UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Nossa História:Manoel Congo

Manoel Congo foi o líder da maior rebelião de escravos que ocorreu na região do vale do Paraíba do Sul, especificamente em Paty do Alferes, no Rio de Janeiro. Morreu enforcado em 6 de setembro de 1839.


Em 1838, o centro da economia nacional passava a ser a região sul fluminense, na qual ocorria um intenso desmatamento de terras e introdução do cultivo do café. Cerca de 70% do café exportado pelo Brasil naquela data era colhido nas terras da Vila de Vassouras que incluíam este atual município, mais os de Mendes, Paty do Alferes, Miguel Pereira e parte de Paracambi. As plantações de café também se expandiam pelos municípios vizinhos de Valença e Paraíba do Sul e já eram o principal sustentáculo econômico do Império do Brasil. Paty do Alferes era a mais rica das freguesias de Vassouras e o local original de colonização da região, já que era o caminho mais antigo entre o porto do Rio de Janeiro e as Minas Gerais.
O intenso crescimento econômico da região causava uma grande necessidade de mão-de-obra escrava que era comprada em outros Estados ou importada da África. Esta foi a época em que o Brasil mais importou escravos da África.
A população da então vila de Vassouras crescia rapidamente com a expansão da lavoura do café, mas a população de escravos era bem superior a de pessoas livres, brancas ou não. Em 1840, Vassouras tinha 20.589 habitantes, dos quais 6.225 livres e 14.333 escravos. Por volta de 1850, a população atingiu 35.000 pessoas (a mesma população do município atual, embora numa área bem menor).

A maior parte dos escravos era constituída por homens jovens nascidos na África. Segundo dados de 1837-1840, cerca de 75% dos escravos da região eram africanos, 68% tinha idade na faixa entre 15 e 40 anos, 73,7% eram homens. Os escravos homens e jovens eram os preferidos pois a maior parte do trabalho consistia em derrubar matas, plantar e capinar, o que requeria grande vigor físico. Entretanto, os escravos africanos eram temidos pela rebeldia ou pouco apreciados por não conheceram ainda a língua, os costumes e a religião da terra.
A Revolta dos Malês ocorrida na Bahia em 1835 espalhou o medo de novas revoltas por todo o Império. Denúncias e boatos de revoltas eram comuns em todo lugar onde havia muitos escravos. Os "pretos minas", nascidos na costa ocidental da África, eram especialmente temidos por seu envolvimento na Revolta dos Malês.


Manoel Congo
Contava-se que Manoel Congo era um negro forte e habilidoso, de pouca fala e sorriso escasso. Como era comum entre os escravos nascidos na África, seu nome era composto por um prenome português associado ao nome de sua "nação" ou região de origem.
Pertencia ao capitão-mor de ordenanças Manoel Francisco Xavier, dono de centenas de escravos e das fazendas Freguesia e Maravilha em Paty do Alferes.
Era ferreiro, ofício que requer treinamento e habilidade, o que certamente lhe dava status superior entre os outros escravos e maior valor econômico perante os senhores. A sociedade da época tinha grande carência de ferreiros e marceneiros, tanto que, em 1832, foi criada em Vassouras a "Sociedade Promotora da Civilização e da Indústria" que, entre outras coisas, treinava os escravos considerados mais hábeis e inteligentes no ofício de ferreiro. Coincidentementemente, na cultura dos Kimbundos, grupo étnico angolano que contribuiu com muitos escravos para a região, o ofício de ferreiro era uma ocupação exclusiva de reis e nobres.

Marianna Crioula
Marianna Crioula era uma escrava, como indica o nome, nascida no Brasil, com cerca de 30 anos na época. Era costureira e mucama (escrava de companhia) de Francisca Elisa Xavier, esposa do capitão-mor Manoel Francisco Xavier. Foi descrita como sendo a "preta de estimação", assim como uma das escravas mais dóceis e confiáveis da sua patroa.
Apesar de ser casada com o escravo José, que trabalhava na lavoura, vivia e dormia na casa-grande, sinal de que tinha privilégios concedidos pelos senhores. Na época, os homens eram cerca de 90% dos escravos traficados da África e cerca de 75% dos escravos que trabalhavam nas fazendas de café, portanto um casal de escravos era raro.


O capitão-mor Manoel Francisco Xavier era um rico proprietário que possuía três fazendas em Paty do Alferes: Freguesia (atual Aldeia de Arcozelo), Maravilha e Santa Tereza, além do sítio da Cachoeira. Manoel Francisco Xavier era casado com Francisca Elisa Xavier, futuramente agraciada com o título de baronesa da Soledade, a primeira do nome.
O coronel Francisco Peixoto de Lacerda Wernek, que comandou a repressão da revolta, escreveu na época da perseguição e julgamento, vários memorandos ao presidente da província do Rio de Janeiro. Em um deles, explica as causas da revolta em curso escrevendo: "há muito tempo que se receava o que hoje acontece, por fatos que se têm observado entre esta escravatura" (...) "homens brancos, feitores e capatazes, foram espancados e até assassinados pelos escravos" (...) ""escravos foram castigados até morrer" (...) [ocorrem] "iniqüidades, falta de ordem e falta de pulso". Segundo o coronel Lacerda Wernek, o capitão-mor não sabia tratar seus escravos, sendo às vezes muito leniente, outras extremamente severo.
O inventário dos bens de Manoel Francisco Xavier, feito com sua morte em 1840, dois anos depois da revolta de Manoel Congo, relaciona 449 escravos dos quais 85% eram homens e 80% eram africanos.
Rebelião e fuga
Em 5 de novembro de 1838, o capataz da fazenda Freguesia matou o escravo africano Camilo Sapateiro a tiros quando este ia sem autorização para a fazenda Maravilha. Os escravos tentaram linchar o capataz, mas foram contidos. Nenhuma punição foi dada ao assassino e o clima de revolta se estabeleceu nas senzalas das duas fazendas do capitão-mor Manoel Francisco Xavier.
Por volta da meia-noite, as portas das senzalas da fazenda Freguesia foram arrombadas e um grupo de cerca de 80 negros cruzou correndo o pátio, chamou as escravas domésticas que dormiam no sobrado, arrombou os depósitos e se armou com facões e uma velha garrucha.
Os revoltosos fugiram e se esconderam nas matas da fazenda Santa Catarina, propriedade do capitão Carlos de Miranda Jordão. Na noite seguinte, os revoltosos saíram da mata fora até a fazenda da Maravilha que também pertencia a Manoel Francisco Xavier. Ameaçaram matar o capataz, mas este fugiu para o telhado da casa; espancaram um escravo que não quis participar da revolta; colocaram uma escada na janela da cozinha para que as escravas domésticas que lá dormiam pudessem fugir; abriram as senzalas e chamaram os outros escravos para juntarem-se a eles; arrombaram os depósitos de mantimentos; pegaram os porcos capados que ainda estavam na engorda; e finalmente fugiram com todas ferramentas e mantimentos que puderam carregar. No caminho, o grupo ainda passou pela fazenda Pau Grande, pertencente a Paulo Gomes Ribeiro de Avelar, que ficava perto, onde libertou mais escravos das senzalas. Neste momento, os fugitivos já eram mais de cem, a maior parte armada com facões e outras armas cortantes.
Sabendo dos eventos, vários escravos também fugiram das fazendas São Luís da Boa Vista, Cachoeira, Santa Teresa, Monte Alegre, além de outras não registradas nos documentos históricos. Em torno de 300 a 400 escravos seguiram pelas matas então cerradas da Serra da Estrela, a caminho da Serra da Taquara. Algum planejamento prévio pode ter ocorrido, pois foi rápida a adesão de escravos das outras fazendas e houve pontos de encontros nas matas para os vários grupos.
Manoel Congo foi certamente o principal líder da revolta, e neste momento deve ter se "juntado" com Marianna Crioula, tanto que os dois foram posteriormente delatados como o "rei" e "rainha" do grupo de sublevados. Um escravo tinha a função de "vice-rei"; supõe-se que fosse Epifânio Moçambique, africano da nação Munhambane, escravo da fazenda Pau Grande, mas pode ter sido algum outro que foi morto em combate.
Vários grupos de fugitivos caminhavam pela mata e, no final de cada tarde, montavam um rancho para pernoite. Não é claro que os negros fugidos pretendiam formar um quilombo. Talvez pensassem em voltar, pois a sobrevivência nas matas requer conhecimentos especiais e, como os fatos mostrariam, era forte o poder de retaliação da sociedade escravocrata. Considerando que não houve qualquer violência de centenas de escravos armados com facões contra pessoas brancas, nem que qualquer dano ou prejuízo foi causado a outras propriedades exceto às do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, pode-se até supor a fuga poderia ser parte de uma negociação futura por melhores condições de trabalho, algo que não era incomum na época. O que certamente surpreendeu e amedrontou as classes dominantes foi o fato de ter havido uma fuga em massa.
Luta e captura.



O capitão-mor Manoel Francisco Xavier, proprietário das fazendas saqueadas e da maioria dos escravos fugitivos, pediu ajuda ao juiz de paz da freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paty do Alferes, tenente-coronel José Pinheiro de Souza Vernek, porém demonstrando que o fazia com má-vontade. É compreensível pois ele não queria perder escravos em combates; melhor seria se eles voltassem ao trabalho sem ferimentos e do modo mais pacífico possível. Além disto, tinha tido um longo conflito político com o sargento-mor, depois padre, Inácio de Sousa Vernek[1], avõ do juiz de paz José Pinheiro de Souza Vernek e do coronel-chefe da 13ª Legião da Guarda Nacional, Francisco Peixoto de Lacerda Vernek.



Alarmado com a quantidade de fugitivos, o juiz de paz José Pinheiro imediatamente enviou mensagem ao seu primo, o coronel-chefe da 13ª Legião da Guarda Nacional, Francisco Peixoto de Lacerda Vernek, futuro barão de Pati do Alferes, pedindo-lhe providências, em prol "da ordem e do sossego público". A 13ª Legião da Guarda Nacional era sediada em Valença e também mantinha a ordem pública nas vilas de Vassouras e Paraíba do Sul.
As notícias de fuga em massa de escravos geraram pânico entre os fazendeiros da região. Apenas 48 horas após o último incidente, o coronel Lacerda Vernek já havia reunido 160 homens da Guarda Nacional bem armados e prontos para a luta. Ao mesmo tempo, enviou um memorando ao presidente da província do Rio de Janeiro informando-o dos fatos e solicitando auxílio. No mesmo documento, o falastrão coronel Lacerda Vernek enfatizou a motivação das suas tropas escrevendo: "... nesta ocasião dirigi a meus camaradas um discurso, cuja leitura enérgica produziu um efeito admirável, fazendo ressoar por alguns momentos entusiasmados vivas".
A tropa liderada pelo coronel Lacerda Vernek, acompanhado pelo juiz de paz José Pinheiro, reuniu-se na fazenda Maravilha no dia 10 de novembro. No dia seguinte, partiram em perseguição aos escravos revoltosos. A localização das rotas de fuga foi fácil e o avanço foi rápido, pois os fugitivos caminhavam tendo que abrir picadas na densa mata que então existia na região.
Como contou o coronel Lacerda Vernek em um dos seus memorandos, no dia 11 de novembro, às 5 horas da tarde, depois de algumas léguas e horas de busca, "sentimos golpes de machado e falar gente". Haviam descoberto o grupo principal de fugitivos que avançava mais lentamente com crianças, velhos e mulheres. Os fugitivos perceberam que tinham sido alcançados e se preparou para a luta. A tropa avançou angulada como uma cunha e exigiu a rendição de todos. Manoel Congo incitou um ataque. O coronel Lacerda Vernek escreveu que os escravos "fizeram uma linha", e pegaram as armas, "umas de fogo, outras cortantes", e gritaram: "Atira caboclo, atira diabos". "Este insulto foi seguido de uma descarga que matou dois dos nossos e feriu outros dois. Quão caro lhes custou! Vinte e tantos rolaram pelo morro abaixo à nossa primeira descarga, uns mortos e outros gravemente feridos, então se tornou geral o tiroteio, deram cobardemente costas, largando parte das armas; foram perseguidos e espingardeados em retirada e em completa debandada."(...)"Notei que nem um só fez alto quando se mandava parar, sendo preciso espingardeá-los, pelas pernas. Uma crioula de estimação de Dona Francisca Xavier não se entregou senão a cacete, e gritava: morrer sim, entregar não!!!".
Finalmente, os sobreviventes foram cercados e obrigados a se render. Neste único combate foram presos o "rei' Manoel Congo e a "rainha" Mariana Crioula. Os mantimentos e as armas tinham sido abandonados na pressa da fuga pela vida. Outros fugitivos foram capturados nos dias seguintes sem haver combates ou mortes.
Não se conseguiu capturar um grupo de fugitivos comandado por um certo João Angola, que escapou do combate por não ter comparecido ao ponto de encontro com o grupo de Manoel Congo. No dia anterior ao combate final, o grupo de João Angola foi visto tentando assaltar uma fábrica de pólvora da região, mas fugiu em direção à Serra do Couto, próxima à Serra da Estrela.
Vários grupos vagaram pela floresta durante dias até que a fome os obrigou a voltar. Os escravos fugitivos saiam das matas e procuravam uma fazenda próxima a de sua fazenda de origem, cujo proprietário fosse conhecido por tratar bem os escravos. Então pediam a ele que os "apadrinhasse", isto é, que os escoltasse de volta à fazenda de origem, protegendo-os de grupos armados que poderiam encontrar pelo caminho e que solicitasse ao senhores de quem fugiram que os perdoasse pela fuga.
Posteriormente, no dia 14 de novembro, chegou uma tropa de 50 homens do Exército, a Polícia de Niterói, enviada pela presidência da província do Rio de Janeiro. O comando era do Tenente CoronelLuís Alves de Lima, futuro duque de Caxias, que assim, escapou por pouco de macular sua carreira, pois a ordem pública já havia sido restaurada e não era mais necessário perseguir escravos fugitivos.
Julgamento e execução



Apesar de ter havido mais de 300 fugitivos, apenas dezesseis foram levados a julgamento: Manoel Congo, Pedro Dias, Vicente Moçambique, Antônio Magro, Justino Benguela, Belarmino, Miguel Crioulo, Canuto Moçambique, Afonso Angola, Adão Benguela, Marianna Crioula, Rita Crioula, Lourença Crioula, Joanna Mofumbe, Josefa Angola e Emília Conga. Todos eles eram escravos do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, que assim foi indiretamente punido pelos outros fazendeiros por não ter controlado seus escravos e, conseqüentemente, ter balançado o frágil equilíbrio social da próspera região. Os escravos pertencentes a outros fazendeiros não foram julgados, inclusive aqueles que tiveram participação importante nos eventos. Por exemplo, o escravo Epifânio Moçambique, que pertencia ao dono da fazenda Pau Grande, foi citado por várias testemunhas como um dos líderes ao lado de Manoel Congo e talvez tenha sido o "vice-rei" da rebelião, porém foi apenas interrogado no processo penal.
Os réus foram conduzidos em ferros para serem julgados em Vassouras, a então vila a que estava subordinada a então freguesia de Paty do Alferes. O povo reuniu-se para assistir à sua chegada. Uma das escravas aprisionadas, talvez Marianna Crioula, gritou que preferia morrer a voltar ao cativeiro, o que causou tumulto na multidão que tentou linchá-la.
Dos dezesseis réus, nove eram homens e sete mulheres, onze eram africanos e cinco eram crioulos, dez eram trabalhadores especializados ou domésticos e apenas dois eram trabalhadores da roça sem especialização. Os trabalhadores especializados eram ferreiros, como Manoel Congo, carpinteiros ou caldeireiros; todas as mulheres eram trabalhadoras domésticas especializadas como lavadeiras, costureiras ou enfermeiras.
Os trabalhadores especializados e doméstico tinham mais prestígio entre os demais escravos e perante os senhores, portanto assumiam mais facilmente as posições de liderança. Além disto tinham maior facilidade de movimentação entre as fazendas, o que facilitava o contato com parceiros e a organização de fugas. Isto posto, é possível que tenham planejado a insurreição e fuga, embora este plano possa ter existido apenas na imaginação de senhores de escravos amedrontados com a recente Revolta dos Malês na Bahia.
Da manhã de 22 de janeiro de 1839 até o dia 31 do mesmo mês, o tribunal se reuniu na Praça da Concórdia, diante da Igreja Matriz da Vila de Vassouras. O julgamento foi presidido pelo juiz interino Inácio Pinheiro de Souza Verneck, irmão do juiz de paz José Pinheiro de Souza Vernek e, portanto, também primo do coronel Lacerda Vernek.
A participação de Mariana Crioula na rebelião causou furor no julgamento, pois ela era "uma crioula de estimação de dona Francisca Xavier" que, como narrou o coronel Lacerda Vernek, só se entregou "a cacete" depois do combate e ainda gritando: "morrer sim, entregar não!!!". Ao ser interrogada, Marianna Crioula tentou disssimular sua participação nos acontecimentos e alegou que fora induzida à fuga, mas os outros réus a delataram como a "rainha" dos revoltosos.
Ao que tudo indica, durante o julgamento decidiu-se não aumentar muito as perdas do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, que já tinha perdido sete escravos mortos no combate. Pelo acordo feito, apenas o líder da rebelião seria condenado pela morte em combate dos dois soldados da Guarda Nacional. Todos réus indicaram Manoel Congo como líder do levante que, portanto, foi condenado ao enforcamento.
Outros sete réus foram condenados a "650 açoites a cada um, dados a cinqüenta por dia, na forma da lei", e a "três anos com gonzo de ferro ao pescoço". Adão Benguela foi o único homem totalmente absolvido, apesar de estar tão implicado quanto os outros. A maior surpresa foi a absolvição de Mariana Crioula e todas as mulheres, certamente a pedido de sua proprietária Francisca Elisa Xavier. Entretanto, Mariana Crioula ainda foi obrigada a assistir à execução pública do seu companheiro Manoel Congo.
No dia 4 de setembro de 1839, Manoel Congo subiu ao cadafalso no Largo da Forca em Vassouras para cumprir sua “pena de morte para sempre”, isto é, foi enforcado e ficou sem sepultamento.
Conseqüências
Não há registros exatos de quantos escravos fugiram e quantos retornaram. A maioria dos proprietários alegou que seus escravos retornaram espontaneamente às suas fazendas. Os fazendeiros tinham pesadas custas processuais quando seus escravos eram arrolados em processos como réus ou rebeldes, portanto, às vezes era melhor mentir e aceitar a perda de um escravo foragido. Portanto, vários fugitivos, como o grupo de João Angola, podem ter alcançado a liberdade e, até mesmo, embora não haja fontes históricas, ter formado o lendário Quilombo de Santa Catarina. Certo é que não houve tempo para se formar o Quilombo de Manoel Congo que freqüentemente é citado como verídico.
Apesar de relativamente inócua, a rebelião de Manoel Congo gerou uma grande insegurança entre os fazendeiros da região de Vassouras, Valença e Paraíba do Sul. O clima de medo permaneceu por décadas durante toda a época de apogeu de cultura do café no vale do Paraíba do Sul.
Algumas tentativas de revoltas ainda ocorreram. Em 1847, foi denunciado que um outro ferreiro, o negro livre Estêvão Pimenta, chefiava uma organização secreta que preparava uma revolta para o dia 24 de junho daquele ano. A organização secreta foi infiltrada por seis soldados; Estevão Pimenta e outros foram presos e, talvez por isto, nenhuma revolta ocorreu. Os registros policiais da época afirmaram que a organização secreta denominada Elbanda (talvez, Embanda, sacerdote ou médico em quimbundo) era formada por núcleos clandestinos dirigidos, obrigatoriamente, por escravos ferreiros (como era Manoel Congo) e marceneiros, chamados de Pais-Korongos ou Tatas-Korongos.
O fim do tráfico de escravos da África, que ocorreu com a Lei Eusébio de Queirós, aumentou o preço dos escravos: em 1835 um escravo jovem e de boa saúde custava 375 mil-réis, uma escrava nas mesmas condições de saúde e idade custava 359 mil-réis; em 1855, um escravo custava 1.075 mil0réis, e uma escrava 857 mil-réis. Isto forçou a melhoria do tratamento dos escravos e nenhuma rebelião importante aconteceu na região até a abolição da escravidão em 1888.
Em 1854, dezesseis anos depois da revolta de Manoel Congo, quatro fazendeiros fundaram em Vassouras uma "comissão permanente" para implantação de políticas que afastassem o perigo de sublevações de escravos. O texto de constituição da comissão dizia que "o escravo é o inimigo inconciliável" e "se o receio de uma insurreição geral é talvez ainda remoto, contudo o das insurreições parciais é sempre iminente, com particularidade hoje que as fazendas estão se abastecendo com escravos vindos do Norte, que em todo tempo gozaram de triste celebridade. Ou seja, a imposição forte da Lei Eusébio de Queirós tinha eliminado o tráfico de escravos da Africa, mas o perigo ainda existia quando se traziam escravos da Bahia, onde havia ocorrido a Revolta dos Malês.



A "comissão permanente" recomendou aos fazendeiros vários procedimentos de prevenção de revoltas: manter armas prontas para serem usadas; manter uma polícia vigilante; prender os escravos de noite em senzalas fechadas; impedir a comunicação entre escravos de diferentes fazendas; permitir danças e folguedos, pois "quem se diverte não conspira"; incentivar as práticas do Catolicismo, pois "a religião é um freio e ensina a resignação". Finalmente propunha a introdução de colonos europeus em quantidades calculadas de acordo com a quantidade de escravos existente em cada fazenda, pois o trabalhador branco seria sempre "um braço amigo, um companheiro de armas, com cuja lealdade se pode contar na ocasião da luta: os interesses são comuns".
Locais históricos
A fazenda Freguesia, onde se iniciou a revolta, é atualmente o centro cultural Aldeia de Arcozelo em Paty do Alferes, o maior em área da América Latina. A antiga capela da casa grande foi consagrada à memória dos escravos condenados pela rebelião. Na sua frente estão escritos os nomes de Manoel Congo e dos outros escravos julgados pela revolta, porém os nomes de mais de vinte escravos mortos no combate foram esquecidos pois não foram registrados nos processos penais.
O Largo da Forca, onde foi executado Manoel Congo, é o atual Largo da Pedreira em Vassouras. Neste local foi construído, em 1996, o Memorial de Manoel Congo.

Fonte:Manoel Congo foi o líder da maior rebelião de escravos que ocorreu na região do vale do Paraíba do Sul, especificamente em Paty do Alferes, no Rio de Janeiro. Morreu enforcado em 6 de setembro de 1839.



Em 1838, o centro da economia nacional passava a ser a região sul fluminense, na qual ocorria um intenso desmatamento de terras e introdução do cultivo do café. Cerca de 70% do café exportado pelo Brasil naquela data era colhido nas terras da Vila de Vassouras que incluíam este atual município, mais os de Mendes, Paty do Alferes, Miguel Pereira e parte de Paracambi. As plantações de café também se expandiam pelos municípios vizinhos de Valença e Paraíba do Sul e já eram o principal sustentáculo econômico do Império do Brasil. Paty do Alferes era a mais rica das freguesias de Vassouras e o local original de colonização da região, já que era o caminho mais antigo entre o porto do Rio de Janeiro e as Minas Gerais.
O intenso crescimento econômico da região causava uma grande necessidade de mão-de-obra escrava que era comprada em outros Estados ou importada da África. Esta foi a época em que o Brasil mais importou escravos da África.
A população da então vila de Vassouras crescia rapidamente com a expansão da lavoura do café, mas a população de escravos era bem superior a de pessoas livres, brancas ou não. Em 1840, Vassouras tinha 20.589 habitantes, dos quais 6.225 livres e 14.333 escravos. Por volta de 1850, a população atingiu 35.000 pessoas (a mesma população do município atual, embora numa área bem menor).
A maior parte dos escravos era constituída por homens jovens nascidos na África. Segundo dados de 1837-1840, cerca de 75% dos escravos da região eram africanos, 68% tinha idade na faixa entre 15 e 40 anos, 73,7% eram homens. Os escravos homens e jovens eram os preferidos pois a maior parte do trabalho consistia em derrubar matas, plantar e capinar, o que requeria grande vigor físico. Entretanto, os escravos africanos eram temidos pela rebeldia ou pouco apreciados por não conheceram ainda a língua, os costumes e a religião da terra.
A Revolta dos Malês ocorrida na Bahia em 1835 espalhou o medo de novas revoltas por todo o Império. Denúncias e boatos de revoltas eram comuns em todo lugar onde havia muitos escravos. Os "pretos minas", nascidos na costa ocidental da África, eram especialmente temidos por seu envolvimento na Revolta dos Malês.
Manoel Congo
Contava-se que Manoel Congo era um negro forte e habilidoso, de pouca fala e sorriso escasso. Como era comum entre os escravos nascidos na África, seu nome era composto por um prenome português associado ao nome de sua "nação" ou região de origem.
Pertencia ao capitão-mor de ordenanças Manoel Francisco Xavier, dono de centenas de escravos e das fazendas Freguesia e Maravilha em Paty do Alferes.
Era ferreiro, ofício que requer treinamento e habilidade, o que certamente lhe dava status superior entre os outros escravos e maior valor econômico perante os senhores. A sociedade da época tinha grande carência de ferreiros e marceneiros, tanto que, em 1832, foi criada em Vassouras a "Sociedade Promotora da Civilização e da Indústria" que, entre outras coisas, treinava os escravos considerados mais hábeis e inteligentes no ofício de ferreiro. Coincidentementemente, na cultura dos Kimbundos, grupo étnico angolano que contribuiu com muitos escravos para a região, o ofício de ferreiro era uma ocupação exclusiva de reis e nobres.
Marianna Crioula
Marianna Crioula era uma escrava, como indica o nome, nascida no Brasil, com cerca de 30 anos na época. Era costureira e mucama (escrava de companhia) de Francisca Elisa Xavier, esposa do capitão-mor Manoel Francisco Xavier. Foi descrita como sendo a "preta de estimação", assim como uma das escravas mais dóceis e confiáveis da sua patroa.
Apesar de ser casada com o escravo José, que trabalhava na lavoura, vivia e dormia na casa-grande, sinal de que tinha privilégios concedidos pelos senhores. Na época, os homens eram cerca de 90% dos escravos traficados da África e cerca de 75% dos escravos que trabalhavam nas fazendas de café, portanto um casal de escravos era raro.


O capitão-mor Manoel Francisco Xavier era um rico proprietário que possuía três fazendas em Paty do Alferes: Freguesia (atual Aldeia de Arcozelo), Maravilha e Santa Tereza, além do sítio da Cachoeira. Manoel Francisco Xavier era casado com Francisca Elisa Xavier, futuramente agraciada com o título de baronesa da Soledade, a primeira do nome.
O coronel Francisco Peixoto de Lacerda Wernek, que comandou a repressão da revolta, escreveu na época da perseguição e julgamento, vários memorandos ao presidente da província do Rio de Janeiro. Em um deles, explica as causas da revolta em curso escrevendo: "há muito tempo que se receava o que hoje acontece, por fatos que se têm observado entre esta escravatura" (...) "homens brancos, feitores e capatazes, foram espancados e até assassinados pelos escravos" (...) ""escravos foram castigados até morrer" (...) [ocorrem] "iniqüidades, falta de ordem e falta de pulso". Segundo o coronel Lacerda Wernek, o capitão-mor não sabia tratar seus escravos, sendo às vezes muito leniente, outras extremamente severo.
O inventário dos bens de Manoel Francisco Xavier, feito com sua morte em 1840, dois anos depois da revolta de Manoel Congo, relaciona 449 escravos dos quais 85% eram homens e 80% eram africanos.
Rebelião e fuga
Em 5 de novembro de 1838, o capataz da fazenda Freguesia matou o escravo africano Camilo Sapateiro a tiros quando este ia sem autorização para a fazenda Maravilha. Os escravos tentaram linchar o capataz, mas foram contidos. Nenhuma punição foi dada ao assassino e o clima de revolta se estabeleceu nas senzalas das duas fazendas do capitão-mor Manoel Francisco Xavier.
Por volta da meia-noite, as portas das senzalas da fazenda Freguesia foram arrombadas e um grupo de cerca de 80 negros cruzou correndo o pátio, chamou as escravas domésticas que dormiam no sobrado, arrombou os depósitos e se armou com facões e uma velha garrucha.
Os revoltosos fugiram e se esconderam nas matas da fazenda Santa Catarina, propriedade do capitão Carlos de Miranda Jordão. Na noite seguinte, os revoltosos saíram da mata fora até a fazenda da Maravilha que também pertencia a Manoel Francisco Xavier. Ameaçaram matar o capataz, mas este fugiu para o telhado da casa; espancaram um escravo que não quis participar da revolta; colocaram uma escada na janela da cozinha para que as escravas domésticas que lá dormiam pudessem fugir; abriram as senzalas e chamaram os outros escravos para juntarem-se a eles; arrombaram os depósitos de mantimentos; pegaram os porcos capados que ainda estavam na engorda; e finalmente fugiram com todas ferramentas e mantimentos que puderam carregar. No caminho, o grupo ainda passou pela fazenda Pau Grande, pertencente a Paulo Gomes Ribeiro de Avelar, que ficava perto, onde libertou mais escravos das senzalas. Neste momento, os fugitivos já eram mais de cem, a maior parte armada com facões e outras armas cortantes.
Sabendo dos eventos, vários escravos também fugiram das fazendas São Luís da Boa Vista, Cachoeira, Santa Teresa, Monte Alegre, além de outras não registradas nos documentos históricos. Em torno de 300 a 400 escravos seguiram pelas matas então cerradas da Serra da Estrela, a caminho da Serra da Taquara. Algum planejamento prévio pode ter ocorrido, pois foi rápida a adesão de escravos das outras fazendas e houve pontos de encontros nas matas para os vários grupos.
Manoel Congo foi certamente o principal líder da revolta, e neste momento deve ter se "juntado" com Marianna Crioula, tanto que os dois foram posteriormente delatados como o "rei" e "rainha" do grupo de sublevados. Um escravo tinha a função de "vice-rei"; supõe-se que fosse Epifânio Moçambique, africano da nação Munhambane, escravo da fazenda Pau Grande, mas pode ter sido algum outro que foi morto em combate.
Vários grupos de fugitivos caminhavam pela mata e, no final de cada tarde, montavam um rancho para pernoite. Não é claro que os negros fugidos pretendiam formar um quilombo. Talvez pensassem em voltar, pois a sobrevivência nas matas requer conhecimentos especiais e, como os fatos mostrariam, era forte o poder de retaliação da sociedade escravocrata. Considerando que não houve qualquer violência de centenas de escravos armados com facões contra pessoas brancas, nem que qualquer dano ou prejuízo foi causado a outras propriedades exceto às do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, pode-se até supor a fuga poderia ser parte de uma negociação futura por melhores condições de trabalho, algo que não era incomum na época. O que certamente surpreendeu e amedrontou as classes dominantes foi o fato de ter havido uma fuga em massa.
Luta e captura
O capitão-mor Manoel Francisco Xavier, proprietário das fazendas saqueadas e da maioria dos escravos fugitivos, pediu ajuda ao juiz de paz da freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paty do Alferes, tenente-coronel José Pinheiro de Souza Vernek, porém demonstrando que o fazia com má-vontade. É compreensível pois ele não queria perder escravos em combates; melhor seria se eles voltassem ao trabalho sem ferimentos e do modo mais pacífico possível. Além disto, tinha tido um longo conflito político com o sargento-mor, depois padre, Inácio de Sousa Vernek[1], avõ do juiz de paz José Pinheiro de Souza Vernek e do coronel-chefe da 13ª Legião da Guarda Nacional, Francisco Peixoto de Lacerda Vernek.


Alarmado com a quantidade de fugitivos, o juiz de paz José Pinheiro imediatamente enviou mensagem ao seu primo, o coronel-chefe da 13ª Legião da Guarda Nacional, Francisco Peixoto de Lacerda Vernek, futuro barão de Pati do Alferes, pedindo-lhe providências, em prol "da ordem e do sossego público". A 13ª Legião da Guarda Nacional era sediada em Valença e também mantinha a ordem pública nas vilas de Vassouras e Paraíba do Sul.
As notícias de fuga em massa de escravos geraram pânico entre os fazendeiros da região. Apenas 48 horas após o último incidente, o coronel Lacerda Vernek já havia reunido 160 homens da Guarda Nacional bem armados e prontos para a luta. Ao mesmo tempo, enviou um memorando ao presidente da província do Rio de Janeiro informando-o dos fatos e solicitando auxílio. No mesmo documento, o falastrão coronel Lacerda Vernek enfatizou a motivação das suas tropas escrevendo: "... nesta ocasião dirigi a meus camaradas um discurso, cuja leitura enérgica produziu um efeito admirável, fazendo ressoar por alguns momentos entusiasmados vivas".
A tropa liderada pelo coronel Lacerda Vernek, acompanhado pelo juiz de paz José Pinheiro, reuniu-se na fazenda Maravilha no dia 10 de novembro. No dia seguinte, partiram em perseguição aos escravos revoltosos. A localização das rotas de fuga foi fácil e o avanço foi rápido, pois os fugitivos caminhavam tendo que abrir picadas na densa mata que então existia na região.
Como contou o coronel Lacerda Vernek em um dos seus memorandos, no dia 11 de novembro, às 5 horas da tarde, depois de algumas léguas e horas de busca, "sentimos golpes de machado e falar gente". Haviam descoberto o grupo principal de fugitivos que avançava mais lentamente com crianças, velhos e mulheres. Os fugitivos perceberam que tinham sido alcançados e se preparou para a luta. A tropa avançou angulada como uma cunha e exigiu a rendição de todos. Manoel Congo incitou um ataque. O coronel Lacerda Vernek escreveu que os escravos "fizeram uma linha", e pegaram as armas, "umas de fogo, outras cortantes", e gritaram: "Atira caboclo, atira diabos". "Este insulto foi seguido de uma descarga que matou dois dos nossos e feriu outros dois. Quão caro lhes custou! Vinte e tantos rolaram pelo morro abaixo à nossa primeira descarga, uns mortos e outros gravemente feridos, então se tornou geral o tiroteio, deram cobardemente costas, largando parte das armas; foram perseguidos e espingardeados em retirada e em completa debandada."(...)"Notei que nem um só fez alto quando se mandava parar, sendo preciso espingardeá-los, pelas pernas. Uma crioula de estimação de Dona Francisca Xavier não se entregou senão a cacete, e gritava: morrer sim, entregar não!!!".
Finalmente, os sobreviventes foram cercados e obrigados a se render. Neste único combate foram presos o "rei' Manoel Congo e a "rainha" Mariana Crioula. Os mantimentos e as armas tinham sido abandonados na pressa da fuga pela vida. Outros fugitivos foram capturados nos dias seguintes sem haver combates ou mortes.
Não se conseguiu capturar um grupo de fugitivos comandado por um certo João Angola, que escapou do combate por não ter comparecido ao ponto de encontro com o grupo de Manoel Congo. No dia anterior ao combate final, o grupo de João Angola foi visto tentando assaltar uma fábrica de pólvora da região, mas fugiu em direção à Serra do Couto, próxima à Serra da Estrela.
Vários grupos vagaram pela floresta durante dias até que a fome os obrigou a voltar. Os escravos fugitivos saiam das matas e procuravam uma fazenda próxima a de sua fazenda de origem, cujo proprietário fosse conhecido por tratar bem os escravos. Então pediam a ele que os "apadrinhasse", isto é, que os escoltasse de volta à fazenda de origem, protegendo-os de grupos armados que poderiam encontrar pelo caminho e que solicitasse ao senhores de quem fugiram que os perdoasse pela fuga.
Posteriormente, no dia 14 de novembro, chegou uma tropa de 50 homens do Exército, a Polícia de Niterói, enviada pela presidência da província do Rio de Janeiro. O comando era do Tenente CoronelLuís Alves de Lima, futuro duque de Caxias, que assim, escapou por pouco de macular sua carreira, pois a ordem pública já havia sido restaurada e não era mais necessário perseguir escravos fugitivos.
Julgamento e execução


Apesar de ter havido mais de 300 fugitivos, apenas dezesseis foram levados a julgamento: Manoel Congo, Pedro Dias, Vicente Moçambique, Antônio Magro, Justino Benguela, Belarmino, Miguel Crioulo, Canuto Moçambique, Afonso Angola, Adão Benguela, Marianna Crioula, Rita Crioula, Lourença Crioula, Joanna Mofumbe, Josefa Angola e Emília Conga. Todos eles eram escravos do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, que assim foi indiretamente punido pelos outros fazendeiros por não ter controlado seus escravos e, conseqüentemente, ter balançado o frágil equilíbrio social da próspera região. Os escravos pertencentes a outros fazendeiros não foram julgados, inclusive aqueles que tiveram participação importante nos eventos. Por exemplo, o escravo Epifânio Moçambique, que pertencia ao dono da fazenda Pau Grande, foi citado por várias testemunhas como um dos líderes ao lado de Manoel Congo e talvez tenha sido o "vice-rei" da rebelião, porém foi apenas interrogado no processo penal.
Os réus foram conduzidos em ferros para serem julgados em Vassouras, a então vila a que estava subordinada a então freguesia de Paty do Alferes. O povo reuniu-se para assistir à sua chegada. Uma das escravas aprisionadas, talvez Marianna Crioula, gritou que preferia morrer a voltar ao cativeiro, o que causou tumulto na multidão que tentou linchá-la.
Dos dezesseis réus, nove eram homens e sete mulheres, onze eram africanos e cinco eram crioulos, dez eram trabalhadores especializados ou domésticos e apenas dois eram trabalhadores da roça sem especialização. Os trabalhadores especializados eram ferreiros, como Manoel Congo, carpinteiros ou caldeireiros; todas as mulheres eram trabalhadoras domésticas especializadas como lavadeiras, costureiras ou enfermeiras.
Os trabalhadores especializados e doméstico tinham mais prestígio entre os demais escravos e perante os senhores, portanto assumiam mais facilmente as posições de liderança. Além disto tinham maior facilidade de movimentação entre as fazendas, o que facilitava o contato com parceiros e a organização de fugas. Isto posto, é possível que tenham planejado a insurreição e fuga, embora este plano possa ter existido apenas na imaginação de senhores de escravos amedrontados com a recente Revolta dos Malês na Bahia.
Da manhã de 22 de janeiro de 1839 até o dia 31 do mesmo mês, o tribunal se reuniu na Praça da Concórdia, diante da Igreja Matriz da Vila de Vassouras. O julgamento foi presidido pelo juiz interino Inácio Pinheiro de Souza Verneck, irmão do juiz de paz José Pinheiro de Souza Vernek e, portanto, também primo do coronel Lacerda Vernek.
A participação de Mariana Crioula na rebelião causou furor no julgamento, pois ela era "uma crioula de estimação de dona Francisca Xavier" que, como narrou o coronel Lacerda Vernek, só se entregou "a cacete" depois do combate e ainda gritando: "morrer sim, entregar não!!!". Ao ser interrogada, Marianna Crioula tentou disssimular sua participação nos acontecimentos e alegou que fora induzida à fuga, mas os outros réus a delataram como a "rainha" dos revoltosos.
Ao que tudo indica, durante o julgamento decidiu-se não aumentar muito as perdas do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, que já tinha perdido sete escravos mortos no combate. Pelo acordo feito, apenas o líder da rebelião seria condenado pela morte em combate dos dois soldados da Guarda Nacional. Todos réus indicaram Manoel Congo como líder do levante que, portanto, foi condenado ao enforcamento.
Outros sete réus foram condenados a "650 açoites a cada um, dados a cinqüenta por dia, na forma da lei", e a "três anos com gonzo de ferro ao pescoço". Adão Benguela foi o único homem totalmente absolvido, apesar de estar tão implicado quanto os outros. A maior surpresa foi a absolvição de Mariana Crioula e todas as mulheres, certamente a pedido de sua proprietária Francisca Elisa Xavier. Entretanto, Mariana Crioula ainda foi obrigada a assistir à execução pública do seu companheiro Manoel Congo.
No dia 4 de setembro de 1839, Manoel Congo subiu ao cadafalso no Largo da Forca em Vassouras para cumprir sua “pena de morte para sempre”, isto é, foi enforcado e ficou sem sepultamento.
Conseqüências



Não há registros exatos de quantos escravos fugiram e quantos retornaram. A maioria dos proprietários alegou que seus escravos retornaram espontaneamente às suas fazendas. Os fazendeiros tinham pesadas custas processuais quando seus escravos eram arrolados em processos como réus ou rebeldes, portanto, às vezes era melhor mentir e aceitar a perda de um escravo foragido. Portanto, vários fugitivos, como o grupo de João Angola, podem ter alcançado a liberdade e, até mesmo, embora não haja fontes históricas, ter formado o lendário Quilombo de Santa Catarina. Certo é que não houve tempo para se formar o Quilombo de Manoel Congo que freqüentemente é citado como verídico.
Apesar de relativamente inócua, a rebelião de Manoel Congo gerou uma grande insegurança entre os fazendeiros da região de Vassouras, Valença e Paraíba do Sul. O clima de medo permaneceu por décadas durante toda a época de apogeu de cultura do café no vale do Paraíba do Sul.
Algumas tentativas de revoltas ainda ocorreram. Em 1847, foi denunciado que um outro ferreiro, o negro livre Estêvão Pimenta, chefiava uma organização secreta que preparava uma revolta para o dia 24 de junho daquele ano. A organização secreta foi infiltrada por seis soldados; Estevão Pimenta e outros foram presos e, talvez por isto, nenhuma revolta ocorreu. Os registros policiais da época afirmaram que a organização secreta denominada Elbanda (talvez, Embanda, sacerdote ou médico em quimbundo) era formada por núcleos clandestinos dirigidos, obrigatoriamente, por escravos ferreiros (como era Manoel Congo) e marceneiros, chamados de Pais-Korongos ou Tatas-Korongos.
O fim do tráfico de escravos da África, que ocorreu com a Lei Eusébio de Queirós, aumentou o preço dos escravos: em 1835 um escravo jovem e de boa saúde custava 375 mil-réis, uma escrava nas mesmas condições de saúde e idade custava 359 mil-réis; em 1855, um escravo custava 1.075 mil0réis, e uma escrava 857 mil-réis. Isto forçou a melhoria do tratamento dos escravos e nenhuma rebelião importante aconteceu na região até a abolição da escravidão em 1888.


Em 1854, dezesseis anos depois da revolta de Manoel Congo, quatro fazendeiros fundaram em Vassouras uma "comissão permanente" para implantação de políticas que afastassem o perigo de sublevações de escravos. O texto de constituição da comissão dizia que "o escravo é o inimigo inconciliável" e "se o receio de uma insurreição geral é talvez ainda remoto, contudo o das insurreições parciais é sempre iminente, com particularidade hoje que as fazendas estão se abastecendo com escravos vindos do Norte, que em todo tempo gozaram de triste celebridade. Ou seja, a imposição forte da Lei Eusébio de Queirós tinha eliminado o tráfico de escravos da Africa, mas o perigo ainda existia quando se traziam escravos da Bahia, onde havia ocorrido a Revolta dos Malês.


A "comissão permanente" recomendou aos fazendeiros vários procedimentos de prevenção de revoltas: manter armas prontas para serem usadas; manter uma polícia vigilante; prender os escravos de noite em senzalas fechadas; impedir a comunicação entre escravos de diferentes fazendas; permitir danças e folguedos, pois "quem se diverte não conspira"; incentivar as práticas do Catolicismo, pois "a religião é um freio e ensina a resignação". Finalmente propunha a introdução de colonos europeus em quantidades calculadas de acordo com a quantidade de escravos existente em cada fazenda, pois o trabalhador branco seria sempre "um braço amigo, um companheiro de armas, com cuja lealdade se pode contar na ocasião da luta: os interesses são comuns".
Locais históricos
A fazenda Freguesia, onde se iniciou a revolta, é atualmente o centro cultural Aldeia de Arcozelo em Paty do Alferes, o maior em área da América Latina. A antiga capela da casa grande foi consagrada à memória dos escravos condenados pela rebelião. Na sua frente estão escritos os nomes de Manoel Congo e dos outros escravos julgados pela revolta, porém os nomes de mais de vinte escravos mortos no combate foram esquecidos pois não foram registrados nos processos penais.
O Largo da Forca, onde foi executado Manoel Congo, é o atual Largo da Pedreira em Vassouras. Neste local foi construído, em 1996, o Memorial de Manoel Congo.



Fonte: Nucleo da UNEGRO/Manoel Congo-Paty de Alferes

domingo, 22 de janeiro de 2012

Violencia policial, Mulher Negra , Racismo e Pré- Conceito...

A polícia, instrumento de acção repressiva directa do Estado, promove a violência policial no espaço público, sobretudo contra classes sócio-económicas desfavorecidas e contra as pessoas migrantes e as mulheres. Neste sentido assistimos a um investimento no Estado policial e por outro lado a um desinvestimento no Estado social.




Esta polícia sustentada por uma corrente de tolerância zero e de criminalização da miséria não é compatível com um modelo social democrático real e não é compatível com uma sociedade equilibrada, justa e equitativa., tal como definido na Constituição.

Precisamos divulgar para todo mundo como a Polícia Militar do Estado trata a população negra e promove um verdadeiro genocídio da juventude negra.

Observem que o caráter racista está bem estabelecido, vocês podem ver que o policial vai pedir a carteira de estudante para um jovem negro que nem estava no debate sobre a desocupação do espaço, estava quieto em um canto.



- Demuncia:
Mulher negra desconhecida, vítima de violência de PMs masculinos em pleno centro do Rio, segundo denúncia no Facebook(replicamos para o mundo o texto de Analice Barreto)

Denúncia na hora certa, infelizmente existe ainda a necessidade de se treinar as testemunhas ou as vítimas a perguntarem ou gritarem o seu nome no momento em que sofram vilolências. Como fazíamos durante a ditadura.
Na denúncia da Analice nao está claro quem chamou a polícia. Nós da mamapres elogiamos a coragem da Analice e seu namorado, ao trazerem para mundo a notícia dos desmando destes esbirros. Que o ministério público tome providências e apure os fatos.

Como podemos perceber, inúmeras irregularidades ocorrerem nos procedimentos da abordagem policial. Desde o aparente desrespeito por parte destes policiais ao estilo musical Reggae, às reações de extrema violência da polícia para com a população, até os atos de violência ao longo do processo.


Devemos embrar que na historia o capitão do mato tambem era negro, e aenas pelo fato do poicial ser negro descaracteriza uma possível demonstração de racismo polícial e que os fatos devem ser esclarecido e se deve prosseguir com a denúncia contra a ação dos envolvidos.

Denunciamos assim a opressão explícita, ao saber que este não é o único e nem o primeiro caso de abuso e violência gratuita da polícia militar


A violência contra as mulheres no Brasil têm feito importantes contribuições empíricas e teóricas para a visibilidade e a compreensão desse fenômeno. Os mapeamentos das queixas, os debates sobre a posição da “vítima” e as investigações sobre os sistemas policial e judiciário têm-nos revelado que a violência contra as mulheres é um sério problema na sociedade brasileira, merecendo a atenção, não apenas das Ciências Sociais, como também dos poderes públicos.



Com base em nossa revisão das principais referências teóricas que orientam esses estudos, tecemos breves considerações finais no intuito de colaborar com o desenvolvimento dos debates feministas;
Primeiro, entendemos que a noção de dominação patriarcal é insuficiente para dar conta das mudanças que vêm ocorrendo nos diferentes papéis que as mulheres em situação de violência têm assumindo. Defendemos uma abordagem da violência contra as mulheres como uma relação de poder, entendendo-se o poder não de forma absoluta e estática, exercido via de
regra pelo homem sobre a mulher, como quer-nos fazer crer a abordagem da dominação patriarcal, senão de forma dinâmica e relacional, exercido tanto por homens como por mulheres,ainda que de forma desigual.
Segundo, torna-se necessário definir “violência de gênero” com maior rigor teórico,incorporando-se todos os aspectos do conceito de gênero de Joan Scott, sobretudo sua referência a gênero como um campo em que o poder é articulado. Além disso, devemos precisar melhor os conceitos com os quais trabalhamos, avançando nas reflexões sobre as diferenças conceituais entre expressões como “violência contra as mulheres”, “violência de gênero”, “violência conjugal”, “violência familiar” e “violência doméstica”. Terceiro, consideramos importante uma ampliação do objeto das pesquisas para que a perspectiva de gênero não exclua diferentes categorias sociais das análises sobre violência contra as mulheres no Brasil. Por exemplo, precisamos compreender melhor não apenas o papel das mulheres nas relações de violência, como também o papel exercido pelos homens, já que ambos participam na produção dos papéis sociais que legitimam a violência. 48 Nesse sentido, é importante que se estude como a construção social tanto da feminilidade quanto da masculinidade está conectada com o fenômeno da violência. Além disso, seja em situações de violência conjugal ou de outras formas de violência contra as mulheres – tais como, violência policial contra prostitutas, violência contra mulheres negras e violência contra lésbicas –, as práticas de violência e as respostas dadas pelos agentes do Estado e por diferentes grupos sociais podem estar relacionadas não apenas a questões de gênero, como também de classe social, raça/etnia e orientação sexual, entre outras categorias socialmente construídas.

fonte:http://www.youtube.com/watch?v=IeQ9ZVvxLRA&feature=related/http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2011/08/495663.shtml/facebook

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

SÃO SEBASTIÃO E O SINCRETISMO NO BRASIL.

CATÓLICO E O SINCRETISMO:




O sincretismo católico-umbanda no Brasil foi uma contrução dos próprios escravos. PopuLação negra dominada, trazida ao Brasil a ferro, nos navios que faziam o tráfico humano, os africanos seguiram as leis históricas que presidem as relações entre os povos."A popuação negra teve que se adaptar para sobreviver conjuntamente com o dominante e produz-se uma série de acomodações e adaptações, tanto da parte do vencedor como do vencido".

O africano não abandonaram as suas crenças religiosas muito pelo contrario. O negro, procurou acomodar a sua cresça a nova situação e o processo mais inteligente foi exatamente o de comparar as qualidades dos seus ORIXÁS com as dos Santos católicos. Tomaram como base o Santo mais adorado do lugar: daí, algumas alterações verificadas no sincretismo, especialmente na Bahia e no Rio de Janeiro.




Os Senhores, primeiramente não entenderam mais achavam graça no sincretismo e como consideravam os africanos ignorantes, consentiam na prática bem disfarçada de seus cultos. E assim, graças à inteligência dos sacerdotes africanos, as suas antiqüíssimas e sábias idéias religiosas puderam sobreviver até hoje, apesar da intolerância de uma ou outra autoridade policial atrasada. E que a UMBANDA é uma das mais antigas religiões da humanidade e, contra ela não adianta a burrice de um simples mortal.

Voces sabem que a diferença mais notável é quanto a Oxossi e OGUN. Enquanto no Rio, OGUN é equiparado a São Jorge, na Bahia é Santo Antônio. OXOSSI que, no Rio, é São Sebastião, na Bahia é São Jorge.



YEMANJÁ E OXUN são comparadas a Nossa Senhora, sob diversas invocações. Os Nagôs, ao que parece, consideram OXÚN "faceira e vaidosa", concepção que diverge da adotada no OMOLOCÔ do Rio, para o qual OXÚN é o símbolo da "dona de casa".

Na verdade, o sincretismo e tambem um fenômeno histórico sem influência alguma na filosofia religiosa de Umbanda.

Onde há coincidência é quanto ao Senhor do Universo, Deus e seu Filho. Nesse ponto, todas as religiões coincidem. Só há um DEUS e um só FILHO DE DEUS. DEUS é DEUS. Tem ELE, na Umbanda, os nomes de Zambi, OLORUN; ZAMBI, no Omolocô; no NAGÔ. Chamam-no também, OXALÁ ALUFAN, sendo JESUS CRISTO O OXALÁ GUIAN, isto é, OXALÁ NOVO.

São Sebastião: A "característica" que une São Sebastião a Oxossi é o objeto com o qual ele fora martirizado - a flecha.

Sua história...



São Sebastião era um soldado romano cristão, que viveu no século III d.C., quando o cristianismo era ainda proibido. Enquanto o Imperador Romano não sabia da sua religião, o tinha como homem de confiança, mas quando tomou ciência, o condenou ao martírio pelas mãos dos arqueiros. Por outro lado temos que, na religião dos orixás, Oxossi é o orixá provedor. É o orixá da caça e da pesca que cultuamos para que não nos falte o alimento. É o orixá que nos concede o axé da fartura, sempre à medida que necessitamos, não entendendo aqui fartura como algo para além da nossa capacidade de consumir. E um dos instrumentos de caça de Oxossi é a flecha. Em tempos de preocupação com o meio ambiente, a melhor forma de defini-lo é como orixá do equilíbrio ecológico.


Portanto, não podemos indicar como paralelo a profissão de ambos, pois o paralelo militar entre os santos católicos e os orixás se dá entre São Jorge e Ogun; nem tampouco falar em paralelo de morte, posto que São Sebastião foi um ser humano datado historicamente que foi martirizado por duas, na primeira flechado, enquanto Oxossi é um orixá - essência divina - que até no mito em que morre, é ressuscitado. Só nos resta realmente a flecha, mas ainda assim com sentidos diversos: as que alvejaram São Sebastião eram confeccionadas para a guerra; enquanto as de Oxóssi são símbolos da caça.

Enquanto os santos católicos e os orixás são entidades espirituais diferentes, Jesus Cristo é a mesma pessoa de OXALÁ GUIAN (ou OXAGUIAN).

Quem tiver vocação para pensar-mos a religiosidade e o sincretismo e, analise bem o significado do culto da visita dos 3 Reis Magos (um africano, um europeu e um asiático) a Jesus Cristo em seu nascimento.

RELEMBRANDO: O ESTADO NOVO REPRIMINDO A RELIGIÕES AFRO BRASILEIRAS.


Durante o governo de Agamenon Magalhães, os cultos afrobrasileiros foram proibidos e perseguidos, porque o seu governo “era declaradamente de maioria católico e apontava na perspectiva de que tudo o que não fosse cristão era digno de perseguição e combate.” Nesta perspectiva, os seguidores dos cultos afro-brasileiros só podiam realizar seus atos religiosos em particular, no espaço privado, e não em lugares públicos.

Contra esta intolerância religiosa e para poderem praticar os seus atos religiosos, os seguidores (as) dos cultos afro-brasileiros, usaram como estratégia, sincretizar as suas práticas religiosas, escondendo-as por meio da prática da religião do dominador, onde só assim podia cultuar seus orixás (Deuses africanos), comparando-os aos santos cultuados pela igreja católica.

Mais os afro-brasileiros nem sempre foram apoiados ou encorajados a praticar abertamente sua religião tradicional, suas práticas religiosas foram proibidas e perseguidas. Entretanto, o sincretismo religioso com os santos católicos deu a elas certa legitimidade entre a população predominantemente católica do Brasil. Na verdade, as religiões de matriz africana ficaram a margem das elites governantes tanto a nível regional quanto internacional no Brasil e em outras regiões.

“As manifestações religiosas eram tidas como práticas bárbaras, magias e superstições, além de serem criminalizadas pelo código civil, como exercício ilegal da medicina, ou mesmo puro charlatanismo [...] Durante o Estado Novo, no governo de Agamenon Magalhães, houve um forte recrudescimento no combate às práticas e costumes dos negros e negras, sobretudo aquelas de caráter religioso.




Aproximadamente no período da década de 1930, “os maracatus foram utilizados pelos praticantes da religião afro-descendentes para acobertar suas práticas religiosas, uma vez que apesar dos preconceitos, os maracatus possuíam legitimidade para circular nas ruas durante o carnaval.” [20]. A partir desta afirmação surgiram algumas inquietações. Na atualidade, os seguidores (as) dos cultos afro-brasileiros da cidade do Recife, precisam camuflar sua religiosidade diante dos maracatus? Os preconceitos, discriminações e as formas pejorativas à religiosidade afro-brasileira continuam permeando nossa sociedade? Ou será que estamos revivendo as repressões ocorridas com os nossos ancestrais nos séculos XVI-XVIII? Acreditamos que hoje, a religião afrobrasileira esteja passando por processos de transformações em nossa sociedade, seja ela, no campo político, social ou educacional.

Deste modo, para compreendermos estas transformações sociais, analisaremos a relação sócio-religiosa entre os seguidores (as) e não seguidores (as) dos cultos afro-brasileiros,precisa intenssificar a conscientização de respeito às diferenças religiosas neste espaço de igualdade e de tolerância.

Um afro abraço.

fonte:www.umbandamenor.kit.net/www.sidneyrezende.com/Negros Hereges, Agentes do Diabo. Religiosidade Negra e Inquisição em Portugal – séculos XVI-XVIII. In: FLORENTINO, Manolo e MACHADO, Caalda (Orgs.). Ensaios Sobre a Escravidão (z). Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003.
CAMPOS, Zuleica Dantas Pereira. A Polícia no Estado Novo Combatendo o Catimbó. Revista Brasileira de História das Religiões – Ano I, n.3, Jan.2009 – ISSN 1893-2859. Dossiê Tolerância e Intolerância nas manifestações religiosas.
CANDAU, Vera Maria. (org.). Sociedade, Educação e Cultura: Questões e Propostas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas. São Paulo: EDUSP, 1999.
CASCUDO, Luís da Câmara. Made in Africa [1898-1986]. São Paulo: Global, 2002.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Ed. Loyola, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
GOFFMAN, Erving. Estigmas. Rio de Janeiro: Guanabara, 1963.

GÓIS, Aurino José. O Diálogo Inter-Religioso entre o Cristianismo e as Tradições Afro-Brasileiras. In: AMÂNCIO, Iris Maria da Costa. (org.). África-Brasil-África: Matrizes, Heranças e Diálogos Contemporâneos. Belo Horizonte: Editora PUC Minas; Nandyala, 2008.

LIMA, Ivaldo Marciano de França. Maracatu-Nação: ressignificando velhas histórias. Recife: Bagaço, 2005.
Cultura Afro-descendente no Recife: Maracatus, valentes e catimbós. Recife: Edições Bagaço, 2007

sábado, 14 de janeiro de 2012

Religiões e o Brasil...

A religião no Brasil é muito diversificada e caracteriza-se pelo sincretismo. A Constituição prevê a liberdade de religião e a Igreja e o Estado estão oficialmente separados, sendo o Brasil um Estado laico. A legislação brasileira proíbe qualquer tipo de intolerância religiosa, sendo sua prática geralmente livre no país. Segundo o "Relatório Internacional de Liberdade Religiosa de 2005", elaborado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, a "relação geralmente amigável entre religiões contribui para a liberdade religiosa" no Brasil.



O Brasil é um país religiosamente diverso, com a tendência de mobilidade entre as religiões. A população brasileira é majoritariamente cristã (89%), sendo sua maior parte católica (70%). Herança da colonização portuguesa, o catolicismo foi a religião oficial do Estado até a Constituição Republicana de 1891, que instituiu o Estado laico. No entanto, existem muitas outras denominações religiosas no Brasil. Algumas dessas igrejas são: pentecostais, episcopais, metodistas, luteranas e batistas. Há mais de um milhão e meio de espíritas ou kardecistas que seguem a doutrina espírita, codificada por Allan Kardec. Existem também seguidores da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, uma minoria de judeus, muçulmanos, budistas, neopagãos e seguidores do candomblé e da umbanda. Cerca de 7,4% da população (cerca de 12,5 milhões de pessoas) declarou-se sem religião no último censo, podendo ser agnósticos, ateus ou deístas.
Nas últimas décadas, tem havido um grande aumento de igrejas neopentecostais, o que diminuiu o número de membros tanto da Igreja Católica quanto das religiões afro-brasileiras. Cerca de noventa por cento dos brasileiros declararam algum tipo de afiliação religiosa no último censo realizado.
O censo demográfico realizado em 2000, pelo IBGE, apontou a seguinte composição religiosa no Brasil: 73,8% dos brasileiros (cerca de 125 milhões) declaram-se católicos; 15,4% (cerca de 26,2 milhões) declaram-se evangélicos (evangélicos tradicionais, pentecostais e neopentecostais); 7,4% (cerca de 12,5 milhões) declaram-se sem religião, podendo ser agnósticos, ateus ou deístas; 1,3% (cerca de 2,3 milhões) declaram-se espíritas; 0,3% declaram-se seguidores de religiões tradicionais africanas tais como o Candomblé, o Tambor-de-mina, além da Umbanda; 1,8% declaram-se seguidores de outras religiões, tais como: as testemunhas de Jeová (1,1 milhão), os budistas (215 mil), os santos dos Últimos Dias ou mórmons (200 mil), os messiânicos (109 mil), os judeus (87 mil), os esotéricos (58 mil), os muçulmanos (27 mil) e os espiritualistas (26 mil).












1 Laicidade do Estado brasileiro
2 Cristianismo
2.1 Catolicismo
2.2 Protestantismo
2.2.1 Pentecostalismo e neopentecostalismo
2.3 Adventismo
2.4 Mormonismo
2.5 Cristianismo oriental
2.6 Testemunhas de Jeová
3 Não-religiosos
4.1 Espiritismo
4.2 Budismo
4.3 Judaísmo
4.4 Islamismo
4.5 Religiões afro-brasileiras e indígenas
4.6 Neopaganismo
4.7 Religiões hoasqueiras
5 Intolerância religiosa


Laicidade do Estado brasileiroA Constituição brasileira de 1988 instituiu uma total divisão entre a religião (seja ela qual for) e o Estado, consolidando o conceito de Estado laico. O governo instituído, democraticamente, não pode favorecer, nem interditar, as atividades de religião alguma. Além disso, não pode impor uma religião específica aos seus cidadãos, nem discriminá-los em razão de não seguirem a ideologia religiosa majoritária.

Artigo 5° (Caput).
IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

VIII- ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.

Artigo 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I- estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.


— Constituição brasileira de 1988.

Tal princípio constitucional, o conceito de Estado laico, já é bem antigo no Brasil, pois foi a Constituição de 1891 que o instituiu.

Artigo 72 (Caput)
§7°- Nenhum culto ou igreja gozará de subvenção oficial, nem terá relações de dependência ou aliança com o Governo da União ou dos Estados.


— Constituição Republicana de 1891.
Cristianismo Ver página anexa: Lista dos principais grupos religiosos do Brasil
CatolicismoVer artigo principal: Catolicismo no Brasil

Estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, Brasil.A principal religião do Brasil, desde o século XVI, tem sido o catolicismo romano. Ela foi introduzida por missionários que acompanharam os exploradores e colonizadores portugueses nas terras do país recém-descoberto. O Brasil é considerado o maior país do mundo em número de católicos nominais, com 73,8% da população brasileira declarando-se católica, de acordo com o Censo do IBGE de 2000. Porém, sua hegemonia deve ser relativizada devido ao grande sincretismo religioso existente no país.

Entre as tradições populares do catolicismo no Brasil estão as peregrinações à Igreja de Nossa Senhora Aparecida. Nossa Senhora Aparecida acabou por tornar-se a Padroeira do Brasil. Outras festas católicas importantes são o Círio de Nazaré, Festa do Divino e a Festa do Divino Pai Eterno, mais conhecida como Romaria de Trindade, em Goiás.

No transcorrer do século XX, foi perceptível uma diminuição no interesse pelas formas tradicionais de religiosidade no país. Um reflexo disso é o aparecimento de grande número de pessoas que se intitulam católicos não-praticantes. Atualmente, pesquisas mostram que o número de católicos parou de cair no Brasil depois de mais de 130 anos de queda.




Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida.A Renovação Carismática Católica (RCC) chegou ao Brasil no começo dos anos 1970, e ganhou força em meados dos anos 1990[carece de fontes?]. O movimento busca dar uma nova abordagem à evangelização e renovar algumas práticas da tradição católica, incentivando uma experiência pessoal com Deus através do Espírito Santo. Assemelha-se em certos aspectos às Igrejas Pentecostais, como no uso dos dons do Espírito Santo, na adoção de posturas foram julgadas por alguns como fundamentalistas e numa maior rejeição ao sincretismo religioso por parte de seus integrantes.

Com forte presença leiga, a RCC responde hoje por grande parte dos católicos praticantes do país. Uma das comunidades carismáticas mais conhecidas é a Canção Nova que possui um canal de televisão mantido por doações e é presidida pelo monsenhor Jonas Abib. Outro ícone da RCC no Brasil é o Padre Marcelo Rossi[carece de fontes?], fenômeno de mídia e cultura de massas que surgiu no final da década de 1990[carece de fontes?], cantando e fazendo coreografias tanto em programas de televisão quanto em missas, propondo-se a pregar a mensagem de Cristo conforme ensinada pela Igreja Católica.

Apesar de manter grande homogeneidade denominacional, o catolicismo conta com algumas dissidências, dentre as quais a Igreja Católica Apostólica do Brasil

Segundo pesquisa do Datafolha divulgada em março de 2010, 61% dos brasileiros são católicos e os evangélicos são 25%.
ProtestantismoVer artigo principal: Protestantismo no Brasil
Ver página anexa: Lista de denominações evangélicas no Brasil

Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro.O Protestantismo é o segundo maior segmento religioso do Brasil, representado principalmente pelas igrejas evangélicas com, aproximadamente, 26,1 milhões de fiéis.
O protestantismo caracteriza-se pela grande diversidade denominacional, livre interpretação da Bíblia, e nenhuma instituição, concílio ou convenção geral que agregue e represente os protestantes como um todo. Cada denominação religiosa protestante tem plena autonomia administrativa e eclesiástica em relação as outras igrejas congêneres, porém todas fazem parte de um mesmo movimento religioso interno ao cristianismo, que começou com a Reforma Protestante de Martinho Lutero em 1517. A maioria das denominações religiosas protestantes mantêm relações fraternais umas com as outras.

O protestantismo chegou ao Brasil pela primeira vez com viajantes e nas tentativas de colonização do Brasil por huguenotes (nome dado aos reformados franceses) e reformados holandeses e flamengos durante o período colonial. Esta tentativa não deixou frutos persistentes. Uma missão francesa enviada por João Calvino se estabeleceu, em 1557, numa das ilhas da Baía de Guanabara, fundando a França Antártica. No mesmo ano, esses calvinistas franceses realizaram o primeiro culto protestante no Brasil e, de acordo com alguns, da própria América. Mas, pela predominância católica, foram obrigados a defender sua fé ante as autoridades, elaborando a Confissão de Fé de Guanabara, assinando, com isso, sua sentença de morte, pondo um fim no movimento.

Por volta de 1630, durante o domínio holandês em Pernambuco, a Igreja Cristã Reformada (Igreja Protestante na Holanda) instalou-se no Brasil Foram fundadas 22 igrejas protestantes no Nordeste, sendo que a maior era a do Recife e contava, inclusive, com uma congregação inglesa e uma francesa. Esta se reunia no templo gálico, que tinha no conde Maurício de Nassau seu membro mais ilustre. A Igreja Cristã Reformada batizou índios, lutou por sua libertação e pretendia traduzir a Bíblia para o tupi e ordenar pastores indígenas. Esse período se encerrou com a guerra de Restauração portuguesa. Quando não houve mais condições de manter Recife, o Nordeste foi devolvido a Portugal. Terminava assim a missão cristã reformada, impossível sem a proteção de um país protestante.

As primeiras igrejas chegaram ao Brasil quando, com a chegada da família real portuguesa para o Brasil e a abertura dos portos a nações amigas por meio do Tratado de Comércio e Navegação, comerciantes ingleses estabeleceram a Igreja Anglicana no país, em 1811. Seguiu-se a implantação de outras igrejas de imigração: alemães trouxeram a Igreja Luterana, em 1824, e também a Igreja Adventista, em 1890, e imigrantes americanos trouxeram as Igrejas Batista e Metodista. Os missionários Robert Kalley e Ashbel Green Simonton trouxeram as Igrejas Congregacional (em 1855) e Presbiteriana (em 1859), respectivamente, estas voltadas ao público brasileiro.




Pentecostalismo e neopentecostalismo

Catedral da Igreja Universal do Reino de Deus em São Paulo.Em 1910, o Brasil receberia o pentecostalismo, com a chegada da Congregação Cristã no Brasil (1910) e da Assembleia de Deus (1911). A partir de 1950, o pentecostalismo transformou-se com a influência de movimentos de cura divina que geraram diferentes denominações, tais como a Igreja "O Brasil Para Cristo" e a Igreja do Evangelho Quadrangular. Nessa época, algumas denominações protestantes que eram tradicionais adicionaram o fervor pentecostal, como exemplo, a Convenção Batista Nacional e as igrejas Presbiteriana Renovada e Igreja Cristã Maranata, ambas surgidas a partir da Igreja Presbiteriana do Brasil.

Na década de 1970, surgiu o movimento neopentecostal, com igrejas mais secularizadas, padrões morais menos rígidos, e ênfase na teologia da prosperidade, como a Igreja Universal do Reino de Deus. A partir dos anos 1980, surgiram igrejas neopentecostais com foco nas classes média e alta, trazendo um discurso ainda mais liberal quanto aos costumes e menos ênfase nas manifestações pentecostais. Dentre essas igrejas se destacam a Igreja Renascer em Cristo e a Igreja Evangélica Cristo Vive.

Nas últimas décadas, o protestantismo principalmente as pentecostais e neopentecostais vem ganhando muitos adeptos, sendo o segmento religioso com maior índice de crescimento. A maioria das igrejas protestantes estão presentes: no Rio Grande do Sul( descendentes de alemães, que trouxeram a Igreja Luterana, maior grupo religioso da Alemanha até os dias de hoje), nas grandes capitais do sudeste, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte(onde as igrejas Batistas têm grande espaço), Goiânia e Brasília( onde a igreja Sara Nossa Terra têm grande percentual da população). Os protestantes estão em número bastante significativo nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e em toda a região centro-oeste.[15]

AdventismoVer artigo principal: Igreja Adventista do Sétimo Dia
No Brasil são 1.200.000 membros da IASD em 2000 sob a coordenação de sete Uniões que administram as Associações e Missões. As instituições da IASD do Brasil e de sete países latino-americanos formam a Divisão Sul Americana, com sede em Brasília, Distrito Federal.


Primeira Igreja Adventista do Brasil em Santa Catarina.O adventismo chegou no Brasil em 1884 através de publicações que chegaram pelo porto de Itajaí com destino a cidade de Brusque, no interior de Santa Catarina. Em maio de 1893 chegou o primeiro missionário adventista, Alberto B. Stauffer que introduziu formalmente através da Colportagem os primeiros contatos com a população. Em abril de 1895 foi realizado o primeiro batismo em Piracicaba, SP, sendo Guilherme Stein Jr o primeiro converso. Inicialmente os estados brasileiros com maior presença germânica foram atingidos pela literatura adventista. Conforme informações repassadas pelo pastor F Westphal, a primeira Igreja Adventista do Sétimo Dia em solo nacional foi estabelecida na região de Gaspar, em Santa Catarina, em 1895, seguida por congregações no Rio de Janeiro e em Santa Maria de Jetibá, no Espírito Santo, todas no mesmo ano.




Com a fundação da gráfica adventista em 1905 em Taquari, RS (atual Casa Publicadora Brasileira localizada em Tatuí-SP), o trabalho se estabeleceu entre os brasileiros e se expandiu em todos os estados. A primeira Escola Adventista no Brasil surgiu em 1896 na cidade de Curitiba. Em 2005 somam-se 393 escolas de ensino fundamental e 118 do ensino médio com o total de 111.453 alunos e seis instituições de Ensino Superior (IES) com mais de cinco mil alunos que tem no Centro Universitário Adventista de São Paulo, sua matriz educacional. O UNASP como é conhecida esta IES, surgiu em 1915, no Capão Redondo, SP e hoje conta com três campi: na cidade de São Paulo, em Engenheiro Coelho e Hortolândia.

Mormonismo: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias no Brasil, Os Santos dos Últimos Dias

Chegou no Brasil em 1923, por meio de imigrantes alemães, porém o trabalho de proselitismo só se iniciou em 1927, com a chegada de uma dupla de missionários. Esses missionários não falavam o português muito bem, então as reuniões no início eram dirigidas em alemão. A Missão São Paulo Brasil (uma espécie de departamento regional de proselitismo) Foi a primeira criada no país, atualmente são 28. Hoje, existem mais de 1800 capelas mórmons em todas as Unidades da Federação Brasileira.[carece de fontes?]


Templo mórmon de Campinas.Os membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também conhecidos como mórmons, tem aqui no Brasil o 2° maior país com população mórmon do mundo, mais de 1 milhão de membros atualmente, superado apenas pelos Estados Unidos. Em 2000, o censo do IBGE mostrou haver no Brasil somente 200 mil pessoas que se dizem membros desta denominação. Entre 2000 e 2006 a Igreja Mórmon cresceu cerca de 460% no Brasil.[carece de fontes?]




A Igreja Mórmon no Brasil é presidida pelos Élderes (título que significa "senhor","Irmao mais velho", "ancião") Ulisses Soares (Presidente), Stanley G. Ellis (Primeiro Conselheiro) e Carlos A. Godoy (Segundo Conselheiro). Até abril de 2007, os mórmons eram divididos em duas áreas geográficas distintas, a Área Brasil Norte (sediada em Recife), e a Área Brasil Sul (sediada em São Paulo).

Só no Brasil os mórmons tem cinco templos construídos, dedicados e em funcionamento (em São Paulo, Recife, Porto Alegre, Campinas e Curitiba), um em construção (em Manaus) e um a construir em Fortaleza. Pela crença mórmon, nesses templo são realizadas ordenanças como batismo vicário e selamento de famílias, além de ser um lugar de aprendizado e espiritualidade.

Hoje a Igreja vem crescendo muito em Curitiba e Porto Alegre, se espalhando pelo país. Muitos missonarios estrangeiros estão vindo para o Brasil a cada mes, pregando o evangelho por toda parte do país, e estão obtendo sucesso.

É brasileiro o primeiro mórmon negro a receber um chamado de Autoridade Geral (autoridade a nível mundial), seu nome é Helvécio Martins. Hoje há cinco brasileiros servindo como Autoridades Gerais: Cláudio R. M. Costa, Marcos A. Aidukaitis, Carlos A. Godoi e Ulisses Soares e Jairo Mazzagardi. Durante todos os anos desde a chegada da Igreja Mórmon ao Brasil, somente um mórmon foi eleito ao Congresso Nacional, Moroni Torgan, do estado do Ceará.

Cristianismo oriental: Igreja Ortodoxa

Catedral vista da Avenida Paulista.A Igreja Ortodoxa também se faz presente no Brasil.

A Catedral Metropolitana Ortodoxa, localizada em São Paulo, na rua Vergueiro, além de ser a Sé da Arquidiocese da Igreja Católica Ortodoxa Antioquina de São Paulo é, também, de todo o Brasil. É um exemplo de construção arquitetônica bizantina que pode ser apreciado na América do Sul. Seu projeto, cuja edificação teve início da década de 1940, foi inspirado na Basílica de Santa Sofia em Constantinopla (atual Istambul) e foi inaugurada em janeiro de 1954. Contudo, ainda tem pequena representação no país, apesar de já ter alguma visibilidade.

Testemunhas de JeováVer artigo principal: Testemunhas de Jeová
No Brasil, as Testemunhas de Jeová vem crescendo consideravelmente. Estima-se que mais de 700.000 membros servem ativamente como publicadores e missionários neste país.

Foi em 1899 que Sarah Bellona Ferguson, de São Paulo, recebeu pela primeira vez dos Estados Unidos, por correio, algumas publicações da Sociedade Torre de Vigia. Ao passo que aprendia o que as Testemunhas chamam de "as preciosas verdades bíblicas", fazia o possível para transmiti-las a outros. Quando surgiu a oportunidade para isso, ela foi batizada, depois de uns 25 anos.

No ínterim, oito jovens marinheiros brasileiros, de licença do seu navio na cidade de Nova York, ficaram interessados nas reuniões dos Estudantes da Bíblia (como se chamavam então as Testemunhas de Jeová). Obtiveram ali uma Bíblia em português. Foram também ajudados a entendê-la. Quando voltaram ao Brasil, em março de 1920, depois de se terem associado por alguns meses com os Estudantes da Bíblia em Nova York, eles continuaram a se reunir e a falar a outros sobre o que haviam aprendido. No começo, usavam as publicações da Torre de Vigia em espanhol como ajudas para o estudo, porque não havia nada disponível em português. Poucos anos depois, George Young foi o primeiro missionário enviado ao Brasil, e foi providenciado que se traduzissem e imprimissem publicações em português. Em 1923, foi aberta no Rio de Janeiro uma congênere da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (dos EUA), a fim de promover a educação bíblica neste vasto país.

Mas as Testemunhas de Jeová tornaram-se grandes no Brasil, estando presentes em todos os estados do país, em mais de 10.000 congregações, segundo o Anuário das Testemunhas de Jeová. A Sede das Testemunhas de Jeová aqui no Brasil localiza-se em Cesário Lange, no interior de São Paulo.

As reuniões das Testemunhas de Jeová já ultrapassam uma média de um milhão pessoas presentes ao ano, sendo que 1,681,986 pessoas estiveram presentes em sua principal reunião anual de 2010, a Comemoração da Morte de Cristo. Os Estados com maior número de Testemunhas de Jeová são: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul

Se ressalta o trabalho voluntário realizado com os surdos e cegos. Por exemplo, em todo o Brasil, voluntários Testemunhas de Jeová ajudam milhares de surdos, desde a alfabetização na sua primeira língua, como a LIBRAS, passando pelo idioma escrito, quando se aplica. Traduzem e distribuem Bíblias e outros livros para DVDs em vídeos para distribuição gratuita aos surdos. Tem-se dado atenção especial a estes, oferecendo seu trabalho voluntário como intérpretes em língua de sinais, acompanhando os surdos em escolas, médicos, advogados, entrevista de emprego, etc. Elas têm oferecido também aos familiares e até mesmo colegas de trabalho dos surdos a oportunidade de conhecerem a língua de sinais, e para isso usam DVDs visuais ou outra publicação produzida pelas próprias Testemunhas com o objetivo de facilitar o aprendizado e a inclusão social e espiritual dos surdos à suas famílias e às suas comunidades.

Não-religiosos: Sem religião, Ateísmo e Agnosticismo.

De acordo com o último Censo realizado pelo IBGE, por volta de 13 milhões de brasileiros (7,4% da população total) consideram-se ateus, agnósticos ou declaram acreditar em um Deus sem estarem filiados a alguma religião específica. Cabe salientar que o IBGE, órgão oficial de pesquisas, não pergunta quem de fato é ateu, quem é agnóstico, e quem apenas não segue alguma religião preestabelecida, embora conserve a sua fé em algo transcendental, denominando todos estes grupos pelo termo "sem religião".





No Brasil, o estado da Bahia é o terceiro com maior número de pessoas sem religião; o primeiro é o Rio de Janeiro. A capital bahiana, Salvador, tem a maior porcentagem nacional de pessoas sem religião entre as capitais, 18% da população. No país todo, são mais numerosos entre os homens e entre os habitantes com menos de 55 anos. A cidade com o maior número de ateus é Nova Ibiá, com 59,85% dos habitantes, de acordo com o censo de 2000 do IBGE. O segundo lugar fica com Pitimbu, na Paraíba, com 42, 44%. De acordo com dados do IBGE, 7,4% (cerca de 12,5 milhões) da população brasileira declarou-se "sem religião", podendo ser agnósticos, ateus ou deístas. Em 1991 essa porcentagem era de 4,7%. Uma pesquisa realizada pela empresa Ipsos a pedido da agência de notícias Reuters revelou que 3% dos brasileiros entrevistados não acreditam em deuses ou seres supremos.

Atualmente, apenas os ditos católicos e evangélicos superam em número os não-religiosos. Em comparação, estima-se que a média mundial de não-religiosos é de 23,5% da população total.

Lista dos principais grupos religiosos do Brasil.

Espiritismo: Doutrina espírita e História do espiritismo no Brasil

Federação Espírita Brasileira

Sede da Federação Espírita Brasileira em Brasília.De acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, o Brasil possui 2,3 milhões de espíritas, sendo esse o terceiro maior grupo religioso do país. Com efeito, o IBGE trata os termos Kardecismo e Espiritismo como equivalentes em sua classifição censitária.




A doutrina espírita teve através de nomes como Bezerra de Menezes e Chico Xavier a oportunidade de se popularizar, espalhando seus ensinamentos por grande parte do território brasileiro. Hoje, o país é o que reúne o maior número de adeptos do espiritismo no mundo. Os espíritas são, também, o segmento social que têm maior renda e escolaridade, segundo os dados do mesmo Censo. Bezerra de Menezes foi presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB) por duas gestões. A FEB foi fundada em janeiro de 1884, por Elias da Silva, com a finalidade de unificar o pensamento espírita no Brasil.

Como doutrina filosófica, o espiritismo foi sistematizado pelo pedagogo francês Allan Kardec n'O Livro dos Espíritos, publicado em 18 de abril de 1857. No Brasil, contudo, houve uma forte ressignificação das idéias espíritas, que foram carregadas de um viés muito mais religioso do que o existente na Europa. Foi dentro dessa perspectiva que o espiritismo foi amplamente divulgado no Brasil, ainda na segunda metade do século XIX, atraindo principalmente a classe média. Em setembro de 1865, em Salvador, Bahia, foi criado o "Grupo Familiar do Espiritismo", o primeiro centro espírita brasileiro. Em 1873, fundou-se a "Sociedade de Estudos Espíritas", com o lema "Sem caridade não há salvação; sem caridade não há verdadeiro espírita". Esse grupo dedicou-se a traduzir para o português as obras de Kardec, como "O Livro dos Espíritos", "O Livro dos Médiuns", "O Evangelho Segundo o Espiritismo", "O Céu e o Inferno" e "A Gênese".

Budismo: Budismo no Brasil

Templo budista Zu Lai em Cotia, São Paulo.O budismo é provavelmente a maior de todas as religiões minoritárias do Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) há no Brasil cerca de 200 mil praticantes do budismo - em 1991: 236.408 budistas, em 2000 214.873 budistas no país (- 9.1%) O número relativamente grande de seguidores é devido, principalmente, a grande comunidade japonesa brasileira. Cerca de um quinto da comunidade japonesa no Brasil é seguidora do budismo. Seitas budistas japonesas, como o Budismo de Nitiren (mais notavelmente a Soka Gakkai), Jodo Shinshu e Zen são os mais populares.

No entanto, nos últimos anos seitas chinesas e do sudeste asiático, como a Mahayana e Theraveda, estão ganhando popularidade. O budismo foi introduzido no Brasil no início do século XX, por imigrantes japoneses, embora agora, 60% dos brasileiros japoneses sejam cristãos devido às atividades missionárias e casamento. No entanto, a cultura brasileira japonesa tem uma substancial influência budista.

Judaísmo no Brasil

Sinagoga Kahal Zur Israel, a mais antiga sinagoga das Américas, localizada em Recife, Pernambuco.Há cerca de 196 mil judeus no Brasil.
A maior proporção de judeus é encontrado nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Os judeus chegaram pela primeira vez no Brasil como cristãos-novos ou convertidos, nomes aplicados aos judeus ou muçulmanos que se converteram ao catolicismo, a maioria deles à força. De acordo com os relatórios da Inquisição, muitos cristãos-novos que viviam no Brasil durante o período colonial foram condenados por secretamente manterem costumes judaicos. Estes relatórios podem não ser confiáveis ​​desde a Inquisição confiscou os bens terrenos de suas vítimas, e tinha um interesse directo na denúncia e convencendo-os.

Em 1630, os holandeses conquistaram partes do nordeste do Brasil e permitiram a prática aberta de qualquer religião. Muitos judeus vieram dos Países Baixos para viver no Brasil na área dominada pelos holandeses. A maioria deles eram descendentes dos judeus portugueses que tinham sido expulsos de Portugal, em 1497. Em 1636, a Sinagoga Kahal Zur Israel, a primeira sinagoga das Américas, foi construída no Recife, a capital da Nova Holanda (Brasil Holandês). O edifício original permanece intacto até hoje, mas os judeus foram forçados a sair do Brasil quando o Império Português retomou as terras em 1654.

A primeira vez que judeus ficaram no Brasil e puderam praticar abertamente a sua religião aconteceu quando a primeira constituição brasileira concedeu liberdade de religião em 1824, logo após a independência. Eles eram principalmente judeus marroquinos, descendentes dos judeus espanhóis e portugueses que tinham sido expulsos da Espanha em 1492 e de Portugal em 1497.

A primeira onda de judeus sefarditas foi ultrapassada pela maior onda de imigração de judeus ashkenazi, que chegou no final do século XIX e início do século XX, principalmente da Rússia, Polônia, Bielorrússia e Ucrânia. Um último grupo significativo veio, fugindo do nazismo e da destruição que se seguiu pela Segunda Guerra Mundial.

Islã no Brasil

Mesquita em São Paulo.Segundo o Censo de 2000, havia 27.239 muçulmanos no Brasil. Acredita-se que o islã chegou ao Brasil por meio de escravos africanos muçulmanos trazidos da África Ocidental. O Brasil recebeu mais muçulmanos escravizados do que qualquer outro lugar nas Américas.

Durante o Ramadã, em janeiro de 1835, um pequeno grupo de escravos negros e libertos de Salvador, na Bahia, inspirados por professores muçulmanos, se levantaram contra o governo no que ficou conhecido como Revolta dos Malês, a maior rebelião escrava no Brasil. (Muçulmanos eram chamados de malês na Bahia por causa da palavra imale do iorubá, que designava um muçulmano iorubá.) Temendo que o exemplo pudesse ser seguido, as autoridades brasileiras começaram a vigiar os malês com muito cuidado e, nos anos subsequentes, intensos esforços foram feitos para forçar conversões para o catolicismo e apagar a memória popular e o apreço pelo islã. No entanto, a comunidade muçulmana africana não foi eliminada com facilidade, e em 1910, estima-se que ainda havia cerca de 100.000 africanos muçulmanos vivendo no Brasil.

Uma tendência recente tem sido o aumento nas conversões ao islamismo entre os cidadãos não-árabes. Uma fonte muçulmana recente estima que existem cerca de 10 mil muçulmanos convertidos no Brasil. Os líderes da comunidade muçulmana no Brasil estimam que há entre 70.000 e 300.000 muçulmanos no país, com o menor valor que representando aqueles que praticam a religião, enquanto a estimativa mais elevada incluiria também membros nominais.

Religiões afro-brasileiras e indígenasVer artigo principal: Religiões afro-brasileiras




Mãe Stella de Oxóssi Iyálorixá do Candomblé, Salvador, Bahia.Com a vinda dos escravos para o Brasil, seus costumes deram origem a diversas religiões, tais como o candomblé, que tem milhões de seguidores, principalmente entre a população negra, descendente de africanos. Estão concentradas em maior número nos grandes centros urbanos do Norte e do Nordeste do país, mas também com grande presença no Sudeste. Diferente do candomblé, que é a religião sobrevivente da África ocidental, há também a Umbanda, que representa o sincretismo religioso entre o catolicismo, espiritismo e os orixás africanos. As religiões de matriz africana foram e ainda são perseguidas e discriminadas no Brasil.

As chamadas religiões afro-brasileiras compõem o candomblé que é dividido em várias nações, o batuque, o Xangô do Recife e o Xambá foram trazidas originalmente pelos escravos. Estes escravos cultuavam seu Deus, e as divindades chamadas Orixás, Voduns ou inkices com cantos e danças trazidos da África.




Nas práticas atuais, os seguidores da umbanda deixam oferendas de alimentos, velas e flores em lugares públicos para os espíritos. Os terreiros de candomblé são discretos da vista geral, exceto em festas famosas, tais como a Festa de Iemanjá em todo o litoral brasileiro e Festa do Bonfim na Bahia. Estas religiões estão em todo o país.

O Brasil é bastante conhecido pelos ritmos alegres de sua música, como o Samba e a conhecida como MPB (música popular brasileira). Isto pode relacionar-se ao fato de que os antigos proprietários de escravos no Brasil permitiam que seus escravos continuassem sua tradição de tocar tambores (ao contrário dos proprietários de escravos dos Estados Unidos que temiam o uso dos tambores para comunicações).

A umbanda é considerada por muitos uma religião nascida no Brasil em 15 de novembro de 1908 no Rio de Janeiro. Embora existam relatos de outras datas e locais de manifestação desta religião antes e durante este período seus adeptos aceitam esta data como o início histórico da mesma.



Do Estado da Bahia para o Norte há também práticas diferentes tais como Pajelança, Catimbó, Jurema, Tambor-de-Mina e Terecô com fortes elementos indígenas.

Neopaganismo
Começam a se difundir entre os brasileiros, atualmente, as religiões neo-pagãs, como a Wicca e o Neo-druidismo. Com a Wicca acontece um fator mais expressivo e especial. No Censo 2000, os wiccanos foram incluídos no grupo de "outras religisidades" e "não determinadas", que representavam 0,009% e 0,211% da população, respectivamente. De qualquer forma, desde a década de 1990 a Wicca, ou a Bruxaria em geral, têm crescido muito no país, especialmente em Brasília e São Paulo.

Religiões hoasqueiras nas décadas mais recentes, tem crescido no Brasil o número de adeptos de religiões que fazem uso do chá Hoasca (também conhecido como ayahuasca) em seus rituais. São as religiões hoasqueiras, que se originaram na Floresta Amazônica e hoje se expandem nos grandes centros urbanos. Entre elas, as mais representativas e organizadas são a União do Vegetal, o Santo Daime e A Barquinha.

Em 2004, o Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas (CONAD), atual órgão do Ministério da Justiça brasileiro, reconheceu a legitimidade do uso religioso da ayahuasca e a legalidade de sua prática. Seu uso para fins religiosos foi regulamentado pelo CONAD em 25 de janeiro de 2010, em resolução na qual se estabelece as normas legais para a utilização do chá pelas instituições religiosas.

Intolerância religiosaVer artigo principal: Intolerância religiosa no Brasil
Tem ocorrido no Brasil o crescimento das comunidades neopentecostais e algumas delas, como a Igreja Universal do Reino de Deus, são consideradas culpadas de intolerância religiosa.

Foi criado no Brasil o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa (21 de janeiro) por meio da Lei nº 11.635, de 27 de dezembro de 2007. Segundo Eloi Ferreira Araújo, previamente ministro interino da Igualdade Racial, "O Estado brasileiro reconhece que existem problemas dessa ordem, mas estamos procurando tratar disso".

Crítica da religião e Homofobia no Brasil.

Algumas entidades alegam que os direitos sociais dos homossexuais no Brasil são desrespeitados por motivos religiosos.

Outro problema alegado no âmbito religioso brasileiro é o desrespeito ao laicismo. Apesar de no Brasil a Constituição definir o Estado como laico e ter oficializado a separação entre a Igreja e o Estado, o governo brasileiro mantém uma concordata com o Vaticano, o que, de acordo com alguns especialistas, cria um estatuto privilegiado para a Igreja Católica no país. No entanto, para outros especialistas o acordo não cria privilégios e "todas as religiões estão livres para estabelecer a mesma relação com o Estado, se assim o desejarem".




A presença de símbolos religiosos, como a cruz cristã, em repartições públicas brasileiras também é criticada por alguns segmentos da sociedade. Em 2009, o Ministério Público de São Paulo entrou com uma ação civil pedindo a retirada dos símbolos religiosos dos prédios de entidades do governo federal no estado de São Paulo. Para o procurador Jefferson Aparecido Dias, responsável pela ação, "quando o Estado ostenta um símbolo religioso de uma determinada religião em uma repartição pública, está discriminado todas as demais ou mesmo quem não tem religião afrontando o que diz a Constituição." Já o desembargador José Geraldo Barreto Fonseca discorda dessa opinião, dizendo que "o Brasil é um estado leigo, não ateu, e respeita os valores religiosos". Ele cita o preâmbulo da Constituição Federal, em que se lê que esta foi promulgada "sob a proteção de Deus". Em 2007 o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) julgou quatro representações questionando a presença de crucifixos em tribunais, como o que há no Supremo Tribunal Federal. Decidiu pela permanência dos crucifixos, entendendo que o uso de símbolos religiosos em órgãos do Poder Judiciário não fere a autonomia do Estado em relação à religião. Na sua avaliação os crucifixos são muito mais símbolos culturais e tradicionais do que representantes de uma religião específica.

fonte:Wikipédia, a enciclopédia livre

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Denuncia racismo em Hollywood

George Lucas explicou que enfrentou vários problemas para o financiamento do filme, sobre os pilotos afro-americanos da Tuskegee Airmen que combateram na Segunda Guerra Mundial, tendo pago grande parte da produção com o seu próprio dinheiro.
Segundo o realizador da épica saga “Guerra das Estrelas”, não houve nenhum grande estúdio interessado em apoiar e financiar o filme por não existir nenhum actor branco nos papéis principais.

“Eu mostrei-o [o filme] a todos os grandes estúdios de cinema e todos disseram ‘Não, nós não sabemos como introduzir no mercado um filme como este”, contou George Lucas, responsável pela produção do filme, através da Lucasfilm.

Para “Red Tails”, filme realizado por Anthony Hemingway e com argumento de John Ridley, George Lucas investiu 58 milhões de dólares (45 milhões de euros) e tem ainda um investimento de mais 35 milhões (27 milhões de euros) para a distribuição do filme, que chega aos cinemas norte-americanos a 20 de Janeiro. O filme começou a ser produzido e realizado em1989.

“Eles [estúdios e distribuidoras] não acreditam que exista algum mercado para estes filmes”, continuou Lucas, que através da sua produtora produz a primeira obra em 15 anos não relacionada com as sagas “Star Wars” ou “Indiana Jones”.

O filme de ficção, baseado em histórias verídicas, conta no elenco com nomes bem conhecidos como o vencedor de um Óscar Cuba Gooding Jr, Terence Howard e o cantor Ne-Yo. A actriz portuguesa Daniela Ruah, que tem protagonizado a série “Investigação Criminal: Los Angeles” também faz parte do elenco.

Em 2007, o então presidente dos Estados Unidos, George Bush, distinguiu estes pilotos afro-americanos com a Medalha de Ouro do Congresso.

Na mesma entrevista, George Lucas explicou que normalmente os filmes negros, mesmo os filmes de Tyler Perry (“Porque é que me Casei?”), que normalmente são sucessos de bilheteiras, têm baixos orçamentos, quando comparados com as grandes produções de Hollywood. Uma realidade e uma visão do negócio muito criticada por George Lucas, que garantiu que, por exemplo, “Red Tails”, “custa muito mais dinheiro do que alguns filmes fazem nas bilheteiras”.

George Lucas não é o primeiro a acusar a indústria cinematográfica de Hollywood de racismo. Já em 2008, Spike Lee criticou a ausência de actores negros nos grandes filmes de guerra, destacando os filmes de Clint Eastwood, “As Bandeiras dos Nossos Pais” e “Cartas de Iwo Jima”.

“Ele fez dois filmes sobre a batalha de Iwo Jima, durante a II Guerra Mundial, e não houve um único soldado negro a aparecer”, disse na altura Spike Lee, acrescentando que, por isso, o filme não correspondia à realidade.

Em relação à polémica, Clint Eastwood reconheceu que, de facto, tinha existido uma pequena unidade de soldados negros destacada para Iwo Jima, mas que nenhum desses soldados hasteou a bandeira e que esse era, afinal, o tema do filme. “Se eu tivesse posto ali um actor afro-americano, teriam dito ‘este tipo perdeu a cabeça’. Ou seja, eu não estaria a ser exacto", justificou-se então Eastwood.

Polémicas à parte, George Lucas garantiu que se o filme for bem sucedido nos cinemas e alcançar um lugar cimeiro nas receitas de bilheteira, terá uma prequela e uma sequela.

O diretor declarou que enfretou diversos problemas com o financiamento da obra, que conta a história do primeiro esquadrão aéreo formado por negros, os Tuskegee Airmen, que combateram a Segunda Guerra Mundial. "Não há nenhum papel principal para brancos nela (história). Mostrei para todos os distribuidores e me disseram não. Eles não sabem como vender esse filme" disse Lucas durante a entrevista.

Lucas não é o primeiro diretor a acusar a indústria de racismo. Spike Lee questionou a ausência de negros no elenco de filmes de guerra em 2008, citando os filmes de Clint Eastwood Cartas de Iwo Jima e Bandeiras dos nossos pais

Para viabilização de seu projeto Lucas investiu, através da sua produtora Lucasfilms, a quantia US$58 milhões para produção e outros US$35 milhões para distribuição.

O realizador George Lucas disse numa entrevista a Jon Stewart, no The Daily Show, que precisou de 20 anos para conseguir terminar o seu último filme, “Red Tails”, “porque tem um elenco só de negros”.

"George Lucas criticou a falta de interesse dos grandes estúdios de cinema em filmes com elenco negro"
(Por:Por Cláudia Carvalho/www.youtube.com/watch?v=BpA6TC0T)

A cor x sexualidade

Nos últimos anos, ocorreram reduções nas desigualdades raciais em alguns indicadores do mercado de trabalho, como, por exemplo, o rendimento médio do trabalho. Porém, apesar desta queda, os abismos nos indicadores das pessoas brancas e pretas/pardas permanecem muito elevados. Este panorama é atestado pelo boletim "Tempo em Curso", elaborado pelo Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser/UFRJ).


Os dados do boletim (clique aqui para acessar) mostram o já conhecido abismo de rendimento que separa os homens brancos dos negros. E explicita que, além da cor da pele, a distância de rendimento expressa também uma dimensão de gênero: mulheres brancas e negras (pretas e pardas) estão separadas por centenas de reais em termos de rendimento (R$1.638 para as primeiras; R$ 906 para as segundas – números registrados em setembro de 2011). A taxa de desemprego, avaliada em cima das seis maiores regiões metropolitanas do país, também indica um cenário pior para as mulheres pretas e pardas, cujo desemprego foi de 9,3% em setembro de 2011, ante 6,2% para as brancas.

O boletim compilou também dados entre 2009 e 2010 que falam sobre a violência contra as mulheres, incluindo sua desagregação de cor ou raça. Esta análise compõe a segunda parte do boletim. As notificações de violência contra mulheres foram feitas segundo os grupos de cor ou raça, a partir dos dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN/Ministério da Saúde). Os números apontam 66.350 casos de violência contra mulheres entre 2009 e 2010: 27.676 tendo as brancas como vítimas e 23.698 tendo as negras como agredidas. Houve 14.176 denúncias cuja declaração de cor não foi registrada.

O economista, sociólogo e coordenador geral do Laeser, Marcelo Paixão, afirma em entrevista ao CLAM como funciona a dinâmica de gênero que marca as desigualdades salariais e reflete sobre os números de violência contra mulheres.

Os dados mostram que as assimetrias de renda não se limitam à divisão homem e mulher. Dentro da população feminina, a diferença de renda entre trabalhadoras brancas e negras/pardas é de 80,7%. O que esses números dizem sobre a relação entre aspectos raciais e de gênero no mercado de trabalho?

O rendimento médio do trabalho das pessoas pretas e pardas é sempre inferior comparado ao dos grupos de pessoas de cor ou raça branca e amarela. O desemprego também é uma variável cronicamente desfavorável aos negros.



O fator educacional pode ser mobilizado para explicar estas diferenças, tendo em vista a menor escolaridade média dos negros em relação aos brancos. Mas não podemos explicar isso apenas pela educação. O próprio mercado de trabalho apresenta uma dinâmica que além de remunerar desigualmente pessoas negras e brancas que ocupam postos parecidos, discrimina as pessoas de pele escura quando da oferta de oportunidades ocupacionais melhor recompensadas financeiramente e de maior prestígio social. Tal realidade por sua vez gera um efeito de muito difícil mensuração, mas que se coloca evidente, qual seja: o fato de existirem poucas pessoas negras nos postos de trabalho de melhor posição reforça a baixa escolaridade deste grupo pela via do rebaixamento da auto-estima. Isso forma um círculo vicioso que alimenta a perpetuação das assimetrias sociais e raciais no país.

Quando associamos o debate acima com a da questão de gênero, o que ocorre é o que chamamos de preconceito e discriminação agravados, que une sexo e cor de pele. Os números oficiais que falam do modo pelo qual o mercado de trabalho brasileiro trata as mulheres negras mostram que as relações raciais e de gênero permeiam nosso mercado de trabalho, penalizando aqueles indivíduos que carregam características desvalorizadas socialmente. Seus patamares de remuneração são invariavelmente inferiores aos dos demais grupos, incluindo as mulheres brancas e os homens negros – grupo ao qual em comparação tem até maior escolaridade. Sua taxa de desemprego e informalidade é também invariavelmente maior que a dos demais grupos. Ou seja, a discriminação por cor e gênero torna mais vulnerável a população feminina e negra.


A sociedade brasileira é atravessada por questões de gênero, raça, classe social, entre tantas outras variáveis. E o mercado de trabalho espelha essa dinâmica de desigualdade.

O rendimento médio das mulheres pretas e pardas subiu de R$889,83, em setembro de 2010, para R$ 906,69, em setembro deste ano. O rendimento das mulheres brancas ficou praticamente estável (de R$1.640 a R$ 1.638). Podemos falar em um processo contínuo de redução da distância entre essas mulheres? Ou é um dado pontual?

Ao longo dos últimos anos o mercado de trabalho brasileiro caminhou no sentido da redução das desigualdades sociais e raciais. De um lado o controle da inflação permitiu a preservação do poder de compra dos salários e remuneração do trabalho dos trabalhadores mais pobres. Por outro lado, ocorreu uma política de valorização do salário mínimo, após aumentos reais sucessivos estipulados pelo governo federal. Atualmente salário mínimo brasileiro superou os U$ 200, algo inconcebível há dez anos atrás. Isso repercute no setor formal e no informal, que se referencia no piso salarial. No mesmo rumo, tal movimento contribuiu para a redução das assimetrias.

Porém, é preciso perceber que tal movimento também espelha fenômenos não necessariamente positivos ocorridos nos últimos anos. Desde 1995, com a instituição do plano real, nossa economia ficou mais exposta à competição estrangeira, problema que se agravou não somente pela abertura comercial, mas também pela política de juros elevados e a valorização cambial. Com isso os escalões superiores das ocupações profissionais perceberam ou uma estagnação ou mesmo queda nos seus rendimentos. Este grupo é usualmente formado por pessoas brancas, especialmente do gênero masculino. Por um lado, não haveria motivos para se lamentar este movimento. Mas, por outro, talvez o ideal fosse que as desigualdades sociais e raciais se encurtassem num contexto de aumento geral dos patamares de remuneração da população trabalhadora, inclusive de seus escalões melhor remunerados.

De qualquer maneira, com a reestruturação econômica recente, o leque salarial encolheu, favorecendo a redução das desigualdades raciais, inclusive quando se analisa especificamente a população do sexo feminino desagregada pelos grupos de cor ou raça.

Finalmente, cabe mencionar que se o rendimento dos postos mais altos encolheu e o dos escalões mais humildes subiu, a forma de acesso ao mercado de trabalho por parte dos diferentes grupos de cor ou raça fundamentalmente não mudou. A população branca era 80% dos empregadores nos anos 1990, percentual que se mantém atualmente. Os homens negros e as mulheres negras, respectivamente, costumam responder por cerca de 65% - 70% dos empregos na construção civil e doméstica, isso tanto antes como depois das transformações ocorridas em nosso mercado de trabalho.

Sinteticamente, portanto, pode-se dizer que houve uma mudança nos patamares de rendimento dos grupos de cor ou raça, mas sem mudar essencialmente o modo pelo qual os distintos contingentes chegam ao mercado de trabalho. Assim, segue existindo maior probabilidade de uma pessoa de pele clara ter acesso aos postos mais prestigiados, o contrário ocorrendo com as pessoas de pele escura.


Entre 2009 e 2010, foram registradas 66.350 denúncias de violência contra mulheres, das quais 27.676 contra brancas e 23.698 contra pretas e pardas. A que podemos atribuir essa diferença de denúncias?

Em primeiro lugar, acho importante destacar que o Ministério da Saúde tenha passado a coletar estes dados. Incorporar os dados da violência contra a mulher dentro do SINAN, pois além de dar visibilidade ao tema, é, igualmente, um reconhecimento de que o problema não é uma questão meramente policial, é também um problema social gravíssimo, uma questão de saúde pública.

A superioridade das denúncias de mulheres brancas deve abrigar duas observações preliminares. A primeira é que, pelos dados do SINAN, há 14.176 casos de violência contra a mulher sem o registro da cor da pele da vítima, o que diante do estudo dos impactos deste fenômeno sobre os grupos de cor ou raça corresponde a uma significativa subnotificação. Ou seja, esta lacuna prejudica uma análise mais profunda do fenômeno da violência de gênero sobre os grupos de cor ou raça.

Apesar de os números não serem auto-evidentes, uma segunda hipótese que podemos inferir é que as mulheres brancas, pelo maior nível de formação, melhores condições socioeconômicas e maior auto-estima, se sentiriam mais seguras de seus direitos e denunciariam com mais facilidade as violências sofridas às autoridades da área da saúde. As negras, diante da desvalorização social crônica a que são submetidas, poderiam ter hipoteticamente maiores dificuldade na hora de reclamar e defender seus direitos por não se sentirem seguras para tanto. Os dados não dizem isso, mas dialogam com nossa realidade social tornando a hipótese plausível. Assim, os dados da violência que incidem contra as mulheres negras poderiam estar ainda mais subestimados.

Um dado que chama a atenção é a maior incidência de violências sexuais contra as mulheres negras (45% contra 40%). O estupro, por exemplo, registrou o índice de 48,6% para negras contra 38,8 para brancas. A que fatores podemos atribuir essa realidade?

É difícil responder precisamente a esta pergunta na falta de dados complementares, muito embora não seja nada implausível associar tais diferenças ao padrão brasileiro de relações raciais e à forma pela qual as mulheres negras são usualmente tratadas em nossa sociedade. O fato das mulheres viverem em ambientes socioeconomicamente mais precários e pobres deve influenciar esses números. Mas a cor da pele é em si um fator que aumenta a exposição à violência, especialmente a sexual, situação na qual se soma o desrespeito com a falta de consideração para com a dignidade humana. O que os números do SINAN sugerem é que o racismo atua como um mecanismo que potencializa a vulnerabilidade das mulheres negras para este tipo de situação.


Que tipos de ações, leis e políticas públicas podem ser criadas ou melhoradas para combater essas desigualdades no âmbito trabalhista e da violência?

O enfrentamento das desigualdades no mercado de trabalho envolve desde o investimento na educação, para proporcionar uma formação técnica e profissional, até políticas de ação afirmativa no setor público e privado. A redução das desigualdades raciais precisa ser vista como um objeto a ser perseguido pelo Estado e por toda sociedade. Infelizmente, isso não acontece no mercado de trabalho e demais espaços da vida social, contribuindo para que as posições desvantajosas das pessoas negras na sociedade brasileira se prorroguem indefinidamente.

A questão da violência contra a mulher é mais complexa. Não é apenas uma questão econômica ou de prestígio social. O agente violador dos direitos da mulher pode ser encontrado em todas as classes sociais e grupos de cor ou raça. O racismo à brasileira impulsiona este tipo de prática, tornando as mulheres negras especialmente vulneráveis, especialmente no plano da violência sexual.

Precisamos, primeiramente, melhorar a produção de dados nas áreas de saúde, educação e segurança e analisá-los conjuntamente. Assim, vamos conseguir pensar melhor o fenômeno da violência contra mulher sob a ótica da saúde pública. E isso vai se refletir nas respostas que o poder público irá elaborar. Mas estas respostas terão de englobar diversos níveis, incluindo o plano educacional, da área da saúde e da segurança pública. E também das políticas da igualdade racial, que igualmente deveriam permear este conjunto de áreas desde uma perspectiva transversal.

por Marcelo Paixão
Fonte: Clan

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