UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Racismo é causa do alto índice de mortes de jovens negros: Infelizmente a 5 jovens Negros e apenas mais um capitulo...

Jovem negro tem 2,5 vezes mais chance de ser assassinado do que branco
O Brasil está diante de uma horrenda realidade de matança generalizada da sua população

jovem, notadamente os rapazes negros, que são as principais vítimas da violência letal e aumentado e supera em 2,5 vezes a possibilidade de um jovem branco ser vítima de homicídio..

Letalidade policial:


PMs vão presos após 5 jovens serem mortos em carro no Subúrbio do Rio
Nota da Polícia Civil
De acordo com a 39ª DP (Pavuna), os policiais militares Thiago Resende Viana Barbosa, Marcio Darcy Alves dos Santos e Antonio Carlos Gonçalves Filho foram presos em flagrante por homicídio doloso e fraude processual, e o policial Fabio Pizza Oliveira da Silva por fraude processual.

A noite deste sábado prometia ser de mais um fim de semana de diversão para os amigos de infância Roberto de Souza, 16 anos, Carlos Eduardo da Silva Souza, 16, Cleiton Corrêa de Souza, 18, Wesley Castro, 20, e Wilton Esteves Domingos Junior, 20, conforme relatos de familiares. Eles tinham acabado de voltar do Parque de Madureira, na Zona do Norte, e iam lanchar por volta das 23h na comunidade de Costa Barros, quando o carro em que estavam foi alvo de inúmeros disparos na Estrada João Paulo, na altura da curva do Vinte, Subúrbio do Rio. Policiais militares são suspeitos de atirar contra os jovens e alterar a cena do crime, de acordo com as investigações da 39ª DP (Pavuna).

A Polícia Militar informou, em nota, que os quatro agentes que participaram da ação foram presos. Três deles vão responder por homicídio doloso e fraude processual, e um deles somente por fraude processual, de acordo com a Polícia Civil. Ao lado do carro, foram encontradas luvas ensanguentadas e uma arma. A chave do carro foi vista no porta-malas...

Ainda segundo a unidade, foi realizada perícia no local e os corpos de Roberto de Souza Penha, 16 anos, Carlos Eduardo da Silva de Souza, 16 anos, Cleiton Correa de Souza, 18

anos, Wilton Esteves Domingos Junior, 20 anos e Wesley Castro Rodrigues, 25 anos, foram encaminhados para exame de necropsia no IML. As armas dos policiais militares foram apreendidas e os veículos estão sendo periciados. Testemunhas estão sendo ouvidas.

Ainda que muitas pessoas acreditem que o racismo – prática discriminatória que visa colocar grupos e/ou indivíduos em posições de desigualdade, em virtude de aspectos físicos, como a cor da pele – se manifeste individualmente, operando apenas nas relações interpessoais, a história demonstra que essa não é uma questão restrita ao âmbito individual. Historicamente, o povo negro vivencia condições de vida muito inferiores aos de pessoas brancas. Mesmo quando comparadas/os à parcela da população branca e pobre, em geral, as/os negras/os e pobres se encontram em situação muito pior. Isso pode ser facilmente ilustrado por indicadores sociais, como os que apontam que 73% da população mais pobre é negra; 79,4% de pessoas analfabetas são negras; 62% das crianças que estão fora da escola são negras; em média a renda de negros é 40% menor que a de brancos.

É preciso atentar para a participação dos agentes dos sistemas de justiça e de segurança pública nesse contexto. Pesquisas mostram que são os jovens negros, especialmente os moradores das periferias, as principais vítimas de violência policial no país: de cada 10 mortos pela polícia, sete são negros; são eles também que compõem grande parcela da população carcerária (38% tem de 18 a 29 anos e 60% são negros). Talvez as instituições policiais sejam o agente estatal mais perverso na prática do racismo institucional: a polícia elegeu o jovem negro como o suspeito principal, atribuindo-lhe o estereótipo de inimigo padrão da sociedade. Nas vilas, favelas e bairros periféricos é comum ouvir depoimentos de jovens negros que desde criança foram agredidos dentro de suas comunidades com tapas e empurrões de policiais em serviço.

Todos os jovens deveria ter o direito a uma vida livre de violência e preconceito. Vamos lutar por isso, e exigir políticas públicas de segurança, educação, saúde, trabalho, cultura, mobilidade urbana, entre outras, que possam contribuir para transformar esta realidade.

Em seis anos, Brasil viu assassinatos de jovens negros crescerem 21%. É o que aponta a

pesquisa Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade (IVJ 2014), encomendada pelo Ministério da Justiça ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Dos 29,9 mil jovens brasileiros vítimas de homicídios em 2012, 76% eram negros ou pardos.

O estudo, que analisa dados entre 2007 e 2012, aponta ainda que a probabilidade de um jovem negro morrer é duas vezes e meia maior que a de um jovem branco. A base da pesquisa é homicídio cometido contra pessoas com idade entre 12 e 29 anos.

A pesquisa ponderou o tamanho da população de jovens brancos e negros e a taxa de homicídio para chegar ao índice relativo de risco de morte. Esse risco é muito maior que a média nacional em estados do Nordeste.

No Sul, o problema é menor, mas os três estados viram um aumento de 20% nos assassinatos de jovens negros no período. No Paraná, esses homicídios cresceram 14%.
Ainda assim, a pesquisa mostrou que os estados do Sul têm as menores diferenças entre as chances de jovens negros e brancos serem mortos. Segundo a pesquisa, o único estado onde um jovem branco tem mais chances de ser vítima de homicídio é o Paraná, com índice 0,7. Em todo estado, a taxa de homicídio de jovens brancos chega a 71 por 100 mil habitantes, enquanto a de jovens negros atinge 47 por 100 mil.

A pesquisa foi realizada para tentar orientar as políticas públicas nacionais para conter a violência em várias áreas e diferentes níveis de governo. De acordo com a ponderação do
estudo, os índices estão estabelecidos entre zero e um. Quanto maior o valor, maior a vulnerabilidade do jovem naquela região.

O número de assassinatos de jovens brancos caiu 6% no país nos seis anos analisados pela pesquisa. Na região Sul, contudo, houve um aumento de 3% (porcentual que é considerado sinal de estabilidade por alguns pesquisadores).
Outro índice

O estudo refere-se a jovens de 12 a 29 anos, leva em conta a proporção das raças na população e usa como base dados produzidos por fontes como o SIM (Sistema de Informações de Mortalidade), do Ministério da Saúde, e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).

O relatório também apresenta um indicador inédito, o Índice de Vulnerabilidade Juvenil - Violência e Desigualdade Racial. Ele é calculado com base em cinco categorias: mortalidade por homicídios, mortalidade por acidentes de trânsito, frequência à escola e situação de emprego, pobreza no município e desigualdade.

Dado está em relatório inédito sobre prevenção global da violência; segundo documento, 475 mil pessoas foram assassinadas no mundo em 2012 e 47 mil no território brasileiro; na Europa, o total de homicídios foi de cerca de 10 mil e vítimas de homicídio, sendo que as Américas foram a região com o maior índice a cada 100 mil habitantes: 28,5%.

Foram 133 países analisados, incluindo o Brasil.
Os números são um dos destaques de um relatório inédito sobre prevenção global da violência, divulgado esta quarta-feira (10) por três agências da ONU. 

Se liga: situação vivenciada por esses jovens e outros milhares de jovens negros à omissão do Estado e ao descumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA 8.069/90).

Não fala que a juventude está, a todo momento, sendo exterminada pela polícia", ressaltou.

Propostas:

- Reconhecer o fenômeno do genocídio da juventude negra como um problema de Estado e determinar o seu enfrentamento como uma das prioridades da gestão pública, em
âmbitos municipal, estadual e federal, a fim de se ampliar e efetivar o grau de eficiência e eficácia das políticas públicas;
- Dar visibilidade à situação de vulnerabilidade a que está submetida a juventude negra nas agendas dos diversos segmentos sociais;
- Ampliar espaços de reflexão sobre a violência letal contra a juventude negra;
- Realizar amplamente audiências públicas que tratem da temática nas diversas cidades brasileiras;
- Aprovar e efetivar o projeto de lei 4471/2012 que prevê a obrigatoriedade de investigação de mortes e lesões corporais em atividades policiais;
- Denunciar o Estado brasileiro nas instâncias internacionais cabíveis pelo crime contra a humanidade de genocídio da juventude negra, a fim de responsabilizar o Estado e determinar medidas de reparação e outras obrigações correspondentes.( como no caso dos jovens de Costa Barros) 


Gente negar a existência de racismo institucional e genocídio da juventude negra no Estado do Rio de Janeiro e no Brasil é o mesmo que legitimar e naturalizar a morte desses jovens e isso independe que seja culpados ou inocentes, o parlamentares querem diminuir
a idade penal enquanto já implantaram a pena de morte!!! .

 - Você não concorda então me responda por que é normal e natural que eles morram vítimas de 'genocídio'

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.


fonte:www.promenino.org.br/

domingo, 29 de novembro de 2015

África e o Islão : Expansão e Sincretismo

A História da África é conhecida no Ocidente por escritos que datam da Antiguidade Clássica. O homem passou a estar presente na África durante os primeiros anos da era quaternária ou os últimos anos da era terciária. A maioria dos restos de hominídeos fósseis que os arqueólogos encontraram, australopitecos, atlantropos, homens de Neandertal e de Cro-Magnon, em lugares diferenciados da África é a demonstração de que essa parte do mundo é importante no processo evolutivo da espécie humana e indica, até, a possível busca das origens do homem nesse continente. As semelhanças comparáveis da história da arte que vai entre o paleolítico e o neolítico são iguais às das demais áreas dos continentes europeu e asiático, com diferenças focadas em regiões então desenvolvidas. A maioria das zonas do interior do continente, meio postas em isolamento, em contraposição ao litoral, ficaram permanentes em estágios do período paleolítico, apesar da neolitização ter sido processada no início em 10.000 a.C., com uma diversidade de graus acelerados.

Introdução:

"Depois de ter conquistado pela força o Norte de África, o Islão penetrou lentamente no continente, de norte para sul, através do deserto, pelo vale do Nilo e pela costa oriental do Índico. Na África o Islão adquiriu características próprias, combinando tradições locais com crenças islâmicas. Hoje a Arábia Saudita pretende impor um Islão purificado do sincretismo. Mas os muçulmanos africanos, na sua maioria, preferem a forma moderada e sincretista do Islão, que a África moldou."

Os muçulmanos entraram em África como refugiados no início da sua história. Perseguidos pelo povo de Meca, por ordem do profeta Maomé, atravessaram o mar Vermelho e procuraram refúgio na Etiópia, foram acolhidos pelo rei Najashi, que lhes concedeu
proteção, respeito e liberdade. «A África tornou-se o primeiro refúgio seguro para os muçulmanos e a Etiópia seria o primeiro lugar fora da Península Arábica onde o Islão seria praticado» («Islão em África», da Wikipédia).

No Norte de África
Logo após a morte do profeta Maomé, no entanto, entraram novamente em África, mas desta vez como conquistadores. Em 639 d. C., populações nómadas de árabes muçulmanos deixaram a península arábica e invadiram o Egipto, em seguida dirigiram-se para oeste, para a Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos. Em duas gerações, todo o Norte de África se tornou muçulmano. Quando os Árabes chegaram ao Norte de África, a Igreja cristã já tinha sido enfraquecida pela ocupação e perseguição dos Vândalos. Toda a classe alta latinizada fugiu para a Europa. Bispos, padres e monges abandonaram o país, deixando a população cristã privada de liderança. Não havia ninguém para cuidar dela. A população indígena, os Berberes, que continuava intocada pelo Cristianismo, abraçou o Islão, contribuindo com os Árabes para criar o Magrebe islâmico. No Egipto, a política islâmica para com os cristãos era de «tolerância com alguma discriminação»: os cristãos eram «cidadãos contribuintes de segunda categoria, sem oportunidades económicas». Foi proibida a construção e reparação de igrejas, bem como o culto público e o uso dos sinos das igrejas. Ser dispensado do pagamento de impostos e alcançar a plena cidadania foram o maior estímulo para abraçar o Islão. Ao longo dos séculos, o Cristianismo egípcio foi reduzido a uma minoria, isolada do resto do mundo cristão, e apenas comprometida com a sua sobrevivência. A longa opressão «trouxe a identificação muito importante da fé cristã com a herança nacional, que ajudou os coptas a preservar tanto o seu carácter nacional e o Cristianismo até aos nossos dias» (cf. J. Baur, 2000 Years of Christianity in Africa).

No vale do Nilo
Os muçulmanos estabeleceram-se no Egipto, quando, no século vii d. C., uma nova vaga de nómadas árabes entrou no país em busca de pastagens para os seus camelos e para
as suas cabras. Os governantes muçulmanos do Egipto, para protegerem as suas terras cultivadas, empurraram-nos para sul, ao longo do Nilo, onde a partir do século xiconseguiram conquistar e, de seguida, destruir os três reinos cristãos da Núbia (Nobácia, Macúria e Alódia) do actual Norte do Sudão, e fizeram do Islão a religião do país. Os Sudaneses do Norte chamam-se a si próprios árabes. São apenas negros africanos arabizados que abraçaram o Islão, que abandonaram a sua cultura africana, adoptaram nomes árabes e deram a si próprios uma falsa ascendência árabe.

Na costa
Nos séculos vii e viii d. C., os muçulmanos árabes e persas introduziram o Islão ao longo da costa da África Oriental, «matando e afugentando todos os que não aceitaram a sua religião». Não fizeram nenhuma tentativa de se expandirem para o continente, mas manteve-se ao longo da costa o estabelecimento de centros comerciais e a construção de bonitas cidades, das quais Lamu e Zanzibar são as mais conhecidas. A mistura de mercadores persas (Shirazi, que é o maior grupo étnico na ilha de Zanzibar) e omanitas com as populações locais deu origem ao povo suaíli, com um estilo de vida e civilização típicos e uma nova linguagem, o suaíli, uma mistura de árabe e banto, destinado a tornar-se língua franca da África Oriental.

Ao longo do Sara
A progressiva expansão do Islão no interior do continente africano foi um processo lento e gradual que começou com a conquista árabe do Norte de África e que continuou até aos tempos coloniais. Seguiu as rotas das caravanas que atravessam o deserto do Sara das terras do Mediterrâneo, no Norte, para a savana, no Sul. Foi trabalho de comerciantes muçulmanos, sábios e «homens santos». Estes, por norma, foram sufis, os membros das irmandades religiosas que favoreceram os elementos místicos do Islão e se esforçaram por alcançar o conhecimento de Deus através da emoção, meditação e cerimónias com cânticos, música e dança. O resultado foi a conversão ao Islamismo de impérios, reinos e
sultanatos, como o império do Kanen (700-1376 d. C.), o reino de Kanu (1000-1805), o Império de Bornu (1369-1893), o sultanato de Sennar (1502-1821) e o sultanato de Fur Dar (1603-1874) e o estabelecimento de centros de estudo, tais como Timboctu, nas regiões ao sul do Sara, que os geógrafos árabes chamavam Sudão, «a terra dos negros». No séculoxiv, o explorador Ibn Battuta ficou fortemente impressionado com a fé e a atenção zelosa com a lei dos muçulmanos na savana africana ao sul do Sara. Menção especial merece o califado de Sokoto, na Nigéria (1804-1903), um Estado teocrático criado por Usman dan Fodio, com uma interpretação estrita do Islão, um forte impulso missionário e o recurso a uma guerra jihad, para expansão do Islão.

Na senda do colonialismo
O tempo de rápida expansão do Islão na África Subsariana surgiu com o colonialismo. Nos séculos xix e xx, o Islão tornou-se a fé de um número significativo de africanos a sul do Sara. Foi o que aconteceu num contexto criado pela dominação europeia sobre o continente. O colonialismo foi para o Islão o que o Império Romano tinha sido para o Cristianismo, estabelecendo as condições adequadas para colher os resultados de um trabalho «missionário» decisivo de comerciantes africanos muçulmanos, pessoal administrativo ao serviço das potências coloniais, «sábios» membros de irmandades religiosas, professores e viajantes. Personalidades africanas muçulmanas bem informadas introduziram o Islão como solução para as necessidades locais específicas. Ao contrário da tendência dos muçulmanos dos tempos antigos, eles não têm planos para introduzir a língua árabe e fazer da civilização árabe a nova sociedade africana islâmica, com o Norte do Sudão a ser a única excepção. Os Africanos mantiveram as suas próprias línguas e identidades.

"No início do III milénio, a população muçulmana estimada do continente (incluindo o Norte de África) é de 430 milhões, dos quais 241 milhões na África Subsariana."

O carácter africano do Islão
Na África, o Islão adquiriu características próprias. Mantém os seus princípios essenciais, mas inseriu neles princípios tradicionais, ritos e práticas trazidos pelos convertidos, e pelas crenças e ritos próprios da espiritualidade do sufi ou xeque das irmandades que estabeleceram as comunidades muçulmanas. O Islão na África é de natureza sincrética, em que crenças tradicionais locais são combinadas com crenças islâmicas.

O estilo de vida dos muçulmanos da Nigéria é diferente do da África do Sul. Os muçulmanos da costa leste africana podem distinguir-se facilmente dos do interior do continente.

A forma como o Islão é praticado no Sudão é significativamente diferente da de outros países islâmicos. Foi introduzido e desenvolvido por irmandades religiosas e fortemente condicionado e influenciado pela doutrina e os rituais dos fundadores. Só recentemente o regime «islâmico» de Omar al-Bashir (no poder desde 1989) fez sérias tentativas para remover influências, crenças e ritos sufis e irmandades religiosas e impor um sistema
unificado e um currículo de estudos religiosos ortodoxo para educar os «novos» muçulmanos.

Islão africano ou saudita?
A Arábia Saudita está determinada a pôr fim a estas diversidades, para trazer uniformidade e pureza de doutrina e práticas entre os muçulmanos da África e de todo o mundo. Para os líderes religiosos sauditas, o caminho para o conseguir é impor, a todas as formas do Islão, o wahabbismo, desenvolvido por um teólogo muçulmano do século xviii(Muhammad ibn Abd al-Wahhab) de Najd, Arábia Saudita. O wahabbismo é um movimento religioso que defende fortemente a singularidade e a unicidade de Deus, trata o Alcorão e a Hadith como os únicos textos fundamentais e com autoridade, e rejeita tudo o que não esteja em conformidade com eles. O wahabbismo defende a purga do Islão de «impurezas», como o culto popular dos santos, mesmo da festa muito popular do mulid (o dia do nascimento do profeta Maomé), de santuários e culto de túmulos e outras formas tradicionais, que são vistos como idolatria.

O wahabbismo ganhou considerável influência no mundo muçulmano, financiado pelos petrodólares da Arábia Saudita, passou a financiar liberalmente mesquitas, escolas e programas sociais, todos executados por pessoal formado no pensamento wahabbita. Através de diversas organizações e instituições, como a Liga Mundial Muçulmana, a Assembleia Mundial da Juventude Muçulmana, a Federação da Associação Muçulmana da Grã-Bretanha e Escolas Islâmicas, a Arábia Saudita procura difundir o ensino, cultura e costumes do wahabbismo.

A Sharia na África Subsariana
Hoje há um grande clamor para a aplicação da Sharia (lei islâmica) em países e em regiões onde os muçulmanos são maioria. Mas na África Subsariana a maioria dos Estados limitam o seu uso a «estatuto pessoal», como é o caso do Quénia, para questões de casamento, divórcio, herança e poder paternal. Há países, como a Somália e alguns Estados predominantemente islâmicos da Nigéria, que insistem em aplicá-la em todos os aspectos da vida da população. Mas os resultados não são encorajadores, dando origem a violência, violações dos direitos humanos e destruição de comunidades inteiras.

O processo de globalização e a rápida evolução dos acontecimentos mundiais exercem pressão sobre os muçulmanos para chegarem a acordo com a «modernidade». Para
alguns, a solução está no recurso ao terrorismo. Os meios de comunicação social falam
muitas vezes de terroristas e islamitas, como se as palavras fossem sinónimos, o que irrita muitos muçulmanos verdadeiros. Em Maio, um deles escreveu a um jornal queniano: «Fico irritado sempre que [os terroristas] são referidos como “islamitas”. Os objectivos destes não têm nada que ver com o Islão. O Islão não tolera o assassínio em massa de pessoas inocentes [...]. Nada pode justificar este tipo de loucura.»

Muçulmanos com identidade africana.
Tudo considerado, parece que a grande maioria dos muçulmanos africanos prefere manter-se fiel à forma moderada do Islão tolerante. Apenas um grupo relativamente pequeno gostaria de estabelecer uma forma rigorosa de religião, que controle todos os aspectos da vida. A coexistência entre muçulmanos e não muçulmanos permanece, na maioria das vezes, pacífica.

Voltando um pouco...
O Islamismo surgiu em 630, quando Maomé se apoderou de Meca, afastou os Coraixitas do poder e destruiu os ídolos da Caaba. De 630 até 660, o Islamismo foi dirigido pelos familiares de Maomé, os Haxemitas. De 660 até 750, a dinastia Omíada esteve no poder. Os Abássidas começaram a dirigir o Islamismo em 750, quando na Espanha já surgia o primeiro califado autônomo, instaurado por descendentes dos Omíadas.

Do exposto, concluímos que a facilidade do proselitismo islâmico se explica tambem em função do sincretismo que caracterizou a religião de Maomé. Sincretismo, aliás, adequado às necessidades materiais e espirituais dos árabes. A importância de Maomé prende-se ao

fato de ter percebido a realidade árabe, adaptando-lhe uma religião na medida das necessidades impostas pela própria realidade

Em última análise, o êxito da doutrina islâmica se deve ao fato de ser ela uma espécie de teorização da realidade. Não nos cabe fazer juízos de valor sobre a atuação de Maomé; importa apenas que ele atingiu os fins perseguidos.

O Islamismo traz no próprio bojo os fatores explicativos de sua expansão. No plano material, o modo de vida típico dos árabes — sobretudo na Arábia do Deserto — constitui um dado importante: a falta de recursos, a explosão populacional, as guerras constantes entre as tribos, o nomadismo, tudo isso foi canalizado pelo Estado Teocrático como fatores impulsionadores da conquista. O interesse pelo botim é o dado econômico da expansão, assim como a miscigenação é o dado social mais importante. Em termos religiosos, as recompensas extraterrenas, a visão do Paraíso e a Guerra Santa foram, a um só tempo, fatores religiosos e psicológicos da expansão....


Finalizando:
A conquista muçulmana foi facilitada pela fraqueza dos Impérios Persa e Bizantino, assim como pela debilidade dos Estados bárbaros que haviam sucedido ao antigo Império Romano do Ocidente. A existência de um poder político localizado, no lugar da antiga centralização imperial, beneficiou o avanço muçulmano.


Os contatos iniciais entre muçulmanos e cristãos foram quase sempre belicosos, salvo

raras exceções. Esse fator, aliado à própria expansão árabe, contribuiu para a ruralização da Europa Ocidental e, no limite, para o surgimento do feudalismo, sem entretanto tê-lo determinado, pois o processo de ruralização começara muito antes.

Um afro abraço.

fonte:www.alem-mar.org

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Historias Africanas:O HOMEM CHAMADO NAMARASOTHA

 Havia um homem que se chamava Namarasotha. Era pobre e andava sempre vestido com farrapos. Um dia foi à caça. Ao chegar ao mato, encontrou uma impala morta.

 Quando se preparava para assar a carne do animal apareceu um passarinho que lhe disse:
- Namarasotha, não se deve comer essa carne. Continua até mais adiante que o que é bom estará lá. 
O homem deixou a carne e continuou a caminhar. Um pouco mais adiante encontrou uma gazela morta. Tentava, novamente, assar a carne quando surgiu um outro passarinho que lhe disse: - Namarasotha, não se deve comer essa carne. Vai sempre andando que encontrarás coisa melhor do que isso. Ele obedeceu e continuou a andar até que viu uma casa junto ao caminho. Parou e uma mulher que estava junto da casa chamou-o, mas ele teve medo de se aproximar pois estava muito esfarrapado. -Chega aqui!, insistiu a mulher. Namarasotha aproximou-se então.

 -  Entra, disse ela. Ele não queria entrar porque era pobre. Mas a mulher insistiu e Namarasotha entrou, finalmente. -Vai te lavar e veste estas roupas, disse a mulher. E ele lavou-se e vestiu as calças novas. Em seguida, a mulher declarou:-A partir deste momento esta casa é tua. Tu és o meu marido e passas a ser tu a mandar.
 E Namarasotha ficou, deixando de ser pobre. 

Um certo dia havia uma festa a que tinham de ir. Antes de partirem para a festa, a mulher disse a Namarasotha: -Na festa a que vamos quando dançares não deverás virar-te para trás. Namarasotha concordou e lá foram os dois. Na festa bebeu muita cerveja de farinha de mandioca e embriagou-se.

- Começou a dançar ao ritmo do batuque. A certa altura a música tornou-se tão animada que ele acabou por se virar. E no momento em que se virou, ficou como estava antes de chegar à casa da mulher: pobre e esfarrapado.

NOTA: Todo o homem adulto deve casar-se com uma mulher de outra linhagem. Só assim é respeitado como homem e tido como «bem vestido». O adulto sem mulher é «esfarrapado e pobre». A verdadeira riqueza para um homem é a esposa, os filhos e o lar. Os animais que Namarasotha encontrou mortos simbolizam mulheres casadas e se comesse dessa carne estaria a cometer adultério. Os passarinhos representam os mais velhos, que o aconselham a casar com uma mulher livre. Nas sociedades matrilineares do Norte de Moçambique (donde provém este conto), são os homens que se integram nos espaços familiares das esposas.
Nestas sociedades, o chefe de cada um destes espaços é o tio materno da esposa. O homem casado tem de sujeitar-se às normas e regras que este traça. Se se revolta e impõe as suas, perde o seu estatuto de marido e é expulso, ficando cada cônjuge com o que levou para o lar. Cumprindo sempre o que os passarinhos lhe iam dizendo durante a sua viagem em busca de «riqueza», Namarasotha acabou por encontrá-la: casou com uma mulher livre e obteve um lar. Mas por não ter seguido o conselho da mulher, perdeu o estatuto dignificante de homem adulto e casado.  

Um afro abraço.

fonte:www.contioutra.com/

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Deuses Africanos: OSSAIN, ORIXÁ DAS FOLHAS, SENHOR DA CURA NATURAL...

Origem e História
Kó si ewé, kó sí Òrìsà, ou seja, sem folhas não há orixá, elas são imprescindíveis aos rituais do Candomblé. Cada orixá possui suas próprias folhas, mas só Ossaim (Òsanyìn) conhece os seus segredos, só ele sabe as palavras (ofó) que despertam seu poder, sua força.
Ossaim desempenha uma função fundamental no Candomblé, visto que sem folhas, sem sua presença, nenhuma cerimônia pode se realizar, pois ele detém o axé que desperta o poder do ‘sangue’ verde da folhas.
As folhas de Ossaim veiculam o axé oculto, pois o verde é uma das qualidades do preto. As folhas e as plantas constituem a emanação direta do poder da terra fertilizada pela chuva. São como as escamas e as penas, que representam o procriado. O sangue das folhas é uma das forças mais poderosas, que traz em si o poder do que nasce e do que advém.
É preciso esclarecer que o sangue (ejé) é um elemento essencial no Candomblé. Três são os tipos de sangue: o vermelho, dos animais, do azeite-de-dendê, do mel; o preto (verde), do sumo das folhas, e o branco, do sêmen, do vinho de palma, da água.
As folhas constituem o fundamento inicial do Candomblé. Antes de passar por qualquer ritual, o neófito tomará o banho de ervas (amassi) que o purificará e será sua primeira consagração dentro do culto. É com o amassi que se lavam os colares, os objetos rituais do ibá, a cabeça, a alma e o corpo dos iniciados. É sobre as folhas sagradas de ossaim que repousará o iaô em sua consagração ao orixá. É com as folhas que os animais consentem o sacrifício. Ossaim é, portanto, a primeira consagração no Candomblé: primeira e constante, pois a folha faz parte do dia-a-dia dos adeptos do Candomblé; Ossaim é imprescindível à religião, aos orixás e aos iniciados.


Todas as folhas possuem poder, mas algumas têm finalidades específicas e não servem para o banho ritual. Nem todas as folhas servem para os ritos do Candomblé. Nos banhos de amassi, por exemplo, devem ser utilizadas folha não-leitosas que não queimem; outras, como o Oju-orô, devem passar por uma preparação especial antes de ser utilizadas nos banhos. Em outros termos, existem folhas que podem ser usadas nos rituais e folhas que não podem; outras devem passar por ritos especiais, algumas folhas não servem para o banho. Enfim, as folhas possuem inúmeras utilidades dentro e fora do Candomblé, mas é preciso que o

sacerdote saiba utilizá-las de maneira correta.

Ossaim é o grande sacerdote das folhas, grande feiticeiro, que por meio das folhas pode realizar curas e milagres, pode trazer progresso e riqueza. È nas folhas que está à cura para todas as doenças, do corpo ou do espírito. Portanto, precisamos lutar por sua preservação, para que conseqüências desastrosas não atinjam os seres humanos.
A floresta é a casa de Ossaim, que divide com outros orixás do mato, como Ogum e Oxóssi, seu território por excelência, onde as folhas crescem em seu estado puro, selvagem, sem a interferência do homem; é também o território do medo, do desconhecido, motivo pelo qual nenhum caçador deve penetrar na floresta na mata sem deixar na entrada alguma oferenda, como alho, fumo ou bebida. Medo de que? Medo dos encantamentos da floresta, medo do poder de Ogum, de Oxóssi, de Ossaim; respeito pelas forças vivas da natureza, que não permitem a pessoas impuras ou mal-intencionadas penetrar em sua morada. Se nela entrarem, talvez jamais encontrem o caminho de volta.

Ossaim teria um auxiliar que se responsabilizaria por causar o terror em pessoas que entram na floresta sem a devida permissão. Aroni seria um misterioso anãozinho perneta que fuma cachimbo (figura bastante próxima ao Saci-Pererê), possui um olho pequeno e o outro grande (vê com o menor) e tem uma orelha pequena e a outra grande(ouve com a menor). Muitas vezes Aroni é confundido com o próprio Ossaim, que, segundo dizem, também possui uma única perna. Não se pode por isso confundir Ossaim com o Saci-Pererê, que é um personagem do folclore brasileiro. Ossaim é orixá de grande fundamento, que possui uma só
perna porque a árvore, base de todas as folha possui um só tronco.

"De acordo com a história desse orixá, há uma rivalidade entre Ossaim e Orunmilá, que reflete, na verdade, a antiga disputa entre os Oníìsegùn - mestres em medicina natural que dominavam o poder das folhas - e os Babalawó - sacerdotes versados nos profundos mistérios do cosmo e do destino dos seres, os pais do segredo.'
Lendas: ... Ossain foi escravo

A história revela que ossain era escravo de orunmilá e recusava-se a cortar as folhas que teriam inúmeras utilidades na manutenção da saúde das pessoas: ervas que curam febre,as dores de cabeça e as cólicas. Tomando conhecimento do fato, Orunmilá quis ver quais eram as ervas de tão grande valor. Convencido do conhecimento de Ossain, Orunmilá percebeu que ele poderia lhe ser útil e o manteve para sempre a seu lado para as consultas.

... Os segredos das folhas lhe pertence Xangô, cujo temperamento é impaciente, guerreiro e impetuoso, irritado por não deter os conhecimentos secretos sobre a utilização das folhas, usou de um ardil para tentar usurpar de Ossain a propriedade das folhas. Falou dos planos à sua esposa Iansã, a senhora dos ventos.

Explicou-lhe que, em certos dias, Ossain pendurava, num galho de Iroko, uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas. "Desencadeie uma tempestade bem forte num desses dias", disse-lhe Xangô.

Iansã aceitou a missão com muito gosto. O vento soprou a grandes rajadas, levando o telhado das casas, arrancando árvores, quebrando tudo por onde passava e, o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada. A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram. Os orixás se apoderaram de todas. Cada um tornou-se dono de algumas delas, mas Ossain permaneceu senhor do segredo de suas virtudes e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação. E, assim, continuou a reinar sobre as plantas como senhor absoluto. Graças ao poder (axé) que possui sobre elas.

... o nome das plantas

Òrúnmílá dá a Òsanyìn o nome das plantas. Ifá foi consultado por Òrúnmílá que estava partindo da terra para o céu e que estava indo apanhar todas as folhas. Quando Òrúnmílá chegou ao céu Olódùmaré disse, eis todas as folhas que queria pegar o que fará com elas ? Òrùnmílá respondeu que iria usá-las, disse que, iria usá-las para beneficio dos seres humanos da Terra. Todas as folhas que Òrunmílá estava pegando, Òrúnmílá carregaria para a Terra. Quando chegou à pedra Àgbàsaláààrin ayé lòrun (pedra que se encontra no meio do caminho entre o céu e a terra) Aí Òrúnmílá encontrou Òsanyìn no caminho.
Perguntou: Òsanyìn onde vai? Òsanyìn disse; "Vou ao céu, disse ele, vou buscar folhas e remédios". Òrúnmílá disse, muito bem, disse, que já havia ido buscar folhas no céu, disse, para benefício dos seres humanos da terra. Disse, olhe todas essas folhas, Òsanyìn pode apenas arrebatar todas as folhas. Ele poderia fazer remédios (feitiços) com elas porém não conhecia seus nomes. Foi Òrúnmílá quem deu nome a todas as folhas. Assim Òrúnmílá nomeou todas as folhas naquele dia. Ele disse, você Òsanyìn carrega todas as folhas para a terra, disse, volte, iremos para terra juntos.


'Foi assim que Òrúnmílá entregou todas as folhas para Òsanyìn naquele dia. Foi ele quem ensinou a Òsanyìn o nome das folhas apanhadas."
... livre para o mundo

Desde pequeno Òsanyìn andava metido mata adentro. Conhecia todas as folhas, sabendo empregá-las na cura de doenças e outros males. Um dia Òsanyìn resolveu partir pelo mundo. Por onde andava era aclamado como o grande curandeiro.
Certa vez salvou a vida de um rei, que em recompensa deu-lhe muitas riquezas. Òsanyìn não aceitou nada daquilo; disse que aceitaria somente os honorários que seriam pagos a qualquer médico.

Tempos depois, a mãe de Òsanyìn adoeceu. Sendo procurado por seus irmãos e para espanto destes, Òsanyìn exigiu o pagamento de sete cauris por seus serviços, pois não poderia trabalhar para quem quer que fosse no mundo, sem receber algo. Mesmo contrariados os irmãos pagaram-lhe os sete cauris e sua mãe foi salva. Òsanyìn curou a mãe e seguiu caminho, pois ele é a folha e tinha que estar livre para o mundo.
Originário de Iraô, atualmente na Nigéria, muito próxima à fronteira com o antigo Daomé. Não faz parte, como muitos pensam, do panteão jeje assimilado pelos nagô, como Nana, Omolu, Oxumaré e Ewá. Ossaim é um deus originário da etnia ioruba. Contudo, é evidente que entre os jeje havia um deus responsável pelas folhas, e Ágüe é o seu nome, por isso Ossaim dança
bravun e sató, a exemplo dos deuses do antigo Daomé.Uma confusão latente se refere ao sexo de Ossaim; é preciso esclarecer que se trata de um orixá do sexo masculino. Entretanto, como feiticeiro e estudioso das plantas, não teve tempo de relacionamentos amorosos. Sabe-se que foi parceiro de Iansã, mas o controvertido relacionamento com Oxóssi, que ninguém pode afirmar se foi ou não amoroso, é o mais comentado.

Na verdade, Ossaim e Oxóssi possuem inúmeras afinidades: ambos são orixás do mesmo espaço, da floresta, do mato, das folhas, grandes feiticeiros e conhecedoresnão fazia parte dos 16 companheiros de Odùdùwa quando na chegada de Ifá (Orunmilá). Patrono da vegetação rasteira, das folhas e de seus preparos, defensor da saúde, é a divindade das
plantas medicinais e litúrgicas. Cada Orixá tem a sua folha, mas só Ossain detém seus segredos. E sem as folhas e seus segredos não há axé, portanto sem ele nenhuma cerimônia é possível. Osanyin usa uma cabaça chamada Igbá-Osanyin. Fuma e bebe mel e pinga.

Osanyin também é um feiticeiro, por isto é representado por um pássaro chamado Eleyê, que reside na sua cabaça. As proprietárias do pássaro do poder são as feiticeiras. Ele carrega também sete lanças com um pássaro em cima da haste, o qual é seu mensageiro e voa para trazer-lhe notícias. Osanyin está extremamente ligado a Orunmilá, Senhor da Adivinhações. Estas relações, hoje cordial e de franca colaboração, atravessaram no passado período de rivalidade.

Ossain recebera de Olodumaré o segredo das folhas. Ele sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor. Outras, a sorte, a glória, as honras ou ainda, a miséria, as doenças e os acidentes. Os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta. Eles dependiam de Ossain para manter sua saúde ou para o sucesso de suas iniciativas.
As folhas de Osanyin veiculam ao axé oculto, pois o verde é uma das qualidades do preto. As folhas e as plantas constituem a emanação direta do poder da terra fertilizada pela chuva.

São como as escamas e as penas, que representam o procriado. O sague das folhas é um dos axés mais poderosos, que traz em si o poder do que nasce e do que advém.

OSANYIN existe em todas as folhas, por isso quando as queimam as matas ele fica revoltado com o ser humano, que destrói a força da natureza, que é a cura de todas as doenças que  existem e que vão existir.

Um afro abraço.
fonte: Grupo de trabalho de Povos tradicionais da UNEGRO

sábado, 21 de novembro de 2015

Sou um Heroi brasileiro,sou João Cândido Felisberto o Almirante...


"Almirante negro" (Encruzilhada do Sul, 24 de junho de 1880 — Rio de Janeiro, 6 de dezembro de 1969) foi um militar brasileiro da Marinha de Guerra do Brasil, líder da Revolta da Chibata (1910).

Introdução
Em 22 de novembro de 1910, um grupo de marinheiros do Rio de Janeiro promoveu uma das mais importantes rebeliões da história do Brasil: a Revolta da Chibata.

Liderados pelo marinheiro negro João Cândido Felisberto, os marujos tomaram três encouraçados na Baía de Guanabara e ameaçaram disparar os canhões contra a então capital da República. O que eles queriam? O fim dos castigos corporais na Marinha do Brasil e melhores condições de alimentação e de trabalho. Foi um ato de coragem contra as Forças Armadas, que naquele momento contavam com uma das mais modernas frotas navais do planeta.

Causas da revolta
Planejado por cerca de dois anos e que culminou com um motim que se estendeu de 22 até 27 de novembro de 1910 na baía de Guanabara, na ocasião, rebelaram-se cerca de 2400 marinheiros contra a aplicação de castigos físicos a eles impostos (as faltas graves eram punidas com 25 chibatadas), ameaçando bombardear a cidade.

Durante o primeiro dia do motim foram mortos marinheiros infiéis ao movimento e cinco oficiais que se recusaram a sair de bordo, entre eles o comandante do Encouraçado Minas Geraes, João Batista das Neves.

Na manhã do dia 23, o emissário do governo, o deputado federal e capitão-de-mar-e-guerra José Carlos de Carvalho esteve a bordo do encouraçado São Paulo, onde lhe foi determinado que se dirigisse ao Minas Geraes para falar com o líder da revolta, João Cândido, dando-se assim início às negociações entre o governo e os revoltosos.

José Carlos de Carvalho levou para o Congresso a impressão que teve da força dos marinheiros e um Manifesto com exigências, sendo a principal o fim da chibata. O Manifesto, que tinha sido escrito durante as reuniões preparatórias, citava todos os oficiais

presos nos navios e relacionava todos os navios sob o controle dos marinheiros. Isso demonstra que os revoltosos acreditavam que poderiam fazer a revolta sem mortes, e que a adesão à revolta seria total, quando a realidade era diferente disso.

Os navios que não aderiram à revolta, na maioria contratorpedeiros, entraram em prontidão para torpedear os revoltosos. No dia 25 de Novembro, o então Ministro da Marinha, almirante Joaquim Marques Batista de Leão expediu a ordem: "hostilize com a máxima energia, metendo-os a pique sem medir sacrifícios." No mesmo dia, entretanto, o Congresso Nacional aprovou a anistia para os revoltosos. Há versões de que o encouraçado Deodoro chegou a receber tiros dos contratorpedeiros, que logo cessaram fogo e voltaram para a orla.

Quatro dias depois do motim, a 26, o governo do presidente Marechal Hermes da Fonseca declarou aceitar as reivindicações dos amotinados, abolindo os castigos físicos e anistiando os revoltosos que se entregassem. Estes, então, depuseram armas e entregaram as embarcações. Entretanto, dois dias mais tarde, a 28, foi feito um novo decreto, que permitia que fossem expulsos da Marinha aqueles elementos "inconvenientes à disciplina".

Reivindicações
"O líder da revolta, João Cândido (conhecido como o Almirante Negro), redigiu a carta reivindicando o fim dos castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para todos que participaram da revolta. Caso não fossem cumpridas as reivindicações, os revoltosos ameaçavam bombardear a cidade do Rio de Janeiro (então capital do Brasil)."

Duas semanas depois de os rebeldes terem se rendido e terem desarmado os navios, obtendo do governo um decreto de Anistia, eclodiu o que a Marinha denomina de "segunda revolta". Em combate, num arremedo de motim num dos navios que não aderiram à Revolta pelo fim da Chibata, morreram mais um oficial e um marinheiro. Esta "segunda revolta" desencadeou uma série de mortes de marinheiros indefesos, ilhados, detidos em navios e em masmorras, além da expulsão de dois mil marinheiros, atos amparados pelo estado de sítio que a "segunda revolta" fez o Congresso Brasileiro aprovar.

No Congresso, parlamentares levantaram a possibilidade de esta "segunda revolta" ter sido encomendada, ou no mínimo fomentada pelo Governo Federal (Presidente, Marinha, Exército e simpatizantes no Congresso), pois foi o Governo o maior beneficiado, com o

estado de sítio, que não somente lhe permitiu excluir 2.000 marinheiros (eram 2379 os revoltados) e matar um número incerto mas estimado em duas centenas de marinheiros, como também afastar os adversários políticos, que ficaram a favor da Anistia dos marinheiros rebeldes, como o candidato à presidência derrotado, Rui Barbosa, isolando-o em São Paulo.

Segunda revolta

Apesar de se declarar contra a "segunda revolta", e até mesmo ter atirado (graças a uma culatrinha de canhão que um dos marinheiros havia escondido dos oficiais) contra os fuzileiros, companheiros seus da Marinha, para provar lealdade ao Governo Federal que havia dado a Anistia e garantido o fim da chibata, João Cândido também foi preso e expulso da Marinha, sob a acusação de ter favorecido os fuzileiros rebeldes. Entre os detidos na Ilha das Cobras, dezoito foram recolhidos à cela n° 5, escavada na rocha viva.

Ali foi atirada cal virgem, na véspera de Natal, 24 de Dezembro de 1910. Após vinte e quatro horas, estavam mortos asfixados 16 homens; apenas João Cândido e o soldado naval João Avelino, conhecido como "Pau de Lira" sobreviveram na cela 5. Numa outra cela morreram mais dois.

Mais vindita aconteceu: cento e cinco marinheiros foram desterrados para trabalhos forçados nos seringais da Amazônia, tendo sido onze destes fuzilados nesse trânsito . Além disso, testemunhas, entre elas João Cândido e Marcelino Rodrigues(o chicoteado na véspera da revolta), demonstram que vários marinheiros foram mortos nos quartéis e nas ruas. Sem contar o massacre da Ilha das Cobras do dia 10, à qual não foi permitido o acesso da Imprensa a partir do dia 10.

Estima-se que havia na Ilha 300 presos (somando anteriores à Revolta e após 26 de Novembro, fim da revolta e do decreto da anistia) e 300 fuzileiros navais. Quando estalou a

"segunda revolta", 350 fugiram entre a noite do dia 9 e a manhã do dia 10. Destes 250 marinheiros e fuzileiros restantes, houve notícia de 60 sobreviventes encontrados após o cessar-fogo. Os números reais das mortes comandadas pelo governo, exército e marinha, nas dependências do Estado nacional, rendidos, nunca foram oficialmente divulgados.

Se liga:

A estimativa de duas centenas é bastante conservadora. Duzentos mortos e dois mil expulsos após a revolta. Barbaridade que não se compara às 6 mortes de marinheiros e 6 mortes de oficiais em situação de combate no dia 22 de Novembro e no dia 09 de Dezembro. Matar homens amarrados, rendidos, por vingança, realmente uma mancha na imagem da Marinha de 1910. Uma época felizmente superada.

O Almirante Negro, como foi chamado pela imprensa, um dos sobreviventes à detenção na ilha das Cobras, foi internado no Hospital dos Alienados em Abril de 1911, como louco e indigente. Ele e nove companheiros só seriam julgados e absolvidos das acusações dois anos mais tarde, em 1 de dezembro de 1912.

João Cândido, o Almirante Negro, apelido dado pela imprensa da época. Desde a infância

numa fazenda na divisa do Rio Grande do Sul com o Uruguai, passando pela liderança da Revolta da Chibata até internação como louco, ele enfrentou muitas dificuldades, que se seguiram até o fim da sua vida, em 1969. 

 - 'Herói pouco conhecido, morreu na miséria e no esquecimento."

Um afro abraço.

fonte:Wikipédia, a enciclopédia livre

Refletindo ainda o 20 de Novembro já no seculo XXI por que o racismo ainda persiste...

História do Dia Nacional da Consciência Negra
Esta data foi estabelecida pelo projeto lei número 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003. Foi escolhida a data de 20 de novembro, pois foi neste dia, no ano de 1695, que morreu Zumbi

, líder do Quilombo dos Palmares.

A homenagem a Zumbi foi mais do que justa, pois este personagem histórico representou a luta do negro contra a escravidão, no período do Brasil Colonial. Ele morreu em combate, defendendo seu povo e sua comunidade. Os quilombos representavam uma resistência ao sistema escravista e também um forma coletiva de manutenção da cultura africana aqui no Brasil. Zumbi lutou até a morte por esta cultura e pela liberdade do seu povo.

Introdução:
No Brasil, África do Sul e Estados Unidos têm mais de 125 milhões de cidadãos identificados como afro-descendentes pela ascendência e/ou cor que há muito tempo têm sido submetidos ao racismo, à discriminação racial e a outras formas de tratamento desumano. Seus esforços no sentido de se livrarem, e de livrarem seus países, do racismo representam uma das histórias de direitos humanos mais transcendentais e esperançosas do século XX.


O racismo, do modo como o conhecemos hoje, é uma construção social relativamente recente na história do homem. Até a Idade Média, antes do período das Grandes Navegações, as principais formas de discriminação se davam por diferenças religiosas e políticas ou em relação à nacionalidade e à língua falada pelos indivíduos. Com a descoberta da África e, principalmente, a partir do tráfico negreiro para a América, os europeus usaram a ciência a favor do colonialismo exploratório para desenvolverem teorias de superioridade racial, baseadas em diferenças biológicas, que endossavam seus interesses comerciais e de dominação.

Historia:   
Foi nesse momento que surgiu a diferenciação pela cor - o racismo -, que não resistiu aos avanços nos campos biológico e antropológico da ciência, mas deixou marcas indeléveis nas sociedades que fizeram uso das teorias raciais para justificar a escravidão, como o Brasil. Isto porque “[...] o ‘racismo’ se constrói junto com a noção de ‘raça’. Mas, pior, o ‘racismo’ pode sobreviver à dissolução científica da noção de ‘raça’2” (p. 211), já que ele, assim como os demais preconceitos, é um produto da cultura na qual está inserido. Dessa forma, o racismo “transformou-se em arma ideológica para legitimar e justificar a dominação de uns sobre os outros4” (p. 18).   Sendo assim, ele se adapta perspicaz mente às condições de aceitabilidade exigidas pelos costumes e convenções sociais,
manifestando-se às claras ou de maneira cortinada e simbólica, sendo parte constituinte da psique coletiva do conjunto da sociedade. Essa cultura de discriminação racial, embora tenha reflexos mais contundentes nas classes vulneráveis economicamente, “abarca indistintamente pobres, classe média e ricos em todas as sociedades racistas” (p. 39). Dessa maneira, é o próprio “racismo que opera o processo social e cultural de racionalização” (p.220).

A construção social da cor’ deu-se e dá-se de modo tão particularmente intenso no mundo moderno que todos – ‘negros’ e ‘brancos’, ou outras cores que se queira acrescentar - aprendem de um modo ou de outro a enxergar o mundo a partir desta e de outras diferenciações, as quais acabam se tornando, por isto mesmo, socialmente significativas em detrimento de diferenças que só aparecem como relevantes no âmbito individual (cor dos olhos, altura, desenho do rosto, espessura do corpo). [...] Tirando as diferenças sexuais e etárias, que se impõem naturalmente,existem dezenas de especialidades biológicas que não são percebidas ou valoradas socialmente, e outras que podem sê-lo. Por que as diferenças de pigmentação da pele são selecionadas socialmente como diferenças, inclusive motivando preconceitos e formação de identidades, e não as diferenças de tipos sanguíneos, por exemplo?2 (p 51 e 52)

Preconceito em Harvard; no Brasil racismo “velado”...

Eleita a melhor instituição de ensino superior do mundo no top 100 da THE (Times Higher Education) a Universidade de Harvard está sendo alvo de críticas de seus alunos negros, que lançaram uma campanha chamada Eu Também Sou de Harvard esta semana.

A ação traz fotos que foram publicadas nas redes sociais, nas quais os estudantes seguram cartazes que mostram frases consideradas preconceituosas, que eles ouviram de colegas da universidade.

Estudantes negros de Harvard protestam contra preconceito USP cai, mas é a única brasileira entre as melhores universidades do mundo.

No Brasil, especialistas apontam que apesar dos avanços promovidos por ações afirmativas como a lei de cotas que determina que 20% das vagas das universidades federais devem ser ocupadas por negros, pardos, índios e alunos de escolas públicas, a desigualdade racial ainda persiste.

O último levantamento do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) divulgado em outubro do ano passado mostrou que o número total de estudantes universitários do Brasil passou de 6,739 milhões em 2011 para 7,037 milhões em 2012. Fazendo recorte dos negros de pardos, houve um avanço. O número de universitários passou de 807.199 (11,9% do total) para 933.685 (13,2%).

Conferência Mundial contra o Racismo (WCAR) é o título de vários eventos internacionais organizados pela UNESCO para combater o racismo em suas várias formas. Desde então, quatro conferências foram realizadas: em 1978,1983, 2001 e 2009.

Fundada após a o Segunda Guerra Mundial como um órgão dependente das Nações Unidas, a UNESCO começou, logo após a sua criação, a realizar e publicar estudos sobre grupos étnicos, visando dissipar racionalizações pseudocientíficas sobre o racismo

. Dentre os primeiros trabalhos publicados está declaração sobre A Questão da Raça, de 1950, assinada por renomados acadêmicos da época.

Desde 1948, o combate à discriminação racial e à violência étnica tem sido objeto de várias convenções, declarações e conferências das Nações Unidas, destacando-se os seguintes:
Convenção para a prevenção e a sanção do crime de genocídio -
Declaração sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial - 1963
Convenção internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial - 1965
21 de março designado Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial - 1966
Convenção internacional para a supressão e castigo do crime de Apartheid - 1973
Primeira década do combate ao racismo e à discriminação racial: 1973-1982
Primeira Conferência Mundial para Combate ao Racismo e à Discriminação Racial. Genebra, 1978
Segunda Conferência Mundial para Combate ao Racismo e à Discriminação Racial. Genebra, 1983
Segunda década do combate ao racismo e à discriminação racial: l983-l992
Terceira década do combate ao racismo e à discriminação racial: 1993-2002
Conferência Mundial contra o Racismo é legal pratique a Discriminação Racial e Xenofobia foder ate o talo Conexas de Intolerância. Durban, 2001
Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Conexas de Intolerância. Durban, 2009.

Paz e reconciliação
O racismo sempre teve o rápido poder de criar conflitos mortíferos. Na medida que as distâncias globais encolhem, áreas urbanas crescem e imigração internacional aumenta,

muitas nações enfrentarão novos perigos. Suas cidades e periferias receberão populações novas ou pouco conhecidas, frequentemente sobrepostas pela primeira vez, com culturas, idiomas e hábitos diferentes, aparentemente incompatíveis ou até hostis. Tais desdobramentos ameaçam escalar agudamente os conflitos entre diversos grupos no mundo.

A única constante é a mudança
A mudança e o progresso no combate ao racismo e aos seus efeitos insidiosos são possíveis.
Certa vez o sociólogo internacional Gunnar Myrdal usou a metáfora de um "círculo vicioso" declinante para descrever de que maneira os fatores como raça, pobreza e analfabetismo interagem para oprimir os afro-descendentes. Mas também falou de um "círculo virtuoso" pelo qual a transformação rende bons resultados. Quando muitos fatores se interligam, a mudança pode desencadear uma mudança para o bem ou para o mal.

Certa vez Nelson Mandela escreveu:

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta."

 Se liga:
Nos últimos anos, foram aprovadas diversas leis no Brasil com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos afrodescendentes e de valorizar a contribuição do negro à sociedade brasileira. Dentre as quais, a Lei nº 10.639 de 2003, que tornou obrigatório o ensino da História da África e da cultura afro-brasileira nas escolas,a Lei nº 12.288 de 2010, que
instituiu o Estatuto da Igualdade Racial, a Lei nº 12.519 de 2011, que instituiu o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra , a Lei nº 12.711 de 2012, que tornou obrigatória a reserva de cotas raciais no Ensino Superior e a Lei nº 12.990 de 2014, que também tornou obrigatória a reserva de cotas para negros nos concursos públicos.

Um afro abraço.

fonte:https://pt.wikipedia.org.

sábado, 14 de novembro de 2015

O racismo de ontem e de hoje: A africana Saartjie


Saartjie "Sarah" Baartman (1789-1815) foi a mais famosa de, pelo menos, duas mulheres hotentotes usadas como atrações secundárias de circo na Europa do século XIX sob o nome de Vénus Hotentote.

Saartjie Baartman nasceu no seio de uma família khoisan no vale do rio Gamtoos, na atual província do Cabo Oriental, na África do Sul. Esta é a forma africânder do seu nome, cujo original é desconhecido. Saartjie (que se pronuncia «Sarqui») pode ser considerado equivalente ao português «Sarazinha».

Saartjie era criada de servir numa fazenda de holandeses perto da Cidade do Cabo. Hendrick Cezar, irmão do seu patrão, sugeriu que ela se exibisse na Inglaterra, prometendo que isso a tornaria rica. Lord Caledon, governador do Cabo, permitiu a viagem, embora tenha lamentado tal decisão após saber o seu verdadeiro propósito.

Saartjie foi para Londres em 1810 e viajou por toda a Inglaterra exibindo as suas dimensões corporais «inusitadas» (segundo a perspetiva europeia), o que levou à opinião generalizada de que estas eram típicas entre os hotentotes.

Mediante um pagamento extra, os seus exibidores permitiam aos visitantes tocar-lhe as nádegas, cujo invulgar volume (esteatopigia) parecia estranho e perturbador ao europeu da época.

Por outro lado, Saartjie tinha sinus pudoris, também conhecido por «avental», «cortina da vergonha» ou «bandeja», em referência aos longos lábios da genitália de algumas Khoisan. Segundo Stephen Jay

A sua exibição em Londres causou escândalo, tendo a sociedade filantrópica African Association criticado a iniciativa e lançado um processo em tribunal. Durante o seu depoimento, Sarah Baartman declarou, em holandês, não se considerar vítima de coação e ser seu perfeito entendimento que lhe
cabia metade da receita das exibições. O tribunal decidiu arquivar o caso, mas o acórdão não foi satisfatório, devido a contradições com outras investigações, pelo que a continuação do espetáculo em Londres tornou-se impossível.

No final de 1814, Saartjie foi vendida a um francês, domador de animais, que viu nela uma oportunidade de enriquecimento fácil. Considerando que a adquirira como prostituta ou escrava, o novo dono mantinha-a em condições muito mais duras. Foi exposta em Paris, tendo de aceitar exibir-se completamente nua, o que contrariava o seu voto de jamais exibir os órgãos genitais. As celebrações da reentronização de Napoleão Bonaparte no início de 1815 incluíram festas noturnas. A exposição manteve-se aberta durante toda a noite e os muitos visitantes bêbados divertiram-se apalpando o corpo da indefesa mulher.

Foi depois exposta a multidões, que zombavam dela. Era alvo de caricaturas, mas chamou também o interesse de cientistas e pintores. O anatomista francês Georges Cuvier e outros naturalistas visitaram-na, tendo sido objeto de numerosas ilustrações científicas no Jardin du Roi.

Gould, «os pequenos lábios ou lábios internos dos genitais da mulher comum são extremamente

longos nas mulheres khoi-san e podem sobressair da vagina entre 7,5 e mais de 10 cm quando a mulher está de pé, dando a impressão de uma cortina de pele distinta e envolvente» (Gould, 1985). Em vida, Saartjie nunca permitiu que este seu derradeiro traço fosse exibido.
O corpo foi totalmente investigado e medido, com registo do tamanho das nádegas, do clitóris, dos lábios e dos mamilos para museus e institutos zoológicos e científicos.

Com a nova derrota de Napoleão, o fim do seu governo e a ocupação da França pelas tropas aliadas em junho de 1815, as exposições tornaram-se impossíveis. Saartje foi levada a prostituir-se e tornou-se alcoólica. Morreu em dezembro de 1815, ao cabo de 15 meses em França. Como causa da morte, foram aventadas várias hipóteses: varíola, sífilis ou pneumonia.Se liga:    Saartjie Baartman morreu a 29 de Dezembro de 1815 de uma doença inflamatória. Para não ter de pagar o enterramento, o domador de animais vendeu o cadáver ao Musée de l'Homme (Museu do Homem), em Paris, onde foi feito um molde em gesso do corpo. Os resultados da autópsia foram publicados por Henri de Blainville em 1816 e por Cuvier emMémoires du Museum d'Histoire Naturelle em 1817. Cuvier anotou, nessa monografia, que Saartjie era uma mulher «inteligente, com excelente memória e fluente em holandês». Além do molde em gesso, o esqueleto, os órgãos genitais e o cérebro, conservados em formol, estiveram em exibição até 1974.
A construção do corpo exótico de Saartjie Baartman em Vénus Noire
"A atribuição de valores aos dados corporais construídos a partir da colonização européia no continente africano informa-nos como as mulheres negras são representadas na Diáspora, através dos discursos literários e científicos e nas práticas sociais. O uso exploratório do corpo das mulheres negras escravizadas no sistema patriarcal-racista, seja no trabalho braçal, seja como objeto sexual, é legitimado pelo racismo científico predominante no século XIX, destituindo-as da condição de humana. A construção do corpo “exótico” naturalizou a subalternização das mulheres negras em diferentes dimensões da sociedade na contemporaneidade, fenômeno que pode ser apreendido através do conceito de interseccionalidade em que gênero, raça, classe e outras formas".
de desigualdade sustentam as relações de poder

"Os restos mortais de Sarah Baartman foram inumados na sua terra natal, Gamtoos Valley, a 3 de Maio de 2002.'

Sem Mais...

fonte: enciclopédia livre.

Favelas as grandes vítimas do coronavírus no Brasil

O Coronavírus persiste e dados científicos se tornam disponíveis para a população, temos observado que a pandemia evidencia como as desigual...