Nos negros e negras a todo o momento resistiam as prisões, sequestros e deportações. Isso desde a
captura, transporte e sobretudo nos países onde eram mantidos em condição de escravo. A repressão contra os escravizados era brutal. Os Estados capitalistas nascentes e seus sócios menores, compreendendo o trabalho escravo como produtor de imensas riquezas, utilizavam-se de toda forma de terror possível para buscar submeter a população escravizada. Toda ordem de castigos e mutilações eram praticadas corriqueiramente como forma de impor medo a população africana dominada como forma de lhes desencorajar as rebeliões, resistência e fugas. Ainda assim, por toda parte, a população escravizada lutava dia-a-dia pela liberdade. Fugiam e formavam agrupações e comunidades, no Brasil, como sabemos, essas comunidades foram chamadas de quilombos e hoje favelas
A esmagadora maioria da população negra brasileira é proletária, está distribuída no mais variados ramos da produção, distribuição e circulação de mercadorias. No entanto, sua ampla maioria está concentrada nos trabalhos mais precários e mal remunerados da sociedade brasileira, constituem os setores mais oprimidos e explorados da classe trabalhadora, constituem certamente a maior parcela do exército industrial de reserva. São a maioria nas periferias, favelas, morros, etc. Constituem maioria da população abaixo da linha da pobreza. São os maiores alvos da policia, constituindo a maioria dos assassinados pela policia e violência urbana. No campo, tanto os trabalhadores rurais
como os quilombolas são os principais alvos dos fazendeiros, agronegócio e de seus jagunços. Podemos intuir que uma parcela minoritária está concentrada nas indústrias do país. Dentre as principais demandas da população negra está a reforma agrária, reforma urbana, fim da repressão e opressão policia, igualdade econômica social e combate ao racismo.
O Rio de Janeiro tem cerca de 800 favelas, mais de 1 milhão de pessoas sem moradia digna. A educação pública segue um rumo de profunda precarização e milhares de crianças perdem aulas toda semana por conta da violência. Não há saúde decente. Quantos conhecidos nossos esperam dias para serem atendidos nos corredores, e quando conseguem ser atendidos, não há condições decentes para tratamento? O transporte nas mãos da máfia e dos políticos é um dos mais caros do mundo, gastamos horas do nosso dia indo e vindo como sardinhas. Viver no Rio não é fácil.
Se não bastassem as condições indignas de vida que a burguesia e o Estado sempre nos impuseram, a crise atual, a falência do estado do Rio de Janeiro, está deixando tudo pior. E por que? Porque a burguesia está fazendo no Rio o que sempre faz: descarregar a crise nas costas dos trabalhadores e do
povo pobre. E o Estado, no Rio, faz isso à sua própria maneira, concentrando nas balas “achadas” da polícia, nos assassinatos e torturas aos negros, moradores das favelas e da baixada, o ódio que a burguesia carioca tem do povo negro. Mas esse ódio não se expressa somente na violência. Se faz sentir também na cultura, com a proibição dos bailes funks, com as novas tentativas de Crivella de proibir rodas de samba, tirar dinheiro das escolas de samba, no descaso com museus e rotas históricas da cultura negra, além das perseguições às religiões de matriz africana.
O ódio ao povo negro concentrado em tudo o que a Polícia faz têm história. É parte do ódio que a elite escravista tinha de toda a forma de resistência e revolta dos escravos. E isso a burguesia carioca conhece muito bem. A elite carioca, aquela que se gaba de viver na Barra, Recreio e na Zona Sul, é herdeira direta do tráfico negreiro. Afinal, o porto do Rio de Janeiro foi o que mais recebeu africanos escravizados em toda as Américas. Essa presença negra na cidade mexe com os nervos racistas da burguesia carioca. A busca por manter o “negro em seu lugar”, o lugar que eles querem para os negros, de submissão, de repressão à toda e qualquer manifestação de humanidade, tem uma história longa e vários exemplos. Um deles é a criação da polícia no Rio, que tinha como objetivo caçar os escravos que fugiam, e que depois passou a ganhar um “bônus” para aqueles que matavam mais
negros. A cartilha da polícia tem como alvo principal o povo negro. Ser negro é estar na mira na polícia. Essa é uma parte do que a burguesia teve, e tem, a oferecer à classe trabalhadora e o povo pobre e negro. Viver no Rio é difícil, mas há resistência.
É difícil porque a burguesia sabe o poder de resistência do povo negro e da classe trabalhadora. Talvez não conheça os incontáveis exemplos, não só do Rio, não só do Brasil, mas de todas as Américas e de todo o mundo onde a classe operária se coloca em movimento – mas seu instinto de classe não falha.
Os negros escravizados sabiam do que se passava do outro lado do Atlântico. Encontraram diversas
maneiras de se conectar aos eventos de um mundo em profunda transformação. A revolução francesa, por exemplo, deu um impulso à uma série de revoltas na colônia, e em São domingos foi o impulso para a revolução vitoriosa dos haitianos, que em busca de sua liberdade foram obrigados a enfrentar o maior exército da Europa, aquele que estava varrendo o feudalismo do mapa. E venceram. A derrota de Napoleão não começou na Europa, mas no Haiti.
A inspiração para lidar de maneira consequente com essa miséria que a burguesia quer nos impor, podemos buscar em todos os processos de luta de classes mais intensos, mas, em especial, naquele que é um exemplo para a libertação da humanidade da opressão do capital: a Revolução Russa.
À primeira vista, pode parecer que há pouca coisa em comum entre a Rússia de 1917 e o Rio de hoje.
Entre vários pontos de contato, entre os quais o mais importante é o fato de que as mesmas classes sociais que estavam em movimento na Rússia existem na realidade mundial ainda hoje e, claro, no Rio, o método de fazer com que os trabalhadores e o povo pobre paguem os custos das crises que a própria burguesia criou continua o mesmo. A Revolução Russa mostrou um caminho. As massas russas tomaram o destino em suas mãos e perceberam que para acabar com a opressão a que estavam submetidas era necessário tomar o poder em suas mãos. Adquiriram essa firmeza no próprio processo da luta de classes. Com o poder em mãos, foi possível começar a transformar a sociedade.
No caso da população negra, para uma revolução socialista no Brasil, é necessária uma fusão revolucionária entre o programa histórico do proletariado internacional e as demandas do povo negro
A única maneira de garantir que o população negra , a classe trabalhadora, e o conjunto do povo
pobre decidam sobre os rumos de suas vidas e organizem a cidade de acordo com seus interesses é através de uma luta ferrenha e decidida contra seus inimigos: a burguesia e seus agentes. Na Rússia, a classe trabalhadora e os camponeses tomaram o poder político das mãos daqueles que queria que eles continuassem a morrer no front da guerra, que queriam que morressem de fome e não tivessem direito a seu lote de terra.
Queremos conquistar a verdadeira abolição de assalto. E quem, se não as negras e o negros, estará à frente tomando o protagonismo de sua própria historia
Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
fonte:Eugene V. Debs \MORAES, J. Q. A esquerda militar no Brasil. Editora expressão popular.\Marx, K. - El colonialismo, Grijaldo, México, DF, 1970.
captura, transporte e sobretudo nos países onde eram mantidos em condição de escravo. A repressão contra os escravizados era brutal. Os Estados capitalistas nascentes e seus sócios menores, compreendendo o trabalho escravo como produtor de imensas riquezas, utilizavam-se de toda forma de terror possível para buscar submeter a população escravizada. Toda ordem de castigos e mutilações eram praticadas corriqueiramente como forma de impor medo a população africana dominada como forma de lhes desencorajar as rebeliões, resistência e fugas. Ainda assim, por toda parte, a população escravizada lutava dia-a-dia pela liberdade. Fugiam e formavam agrupações e comunidades, no Brasil, como sabemos, essas comunidades foram chamadas de quilombos e hoje favelas
A esmagadora maioria da população negra brasileira é proletária, está distribuída no mais variados ramos da produção, distribuição e circulação de mercadorias. No entanto, sua ampla maioria está concentrada nos trabalhos mais precários e mal remunerados da sociedade brasileira, constituem os setores mais oprimidos e explorados da classe trabalhadora, constituem certamente a maior parcela do exército industrial de reserva. São a maioria nas periferias, favelas, morros, etc. Constituem maioria da população abaixo da linha da pobreza. São os maiores alvos da policia, constituindo a maioria dos assassinados pela policia e violência urbana. No campo, tanto os trabalhadores rurais
como os quilombolas são os principais alvos dos fazendeiros, agronegócio e de seus jagunços. Podemos intuir que uma parcela minoritária está concentrada nas indústrias do país. Dentre as principais demandas da população negra está a reforma agrária, reforma urbana, fim da repressão e opressão policia, igualdade econômica social e combate ao racismo.
O Rio de Janeiro tem cerca de 800 favelas, mais de 1 milhão de pessoas sem moradia digna. A educação pública segue um rumo de profunda precarização e milhares de crianças perdem aulas toda semana por conta da violência. Não há saúde decente. Quantos conhecidos nossos esperam dias para serem atendidos nos corredores, e quando conseguem ser atendidos, não há condições decentes para tratamento? O transporte nas mãos da máfia e dos políticos é um dos mais caros do mundo, gastamos horas do nosso dia indo e vindo como sardinhas. Viver no Rio não é fácil.
Se não bastassem as condições indignas de vida que a burguesia e o Estado sempre nos impuseram, a crise atual, a falência do estado do Rio de Janeiro, está deixando tudo pior. E por que? Porque a burguesia está fazendo no Rio o que sempre faz: descarregar a crise nas costas dos trabalhadores e do
povo pobre. E o Estado, no Rio, faz isso à sua própria maneira, concentrando nas balas “achadas” da polícia, nos assassinatos e torturas aos negros, moradores das favelas e da baixada, o ódio que a burguesia carioca tem do povo negro. Mas esse ódio não se expressa somente na violência. Se faz sentir também na cultura, com a proibição dos bailes funks, com as novas tentativas de Crivella de proibir rodas de samba, tirar dinheiro das escolas de samba, no descaso com museus e rotas históricas da cultura negra, além das perseguições às religiões de matriz africana.
O ódio ao povo negro concentrado em tudo o que a Polícia faz têm história. É parte do ódio que a elite escravista tinha de toda a forma de resistência e revolta dos escravos. E isso a burguesia carioca conhece muito bem. A elite carioca, aquela que se gaba de viver na Barra, Recreio e na Zona Sul, é herdeira direta do tráfico negreiro. Afinal, o porto do Rio de Janeiro foi o que mais recebeu africanos escravizados em toda as Américas. Essa presença negra na cidade mexe com os nervos racistas da burguesia carioca. A busca por manter o “negro em seu lugar”, o lugar que eles querem para os negros, de submissão, de repressão à toda e qualquer manifestação de humanidade, tem uma história longa e vários exemplos. Um deles é a criação da polícia no Rio, que tinha como objetivo caçar os escravos que fugiam, e que depois passou a ganhar um “bônus” para aqueles que matavam mais
negros. A cartilha da polícia tem como alvo principal o povo negro. Ser negro é estar na mira na polícia. Essa é uma parte do que a burguesia teve, e tem, a oferecer à classe trabalhadora e o povo pobre e negro. Viver no Rio é difícil, mas há resistência.
É difícil porque a burguesia sabe o poder de resistência do povo negro e da classe trabalhadora. Talvez não conheça os incontáveis exemplos, não só do Rio, não só do Brasil, mas de todas as Américas e de todo o mundo onde a classe operária se coloca em movimento – mas seu instinto de classe não falha.
Os negros escravizados sabiam do que se passava do outro lado do Atlântico. Encontraram diversas
maneiras de se conectar aos eventos de um mundo em profunda transformação. A revolução francesa, por exemplo, deu um impulso à uma série de revoltas na colônia, e em São domingos foi o impulso para a revolução vitoriosa dos haitianos, que em busca de sua liberdade foram obrigados a enfrentar o maior exército da Europa, aquele que estava varrendo o feudalismo do mapa. E venceram. A derrota de Napoleão não começou na Europa, mas no Haiti.
A inspiração para lidar de maneira consequente com essa miséria que a burguesia quer nos impor, podemos buscar em todos os processos de luta de classes mais intensos, mas, em especial, naquele que é um exemplo para a libertação da humanidade da opressão do capital: a Revolução Russa.
À primeira vista, pode parecer que há pouca coisa em comum entre a Rússia de 1917 e o Rio de hoje.
Entre vários pontos de contato, entre os quais o mais importante é o fato de que as mesmas classes sociais que estavam em movimento na Rússia existem na realidade mundial ainda hoje e, claro, no Rio, o método de fazer com que os trabalhadores e o povo pobre paguem os custos das crises que a própria burguesia criou continua o mesmo. A Revolução Russa mostrou um caminho. As massas russas tomaram o destino em suas mãos e perceberam que para acabar com a opressão a que estavam submetidas era necessário tomar o poder em suas mãos. Adquiriram essa firmeza no próprio processo da luta de classes. Com o poder em mãos, foi possível começar a transformar a sociedade.
No caso da população negra, para uma revolução socialista no Brasil, é necessária uma fusão revolucionária entre o programa histórico do proletariado internacional e as demandas do povo negro
A única maneira de garantir que o população negra , a classe trabalhadora, e o conjunto do povo
pobre decidam sobre os rumos de suas vidas e organizem a cidade de acordo com seus interesses é através de uma luta ferrenha e decidida contra seus inimigos: a burguesia e seus agentes. Na Rússia, a classe trabalhadora e os camponeses tomaram o poder político das mãos daqueles que queria que eles continuassem a morrer no front da guerra, que queriam que morressem de fome e não tivessem direito a seu lote de terra.
Queremos conquistar a verdadeira abolição de assalto. E quem, se não as negras e o negros, estará à frente tomando o protagonismo de sua própria historia
Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
fonte:Eugene V. Debs \MORAES, J. Q. A esquerda militar no Brasil. Editora expressão popular.\Marx, K. - El colonialismo, Grijaldo, México, DF, 1970.
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