A História da África é conhecida no Ocidente por escritos que datam da Antiguidade Clássica. O homem passou a estar presente na África durante os primeiros anos da era quaternária ou os últimos anos da era terciária. A maioria dos restos de hominídeos fósseis que os arqueólogos encontraram, australopitecos, atlantropos, homens de Neandertal e de Cro-Magnon, em lugares diferenciados da África é a demonstração de que essa parte do mundo é importante no processo evolutivo da espécie humana e indica, até, a possível busca das origens do homem nesse continente. As semelhanças comparáveis da história da arte que vai entre o paleolítico e o neolítico são iguais às das demais áreas dos continentes europeu e asiático, com diferenças focadas em regiões então desenvolvidas. A maioria das zonas do interior do continente, meio postas em isolamento, em contraposição ao litoral, ficaram permanentes em estágios do período paleolítico, apesar da neolitização ter sido processada no início em 10.000 a.C., com uma diversidade de graus acelerados.
Introdução:
"Depois de ter conquistado pela força o Norte de África, o Islão penetrou lentamente no continente, de norte para sul, através do deserto, pelo vale do Nilo e pela costa oriental do Índico. Na África o Islão adquiriu características próprias, combinando tradições locais com crenças islâmicas. Hoje a Arábia Saudita pretende impor um Islão purificado do sincretismo. Mas os muçulmanos africanos, na sua maioria, preferem a forma moderada e sincretista do Islão, que a África moldou."
Os muçulmanos entraram em África como refugiados no início da sua história. Perseguidos pelo povo de Meca, por ordem do profeta Maomé, atravessaram o mar Vermelho e procuraram refúgio na Etiópia, foram acolhidos pelo rei Najashi, que lhes concedeu
proteção, respeito e liberdade. «A África tornou-se o primeiro refúgio seguro para os muçulmanos e a Etiópia seria o primeiro lugar fora da Península Arábica onde o Islão seria praticado» («Islão em África», da Wikipédia).
No Norte de África
Logo após a morte do profeta Maomé, no entanto, entraram novamente em África, mas desta vez como conquistadores. Em 639 d. C., populações nómadas de árabes muçulmanos deixaram a península arábica e invadiram o Egipto, em seguida dirigiram-se para oeste, para a Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos. Em duas gerações, todo o Norte de África se tornou muçulmano. Quando os Árabes chegaram ao Norte de África, a Igreja cristã já tinha sido enfraquecida pela ocupação e perseguição dos Vândalos. Toda a classe alta latinizada fugiu para a Europa. Bispos, padres e monges abandonaram o país, deixando a população cristã privada de liderança. Não havia ninguém para cuidar dela. A população indígena, os Berberes, que continuava intocada pelo Cristianismo, abraçou o Islão, contribuindo com os Árabes para criar o Magrebe islâmico. No Egipto, a política islâmica para com os cristãos era de «tolerância com alguma discriminação»: os cristãos eram «cidadãos contribuintes de segunda categoria, sem oportunidades económicas». Foi proibida a construção e reparação de igrejas, bem como o culto público e o uso dos sinos das igrejas. Ser dispensado do pagamento de impostos e alcançar a plena cidadania foram o maior estímulo para abraçar o Islão. Ao longo dos séculos, o Cristianismo egípcio foi reduzido a uma minoria, isolada do resto do mundo cristão, e apenas comprometida com a sua sobrevivência. A longa opressão «trouxe a identificação muito importante da fé cristã com a herança nacional, que ajudou os coptas a preservar tanto o seu carácter nacional e o Cristianismo até aos nossos dias» (cf. J. Baur, 2000 Years of Christianity in Africa).
No vale do Nilo
Os muçulmanos estabeleceram-se no Egipto, quando, no século vii d. C., uma nova vaga de nómadas árabes entrou no país em busca de pastagens para os seus camelos e para
as suas cabras. Os governantes muçulmanos do Egipto, para protegerem as suas terras cultivadas, empurraram-nos para sul, ao longo do Nilo, onde a partir do século xiconseguiram conquistar e, de seguida, destruir os três reinos cristãos da Núbia (Nobácia, Macúria e Alódia) do actual Norte do Sudão, e fizeram do Islão a religião do país. Os Sudaneses do Norte chamam-se a si próprios árabes. São apenas negros africanos arabizados que abraçaram o Islão, que abandonaram a sua cultura africana, adoptaram nomes árabes e deram a si próprios uma falsa ascendência árabe.
Na costa
Nos séculos vii e viii d. C., os muçulmanos árabes e persas introduziram o Islão ao longo da costa da África Oriental, «matando e afugentando todos os que não aceitaram a sua religião». Não fizeram nenhuma tentativa de se expandirem para o continente, mas manteve-se ao longo da costa o estabelecimento de centros comerciais e a construção de bonitas cidades, das quais Lamu e Zanzibar são as mais conhecidas. A mistura de mercadores persas (Shirazi, que é o maior grupo étnico na ilha de Zanzibar) e omanitas com as populações locais deu origem ao povo suaíli, com um estilo de vida e civilização típicos e uma nova linguagem, o suaíli, uma mistura de árabe e banto, destinado a tornar-se língua franca da África Oriental.
Ao longo do Sara
A progressiva expansão do Islão no interior do continente africano foi um processo lento e gradual que começou com a conquista árabe do Norte de África e que continuou até aos tempos coloniais. Seguiu as rotas das caravanas que atravessam o deserto do Sara das terras do Mediterrâneo, no Norte, para a savana, no Sul. Foi trabalho de comerciantes muçulmanos, sábios e «homens santos». Estes, por norma, foram sufis, os membros das irmandades religiosas que favoreceram os elementos místicos do Islão e se esforçaram por alcançar o conhecimento de Deus através da emoção, meditação e cerimónias com cânticos, música e dança. O resultado foi a conversão ao Islamismo de impérios, reinos e
sultanatos, como o império do Kanen (700-1376 d. C.), o reino de Kanu (1000-1805), o Império de Bornu (1369-1893), o sultanato de Sennar (1502-1821) e o sultanato de Fur Dar (1603-1874) e o estabelecimento de centros de estudo, tais como Timboctu, nas regiões ao sul do Sara, que os geógrafos árabes chamavam Sudão, «a terra dos negros». No séculoxiv, o explorador Ibn Battuta ficou fortemente impressionado com a fé e a atenção zelosa com a lei dos muçulmanos na savana africana ao sul do Sara. Menção especial merece o califado de Sokoto, na Nigéria (1804-1903), um Estado teocrático criado por Usman dan Fodio, com uma interpretação estrita do Islão, um forte impulso missionário e o recurso a uma guerra jihad, para expansão do Islão.
Na senda do colonialismo
O tempo de rápida expansão do Islão na África Subsariana surgiu com o colonialismo. Nos séculos xix e xx, o Islão tornou-se a fé de um número significativo de africanos a sul do Sara. Foi o que aconteceu num contexto criado pela dominação europeia sobre o continente. O colonialismo foi para o Islão o que o Império Romano tinha sido para o Cristianismo, estabelecendo as condições adequadas para colher os resultados de um trabalho «missionário» decisivo de comerciantes africanos muçulmanos, pessoal administrativo ao serviço das potências coloniais, «sábios» membros de irmandades religiosas, professores e viajantes. Personalidades africanas muçulmanas bem informadas introduziram o Islão como solução para as necessidades locais específicas. Ao contrário da tendência dos muçulmanos dos tempos antigos, eles não têm planos para introduzir a língua árabe e fazer da civilização árabe a nova sociedade africana islâmica, com o Norte do Sudão a ser a única excepção. Os Africanos mantiveram as suas próprias línguas e identidades.
"No início do III milénio, a população muçulmana estimada do continente (incluindo o Norte de África) é de 430 milhões, dos quais 241 milhões na África Subsariana."
O carácter africano do Islão
Na África, o Islão adquiriu características próprias. Mantém os seus princípios essenciais, mas inseriu neles princípios tradicionais, ritos e práticas trazidos pelos convertidos, e pelas crenças e ritos próprios da espiritualidade do sufi ou xeque das irmandades que estabeleceram as comunidades muçulmanas. O Islão na África é de natureza sincrética, em que crenças tradicionais locais são combinadas com crenças islâmicas.
O estilo de vida dos muçulmanos da Nigéria é diferente do da África do Sul. Os muçulmanos da costa leste africana podem distinguir-se facilmente dos do interior do continente.
A forma como o Islão é praticado no Sudão é significativamente diferente da de outros países islâmicos. Foi introduzido e desenvolvido por irmandades religiosas e fortemente condicionado e influenciado pela doutrina e os rituais dos fundadores. Só recentemente o regime «islâmico» de Omar al-Bashir (no poder desde 1989) fez sérias tentativas para remover influências, crenças e ritos sufis e irmandades religiosas e impor um sistema
unificado e um currículo de estudos religiosos ortodoxo para educar os «novos» muçulmanos.
Islão africano ou saudita?
A Arábia Saudita está determinada a pôr fim a estas diversidades, para trazer uniformidade e pureza de doutrina e práticas entre os muçulmanos da África e de todo o mundo. Para os líderes religiosos sauditas, o caminho para o conseguir é impor, a todas as formas do Islão, o wahabbismo, desenvolvido por um teólogo muçulmano do século xviii(Muhammad ibn Abd al-Wahhab) de Najd, Arábia Saudita. O wahabbismo é um movimento religioso que defende fortemente a singularidade e a unicidade de Deus, trata o Alcorão e a Hadith como os únicos textos fundamentais e com autoridade, e rejeita tudo o que não esteja em conformidade com eles. O wahabbismo defende a purga do Islão de «impurezas», como o culto popular dos santos, mesmo da festa muito popular do mulid (o dia do nascimento do profeta Maomé), de santuários e culto de túmulos e outras formas tradicionais, que são vistos como idolatria.
O wahabbismo ganhou considerável influência no mundo muçulmano, financiado pelos petrodólares da Arábia Saudita, passou a financiar liberalmente mesquitas, escolas e programas sociais, todos executados por pessoal formado no pensamento wahabbita. Através de diversas organizações e instituições, como a Liga Mundial Muçulmana, a Assembleia Mundial da Juventude Muçulmana, a Federação da Associação Muçulmana da Grã-Bretanha e Escolas Islâmicas, a Arábia Saudita procura difundir o ensino, cultura e costumes do wahabbismo.
A Sharia na África Subsariana
Hoje há um grande clamor para a aplicação da Sharia (lei islâmica) em países e em regiões onde os muçulmanos são maioria. Mas na África Subsariana a maioria dos Estados limitam o seu uso a «estatuto pessoal», como é o caso do Quénia, para questões de casamento, divórcio, herança e poder paternal. Há países, como a Somália e alguns Estados predominantemente islâmicos da Nigéria, que insistem em aplicá-la em todos os aspectos da vida da população. Mas os resultados não são encorajadores, dando origem a violência, violações dos direitos humanos e destruição de comunidades inteiras.
O processo de globalização e a rápida evolução dos acontecimentos mundiais exercem pressão sobre os muçulmanos para chegarem a acordo com a «modernidade». Para
alguns, a solução está no recurso ao terrorismo. Os meios de comunicação social falam
muitas vezes de terroristas e islamitas, como se as palavras fossem sinónimos, o que irrita muitos muçulmanos verdadeiros. Em Maio, um deles escreveu a um jornal queniano: «Fico irritado sempre que [os terroristas] são referidos como “islamitas”. Os objectivos destes não têm nada que ver com o Islão. O Islão não tolera o assassínio em massa de pessoas inocentes [...]. Nada pode justificar este tipo de loucura.»
Muçulmanos com identidade africana.
Tudo considerado, parece que a grande maioria dos muçulmanos africanos prefere manter-se fiel à forma moderada do Islão tolerante. Apenas um grupo relativamente pequeno gostaria de estabelecer uma forma rigorosa de religião, que controle todos os aspectos da vida. A coexistência entre muçulmanos e não muçulmanos permanece, na maioria das vezes, pacífica.
Voltando um pouco...
O Islamismo surgiu em 630, quando Maomé se apoderou de Meca, afastou os Coraixitas do poder e destruiu os ídolos da Caaba. De 630 até 660, o Islamismo foi dirigido pelos familiares de Maomé, os Haxemitas. De 660 até 750, a dinastia Omíada esteve no poder. Os Abássidas começaram a dirigir o Islamismo em 750, quando na Espanha já surgia o primeiro califado autônomo, instaurado por descendentes dos Omíadas.
Do exposto, concluímos que a facilidade do proselitismo islâmico se explica tambem em função do sincretismo que caracterizou a religião de Maomé. Sincretismo, aliás, adequado às necessidades materiais e espirituais dos árabes. A importância de Maomé prende-se ao
fato de ter percebido a realidade árabe, adaptando-lhe uma religião na medida das necessidades impostas pela própria realidade
Em última análise, o êxito da doutrina islâmica se deve ao fato de ser ela uma espécie de teorização da realidade. Não nos cabe fazer juízos de valor sobre a atuação de Maomé; importa apenas que ele atingiu os fins perseguidos.
O Islamismo traz no próprio bojo os fatores explicativos de sua expansão. No plano material, o modo de vida típico dos árabes — sobretudo na Arábia do Deserto — constitui um dado importante: a falta de recursos, a explosão populacional, as guerras constantes entre as tribos, o nomadismo, tudo isso foi canalizado pelo Estado Teocrático como fatores impulsionadores da conquista. O interesse pelo botim é o dado econômico da expansão, assim como a miscigenação é o dado social mais importante. Em termos religiosos, as recompensas extraterrenas, a visão do Paraíso e a Guerra Santa foram, a um só tempo, fatores religiosos e psicológicos da expansão....
Finalizando:
A conquista muçulmana foi facilitada pela fraqueza dos Impérios Persa e Bizantino, assim como pela debilidade dos Estados bárbaros que haviam sucedido ao antigo Império Romano do Ocidente. A existência de um poder político localizado, no lugar da antiga centralização imperial, beneficiou o avanço muçulmano.
Os contatos iniciais entre muçulmanos e cristãos foram quase sempre belicosos, salvo
raras exceções. Esse fator, aliado à própria expansão árabe, contribuiu para a ruralização da Europa Ocidental e, no limite, para o surgimento do feudalismo, sem entretanto tê-lo determinado, pois o processo de ruralização começara muito antes.
Um afro abraço.
fonte:www.alem-mar.org
Introdução:
"Depois de ter conquistado pela força o Norte de África, o Islão penetrou lentamente no continente, de norte para sul, através do deserto, pelo vale do Nilo e pela costa oriental do Índico. Na África o Islão adquiriu características próprias, combinando tradições locais com crenças islâmicas. Hoje a Arábia Saudita pretende impor um Islão purificado do sincretismo. Mas os muçulmanos africanos, na sua maioria, preferem a forma moderada e sincretista do Islão, que a África moldou."
Os muçulmanos entraram em África como refugiados no início da sua história. Perseguidos pelo povo de Meca, por ordem do profeta Maomé, atravessaram o mar Vermelho e procuraram refúgio na Etiópia, foram acolhidos pelo rei Najashi, que lhes concedeu
proteção, respeito e liberdade. «A África tornou-se o primeiro refúgio seguro para os muçulmanos e a Etiópia seria o primeiro lugar fora da Península Arábica onde o Islão seria praticado» («Islão em África», da Wikipédia).
No Norte de África
Logo após a morte do profeta Maomé, no entanto, entraram novamente em África, mas desta vez como conquistadores. Em 639 d. C., populações nómadas de árabes muçulmanos deixaram a península arábica e invadiram o Egipto, em seguida dirigiram-se para oeste, para a Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos. Em duas gerações, todo o Norte de África se tornou muçulmano. Quando os Árabes chegaram ao Norte de África, a Igreja cristã já tinha sido enfraquecida pela ocupação e perseguição dos Vândalos. Toda a classe alta latinizada fugiu para a Europa. Bispos, padres e monges abandonaram o país, deixando a população cristã privada de liderança. Não havia ninguém para cuidar dela. A população indígena, os Berberes, que continuava intocada pelo Cristianismo, abraçou o Islão, contribuindo com os Árabes para criar o Magrebe islâmico. No Egipto, a política islâmica para com os cristãos era de «tolerância com alguma discriminação»: os cristãos eram «cidadãos contribuintes de segunda categoria, sem oportunidades económicas». Foi proibida a construção e reparação de igrejas, bem como o culto público e o uso dos sinos das igrejas. Ser dispensado do pagamento de impostos e alcançar a plena cidadania foram o maior estímulo para abraçar o Islão. Ao longo dos séculos, o Cristianismo egípcio foi reduzido a uma minoria, isolada do resto do mundo cristão, e apenas comprometida com a sua sobrevivência. A longa opressão «trouxe a identificação muito importante da fé cristã com a herança nacional, que ajudou os coptas a preservar tanto o seu carácter nacional e o Cristianismo até aos nossos dias» (cf. J. Baur, 2000 Years of Christianity in Africa).
No vale do Nilo
Os muçulmanos estabeleceram-se no Egipto, quando, no século vii d. C., uma nova vaga de nómadas árabes entrou no país em busca de pastagens para os seus camelos e para
as suas cabras. Os governantes muçulmanos do Egipto, para protegerem as suas terras cultivadas, empurraram-nos para sul, ao longo do Nilo, onde a partir do século xiconseguiram conquistar e, de seguida, destruir os três reinos cristãos da Núbia (Nobácia, Macúria e Alódia) do actual Norte do Sudão, e fizeram do Islão a religião do país. Os Sudaneses do Norte chamam-se a si próprios árabes. São apenas negros africanos arabizados que abraçaram o Islão, que abandonaram a sua cultura africana, adoptaram nomes árabes e deram a si próprios uma falsa ascendência árabe.
Na costa
Nos séculos vii e viii d. C., os muçulmanos árabes e persas introduziram o Islão ao longo da costa da África Oriental, «matando e afugentando todos os que não aceitaram a sua religião». Não fizeram nenhuma tentativa de se expandirem para o continente, mas manteve-se ao longo da costa o estabelecimento de centros comerciais e a construção de bonitas cidades, das quais Lamu e Zanzibar são as mais conhecidas. A mistura de mercadores persas (Shirazi, que é o maior grupo étnico na ilha de Zanzibar) e omanitas com as populações locais deu origem ao povo suaíli, com um estilo de vida e civilização típicos e uma nova linguagem, o suaíli, uma mistura de árabe e banto, destinado a tornar-se língua franca da África Oriental.
Ao longo do Sara
A progressiva expansão do Islão no interior do continente africano foi um processo lento e gradual que começou com a conquista árabe do Norte de África e que continuou até aos tempos coloniais. Seguiu as rotas das caravanas que atravessam o deserto do Sara das terras do Mediterrâneo, no Norte, para a savana, no Sul. Foi trabalho de comerciantes muçulmanos, sábios e «homens santos». Estes, por norma, foram sufis, os membros das irmandades religiosas que favoreceram os elementos místicos do Islão e se esforçaram por alcançar o conhecimento de Deus através da emoção, meditação e cerimónias com cânticos, música e dança. O resultado foi a conversão ao Islamismo de impérios, reinos e
sultanatos, como o império do Kanen (700-1376 d. C.), o reino de Kanu (1000-1805), o Império de Bornu (1369-1893), o sultanato de Sennar (1502-1821) e o sultanato de Fur Dar (1603-1874) e o estabelecimento de centros de estudo, tais como Timboctu, nas regiões ao sul do Sara, que os geógrafos árabes chamavam Sudão, «a terra dos negros». No séculoxiv, o explorador Ibn Battuta ficou fortemente impressionado com a fé e a atenção zelosa com a lei dos muçulmanos na savana africana ao sul do Sara. Menção especial merece o califado de Sokoto, na Nigéria (1804-1903), um Estado teocrático criado por Usman dan Fodio, com uma interpretação estrita do Islão, um forte impulso missionário e o recurso a uma guerra jihad, para expansão do Islão.
Na senda do colonialismo
O tempo de rápida expansão do Islão na África Subsariana surgiu com o colonialismo. Nos séculos xix e xx, o Islão tornou-se a fé de um número significativo de africanos a sul do Sara. Foi o que aconteceu num contexto criado pela dominação europeia sobre o continente. O colonialismo foi para o Islão o que o Império Romano tinha sido para o Cristianismo, estabelecendo as condições adequadas para colher os resultados de um trabalho «missionário» decisivo de comerciantes africanos muçulmanos, pessoal administrativo ao serviço das potências coloniais, «sábios» membros de irmandades religiosas, professores e viajantes. Personalidades africanas muçulmanas bem informadas introduziram o Islão como solução para as necessidades locais específicas. Ao contrário da tendência dos muçulmanos dos tempos antigos, eles não têm planos para introduzir a língua árabe e fazer da civilização árabe a nova sociedade africana islâmica, com o Norte do Sudão a ser a única excepção. Os Africanos mantiveram as suas próprias línguas e identidades.
"No início do III milénio, a população muçulmana estimada do continente (incluindo o Norte de África) é de 430 milhões, dos quais 241 milhões na África Subsariana."
O carácter africano do Islão
Na África, o Islão adquiriu características próprias. Mantém os seus princípios essenciais, mas inseriu neles princípios tradicionais, ritos e práticas trazidos pelos convertidos, e pelas crenças e ritos próprios da espiritualidade do sufi ou xeque das irmandades que estabeleceram as comunidades muçulmanas. O Islão na África é de natureza sincrética, em que crenças tradicionais locais são combinadas com crenças islâmicas.
O estilo de vida dos muçulmanos da Nigéria é diferente do da África do Sul. Os muçulmanos da costa leste africana podem distinguir-se facilmente dos do interior do continente.
A forma como o Islão é praticado no Sudão é significativamente diferente da de outros países islâmicos. Foi introduzido e desenvolvido por irmandades religiosas e fortemente condicionado e influenciado pela doutrina e os rituais dos fundadores. Só recentemente o regime «islâmico» de Omar al-Bashir (no poder desde 1989) fez sérias tentativas para remover influências, crenças e ritos sufis e irmandades religiosas e impor um sistema
unificado e um currículo de estudos religiosos ortodoxo para educar os «novos» muçulmanos.
Islão africano ou saudita?
A Arábia Saudita está determinada a pôr fim a estas diversidades, para trazer uniformidade e pureza de doutrina e práticas entre os muçulmanos da África e de todo o mundo. Para os líderes religiosos sauditas, o caminho para o conseguir é impor, a todas as formas do Islão, o wahabbismo, desenvolvido por um teólogo muçulmano do século xviii(Muhammad ibn Abd al-Wahhab) de Najd, Arábia Saudita. O wahabbismo é um movimento religioso que defende fortemente a singularidade e a unicidade de Deus, trata o Alcorão e a Hadith como os únicos textos fundamentais e com autoridade, e rejeita tudo o que não esteja em conformidade com eles. O wahabbismo defende a purga do Islão de «impurezas», como o culto popular dos santos, mesmo da festa muito popular do mulid (o dia do nascimento do profeta Maomé), de santuários e culto de túmulos e outras formas tradicionais, que são vistos como idolatria.
O wahabbismo ganhou considerável influência no mundo muçulmano, financiado pelos petrodólares da Arábia Saudita, passou a financiar liberalmente mesquitas, escolas e programas sociais, todos executados por pessoal formado no pensamento wahabbita. Através de diversas organizações e instituições, como a Liga Mundial Muçulmana, a Assembleia Mundial da Juventude Muçulmana, a Federação da Associação Muçulmana da Grã-Bretanha e Escolas Islâmicas, a Arábia Saudita procura difundir o ensino, cultura e costumes do wahabbismo.
A Sharia na África Subsariana
Hoje há um grande clamor para a aplicação da Sharia (lei islâmica) em países e em regiões onde os muçulmanos são maioria. Mas na África Subsariana a maioria dos Estados limitam o seu uso a «estatuto pessoal», como é o caso do Quénia, para questões de casamento, divórcio, herança e poder paternal. Há países, como a Somália e alguns Estados predominantemente islâmicos da Nigéria, que insistem em aplicá-la em todos os aspectos da vida da população. Mas os resultados não são encorajadores, dando origem a violência, violações dos direitos humanos e destruição de comunidades inteiras.
O processo de globalização e a rápida evolução dos acontecimentos mundiais exercem pressão sobre os muçulmanos para chegarem a acordo com a «modernidade». Para
muitas vezes de terroristas e islamitas, como se as palavras fossem sinónimos, o que irrita muitos muçulmanos verdadeiros. Em Maio, um deles escreveu a um jornal queniano: «Fico irritado sempre que [os terroristas] são referidos como “islamitas”. Os objectivos destes não têm nada que ver com o Islão. O Islão não tolera o assassínio em massa de pessoas inocentes [...]. Nada pode justificar este tipo de loucura.»
Muçulmanos com identidade africana.
Tudo considerado, parece que a grande maioria dos muçulmanos africanos prefere manter-se fiel à forma moderada do Islão tolerante. Apenas um grupo relativamente pequeno gostaria de estabelecer uma forma rigorosa de religião, que controle todos os aspectos da vida. A coexistência entre muçulmanos e não muçulmanos permanece, na maioria das vezes, pacífica.
Voltando um pouco...
O Islamismo surgiu em 630, quando Maomé se apoderou de Meca, afastou os Coraixitas do poder e destruiu os ídolos da Caaba. De 630 até 660, o Islamismo foi dirigido pelos familiares de Maomé, os Haxemitas. De 660 até 750, a dinastia Omíada esteve no poder. Os Abássidas começaram a dirigir o Islamismo em 750, quando na Espanha já surgia o primeiro califado autônomo, instaurado por descendentes dos Omíadas.
Do exposto, concluímos que a facilidade do proselitismo islâmico se explica tambem em função do sincretismo que caracterizou a religião de Maomé. Sincretismo, aliás, adequado às necessidades materiais e espirituais dos árabes. A importância de Maomé prende-se ao
fato de ter percebido a realidade árabe, adaptando-lhe uma religião na medida das necessidades impostas pela própria realidade
Em última análise, o êxito da doutrina islâmica se deve ao fato de ser ela uma espécie de teorização da realidade. Não nos cabe fazer juízos de valor sobre a atuação de Maomé; importa apenas que ele atingiu os fins perseguidos.
O Islamismo traz no próprio bojo os fatores explicativos de sua expansão. No plano material, o modo de vida típico dos árabes — sobretudo na Arábia do Deserto — constitui um dado importante: a falta de recursos, a explosão populacional, as guerras constantes entre as tribos, o nomadismo, tudo isso foi canalizado pelo Estado Teocrático como fatores impulsionadores da conquista. O interesse pelo botim é o dado econômico da expansão, assim como a miscigenação é o dado social mais importante. Em termos religiosos, as recompensas extraterrenas, a visão do Paraíso e a Guerra Santa foram, a um só tempo, fatores religiosos e psicológicos da expansão....
Finalizando:
A conquista muçulmana foi facilitada pela fraqueza dos Impérios Persa e Bizantino, assim como pela debilidade dos Estados bárbaros que haviam sucedido ao antigo Império Romano do Ocidente. A existência de um poder político localizado, no lugar da antiga centralização imperial, beneficiou o avanço muçulmano.
Os contatos iniciais entre muçulmanos e cristãos foram quase sempre belicosos, salvo
raras exceções. Esse fator, aliado à própria expansão árabe, contribuiu para a ruralização da Europa Ocidental e, no limite, para o surgimento do feudalismo, sem entretanto tê-lo determinado, pois o processo de ruralização começara muito antes.
Um afro abraço.
fonte:www.alem-mar.org
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