UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Mulheres da UNEGRO seguindo em Marcha e Luta no Rio de Janeiro e em todo Brasil.

Apesar da UNEGRO-União de Negras e Negros não ser uma entidade exclusivamente formada por negras, por outro lado a UNEGRO e, composto em sua direção nacional por maioria considera de mulheres e os desafios da luta das mulheres negras ainda maiores e mais difíceis que os do movimento unicamente feminista.

Vivemos em nossa sociedade um histórico marcado pelo machismo. de desvalorização social e coisificação dupla, como mulheres negras, ainda no seculo XXI está livremente nos oprimindo por toda as Américas. Todos os dias. As negras Cláudias morrem nas mãos do Estado genocida e ninguém troca avatar em rede social ou presta solidariedade às famílias das vítimas. Continuamos com os menores salários, amplamente aceitas em subempregos e excluídas das atividades intelectualizadas, estamos morrendo mais e desfrutando da solidão afetiva que algumas nem ousam discutir e as que ousam são duramente atacadas, e, ainda, somos sexualmente descartáveis e fetichizadas. Na mídia, continuamos estereotipadas. Na saúde, somos também excluídas das discussões que resultam em políticas públicas que não nos incluem,Mulheres negras convivem com a violência doméstica e com o desemprego. Com desvalorização e baixos salários. Com assédio e apagamento nos espaços acadêmicos. E nada disso é abordado por feministas que alcançam um espaço midiático significativo.

Sabemos que ninguém salva ninguém, nem o feminismo. Mas Sobreviventes, no sentido estrito da palavra, são as mães solteiras, as trans, as lésbicas, as negras, as periféricas, as indígenas. E não é a imagem delas em historia aceitável que vai mudar a situação, e sim uma crítica eloquente e corajosa,
expondo as necessidades que a vida de nós mulheres negras guarda e que não pode mais esperar.
Somos o resultado desse processo de construção incompleta da luta feminista que nos deixou a deriva e surgimos agora como voz forte que foi sufocada por anos a fio, porque nossos passos vêm de longe, muito longe...

O Mapa da Violência de 2015 da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) aponta que 66,7% de mulheres negras são assassinadas a mais do que brancas. O feminicídio das negras aumentou entorno de 54% enquanto o das brancas diminuiu 9,8%. Dados como estes corroboram com outros dados alarmantes como o alto índice de mortalidade da juventude negra no país, cujo risco de morrer assassinado é 6,5 vezes maior que de jovem branco, compreendendo cerca de 77% dos jovens assassinados no país e de la pra ate hoje 2017 não diminuiu pois ainda estamos morrendo...
As mulheres da UNEGRO estarão em luta e e ainda em Marcha porque precisamos mostrar ao Brasil
que 57% dele é formado por negras e negros. É a comunidade onde mais tem a nossa raça/etnia depois da África. Nossas roupas, nossa música, nosso cabelo e nossa cor é nossa identidade que é tanto criticada e ao mesmo tempo apropriada por outras culturas.
As mulheres da UNEGRO estiveram desde o primeiro momento contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ainda nas primeiras horas ;contra a reforma do retrocesso, por que "PRA SENZALA EU NÃO VOLTO NÃO" é o coro para todas e todos trabalhadores de pele preta e afirma
que Diretas Já é o único caminho possível num governo golpista e ilegitimo endossado pelos gritos de Fora Temer, não foi apenas rasgar as urnas e a democracia, mas também “contra as mulheres trabalhadoras de no Brasil”

Até quando iremos conviver com a desigualdade de gênero e desigualdade racial?A luta das mulheres negras é incansável, mesmo com todo o sistema contra, elas continuam na batalha, mudando suas vidas, abrindo seus terreiros, liderando movimentos, seja eles na cidade ou nos acampamentos Sem Terra, criando seus filhos, trabalhando, entrando nas universidades, tentando resistir a toda violência simbólica, violência essa que insiste em permanecer como resquícios da escravidão do país e de uma abolição nada emancipadora para população negra.

No dia 30 de julho de 2017 voltamos a ocupar as ruas na cidade do Rio de Janeiro:
• Em defesa da democracia e contra o Golpe: Fora Temer!Diretas Já!
• Pela luta intransigente contra o racismo e a discriminação, independentemente da raça,etnia e/ou nacionalidade;
• Pelo fim do machismo, do racismo, da lesbofobia, da transfobia, da intolerância religiosa, da xenofobia, e do preconceito e discriminação de qualquer natureza;
• Pelo fim da pobreza;
• Contra a retirada de direitos e a precarização ainda maior do trabalho, por mais emprego, melhores salários e igualdade salarial para as mulheres negras;
• Contra a exploração sexual das crianças e adolescentes;
• Contra todas as formas de violência, racista e machista e homofóbica: física, verbal e psicológica;
• Contra o genocídio da juventude negra e periférica;
• Contra a intolerância religiosa, por respeito e preservação das religiões de matrizes africanas;
• Pela preservação da biodiversidade e do meio-ambiente, em defesa e reconhecimento da titulação de terras das Quilombolas, das Mulheres do Campo, da Floresta e das Águas;
• Pela implementação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) alterada pela Lei 10.639/03 (obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no ensino fundamental e médio);
• Pelo direito à educação pública de qualidade e acesso e permanência na universidade;
• Pelo direito à saúde e direitos sexuais e reprodutivos (aborto legal, seguro e fim da violência obstétrica);
• Em defesa da moradia digna, do direito à cidade e à urbanidade;
• Pela valorização da trabalhadora doméstica (Lei Complementar 150/2015);
• Pelo empoderamento das mulheres negras, indígenas e afro indígenas;
• Contra o higienismo social e a gentrificação
• Por mais poder político para as mulheres negras, indígenas e afro indígenas, imigrantes e refugiadas;
• Pelo reconhecimento e preservação dos saberes materiais e imateriais da população de qualquer raça, etnia nacional ou estrangeira no Brasil (cultura, tecnologia, arquitetura, culinária, saúde etc.);
• Por uma política de Comunicação de enfrentamento ao racismo, com a consolidação de uma mídia igualitária, democrática, não racista e não sexista.

Nossos passos vêm de longe! Uma sobe e puxa a outra!
Vem marchar com a gente!!!

Finalizando:   Esse feminismo classista busca a sua interligação com as demais lutas sociais, com outas condições de opressão e discriminação, como etnia, orientação sexual, religiosa, sempre dando
visibilidade à questão da mulher negra que tem no mercado de trabalho e no cotidiano da vida uma situação diferente da mulher branca, embora, ambas enquanto trabalhadoras sofram com a exploração do capital.

Mulheres da UNEGRO do Estado do Rio de Janeiro.
Claudia Vitalino.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

NELSON MANDELA

Preso durante 27 anos por sua oposição ao apartheid, Mandela comandou a transição democrática
na África do Sul e foi eleito o 1º presidente negro do paísO líder sul-africano Nelson Mandela foi um dos mais importantes sujeitos políticos atuantes contra o processo de discriminação instaurado pelo apartheid, na África do Sul, e se tornou um ícone internacional na defesa das causas humanitárias. Nascido em 18 de julho de 1918, na cidade de Transkei, Nelson Rolihlahla Mandela era filho único do casal Henry Mgadla Mandela e Noseki Fanny, que integrava uma antiga família de aristocratas da casa real de Thembu.

"Não há poder na Terra capaz de deter um povo oprimido determinado a conquistar sua liberdade" - Em carta ao primeiro-ministro Hendrik Verwoerd, em 1961

Dias de luta – Reverenciado por líderes de todo o mundo desde sua libertação, o ativista cultivou uma imagem de serenidade em seus últimos anos, evidenciada pelo andar arrastado e o sorriso fácil. Postura bem diferente daquela ostentada no início de sua trajetória política, quando o então jovem líder revolucionário Nelson Rolihlahla Mandela amedrontava as autoridades sul-africanas com discursos inflamados contra o governo de brancos. Nascido em 18 de julho de 1918 no vilarejo de Mvezo, no seio da nobreza tribal, Mandela foi o primeiro de sua família a concluir a educação formal. Na juventude, mudou-se para Johanesburgo fugindo de um casamento arranjado e entrou no curso de Direito. Carismático e eloquente, o advogado se associou ao Congresso Nacional Africano (CNA), a principal organização que lutava pelos direitos dos negros no país, e rapidamente ascendeu na hierarquia do grupo.

Se liga: As origens do apartheid, regime de segregação racial vigente no país até 1994, remetem ao início do domínio europeu no sul da África.
Mas foi somente com a eleição do primeiro governo do Partido Nacional, em 1948, em um pleito em que só votaram os brancos, que a segregação racial virou lei.

Em termos legais, o apartheid tinha três pilares principais:

• A Lei de Classificação da Raça, que classificou cada cidadão suspeito de não ser europeu de acordo com a raça.
• A Lei de Casamentos Mistos, que proibiu o casamento entre pessoas de diferentes raças.
• A Lei de Áreas de Grupos, que obrigou pessoas de certas raças a viver em áreas pré-determinadas.

Vida pessoal conturbada – Um capítulo à parte em sua trajetória, a conturbada vida pessoal de Mandela contrasta com sua imagem pública de serenidade e mostra que ele, afinal, também tinha fraquezas humanas.

Enquanto lutava para livrar o país do apartheid, o ativista colecionou casamentos fracassados e um relacionamento distante com os filhos. Em um de seus livros de memórias, confessou ter negligenciado a primeira esposa, Evelyn Mase, com quem foi casado entre 1944 e 1957. “Sempre me incomodou a falsa imagem que projetei no mundo de que era santo. Nunca fui santo”, admitiu certa vez em uma carta enviada da prisão para sua segunda mulher, Winnie.

Tão – ou mais – incendiária do que ele, a ativista Winnie foi a grande companheira de militância de Mandela no CNA e o aguardou durante os anos em que esteve preso. O casamento, no entanto, terminou de forma
traumática quando as autoridades descobriram que os seguranças pessoais de Winnie, conhecida até então como “a mãe da nação”, haviam matado, ainda em 1989, um adolescente negro acusado de ser informante do regime. Além disso, havia outro agravante: a afamada infidelidade dela. Diante dos escândalos e da decepção, Mandela se separou em 1992, após 34 anos de matrimônio. Em 1998, o então presidente se casou pela terceira vez. Vinte e sete anos mais nova do que ele, a moçambicana Graça Machel foi a companheira do líder até seus últimos dias.

"Depois de ter escalado uma grande montanha, apenas descobrimos que existem muitas outras a serem escaladas." - Do livro Longo Caminho para a Liberdade, de 1995


Considerado uma figura paterna para os sul-africanos, Mandela teve seis filhos biológicos – quatro com Evelyn e dois com Winnie – mas deixou a desejar no aspecto familiar. O engajamento político e a prisão impediram o líder de desenvolver uma relação afetuosa com os filhos. “Ele nunca estava disponível para nós”, lamentou Makaziwe, uma de suas filhas com Evelyn, em uma entrevista para o jornal britânico Daily Mail.

Mandela também foi particularmente afetado por tragédias familiares. Além da morte do primogênito, Madiba, em um acidente de carro na década de 1960, perdeu também uma filha pequena, de apenas nove meses de idade, em 1947. Outro de seus filhos, Makgatho, morreu em 2005, aos 54 anos de idade, vítima da aids. O fato engajou ainda mais Mandela na luta contra a doença, a principal bandeira defendida por ele após deixar o gabinete presidencial.

- Nelson Mandela, símbolo da luta contra o preconceito e líder que guiou a África do Sul de uma ditadura segregacionista para uma democracia multirracial, morreu dia 05/12/2013 ,quinta-feira aos 95 anos. Figura inspiradora por sua incansável resistência ao regime racista do apartheid, Mandela construiu um dos mais belos capítulos da história do século XX ao se tornar o primeiro presidente eleito democraticamente na África do Sul, depois de passar 27 anos preso por sua oposição à ditadura.

"Madiba" ou "Tata"continua sendo símbolo de igualdade social. Apesar de sua morte, o seu legado não será esquecido e o mundo tem muito a agradecer ao homem que passou 26 anos preso por acreditar em um mundo onde não existiria diferença social entre negros e brancos.

Um afro abraço.
Clauidia Vitalino.
fonte:https://educacao.uol.com.br/brasilescola.uol.com.br/https://pt.wikipedia.org/

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Clementina de Jesus: A Voz da Cor e Arte....

Sambista fluminense, dona de uma voz inconfundível, potente e ancestral, Clementina de Jesus foi a síntese do Brasil, expressão de um país de forte herança africana e de singular formação religiosa. Conhecida como
Rainha Quelé, carregava consigo os banzos de seus ancestrais, transformados em cantos, encantos e segredos nos jongos, no partido-alto e nas curimbas que cantava. Diferentemente das conhecidas e famosas “divas do rádio” que brilharam na primeira metade do século XX, a cantora negra tinha um timbre de voz grave, mas com grande extensão e um repertório de músicas afro-brasileiras tradicionais.

Se liga:"Seu pai, Paulo Batista dos Santos, foi mestre de capoeira, violeiro e estucador. Com a mãe, Amélia de Jesus dos Santos, parteira, aprendeu os cantos de trabalho, partido-alto, ladainhas e jongos, assim como corimás e ponto de candomblé. A família residia na Rua Carambita e depois se transferiu para o bairro de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro, quando Clementina tinha entre oito e dez anos de idade, onde ganhou o apelido de "Quelé"."

Nascida na cidade de Valença (RJ), região do Vale do Paraíba, tradicional reduto de jongueiros, Clementina era filha da parteira Amélia de Jesus dos Santos e de Paulo Batista dos Santos, capoeira e violeiro da região. Uma de suas avós chamava-se Teresa Mina. A pequena Clementina viveu a infância na cidade natal, ouvindo sua mãe cantar enquanto lavava as roupas a beira do rio. Assim foi guardando na memória tesouros que mais tarde gravaria em discos. Aos sete anos veio com a família para a cidade do Rio de Janeiro, bairro de Oswaldo Cruz, onde mais tarde surgiria a tradicional Escola de Samba Portela. Lá frequentou em regime semi-interno o Orfanato Santo Antonio e “Cresceu assim num misticismo estranho: vendo a mãe rezar em jejê nagô e cantar num dialeto provavelmente iorubano, e ao mesmo tempo apegada a crença católica.” (Hermínio Bello de Carvalho).

Até os quinze anos, Clementina participou do grupo de Folia de Reis de seu João Cartolinha, renomado mestre da região. Foi João quem levou a moça para o Bloco As Moreninhas das Campinas, embrião da
Escola de Samba Portela, onde ocorriam de rodas de samba e onde Clementina conheceu grandes bambas como Paulo da Portela, Claudionor e Ismael Silva. Nesse tempo, a voz de Clementina já chamava a atenção e ela foi convidada por Heitor dos Prazeres para ensaiar suas pastoras, o que fez durante muitos anos. Casou-se com Albino Pé Grande e foi morar no Morro da Mangueira, de onde não saiu mais. Ao longo destes anos Clementina trabalhou como lavadeira e empregada doméstica. Sua atividade de cantora ela exercia sem intenção de fazer-se profissional, cantava porque preciso era cantar, por prazer, por alegria.

A carreira profissional de Clementina de Jesus como cantora começou aos 63 anos, depois que o produtor e compositor Herminio Bello de Carvalho a encontrou na festa da Penha em 1963, quando ela cantava na Taberna da Glória. Hermínio ficou fascinado pela sambista e quando a reencontrou, na inauguração do restaurante Zicartola, passou a ensaia-la em sua casa, preparando-a para o espetáculo Rosa de Ouro, show que a consagraria. Participavam do show, além de Clementina de Jesus e da cantora Aracy Côrtes, diversos sambistas das Escolas de Samba cariocas, entre os quais os ainda desconhecidos Paulinho da Viola e Elton Medeiros. A crítica foi unânime em exaltar Clementina e seu desempenho, tanto no show quanto nos dois LPs gravados ao vivo, as primeiras gravações da cantora. Nos anos seguintes Clementina participou dos discos Mudando de conversa, Fala Mangueira! e Gente da antiga, este último um disco antológico da música brasileira, ao lado de João da Baiana e Pixinguinha. No continente africano, participou do encontro das artes negras de Dakar em 1966, ao lado de outros bambas como Martinho da Vila e artistas como Rubem Valentin. Clementina foi o maior sucesso do festival e grande destaque. Ao final do show da cantora as pessoas invadiam o palco para abraçá-la, contou Sérgio Cabral. Também no mesmo ano ela representou a música brasileira no festival de cinema de Cannes, na França.

Naquele mesmo ano de 1966, Clementina gravou seu primeiro disco solo, intitulado Clementina de Jesus, com repertório de jongo, curima, sambas e partido-alto. A capacidade de Clementina de transmitir poderosa emoção através do canto chamou a atenção dos críticos, que, de novo, renderam-se aos encantos
de sua voz. Também Milton Nascimento, fascinado pelo banzo de Clementina, convidou a cantora para participar de seu disco chamado Milagre dos Peixes gravando a excepcional faixa Escravos de Jó.

Ao todo a cantora gravou 13 LPs entre álbuns solos e participações em álbuns coletivos, com destaque para o disco O Canto dos Escravos, composto de vissungos de escravos da região de Diamantina, recolhidos por Aires da Mata Machado. Unanimidade entre a crítica, Clementina foi louvada como elo entre África e Brasil, tendo sido reverenciada por grandes nomes da música brasileira, como Elis Regina, João Nogueira, Clara Nunes, Caetano Veloso, Maria Bethânia e João Bosco. Todos a tratavam com muito carinho, inclusive alguns a chamavam carinhosamente de mãe Clementina. O sambista Candeia compôs um samba em homenagem à Rainha Quelé chamado “Partido Clementina de Jesus”, que a cantora gravou ao lado de Clara Nunes em 1977 no LP “As Forças da Natureza”.

Em 1983 houve uma grande homenagem à cantora no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com participação de grandes sambistas como Paulinho da Viola, Beth Carvalho e João Nogueira. Clementina faleceu vítima de derrame em Inhaúma, Rio de Janeiro, no ano de 1987, aos oitenta e seis anos.
 
Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
fonte:https://pt.wikipedia.org/dicionariompb.com.br/clementina-de-jesus

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Agora são 196 :Trabalhador Negro com transtorno mental e assassinado em São Paulo após pedir PIZZA...

É inegável que a cada ano mais indivíduos utilizam as ruas como moradia, fato desencadeado em decorrência de vários fatores: ausência de vínculos familiares, desemprego, violência, perda da autoestima, alcoolismo, uso de drogas, doença mental, entre outros fatores.
Entre a população em referência predominam as pessoas do sexo masculino (82%), com idade entre 25 e 44 anos (53%) e que nunca estudaram ou não concluíram o ensino fundamental (63,5%). Em relação à cor, 39,1% são pardos, 27,9% negros, 29,5% brancos, 1,3% indígenas, 1% amarelo oriental e 1,2% de cor não identificada.

Portanto, esse desinteresse do Estado pelas pessoas que se encontram na referida situação influencia diretamente no comportamento da sociedade, sendo que os moradores de rua são tratados ora com compaixão, ora com repressão, preconceito, indiferença e violência muitas fezes causada pelos próprios policias que não enxergam este morador e trabalhador como cidadãos
O carroceiro morto por um PM na Rua Mourato Coelho, em Pinheiros, na noite desta quarta-feira (12), sofria de transtorno mental, de acordo com um amigo ouvido em São Paulo. Na manhã desta quinta (13), o colega foi até o local onde o homem foi baleado e recolheu a carroça de materiais recicláveis que pertencia a ele e ficou para trás.

O taxista revela ainda uma característica importante de Ricardo e aponta com descrença a tese de que ele teria pedido comida na pizzaria. “Ele pode ter chegado lá e pedido uma pizza para pagar, mas não para pedir. Ele era muito orgulhoso com isso. Ontem na hora que aconteceu ele já tinha três carroças de papelão lotadas, todo dia ele fazia isso, ele tinha sempre dinheiro.”

- A Pizza Prime emitiu uma nota em que afirma: A Pizza Prime lamenta a morte de Ricardo. Esclarecemos que a unidade Pinheiros se encontrava fora do horário de funcionamento durante a fatalidade e não tivemos nenhum contato com o morador de rua.

De acordo com o amigo do carroceiro, apesar dos episódios de confusão mental, o homem, identificado apenas como Ricardo, nunca agrediu ou fez mal a alguém. Testemunhas ouvidas pelo G1 disseram que ele estava alterado e segurava um pedaço de madeira quando foi baleado. "Baixa o pau", teria dito o policial antes de atirar, segundo Maria do Socorro, que presenciou a cena.Uma outra testemunha, Clayton Silva, diz que filmou a ação do agente, mas teve o celular retirado por outros policiais, que apagaram as imagens.

De acordo com o rapaz, os PMs chegaram a apontar uma arma para ele ao exigir o aparelho.
Cerca de 15 minutos após os tiros, os policiais colocaram a vítima dentro de uma viatura sob gritos de "assassinos” e “fascistas”. À reportagem, os agentes disseram que a socorreram para um hospital, mas não souberam informar qual. Eles tampouco deram mais detalhes sobre as circunstâncias dos disparos. Mais de 15 equipes da PM estavam no local e até um helicóptero sobrevoava a área.

Ricardo da Silva Nascimento era só mais um "Silva"que a estrela não brilhou ;.... tinha aproximadamente
39 anos e atuava como carroceiro nas ruas havia mais de 10 anos. Os tiros foram em frente de uma unidade do supermercado Pão de Açúcar e muitos clientes que estavam acostumados com a presença do homem se revoltaram com a polícia.

Ricardo, da visibilidade e representa as inúmeras vítimas de inúmeros estigmas, essas pessoas somavam 101,8 mil no Brasil em 2015, segundo estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Desse total, 40% não possuem documentos de identificação, de acordo com o Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR).
Dados são da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República; Minas Gerais é o Estado que concentra o maior número de mortes, seguido de Goiás

Durante o primeiro semestre deste ano, 195 moradores de rua foram assassinados em todo o Brasil, segundo dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República divulgados nesta semana. Isso representa uma média superior de uma morte por dia em todo o país
Violência contra morador de rua cresce em todo o país moradores de rua estão sendo assassinados em todo o Brasil com tiros na cabeça, pauladas, pedradas. Também são queimados e envenenados. A escalada de violência contra essa população parece não ter fim e estarrece a sociedade, principalmente as entidades que militam na proteção dos direitos humanos.

Se liga como os casos são banalizados:Somente em março, quatro moradores de rua do Distrito Federal foram queimados e assassinados com balas na cabeça.

Assassinatos- De acordo com dados do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e dos Catadores de Material Reciclável (CNDDH), de março do ano passado até agora foram 91 assassinatos, 43 deles em Belo Horizonte, onde a organização está sediada. Mas de acordo com o cientista social Maurício Botrel, que trabalha no CNDDH, esses números estão longe da realidade. Os dados mais próximos da violência diariamente enfrentada pela população de rua são
os da capital mineira, graças a um acordo informal com a Polícia Civil, que comunica ao centro todos os casos de violência contra essa população. “A estatística mais real é a de Belo Horizonte, pois temos dados oficiais. Nos outros estados recebemos apenas informações da imprensa e de quem atua no área, mas tudo muito impreciso. Pelos números de Belo Horizonte dá para imaginar o que acontece nas outras cidades”.

Uma reunião do Comitê Nacional de Monitoramento da População em Situação de Rua,vai se reunir  tratar do aumento dessa violência. A reportagem procurou a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, mas ninguém foi encontrado para falar sobre o assunto.

Política só no papel - Em 23 de dezembro de 2009, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou o Decreto 7.053, que instituiu a Política Nacional para a População em Situação de Rua. O texto prevê a integração das políticas públicas em cada nível de governo, a implantação de centros de defesa dos direitos humanos para a população em situação de rua, canais de comunicação para o recebimento de denúncias de violência e o acesso dessas pessoas aos benefícios previdenciários e assistenciais e aos programas de transferência de renda. 

Década Internacional de Afrodescendentes
Ao declarar a Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024), a comunidade internacional reconhece que os povos afrodescendentes representam um grupo distinto cujos direitos humanos precisam ser promovidos e protegidos. Cerca de 200 milhões de pessoas autoidentificadas como afrodescendentes vivem nas Américas. Muitos outros milhões vivem em outras partes do mundo, fora
do continente africano. .

“A mudança da cultura racista e discriminatória se dá pela reformulação de valores sociais e a reiteração dos valores já previstos como medidas anti-discriminatórias. O Estado deve promover a proteção das pessoas vítimas da violência exacerbada e não encaixá-las como protagonistas em razão de suas condições socioeconômicas.
Não há como reverter uma política genocida sem repensar como um todo a reconstrução de nossa estrutura social e do nosso estigmar neste sistema de justiça criminal. Isso passa desde o combate ao racismo em todas as suas formas, quanto o processo de formulação de novas perspectivas de vida em sociedade”

REBELE-SE CONTRA O RACISMO!

Claudia Vitalino.
Um afro abraço.


fonte:G1\ultimosegundo.ig.com.br/fotos net e unegrorj

quarta-feira, 12 de julho de 2017

CARTA ABERTA DA UNEGRO RJ AO PREFEITO MARCELO CRIVELLA

A UNEGRO/RJ ENTIDADE MISTA, QUE TEM EM SUA DIRETRIZ O COMBATE AO RACISMO, INTOLERÂNCIA RELIGIOSA, HOMOFOBIA, ETC.ABRAÇA A LUTA DE COMBATE AO RACISMO A TODOS OS 

POVOS TRADICIONAIS DE MATRIZ AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA , EIXO DE NOSSA ANCESTRALIDADE, PARA A LUTA , RESISTÊNCIA E PRESERVAÇÃO DAS CASAS DE AXÉ, PORTANDO-NOS COMO PARCEIROS DE TODOS OS NOSSOS RELIGIOSOS, ADEPTOS, SIMPATIZANTES E CO IRMÃOS, NA LUTA PELO DIREITO A PRÁTICA RELIGIOSA E LIBERDADE DE CULTO, SEM PERSEGUIÇÃO OU INTENÇAÕ PENTECOSTAL TRAVESTIDA DE GOVERNO MUNICIPAL , RASGANDO A CONSTITUIÇÃO DE 1988.

É INDICÍVEL O DECRETO 43.219\2017, QUE APÓS A PERMANÊNCIA A  MAIS DE 200 ANOS DE CANDOMBLÉ E CULTURA NEGRA EM TERRITÓRIO BRASILEIRO, DE TODAS AS SUPERAÇÕES E CONQUISTAS SUPERADAS COM DIGNIDADE DO NOSSO POVO, TENDO COMO BALAUSTRE OS ORIXÁS, INKICES E VODUNS, E COMO REFÚGIO E PORTO SEGURO AS CASAS DE AXÉ, VENHA SER DELIMITADO ESPAÇOS, EVENTOS, ATOS, ETC. A PARTIR DA AUTORIZAÇÃO OU LIBERAÇÃO DE UM PREFEITO EVANGÉLICO PENTECOSTAL, QUE VEM DE FORMAS CRUEL E INDIGNA, PERSEGUINDO, PUNINDO E IMPEDINDO NOSSA CULTURA ,( CARNAVAL, PAGODES, SAMBAS, CULTOS RELIGIOSOS DE MATRIZ AFRICANA OU AFRO-BRASILEIRA), NUM BOICOTE TRUCULENTO, RETROCEDENDO TODAS AS NOSSAS CONQUISTAS E AVANÇOS.  

ISTO VAI, MAIS UMA VEZ, CONTRA TODOS OS PRINCÍPIOS E PONTO DA CARTA COMPROMISSO, ASSINADA POR CRIVELLA, EM SALVAGUARDAR, "DAR PROTEÇÃO E APOIO AO QUE É CULTURAL, RELIGIOSO OU SAGRADO DE CADA CIDADÃO, ASSIM COMO A CULTURA POPULAR AFRO-BRASILEIRA: CAPOEIRA, SAMBA, JONGO CULINÁRIA E OUTRAS FORMAS DE EXPRESSÕES CULTURAIS DOS VARIADOS SEGMENTOS RELIGIOSOS E RECONHECER OS DIFERENTES SABERES DAS REPRESENTAÇÕES CULTURAIS, RACIAIS E RELIGIOSAS, BEM COMO COMPREENDER SUAS RAÍZES HISTÓRICAS, DEFENDENDO, DENTRE OUTRAS CONTEXTOS, O ENSINO OBRIGATÓRIO DA HISTÓRIA DA ÁFRICA E DA HISTÓRIA E DAS CULTURAS AFRO-BRASILEIRAS NAS ESCOLAS DAS REDES PÚBLICA E PRIVADA DO PAÍS, À LUZ DA LEI 10.639/03”. 

IRMÃOS VAMOS NOS UNIR E CENTRALIZAR ESSE PREFEITO, DIZENDO A ELE QUE NÃO PRECISAMOS QUE ELE AVALIE, PERMITA OU AUTORIZE A REALIZAÇÃO DE NOSSOS EVENTOS, INTERFIRA QUANDO PROFESSAMOS NOSSA FÉ, NEM MUITO MENOS NOS NOSSOS EVENTOS, POIS ESTAMOS NUM ESTADO LAICO E QUE O QUE ESPERAMOS DELE , É O QUE TODA A POPULAÇAÕ DO MUNICIPIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ESPERA, UMA SAÚDE SAUDAVEL, POIS A DO NOSSO MUNICIPIO ESTÁ DOENTE, UMA EDUCAÇAÕ ALFABETIZADA POIS ELA ESTÁ ANALFABETA, E MUITA SEGURANÇA POIS A DO MUNICIPIO EM QUESTÃO ESTÁ INSEGURA E AMEAÇADA.

ABAIXO A DITADURA RELIGIOSA, A PERSEGUIÇÃO AS NOSSAS CASAS DE AXÉ E NOSSOS ADEPTOS.       
LIBERDADE RELIGIOSA JÁ!

NOSSOS  PASSOS VEM DE LONGE E NÃO CABE NUM DECRETO  SR° PREFEITO CRIVELLA!

Não mexa na minha ancestralidade
agenda
MEU MO JUBÁ A TODOS.

COMISSÃO PERMANENTE DE POVOS TRADICIONAIS DA UNEGRO RJ

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Cais do Valongo Patrimônio da Humanidade: E agora...

Marco da herança africana no Rio de Janeiro, o Cais do Valongo agora é Patrimônio da Humanidade. O Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)

Principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e nas Américas, o Cais do Valongo, no Rio
de Janeiro (RJ), teve sua candidatura aceita pelo Centro do Patrimônio Mundial, para ser reconhecido como Patrimônio da Humanidade. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, receberam nesta terça-feira, 1° de março, comunicado da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), por intermédio do Ministério das Relações Exteriores, informando que aceitou o dossiê da candidatura como completo e apto a iniciar os trâmites de análise por suas instâncias técnicas.

Elaborado pelo Iphan e a Prefeitura do Rio de Janeiro, com o aporte de um qualificado corpo de especialistas contratados, o dossiê servirá como base para o trabalho de uma missão de avaliação, formada por representantes dos órgãos consultivos da UNESCO, que visitará a região portuária e o Cais do Valongo nos próximos meses. O trabalho técnico prosseguirá com a participação da comunidade e do Comitê Consultivo da Candidatura, composto por várias instituições governamentais e da sociedade civil, especialmente as representativas da preservação e valorização da herança africana.

O Iphan e a Prefeitura do Rio veem com muito otimismo a possibilidade de inscrição do Cais do Valongo na lista do Patrimônio Mundial que, uma vez concretizada, representará o reconhecimento do seu valor universal excepcional, como memória da violência contra a humanidade representada pela escravidão, e de resistência, liberdade e herança, fortalecendo as responsabilidades históricas, não só do Estado brasileiro, como de todos os países membros da UNESCO. É, ainda, o reconhecimento da inestimável contribuição dos africanos e seus descendentes à formação e desenvolvimento cultural, econômico e social do Brasil e do continente americano.

A grande porta de entrada de africanos escravizados no Brasil
O Brasil recebeu cerca de quatro milhões de escravos nos mais de três séculos de duração do regime escravagista, 40% de todos os africanos que chegaram vivos nas Américas, entre os séculos XVI e XIX. Destes, aproximadamente 60% entraram pelo Rio de Janeiro, sendo que aproximadamente hum milhão pelo
Cais do Valongo. A partir de 1774, por determinação do Marquês do Lavradio, Vice-Rei do Brasil, o desembarque de escravos no Rio foi integralmente concentrado na região da Praia do Valongo, onde se instalou o mercado de escravos que, além das casas de comércio, incluía um cemitério e um lazareto.

O objetivo era retirar da Rua Direita, atual Primeiro de Março, o desembarque e comércio de africanos escravizados. Após a chegada eles eram destinados as plantações de café, fumo e açúcar do interior e de outras regiões do Brasil. Os que ficavam no Rio de Janeiro, geralmente eram os utilizados em trabalhos domésticos, ou nas obras públicas. A vinda da família real portuguesa para o Brasil e a intensificação da cafeicultura ampliaram consideravelmente o tráfico escravagista.

Em 1811, com o incremento do tráfico e o fluxo de outras mercadorias, foram feitas obras de infraestrutura, incluindo o calçamento de pedra de um trecho da Praia do Valongo, que constitui o Sítio Arqueológico do Cais do Valongo.

O local foi desativado como porto de desembarque de escravos em 1831, quando o tráfico transatlântico foi proibido por pressão da Inglaterra – norma solenemente ignorada, que recebeu a denominação irônica de lei para inglês ver. Doze anos depois, em 1843, o Cais do Valongo foi aterrado para receber a Princesa das Duas Sicílias e Princesa de Bourbon-Anjou, Teresa Cristina, esposa do Imperador Dom Pedro II, recebendo o nome de Cais da Imperatriz.

"Com a assinatura da Lei Eusébio de Queirós, em 1850, pôs-se fim verdadeiramente ao tráfico para o Brasil, embora a última remessa conhecida date de 1872 e a escravidão tenha persistido até a Abolição, em 1888."
Em 1911, com as reformas urbanísticas da cidade, o Cais da Imperatriz foi aterrado. No entanto, durante as obras do Porto Maravilha, com as escavações realizadas no local em 2011, foram encontrados milhares de objetos como parte de calçados, botões feitos com ossos, colares, amuletos, anéis e pulseiras em piaçava de extrema delicadeza, jogos de búzios e outras peças usadas em rituais religiosos. Entre os achados raros,
há uma caixinha de joias, esculpida em antimônio, com desenhos de uma caravela e de figuras geométricas na tampa.

Em 2012, a prefeitura do Rio de janeiro acatou a sugestão das Organizações dos Movimentos Negros e, em julho do mesmo ano, transformou o espaço em monumento preservado e aberto à visitação pública. O Cais do Valongo passou a integrar o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, que estabelece marcos da cultura afro-brasileira na Região Portuária, ao lado do Jardim Suspenso do Valongo, Largo do Depósito, Pedra do Sal, Centro Cultural José Bonifácio e Cemitério dos Pretos Novos.

Em 20 de novembro de 2013, Dia da Consciência Negra, o Cais do Valongo foi alçado a patrimônio cultural da cidade do Rio de Janeiro, por meio do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). Representantes da UNESCO também consideraram o sítio arqueológico como parte da Rota dos Escravos, sendo o primeiro lugar no mundo reconhecido pela UNESCO. O evento reforçou ainda mais a intenção da cidade de lançar a candidatura do Cais do Valongo a Patrimônio da Humanidade.

O dossiê elaborado ao longo de um ano de trabalho, coordenado pelo antropólogo Milton Guran, resgata a história trágica e cruel do tráfico negreiro e analisa com detalhes a importância histórica e o simbolismo do sítio arqueológico para todos os brasileiros, em especial os afrodescendentes.

O Sítio Arqueológico do Cais do Valongo não só representa o principal cais de desembarque de africanos escravizados em todas as Américas, como é o único que se preservou materialmente. Pela magnitude do que reprsenta, coloca-se como o mais destacadi vstígio do tráfico negreiro no continente americano.

O Comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) se reuniu, neste deste domingo (2), em Cracóvia, na Polônia. Quase 200 países devem enviar representantes para o encontro, que vai durar 11 dias. O comitê analisa uma lista de sítios, como são chamados os locais candidatos a Patrimônio da Humanidade.

Este ano, são 26 os indicados a patrimônio cultural, sete a natural e um a patrimônio mundial misto. O Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, é o candidato brasileiro a patrimônio cultural.

É algo que, certamente, tem que ser celebrado, pois vai pode significar (não obrigatoriamente, dado o descaso que envolve tudo que tem a ver com os patrimônios históricos, artísticos e culturais) a preservação do local.
Se liga: Também quer dizer também uma daquelas histórias cercadas das contradições e exemplar do racismo e de tudo que diz respeito a negros e negras no Brasil. Uma história que, inclusive, já fica evidente na matéria publicada pela Folha. O artigo começa dizendo que o local é um marco da “herança africana no Brasil”, quando, na verdade, de acordo com os próprios critérios da Unesco, Valongo é um patrimônio da humanidade exatamente por ser um registro de ações criminosas da humanidade e um local de memória e sofrimento (o que o coloca na mesma categoria de patrimônios tombados como o campo de concentração de Auschwitz e a cidade de Hiroshima).

Inaugurado em 1811, o cais foi o principal ponto de desembarque de escravos africanos nas três Américas. Em 1911, o Cais do Valongo foi aterrado e redescoberto 100 anos depois, durante as obras para a Olimpíada do Rio.

Debaixo da terra estavam milhares de objetos como calçados, botões feitos com ossos, colares, amuletos, anéis, pulseiras, jogos de búzios e outras peças usadas em rituais religiosos.
De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Cais do Valongo é um local de preservação da memória, com valor extraordinário para toda a humanidade.

Na reunião, um grupo técnico do Comitê do Patrimônio Mundial também vai avaliar o estado de conservação dos locais que estão na lista. A coordenadora de Cultura da Unesco no Brasil, Rebeca Otero,
disse que os governos precisam se comprometer com a preservação.

A organização reconhece 20 patrimônios culturais e naturais no Brasil. Um deles é o conjunto de reservas do Cerrado, formado pelos parques nacionais das Emas e da Chapada dos Veadeiros, que ficam em Goiás. Esse conjunto está na pauta para ser avaliado.

O principal problema é que o perímetro de proteção da Chapada dos Veadeiros diminuiu nos últimos anos. Os técnicos do Patrimônio Mundial recomendaram que, até fevereiro deste ano, o governo federal garantisse a preservação da área, mas isso não ocorreu. Agora, os parques podem ser declarados em estado de risco e sair da lista do patrimônio. Há um mês, no entanto, o presidente Michel Temer assinou decreto ampliando a área de preservação em quase quatro vezes, passando de 65 mil para 240 mil hectares.

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

EM 87 ANOS DA ACADEMIA ATORES NEGROS A GANHAREM O OSCAR...

Ao contrário de 2016, quando atores negros foram ignorados pela Academia de Artes e Ciência Cinematográficas de Hollywood, a lista do Oscar 2017 conta com o recorde de indicações: foram seis atores negros indicados no total.

"Até agora, a premiação com mais negros indicados havia sido a de 2006, ano dos filmes Dreamgirlse Ray, com cinco."

No ano passado, todos os 20 indicados nas categorias de atuação eram brancos, o que gerou críticas nas redes sociais e a repercussão da campanha #OscarSoWhite (#OscarMuitoBranco). Para mudar essa imagem, em 2017 as seis principais categorias possuem pelo menos um diretor, atriz ou ator negro.

Este ano se destacam três filmes com atores e temática afro-americanos: Cercas, Estrelas além do tempo e Moonlight.
Entre os indicados à categoria de Melhor Filme está Cercas, estrelado por Denzel Washington e Viola Davis, ambos negros. Denzel Washington foi indicado a Melhor Ator e Viola Davis está na lista de Melhor Atriz Coadjuvante. O ator também dirigiu o filme.

O ano de 2017 também é o primeiro em que três atrizes negras são indicadas em uma mesma categoria, a de atriz coadjuvante. Além disso, Viola Davis se tornou este ano a primeira atriz negra a ser indicada três vezes ao Oscar.SIDNEY POITIER - Na noite de 13 de abril de 1964, em Los Angeles, Sidney Poitier se tornava o primeiro ator negro a ganhar um Oscar.

"Sidney Poitier KBE (Miami, 20 de fevereiro de 1927) é um ator, diretor, autor e diplomata bahamense,
nascido nos Estados Unidos".
Poitier cresceu em Cat Island, nas Bahamas. Em 1963 fez história ao se tornar o primeiro ator negro da história a receber o prêmio Oscar de melhor ator principal por sua performance no drama Uma Voz nas Sombras (Lilies of the Field) em 1963. Em 2002 se tornou o primeiro artista negro a receber um Oscar honorário pelo conjunto da obra. É pai da também atriz Sydney Tamiia Poitier.

Pelo papel do operário Homer Smith em “Lillies of the Field” (“Uma Voz nas Sombras”), Poitier subiu ao palco para receber a estatueta de Melhor Ator das mãos de Anne Bancroft. Aliás, o beijo na bochecha da atriz (branca) causou polêmica na época. Sinal de que o inédito prêmio ainda não derrubaria completamente o preconceito dentro da sociedade americana, vigente até hoje, infelizmente.

Eram tempos de debates e embates. Tempos de luta pelos direitos civis. Por igualdade racial. Em agosto de 1963, Martin Luther King anunciara que tinha um sonho, diante de quase 300 mil pessoas, em Washington. Um sonho por um dia em que todos estariam “prontos para dar as mãos e cantar as palavras de uma velha canção negra: ‘Enfim livres, livres enfim. Graças a Deus Todo-Poderoso, nós estamos enfim livres.’”

A Academia já havia premiado um artista negro antes. Em 1940, Hattie McDaniel ganhou como Melhor Atriz Coadjuvante pela governanta Mammy, humilde e fiel à patroa Scarlett O’Hara (Vivien Leigh) em “E o
Vento Levou”. Mas era o clássico negro estereotipado.

Poitier rompeu com esses padrões desde o início. Conduziu a carreira de forma altiva. Não aceitou o jogo da indústria e recusou diversos papéis de negros típicos em Hollywood. Com isso, virou exemplo, ganhou respeito do meio cinematográfico e admiração de seus pares de cor.

Em 1959, foi indicado ao Oscar de Melhor Ator pela atuação em “Acorrentados” (“The Defiant Ones”). Antes, já tinha interpretações de destaques, em filmes como “Blackboard Jungle” (1955) e “Edge of the City” (1957). A consagração definitiva veio em 1964, com “Lillies of the Field” – depois, brilharia no ótimo “Ao Mestre com Carinho” (“To Sir, with Love”), de 1967.

Nas poucas palavras de seu breve discurso, Poitier agradeceu ao diretor Ralph Nelson e ao roteirista James
Poe.

Somente 38 anos depois um negro voltaria a ganhar a estatueta de Melhor Ator: Denzel Washington, por “Dia de Treinamento”, no Oscar de 2002. Justamente na cerimônia em que Sidney Poitier seria homenageado pelo conjunto da obra.

Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.

Os 16 atores negros vencedores do Oscar

Se liga O Oscar começou a ser entregue em 1929. A primeira indicação para uma atriz (ou ator) negra veio apenas dez anos depois. Hattie McDaniel ganhou pelo papel de Mammy, em '...e o vento levou'. McDaniel
foi muito criticada durante sua carreira por interpretar papéis de domésticas que, segundo movimentos de direitos civis, perpetuavam estereótipos.

Hattie McDaniel
Sidney Poitier,
Louis Gossett, Jr.
Denzel Washington
Cuba Gooding, Jr;
Whoopi Goldberg;              

Halle Berry;
Jamie Foxx;
Morgan Freeman;
Forest Whitaker ;
Jennifer Hudson;
Mo'Nique;
Octavia Spencer;
Lupita Nyong'o;
Viola Davis;


Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte: history.com/news.bbc.co.uk

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Racismo e luta de classes: Dr. Frantz Fanon

"Frantz Fanon morreu em 1961, quando tinha 36 anos, o pensamento do autor ainda é discutido por acadêmicos e ativistas políticos em diferentes línguas e regiões. Entretanto, essa presença no cenário
atual é acompanhada por intensos debates sobre o que se considera como estatuto central de sua obra, e principalmente, quais categorias apresentadas por ele podem ser apropriadas como elementos relevantes para a compreensão da sociedade contemporânea" (MBEMBE, 2011 e GORDON, SHARPLEY-WHITING E WHITE, 2000).
“Nossos pais os Gauleses”
Frantz Omar Fanon nasceu em Julho em 20 de julho de 1925, no seio de uma família de classe média em Forte de France, Martinica, região francesa no Caribe. A Martinica ainda hoje é considerada um departamento ultramarino insular francês, e os seus habitantes – a grande maioria composta por negros que se sentem franceses – aprendiam nas escolas assimiladas, frequentadas por Fanon, que os “pais de sua Pátria” eram os Gauleses. Em 1944, quando a França estava invadida pela Alemanha nazista, Fanon alistou-se no exercito francês para lutar contra a invasão, mas lá no front de guerra, junto aos franceses brancos nascidos na metrópole, percebeu que a sua cor o impedia de ser visto como igual pelos seus “compatriotas”. Por mais que pensava, sentia ou desejasse o contrário, em face do Branco era visto apenas como Preto:

Subjetivamente, intelectualmente, o antilhano se comporta como um branco. Ora, ele é um preto. E só o perceberá quando estiver na Europa; e quando por lá alguém falar de preto, ele saberá que está se referindo tanto a ele quanto ao senegalês. (FANON, 2008:132)

"A percepção deste não-reconhecimento em face do branco francês exerceu grande influência em Fanon impactando os seus futuros escritos e prática política."

Os chamados estudos culturais ou pós-coloniais, embasados em uma perspectiva pós-estruturalista, têm retomado a leitura fanoniana a partir de uma leitura do colonialismo como “discurso” (ou paradigma) implícito à sociedade moderna, promotora de experiências racializadas. A contribuição central de Fanon,
segundo esta corrente, seria a ruptura com uma noção essencialista de identidade (hegeliana) rumo a uma noção aberta aos jogos fluidos – como contraposição a ontológicos – da identificação (HALL, 1996 e 2009; APPIAH, 1997 e ÁLVARES, 2000).

Outra linha de estudos um pouco diversa desta anterior é uma corrente originalmente surgida na América Latina, autodenominada pensamiento decolonial. Esta vertente, também conhecida como proyecto decolonial ou proyecto de la modernidad/colonialidad, visualiza em Fanon a possibilidade de analisar o
capitalismo (Sistema-Mundo) contemporâneo a partir de uma “perspectiva do Sul”. Pautadas em uma crítica ao pós−modernismo e o pós−estruturalismo, pelo que atribuem ser uma demasiada vinculação desses estudos à “matrizes de poder colonial”, esta corrente difere dos Estudos Pós-Coloniais ao divergir da ideia de superação do colonialismo que o termo “Pós” atribui.

Além disso, identifica nos estudos pós-coloniais uma subestimação dos aspectos econômicos da realidade social, em detrimento das dimensões culturais e subjetivas. Propõe nesse sentido, a noção de Heterarquia – relação entre as várias esferas sem uma atribuição prévia de hierarquia – entre economia, cultura, subjetividade e política (DUSSEL, 1977; MINGOLO 2000; MALDONADO-TORRES, 2005 e QUIJANO 1991, 1998, 2000).

A terceiro-mundismo e a luta de classes- Em dezembro de 1960, depois de circular por várias partes do continente africano fomentando a necessidade de expandir a guerra de libertação a outros países, no auge de sua atuação política, Fanon inicia a escrita de um livro que problematizaria a relação da revolução argelina com outros povos do Continente. No entanto, para a sua surpresa é diagnosticado é diagnosticado com leucemia, e percebe, mediante aos estágios a medicina se encontra nesta época, que lhe resta pouco tempo de via.

Inicia assim a escrita apressada do que sabidamente seria o seu livro, alterando o curso da escrita de forma a sintetizar seus acúmulos teóricos antes que seu tempo esgote. É neste contexto, que será escrito em questão de meses o famoso Les damnés de la terre. Enquanto escrevia o livro e revisava os trechos, chegou
a voar para Itália a fim de encontrar Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir, para encomendar a Sartre o Prefácio do seu livro.

O livro trata, entre outros assuntos, dos conflitos implícitos ao colonialismo e à luta anticolonial. Alerta que a violência é parte fundante da sociedade colonial, estando presente em todas as suas expressões materiais e simbólicas. Constata ainda que a superação da lógica colonial só seria viável náquelas situações em que os colonizados empreendessem força material proporcionalmente capaz de abalas as forças sociais a ponto de fazer surgir um homem novo:

A descolonização se propõe a mudar a ordem do mundo, é, como se vê, um programa de desordem abosoluta(…)é um processo histórico: isto é, ela só pode ser compreendida, só tem inteligibilidade, só se torna translúcida para si mesma na exata medida em que discerne o movimento historicizante que lhe dá forma e conteúdo. A descolonização é o encontro de duas forças congenitamente antagônicas, que têm precisamente a sua origem nessa espécie de substancialização que a situação colonial excreta e alimenta. (…) a descolonização é verdadeiramente a criação de homens novos. Mas essa criação não recebe a sua legitimidade de nenhuma potência sobrenatural: a “coisa” colonizada se torna homem no processo mesmo pelo qual ela se liberta. (FANON, 2010:52-3)

Num diálogo constante com os movimentos internacionais ligados ao terceiromundismo, Frantz Fanon alerta que mesmo na África, o processo de revolução nacional não podem ignorar as especificidades de entificação da capitalismo, a composição das diferentes de classes sociais e seus interesses. Os países coloniais são economicamente mente mortal, tal como descreve Hegel em sua metáfora do senhorio e do servo, e que parecia impossível atrasados e subdesenvolvidos a partir da relação histórica com suas metrópoles sanguessugas. Esta realidade relega as colônias uma produção de bens primários voltados à exportação, uma classe operária insipiente, um campesinato palperizado e analfabeto e uma burguesia local subordinada à interesses externos.
Acrítica à negritude

"Os povos colonizados, não seguiram inertes à colonização e buscaram desenvolver estratégias diversas de resistência e emancipação. É o Branco que cria o Negro, mas é, por outro lado “o negro que cria a negritude” (FANON, 1968:20), afirmando-se na luta por um reconhecimento objetivo".

A pesar de reconhecer a legitimidade histórica da luta anti-racista e dos movimentos de afirmação cultural (FANON, 2010:244), na medida em que promovem o questionamento dos valores racistas europeus, Fano
alerta que muitas vezes a luta anti-racista – classificada por ele como “racismo anti-racista” – ou de afirmação cultural não consegue superar os limites e contradições históricas que a forjaram.

O “conceito de negritude” admite, “é a antítese afetiva, senão lógica, desse insulto que o homem branco fazia á humanidade”. E completa: “Essa negritude lançada contra o desprezo do branco se revelou, em certos setores, como o único fator capaz de derrubar interdições e maldições” (FANON, 2010:246). No entanto, essa contraposição, historicamente necessária, levou o movimento a um impasse: “ à afirmação incondicional da cultura europeia sucedeu a afirmação incondicional da cultura africana” (Idem).

Se o colonialismo definiu como essencialmente negro a emoção, o corpo, a virilidade, ludicidade, mas, sobretudo, classificou hierarquicamente estes elementos como inferiores, frente à não menos fetichizada (e ilusória) imagem criada para o Europeu – Razão, civilização, cultura, universalidade -, o movimento de negritude, sem romper com estes fetichismos, apenas inverteu os polos da hierarquia, passando a considerar como positivo àquilo que o colonialismo classificou como inferior.

Assim a inocência, musicalidade, o ritmo “nato” do africano, passam a ser afirmados pelos movimentos anti-racistas como elementos essencialmente africanos, mas agora, vistos como superiores e desejáveis frente à frieza tecnicista ocidental (SENGHOR, 1939). As “almas da gente negra” passam a ser classificadas como essências metafísicas, ou no mínimo históricas, que precisariam ser resgatas e afirmadas para que o negro se reencontre consigo próprio.

Para Fanon, está aí uma armadilha que o movimento de negritude – e talvez o conjunto do movimento negro contemporâneo – corria o risco de ficar preso. Esta “essência negra” que se busca restaurar ou libertar, é na verdade uma invenção do racismo colonial, a serviço da desumanização do africano escravizado nas Américas e aceitá-la, é afirmar retoricamente a rejeição aos pressupostos coloniais, sem rejeitá-los de fato. (FANON, 2010:253)

Os seres humanos são o que fazem e como fazem, mas ter como objetivo último a preservação ou resgate cultural é inverter a ordem de prioridade do mundo, tomando o secundário como primário, valorizando o produto em detrimento do produtor. Esta postura, inicialmente legítima, poderia segundo Fanon levar os movimentos anti-racistas a alguns impasses perigosos, tais como: meter todos os negros no mesmo saco; busca por um passado glorioso em detrimento de uma realidade objetivamente desumanizadora; valorização acrítica e apaixonada de “tudo que for africano”, acompanhada por uma negação quase religiosa de tudo que for “ocidental”; aceitação do pressuposto racista de que a cultura negra é estática e fechada, portanto morta; valorização cultural tomada por central.

Para Fanon seria necessário ir além da – e não se limitar à – afirmação das especificidades culturais historicamente negadas, mas não se limitar a ela. Não é a cultura – historicamente negada – que deve resistir mas sim as pessoas que a produzem, a partir de seus referenciais que estão em constante transformação. É certo que o colonialismo nega ao colonizado a possibilidade de entificação de uma cultura autêntica, e por isto, a emancipação cultural, passa pela emancipação das pessoas que produzem e se produzem pela cultura. É o colonialismo em seu ato negador e reificador que atribui uma ausência de movimento histórico à cultura colonizada, engessando-a em catálogos antropológicos, vendo-as e tratando-as como elementos mortos…

Fanon no século XXI- Recuperar Fanon na atualidade é como afirma Wallerstein (2008:11), apostar numa “luta cujo desfecho é completamente incerto”. Muitos acontecimentos históricos posteriores à morte de Fanon nos levantam o questionamento de como ele analisaria ou confrontaria o colonialismo no século XXI? Os retrocessos políticos observados na Argélia com a islamização do Estado após a independência; as diversas e sucessivas ditaduras e decapitação de lideres anti-imperialistas nos países africanos recém-libertos; a queda do Muro de Berlin e o surgimento de uma geração para o qual a perspectiva de futuro está
ausente; as conquistas democráticas ( relativas) obtidas sem violência nos países subdesenvolvidos; e mesmo as drásticas alterações na sociedade moderna, provocada pela reestruturação produtiva e sua crescente financeirização da economia e readequação das fronteiras nacionais; o surgimento dos Novos Movimentos Sociais, suas viradas paradigmáticas e o próprio Neoliberalismo. Todos estes novos conflitos e contradições, impensáveis à época de Fanon levantam o questionamento se o autor estaria ultrapassado.

Do genocídio perpetrado pelo Estado de Israel aos palestinos à Erupção da Primavera Árabe; do alto e desproporcional índice de mortalidade materna das mulheres negras no Brasil, em relação às mulheres brancas às políticas higienistas de faxina urbana, tirando de circulação a força usuários de drogas e moradores de rua indigestos à especulação imobiliária de determinadas áreas; da persistência do racismo no Brasil ao atual e violento processo de extermínio vivenciado pela juventude negra no Brasil; da manutenção atualizada da “exploração do homem pelo homem”, reconfigurada e ressignificada não para se desfazer, mas para se intensificar… Em todos estes e outros problemas sociais presentes e latentes, colocam-nos diante de dilemas para os quais Frantz Fanon tenha muito a dizer.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:ÁLVARES, Cláudia. “Teoria pós-colonial, Uma abordagem sintética” in Revista de Comunicação e Linguagens - Tendências da Cultura Contemporânea”, J. Bragança de Miranda e E. Prado Coelho (org.), Lisboa, Relógio de Água, 2000/APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai: a África e a filosofia na cultura / Kwame Anthony Appiah: tradução Vera Ribeiro; revisão de tradução Fernando Rosa Ribeiro. – Rio de Janeiro: Contratempo, 1997/BHABHA, Homi K. O local da cultura / Homi K. Bhabha, tradução de Myriam Ávlila, Eliana Lourenço de Lima Reis, Glauce Renata Gonsalves – Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. 395 p. Coleção Humanitas./BRAH, Avtar Difference, Diversity, Differentiation. In:. Cartographies of Diaspora: Contesting Indentities. Longon/New York, Routledge, 1996, capítulo 5,pp.95-127.

domingo, 25 de junho de 2017

Zaire; As águas que caem pelo oceano”

Falar do Zaire é reviver a memória da glória da história do reino do Kongo, que sempre teve intelectuais
europeus a serviço de missionários para que escrevessem a história do reino sem entender a dimensão sócio-cultural e espiritual comunitária. No entanto, sem o olhar crítico, nenhum de nós jovens entenderá o processo de registro de nossa história.

Os historiadores ignoravam a sabedoria ancestral que se transmite pela oralidade. A partir daí, começava o preconceito contra os kongos e seus saberes. Pantoja, na apresentação do livro do Patrício Batsîkama, “O reino do kongo e a história de Angola”, escreveu: “o uso das tradições orais na reconstrução dos percursos históricos faz parte da renovada historiografia africana” PANTOJA, 2009.

No passado, Zaire ou Nzadi que significa “as águas que caem pelo oceano”. Este é o berço do poder reconhecido pelos estudiosos da história da África. E, para o nosso conhecimento, Zaire não foi descoberta por nenhum estrangeiro, bem como Ngola-Angola também não foi descoberta, apesar de muitos “professores” de História de Angola, reproduzirem o discurso eurocêntrico sem questionar.

Sabe-se que os europeus exploraram e levaram para Europa máscaras e artefatos culturais bantus. Aliás, essa prática era vista como normal. As figuras de múmias estão exposta nos museus franceses, alemães e ingleses. Nesta arena cultural das práticas nativas religiosas, temos que referenciar a profetisa Kimpa Vita, como negra e líder espiritual híbrida, pois ela tinha dentro de si a africanidade e se apropriou dos conhecimentos bíblicos, pregando os valores nativos bantus.

Ela contextualizava ao seu povo, os rituais africanos e dava importância ao seu povo. Imaginem o que aconteceu depois? Simplesmente, ela foi queimada viva numa fogueira. Kimpa Vita era profetisa e líder espiritual do chamado “antonianismo”, que pregava a restauração dos valores tradicionais dos Kongos. Alguns desses valores tradicionais seriam o respeito à ancestralidade e aos mais velhos e a terra “Santa” Mbanza-Kongo.

- No entanto, Nzadi-Zaire contém uma das histórias mais antigas dentro da África Negra envolvendo os “Mani e Ntotilas-Reis ou chefes” na língua Kikongo, língua oficial no Reino do Kongo. Até hoje, a língua continua sendo a única herança viva no Zaire, pois é a língua “materna” de muitos cidadãos desta etnia.

O que aconteceu é que Nzadi- Zaire foram invadidos pelos aventureiros europeus. Confrontar o historiador
Santos sobre o assunto lembrando que Zaire foi a entrada do cristianismo europeu, pois o primeiro aventureiro chegou “na foz do rio Nzadi- Zaire”, o tal Diogo Cão juntamente com os missionários e militares. Desde então, vale destacar que ali começava o desprezo das nossas práticas nativas religiosamente falando, e da nossa espiritualidade ancestral, que ficou simplesmente ofuscada em prol do cristianismo.

Um dos estudiosos do reino do kongo escreveu que há três linhagens “Nsaku, Mpânzu e Ñzînga”. Porém, Raphaël Batsîkama Patrício Batsîkama, os autores de um artigo “Estruturas e Instituições do Kongo” apontam que as três linhagens são os poderes locais;

Aparentemente, parece existir divisão de poderes no antigo reino do Kôngo:

“NSAKU: Sacerdócio, Presbiteriano; Religião (e Magia), Consagração das Autoridades, Diplomacia, Constituição, Poder Judiciário, Poder Legislativo.

“MPANZU: Guerra, Manufatura, Segurança da Corte, Segurança do País, Direito de Eleger

“NZINGA: Administração, Justiça, Poder Executivo (limitado), poder político (limitado), Classe das Elites das Migrações”.

São essas três linhagens que estruturam a gerência pública. Tudo indica que os Nsâku e os Mpânzu seriam os verdadeiros detentores do poder executivo que exercem através da sua Mãe Nzînga (BATSÎKAMA & BATSÎKAMA, 2011 p. 9).

Esses poderes, na atualidade, não existem mais, até porque a monarquia já não tem poder. Poderia nos dizer que Zaire “modernizou-se”, os representantes locais reconhecidos tradicionalmente como Sobas, não têm poder decisório no Zaire. Na verdade, no que se refere a esses poderes é uma visão anterior dos europeus e dos autores do artigo, confrontaram com várias fontes europeias.

"O cristianismo é intolerante, principalmente, com as práticas religiosas africanas e nativas. Isto é de conhecimento de estudiosos como, por exemplo, de Mudimbe, 2013, que enfatiza que os europeus que chegavam ao solo africano não respeitavam a cultura local."

O que resta das práticas nativas será que ainda há algo? Além da “apropriação do patrimônio africano” o
que resta de nós? Um dado que restou é que os bakongos apropriaram-se do cristianismo inclusive o estudioso que fala Mudimbe na sua obra “A invenção da África”.
A instabilidade e as revoltas que assolaram o Congo até 1965 culminaram com a tomada do poder por parte do tenente-general Mobutu Sese Seko, à época comandante e chefe do Exército congolês. Mobutu autodeclarou-se presidente por cinco anos e em 1970 consolidou o seu poder ao ser eleito presidente sem oposição. Em 1971 foi adoptado o novo nome do Estado, com a proclamação oficial da República do Zaire. Este nome e os novos símbolos nacionais mantiveram-se até 1996, quando em finais da Primeira Guerra do Congo Mobutu foi derrubado e fugiu do país. Laurent-Désiré Kabila assumiu a presidência e recuperou a denominação anterior do país,República Democrática do Congo, que se manteve desde então
Hoje Zaire é uma província que se localiza na parte noroeste de Angola, faz fronteira com Oceano Atlântico, Bengo e Uíge. Infelizmente, a província do Zaire carece de muita coisa, seu povo sobrevive da pesca e agricultura, apesar de, no seu subsolo como dizem, ter muito petróleo e outros recursos naturais… Nossa terra é a terra dos nossos ancestrais os Ntotilas – todos os Reis/ Rainhas.
Um afro abraço.

Claudia Vitalino

fonte:BATSIKAMA, Mampuya Cipriano Patrício. As origens do Reino do Kongo. Mayamba editora, Luanda, 2010./MUDIMBE, Y.
V . A invenção de África. Gnose, filosofia e a Ordem do Conhecimento.Tradução Ana Madeiros. Coedição Edições, Lda e Mulemba, Angola e Portugal, 2013./SANTOS, Sousa Egídio de António. Esboço da História de Angola como poderia silenciar-me? Editora Kilombelombe, Luanda, 2012./ (Ver Santos, 2012, p. 66. E seguintes. Esboço da história de Angola)./ MUDIMBE, Y. V . A invenção de África. Gnose, filosofia e a Ordem do Conhecimento. Tradução Ana Madeiros. Coedição Edições, Lda e Mulemba, Angola e Portugal, 2013.

domingo, 18 de junho de 2017

O movimento racial nos EUA:Os Panteras Negras

Panteras Negras é o nome de um partido negro revolucionário que foi fundado nos Estados Unidos
Em meados do século XX, os Estados Unidos eram um país permeado por práticas racistas contra os
negros. Estes tinham lugares específicos para sentar no ônibus, andar nas ruas e locais típicos para frequentar, onde não se misturassem com os brancos. Em meio a discriminação, surgiram alguns nomes importantes para a conquista de direitos civis, sociais e políticos para os negros, como Martin Luther King e Malcolm X, por exemplo. Outros dois importantes nomes para o movimento dos negros nos Estados Unidos foram Huey Newton e Bobby Seale. Eles foram responsáveis por fundar, em 1966, o Partido dos Panteras Negras.

Denominados inicialmente de Partido dos Panteras Negras para a Autodefesa, o grupo passou a adotar o marxismo como orientação política, buscando interligar a perspectiva da luta de classes entre burguesia e trabalhadores articulada com o contexto da luta racial nos EUA. Isso levou inclusive à reivindicação de uma indenização por parte dos capitalistas e do Estado dos EUA pelos séculos de escravidão a que os africanos estiveram submetidos.


Dessa forma, os Panteras Negras entendiam a mão de obra escrava como formadora da riqueza do principal país capitalista do século XX. Por isso, também divulgavam a necessidade de realizar a expropriação dos meios de produção dos capitalistas brancos. O contato com as posições políticas defendidas por Mao Tsé-tung em seu Livro Vermelho serviram ainda para o grupo se ver como uma vanguarda na luta do movimento negro estadunidense.

Uma das formas de ação dos Panteras Negras era o armamento das comunidades negras. Tal posicionamento era decorrente dos constantes atos de violência e brutalidade policial a que estavam submetidos cotidianamente. Por isso, a ação inicial do grupo era contra uma das principais instituições repressivas do Estado: a polícia. Inúmeros foram os casos de confrontos armados entre os Panteras Negras e as forças policiais, resultando em mortes tanto entre os militantes quanto de policiais.

Os Panteras Negras se envolveram em vários conflitos com a polícia por causa de suas manifestações. A década de 1960 foi a principal neste quesito. Esses confrontos com a polícia, por vezes, terminavam em tiroteios com mortes para ambos os lados. Muitos aconteceram na Califórnia, mas também em Nova York e Chicago. Em uma dessas ocasiões, um dos fundadores dos Panteras Negras, Huey Newton, feriu fatalmente um policial. Foi, então, imediatamente preso pelo assassinato de um policial, preconizando o fim do movimento revolucionário.

Não só Huey Newton, mas também outros membros do Partido dos Panteras Negras foram presos sob
acusações de atos criminais. O crescente número de prisões esvaziou gradativamente a ação do partido. Por outro lado, a polícia reagia com, cada vez mais, severidade. A hostilidade empregada foi tamanha que o próprio Congresso abriu investigações sobre a ação policial. De toda forma, os Panteras Negras foram reprimidos, sua liderança dissolvida e o movimento perdeu a simpatia dos negros. A mudança no cenário fez com que os remanescentes do Partido dos Panteras Negras abandonassem a violência das reivindicações e adotassem estratégicas políticas convencionais e a prática de serviços sociais para a população negra. Com atividades mais discretas, porém mais funcionais para suprir as carências dos negros, o Partido dos Panteras Negras manteve-se ativo até a década de 1980.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

Fonte:http://www.marxists.org/history/usa/workers/black-panthers/

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