UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Sabedorias e poderes da Medicina Milenar Tradicional Africana

SABEDORIAS DA MEDICINA TRADICIONAL AFRICANA
-“Diz o velho adágio popular que “Deus dá o mal e também dá o remédio para este mal”.

Nunca algo foi tão bem definido como este ditado. Neste trabalho procuramos, a partir de uma coletânea de ervas usadas para os Orixás dentro dos candomblés, trazer a público as suas utilizações na terapia de vários males que afligem a sociedade.

As relações da religiosidade com a saúde e os processos de cura, procurando entender as formas como os indivíduos vivenciam a doença, o sofrimento, a dor e as práticas de cura. Trata-se de pesquisa exploratória de caráter etnográfico, com observação participante em um templo religioso afro-brasileiro, localizado no Rio de Janeiro. Um efeito fundamental da religião é alterar o significado de uma doença para aquele que sofre, não implicando necessariamente remoção dos sintomas, mas mudança positiva dos significados atribuídos à doença. A religiosidade dá sentido à vida, diante do sofrimento, ao criar uma rede social de apoio. Constatamos que a prática religiosa tem complementado as práticas médicas oficiais. As informações coletadas nos permitem afirmar que as práticas religiosas se constituem em lugares de acolhimento, de cura e de saúde para aqueles que as buscam. Apontamos para a necessidade de aprofundamento de estudos dessa temática que venham a se somar enquanto possibilidades de ajuda e alternativa de "cura" às pesquisas da prática biomédica.


No Brasil -É costume nos rituais afro-brasileiros dizer-se que “sem as ervas, não existiria Orixás, e, sem Orixá, não existiriam as ervas”. O estranho encantamento que as folhas, as raízes e as ervas exercem dentro dos rituais, é assunto fascinante e desafiador para quem acredita em algo mais do que uma Aspirina. Neste trabalho, procuramos trazer ao conhecimento dos estudiosos da cultura afro-brasileira, aos médicos, fitoterapeutas, antropólogos e cientistas das diversas áreas, algumas informações preciosas que estavam ameaçadas de se perderem no tempo ou dentro de um velho baú de recordações de um antigo “candomblé” cujo terreno tenha sido desapropriado para a construção de uma mansão de um político qualquer

"Sementes, plantas, bagas, raízes, cascas, ervas. Quem nunca ouviu falar de uma receita mágica para uma dor de barriga? Uma pomada ou um chá para tratar um problema de saúde mais delicado? Em África, o segredo da medicina tradicional continua a passar de geração em geração, após milhares de anos, continuando a resolver os problemas das populações e surpreendendo os cientistas que apostam cada vez mais no seu estudo".

Por muito tempo, a medicina tradicional da África foi subestimada pela ciência ocidental. Hoje, séculos depois de descaso com as técnicas de cura africanas, pesquisadores do mundo todo começam a reconhecer a eficácia dos tratamentos desenvolvidos. Sobretudo com sistemas integrados de saúde, além de mais acessível e sustentável, a medicina tradicional tem-se provado preciosa na ajuda do combate a doenças como câncer, transtornos psiquiátricos, hipertensão arterial, vitiligo, cólera, doenças venéreas, epilepsia entre outros.
De disciplina holística que envolve fitoterapia indígena e espiritualidade, a solução da medicina tradicional, diferente da filosofia do ocidente, não busca apenas a cura e a recuperação dos sintomas físicos, mas sim um equilíbrio entre paciente, ambiente cultural e mundo energético, procurando a reinserção social e psicológica do doente dentro de sua comunidade. As práticas e experiências da medicina são sabedorias passadas de geração em

geração, com formações sociais que implicam em lições de procedimentos de diagnóstico, recursos medicinais, preparação de receitas médicas, administração dos medicamentos e, sobretudo, treinamento teórico, prático e espiritual adequado.

A filosofia humanista empregada, muitas vezes associada à filosofia ubuntu, se afasta do ganho material. Assim, os curandeiros geralmente fornecem o serviço gratuitamente, sem exigir encargos do paciente, o que estimula um forte código de ética na prestação de serviços de saúde de uma comunidade. O profissional é assim, durante seu treinamento, preparado para ser algo além de responsável e eficiente, mas também um bom ouvinte, orgulhoso de si mesmo, de sua tradição e cultura.

Misturando métodos biomédicos, dietas e jejuns, ervas terapêuticas, banhos, massagens e pequenos procedimentos cirúrgicos, a sabedoria médica africana é a favorita de seus habitantes. Hoje, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, mais de 80% da população do continente confiam seus cuidados à medicina tradicional. Ainda, suas práticas são reconhecidas por quase todos os países do continente, sobretudo nos serviços de cuidados gerais, de parto, de saúde mental e de doenças não agudas, que vêm mostrando excelentes resultados.

Eu cuido do meu povo [...]. Eu privo da maldade, ajudo a arrumar emprego, ajudo os inocentes a saírem da cadeia, as pessoas a terem saúde, dou conselhos [...]. Há um povo que conta comigo [...]. Quanto mais o povo eleva meu nome, mais eu cresço espiritualmente. O povo tem que saber quem eu sou e o que eu faço".
A proposta das organizações adeptas à filosofia local, assim como a de alguns governos, é de cada vez mais integrar as técnicas da medicina tradicional aos sistemas de saúde nacional, unindo força das diferentes ideologias de medicina, combinando às práticas locais seja com técnicas ocidentais ou com os know-hows chineses e indianos. Para o pesquisador, Paulo
Peter Mhame, a ação e implantação da associação dos saberes podem chamar por um futuro
brilhante. Ele explica que uma vez que a medicina tradicional e seus praticantes forem formal e explicitamente reconhecidos por todos os países seja por meio de políticas de implementação ou por meio do desenvolvimento de um marco regulatório, um sistema de qualificação e licenciamento, que respeitem tradições e costumes, estará estabelecido.
Ainda, segundo o especialista, assim será possível um modelo que permita a atualização de conhecimentos e habilidades na pesquisa tradicional, protegendo a sabedoria local e o acesso a recursos biológicos. A integração entre medicina tradicional e ocidental possibilita o aumento da cobertura de cuidados de saúde, o potencial econômico e a redução da pobreza, uma vez que a produção local é incentivada e o acesso aos medicamentos é ampliado. As vantagens não param por aí: custos reduzidos, falta de necessidade de exportação, cultivo local em larga escala e criação de oportunidades de emprego, tanto na indústria quanto na prática medicinal. Assim, as 6400 espécies de plantas medicinais utilizadas na África e as sabedorias locais milenares, combinadas com bom aproveitamento, formam um potencial que pode, com êxito, confrontar os desafios da saúde no continente.

Considerações- Aos nossos gryos que fizeram de suas vidas um banco de informação destes dados que levamos a certeza de que os outros tantos fitoterapeutas, homeopatas, alopatas e homens públicos de bem, tudo farão para minorizar o sofrimento de seu próximo, pois, afinal de contas, as ervas pertencem aos ORIXÁS e são um presente da natureza para o ser humano. –O princípio ativo das ervas é químico, portanto matematicamente infalível
As práticas religiosas têm complementado as práticas médicas oficiais e, mesmo que às vezes estigmatizadas, subsistindo o modelo biomédico hegemônico. Apesar do terreiro ser instituição religiosa e não instituição de saúde em sentido estrito, seus agentes geralmente atuam no campo da medicina (popular ou alternativa). Ou seja, os terreiros são locais de promoção da saúde e evidenciam o caráter tênue e fluido das fronteiras entre o mundo oficial

da biomedicina e o relativamente subterrâneo das práticas terapêuticas populares e religiosas.
"Apesar de se tratar de um estudo exploratório, a pesquisa de campo com a observação participante possibilitou uma compreensão mais próxima da realidade cotidiana das pessoas frequentadoras de templos religiosos"

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
fonte:www.afreaka.com.br/www.gpmina.ufma.br/arquivosDALGALARRONDO, P. Is religion membership a protective factor in the course of psychosis: a clinical study from Brazil. Curare, Berlin, v. 12, n. 1, p. 215-219, 1997./FERRETI, M. M. R. Religiões afro-brasileiras e saúde: diversidade e semelhanças. In: SEMINÁRIO NACIONAL: RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E SAÚDE, 2., 2003, São Luís. Anais... São Luís: CCN-MA, 2003. p. 1. /FREYRE, G. Casa grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. São Paulo: Global, 2005. /FRY, P. H.; HOWE, G. N. Duas respostas à aflição: umbanda e pentecostalismo. Debate e Crítica, Rio de Janeiro, n. 6, p. 75-95, 1975.    

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Tamara - Autoestima de crianças negras é antídoto contra preconceito

.COR DE QUE?...

Toda criança, um dia, carregou no estojo escolar um lápis bege-rosado popularmente conhecido como “cor-de-pele”. Cor de que pele?,

A igualdade entre os seres humanos e a singularidade de cada um de nós. Mas, em meio às comemorações do mês da consciência negra, é angustiante saber que muitas crianças ainda sofrem preconceito por conta de sua cor, cabelo e origem étnica. E é inspirador perceber as formas que as famílias vêm encontrando para reforçar a autoestima de seus filhos, formando cidadãos mais críticos e orgulhosos de si.

A chance de ser visto, ouvido, respeitado e aceito, com todas as possíveis singularidades, é algo garantido a todas as crianças pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em novembro, mês da consciência negra, e em todos os outros meses do ano. Em casa, na escola e em qualquer lugar onde os pequenos circulem. É nisso que as famílias que entrevistamos acreditam. Com força, raça e amor.

Um afro abraço.
Claudia Vitalino..

fonte:https://catracalivre.com.br

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Atlas da Violência 2017: negros e jovens são as maiores vítimas

"De acordo com o estudo, a população negra, jovem e de baixa escolaridade continua totalizando a maior parte das vítimas de homicídios no país"

Essa desigualdade se manifesta ao longo de toda a vida e em diversos indicadores socioeconômicos, em uma combinação perversa de vulnerabilidade social e racismo que os acompanha durante toda a vida. Não à toa, negros e negras ainda sofrem com enormes disparidades salariais no mercado de trabalho: dados recentes divulgados pelo IBGE mostram que negros ganham 59% dos rendimentos de brancos (2016)”, diz o documento.

“Assumir que a violência letal está fortemente endereçada à população negra e que este é um componente que se associa a uma série de desigualdades socioeconômicas é o primeiro passo para o desenvolvimento de políticas públicas focalizadas e ações afirmativas que sejam capazes de dirimir essas inequidades”,

É a primeira vez que o estudo traz o recorte de gênero, mas não foi possível determinar a razão entre as duas taxas em Alagoas por não ter sido registrado nenhum homicídio de mulher branca nessa faixa etária em 2015. A taxa de mortalidade entre jovens negras, no
entanto, foi alta: 10,7 por 100 mil habitantes.

Atualmente, de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. De acordo com informações do Atlas, os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças, já descontado o efeito da idade, escolaridade, do sexo, estado civil e bairro de residência.

“Jovens e negros do sexo masculino continuam sendo assassinados todos os anos como se vivessem em situação de guerra”.
Dado revela a persistência da relação entre o recorte racial e a violência no Brasil. Enquanto a mortalidade de não-negras (brancas, amarelas e indígenas) caiu 7,4% entre 2005 e 2015, entre as mulheres negras o índice subiu 22%.

O Atlas da Violência 2017, que analisou a evolução dos homicídios no Brasil entre 2005 e 2015 a partir de dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, mostra ainda que aconteceram 59.080 homicídios no país, em 2015. Quase uma década atrás, em 2007, a taxa foi cerca de 48 mil.

Este aumento de 48 mil para quase 60 mil mostra uma naturalização do fenômeno por parte do poder público. Daniel Cerqueira, coordenador de pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, explica que a naturalização dos homicídios se dá por processo históricos e econômicos de desigualdade no país, “que fazem com que a sociedade não se identifique com a parcela que mais sofre com esses assassinatos”, afirma.

Entre os estados, o de São Paulo foi o que apresentou a maior redução, 44,3%. Já no Rio Grande do Norte, a violência explodiu com um aumento de 232%.

Mulheres negras também na mira do extermínio -Em 2015, cerca de 385 mulheres
foram assassinadas por dia. A porcentagem de homicídio de mulheres cresceu 7,5% entre 2005 e 2015, em todo o País.

As regiões de Roraima, Goiás e Mato Grosso lideram a lista de estados com maiores taxas de homicídios de mulheres. Já São Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal, ostentam as menores taxas. No Maranhão, houve um aumento de 124% na taxa de feminicídios.

Segundo o Atlas, em inúmeros casos, as mulheres são vítimas de outras violências de gênero, além do homicídio. A Lei Maria da Penha categoriza essas violências como psicológica, patrimonial, física ou sexual.

A Lei do Feminicídio, aprovada há dois anos, foi importante para dar mais visibilidade aos assassinatos de mulheres. As informações do número de feminicídios, porém, ainda não aparecem na base de dados do SIM, constando como homicídio de mulheres.

Segundo dossiê realizado pelo Instituto Patrícia Galvão, o feminicídio corresponde à última instância de poder da mulher pelo homem, configurando-se como um controle “da vida e da morte”.

Cerqueira entende que esta e outras categorizações de assassinatos, como o feminicídio, são importantes pois “desnudam o enredo por trás das mortes”. O Brasil ocupa a quinta posição em número de feminicídios num ranking de 83 países.

“A criação de políticas públicas passa pelos dados angariados através dessas categorizações”, afirmando que, para combater esses assassinatos, o Estado não deve apenas se concentrar em aumentar o número de policiais nas ruas.

Juventude perdida!? - O Atlas mostra também que o assassinato de jovens do sexo masculino entre 15 e 29 anos corresponde a 47,85% do total de óbitos registrados no período estudado. Nessa mesma faixa etária, em Alagoas, foram 233 mortes para cada 100 mil homens. Em Sergipe, 230 homens para 100 mil.

Embora registre 197,4 casos por 100 mil habitantes, Rio Grande do Norte foi o estado que apresentou maior aumento na taxa de homicídios de homens nesta faixa etária, 313,8 %, no
período entre 2005 e 2015.

Segundo o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública acrescentou ao indicador de violência de jovens um indicador de desigualdade racial.

A partir disso, constatou-se que os jovens negros entre 12 e 29 anos estavam mais vulneráveis ao homicídio do que brancos na mesma faixa etária. Em 2012, a vulnerabilidade alcançava mais que o dobro.

Em lista dos cinco estados mais violentos do país, ocupando a 15ª posição nacional, em 2015. Segundo informações do Atlas, isso ganhou força devido ao Programa Estado Presente, de 2011, apesar da crise da greve dos policias militares no começo de 2017."A situação foi a mesma em Roraima, onde a taxa de jovens negras assassinadas foi 9,5 mortes por 100 mil habitantes, mas nenhum assassinato de jovem não negra".

No topo da desigualdade entre as taxas de homicídio estão os estados do Rio Grande do Norte, no qual as jovens negras morrem 8,11 vezes mais do que as jovens brancas, e do Amazonas, cujo risco relativo é de 6,97 (o risco relativo é a variável que considera as diferenças de mortalidade entre brancos e negros).
Em terceiro lugar aparece a Paraíba, onde a chance de uma jovem negra ser assassinada é 5,65 vezes maior do que a de uma jovem branca. Em quarto lugar vem o Distrito Federal, com risco relativo de 4,72.
Nos estados de Alagoas e Roraima não foi possível calcular a razão entre as duas taxas por não ter sido registrado nenhum homicídio de mulher branca nessa faixa etária em 2015. As taxas de mortalidade entre jovens negras nesses estados, no entanto, foram altas: 10,7 e 9,5 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Entre os homens, a chance de um jovem negro ser assassinado é 2,7 vezes superior à de um
jovem não negro. O índice é maior que o registrado no levantamento divulgado em 2015.A situação mais preocupante é a de Alagoas, onde um jovem negro tem 12,7 vezes mais chances de morrer assassinado do que um jovem branco. Na Paraíba essa diferença é de 8,9 vezes, índice também muito alto.

Para a representante da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, “a violência contra a juventude negra no Brasil atingiu índices alarmantes”.

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

fonte:https://www.cartacapital.com.br/https://anistia.org.br

Racismo: Vamos falar mais um pouco sobre isso?

Não precisa ser antropólogo, sociólogo ou especialista em humanas para ter a mínima noção sobre o tema. Nem é necessário ser negro para se colocar no lugar do outro. Eu sou branco. Nunca sofri preconceito racial, mas não significa que não posso falar sobre o assunto


Parece que, quando a conversa não é explícita – como quando pessoas brancas usam palavras como ‘macaco’ ou recusam serviços baseado na cor da pele – trazer a tona o assunto do racismo coloca muitas pessoas na defensiva ou induz afirmações bravas que negam a sua existência. Essa é uma reação que muitas pessoas não-brancas estão cansadas de receber de pessoas que tem privilégio racial, e não tem nenhuma ideia tangível do que é experimentar as injustiças sociais e institucionais de não ser branco na América.

Muitas pessoas de diferentes raças querem espaço para discutir essas questões dentro de uma cultura que amplifica vozes brancas – querem ter suas vozes ouvidas e respeitadas, mesmo que suas emoções venham de um lugar de dor.

Como pessoas que se beneficiam de um privilégio racial, não negras podem apoiar a lideranças de pessoas não-brancas ao desafiar esses mitos naturalizados sobre racismo antes mesmo de entrar em uma discussão com o assunto, principalmente discussões com pessoas que não são não negra....

Claudia Vitalino.

Um afro abraço.



sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Contos Africanos:MAHURA – A MOÇA TRABALHADEIRA

MAHURA Origem: Moçambique

Quando Olorum criou o universo, o céu e a terra viviam juntos e em perfeita

harmonia: as gotas de chuva se juntavam às águas das cachoeiras, o vento e a brisa eram companheiros inseparáveis e propiciavam um belo espetáculo formando mosaicos de folhas secas e gravetos, os homens compartilhavam a vida e não havia distinção de credo e cor, pois todos faziam parte de uma única raça: a humana.

Um dia, a terra achou que havia chegado a hora de ter um filho e deu à luz uma bela jovem na aldeia Okulo a quem deu o nome de Mahura, que significa moça trabalhadeira.

Mahura cresceu depressa e logo desenvolveu suas aptidões: trabalhava incansavelmente e com muita disciplina. Durante o dia, cuidava dos ciclos da natureza e, quando o sol se punha, sentava-se ao chão perto de um enorme pilão que usava para triturar raízes, sementes e cascas que serviriam para fazer a tintura colorida que tingia a palha e o algodão que vestia a sua tribo. Só que o pilão que Mahura usava era mágico e, quanto mais usado, mais crescia e, como a jovem era alimentada pelo trabalho, mais vigor empreendia na sua labuta.

Tanto o pilão cresceu que começou a machucar o céu que no início gemia baixinho; mas, não conseguindo suportar as dores causadas pela mão-de-pilão de Mahura, passou a reclamar.

– Céu, sobe mais um pouquinho! – pedia a moça.

Com isso, o céu foi se distanciando, distanciando, se tornando cada vez mais inacessível até chegar a ponto das nuvens não poderem mais brincar livremente e as gotas de chuva não conseguirem mais manter o solo úmido e fértil que foi ficando fraco e pobre. As frutas não mais brotavam nas árvores como flores em buquê e a tristeza tomou conta de tudo.

Também Mahura ficou infeliz e resolveu pedir desculpas ao céu que estava tão inatingível e não ouviu suas lamúrias. Então, a jovem resolveu ofertar um presente, retirou uma pepita dourada do leito de um rio dando-lhe o nome de Sol e, de uma caverna escura, retirou uma pedra redonda e reluzente à qual batizou de lua.

Atirou os presentes bem para o alto, um de cada lado do céu como um pedido de desculpas que aceitou as oferendas, mas preferiu ficar lá em cima, pois era
mais seguro.

Assim contaram, assim lhes contei: se dúvida tiverem do causo aqui narrado, olhem à noite para o céu. As estrelas que virão brilhando nada mais são do que as cicatrizes deixadas pelo pilão de Mahura.

Um afro abraço.
Claudia Vitalino

fonte: http://africa.mrdonn.org/fables.html

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Preconceito e estereótipo- Diferenças entre Racismo, Preconceito, Estereótipo e Discriminação.

O Ministério do trabalho lançou um documento chamado: " Brasil, Gênero e Raça" em que distingue
Para cada atitude há um conceito racional e cognitivo – crenças e ideias, valores afetivos associados de sentimentos e emoções que, por sua vez, levam a uma série de tendências comportamentais: predisposições.

Se liga: A atitude é cognitivo, um afetivo e um comportamental:
A cognição – o termo atitude é sempre empregado com referência à um objeto. Toma-se uma atitude em relação a que? Este objeto pode ser uma abstração, uma pessoa, um grupo ou uma instituição social.
o afeto – é um valor que pode gerar sentimentos positivos, que, por sua vez, gera uma atitude positiva; ou gerar sentimentos negativos que pode gerar atitudes negativas.
o comportamento – a predisposição : sentimentos positivos levam à aproximação; e negativos, ao esquivamento ou escape.


Dessa forma, entende-se o PRECONCEITO como uma atitude negativa que um indivíduo está predisposto a sentir, pensar, e conduzir-se em relação a determinado grupo de uma forma negativa previsível.

CARACTERÍSTICAS DO PRECONCEITO:
É um fenômeno histórico e difuso;
A sua intensidade leva a uma justificativa e legitimização de seus atos;
Há grande sentimento de impotência ao se tentar mudar alguém com forte preconceito.
Vemos nos outros e raramente em nós mesmos.


EU SOU EXCÊNTRICO, VOCÊ É LOUCO!
Eu sou brilhante; você é tagarela; ele é bêbado.
Eu sou bonito; você tem boas feições; ela não tem boa aparência.
Eu sou exigente; você é nervoso; ele é uma velha.
Eu reconsiderei; você mudou de opinião; ele voltou atrás na palavra dada.
Eu tenho em volta de mim algo de sutil, misterioso, de fragrância do oriente; você exagerou no perfume e ele cheira mal.

CAUSAS DO PRECONCEITO:Assim como as atitudes em geral, o preconceito tem três componentes: crenças; sentimentos e tendências comportamentais. Crenças preconceituosas são sempre estereótipos negativos.

Segundo Allport (1954) o preconceito é o resultado das frustrações das pessoas, que, em determinadas circunstâncias, podem se transformar em raiva e hostilidade. As pessoas que se sentem exploradas e oprimidas freqentemente não podem manifestar sua raiva contra um alvo identificável ou adequado; assim, deslocam sua hostilidade para aqueles que estão ainda mais “baixo”na escala social. O resultado é o preconceito e a discriminação.

Já para Adorno (1950), a fonte do preconceito é uma personalidade autoritária ou intolerante. Pessoas autoritárias tendem a ser rigidamente convencionais. Partidárias do seguimento às normas e do respeito à tradição, elas são hostis com aqueles que desafiam as regras sociais. Respeitam a autoridade e submetem-se a ela, bem como se preocupam com o poder da resistência. Ao olhar para o mundo através de uma lente de categorias rígidas, elas não acreditam na natureza humana, temendo e rejeitando todos os grupos sociais aos quais não pertencem, assim, como suspeitam deles. O preconceito é uma manifestação de sua desconfiança e suspeita.

 "Os seres humanos são “avarentos cognitivos” que tentam simplificar e organizar seu pensamento social o máximo possível. A simplificação exagerada leva a pensamentos equivocados, estereotipados, preconceito e discriminação".

Além disso, o preconceito e a discriminação podem ter suas origens nas tentativas que as pessoas fazem para se conformar(conformidade social). Se nos relacionamos com pessoas que expressam preconceitos, é mais provável que as aceitemos do que resistamos a elas. As pressões para a conformidade social ajudam a explicar porque as crianças absorvem de maneira rápida os preconceitos e seus pais e colegas muito antes de formar suas próprias crenças e opiniões com base na experiência. A pressão dos colegas muitas vezes torna “legal” ou aceitável a expressão de determinadas visões tendenciosas – em vez de mostrar tolerância aos membros de outros grupos sociais.

REDUÇÃO DO PRECONCEITO:

A convivência, através de uma atitude comunitária é, talvez, a forma mais adequada de se reduzir o preconceito.

COMO FUNCIONA O ESTEREÓTIPO:  É um conjunto de características presumidamente partilhadas por todos os membros de uma categoria social. É um esquema simplista mas mantido de maneira muito intensa e que não se baseia necessariamente em muita experiência direta. Pode envolver praticamente qualquer aspecto distintivo de uma pessoa – idade, raça, sexo, profissão, local de residência ou grupo ao qual é associada.

Quando nossa primeira impressão sobre uma pessoa é orientada por um estereótipo, tendemos a deduzir coisas sobre a pessoa de maneira seletiva ou imprecisa, perpetuando, assim, nosso estereótipo inicial.

RACISMO:  É a crença na inferioridade nata dos membros de determinados grupos étnicos e raciais. Os racistas acreditam que a inteligência, a engenhosidade, a moralidade e outros traços valorizados são determinados biologicamente e, portanto, não podem ser mudados. O racismo leva ao pensamento ou/ou:ou você é um de nós ou é um deles.


Um afro abraço
Claudia Vitalino

fonte:brasilescola.uol.com.br\McDavid, John e Harari, Herbert. Psicologia e comportamento social. Ed. Interciência. RJ. 1974.\Morris, Charles G. e Maisto, Albert A. . Introdução à Psicologia. Ed. Pearson

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Samba, Racismo e Identidade

A construção da identidade negra através da cultura africana, a origem do samba, o surgimento das escolas de samba X Candomblé e umbanda e nesta construção da identidade para a população negra é uma questão delicada. Mais do que ocupar os piores cargos e ser as principais vítimas de homicídio, a representação midiática negra alimenta os já perpetuados estereótipos de criminoso, vagabundo e promíscuo. Frente a esse quadro de possibilidades de espelho, quem vai querer se identificar enquanto negra/o? A representatividade positiva é fundamental para que as pessoas se definam e se reconheçam enquanto afrodescendentes

O samba é uma dança animada com um ritmo forte e característico. 
Originou da África e foi levado para a Bahia pelos escravos enviados para trabalhar nas plantações de açúcar. A dança gradualmente perdeu sua natureza ritualista e eventualmente se tornou a dança nacional brasileira. Na época de carnaval no Rio de Janeiro que colocou o samba no mapa ocidental, os baianos das plantações de açucar viajavam das aldeias até o Rio para as festas anuais. Gradualmente a batida sutil e a nuança interpretativa do samba levavam-nos rua acima dançando nos cafés e eventualmente até nos salões de baile, tornou-se a alma dança do Brasil.

-"Da mesma forma que o jazz nos Estados Unidos e a salsa (derivada do mambo e da rumba) em muitos dos países caribenhos, o samba é indiscutivelmente o gênero musical que confere identidade ao Brasil".

Nascido da influência de ritmos africanos para cá transplantados, sincretizados e adaptados, foi sofrendo inúmeras modificações por contingências das mais diversas – econômicas, sociais, culturais e musicais – até chegar no ritmo que conhecemos. E a história é mais ou menos a mesma para os similares caribenho e americano. Simbolizando primeiramente a dança para anos mais tarde se transformar em composição musical, o samba – antes
denominado “semba” – foi também chamado de umbigada, batuque, dança de roda, lundu, chula, maxixe, batucada e partido alto, entre outros, muitos deles convivendo simultaneamente! Do ritual coletivo de herança africana, aparecido principalmente na Bahia, ao gênero musical urbano, surgido no Rio de Janeiro no início do século XX, muitos foram os caminhos percorridos pelo samba, que esteve em gestação durante pelo menos meio século.

O samba surgiu da mistura de ritmos africanos, trazidos pelos escravos da África. No início, por estar ligado à cultura negra, o samba era perseguido e reprimido. Atualmente, cem anos depois do registro do samba Pelo telefone, ainda há resquícios desse preconceito?

O samba é filho da dor Podemos perceber, como uma característica do samba, letras que funcionam como instrumento de protesto contra as mazelas sociais que a população negra sofre em virtude da discriminação racial. O samba torna se um veículo no qual são expostas criticamente as injustiças de que essa população é vítima. Muitos compositores denunciam, em seus sambas, as discriminações raciais a que os(as) negros(as) são freqüentemente sujeitados(as). E a exposição das conseqüências do racismo acontece como uma forma combatê-lo já que, uma das causas da dificuldade no combate reside justamente na característica insidiosa que o racismo possui, se pensarmos no contexto brasileiro. Como exemplo de letras carregadas de crítica social, temos a letra composta por Jorge Aragão e intitulada “Identidade”


Nossa Identidade
Composição Jorge Aragão

Elevador é quase um templo;
Exemplo pra minar teu sono;
Sai desse compromisso;
Não vai ao de serviço;
Se o social tem dono, não vai ;
Quem cede a vez não quer vitória;
Somos herança da memória ;
Temos a cor da noite Filhos de todo açoite ;
Fato real de nossa história ;
Se o preto de alma branca pra você...
É o exemplo da dignidade ...
Não nos ajuda, só nos faz sofrer...
Nem resgata nossa identidade...

Se liga:Nesse samba, percebemos uma busca do fortalecimento da identidade negra

Ao situar o samba como uma forma de resistência e instrumento através do qual a população negra é (re)valorizada, uma vez que ainda sofre com estereótipos que têm um impacto negativo na auto-estima da população negra, pretendemos demonstrar o grande
potencial que o samba possui, principalmente se utilizado em sala de aula, para o fortalecimento da auto estima dos(as)  negros(as), auxiliando, assim, na construção da identidade negra.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:ABRAMOWICZ, Anete! SILVÉRIO, Valter Roberto. São Paulo educando pela diferença para a igualdade•' Módulo I. São Paulo: Secretaria do Estado da Educação, 2005. BRASIL. S ecretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Educação anti-racista•' caminhos abertos pela Lei F ederal n° 10.639/03. Brasília; Fox Press, 2005. DIRETRIZES C urriculares Nacionais p ara a Educação das Relações Etnico-Raciais e p ara o Ensino de H istória e C ultura Afro-Brasileira e Africana. B rasília. 2004. GUIMARÃES, Eduardo. Os lim ites do sentido■' um estudo histórico e enunciativo da linguagem. Cam pinas: Pontes, 2a edição, 2002.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Ó Paí Ó - Roque e Boca Discussão.- RACISMO OU INJURIA...

 

As vezes os noticiários passam informações equivocadas sobre os de crimes de racismo ou injúria racial, mas importante ressalta que ambos são diferentes.

O crime de racismo está previsto na Lei n.º 7.716/89 e ocorre quando as ofensas praticadas pelo autor atingem toda uma coletividade, um número indeterminado de pessoa, ofendendo-os por sua ‘raça’, etnia, religião ou origem, assim, impossível saber o número de vitimas atingidas. A pena prevista é a reclusão de um a três anos e multa e é inafiançável.

O crime de injúria racial está previsto no artigo 140, parágrafo 3º do Código Penal e ocorre quando o autor ofende a dignidade ou o decoro utilizando elementos de ‘raça’, cor, etnia, religião, condições de pessoas idosas e portadores de deficiência. Neste caso, diferente do racismo, a autor não atinge uma coletividade, e sim a uma determinada pessoa, no caso, a vitima. Já a pena prevista é detenção de um a seis meses ou multa e é possível o pagamento de fiança.


Para você a cena a é o que...

REBELE-SE CONTRA O RACISMO!

Claudia Vitalino

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Racismo na infância e na escola ainda é pouco discutido - A Cor da Cultura - Bruna e a Galinha d'Angola

Apesar de pouco discutido, o racismo na infância e nas escolas existe e precisa ser enfrentado, na opinião de professores e especialistas ouvidos na reportagem. Eles destacam a pouca representação de crianças negras nos meios de comunicação como uma das causas do problema.

“Enfrentar o racismo na infância é crucial e deve mobilizar toda a sociedade brasileira, porque ali estão sendo moldadas todas as possibilidades de identidade das pessoas”

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

fonte:colunas.revistaepoca.globo.com/

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

João Cândido Felisberto o líder da Revolta da Chibata

João Cândido, líder da Revolta da Chibata, teve a sua anistia reconhecida apenas em 2008.
Mesmo velho, pobre e doente, permaneceu sempre sob as vistas da Polícia e do Exército, por ser considerado um "subversivo" e “perigoso agitador".


"Há muito tempo nas águas da Guanabara... O dragão do mar reapareceu... Na figura de um bravo Marinheiro... a quem a história não esqueceu."

Dois decretos e uma lei, em momentos distintos da República, explicam um pouco da história brasileira, que ainda resiste a ser contada. O primeiro é o Decreto Federal nº 3, de 16 de novembro de 1889, assinado pelo marechal Deodoro da Fonseca um dia depois da Proclamação: “Fica abolido na Armada o castigo corporal”. Mas no ano seguinte o governo criou as chamadas companhias correcionais, para os “praças de má conduta”. Foi contra esses castigos que se insurgiram 2.300 marinheiros, em 1910, na Revolta da Chibata. No final de 1912, João Cândido Felisberto, identificado como líder do movimento, foi julgado por um conselho de guerra e considerado inocente.


A REVOLTA DA CHIBATA - As embarcações haviam aportado com autoridades para a posse do marechal Hermes da Fonseca na Presidência da República. No encouraçado Minas Gerais — o maior navio de guerra brasileiro, atracado a poucos metros do cais do porto — o clima não era nada festivo. Ao raiar do dia, toda a tripulação fora chamada ao convés para assistir aos castigos corporais a que seria submetido o marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes.

Ele tinha ferido a navalhadas o cabo Valdemar Rodrigues de Souza, que o havia denunciado

por tentar introduzir no navio duas garrafas de cachaça. Sua pena: 250 chibatadas. Esse seria o estopim para a eclosão da chamada Revolta da Chibata, movimento deflagrado pelos marinheiros contra os maus-tratos, que paralisaria a coração do Brasil por quatro dias e custaria a vida de dezenas de pessoas, entre civis e militares.

Naquela manhã, depois de ser examinado pelo médico de bordo e considerado em perfeitas condições físicas, o marinheiro Marcelino Menezes, conhecido como “Baiano”, foi amarrado pelas mãos e pés e submetido ao castigo. Primeiro soaram os tambores. Em seguida, o comandante do navio, Batista das Neves, ordenou a entrada dos carrascos, que apanharam uma corda de linho e amarraram nas pontas pequenas e resistentes agulhas de aço. A guarda entrou em formação. Tiraram as algemas das mãos do marujo e o suspenderam, nu da cintura para cima, no “pé de carneiro”, uma espécie de ferro que se prendia num corrimão. Os oficiais assistiram à cerimônia em uniforme de gala, com luvas brancas e armados de suas espadas. Alguns viraram o rosto para o lado, para não ver a tortura.

Educar na Marra- A punição pela chibata foi um hábito herdado pelo Brasil da Marinha portuguesa. Os castigos tinham a função de educar na marra os supostos maus elementos que compunham os quadros inferiores. Como diziam os oficiais, as chicotadas e lambadas tinham o objetivo de “quebrar os maus gênios e fazer os marinheiros compreenderem o que é ser cidadão brasileiro”.

Os Marinheiro - Na noite seguinte aos castigos sofridos por Marcelino, os demais marinheiros do Minas Gerais, recolhidos em seus beliches, decidiram que a situação não podia continuar daquela forma. “Isso vai acabar”, disse o marujo João Cândido, um negro alto, de 30 anos, que despontava como o líder absoluto da revolta que se aproximava.

Depois de muita conversa, decidiram tomar o poder dos navios à força, na noite de 22 de novembro. Na data estabelecida, tudo aconteceu dentro da estratégia programada. O sinal combinado entre os marujos para dar início ao movimento foi a chamada das 10 horas. 

Naquela noite, o toque do clarim não pediu silêncio e sim combate.
Cada um assumiu o seu posto e a maioria dos oficiais já estava em seus camarotes. Não

houve afobação. Cada canhão foi guarnecido por cinco marujos, com ordem de atirar para matar contra quem tentasse impedir o levante.
Logo depois do toque da corneta, o comandante Batista das Neves — que estivera num jantar a bordo do cruzador francês Duaguay Trouin — voltou ao seu navio em companhia do ajudante de ordens. Conversou rapidamente com o segundo-tenente Álvaro da Mota Silva – que assistia à faxina no convés – e recolheu-se aos seus aposentos.

No momento em que descia as escadas inferiores do navio e se despedia do comandante, Mota Silva recebeu uma forte pancada no peito, um golpe de baioneta desferido em cheio por um marinheiro que estava de tocaia. O segundo-tenente tropeçou, mas ainda conseguiu apoiar-se com a mão esquerda na arma do marujo e com a direita sacou sua espada. Com a força que ainda lhe restava, atravessou o estômago do marinheiro que, aos gritos, deu alguns passos e caiu.Atraídos pelo ruído, muitos marujos foram ao convés, para onde subiram também outros oficiais procurando conter os revoltosos. A tribulação, bradando vivas e aclamando “liberdade” e “abaixo a chibata”, avançou contra o pequeno grupo de superiores para massacrá-lo. O comandante Batista das Neves ainda tentou acalmar os ânimos e manter a disciplina. Atacado, reagiu e lutou de espada em punho cerca de 10 minutos, até ser atingido na cabeça, por golpes de machadinha.

Primeiro Disparo- O marujo Aristides Pereira, conhecido como “Chaminé”, chegou perto do corpo estendido do comandante, certificou-se de que ele estava morto e urinou sobre seu cadáver. O corpo permaneceu horas no convés e alguns marinheiros ainda fizeram graça com o comandante morto, imitando movimentos de ginástica à sua volta. A ironia referia-se ao fato de que Batista das Neves obrigava os marujos a fazer ginástica pesada todas as manhãs, para compensar a relativa imobilidade física da vida de bordo nos navios.Cinquenta minutos depois, quando cessou a luta no convés, João Cândido mandou disparar um tiro de canhão, sinal para dar o alerta aos outros navios aliados: o São Paulo, o Bahia e o Deodoro. O estrondo do primeiro tiro de canhão, vindo da direção do mar, fez tremer a cidade do Rio de Janeiro. Nem cinco minutos depois, novo tiro. Dessa vez, janelas e vidraças foram quebradas em casas do centro da cidade.

"O líder do movimento ordenou que todos os holofotes iluminassem o Arsenal da Marinha, as praias e as fortalezas. Expediu também uma mensagem por rádio para o Palácio do Catete, sede do governo federal, informando que a esquadra estava rebelada para acabar com os castigos corporais".

O presidente recém-empossado, marechal Hermes da Fonseca, e todo seu ministério assistiam, no Clube da Tijuca, à apresentação da ópera Tanhauser, de Wagner, numa inesquecível recepção que ainda fazia parte dos festejos pela vitória eleitoral. Depois do

primeiro tiro de canhão, ele voltou imediatamente para o Catete.

Almirante Negro - De início, o governo resolveu endurecer. Avisou que mandaria torpedear as embarcações caso não houvesse rendição. A repercussão da notícia, no entanto, gerou pânico na cidade. O presidente preferiu então abrandar a reação. Ele dispunha de 2 630 homens para enfrentar os 2 379 rebeldes. O poder de fogo dos amotinados — instalados naqueles que eram alguns dos mais sofisticados navios de guerra do mundo-entretanto, era muito maior. Diante da impossibilidade de combate e com o perigo iminente de um bombardeio, Hermes da Fonseca convenceu-se de que era muito mais prudente negociar com os marinheiros revoltosos.

Enquanto o governo se debatia atrás de uma solução, a esquadra rebelada permanecia atenta, com a rotina de navios em guerra. Cada soldado tinha uma função predeterminada. Foram designados turnos de trabalho para que nunca um serviço ficasse desguarnecido.

Astuto e desconfiado, o Almirante Negro — como passou a ser chamado João Cândido pela imprensa — determinou que uma barca abastecesse os navios de água. Antes que o líquido fosse descarregado, no entanto, ele ordenou que o condutor da embarcação provasse para ver se não havia veneno. Com seu uniforme branco, já bem velho e desgastado, um pé calçado num chinelo e outro numa botina, a única marca que diferenciava o líder dos demais marujos era um lenço vermelho que levava amarrado ao pescoço. Aquele era o seu distintivo.Caricatura da revista “O Malho” de novembro de 1910, mostrando a anistia para os marinheiros rebelados.

Em tempo recorde, a anistia foi aprovada a toque de caixa pelo Congresso Nacional e, na manhã de 26 de novembro, com o sol brilhando sobre a Guanabara, os navios iniciaram a aproximação para a rendição. Os morros, o cais e as praias estavam lotados de curiosos, alguns com binóculos, para assistir à chegada dos marinheiros. A bordo o clima era de festa e euforia.

Motim da Ilha das Cobras- Mas a anistia não durou dois dias. Em 28 de novembro, os marinheiros foram surpreendidos pela publicação do decreto número 8.400, que autorizava demissões, por exclusão, dos praças do Corpo de Marinheiros Nacionais “cuja permanência se torne inconveniente à disciplina”. O decreto abriu uma brecha para que a Marinha excluísse de seus quadros quem bem entendesse, sem maiores formalidades. As demissões foram muitas. Vários navios ficaram sem pessoal suficiente para os serviços essenciais.

"Instaurou-se um novo clima de tensão nas Forças Armadas – pela publicação do decreto – e as autoridades encontraram justificativa para pensar na convocação de um regime de exceção, com poderes amplos e irrestritos para o presidente da República".

Circulavam boatos de que na ilha das Cobras — sede dos Fuzileiros Navais, localizada em frente ao cais do porto e ao lado da ilha Fiscal – o batalhão de terra organizava outro motim.Os boatos partiram das próprias autoridades, interessadas em incitar uma segunda rebelião para decretar o estado de sítio. Os oficiais esperavam apenas o primeiro tiro para entrarem em ação e deflagrarem o conflito armado.]
No dia 9 de dezembro, houve a rebelião esperada na ilha das Cobras. Às 9 horas e 30 minutos, foi dado o toque de recolher e, em vez de se dirigirem para suas camas, parte dos fuzileiros permaneceu no pátio, em grande algazarra, dando vivas à liberdade. Um primeiro tiro foi disparado, não se sabe vindo de onde. As luzes da ilha foram apagadas e os marinheiros começaram a caçar os oficiais. No escuro, disparando tiros de fuzis, eles gritavam: “Viva a liberdade. Morram os oficiais”.
A luta durou toda a madrugada, a manhã do dia seguinte e só parou ao entardecer, com a morte da maioria dos amotinados. Por todos os lados, junto aos canhões e metralhadoras destruídas, havia corpos de marinheiros. As forças fiéis aos oficiais estavam preparadas e esmagaram os rebeldes.

Presos e Mortos- O governo federal decretou o estado de sítio, tendo como justificativa a revolta dos fuzileiros navais na ilha das Cobras. As autoridades determinaram o desembarque imediato da tripulação dos navios Minas Gerais e São Paulo, que haviam tomado parte no primeiro levante. João Cândido foi preso assim que colocou os pés em solo e levado ao quartel-general do Exército. No dia 24 de dezembro, o Almirante Negro e mais 17 companheiros foram transferidos para a ilha das Cobras e colocados numa prisão sem iluminação e com ventilação imprópria, localizada no subterrâneo do Hospital Militar.

Na madrugada de 25 de dezembro, dia de Natal, o guarda da prisão notou movimento estranho na cela e ouviu gritos. O fato foi comunicado ao oficial de serviço e, em seguida, o recado chegou ao comandante Marques da Rocha, responsável pela ilha das Cobras. Nenhuma providência foi tomada.

Se liga: Na manhã seguinte, o comandante Marques da Rocha, que havia levado as chaves,
abriu a prisão. A cena chocaria até mesmo o mais insensível dos militares: jogados num extremo estavam 16 corpos de marujos mortos por asfixia. Num outro canto, em estado de choque, os dois únicos sobreviventes – João Cândido e o soldado naval João Avelino. Acabava assim uma das mais violentas rebeliões militares no Brasil.
Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:https://tokdehistoria.com.br/2011/07/23/o-fuzileiro-de-taipu-que-morreu-em-nova-york/

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Paz para a população negra e pobre não morressem mais nos fronts de batalha em uma guerra pelo direito de ter direitos...

Nos negros e negras a todo o momento resistiam as prisões, sequestros e deportações. Isso desde a

captura, transporte e sobretudo nos países onde eram mantidos em condição de escravo. A repressão contra os escravizados era brutal. Os Estados capitalistas nascentes e seus sócios menores, compreendendo o trabalho escravo como produtor de imensas riquezas, utilizavam-se de toda forma de terror possível para buscar submeter a população escravizada. Toda ordem de castigos e mutilações eram praticadas corriqueiramente como forma de impor medo a população africana dominada como forma de lhes desencorajar as rebeliões, resistência e fugas. Ainda assim, por toda parte, a população escravizada lutava dia-a-dia pela liberdade. Fugiam e formavam agrupações e comunidades, no Brasil, como sabemos, essas comunidades foram chamadas de quilombos e hoje favelas

A esmagadora maioria da população negra brasileira é proletária, está distribuída no mais variados ramos da produção, distribuição e circulação de mercadorias. No entanto, sua ampla maioria está concentrada nos trabalhos mais precários e mal remunerados da sociedade brasileira, constituem os setores mais oprimidos e explorados da classe trabalhadora, constituem certamente a maior parcela do exército industrial de reserva. São a maioria nas periferias, favelas, morros, etc. Constituem maioria da população abaixo da linha da pobreza. São os maiores alvos da policia, constituindo a maioria dos assassinados pela policia e violência urbana. No campo, tanto os trabalhadores rurais


como os quilombolas são os principais alvos dos fazendeiros, agronegócio e de seus jagunços. Podemos intuir que uma parcela minoritária está concentrada nas indústrias do país. Dentre as principais demandas da população negra está a reforma agrária, reforma urbana, fim da repressão e opressão policia, igualdade econômica social e combate ao racismo.

O Rio de Janeiro tem cerca de 800 favelas, mais de 1 milhão de pessoas sem moradia digna. A educação pública segue um rumo de profunda precarização e milhares de crianças perdem aulas toda semana por conta da violência. Não há saúde decente. Quantos conhecidos nossos esperam dias para serem atendidos nos corredores, e quando conseguem ser atendidos, não há condições decentes para tratamento? O transporte nas mãos da máfia e dos políticos é um dos mais caros do mundo, gastamos horas do nosso dia indo e vindo como sardinhas. Viver no Rio não é fácil.

Se não bastassem as condições indignas de vida que a burguesia e o Estado sempre nos impuseram, a crise atual, a falência do estado do Rio de Janeiro, está deixando tudo pior. E por que? Porque a burguesia está fazendo no Rio o que sempre faz: descarregar a crise nas costas dos trabalhadores e do
povo pobre. E o Estado, no Rio, faz isso à sua própria maneira, concentrando nas balas “achadas” da polícia, nos assassinatos e torturas aos negros, moradores das favelas e da baixada, o ódio que a burguesia carioca tem do povo negro. Mas esse ódio não se expressa somente na violência. Se faz sentir também na cultura, com a proibição dos bailes funks, com as novas tentativas de Crivella de proibir rodas de samba, tirar dinheiro das escolas de samba, no descaso com museus e rotas históricas da cultura negra, além das perseguições às religiões de matriz africana.

O ódio ao povo negro concentrado em tudo o que a Polícia faz têm história. É parte do ódio que a elite escravista tinha de toda a forma de resistência e revolta dos escravos. E isso a burguesia carioca conhece muito bem. A elite carioca, aquela que se gaba de viver na Barra, Recreio e na Zona Sul, é herdeira direta do tráfico negreiro. Afinal, o porto do Rio de Janeiro foi o que mais recebeu africanos escravizados em toda as Américas. Essa presença negra na cidade mexe com os nervos racistas da burguesia carioca. A busca por manter o “negro em seu lugar”, o lugar que eles querem para os negros, de submissão, de repressão à toda e qualquer manifestação de humanidade, tem uma história longa e vários exemplos. Um deles é a criação da polícia no Rio, que tinha como objetivo caçar os escravos que fugiam, e que depois passou a ganhar um “bônus” para aqueles que matavam mais
negros. A cartilha da polícia tem como alvo principal o povo negro. Ser negro é estar na mira na polícia. Essa é uma parte do que a burguesia teve, e tem, a oferecer à classe trabalhadora e o povo pobre e negro. Viver no Rio é difícil, mas há resistência.


É difícil porque a burguesia sabe o poder de resistência do povo negro e da classe trabalhadora. Talvez não conheça os incontáveis exemplos, não só do Rio, não só do Brasil, mas de todas as Américas e de todo o mundo onde a classe operária se coloca em movimento – mas seu instinto de classe não falha.


Os negros escravizados sabiam do que se passava do outro lado do Atlântico. Encontraram diversas
maneiras de se conectar aos eventos de um mundo em profunda transformação. A revolução francesa, por exemplo, deu um impulso à uma série de revoltas na colônia, e em São domingos foi o impulso para a revolução vitoriosa dos haitianos, que em busca de sua liberdade foram obrigados a enfrentar o maior exército da Europa, aquele que estava varrendo o feudalismo do mapa. E venceram. A derrota de Napoleão não começou na Europa, mas no Haiti.

A inspiração para lidar de maneira consequente com essa miséria que a burguesia quer nos impor, podemos buscar em todos os processos de luta de classes mais intensos, mas, em especial, naquele que é um exemplo para a libertação da humanidade da opressão do capital: a Revolução Russa.
À primeira vista, pode parecer que há pouca coisa em comum entre a Rússia de 1917 e o Rio de hoje.

Entre vários pontos de contato, entre os quais o mais importante é o fato de que as mesmas classes sociais que estavam em movimento na Rússia existem na realidade mundial ainda hoje e, claro, no Rio, o método de fazer com que os trabalhadores e o povo pobre paguem os custos das crises que a própria burguesia criou continua o mesmo. A Revolução Russa mostrou um caminho. As massas russas tomaram o destino em suas mãos e perceberam que para acabar com a opressão a que estavam submetidas era necessário tomar o poder em suas mãos. Adquiriram essa firmeza no próprio processo da luta de classes. Com o poder em mãos, foi possível começar a transformar a sociedade.
No caso da população negra, para uma revolução socialista no Brasil, é necessária uma fusão revolucionária entre o programa histórico do proletariado internacional e as demandas do povo negro

A única maneira de garantir que o população negra , a classe trabalhadora, e o conjunto do povo
pobre decidam sobre os rumos de suas vidas e organizem a cidade de acordo com seus interesses é através de uma luta ferrenha e decidida contra seus inimigos: a burguesia e seus agentes. Na Rússia, a classe trabalhadora e os camponeses tomaram o poder político das mãos daqueles que queria que eles continuassem a morrer no front da guerra, que queriam que morressem de fome e não tivessem direito a seu lote de terra.

Queremos conquistar a verdadeira abolição de assalto. E quem, se não as negras e o negros, estará à frente tomando o protagonismo de sua própria historia
Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:Eugene V. Debs \MORAES, J. Q. A esquerda militar no Brasil. Editora expressão popular.\Marx, K. - El colonialismo, Grijaldo, México, DF, 1970.

Favelas as grandes vítimas do coronavírus no Brasil

O Coronavírus persiste e dados científicos se tornam disponíveis para a população, temos observado que a pandemia evidencia como as desigual...