UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Iemanjá - Lenda, Mito e Sincretismo Religioso

Sincretismo é a fusão de diferentes doutrinas para a formação de uma nova, seja de caráter filosófico, cultural ou religioso. O sincretismo mantém características típicas de todas as suas doutrinas-base, sejam rituais, superstições, processos, ideologias e etc.

Etimologicamente, a palavra "sincretismo" se originou a partir do grego sygkretismós, que significa "reunião das ilhas de Creta contra um adversário em comum", que por sua vez foi traduzido para o francês syncrètisme, dando origem, consequentemente, à variante na língua portuguesa. 
No Brasil, a orixá goza de grande popularidade entre os seguidores de religiões afro-
brasileiras e até por membros de religiões distintas. Em Salvador, ocorre anualmente, no dia 2 de fevereiro, a maior festa do país em homenagem à "Rainha do Mar". A celebração envolve milhares de pessoas que, trajadas de branco, saem em procissão até o templo mor, localizado no bairro Rio Vermelho, onde depositam variedades de oferendas, tais como espelhos, bijuterias, comidas, perfumes e toda sorte de agrados. Todavia, na cidade de São Gonçalo, os festejos acontecem no dia 10 de fevereiro.

Outra festa importante dedicada a Iemanjá ocorre durante a passagem de ano no Rio de Janeiro e em todo litoral brasileiro. Milhares de pessoas comparecem e depositam no mar, oferendas para a divindade. A celebração também inclui o tradicional "banho de pipoca" e as sete ondas que os fiéis, ou até mesmo seguidores de outras religiões, pulam como forma de pedir sorte à orixá. Na umbanda, é considerada a divindade do mar.

MITOLOGIA
Iemanjá (no ioruba Yèyé omo ejá; Yemọjá na Nigéria, Yemaya em Cuba, ou ainda Yemanjá ou Yemonjá no Brasil; ver seçãoEtimologia) é o orixá africano do povo Egbá divindade das águas doces e salgadas, seu culto principal situava-se em Abeokuta no rio Ògùn. É também conhecida no Brasil pelos epítetos Iyá Ori, Mãe d'água, Rainha do Mar, Sereia, Inaê, Aiucá, ou Maria princesa do Aioká, sendo reverenciada no Candomblé, Santeria, Umbanda, Xangô do Recife, Batuque, Xambá, Culto Tradicional de Ifá, Regla de Ocha, Omolokô, Terecô, Vodu haitiano e Vodu da Luisiana. É conhecida popularmente como Dona Janaína em especial na Umbanda É identificada no jogo do merindilogun pelos odus ejibe e ossá. É representado no candomblé através do assentamento sagrado denominado igba yemanja. Manifesta-se em iniciados em seus mistérios (eleguns) através de possessão ou transe, ato em que os orixas nas palavras de R. S. Barbara: "(...)vem para dançar e mostrar os seus poderes, representando em gestos suas ações míticas"

No Brasil desenvolveu profunda influência na cultura popular, música e literatura, adquirindo no processo de consolidação da cultura brasileira cada vez mais aspectos sincréticos às influências étnicas do novo mundo, ou que neste se encontraram, se tornando personagem mítico mais ilustrativamente brasileiro do que ancestral africano, conforme pode ser observado através de sua representação por diversos intelectuais, artistas e o folclore dos populares que em sua imagem reuniram as "três raças", que figura na Dona Janaína uma personalidade a parte, sedutora, sereia dos mares nordestinos, com cultos populares simbólicos que muitas vezes não expressam necessariamente uma liturgia real, esta última ainda conservada rigorosamente pelos cultos afro-brasileiros. Nessa visão, segundo Bernardo, “(...)é mãe e esposa. Ela ama os homens do mar e os protege. Mas quando os deseja, ela os mata e torna-os seus esposos no fundo do mar”

LENDA :Os mitos de Iemanjá assim como os de muitos outros orixás sobreviveram e ainda sobrevivem especialmente através da oralidade, na sociedade iorubá o "contador de histórias" tinha um papel muito importante assim como o próprio mito, o ato de narrar

segundo E. Pereira e N. Gomes, "é uma prática social que permite aos indivíduos criarem laços entre si e com o mundo, independente de classe e modelo social.A sociedade iorubá é sustentada pelo mito, ela não é nutrida pela visão histórica, "é pelo mito que se alcança o passado e se explica a origem de tudo, é pelo mito que se interpreta o presente e se prediz o futuro, nesta e na outra vida. Como os iorubás não conheciam a escrita, seu corpo mítico era transmitido oralmente", apresenta R. Prandi.

R. M. Portz, diz que ao se passar a oralidade para a forma escrita "se perde, mas também se ganha", pois embora a história em forma escrita perca a flexibilidade da narrativa natural, permite a permanência de seu registro e divulgação para meios e contextos diferentes do qual é oriunda. Um lado negativo, menciona Portz, é que a partir de quando a história assume a forma escrita estará sujeita a consagrar-se comoverdadeira ou legítima, o que, muitas vezes, impede a valorização de diferentes versões orais por admitir-se que existe apenas uma forma correta de contar os acontecimentos de uma história ou por ignorar-se que existe criatividade dos narradores orais e que a tradição se renova, sendo o passado modificado pelo presente.

Antes de começarmos a abordar a sua mitologia é muito importante ressaltar que Iemanjá, assim como muitos orixás, teve boa parte de sua mitologia construída no processo de diáspora, em novos territórios, principalmente com o sincretismo de novas crenças e encontros com outros orixás. Para S. Poli, "A Yemanjá que conhecemos no Brasil, segundo vemos na obra de Verger, reúne elementos das divindades Yorubás Yemọja, Yeyemowo e Yewa (e outras divindades menores ligadas às águas das várias cidades yorubás que se encontravam através de seus filhos da diáspora, desde a época das senzalas).

Os principais relatos mitológicos de Iemanjá se desenrolam com os orixás primordiais da
criação iorubá do mundo. Filha da união conturbada de Olorun e Olokun (sendo esta última uma divindade feminina em Ifé e masculina no Benim ) e irmã de Olossa e Ajê Salugá. Olokun pelo caráter instável e destrutivo foi atada ao fundo do oceano em seus domínios após uma tentativa de dilúvio frustrada por Olorun, E. L. Nascimento menciona ao referir-se ao temor aos aspectos anti-sociais ou negativos dos Orixás femininos, "Iemanjá, igualmente,representa em seu aspecto perigoso a ira do mar, a esterilidade e a loucura".Não obstante, é muito frequente referências a natureza benéfica de Iemanjá, L. Cabrera assim defende: "Sem deformar essa definição encantadora e irrefutável, podemos imaginar Iemanjá emanada de Olokun, com seu poder e suas riquezas, mas sem as características tremebundas que o associam mais à morte do que à vida, como sua manifestação feminina - Iemanjá é muito maternal - e benéfica"

P. Verger aponta sua primeira união com Orunmilá, o orixá dos segredos (essa união é amplamente celebrada no culto de ifá afro-cubano com diferentes itans, mas atualmente negada pelos seguidores do culto de ifá nigeriano ), relação que pouco durou uma vez que Orumilá a expulsa e a acusa de quebrar o Ewo que proíbe o acesso de mulheres aos Odus e o manuseio dos objetos sagrados de Ifá. L. Cabrera assim registra a sequência desse mesmo itan: "Orunmilá teve de assistir a uma reunião de dezesseis awós, convocada por Olofi.Ela ficou em casa e a todos que iam consultar seu marido, em vez de dizer-lhes que esperassem sua volta, ela fazia passar adiante e adivinhava para eles. Seus vaticínios tiveram tamanho êxito, seus ebós alcançaram tão bom resultado, que o povo começou a dizer que Iemanjá era tão ou mais competente do que Orunmilá, de modo que, quando este voltou, todos lhe pediam quem Iemanjá olhasse para eles. Orunmilá explicava que as mulheres não podem jogar Ifá. Eles iam embora... e não voltavam mais".

Posteriormente Iemanjá foi casada com Olofin Oduduwa criador do mundo e rei de Ifé, com a qual teve dez filhos. Alguns dos nomes enigmáticos de seus filhos parecem corresponder a Orixás, Verger apresenta dois exemplos: "Òsùmàrè ègò béjirìn fonná diwó" (o arco íris que se desloca com a chuva e guarda o fogo nos seus punhos), e "Arìrà gàgàgà tí í béjirìn túmò eji" (o trovão que se desloca com a chuva e revela seus segredos). Iemanjá cansada da vivência na cidade de Ilê Ifé governada pelo marido decide-se fugir para o Oeste, para a "terra do entardecer". Antes de viver no mundo Iemanjá recebera de Olokun, sempre precavida pois "não se sabe jamais o que pode acontecer amanhã", um vasilhame contendo um preparado mágico com a recomendação que se algum caso extremo se sucedesse, Iemanjá o quebrasse no chão. Iemanjá que já havia se instalado no entardecer da Terra foi surpreendida pelo exército de Olofin Oduduwa que estava a sua procura, longe de se deixar capturar, quebrou o vasilhame com o preparado conforme as indicações que recebera. Nasceu no mesmo lugar um rio que levou Iemanjá novamente para o Okun, os oceanos de Olokun onde foi acolhida.

Outro mito sugere que foi casada com Okere, rei de Xaki, cidade localizada ao norte de Abeokuta. Este mito parece complementar suas andanças após a fuga de seu casamento
com Olofin Oduduwa. O mito se inicia com Iemanjá se instalando em Abeokuta que seria a terra do entardecer do mito anterior, e o desfecho muito se assemelha, com a presença do vasilhame com o preparado mágico de Olokun. Iemanjá que "continuava muito bonita", despertou o desejo de Okere que lhe propôs casamento. A união se sucedeu com a condição que Okere em nenhuma situação expusesse o tamanho da imensidão de seus seios ao ridículo. Mas Okere certo dia bêbado retorna para casa e tropeça em Iemanjá que o recrimina, e este não tendo controle das faculdades ou emoções, grita ridicularizando-lhe os seios. Iemanjá foge em disparada ofendida com o feito de Okere, que lhe persegue. Em sua fuga, Iemanjá tropeça quebrando o vasilhame que lhe foi dado e dele nasce o rio que lhe ajudará a chegar até o mar. Okere não querendo permitir a fuga da mulher se transforma numa colina que lhe barra o caminho para qualquer direção. Iemanjá uma vez com sua rota até o oceano bloqueada, clama pelo mais poderoso de seus filhos, Xangô. Assim P. Verger relata o seu desfecho: "Xangô veio com dignidade e seguro do seu poder.(...) E declarou que, no dia seguinte, Iemanjá encontraria por onde passar. Nesse dia, Xangô desfez todos os nós que prendiam as amarras de chuva. Começaram a aparecer nuvens dos lados da manhã e da tarde do dia. Começaram a aparecer nuvens da direita e da esquerda do dia. Quando todas elas estavam reunidas, chegou Xangô com seu raio. Ouviu-se então: Kakara rá rá rá ... Ele havia lançado seu raio sobre a colina Okere. Ela abriu-se em duas e, suichchchch ... Iemanjá foi-se para o mar de sua mãe Olokun. E aí ficou e recusa-se, desde então, a voltar em Terra".

- A sequência de mitos apresentada denota a passagem de Iemanjá de sua origem em
Olokun à sua transformação em um rio, justificando o seu culto em Abeokuta, e alude a uma visão que só posteriormente tomaria maior forma, relacionando-a à mãe prolífica, inclusive de filhos orixás, conforme as duas menções a Xangô.


Em África, Iemanjá é senhora de traços negros com formas bem evidenciadas e seios muito volumosos, por vezes representada grávida...No Brasil nos âmbitos populares ocorreu uma aproximação entre a figura africana e a sereia europeia branca, com seus atributos de sedução e cantos enfeitiçadores, já confundida com a Iara, a Mãe d'Água. Até o séc. XIX encontramos representações de Iemanjá na Bahia como uma senhora, expondo seus grandes seios, não aludindo em nada a figura mitológica da
sereia, no entanto neste mesmo século já nos é possível reconhecer representações que, fundem os atributos do orixá com a figura europeia...

Esse sincretismo de ideias e artístico que observa-se como por exemplo, na escultura de Carybé, também é bem visível nas representações de qualquer ponto de Salvador, em oposição com a representação distinta da Umbanda, especialmente nos estados a sudeste do Brasil, que nos apresenta uma mulher de pele branca, com longos cabelos negros e lisos e roupa azul...

Ao estudar as duas deusas, mostrou que são duas faces do mesmo arquétipo. No entanto, provavelmente para não parecer racista, não confronta Maria diretamente com Iemanjá, mas interpõe uma terceira deusa, Ísis, a grande mãe do Egito antigo, distante da realidade aqui
tratada e, portanto, figura neutra para o debate atual".

A gradação da "cor da pele" dos orixás "reflete a miscigenação racial da população que os cultua e o movimento de 'abrasileiramento' da religião. Outra interpretação da concepção do orixá, mais radical quanto à desvinculação entre a origem racial, de cor de pele e os deuses, é aquela que pensa os orixás como forças da natureza", apontam M. Moura e J. B. Santos, e acrescentam, "Nesta concepção Iemanjá é o mar, Oxum os rios, Iansã os ventos(...)", aqui fazem alusão a uma nova concepção brasileira do orixá como divindade panteísta e não de culto ancestral, o que justificaria a perda de seus traços étnicos.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.
Fonte: Deusa Iemanjá/https://www.significados.com.br/

domingo, 15 de janeiro de 2017

- Patrocínio é o Tigre da Abolição!

QUANDO TUDO ACONTECEU...
1853: Em 9 de Outubro José Carlos do Patrocínio nasce em Campos dos Goitacazes (Província do Rio de Janeiro), filho natural do padre João Carlos Monteiro e de Justina, escrava africana. - 1868: Patrocínio começa a trabalhar na Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro. - 1871: É aprovada a Lei do Ventre Livre. - 1874: Na Faculdade de Medicina, Patrocínio conclui o curso de Farmácia. - 1875: Com Demerval Ferreira publica o primeiro número do quinzenário satírico OS FERRÕES. - 1877: Entra na GAZETA DE NOTÍCIAS, onde se encarrega de A Semana Parlamentar. - 1879: Casa com Maria Henriqueta Sena, a Bibi. Inicia a campanha pela Abolição da escravatura. - 1881: Ingressa na GAZETA DA TARDE, acabando por se tornar proprietário do periódico. - 1882: A convite de Paula Nei desloca-se ao Ceará em campanha pró Abolição; dois anos mais tarde o Ceará será a primeira Província brasileira a dar a emancipação aos escravos. - 1883: Patrocínio redige o Manifesto da Confederação Abolicionista. - 1884: Publica o romance Pedro Espanhol. - 1885: É aprovada a Lei dos Sexagenários. José do Patrocínio visita Campos, onde é saudado como um triunfador. No Rio de Janeiro o funeral de “tia” Justina, mãe de José do Patrocínio, transforma-se num grandioso comício de repúdio à escravidão. - 1886: É eleito vereador da Câmara do Rio. - 1887: Deixa a GAZETA DA TARDE, funda e passa a dirigir A CIDADE DO RIO. Publica o romance Mota Coqueiro ou A pena de morte. - 1888: A 13 de Maio a Princesa Isabel assina a Lei Áurea que extingue a escravidão no Brasil; José do Patrocínio beija as mãos da Princesa. - 1889: Patrocínio publica o romance Os Retirantes. Incentiva e coordena a violenta acção da Guarda Negra do isabelismo. A 15 de Novembro a República é implantada no Brasil. - 1892: José do Patrocínio traz de França o primeiro automóvel que irá circular no Brasil. Por ter atacado, no seu jornal, o Marechal Floriano Peixoto, ditador de plantão, Patrocínio é desterrado para a Amazónia. - 1893: Proibida a publicação do periódico A CIDADE DO RIO, Patrocínio fica na miséria.- 1905: Numa homenagem a Santos Dumont, ao discursar, José do Patrocínio sofre uma hemoptise; falece pouco depois, a 30 de Janeiro.


A MÃE É ESCRAVA, O PAI É PADRE
Campos dos Goitacazes, perto do Rio de Janeiro, a Capital do Império brasileiro. Dona Emerenciana Ribeiro do Espírito Santo, senhora de terras e de escravos, é a proprietária de
Justina, uma pretinha caçada em Mina, na costa de África. Dona Emerenciana empresta Justina ao Cónego João Carlos Monteiro. E tão carinhosamente o Cónego trata Justina que,aos 15 anos, ela dá à luz um mulatinho; o qual, na pia baptismal, recebe o nome de José Carlos do Patrocínio. Corre o ano de 1853.
O Cónego não reconhece a paternidade. Aliás, sem provocar escândalo, não poderia reconhecê-la. É axioma por todos aceite, embora nele ninguém acredite, que um sacerdote é sempre um homem casto...

Mas se, por um lado, paternidade não reconhece, por outro o Cónego não empurra o filho para a senzala. Benza-o Deus, que ainda lhe sobram uns restos de ternura...

Zezinho passa a infância na fazenda paterna da Lagoa de Cima. Escravo não é, porém vai assistindo à penosa vida dos escravos e aos castigos que lhes são impostos. Sofre por eles,

em surdina pragueja muito, revolta a germinar...

NO RIO DE JANEIRO
Em Campos, Zezinho aprende as primeiras letras, instrução primária. Aos 14 anos pede e o pai autoriza que vá para o Rio de Janeiro.
Na Capital, em 1868 arranja um emprego de servente de pedreiro na Santa Casa da Misericórdia. Transitará depois para um emprego na Casa de Saúde do Dr. Batista Santos. Seduzido pelo combate contra a doença, começa a estudar Farmácia, na Faculdade de Medicina. Ajudas poucas, do pai nenhuma; basicamente é ele quem paga o próprio estudo.

Terminado o curso em 1874, logo surge um tormentoso problema financeiro: dissolvida a “república” onde vivia com vários condiscípulos, José do Patrocínio terá de alugar moradia e dinheiro para isso não tem. Muito menos para se estabelecer como farmacêutico. O seu amigo e colega Pacheco Vilanova deita-lhe a mão: convida-o a morar no bairro de São Cristóvão, na casa de sua mãe que estava casada em segundas núpcias com o capitão Emiliano Rosa Sena, homem rico, dono de terras e imóveis. Para deixar Patrocínio à vontade, o capitão propõe-lhe hospedagem gratuita contra o trabalho de dar aulas particulares a seus filhos. Patrocínio respira fundo, aceita a proposta. E passa também a frequentar o “Clube Republicano” que funciona na casa do capitão, e do qual fazem parte homens que irão deixar marcas no tempo, tais como Lopes Trovão e Quintino Bocaiúva.

A MINHA FILHA VAI CASAR COM UM MULATO?
Entre uma lição e outra, José do Patrocínio apaixona-se por Maria Henriqueta, a Bibi, uma das filhas do capitão Sena. E é correspondido. Apaixonadamente, como ele quer e gosta, não sabe outra forma de estar na vida. Quem se opõe ao romance é o capitão Sena: “A minha filha vai casar com um mulato? Nem pense nisso!...” Contudo a impetuosa Bibi não desiste do matrimónio e José entretanto arranjara um outro emprego que lhes garantirá autonomia financeira. Mais não é preciso para casarem. E casam, em 1879 os apaixonados casam, escândalo, diatribes...

PATROCÍNIO E O JORNALISMO
Um outro emprego? De 1 de Junho a 15 de Outubro de 1875, de parceria com Demerval Ferreira, Patrocínio escrevera e editara OS FERRÕES, quinzenário satírico. Em 1877 Ferreira de Araújo, proprietário do jornal abolicionista GAZETA DE NOTÍCIAS, admite José do Patrocínio como redactor. A seu cargo fica a “Semana Parlamentar”, que assina com o pseudónimo Prudhome. Em 1879 (o ano do casamento com Bibi...), na mesma gazeta inicia a sua campanha pela Abolição. Incêndio, vulcão verbal que reúne à sua volta jornalistas e

tribunos, entre os quais Ferreira de Meneses (proprietário da GAZETA DA TARDE), Joaquim Nabuco, Teodoro Sampaio, Paula Nei e muitos, muitos outros. Todos da ASSOCIAÇÃO CENTRAL EMANCIPADORA, à qual Patrocínio adere e onde passa a trabalhar graciosamente, voluntariado.

Ferreira de Meneses morre em 1881 e José do Patrocínio assume a direcção da GAZETA DA TARDE. Melhor dizendo: torna-se o novo proprietário do jornal. Como, se dinheiro não tem? Mas dinheiro não falta ao sogro, com o qual se reconciliara recentemente. É quanto basta...

Escreve artigos vibrantes; mas, a partir da Redacção, José do Patrocínio também trata de coordenar a campanha prática para a libertação dos negros, preparando e auxiliando a fuga de escravos e angariando fundos para as alforrias. Promove espectáculos ao vivo: comícios em teatros, manifestações em praça pública.

Ainda em 81 Patrocínio funda a CONFEDERAÇÃO ABOLICIONISTA e redige o respectivo manifesto que André Rebouças e Aristides Lobo também assinam.

Em 82, a convite de Paula Nei, Patrocínio visita o Ceará. É festejado como o grande líder dos oprimidos. Em 84 aquela será a primeira Província brasileira a conceder a emancipação completa aos escravos.
Em 87 Patrocínio desiste da GAZETA DA TARDE. Outra vez com o dinheiro do sogro funda e passa a dirigir A CIDADE DO RIO. Para o novo periódico conta com o apoio dos mais prestigiados jornalistas e oradores pró Abolição.

Patrocínio é também seduzido pela criação romanesca. Em 83 publicou o romance Pedro Espanhol. Em 87 o romance Mota Coqueiro ou A Pena de Morte. E em 89 publicará o romance Os Retirantes, inspirado na inclemência da seca sobre cearenses e outros nordestinos.

A MORTE DE JUSTINA
Em 1885 José do Patrocínio visita Campos dos Goitacazes. Embora prossiga o combate pela Abolição, na sua terra natal o povo já o festeja como grande vencedor.

Patrocínio regressa ao Rio e leva consigo Justina, sua mãe, velha, exausta, adoentada. Pelo menos impede que, para sobreviver, ela continue a vender fruta pelas esquinas.

Em finais do mesmo ano, no Rio, morre a velha Justina do Espírito Santo. Funeral imponente, comentado em toda a Capital. Seguram as alças do caixão o Ministro Rodolfo Dantas, o jurista Rui Barbosa e dois futuros presidentes da República que será implantada um dia: Campos Sales e Prudente de Morais. Funeral que é um público repúdio à escravidão e homenagem ao grande abolicionista José do Patrocínio.

VERBO, INCÊNDIO, VULCÃO...
Em França, Proudhon, o teórico do anarquismo, afirmara:
- A propriedade é um roubo.
No Brasil, José do Patrocínio avança um passo:
- Se toda a propriedade é roubo, a propriedade escrava é um roubo duplo, contrária aos princípios humanos que qualquer ordem jurídica deve servir.

Condensa o seu pensamento no grito de guerra Escravidão é Roubo. Máxima que não se
cansa de atirar à cara dos escravistas, infiltrados que eles andam pelos lugares mais inesperados.
Quem pensa encontrar apenas escravistas entre os conservadores, engana-se, pois entre eles surge um desassombrado abolicionista que é o Visconde de Rio Branco. Quem pensa encontrar apenas abolicionistas entre os liberais, também se engana, pois entre eles surgem empedernidos escravistas como Martinho Campos e racistas como Sílvio Romero. Algo de semelhante ocorre com monárquicos e republicanos. Alguém diz que a abolição é uma batata quente a saltar de mão em mão, e inesperadas são as mãos que a recebem e as mãos que a repudiam... Contudo, nas suas lutas, os abolicionistas foram conseguindo algumas vitórias. Em 1871 foi aprovada a Lei do Ventre Livre (iniciativa do Visconde de Rio Branco), que reconhece como livres as crianças nascidas de mães escravas. E em 1885 foi aprovada a Lei dos Sexagenários que concede a liberdade aos escravos com idade igual ou superior a 65 anos. Mas os abolicionistas não se contentam com migalhas, exigem a libertação total e imediata de todos os escravos, sem qualquer indemnização aos escravocratas.

Nada consegue deter a enxurrada verbal de Patrocínio; nomeadamente contra a ilegal escravatura de africanos recém-chegados ao Brasil. Nem sequer a figura do seu pai o sustém (talvez até o atice mais):

- Agora mesmo (...) quis Deus que eu fosse vítima de uma dor profunda. Fui rever uma lista de africanos livres, confiados à guarda de pessoas da maior excepção; africanos que, tendo sido aprisionados, tinham pelo Estado garantida a sua liberdade. Não é a primeira vez que folheio este tristíssimo documento, em que estão os nomes de pessoas de grande vulto em nossa história. Mas um nome me havia escapado. Era o nome de um sacerdote de Jesus Cristo, de um cónego honorário e pregador da Capela Imperial, condecorado com as ordens da Rosa e do Cristo, vigário da vara de Campos, examinador sinodal do bispado do Rio de Janeiro e, na época, deputado provincial por esta província, o bacharel João Carlos Monteiro. Este é o nome do meu pai! Pois bem, eu declaro (...) que estes africanos foram reduzidos à escravidão. (...) Deles proveio a escravatura de meu pai, que subiu a 92 pessoas. Estes desgraçados, por morte do senhor, foram vendidos para pagar as dívidas do homem que os havia escravizado!

Patrocínio pretende ocupar uma tribuna de prestígio para dilatar a agitação dos seus discursos. Consegue-a: em 1886 é eleito vereador da Câmara do Rio, votação maciça no seu nome.
Comentário do seu contemporâneo Américo Palha:
- Patrocínio pode olhar para testemunhar e defender o sofrimento da raça crucificada. Só ele pode chamar, gritar, ameaçar. O sangue desta raça, derramado nas senzalas, exige solidariedade humana. Exige repressão, exige justiça. Patrocínio fala pelos mártires de sua cor.
Diz Carolina Nabuco:
- Ele não faz discursos, interpreta-os com uma força extraordinária, mas têm ardor comunicativo e espontaneidade vibrante, o que ameniza a dramatização exagerada...
Conclui Oswaldo Orico:

A LEI ÁUREA
Nos princípios de 1888 o Imperador D. Pedro II viaja até à Europa; a Princesa Isabel, sua filha, assume a Regência.No dia 13 a oposição dos escravistas é vencida e a Lei Áurea (assim lhe chamam) é aprovada. Grande agitação na Capital. A Princesa vem de Petrópolis para assinar a Lei. No Paço, chuva de rosas que ela vai pisando lentamente. Começa a ser lido o texto:
- A princesa imperial regente em nome de Sua Majestade o imperador, o senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súbditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:
Art. 1°: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.
Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário.

A GUARDA NEGRA
A José do Patrocínio diz-lhe um amigo, no dia seguinte, 14 de Maio:

Só a República poderá fazer as reformas sociais e económicas que o Brasil precisa e os monárquicos rejeitam e entravam.
- Os republicanos não mexeram uma palha pela Abolição e não assinaram a Lei Áurea. Quem mexeu e assinou foi a Princesa Isabel. Sou fiel à Redentora, ela pode contar comigo. Para sempre!

O isabelismo passa a avassalar José do Patrocínio e também milhares de africanos recém-libertos. Vêem na Princesa a única e abnegada senhora que os redimira da escravidão. Arregimentados e orientados por José do Patrocínio, em várias cidades do Brasil organizam-se em Guarda Negra que dissolve, pela violência, comícios e manifestações de republicanos. Pensam mostrar assim eterna gratidão à Princesa...

DECADÊNCIA
A CIDADE DO RIO é convertida em porta-voz da monarquia e José do Patrocínio é apontado como organizador da GUARDA NEGRA. Depois do 15 de Novembro de 1889, seduzido
pelas novas propostas de reestruturação da sociedade brasileira, outra vez tenta aderir aos ideais republicanos mas é enxotado pelos adeptos do regime recém-implantado. Ao mesmo tempo os monárquicos berram que ele é um troca-tintas.


Em 92 Patrocínio vai a França e traz o primeiro automóvel que irá circular no Brasil. Um automóvel a vapor, barulho a espantar os transeuntes...

Em 93 Patrocínio regressa discretamente ao Rio. O seu jornal tinha sido fechado pelo “Marechal de Ferro”. A miséria bate à porta de Patrocínio e ele muda-se para um barracão no subúrbio.

Desiludido com a política decide-se por uma nova carreira: a de inventor. Continua a querer subir alto, mas desta vez fisicamente, e dedica-se a tentar construir um dirigível de 45 metros de comprimento e 1200 quilos de peso, o “Santa Cruz”, que jamais levantará voo.

Fome e, por arrasto, a tuberculose. Nos primeiros dias de 1905, no Teatro Lírico, numa sessão de homenagem a Santos Dumont, ao iniciar o seu discurso de saudação ao aviador, Patrocínio sofre uma hemoptise e cai para o lado. Morrerá dias depois, a 30 de Janeiro.

A 13 de Maio de 1898, já depois de assinada a Lei Áurea, quando José do Patrocínio era delirantemente aclamado pela multidão, disse-lhe o seu amigo José Marques:

- Que belo dia para morreres, Patrocínio!-
 Patrocínio é o Tigre da Abolição!
Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!
fonte:www.acordacultura.org.br/www.vidaslusofonas.pt/www.acordacultura.org.br/

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Escravidão no Brasil e suas Consequências...

População marcada no marcado...
Os anos à Lei Áurea não foram nada fáceis para os ex-escravos. Libertos, sem rumo e sem teto, os negros espalhados pelas cidades e fazendas brasileiras não receberam um tostão pelos 350 anos de trabalho forçado.

Vestida em rendas valencianas e sedas peroladas, a princesa regente procurava passagem no meio da multidão de 10 mil pessoas, na tentativa de chegar ao balcão do Paço, no Rio de Janeiro. Sob uma chuva de flores atiradas por senhoras, conseguiu subir à sacada. Eram 15 para as 3 da tarde quando entrou na sala do trono e assinou a lei 3 353 com uma pena de ouro. Do lado de fora, ao saber que a princesa Isabel havia sancionado a Lei Áurea e posto fim à escravidão, o povo explodiu em gritos, vivas, salves. Festa parecida com a que tomou a ilha de Itaparica, na Bahia: por três dias e três noites, tambores e batuques ecoaram pelas copas das mangueiras. Mas os relatos de uma velha escrava da ilha contam que, acabada a comemoração, o senhor do engenho reuniu todos os escravos e os mandou embora, um a um. Os negros partiram dali sem terra, sem comida, sem dinheiro, sem sapatos, vestidos em roupas velhas de algodão grosso. Naquela dispersão miserável começava a liberdade.

De acordo com os termos da Abolição (de 13 de maio de 1888), a lei oficializou o princípio jurídico da igualdade. "Muitos foram os que saíram dos engenhos e fazendas para buscarem a liberdade na pesca e na mariscagem, outros para seguirem Antônio Conselheiro. Houve os que se embrenharam nas matas para constituírem os novos quilombos. Para todos esses rurais, o preço da liberdade era a miséria. Para a grande maioria, no entanto, a
impossibilidade de acesso à terra tolhia os sonhos de liberdade", escreveu o historiador Ubiratan Castro de Araujo, no artigo "Reparação Moral, Responsabilidade Pública e Direito à Igualdade do Cidadão Negro no Brasil".

O regime escravocrata já estava enfraquecido desde o início do século 19, e a lei significou, na prática, o fim do sistema mercantil que vigorou no país desde a chegada do primeiro navio negreiro, em 1531. Dos cerca de 10 milhões de negros capturados em diversas regiões da África para serem vendidos como escravos destinados às Américas, aproximadamente 4 milhões desembarcaram na costa brasileira. Nagôs, jejes, angolas e benguelas foram algumas das principais etnias obrigadas a viver por aqui. Representam muito do que somos hoje: uma nação que conviveu com três séculos e meio de escravidão e apenas 126 anos de trabalho livre.

À venda.
A escravidão não é invenção dos portugueses e já existia na África. Mas o tráfico mercantil, liderado por Portugal e depois pelo Brasil, espalhou a prática em escala sem precedentes no oceano Atlântico. "Perversidade intrínseca: escravos eram adquiridos pelos traficantes em troca de mercadorias produzidas pela força de trabalho escrava", escreveu o historiador Jaime Pinsky em A Escravidão no Brasil. Eram embarcados entre 200 e 600 negros na África, a cada viagem. Vinham amarrados por correntes e separados por sexo. Sofriam, além do desconforto físico, falta de água e doenças. No século 19, dos que vinham de Angola, 10% morriam na travessia, que demorava de 35 a 50 dias.

Assim que chegavam ao Brasil, eles eram postos em quarentena, a fim de evitar mais perdas por doenças. E, para causarem boa impressão, submetidos à engorda e besuntados em óleo de palma, que escondia feridas e dava vigor à pele. Faziam exercícios para combater a atrofia muscular e a artrose. Depois, seguiam para os mercados de negros da cidade, como o Valongo, na Gamboa, região central do Rio de Janeiro. De cabelos raspados, velhos, jovens, mulheres e crianças eram avaliados pela clientela, que apalpava dentes, membros e troncos. Um viajante alemão, em viagem à Bahia no século 19, descreveu: "Assim, pelados, sentados no chão, observando, curiosos, os transeuntes, pouco se diferenciam, aparentemente, dos macacos".

A existência do mercado chegou a se tornar problema de saúde pública, porque os mercadores atiravam cadáveres de africanos em um terreno próximo. Um juiz do distrito, em 1815, ordenou aterrar a área e proibiu a prática: "Mande notificar a todos os negociantes que recolherem pretos no Valongo para que nunca mais se atrevam a lançar para ali cadáveres". Hoje, resta quase nada desses mercados. "A urbanização, apoiada pela consciência culposa, destruiu esses vestígios", afirma a historiadora Katia de Queirós Mattoso no livro Ser Escravo no Brasil.

O mesmo ofício que proibiu covas rasas no pântano do Valongo impôs, como penalidade, multa de 30 mil-réis aos armazéns responsáveis, identificados pelas marcas feitas a ferro quente na pele dos escravos. Segundo documentos do Arquivo Nacional, os negros ganhavam, ainda na África, as iniciais do traficante; e, ao chegarem aqui, as letras de seus proprietários. A cada vez que fossem vendidos, seriam novamente marcados. Dom Manuel, rei de Portugal, foi um dos primeiros a adotar essa prática dolorosa, no início do século 16, com os escravos da coroa. Também era comum gravar uma cruz no peito dos que eram batizados. E, em 1741, o governador da capitania do Rio, Gomes Freire de Andrade, determinou que os negros fugitivos, uma vez pegos, fossem marcados com um F e obrigados a usar um cordão de estacas. De modo que, se escapassem uma segunda vez, teriam como castigo adicional uma orelha cortada. As marcas e mutilações só seriam extintas com o Código Criminal do Império, em 1842.
Imensa minoria
Esse povo marcado ia tocando a vida em frente e se misturando à cultura brasileira. "A alforria e a miscigenação geraram uma população mestiça livre que gradualmente se tornou, já na época colonial, quase tão numerosa quanto a escrava, tendo limitações, entretanto, no exercício do sacerdócio, na tropa de primeira linha ou no preenchimento de cargos públicos", escrevem os pesquisadores Ida Lewkowicz, Horacio Gutiérrez e Manolo Florentino no livro Trabalho Compulsório e Trabalho Livre na História do Brasil. Segundo eles, em 1872, pardos e mulatos livres já eram maioria, ou 42% da população: 4,2 milhões, em comparação a 1,5 milhão de escravos. Ou seja, os negros estavam em vastas áreas rurais e ocupavam as ruas das principais cidades da colônia.

No cenário posterior à Abolição, surgiram tentativas de estabelecer novas relações de trabalho para esse grande contingente. "O fim da escravidão era uma possibilidade de recomeço", escreveu Ubiratan Castro de Araujo. Ele cita o caso raro do advogado Leovigildo Filgueiras, que chegou a criar uma entidade para intermediar contratos entre ex-escravos e novos patrões, a Sociedade Treze de Maio. Mas em vão: "Nem mesmo essa tentativa de precoce terciarização [criação de um setor terciário, de serviços] funcionou. Continuaram os favores, as obrigações e as clientelas". Outra experiência foi a Guarda Negra - segundo o historiador, um movimento político de apoio à princesa Isabel e ao Terceiro Reinado, que pretendia arregimentar simpatia popular e abrir frentes de trabalho onde antes só havia brancos. "Assistimos então pelos jornais baianos ao debate entre negros da Guarda e negros republicanos, que identificavam a monarquia com a escravidão. Uma vez vitoriosa a República em 1889, a Guarda Negra foi suprimida e os seus líderes mais ativos banidos para a Amazônia, como foi o caso do baiano Manuel Benício dos Santos, conhecido como Macaco Beleza."

A sociedade branca não queria perder seus privilégios. E tratou de reforçar todos os comportamentos que distanciassem os negros na hierarquia social e na divisão do trabalho. Salvador, a terceira cidade com o maior número de negros no Brasil no século 19 (a primeira era o Rio), exemplificou a recusa: "Após 1888, a sociedade baiana torna-se um corpo assentado, fechado. Suas camadas superiores assumem uma consciência, aguda como nunca antes, de tudo do que pode separar o homem branco do preto ou do mestiço. A cor da pele, antes ‘esquecida’, torna-se, entre ricos e pobres, uma fronteira nítida. O branco da terra que não teve sucesso econômico passa a ser um negro. (...) Nas relações humanas

fortalecem-se todas as regras da humildade, da obediência e da fidelidade dos séculos de escravidão", afirma Kátia Mattoso. No caso dos negros dispensados em Itaparica, por exemplo, a pesquisadora diz que "muitos atravessam a baía, refugiam-se na grande cidade, acrescentam-se a uma população marginal que tem todas as dificuldades do mundo para arranjar trabalho".

Cidade negra.

O Brasil foi o país de maior e mais longa escravidão urbana. Nas cidades, o escravo tinha mais independência do que no campo. "Ele circulava nas ruas, estabelecia vínculos com os homens livres humildes", escreveu Kátia. Havia mais chances de encontrar membros da mesma etnia, em festas e confrarias religiosas realizadas em praça pública, e a presença do senhor era menos opressiva. Os escravos, mestiços, forros, libertos circulavam fornecendo serviços, e podiam ser alugados. Os acordos com os senhores também eram flexíveis: havia escravos que recebiam somente comida e roupa, outros, "escravos de ganho", repassavam ao senhor uma porcentagem dos pagamentos feitos pelos seus clientes.

Eles vendiam doces, refrescos, frutas, aves e ovos, roupas, chaleiras, velas, estatuetas de santos, poções de amor. Ou atuavam nos demais ofícios, como barbeiros, ferreiros, quitandeiros, parteiras, doceiras, mascates, lixeiros, carregadores. Transportavam tudo nos ombros e nos braços, até pessoas - brancos brasileiros e estrangeiros acomodados em


cadeirinhas almofadadas. O dinheiro acumulado na prestação desses serviços podia um dia comprar a carta de alforria. Sabendo disso, os senhores renovavam as exigências na negociação. Uma escrava costureira, libertada em 1728, aceitou continuar servindo de graça a sua senhora. E o mulato Isidoro Baptista teve a liberdade prometida para "uma hora antes da morte" de seu senhor. Na década de 1880, sentindo o fim da escravidão, muitos senhores emitiram dezenas de alforrias de uma só vez, sob a condição de que os escravos trabalhassem mais sete anos.

Nas cidades, ficava difícil, mas possível, comprar a alforria. Nas fazendas de café ou nos canaviais, contudo, era mais raro. Os engenhos de açúcar impunham uma rotina brutal. Durante a safra, eles funcionavam por até 20 horas por dia, com 80 a 100 pessoas na lida, a maioria homens africanos. Entre plantar, limpar, colher e transportar, as funções eram distribuídas de modo que cada escravo cumprisse uma parte, mas só o engenho fizesse açúcar. Isso mesmo, no Brasil Colônia já havia uma espécie de "fordismo" tropical. Surgem cargos como mestre-de-açúcar e caldeireiro, que podiam ganhar recompensas e até salários. Escravos mulatos ou nascidos no Brasil, conhecidos como crioulos, eram favorecidos na disputa desses postos, em relação aos africanos, vindos, principalmente, da Costa da Mina, noroeste do continente, e região de Angola. "A mão de obra escrava foi a força motriz dos principais ciclos econômicos do país", afirma Gustavo Acioli, doutor em História Econômica pela USP. Em 1700, um negro adulto (de 14 a 45 anos) custava cerca de 100 mil-réis. Mas o valor variou conforme a demanda nos vários setores, em especial açúcar, algodão e café.

Segundo afirma Stuart Schwartz, historiador da Universidade de Yale, no livro Escravos, Roceiros e Rebeldes, "o que os agricultores ofereciam como incentivos, para alcançar seus objetivos, podia ser interpretado pelos escravos como uma oportunidade que talvez lhes

melhorasse a vida". Os escravos do açúcar tinham possibilidades mínimas de conquistar algum benefício, mas se agarravam a essas chances, submetidos à péssima condição que limitava sua expectativa de vida, no fim do século 18, a 23 anos, em média. As punições incluíam o chicote, as máscaras de flandres, o tronco, entre outras, mas eram raras, porque afetavam o rendimento do escravo e, de quebra, o do engenho.

A situação dos escravos não era a mesma em todo o país. No século 18, os homens trazidos para procurar fortunas de ouro e diamantes no leito dos rios de Minas Gerais levavam uma vida bem diferente daquela dos engenhos de cana. Uma mina empregava no máximo 30 escravos. Curvado, com os pés na água, o negro procurava as sonhadas pedras por horas a fio, parando somente para comer e fumar. Mas, se vivia mais isolado, o mineiro tinha mais mobilidade. "A mineração, mais que outros setores econômicos, propiciou aos escravos maior acesso à alforria e alguma mobilidade social graças à possibilidade de reunir um pecúlio", escrevem os autores de Trabalho Compulsório e Trabalho Livre na História do Brasil. Uma única pepita podia comprar a liberdade. Isso estimulou outra característica peculiar da escravidão brasileira - a existência dos senhores negros, libertos que conseguiam acumular patrimônio e ter seus próprios escravos. Embora fosse a minoria da minoria (no Rio ou em Salvador, as alforrias não passavam de 2% da população), isso acontecia, especialmente nos centros urbanos e nas minas.

Em 1888, o Brasil se tornou o último país do Ocidente a abolir a escravidão. E os ex-escravos tiveram de se virar para serem absorvidos pela sociedade e sobreviverem. Dependendo da área em que atuavam - nas minas, na lavoura, nos ofícios urbanos -, foram integrados de forma diferente ao mercado. Alguns trabalhadores da cidade tiveram a grande vantagem de dominar um ofício e, em alguns casos, contar com uma clientela. No campo ou na capital surgiram os contratos que repetiam o clientelismo, o compadrio, quando não a própria violência física. "O caso exemplar é das escravas domésticas, que mantiveram suas relações com as patroas", afirma a historiadora Ynaê Santos, pesquisadora da escravidão urbana.

Finalmente, muito dessa história se perdeu. Então ministro da Fazenda, Rui Barbosa mandou queimar, em 14 de dezembro de 1890, os registros de posse e movimentação patrimonial envolvendo todos os escravos, o que foi feito ao longo de sua gestão e de seu sucessor. A razão alegada para o gesto teria sido apagar "a mancha" da escravidão do passado nacional. Mas especialistas afirmam que Rui Barbosa quis, com a medida, inviabilizar o cálculo de eventuais indenizações que vinham sendo pleiteadas pelos antigos proprietários de escravos. Apenas 11 dias depois da Abolição, um projeto de lei foi encaminhado à Câmara, propondo ressarcir senhores dos prejuízos gerados com a medida. Mas, mesmo sem os papéis, a escravidão deixou marcas duradouras e traços para sempre visíveis na História do país.

Rebeldes de Santana: direitos por escrito
Revoltosos de Ilhéus redigiram uma pauta com 19 exigências para melhorar suas condições de trabalho

"Os atuais feitores não os queremos, faça eleição de outros com a nossa aprovação". Essa era uma das 19 reivindicações apresentadas pelos escravos ao dono do engenho de Santana, em Ilhéus, na Bahia, onde trabalhavam cerca de 300 homens. O levante aconteceu em 1789, quando seus integrantes mataram o supervisor e fugiram. Encurralados, propuseram um inusitado tratado de paz = escrito. Pesquisadores acreditam que o grau de alfabetização dos escravos dificilmente ultrapassou 1%. Mesmo assim, esse grupo conseguiu redigir seus objetivos. Entre eles, a redução da jornada de trabalho (menos 30% da colheita diária), folga nas sextas e sábados, mais tempo para dedicar aos seus lotes de terra e ao cultivo de suas hortas, transporte para levar seus produtos ao mercado, tratamento especial para as mulheres (menos tempo na lida) e até o controle do engenho, além do direito de recusar certas tarefas tidas como sujas, que deveriam ser delegadas aos "pretos minas [modo generalizado de chamar os africanos, para diferenciá-los dos nascidos no Brasil]". No pedido final, a esperança: "Poderemos brincar, folgar e cantar em todos os tempos que quisermos, sem que nos impeça e nem seja preciso licença". Os negros de Santana não
pediam explicitamente o fim da escravidão, nem mencionavam os castigos corporais, mas defendiam melhores condições de trabalho e disponibilidade para os esforços destinados à compra da liberdade. Não adiantou. O proprietário fingiu aceitar o tratado, prendeu e vendeu a maior parte de seus autores, liderados pelo escravo Gregório Luís. Embora fosse considerado um bem, como um animal, o escravo era julgado como homem quando cometia um crime. A maioria das rebeliões escravas ocorreu nas cidades - notadamente na Bahia.


Terra de branco:
A casa-grande era fortaleza, banco, escola e hospedaria

FÉ CEGA:
Na sala as orações eram feitas em latim. Os africanos reinterpretavam: Resurrexit sicut dixit ("ressuscitou, como havia dito") virou, na prática, "reco-reco Chico disse".

INOCÊNCIA PERDIDA:
Crianças brancas e negras andavam nuas e brincavam juntas até os 5 ou 6 anos. Tinham os mesmos jogos, baseados nos mesmos personagens fantásticos do folclore africano. Mas, aos 7 anos, a criança negra enfrentava sua condição e precisava começar a trabalhar.

ESCOLA PROIBIDA:
Não havia escola para escravos e forros, mas, algumas poucas vezes, aqueles que trabalhavam na casa grande, bilíngues na prática, iam à sala de aula.

A COXINHA:
A cozinheira era muito valorizada na casa-grande. Conquistou o gosto dos europeus e brasileiros para os pratos de origem africana como vatapá e caruru, comuns na mesa patriarcal do Nordeste. A cozinha ficava num anexo da casa, separada dos cômodos principais por depósitos ou áreas internas.

Salários e indenizações:
Ex-escravos receberam pagamento depois da abolição nas Antilhas
Se liga:    Nas colônias britânicas, a abolição teve tratamento jurídico e social bem diferente do Brasil. Ficou estabelecido nas Antilhas que os trabalhadores ficariam com seus antigos senhores em troca de um soldo, durante quatro anos. E os proprietários das plantações foram indenizados. "O saldo da abolição nas Antilhas britânicas foi inegavelmente positivo para os descendentes de africanos que foram libertados, por causa da atitude dos próprios ex-escravos. Sempre que possível, eles se recusaram a trabalhar sob condições semelhantes às vigentes durante a escravidão, lutando para se converterem em camponeses", afirma o historiador Rafael Marquese, da Universidade de São Paulo. Se a Inglaterra agiu assim por

consciência social ou interesse econômico é uma questão polêmica. Por um lado, é sabido que a Revolução Industrial, que vigorava desde o século 18, pedia consumidores para a produção em larga escala. Por outro lado, já havia na Europa a propagação de um sentimento abolicionista. Segundo Marquese, "o que estava na cabeça dos antiescravistas que militavam na Grã-Bretanha não era simplesmente a ampliação do mercado consumidor no mundo colonial, mas uma transformação mais ampla de ex-escravos em agentes econômicos disciplinados conforme a lógica do mercado, segundo os moldes prescritos pelo pensamento liberal". Sob essa perspectiva, Adam Smith já advertia, em A Riqueza das Nações, que a escravidão era contraproducente, pois homens livres trabalhavam mais e melhor.

A senzala- Um único espaço se destinava ao lazer e sono de todos os escravos

VISITA ÍNTIMA:
Normalmente, divisões internas da senzala separavam homens e mulheres. Mas, algumas vezes, era permitido aos poucos casais aceitos pelo senhor morarem em barracos separados, de pau-a-pique, cobertos com folhas de bananeira.

ROÇA:
Aos domingos, os escravos tinham direito de cultivar mandioca e hortaliças para consumo próprio. Podiam, inclusive, vender o excedente na cidade. A medida combatia a fome do campo, pois a monocultura de exportação não dava espaço a produtos de subsistência.

HORA DO TAMBOR:

Quando a noite caía, o som dos batuques e dos passos de dança dominava a senzala. As festas e outras manifestações culturais eram admitidas, pois a maioria dos senhores acreditava que isso diminuía as chances de revolta.

Salvador de pé no chão- Na primeira capital do Brasil, quase metade da população era escrava

DOCES E CRIANÇAS:
Forras quituteiras faziam doces de tabuleiro e rivalizavam com as receitas das escravas que pilotavam as cozinhas das senhoras. Além de atrair clientes, elas tinham de cuidar dos filhos, brincando à sua volta. Pelas ruas da cidade, havia crianças aos montes e muito barulho.

ESPECIALIZADOS:
Com a expansão das cidades, multiplicam-se escravos urbanos em ofícios especializados, como pedreiros, vendedores de galinhas, barbeiros e rendeiras. Os carregadores zanzam de um lado a outro, levando baús, barris, móveis e, claro, brancos.

CADA UM NO SEU QUADRADO:
Nas esquinas, forros e escravos de mesmas etnias ou ofícios se reuniam à espera de clientes. Eram os "cantos", agrupamentos estimulados pela administração pública, que instigava hostilidades entre os negros para evitar a associação em massa contra a elite branca.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br/Portal do Arquivo Nacional sobre a história luso-brasileira.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Uma conversa sobre: As expressões formais para "homossexualismo/homossexual"





Homossexualidade legal:
  União civil (ou outro tipo de parceria)1
  Reconhecimento de casamentos realizados em outras jurisdições
  Não há uniões do mesmo sexo
Homossexualidade ilegal:
  Restrições à liberdade de expressão
  Punida, mas sem prisão
  Prisão

No fim da década de 1990 e no começo dos anos 2000, tentativas de legalizar ou banir o casamento entre pessoas do mesmo sexo foram motivo de debate em vários países. Em 2001, os Países Baixos foram o primeiro país da era moderna a permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Actualmente, esse tipo de casamento é legal em cerca de dez países e em apenas alguns Estados dos Estados Unidos da América. Em 2010, a Argentina tornou-se no primeiro país da América Latina a aprovar o casamento homossexual. Israel decidiu que os casamentos homossexuais realizados noutros países, apesar de ilegais em Israel, deveriam ser reconhecidos no país.

"Homem encontrado congelado, por arqueólogos austríacos, na fronteira entre a Áustria e a Itália, nos Alpes. Tratava-se, provavelmente de um guerreiro que faleceu durante a caçada, surpreendido por uma nevasca. Pelas tatuagens, inferiu-se que era o chefe da tribo. O que surpreende é a descoberta de esperma em seu reto, de características sanguíneas diferentes das suas".

Os registos arqueológicos mais antigos onde interpreta-se uma conotação homoerótica apontam para 12000 A.C. Civilizações antigas da Índia, Egipto, Grécia, América têm registos históricos de períodos onde a homossexualidade era retratada em cerâmica, escultura e pinturas. Entende-se que em vários períodos da história a homossexualidade era admitida em várias civilizações. Acredita-se que o primeiro código penal que punia a homossexualidade foi editado no império de Gengis Khan ao proibir a sodomia com a pena de morte. No ocidente, as primeiras edições de leis que puniam a sodomia datam de 1533 através da edição do código "Buggery Act" de 1533 pelo Rei Henrique VIII da Inglaterra e de alterações no Código Penal dePortugal, também em 1533, realizadas por influência da Inquisição. As leis que proibiam a sodomia, sobretudo nas relações homossexuais, passaram a ser editadas em vários países ocidentais. Considerando que tanto a Inglaterra, Portugal e Espanha eram grandes potências colonizadoras na época, as leis que proibiam as relações homossexuais também foram impostas nas suas colónias, tal como verifica-se com a edição da Secção 377 do Código Penal Indiano, inspirada no código "Buggery Act" da Inglaterra. As civilizações pré-coloniais da América do Sul, colonizadas principalmente por portugueses e espanhóis também foram introduzidas aos novos costumes.No mesmo sentido, a Alemanha, edita o Parágrafo 175 em 1871. Apesar

de sucessivas tentativas de reverter o Parágrafo 175 em 1907 e 1929 ela acaba sendo mantida e posteriormente utilizada pelo nazismo para punir também os homossexuais. Após a queda do nazismo, os homossexuais condenados deixaram os campos de concentração mas continuaram a cumprir as penas previstas pelo Parágrafo 175.

No começo do século 19, o homossexual era tratado ao mesmo tempo como um anormal e um pervertido. "A medicina, desde o fim do século 18, tomou emprestada a concepção clerical da homossexualidade e esta se tornou uma doença, ou melhor, uma enfermidade que um exame clínico podia diagnosticar", afirma o historiador medievalista Philippe Ariès.

Num caminho semelhante de punir a homossexualidade, as teorias psicológicas vigentes na época passaram a privilegiar o entendimento de que a homossexualidade era uma doença mental. Vários métodos psiquiátricos de cura da "perversão" foram sugeridos, incluindo a castração, a terapia de choque e a lobotomia. Nenhuma dessas técnicas, no entanto, teve o efeito pretendido.Sigmund Freud contribuiu para que a ideia se transformasse, embora considere-se fundamental os estudos de Alfred Kinsey (1948) para a revisão das teorias psicológicas vigentes na época. Os movimentos gays, por sua vez, começaram a desmascarar pressupostos erróneos sobre sua vida, seus sentimentos e ações. Um dos protestos pioneiros pelos direitos homossexuais foi realizado na cidade de Nova Iorque em 1976. Em 15 de Dezembro de 1973, a American Psychiatric Association já havia retirado a homossexualidade da lista de distúrbios mentais. A partir daí, os entendimentos passaram a abordar a óptica do que se considerava patológico e provocado pelo homossexualismo era fruto do estigma social, que não permitia aos gays estabelecerem sua identidade pessoal e social, ou seja, a neurose podia acomete-los tanto quanto aos heterossexuais.A exclusão da homossexualidade como doença mental foi revista pela Organização Mundial de Saúde (OMS) apenas no dia 17 de Maio de 1990 e ratificada em 1992.

Ohandopra traz a gente entende o presente...
Grécia Antiga
A homossexualidade na Grécia Antiga teve diversos aspectos explorados por autores da Antiguidade Clássica, como Heródoto,Platão, Xenofonte, e Ateneu. A forma mais difundida e socialmente significativa de relação sexual íntima entre membros do mesmo sexo na Grécia do período era entre adultos e adolescentes, conhecida como pederastia; os casamentos heterossexuais, da mesma maneira, eram habitualmente arranjados de acordo com as idades dos cônjuges, e envolviam homens na faixa dos trinta anos de idade casando com jovens mulheres no início da adolescência. Não se conhece com precisão sobre as relações homossexuais envolvendo mulheres na sociedade geral grega, porém existem exemplos que datam desde pelo menos a época da poetisa Safo.


Roma antiga
As fontes históricas disponíveis sobre a prática homossexual na Roma Antiga, suas atitudes e a aceitação deste fato, são abundantes. Há obras literárias, poemas, gravuras e comentários sobre as preferências de todos os tipos de personagens, incluindo imperadores solteiros e casados. Por outro lado, as representações gráficas são mais raras do que no período da Grécia clássica. Atitudes em relação à homossexualidade mudaram com o tempo de acordo com o contexto histórico, variando de forte condenação a uma aceitação consideravelmente ampla. Na verdade ela foi considerada um costume cultural em certas províncias.

"Na abordagem destes comportamentos é fundamental salientar que o termo homossexualidade se torna problemático e impreciso aplicado ao mundo antigo, já que sequer havia uma palavra traduzida como tal em latim ou em grego antigo com o mesmo significado do conceito moderno de homossexualidade. A bissexualidade parece ter sido a norma, mas os autores antigos reconhecem que na Roma Antiga havia homens que mantinham relações sexuais exclusivamente com homens."


China antiga
Há registos das praticas homossexuais na China desde os tempos antigos. Um exemplo são as expressões estereotipadas que fazem alusão ao homossexualismo,yútáo e duànxiù

(余桃 断袖). Yútáo ou "A sobra do pêssego/pêssego mordido", citado por Han Fei, fala sobre Mi Zixia (彌子瑕), um rapaz de rara beleza que logo virou um objecto de desejo do Duque Ling de Wei (卫灵公). Conta-se que um dia Mi dividiu com o Duque um delicioso fruto que já fora mordido por ele, o Duque apreciou o gesto (embora, uma vez que Zixia se tornara adulto, perdendo a sua beleza, o Duque lembrou-se do episódio e disse que o jovem havia sido falso com ele).Duànxiù ('rasgando a manga') refere-se ao ato do imperador Ai Di da dinastia Han, que cortou a manga sobre a qual dormia seu adorado amante Dongxian, fez isso para não o acordar.

As pesquisas de Pan Guangdan (潘光旦) indicaram que quase todos os imperadores da dinastia Han tinham um ou mais parceiros sexuais homens. Também há descrições de lésbicas em alguns livros de história. Acredita-se que a homossexualidade era popular nas dinastias Sung, Ming e Qing. Os homossexuais chineses nunca sofreram grandes perseguições em comparação aos homossexuais da Europa cristã durante a Idade Média até o século XIX.

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Teoria da origem da Proibição
Considerando que várias civilizações antigas admitiam a homossexualidade nas suas culturas fica pouco claro porque a homossexualidade e a transgenereidade foram tão proibidas no mundo ocidental entre os séculos XV e XX. Uma das tentativas de explicação remetem a um crescimento populacional forçado. O intuito das leis que proibiam a sodomia durante o império de Gengis Khan parecem ter uma estratégia objectiva: aumentar rapidamente o exército de combatentes mongóis a fim de enfrentar o Império da China.De forma semelhante as leis que proibiam a sodomia no ocidente a partir do século XV parecem se fundamentar no mesmo princípio: incentivar o crescimento populacional a fim de colonizar as novas terras, recém descobertas. Nessa teoria a condenação moral e mediante leis de direito, regem-se apenas através de interesses de dominância entre povos forçando um crescimento populacional através do artifício de proibições da sodomia e de relações homossexuais.

-'Na minha pesquisa tive alguma dificuldades de achar registro historio sobre a homossexualidade negra"...

Homossexualidade Negra.
Quando os colonizadores portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, um dos aspectos da cultura ameríndia que mais os escandalizou foi a prática generalizada da homossexualidade tanto masculina quanto feminina. Os índios gays eram chamados de ‘tibira’ e as lésbicas ‘çacoaimbeguira’. Com o tráfico negreiro novo incremento é dado ao amor homossexual neste novo país, documentando-se a presença de escravisados homossexuais provenientes de diversas etnias africanas transportadas para o Novo Mundo, sendo chamados os gays de ‘quimbanda’ entre os nativos de Angola e ‘adé’ na língua yoruba da Nigéria, tratando-se as amantes do mesmo sexo de ‘aló’.

Em Portugal, a sodomia era considerada ‘o mais torpe, sujo e desonesto pecado’, sendo castigada tanto pela Igreja como pelas justiças do rei, crime equiparado a traição nacional e ao regicídio (assassinato de rei ou rainha). Coube sobre tudo ao Tribunal da Inquisição (1536-1821) a repressão aos sodomitas, sendo depois dos judeus, a minoria mais perseguida por esse monstro incendiário. Conservam-se nos arquivos portugueses os registros de quase cinco mil denúncias contra lésbicas e gays luso-brasileiros, dos quais mais de 400 foram presos, sentenciados, açoitados e degredados para territórios distantes, sendo que 30 sodomitas foram condenados à morte, queimados nos Autos de Fé.

Por diversas vezes, a partir do século XVI, o Santo Ofício da Inquisição realizou visitações

no Brasil, coletando denúncias, prendendo e sentenciando mais de uma centena de sodomitas, espalhando entre gays e lésbicas o pânico e terror, insuflando a população a delatar e reprimir os praticantes deste amor-crime. Os denunciados pelo crime de sodomia residentes no Brasil pertencem a todas as camadas sociais: índios cristianizados, africanos e crioulos escravos e libertos, marinheiros, soldados, sacerdotes, funcionários públicos, adolescentes e adultos. Entre esses, gente graduada como o 1º Capitão Geral do Brasil, Diogo Botelho (1602-l607), o Tesoureiro Mor da Sé da Bahia, Padre José Pinto de Freitas, acusado de ‘ter fama pública e constante entre a plebe, clérigos, religiosos e nobreza que pega pela braguilha, abraça e beija homens, estudantes e rapazes’.

Nos países escravistas da América Latina, o machismo e a homofobia assumiram características ainda mais violentas do que nas metrópoles ibéricas, pois ser delicado, efeminado ou homossexual no Novo Mundo, era considerado como grave traição à hegemonia do sexo forte e uma perigosa ameaça à manutenção da elite dominante. Há documentos históricos comprovando de que os pais ensinavam seus filhos adolescentes a reagir violentamente contra qualquer tentativa de sedução por parte de um homossexual, registrando-se no século XVII a cruel execução de dois sodomitas no Nordeste brasileiro: em 1613, em São Luís do Maranhão, um índio Tupinambá, publicamente reconhecido como ‘tibira’ foi amarrado na boca de um canhão, tendo seu corpo estraçalhado com o estourar da bala, ‘para purificar a terra de suas maldades’. O segundo mártir homossexual no período colonial foi um jovem escravo negro, executado na Capitania de Sergipe em 1678 : ‘foi morto de açoites por ter cometido o pecado de sodomia’. Mais de uma dezena de lésbicas brasileiras foram igualmente sentenciadas pela Inquisição, sendo açoitadas em praça pública e algumas degredadas para terras desconhecidas. A primeira delas, Felipa de Souza, castigada em l593.

União Legal...
As uniões homossexuais existiram nas diversas culturas desde os princípios da humanidade. Na Europa clássica existiram em sociedades gregas e romanas,e mesmo em comunidades cristãs na forma de um sacramento chamado Adelphopoiesis. Na Ásia
existiram para homossexuais masculinos sob a forma dos casamentos Fujian,e para mulheres homossexuais sob o nome de Casamento das Orquídeas de Ouro. Casamentos entre lésbicas foram documentados em mais de trinta tribos africanas e entre homens homossexuais em cinco tribos. Nas Américas, uniões homossexuais foram documentadas primordialmente em civilizações norte-americanas, disponíveis para as pessoas designadas de "dois-espíritos", que demonstravam ambiguidade sexual. Estas pessoas eram consideradas de um terceiro sexo e podiam variar entre as responsabilidades de homens ou mulheres.

Um afro abraço.
Claudia Vitalino
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!

fonte:The Barbary Wars, artigo publicado na revista Practical Homeschooling, maio/junho de 2003, p. 35.Julio Severo, Superpropaganda a favor do homossexualismo, artigo postado no JesusSite.Wikipédia, a enciclopédia livre- Coletivo LGBTT UNEGRORJ

sábado, 7 de janeiro de 2017

Cota racial...

As cotas raciais são a reserva de vagas em instituições públicas ou privadas para grupos específicos
classificados por etnia, na maioria das vezes, negros e indígenas. Surgidas na Índia na década de 1930, as cotas raciais são consideradas, pelo conceito original, uma forma de ação afirmativa, algo para reverter o racismo histórico contra determinadas classes étnico/raciais. Apesar de muitos considerarem as cotas como um sistema de inclusão social, existem controvérsias quanto às suas consequências e constitucionalidade em muitos países. A validade de tais reservas para estudantes negros no Brasil foi votada pelo Supremo Tribunal Federal em 2012. O STF decidiu por unanimidade que as cotas são constitucionais...

PERGUNTAS FREQUENTES
1) O que é a lei de cotas?
A Lei nº 12.711/2012, sancionada em agosto deste ano, garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas 59 universidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos. Os demais 50% das vagas permanecem para ampla concorrência.

2) A lei já foi regulamentada?
Sim, pelo Decreto nº 7.824/2012, que define as condições gerais de reservas de vagas, estabelece a sistemática de acompanhamento das reservas de vagas e a regra de transição para as instituições federais de educação superior. Há, também, a Portaria Normativa nº 18/2012, do Ministério da Educação, que estabelece os conceitos básicos para aplicação da lei, prevê as modalidades das reservas de vagas e as fórmulas para cálculo, fixa as condições para concorrer às vagas reservadas e

estabelece a sistemá salário mínimo e meio per capita e tica de preenchimento das vagas reservadas.

3) Como é feita a distribuição das cotas?
As vagas reservadas às cotas (50% do total de vagas da instituição) serão subdivididas — metade para estudantes de escolas públicas com renda familiar bruta igual ou inferior a um metade para estudantes de escolas públicas com renda familiar superior a um salário mínimo e meio. Em ambos os casos, também será levado em conta percentual mínimo correspondente ao da soma de pretos, pardos e indígenas no estado, de acordo com o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

4) A lei deverá ser aplicada imediatamente?
Sim, mas gradualmente. Em 2013 terão de ser reservadas, pelo menos, 12,5% do número de vagas ofertadas atualmente. A implantação das cotas ocorrerá de forma progressiva ao longo dos próximos quatro anos, até chegar à metade da oferta total do ensino público superior federal.

5) Como as universidades que já tiveram edital de vestibular publicado devem agir?
As universidades que já publicaram seus editais para o vestibular terão de fazer novas chamadas.
6) A lei vale para quem estudou em colégios militares também?
Sim, vale para todas as escolas públicas de ensino médio. O conceito de escola pública se baseia na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei nº 9394/96, art. 19, inciso I:

   Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis classificam–se nas seguintes categorias administrativas:
I – públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas, mantidas e administradas pelo Poder Público


7) Quem obteve certificação do ensino médio pelo Enem poderá entrar pela reserva de vagas?
Para ser considerado egresso de escola pública, o estudante deve ter cursado o ensino médio em escola pública ou ter obtido certificação do Enem, Encceja e demais realizadas pelos sistemas estaduais, tendo cursado o ensino fundamental em estabelecimento público. O estudante não pode ter cursado escola particular em nenhum momento.


8) Quem concorrer pelas cotas também poderá entrar pela ampla concorrência?
  Nos primeiros quatro anos de implementação da lei, os estudantes cotistas devem disputar vagas tanto pelo critério de cotas quanto pelo de ampla concorrência, já que as vagas serão oferecidas gradativamente. A partir de quatro anos, a permanência desse modelo ficará a critério de cada instituição de ensino.

9) As cotas valerão para vestibulares tradicionais e para o Sisu?
Sim, a lei já valerá para os próximos vestibulares das instituições e também na próxima edição do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) do Ministério da Educação. As instituições federais de ensino que adotarem diferentes processos seletivos precisam observar as reservas de vagas em cada um destes processos.

10) Como será comprovada cor e renda declarados pelos candidatos?
O critério da raça será autodeclaratório, como ocorre no censo demográfico e em toda política de afirmação no Brasil. Já a renda familiar per capita terá de ser comprovada por documentação, com regras estabelecidas pela instituição e recomendação de documentos mínimos pelo MEC.

11) No critério racial, haverá separação entre pretos, pardos e índios?
Não. No entanto, o MEC incentiva que universidades e institutos federais localizados em estados com grande concentração de indígenas adotem critérios adicionais específicos para esses povos, dentro do critério da raça, no âmbito da autonomia das instituições.

12) Como o governo federal vai garantir a permanência dos estudantes cotistas na universidade?
A política de assistência estudantil será reforçada. No orçamento de 2013 já está previsto um aumento para o Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes). Serão investidos pelo menos R$ 600 milhões em assistência estudantil em 2013. O MEC está articulando com os reitores a política de acolhimento dos alunos cotistas, que também gira em torno da política de tutoria e nivelamento.

13) Universidades que já têm programas de cotas terão de mudar?
Podem ser mantidas as iniciativas já existentes, desde que as exigências da lei, ou seja, 12,5% das vagas, sejam implementadas conforme o Congresso Nacional estabeleceu. Então, no mínimo, esses 12,5% têm que corresponder integralmente aos critérios da lei. A partir desse 12,5%, podem ser criados critérios adicionais. A Lei de Cotas determina o mínimo de aplicação das vagas, mas as universidades federais têm autonomia para, por meio de políticas específicas de ações afirmativas, instituir reservas de vagas suplementares.

14) Haverá algum tipo de acompanhamento da implementação da lei?
Sim. O acompanhamento ficará a cargo de um comitê composto por representantes do Ministério da Educação, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e da Fundação Nacional do Índio (Funai), com a participação de representantes de outros órgãos e entidades e da sociedade civil.

No Brasil, foram 354 anos de escravidão, população negra escravizada trabalhando para enriquecer a branca. No pós-abolição, no processo de industrialização do Brasil, incentivou-se a vinda dos

imigrantes europeus pra cá. Muitos inclusive receberam terras do Estado brasileiro, ou seja, foram beneficiados por ação afirmativa para iniciarem suas vidas por aqui. Tiveram acesso a trabalho remunerado e, se hoje a maioria de seus descendentes desfrutam de uma realidade confortável foi porque foram ajudados pelo governo pra isso.
Em contrapartida, para a população negra não se criou mecanismos de inclusão. Das senzalas fomos para as favelas. Se hoje a maioria da população negra é pobre é por conta dessa herança escravocrata e por falta da criação desses mecanismos. É necessário conhecer a história deste País para entender porque certas medidas, como ações afirmativas, são justas e necessárias. Elas precisam existir justamente porque a sociedade é excludente e injusta para com a população negra.

Um afro abraço;

Claudia Vitalino.
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!

fonte:brasilescola.uol.com.br/https://por-leitores.jusbrasil.com.br

Favelas as grandes vítimas do coronavírus no Brasil

O Coronavírus persiste e dados científicos se tornam disponíveis para a população, temos observado que a pandemia evidencia como as desigual...