (68%).

De acordo com dados do último Relatório Socioeconômico da Mulher, elaborado pelo Governo Federal, 62,8% das mortes decorrentes de gravidez atingem mulheres negras e 35,6%, mulheres brancas.

Quando se fala de aborto, a realidade também é violenta para as mulheres negras. Atualmente no Brasil ocorrem cerca de 1 milhão de abortos e 250 mil internações anualmente


por complicações nos procedimentos realizados em clínicas clandestinas. Os procedimentos são realizados em locais com pouca ou nenhuma higiene e por pessoas não capacitadas
para auxiliar as mulheres que procuram essa saída, maioria de mulheres negras. Informações podem ser encontradas na pesquisa Itinerários e Métodos do Aborto Ilegal em cinco capitais brasileiras.

Esses dados mostram que mulheres negras também são vítimas do Estado. Quando se fala em genocídio da população negra, é necessário se fazer os recortes porque mulheres negras também estão morrendo.

Em relação à violência policial, inegavelmente os jovens negros são mais atingidos. O que também atinge mulheres negras. São mães perdendo filhos, irmãs perdendo irmãos, filhas perdendo pais. Violência não letal às mulheres negras que se vêem sozinhas para cuidar das famílias. Na verdade, a construção de feminilidade das mulheres negras é diferente da das mulheres brancas. Mulheres negras não foram aquelas que ficavam em casa enquanto o marido trabalhava: desde o pós-abolição, em sua maioria, são aquelas responsáveis por suas famílias. Por conta das violências pelas quais passam, criou-se o mito da mulher negra forte, guerreira, que enfrenta tudo. Mulheres negras precisam ser fortes porque o Estado é omisso. Essa denominação, além de encobrir a omissão e ilegalidade do Estado, também é desumana no sentido de não reconhecer suas fragilidades próprias da condição humana.

Madurecimento.
São evidentes os sinais de maturidade e crescimento da onda do feminismo negro. Nas ruas já se fazem notar os cabelos crespos ou trançados e turbantes coloridos, na contracultura do alisamento que marcou os penteados femininos, das brancas inclusive, nos últimos tempos. Décadas de luta do movimento negro, somadas às políticas públicas inclusivas nas universidades, à multiplicação de saraus pela periferia, ongs de mulheres negras ;dirigindo entidades mistas e de blogueiras negras . A marcha da mulheres negras e no momento o que mais explicita esses  frutos...
Que venha a próxima...

Um afro abraço.

fonte:foto net/OLLINS, P.H. Black Feminist Thought: knowledge, consciousness and the polittics of empowerment. Nova York: Routledge, 2000.CRENSHAW, K. Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory, and Antiracist Politics. University of Chicago Legal/Forum, 14, 1989.revistaforum.com.br/www.fundaj.gov.br/

domingo, 6 de março de 2016

"Carta das Mulheres da UNEGRO"

O dia 8 de Março – Dia Internacional da Mulher - representa a resistência das mulheres
no mundo, a nossa indignação contra assassinatos, mortes no parto ou por aborto
clandestino. Representa ainda a luta contra o assédio moral e sexual, contra baixos salários, contra a tripla jornada, contra o machismo e todo o sistema opressor que precisa manter a mulher humilhada e com a baixa autoestima. A União de Negros Pela Igualdade parabeniza a presidenta da República do Brasil, Dilma Rousseff, pela sanção do projeto de Lei de Tipificação do Feminicídio como crime hediondo e qualificação do assassinato de mulheres por razões de gênero.O Brasil ocupa a 5ª posição em ranking global de homicídios de mulheres, entre 83 países elencados pela Organização das Nações Unidas (ONU), assim, nosso país se soma a outras 15 nações latino-americanas cujo empenho legal é enfrentar o fenômeno na região. A taxa de mortes por assassinato de mulheres para cada 100 mil habitantes era de 4,8 casos, como mostra os estudos da temática. A média mundial foi de dois casos. Foram 4.762 mulheres mortas violentamente no Brasil em 2013; 13 vítimas fatais por dia. O quadro foi ainda mais alarmante em relação às mulheres negras. A década 2003-2013 teve aumento de 54,2% no total de assassinatos desse grupo étnico, saltando de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013. Aproximadamente mil mortes a mais em 10 anos. Em contraposição, houve recuo de 9,8% nos crimes envolvendo mulheres brancas, que caiu de 1.747 para 1.576 entre os anos. De acordo com o "Mapa da Violência 2015: Homicídios de Mulheres no Brasil”. Morreram assassinadas, proporcionalmente ao tamanho das respectivas populações, 66,7% mais meninas e mulheres negras do que brancas, como mostra essa Mapa. Portanto, a vitimização de mulheres negras - a violência contra elas, que pode não ter se concretizado como homicídio -, cresceu 190,9% na década analisada.
A vitimização desse grupo era de 22,9%, em 2003, e saltou 66,7% no ano passado. Esse quadro é agravado quando se analisa a situação das negras nos estados do Amapá, Paraíba, Pernambuco e Distrito Federal, em que os índices passam de 300%, como releva ainda esse Mapa.

-Até quando avanços na legislação e na efetivação das políticas de proteção aos direitos humanos, promoção da igualdade de gênero e racial, superação da violência, promoção da
saúde integral e exercício dos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres serão bloqueadas e vilipendiadas pelos conservadores e fundamentalistas?


Reiteramos nosso repúdio contra os atos de intolerância na Câmara dos Deputados durante a votação da Medida Provisória 696/2015,em que o plenário aprovou destaque do PRB que retira do texto original a expressão "da incorporação da perspectiva de gênero" entre as atribuições do recém criado Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humano. Com esse destaque visa-se eliminar a possibilidade de debate público sobre estratégias destinadas à superação das desigualdades de gênero, de orientação sexual e de raça, entre outras que violam o direito humano e à educação de
milhões de brasileiras e brasileiros. A UNEGRO considera extremamente grave tais manobras, que são frutos da atuação de determinados grupos que propagam preconceitos e desinformação, inviabilizam o debate público e agem contra as conquistas da sociedade
brasileira com relação a igualdade entre homens e mulheres.É preciso lembrar que essas conquistas fazem parte da nova agenda política e foram compromissos assumidos pelo Brasil em acordos internacionais, principalmente na Conferência dos Direitos das Mulheres em 2001, na Dinamarca. Nesse sentido, a UNEGRO, que tem o compromisso de defender as políticas públicas de enfrentamento à violência e discriminação de todas as formas, vêm somar-se ao clamor da sociedade brasileira na denúncia de práticas patriarcais seculares enraizadas nas relações sociais e nas diversas institucionalidades do Estado que devem ser combatidas no cotidiano de maneira permanente.

Rebele-se contra o racismo!
Um afro abraço.

(fonte: Mulheres daUNEGRO)

quarta-feira, 2 de março de 2016

Contos Africanos:O menino gravido...

-Em um tempo muito distante, nas terras do povo xhosa, havia um homem e uma mulher que se amavam apaixonadamente. No início da primavera, eles se casaram e deram uma linda e colorida festa que agitou a comunidade.

Depois de alguns anos os dois desejavam muito ter um filho ou uma filha que os alegrasse. Mas a criança não chegava. Então eles decidiram ir ao encontro de um famoso Sangoma, que morava na floresta.

─ Pai Sangoma, você pode nos ajudar a ter um filho?

O velho e sábio Sangoma era conhecedor dos mistérios das plantas de toda a floresta e da cira de muitas doenças de corpo e de espírito.

─ Sim, eu posso ajudá-los, mas desde que vocês façam tudo como eu explicar.

Eles concordaram imediatamente e prestaram muita atenção nas palavras do sábio.

─ Vou entregar a vocês quatro raízes de plantas sagradas que vivem nesta floresta. Quando chegarem em casa, vocês devem separá-las em dois montes. O primeiro monte deverá ser aquecido na fogueira, o segundo, colocado com água em uma garrafa. A mulher deverá mascar o primeiro monte de raízes e, no dia seguinte, beber água das raízes do segundo monte.

E o sábio entregou as quatro raízes embrulhadas em um pequeno pedaço de pano, dizendo:

─Em troca, quero que vocês me deem um boi logo depois do nascimento da criança.

O casal concordou e agradeceu muito ao Sangoma. Partiram imediatamente para sua aldeia. Chegando lá, fizeram tudo como ele havia explicado. A mulher ficou grávida. Nove meses depois nasceu um lindo garotinho de olhos grandes e choro forte. Os pais ficaram tão felizes e envolvidos com os novosafazeres, que esqueceram completamente da promessa de enviar o boi para o sábio da floresta.


O menino foi crescendo. Quando estava chegando a adolescência, seus pais decidiram que era hora de ter mais um filho. Resolveram, então, voltar à floresta e pedir mais raízes ao Sangoma.

─ Como vocês chegam aqui e me pedem mais raízes sem ter entregado o boi que eu pedi? Vocês tiveram o que procuravam, mas não cumpriram o acordo.


O pai e a mãe ficaram envergonhados e pediram muitas desculpas para o sábio. Como eles
puderam esquecer?

─ É muito fácil não lembrar daqueles que nos ajudaram depois que conseguimos o que queremos ─ falou o sábio, bravo.

Eles pediram desculpas mais uma vez e, cabisbaixos, dirigiram-se à porta da casa do Sangoma para partirem rumo às suas terras.

─ Esperem! Como vejo que não fizeram por mal e se envergonharam do seu erro eu darei a vocês as raízes depois que entregarem o boi que me devem.

O casal agradeceu e voltou para a sua aldeia. Ao chegarem, imediatamnete pediram a um amigo que levasse o boi ao velho Sangoma. O amigo voltou com o recado para que fossem buscar as raízes no dia seguinte.

─ Amanhã temos compromissos aqui na aldeia. Não poderemos nos afastar ─ disse o pai, preocupado.

─ E se enviarmos nosso filho para buscar as raízes? Ele já tem 12 anos e o caminho até lá é muito fácil.

O pai concordou com a proposta da mãe. Então, eles chamaram o menino:

─ Você acha que pode buscar as raízes na casa do Sangoma?

─ Claro, pai! ─ e o garoto pulou de alegria. ─ Já não sou mais criança. Posso ir e voltar bem rápido!


E assim foi. O garoto arrumou sua pequena bolsa e partiu para a casa do Sangoma. Lá, explicou para o velho sábio que seus pais o haviam enviado para buscar a encomenda. O Sangoma entregoulhe as quatro raízes cobertas por um pano e pediu que o menino alertasse os pais para que fossem muito cuidadosos na preparação delas.

─ Não se preocupe. Tudo vai dar certo! ─ e o menino agradecu ao Sangoma e partiu para casa.

Quando estava no meio do caminho, a curiosidade foi tão grande que ele não aguentou. Abriu o pano e olhou atentamente as quatro raízes.

─ Acho que não vai ter problema se eu experimentar só um pedacinho!

E mordeu o pedaço da primeira raiz, muito doce e suculenta. O gosto era tão bom que ele resolveu experimentar mais um pedaço. E depois outro e mais outro. E assim foi, até que não sobrou mais nada das duas raízes doces. Então experimentou as outras duas, mas elas eram tão amargas que ele as cuspiu no chão.

Foi quando ele percebeu o que fizera.

─ E agora, o que vou falar? Só sobraram duas raízes!

Com medo de que sua mãe e seu pai ficassem muito bravos, o menino resolveu não contar a verdade quando chegasse em casa. “ Tomara que essas duas raízes que sobraram sejam suficientes para minha mãe engravidar “ , pensou o garoto.

Logo que o menino chegou em casa, a mãe pediu para ver as raízes:

─ Que estranho, da outra vez eram quatro raízes e agora são só duas... O Sangoma explicou alguma coisa para você?

─ Não, mãe, ele não disse nada. Só falou que a senhora deve aquecer esta raiz na fogueira e depois mascá-la. Ea outra deve ser colocada dentro de uma garrafa cheia de água. No dia seguinte, a senhora deve beber a água.

A mãe e o pai não desconfiaram de nada e fizeram tudo como o menino explicou. Mesmo assim passaram-se os meses e a mãe não engravidava.

Mas o menino... Ele começoua engordar, a engordar, e os seus peitos passaram a crescer, a crescer, ficando cada vez mais doloridos. Sua barriga foi ficando grande e ele sentia como se tivesse alguém morando lá dentro. No quarto mês, o garoto percebeu que esse “ alguém ” começou a se mexer muito.

“ Acho qe estou grávido ” , constatou, desesperado. “ O que eu faço agora? Como vou dizer aos meus pais? E os meus amigos? Todos vão rir de mim! ”

Ele tinha tanta vergonha, quee não contou seu segredo para ninguém. Tinha vergonha de ter mentido para seus pais. Sua família não desconfiou, porque alguns primos do menino haviam ficado muito magros ou gordos quando entraram na adolescência. “ Coisas de quem está crescendo ” , dizia o avô.

Um dia, quando ajudava seu pai a cuidar do gado, ele começou a sentir uma forte dor na barriga, que ia e voltava com uma intensidade crescente.

─ Meu filho, você está bem? ─ percebeu o pai.

─ Pai, preciso ir para casa, deitar um pouco ─ reclamou o menino. ─ Sindo dores fortes na cabeça e na barriga.

─ Vá e peça para sua mãe um chá bem forte, daquele que ela sabe fazer tão bem.

E ele foi embora, mas não para sua casa. Foi para o meio da floresta. Lá, ele cavou um buraco, encheu de folhas e se deitou dentro, como se fosse um ninho. As dores na barriga
foram aumentando e, de repente, um choro auto de bebê foi ouvido em toda a mata. Havia nascido uma linda e gorducha garotinha!

─ O que eu faço agora com você? ─ falou desesperado o rapaz, olhando a bebê. ─ O que será de mim? E de você?

A bebê chorava alto e sem parar, mas, quando achou o bico do peito do menino, começou a mamar com muita fome. Depois de mamar bastante, dormiu um sono profundo.

O menino, então, saiu correndo para casa, com medo de que seus pais tivessem dado falta dele. Quando chegou, seu pai já estava na porta para sair à sua procura:

─ Onde se meteu? Você nos deixou muito preocupados!

O menino mentiu e disse que havia decidido descansar embaixo de uma árvore e que acabara caindo em um sono profundo.

─ Mas e a dor que você estava sentindo? ─ perguntou a mãe, assustada.

─ Passou. Acho que foi uma fruta verde que comi ontem ─respondeu o menino.

E todos foram jantar. O menino comeu como se susa barriga fosse um buraco sem fundo. Os pais estranharam, mas depois acharam que era coisa de adolescente, de gente que está crescendo muito rápido.

À noite depois que todos haviam se deitado, o menino se levantou e correu até a floresta. Tinha de ver a bebê. Ela estava chorando e logo parou quando começou a mamar no peito dele. Depois, a bebê caiu no sono.

“ Ela é tão linda “ , pensou ele, enquanto a observava dormir. Pela primeira vez, sentiu que ela era sua filha. Dormiu abraçado a ela e, no começo da manhã, voltou para casa e se deitou na cama antes que sua mãe chegasse para despertá-lo.

Ao longo do dia, enquanto trabalhava com seu pai, cuidando do gado da família, ele sempre inventa um motivo para correr até a floresta e amamentar e cuidar de sua bebê. À noite, quando os pais se recolhiam, ele saia de fininho para a floresta.

Depois de três dias, a mãe começou a desconfiar que algo estava errado. Então, quando a noite chegou, ela fingiu que tinha ido dormir, mas ficou escondida, vigiando o menino. Quando ele se levantou e correu para a floresta, ela o seguiu. Não acreditou no que viu: seu filho estava amamentando um bebê! A mãe logo entendeu tudo e resolveu voltar para casa, antes que o menino percebesse.

No dia seguinte, quando ele saiu com o pai para cuidar do gado, a mãe correu para a floresta e pegou a bebê. Trouxe-a para casa, banhou-a, alimentou-a e brincou com ela. Enquanto isso, mais uma vez o menino inventou uma desculpa para o pai e correu para a floresta para amamentar e cuidar da garotinha. Quando chegou lá, ficou desesperado. A menina não estava no ninho.

Ele a procurou por toda a floresta. Rezou e implorou aos deuses e aos antepassados para que eles o ajudassem. Chorou e chorou. Parecia que haviam arrancado uma parte de seu coração, roubado o seu espírito:

─ Cadê minha filhinha? Cadê?

Já mais nada importava na vida dele, a não ser encontrar a bebê. “ Será que algum animal a comeu? Não podia ter deixado minha filha sozinha... “

E, assim a noite chegou. E, assim a noite foi embora e o sol anunciou um novo dia. Ele ainda estava confuso, procurando a bebê na mata, não sabia o que fazer, não sentia fome nem sede.

No dia seguinte, depois de tanto procurar, arrastando as pernas, ele foi para casa, disposto a contar tudo a seus pais. Quando chegou, sua mãe segurava a bebê no colo.

─ Mamãe, você teve uma bebê? ─ perguntou o menino, quase chorando. ─ Posso segurar? Ela é tão linda!

A mãe ficou em silêncio por um tempo.

─ Sim, meu filho, agora ela é sua irmã. Filha de sua mãe, não mais sua ─ e olhou carinhosamente para o filho. ─ Esta minha filha chegou para mim por meio de sua barriga. Assim como outras filhas e filhos chegam para suas mães por meio da barriga de outras mulheres.

O menino concordou e começou a chorar.

─ Desculpe, mãe. Desculpe, pai, por não ter contado a verdade. Sinto muita vergonha.

O pai, comovido com a dor do menino, disse:

─ Sim, meu filho. Sabemos que você lamenta o que ocorreu. Nunca mais minta para nós em nem tome algo que não lhe pertença.

A partir daquele dia, o menino passou a ter um prazer a mais quando ordenhava as vacas de
sua família. Ele não podia mais amamentar sua menina, mas o leite das vacas que ele cuidava alimentava sua irmã. E ela se tornava mais linda e esperta a cada dia, alegrando a todos.

O menino cresceu e se tornou um homem muito sábio e especial, que compreendia a importância e a beleza de cuidar da vida e de alimentá-la.

Um afro abraço.
fonte:www.companhiadasletras.com.br

terça-feira, 1 de março de 2016

Mas um Alerta para ‘homicídios invisíveis’ de jovens negros..

 Eles foram vítimas de 30 mil assassinatos em 2012; do total de mortes, 77% eram negros, o que denuncia um genocídio silenciado de jovens negros, afirma Atila Roque, da Anistia Internacional
Nos últimos dois anos, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), órgão do governo estadual, os homicídios voltaram a cair em agosto e setembro, após 20 meses de altas seguidas. Em setembro, a queda foi de 9,5% em comparação com o mesmo mês do ano passado.

— Mesmo assim, o Rio ainda precisa intensificar suas políticas. Muita criatividade está surgindo nesses territórios mais pobres, e queremos aproveitar isso, dar ênfase à juventude da periferia. Há várias histórias interrompidas. É como se o jovem negro pobre estivesse destinado a morrer — diz Átila Roque.

Elaborado em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e a pedido do governo federal, o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial 2014 apontou que a taxa de jovens negros assassinados por 100 mil habitantes subiu de 60,5 em 2007 para 70,8 em 2012. Entre os jovens brancos, a taxa de vítimas de homicídio também aumentou: de 26,1 para 27,8.

Os números surpreendem e são um reflexo de uma "cultura de violência marcada pelo desejo de vingar a sociedade", conta Atila Roque, diretor-executivo da base brasileira da Anistia Internacional. De acordo com os últimos levantamentos feitos pelo grupo, 56 mil pessoas
foram assassinadas em solo brasileiro em 2012, sendo 30 mil jovens e, entre eles, 77% negros.

Esses índices, segundo ele, são resultado de uma política de criminalização da pobreza e de uma indiferença da sociedade em torno de um "genocídio silenciado" que muitas vezes fica impune. "Entre 5 e 8% dos homicídios no Brasil chegam a virar processo criminal.

— Os dados ainda são escandalosos. Mas o problema parece que não entra na agenda política nacional. O objetivo da campanha é tirar esse tema do armário. Hoje, tudo leva a crer que a sociedade não se importa com isso — afirma o sociólogo Átila Roque, diretor executivo da
Anistia Internacional no Brasil e um dos coordenadores da campanha Jovem Negro Vivo.
Para quem vai ao Aterro passear ou perder calorias extras, o duelo de grupos de passinho pode parecer só diversão. Mas a alegria da dança é uma das apostas da campanha para chamar a atenção para a vida de jovens da periferia que, como os acrobatas do passinho, são mais pobres, estão mais longe da escola e mais perto de situações de risco.

O lema da campanha é “Mais chocante que a realidade, só a indiferença. Você se importa?” Quem se importa com tantas mortes, pede a campanha, pode assinar um manifesto reivindicando políticas públicas mais efetivas no combate à violência e à mortalidade de jovens negros. Voluntários estarão no Aterro colhendo assinaturas.

A morte de policiais:

Os policiais são também presa fácil do crime, sobretudo fora de serviço. Assim, o Brasil é “um dos países em que os policiais mais morrem e mais matam”, diz o relatório. Só no ano passado, 490 oficiais morreram violentamente, um número que dispara até 1.770 se

considerarmos os últimos cinco anos. “A morte dos policiais em serviço é tão ou mais grave do que a vitimização fora dela. Embora o número tenha decrescido do ano passado para este, parece haver na sociedade uma aceitação natural da perda da vida do policial. Um Estado onde é natural que um policial perca a vida em razão da sua profissão é um Estado que está sob a lógica da barbárie”, reflete no relatório Rafael Alcadipani, professor de estudos organizacionais daEAESP/FGV. O fato de 75,3% dos policiais morrerem fora de serviço, a maioria durante seus bicos, ilustra, segundo os especialistas, a precariedade da polícia brasileira.

Contexto:
O Mapa da Violência tem um capítulo intitulado “A Cor dos Homicídios”, que detalha metodologia e evolução dos assassinatos de jovens negros de 2002 a 2012. Mostra, por exemplo, que na população total, as taxas de homicídio entre brancos caem 23,8%; entre
 negros, crescem 7,1%. Em 2002, proporcionalmente, morreram 73% mais negros que brancos. Em 2012, esse índice sobe para 146,5%.
O assa-ssinato de jovens negros é parte de uma estatística da qual o Brasil não se orgulha: a explosão da violência nos últimos 35 anos.

O país teve 56.337 pessoas assassinadas em 2012, o maior número absoluto de crimes desde 1980. A taxa de homicídios, que leva em conta o crescimento populacional, era de 11,7 homicídios por cem mil habitantes em 1980. Foi crescendo até 2003, quando chegou a 28,9.

A partir de 2003, começou a cair por causa das campanhas de desarmamento e de políticas que reduziram os homicídios em alguns estados. Recomeçou a subir em 2007, chegando a 29 por cem mil habitantes em 2012.

Dos 56 mil assassinatos registrados em 2012, mais da metade (30 mil) teve jovens como vítimas. E, se na população não jovem (menos de 15 anos e mais de 29 anos) só 2,0% dos óbitos foram causados por homicídio, entre os jovens os homicídios foram responsáveis por 28,8% das mortes acontecidas no período 1980 a 2012.

Um afro abraço.
fonte:oglobo.globo.com/noticias.terra.com.br

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Contos Africanos:O MACACO E O HIPOPÓTAMO

Em uma época muito antiga, quando as bananeiras produziam poucas bananas, existiam numerosos macacos.

Havia um deles chamado Travesso, que morava nas margens do rio.

O macaco Travesso possuía um grupo de bananeiras que lhe proporcionavam frutos suficientes para a sua alimentação, o que lhe trazia satisfação e orgulho porque os seus frutos eram os mais saborosos da região.


No rio habitava o hipopótamo Ra-Ra, que era o rei daquelas paragens.

A corpulência desse animal era notável e tão grande a sua boca, que podia tragar seis macacos de uma só vez.

Além disso, gostava imensamente de bananas e, especialmente as da propriedade de Travesso.
Ra-Ra resolveu roubar-lhe as bananas, apesar de não ser um ato muito bonito para um rei.

Ordenou então a todos os papagaios que as trouxessem para a sua residência.

Entretanto, o macaco não arredava pé do seu grupo de bananeiras, a fim de impedir que desaparecessem, furtados, os seus preciosos frutos.
Os papagaios logo encontraram este obstáculo sério e recorreram à astúcia para cumprir as ordens do rei.

Após uma conferência de várias horas estudando diversas soluções para resolver eficientemente o problema do roubo, concordaram em dizer ao macaco que seu irmão estava
muito doente e desejava vê-lo.

Quando Travesso recebeu a notícia, bom irmão que era, foi depressa procurar seu irmão doente.
Verificou logo que aquilo não era verdade.

Seu irmão estava gozando de boa saúde e, suspeitando imediatamente do que se tratava, voltou a toda pressa para perto de suas bananeiras.

Uma surpresa dolorosa o aguardava. Não ficara nem uma banana para semente. Enquanto lamentava sua perda aproximou–se um papagaio, dizendo-lhe:

— Oh!, irmão Travesso! Sabes que Ra-Ra, o hipopótamo, nos obrigou a roubar-te as bananas e depois não nos quis dar uma só!

— Ah! E’ assim? Então espera… Irei à casa de Ra-Ra e tirar-lhe-ei as minhas bananas! — exclamou o macaco.

A serpente» que é um animal invejoso, cheio de defeitos, dos quais o pior é o espírito de intriga, passou por ali por acaso quando o macaco falava e, ato contínuo, foi contar tudo ao hipopótamo.

— Está bem! — disse Ra-Ra. — Em tal caso ordeno ao Travesso que compareça aqui quanto antes.

A Serpente voltou ao lugar em que vivia Travesso e lhe deu a ordem de Ra-Ra, de modo que o macaco se pôs a tremer, pois, não era tão valente como as suas palavras pareciam revelar.

Era preciso obedecer e quando se dispunha a fazer a desagradável visita ao hipopótamo, ocorreu-lhe uma idéia.

Preparou com o maior cuidado uma boa quantidade de visgo, a cola que usava para caçar passarinhos, e untou-se com êle muito bem.

Feito isto encaminhou-se para a casa de Ra-Ra, à margem do rio.

— Disseram-me — disse-lhe o hipopótamo, ao vê-lo — que ameaçaste de vir recobrar tuas bananas. É certo que o disseste?

— De modo algum, senhor — respondeu Travesso. — Tanto minhas frutas como eu mesmo estamos à sua disposição.

O papagaio combinou com o macaco...
— Bem, fico muito satisfeito em ouvir estas palavras. Sem dúvida, quiseram fazer intriga e contaram-me essa mentira. Senta-te. Porém, procura fazê-lo de frente para mim e sem tocar em nenhuma das bananas que estão atrás de ti.

Assim fêz Travesso, apoiando çom força as costas, inteiramente untadas, contra as bananas.
— Disseram-me que sabes muitas histórias. Queres contar-me uma?

O macaco dispôs-se a satisfazer o desejo de seu soberano e lhe contou uma história muito interessante.

Enquanto isso não se esquecia de esfregar o corpo contra as bananas afim de que aderisse às suas costas o maior nòmero delas.

Terminado o conto , Ra-Ra disse-lhe:
— Obrigado. Podes sair, mas toma cuidado para saíres de frente para mim. Assim se deve fazer diante de um rei.
Nada podia favorecer melhor o macaco, que estava com as costas cheias das bananas que a elas se haviam colado.

O macaco viu o hipopótamo
Quando se viu fora da casa do hipopótamo, pôs-se a correr, ocultando-se.
Os papagaios não tardaram a descobrir a astúcia do macaco e foram correndo contar a Ra-Ra.

O hipopótamo, ao tomar conhecimento da notícia, teve tão grande ataque de raiva que virou de barriga para o ar, morrendo instantaneamente.
Então, os animais reuniram-se e, diante da inteligência do macaco, resolveram aclamá-lo soberano.
Ficou muito conhecido por sua esperteza e deram-lhe, então, o nome de Sua Majestade Travesso I, o Esperto.
E o seu governo foi sábio e prudente, durante anos e anos...

Um afro abraço.
(Trad. e Adapt. Leoncio de Sá Ferreira.)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Na Ditadura, Militares e os Heróis Negr@s : A União do Rebanho faz o Leão ir Dormir com Fome. (Provérbio africano)

A ditadura e suas facetas racistas e sexistas.
Com medo de que a luta pela igualdade racial crescesse à luz de movimentos internacionais como o Panteras Negras e se voltasse contra a polícia, a ditadura passou a seguir os passos

de militantes e reuniões do embrionário movimento negro brasileiro
.
Na conferencia municipal do estado do Rio de Janeiro de 2015, eu tive o desprazer e ouvir a uma facilitadora dizer que o movimento negro não estava organizado e não participou da ditadura entra ai vai: - Para
  mais um registro e não esquecer nossos negros  heróis e heroínas desta nação e  pela tentativa de nos manter invisíveis,  nós estamos vivos e crescendo cada vez mais. Nosso respeito ao militante negro Osvaldo Orlando da Costa (Osvaldão), à Helenira Rezende de Souza Nazareth (Preta, Fátima); Dinalva Oliveira Teixeira (Dina), Lucia Maria de Souza (Sônia), Francisco Manoel Chaves (marinheiro),Dra Claete e muitos outros desconhecidos e desaparecidos....

"Quando se pensa em ditadura militar e necessário pensar no quanto este momento deve ter sido tempos de terror para os militantes dos diversos segmentos sociais"

Fazendo uma leitura desta fase política e comparando com a atualidade é possível imaginar o quanto mulheres, negros, homossexuais e militantes de esquerda devem ter sofrido com humilhações e torturas.


A ditadura perseguiu os militantes e as reuniões do movimento negro desde o inicio, como uma forma de não deixar nascer um suposto movimento Panteras Negras, contudo no Brasil não cresceu desta forma, mas conseguiu atacar com as armas que tinham o regime existente.
Além disso, a perseguição contra as mulheres foi brutal e demasiada, mas elas se mantiveram no movimento. Para Maria Amélia de Almeida Teles falar de mulher e ditadura é lembrar-se das crianças sequestradas, abandonadas, torturadas ou nascidas nos centros clandestinos da repressão.

E não esquecer que uma das formas de atingir estas mulheres é através da violência sexual e contra seus filhos:
Registrar que houve o estupro como prática de tortura nos órgãos de repressão durante a ditadura militar é o começo para desvelar os horrores cometidos contra as mulheres e as crianças durante a ditadura. (TELES, 2014)

Documento de 24 de outubro de 1979 mostra como o IV Exército, no Recife, descrevia um

foco de “problemas”. “A partir de 1978 apareceu um novo ponto de interesse da subversão no País, particularmente nos estados do Rio de Janeiro e, com mais ênfase, na Bahia: a exploração do tema racismo, procurando demonstrar a sua existência e colocar o negro brasileiro como motivo de discriminação”, diz o texto de sete páginas.

O relatório nunca antes divulgado revela que o “método” utilizado para a obtenção das informações deu-se pela “infiltração em entidades dedicadas ao estudo da cultura negra, por meio de palestras em reuniões e simpósios”, como a IV Semana de Debate sobre a Problemática do Negro Brasileiro, em abril de 1978 na Bahia. A temática das palestras, segundo os militares, tratava de temas como “a tão falada democracia racial não passa de um mito”, “o racismo no Brasil é pior do que no exterior, porque é sutil e velado”, “a existência da Lei Afonso Arinos, contra o racismo, é prova de que ele existe”, “a Abolição da Escravatura foi imposta pelas necessidades da economia capitalista e não por uma preocupação sincera com a situação do negro”.

O documento havia sido solicitado em 11 de junho, por meio da Lei de Acesso à Informação, ao Comando do Exército, que oito dias depois respondeu não possuir arquivos sobre o monitoramento de ativistas negros. A Controladoria-Geral da União (CGU) encontrou, no entanto, o relatório no Arquivo Nacional, em Brasília. Segundo o ouvidor-
adjunto da CGU, Gilberto Waller, esta é a primeira vez que se encontra um documento confidencial elaborado exclusivamente para tratar do tema, quando o que se via até então eram trechos e citações a outros textos. “Vemos que o Estado se preocupou com o movimento negro a ponto de ter classificado as informações”, explica. “Na visão da CGU, em termos de acesso à informação, é um grande ganho conseguir algo de valor histórico tão relevante.”

O relatório, cujo rodapé alerta: “Toda e qualquer pessoa que tome conhecimento de assunto sigiloso fica, automaticamente, responsável pela manutenção de seu sigilo. Art. 12 do decreto no 79.099, de 6 de janeiro de 1977”, cita a mobilização nacional em torno da formação do

movimento contra a discriminação racial. “Os grupos do Movimento Negro de Salvador são: Ialê, Malê, Zumbi, Ilialê, Cultural Afro-Brasileiro. Esses grupos apresentaram, no dia 8 julho de 1978, ‘moção de solidariedade aos integrantes do movimento paulista contra a discriminação racial, pelo ato público antirracista do Viaduto do Chá’”.

O ato, segundo a socióloga Flavia Rios, autora da tese Elite Política Negra no Brasil: Relação entre movimento social, partidos políticos e estado, diz respeito à marcha que saiu naquele dia do Viaduto do Chá em direção ao Teatro Municipal para a criação do Movimento Unificado contra a Discriminação Racial, que mais tarde se tornaria o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial. “Ele é formado por ativistas de várias regiões do País, tem essa característica nacional”, conta a também coautora da biografia sobre a militante negra Lélia Gonzalez. “Havia uma preocupação da ditadura de que ideais do movimento armado Panteras Negras, por exemplo, e da luta dos direitos civis americanos pudessem chegar aqui. Por isso, o regime acompanhou vigilantemente manifestações políticas e encontros.”

O informe até pouco considerado inexistente fala ainda sobre uma “campanha artificial contra a discriminação no Brasil” e lembra que, “em virtude das restrições políticas”, o Movimento Negro de Salvador passou a realizar reuniões paralelas e a adotar organizações celulares, com base nos “centros de luta”, compostos de três integrantes. A capital baiana teria sete desses centros, cuja função era “mobilizar, organizar e conscientizar a população negra nas favelas, nas invasões (de terras urbanas), nos alagados, nos conjuntos habitacionais, nas escolas, nos bairros e nos locais de trabalho, visando a formar uma consciência dos valores da raça”.

Além do encontro nacional do Movimento Negro de Salvador, entre 9 e 10 de setembro de 1978, no Rio de Janeiro, os arapongas descrevem a Terceira Assembleia Nacional do Movimento Negro Unificado, em 4 de novembro de 1978, na capital baiana, com militantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. Citam o Congresso Internacional da Luta contra a Segregação Racial entre 2 e 3 de dezembro de

1978, em São Paulo. E relatam o ciclo de palestras do Núcleo Cultural Afro-Brasileiro, no segundo semestre de 1978 em Salvador, do qual participaram opositores como o deputado federal baiano Marcelo Cordeiro e o paulista Abdias do Nascimento, professor emérito na Universidade de Nova York. Além do acadêmico, são citados militantes monitorados como José Lino Alves de Almeida e Leib Carteado Crescêncio dos Santos, além do senador baiano Rômulo Almeida e “agitadores angolanos no movimento negro, caracterizados como refugiados da guerra civil”.

Em relação ao teor da agenda do Movimento Negro à época, os repressores ressaltam que a pauta era composta de pontos como a necessidade de se contestar o regime, aprofundar o engajamento no movimento pela anistia, projetar no exterior a imagem do “mito da democracia racial brasileira”, buscar dar fim à sua marginalização na sociedade e à maior proporção de negros nas penitenciárias.

1)Reparar os danos causados: oferta de reparações pecuniárias e simbólicas para os perseguidos políticos ou para as famílias dos mortos e desaparecidos;

2) Investigação dos fatos e responsabilização jurídica dos agentes violadores (direito à justiça): investigar, processar, apurando responsabilidades, sobretudo as dos agentes públicos, e punir violadores de direitos humanos;

3) Direito à verdade e acesso a informações:revelar a verdade para vítimas, famílias e toda a sociedade, possibilitando a efetivação do direito à memória por meio de um acesso total e irrestrito aos arquivos e dados produzidos durante a ditadura (direito de acesso à informação e abertura completa dos arquivos públicos);

4) Políticas de memória e fortalecimento das instituições democráticas: cultivar uma memória pública e democrática, constituída desde as narrativas das vítimas e com a participação direta destas. Nesse campo, outras medidas também são importantes, tais como retirar nomes de violadores dos direitos humanos de ruas e lugares públicos; e

5) Reforma das instituições: fazer esforços na mudança da cultura institucional e da dinâmica de atuação dos órgãos do Estado, sobretudo das forças de segurança, dos aparatos judiciais e de outros organismos que foram utilizados pela repressão. Uma medida comum nesse ponto é afastar os criminosos de órgãos relacionados ao exercício da lei e de outras posições de autoridade, processo conhecido como expurgo ou lustração.

( QUINALHA, 2014)

-"Estima-se que aproximadamente 42 dos 434 mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura eram negr@s..."

A Tod@s vocês:
 Presente! 
Presente!
Presente! 

fonte: www.cartacapital.com.br/sociologaelisiasantos.blogspot.com/CUNHA, Luis Cláudio. O papel feio da mídia na ditadura de 1964. Observatório da imprensa.Ed. 574. 26 de janeiro de 2010/QUINALHA, Renan Honório. Uma ditadura contra a liberdade sexual: a Justiça de Transição com recorte LGBT no Brasil. São Carlos/SP:EdUFSCar, 2014).TELES, Maria Amélia de Almeida. Mulheres e Ditadura Militar.10. RIDH | Bauru, v. 2, n. 2, p. 9-18, jun. 2014.SILVA, Juremir Machado da. Jango e as raízes da imprensa golpista. Carta Capital, edição de 28 de março de 2014.

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