UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Semba ou Samba: Unindo Brasileiros e Africanos...

A cultura brasileira e, logicamente, a rica música que se faz e consome no país estruturam-se a partir de duas básicas matrizes africanas, provenientes das civilizações conguesa e iorubana. A primeira sustenta a espinha dorsal dessa música, que tem no samba sua face mais exposta. A segunda molda, principalmente, a música religiosa afro-brasileira e os estilos dela decorrentes. Entretanto, embora de africanidade tão expressiva, a música popular brasileira, hoje, ao contrário da afro-cubana, por exemplo, distancia-se cada vez mais dessas matrizes. E caminha para uma globalização tristemente enfraquecedora.

"Semba é um dos estilos musicais angolanos mais populares. A palavra semba significa umbigada em kimbundo."


O cantor Carlos Burity defende que a estrutura mais antiga do semba situa-se na masemba (umbigada), uma dança angolana do interior caracterizada por movimentos que implicam o encontro do corpo do homem com o da mulher: o cavalheiro segura a senhora pela cintura e puxa-a para si provocando um choque entre os dois (semba).

Como explica que o semba (género musical), actual é resultado de um processo complexo de fusão e transposição, sobretudo da guitarra, de segmentos rítmicos diversos, assentes fundamentalmente na percussão, o elemento base das culturas africanas.

O Samba que veio do Semba é um gênero musical, que deriva de um tipo de dança, de raízes

africanas, surgido no Brasil e considerado uma das principais manifestações culturais populares brasileiras.





Das congadas ao samba: a matriz congo
Já nos primeiros anos da colonização, as ruas das principais cidades brasileiras assistiam às festas de coroação dos “reis do Congo”, personagens que projetavam simbolicamente em nossa terra a autoridade dos muene-e-Kongo, com quem os exploradores quatrocentistas portugueses trocaram credenciais em suas primeiras expedições à África subsaariana.

Esses festejos, realçados por muita música e dança, seriam não só uma recriação das celebrações que marcavam a entronização dos reis na África como uma sobrevivência do costume dos potentados bantos de animarem suas excursões e visitas diplomáticas com danças e cânticos festivos, em séqüito aparatoso. E os nomes dos personagens, bem como os textos das cantigas entoadas nos autos dramáticos em que esses cortejos culminavam, eram permeados de termos e expressões originadas nos idiomas quicongo e quimbundo.

Esses cortejos de “reis do Congo”, na forma de congadas, congados ou cucumbis (do quimbundo kikumbi, festa ligada aos ritos de passagem para a puberdade), influenciados pela espetaculosidade das procissões católicas do Brasil colonial e imperial, constituíram,

certamente, a velocidade inicial dos maracatus, dos ranchos de reis (depois carnavalescos) e das escolas de samba – que nasceram para legitimar o gênero que lhes forneceu a essência.

Sobre as origens africanas do samba veja-se que, no início do século XX, a partir da Bahia, circulava uma lenda, gostosamente narrada pelo cronista Francisco Guimarães, o Vagalume, no clássico Na roda do samba, de 1933 , segundo a qual o vocábulo teria nascido de dois verbos da língua iorubá:san, pagar, e gbà, receber. Depois de Vagalume, muito se tentou explicar a origem da palavra, alguém até lhe atribuindo uma estranha procedência indígena. Mas o vocábulo é, sem dúvida, africaníssimo. E não iorubano, mas legitimamente banto.

Samba, entre os quiocos (chokwe) de Angola, é verbo que significa “cabriolar, brincar, divertir-se como cabrito”. Entre os bacongos angolanos e congueses o vocábulo designa “uma espécie de dança em que um dançarino bate contra o peito do outro”. E essas duas formas se originam da raiz multilinguísticasemba, rejeitar, separar, que deu origem ao quimbundo di-semba, umbigada – elemento coreográfico fundamental do samba rural, em seu amplo leque de variantes, que inclui, entre outras formas, batuque, baiano, coco, calango, lundu, jongo etc

O tempo passa mais o samba não deixa dúvidas da relação entre o Brasil e a África. Desde sua origem até hoje, brasileiros e africanos procuram enfatizar a semelhança que os dois têm quando o assunto é samba. Os dois continentes irmãos trabalharam juntos para terem hoje, em suas culturas, um dos gêneros mais apreciados pelo mundo, transformando o samba em um símbolo da cultura afro-brasileira.

Afoxés e blocos afro: a matriz iorubá

As condições históricas da vinda maciça de iorubanos para o Brasil, do fim do século XVIII aos primeiros anos da centúria seguinte, fizeram com que a língua desse povo se transformasse numa espécie de língua geral dos africanos na Bahia e seus costumes gozassem de franca hegemonia. Esse fato, aliado, posteriormente, ao trabalho de reorganização das comunidades jeje-nagôs empreendido principalmente pela ialorixá Mãe Aninha, Obá Biyi (1869-1938) e pelo babalaô Martiniano do Bonfim, Aji Mudá (1858-1943), na Bahia, em Recife e no Rio de Janeiro, fez com que os iorubás passassem a ser vistos como a principal referência no processo civilizatório da diáspora africana no Brasil. Mas mesmo antes
das ações concretas daquelas duas grandes lideranças, as tradições iorubanas já faziam presença na música. Tanto assim que, a partir do carnaval de 1897, saía às ruas de Salvador, encenando, com canto, danças e alegorias, temas da tradição nagô, o clube Pândegos d’África, considerado o primeiro afoxé baiano.

Música popular e religiões africanas
A origem banta (bantu) do samba, como vimos, já está devidamente comprovada. Da mesma forma, é também banta a origem dos vocábulos “umbanda”, “macumba” “mandinga” etc, pertencentes ao universo dos cultos bantos do Brasil. Antes, porém, de entrarmos no cerne do nosso objetivo, façamos o seguinte esclarecimento.

O registro mais antigo que se conhece de cultos bantos em nosso país é o da cabula, denunciado numa pastoral do bispo D. João Corrêa Nery no Espírito Santo, no fim do século retrasado. Congregando, entre 1888 e 1900, mais de 8 mil pessoas, a comunidade dos

cabulistas, entretanto, e certamente também em função da repressão, não dispunha de templo organizado em espaço físico exclusivo. Suas reuniões de culto eram secretas, realizando-se ora em casa de um adepto ora no meio da mata, mas com práticas, vestimentas e paramentos – segundo o famoso relato do bispo Nery, divulgado por Nina Rodrigues.

Considerado uma manifestação popular africana, o samba é estimado como um ritmo urbano característico do Rio de Janeiro, cidade capital do Brasil colônia. As primeiras canções do gênero foram associadas ao Carnaval, elas eram marchinhas arranjadas por compositores de peso, como Heitor Prazeres, Pixinguinha, João da Baiana, que compunham sambas-maxixe, e como Chiquinha Gonzaga, que marcou a história da música, com seus hinos carnavalescos como o inesquecível “Ô Abre Alas”. As marchinhas inicialmente eram criadas por esses reconhecidos compositores, que eram remunerados pelas escolas de samba. Ao longo do tempo, elas foram substituídas pelos sambas-enredo.

- Mais tarde, o gênero ganhou estruturas modernizadas; sendo dois grupos fundamentais para essa nova “cara” que o samba estava ganhando: os grupos carnavalescos dos bairros Estácio de Sá e os do bairro Osvaldo Cruz, com compositores dos morros da Mangueira, Salgueiro e São Carlos.

Em razão das deficiências imobiliárias, as pessoas com baixa renda passaram a se deslocar para os morros do Rio de Janeiro, O samba acompanhou o processo e dessa nova estrutura social surgiram novos talentos musicais. A consolidação do gênero vem com o surgimento das “tias baianas”, peças fundamentais na composição do samba urbano. Os instrumentos

que formaram a base e foram essenciais para a composição do samba foram os de percussão, como pandeiros e chocalhos. Ao passar dos anos, outros instrumentos ganharam espaço, como cavaquinho e cuíca. Além disso, para que as escolas realizassem seus desfiles na passarela do samba com o tempo determinado pelo regulamento, um novo formato foi introduzido – o ritmo mais acelerado, aquele que hoje deixa qualquer um com vontade de dançar.

A África distante, cada vez mais
A presença africana na música brasileira, pelo menos em referências expressas, vai se tornando cada vez mais rarefeita. Aparece, via Jamaica, no carnaval dos blocos afro baianos e nos sambas-enredo das escolas cariocas e paulistanas – especialmente nas homenagens a divindades. Mas nada de modo tão intenso como ocorre na música que se faz em Cuba e em outros países do Caribe.

Mesmo com a explosão comercial da chamada salsa, a partir de Porto Rico e via Miami, na música afro-caribenha de hoje é raro um disco que não contenha pelo menos uma cantiga inspirada em temas da religiosidade africana e interpretada com fervor apaixonado. Tito Puente, Mongo Santamaría, Célia Cruz, Rubén Bladez e muitos outros são exemplos fortes, o mesmo não acontecendo no Brasil, pelo menos na música mais largamente consumida.

Finalizando:

Acreditamos que a música popular brasileira, de raízes tão acentuadamente africanas, seja vítima de um processo de desafricanização ainda em curso. Senão, vejamos. Quando a bossa-nova resolveu simplificar a complexa polirritmia do samba e restringir sua percussão ao estritamente necessário, não estaria embutido nesse gesto, tido apenas como estético
, uma intenção desafricanizadora? E quando a indústria fonográfica procura modernizar os ritmos afro-nordestinos (de maracatu para mangue-beat, por exemplo), não estará querendo fazer deles menos “boçais” e mais “ladinos”, pela absorção de conteúdos do pop internacional?
... Bem esta aberto o debate.

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

fote:www.snh2013.anpuh.org/www.arte.seed.pr.gov.br/

sábado, 30 de janeiro de 2016

Índios e Negros se Unem no Amazonas Contra o Racismo...

A região Amazônica apresenta peculiaridades populacionais e geográficas / ambientais que a tornam diferente das demais regiões do país.
Em 1865 o conhecido zoólogo e geólogo do século XIX Louis Agassiz veio para o Brasil comandando a Expedição Thayer (apenas para esclarecer, Agassiz era um convicto racialista e racista que defendia as ideias do que seria conhecido por Eugenia, e seus registros da população negra/miscigenada tinham como intenção corroborar com suas teorias racistas), porém o registro produzido pelo fotógrafo oficial da expedição quando da passagem por Manaus, hoje tem um efeito positivo, ajudar a desconstruir a falaciosa ideia de que "na Amazônia a escravidão negra e a notada presença populacional afro, não existiram ou foram ínfimas", abaixo fotos feitas na época com parte dessa população invisibilisada pelo senso comum:

o ponto de vista histórico, a presença negra no estado também é evidenciada, o Amazonas teve aporte de escravos oriundos do Pará e Maranhão, verificável em documentos e relatos de época, bem como em consequências culturais no estado como o tambor de mina e o boi-bumbá , o Amazonas foi o segundo estado do país a abolir a escravidão (4 anos antes da lei Áurea de 1888) após uma campanha abolicionista de 16 anos largamente documentada, teve a AFRICAN HOUSE e no pós-abolição conhecidos “bairros negros” como a Vila São José (onde hoje é a praça da saudade) , seringal mirím , a tradicional praça 14 e o Zumbi dos Palmares, teve também o primeiro governador Afro-descendente do Brasil (Eduardo Ribeiro) em fins do séc. XIX, presença histórica de negros barbadianos e seus descendentes. Recentemente começaram a ser mapeados remanescentes de quilombos em áreas no interior (Manaquiri, Novo Airão, Rio Marau (Maués)

A presença negra na cultura do Amazonas apesar de costumeiramente negada é muito perceptível , basta observar por exemplo o enorme consumo de vatapá (comida típica de origem africana) em toda e qualquer festa, a própria manifestação cultural símbolo e orgulho da identidade amazonense,o Boi-Bumbá (originado a partir do bumba-meu-boi ), foi introduzida em Parintins por um negro descendente de escravos maranhenses, Lindolfo Monteverde, no auto do boi-bumbá são os protagonistas principais (além do boi...) pai Francisco e mãe Catirina (ambos negros).

A escola de samba pioneira de Manaus nascida no reduto negro da praça 14 , a Vitória Régia é também um destes pontos de visibilidade. Juntamente com o conhecido "barranco" e imediações onde ainda hoje residem muitas famílias negras...

A contribuição de afro-descendentes naturais do Amazonas ou aqui radicados no campo da cultura por vezes tem atingido proporções nacionais como o famoso compositor Chico da Silva, ou mesmo internacionais como grupos de capoeiristas amazonenses dando aulas na Coréia, Europa e Jamaica, além de diversos grupos de samba e interpretes consagrados em

outros ritmos como Cileno no Reggae, Elisa Maia no "pop black" e a família Kingston nos tradicionais repertórios de festas de formatura... ou ainda de artistas fortemente influenciados pela cultura negra como a internacional Marcia Siqueira e diversas bandas de reggae e grupos de HIP-HOP.

Religiosidade
Há farta documentação sobre a presença de cultos afro em Manaus desde fins do séc. XIX e a presença de milhares de terreiros nos dias atuais (segundo estimativas da Confederação Amazonense de Religiões de Matriz Africana, mais de 4.000 terreiros). A presença da religiosidade Afro já se faz sentir onde antes era ignorada ou em espaços anteriormente negados.

Durante o séc. XX novos fluxos migratórios da Pará e nordeste (notadamente Maranhão) trouxeram mais negros para o estado, além do constante trânsito de integrantes das forças armadas e familiares. 


Dentre os vários mitos regionais um é o da inexistência ou baixa presença de população negra, tal mito se mantém devido em parte a generalizados conceitos étnicos errôneos e principalmente à baixa produção bibliográfica sobre o tema no contexto regional e a não sistematização e disponibilização de dados até então dispersos, mas que uma vez

consolidados mostrarão uma realidade diferente do imaginário popular.
O Movimento Negro, conceitos Antropológicos e Histórico-Sociais bem como o IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA) definem população NEGRA (Afro-descendente) como sendo a soma dos auto-declarados de cor preta e parda, o que no caso do Amazonas reflete uma inexatidão devido ao fato da evidente origem indio-descendente da maioria dos “pardos” locais, o que não elimina o fato de que mesmo em minoria, significativa parcela dos pardos do Amazonas é Afro-descendente (O que pode e precisa ser determinado utilizando-se de pesquisas e técnicas de estatística populacional, mas até o momento não foi feito com respaldo e rigor científico).

- A população do Amazonas de acordo com o último censo do IBGE (2000) tem a seguinte composição no relativo a questão cor/raça :

AMAZONAS
Brancos 
Pretos
Pardos
Amarelos (e Indígenas)
24,8%
 3,7%
  65,7%
4,4%

Comparando apenas a população de cor preta com a Indígena, verifica-se “empate técnico” do ponto de vista estatístico, o que significa que dizer que “não há pretos no estado” seria o mesmo que dizer que “não há indígenas no Amazonas”..., sendo estes últimos considerados históricamente a base de origem populacional , mas há de se observar que população negra
não é apenas a de cor preta..., mas sim a soma de cor preta e parda..., ampliando então grandemente a representatividade dos afro-descendentes na população do estado.


Observando os dados gerais brasileiros nota-se que a população parda de origem Afro em todas as outras regiões do pais onde não ocorre esta peculiaridade, é “grossus modus” sempre de 4 a 6 vezes maior que a auto-declarada preta e na média nacional cerca de 7,5 vezes maior, em teoria não há motivos que indiquem que tal fenômeno não se repetiria no Amazonas , o que em hipótese faria com que a população parda de origem Afro no Amazonas fosse estimada na ordem de 22% da população o que somado aos 3,7% de pretos auto-declarados giraria em torno de 25% da população do estado (ou seja..., A MESMA PROPORÇÃO DE POPULAÇÃO "BRANCA", SEIS VEZES MAIS QUE A POPULAÇÃO INDÍGENA E A METADE DA POPULAÇÃO PARDA INDIO-DESCENDENTE), DESMONTANDO ASSIM O MITO DA INEXISTÊNCIA OU INSIGNIFICÂNCIA DA PRESENÇA NEGRA NO AMAZONAS.

Movimento Negro...
 movimento no Amazonas onde a presença da população negra é tímida e a descendência indígena na cultura e características é predominante. Quanto a isso França, responde: “A nossa luta é contra o racismo. Temos brancos, japoneses, índios. Todo o mundo que quer se

organizar e ter ações políticas contra o racismo tem o direito de se filiar e ajudar a gente neste trabalho”. União de Negros Pela Igualdade - UNEGRO e Associação do Movimento Orgulho Negro do Amazonas - AMONAM criam o "Grupo de Dança Afro Contemporânea Abi Omim",Amzonia Negra, FUCABEAM (Federação dos Cultos Afro Brasileiros do Estado do Amazonas) e outras ong e entidades.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Contos Africanos:Os dois reis de Gondar (Etiópia)...


Era um dia como os de outrora... e um pobre camponês, tão pobre que tinha apenas a pele sobre os ossos e três galinhas que ciscavam alguns grãos de teff que encontravam pela terra poeirenta, estava sentado na entrada da sua velha cabana como todo fim de tarde. De repente, viu chegar um caçador montado a cavalo. O caçador se aproximou, desmontou, cumprimentou-o e disse: — Eu me perdi pela montanha e estou procurando o caminho que leva à cidade de Gondar. — Gondar?

Fica a dois dias daqui — respondeu o camponês.

— O sol já está se pondo e seria mais sensato se você passasse a noite aqui e partisse de manhã cedo. O camponês pegou uma das suas três galinhas, matou-a, cozinhou-a no fogão a lenha e preparou um bom jantar, que ofereceu ao caçador. Depois de comerem os dois juntos sem falar muito, o camponês ofereceu sua cama ao caçador e foi dormir no chão ao lado do fogo. No dia seguinte bem cedo, quando o caçador acordou, o camponês explicou-lhe como teria que fazer para chegar a Gondar: — Você tem que se enfiar no bosque até encontrar um rio, e deve atravessá-lo com seu cavalo com muito cuidado para não passar pela parte mais funda. Depois tem que seguir por um caminho à beira de um precipício até chegar a uma estrada mais larga... O caçador, que ouvia com atenção, disse:  — Acho que vou me perder de novo. Não conheço esta região...

Você me acompanharia até Gondar? Poderia montar no cavalo, na minha garupa. — Está

certo — disse o camponês —, mas com uma condição. Quando a gente chegar, gostaria de conhecer o rei, eu nunca o vi. — Você irá vê-lo, prometo. O camponês fechou a porta da sua cabana, montou na garupa do caçador e começaram o trajeto. Passaram horas e horas atravessando montanhas e bosques, e mais uma noite inteira. Quando iam por caminhos sem sombra, o camponês abria seu grande guarda-chuva preto, e os dois se protegiam do sol. E quando por fim viram a cidade de Gondar no horizonte, o camponês perguntou ao caçador: — E como é que se reconhece um rei? — Não se preocupe, é muito fácil: quando todo mundo faz a mesma coisa, o rei é aquele que faz outra, diferente. Observe bem as pessoas à sua volta e você o reconhecerá. Pouco depois, os dois homens chegaram à cidade e o caçador tomou o caminho do palácio.

 Havia um monte de gente diante da porta, falando e contando
histórias, até que, ao verem os dois homens a cavalo, se afastaram da porta e se ajoelharam à sua passagem. O camponês não entendia nada. Todos estavam ajoelhados, exceto ele e o caçador, que iam a cavalo. — Onde será que está o rei? — perguntou o camponês. — Não o estou vendo! — Agora vamos entrar no palácio e você o verá, garanto! E os dois homens entraram a cavalo dentro do palácio. O camponês estava inquieto. De longe via uma fila de pessoas e de guardas também a cavalo que os esperavam na entrada.

Quando passaram na frente deles, os guardas desmontaram e somente os dois continuaram em cima do cavalo. O camponês começou a ficar nervoso: — Você me falou que quando todo mundo faz a mesma coisa... Mas onde está o rei? — Paciência! Você já vai reconhecê-lo! É só lembrar que, quando todos fazem a mesma coisa, o rei faz outra. Os dois homens desmontaram do cavalo e entraram numa sala imensa do palácio.

Todos os nobres, os cortesãos e os conselheiros reais tiraram o chapéu ao vê-los. Todos estavam sem chapéu, exceto o caçador e o camponês, que tampouco entendia para que servia andar de chapéu dentro de um palácio. O camponês chegou perto do caçador e murmurou: — Não o estou vendo!

— Não seja impaciente, você vai acabar reconhecendo-o!

Venha sentar comigo. E os dois homens se instalaram num grande sofá muito confortável. Todo mundo ficou em pé à sua volta. O camponês estava cada vez mais inquieto. Observou bem tudo o que via, aproximou-se do caçador e perguntou: — Quem é o rei? Você ou eu? O

caçador começou a rir e disse: — Eu sou o rei, mas você também é um rei, porque sabe acolher um estrangeiro! E o caçador e o camponês ficaram amigos por muitos e muitos anos...

Um afro abraço.

fonte:www.companhiadasletras.com.br
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sábado, 23 de janeiro de 2016

Coletivo UNEGRO - LGBT /RJ de cara nova.


Venha vestir essa camisa!
O COLETIVO UNEGRO LGBT - RJ, é um movimento de Homens e Mulheres Negros e Negras Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais que se organizam para o enfrentamento às discriminações de raça, orientação sexual, gênero e identidade de
gênero e temos atuado junto aos Movimentos Sociais, provando que a organização das especificidades soma para a luta de todos os segmentos sociais que sofrem as mazelas das estruturas opressoras considerando a identidade de objetivos, uma vez que somos também um Coletivo do Movimento Negro.
A UNEGRO LGBTT - RJ, é uma organização pluriidentitária e pluripartidária, que busca contribuir na luta contra o racismo, a homofobia e discriminações inter-cruzadas. Nossa atuação tem foco nas negras lésbicas, mulheres bissexuais, mulheres trans, travestis, homens trans e gays negros ._
O setor da população negra cujas dificuldades, marginalização e reivindicações, geralmente e de forma lamentável, sequer são consideradas quando discutimos a luta contra a opressão racial. Estamos falando de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis negros (as).
Milhões de LGBT´s cujas vidas são cercadas, ora pela invisibilidade ora pela violência; tanto pela discriminação racial quanto pelas humilhações e sofrimentos que correm soltos em um mundo em que a heterossexualidade é tida como a única forma “digna”, “respeitosa”, “aceitável” e “correta” de se viver.
Uma dura realidade que marcou a vida de lésbicas, gays, trans, bis e travestis como o performático Madame Satã, o escritor James Baldwin, o pintor Jean-Michel Basquiat, o poeta Langston Hughes, a ativista trans Marsha P. Johnson (que esteve na linha de frente da Rebelião de Stonewall), o escritor modernista Mário de Andrade, o impagável e genial Paulette (do Dzi Croquetes), a cantoras de jazz e blues 'Ma' Rainey (conhecida como a “Mãe do Blues”) e Bessie Smith e a travesti e passista da Beija-Flor Piu (brutalmente assassinada em setembro passado).
Onde classe, raça, gênero e orientação sexual se encontram
Em um artigo com o genial título “Gays ricos, bichas pobres”, publicado nos Cadernos AEL (Unicamp, em 18/19, 2003), Juan P. Pereira Marsiaj faz uma série de considerações sobre “desenvolvimento, desigualdade socioeconômica e homossexualidade no Brasil” que também pode servir como ponto de partida para discutirmos as terríveis conseqüências decorrentes da combinação do racismo com a LGBTfobia, dentro de uma perspectiva de classe.

Referindo-se ao trabalho do historiador norte-americano John D´Emilio – particularmente “Capitalism and Gay Identity” (“Capitalismo e Identidade Gay”) –, Marsiaj lembra que a comunidade e a identidade LGBT foram moldadas pelo capitalismo durante as diferentes fases do sistema, refletindo os efeitos que estas transformações, principalmente nos modos de trabalho e produção, tiveram sobre os aspectos mais distintos da sociedade: da arte à cultura; dos meios de comunicação à Educação; das relações sociais às formas de organização familiar (um tema, em particular, sobre o qual o autor se detém para discutir as relações entre LGBTs e classe).

Como lembra Marsiaj, “a classe social afeta as possibilidades de estabelecimento das relações homoafetivas e de redes homossociais, que são de suma importância para o desenvolvimento de uma auto-identificação como gay ou lésbicas” (p. 139). Ou seja, como acontece também em relação aos héteros, as condições econômicas interferem, de forma indireta ou direta, no jeito como as pessoas namoram, se relacionam afetiva e amorosamente, nos tipos de grupos que participam etc.

E tudo isso cumpre um papel fundamental na possibilidade de um LGBT se assumir como tal e na forma como ele ou ela vai se colocar e se ver diante da sociedade. Algo particularmente difícil nas relações familiares. Não é uma regra, mas, geralmente, quanto mais pobre mais complicada a história pode ser, pois “para os setores populares no Brasil, a função econômica da família retém uma grande importância. A renda das classes mais baixas é irregular e pequena, tornando muito difícil a independência econômica de um indivíduo de sua família” (p. 139).

Quem vive na periferia, nasceu nos cortiços e favelas ou pertence aos setores mais pobres da classe operária (e, por tabela, na maioria dos casos, é negro ou negra) conhece muito bem esta história. Nessas famílias, até mesmo por uma questão de sobrevivência, todo mundo tem que “entrar com a grana” e, consequentemente, pais e mães contam, desde muito cedo, com o dinheiro dos filhos (as) e com a ideia de que eles vão permanecer em casa “até o casamento”.

Uma situação totalmente diferente dos LGBT’s de classe média e alta (brancos em sua enorme maioria) que, como lembra Marsiaj, podem “se dar ao luxo de manter um apartamento para [seus] encontros, ou têm meios para pagar um quarto de motel para tais fins”. (p. 140)

E isso, com certeza, faz toda diferença na hora de se assumir como LGBT. Levar o companheiro o companheira pra casa, fugir da cilada do casamento tradicional etc., é muito mais difícil. Não que seja impossível. Pelo contrário. Em alguns casos, a própria dependência econômica acaba “forçando” a aceitação por parte dos familiares. Afinal, não dá pra expulsar de casa alguém que é fundamental pra pagar as contas e esta “situação abre espaços de tolerância no âmbito familiar que permitem, sob certas condições, um alto nível de liberdade.” (p. 140)

Contudo, isto não é a regra. Para a infelicidade de todos envolvidos, na maioria dos casos, os LGBT’s continuam na casas dos pais, “enrustidos” (“dentro do armário”, como se diz) ou negando sua identidade e, pra satisfazer as expectativas, acabam mantendo relacionamentos com gente do sexo oposto e, até mesmo, casando. Uma situação que, nos dias de hoje, é ainda mais complicada, na medida em que LGBTfóbicas, racistas e machista igrejas fundamentalistas ganham mais e mais espaços na periferia, inclusive entre famílias negras.

Para negros e negras, não há “libertação pelo consumo”
Se assumir uma identidade LGBT na família já é complicado, viver plenamente como tal também não é nada fácil. A começar pelos espaços que existem para os LGBTs pobres e negros se encontrarem, se sociabilizarem e manterem relações amorosas e, obviamente, sexuais.

Para negros(as) e pobres, como também lembra Marsiaj, os encontros e o namoros geralmente se dão nos “espaços públicos”: os parques, as praças, os “banheirões” e os cantos escuros das ruas. Já para os que pertencem às classes médias e às elites, os pontos de encontro são os “espaços comerciais”: as saunas, os bares, os restaurantes e boates.

E qualquer LGBT negro ou negra que já tenha freqüentado qualquer um destes lugares sabe muito bem o quanto eles “são brancos” e o quanto a pele mais escura destoa dos padrões de beleza e, muitas vezes, é vista como sinal de que estão atrás de “favores financeiros”.

No mundo neoliberal em que vivemos que, dentre outros tantos estragos, colocou um sinal de igual entre o conceito de cidadania, “empoderamento” individual e o poder aquisitivo, essa situação é ainda mais grave, como já foi destacado no artigo “The Sexual Citizen: queer politics and beyond” (“O cidadão sexual: política queer e além” – um termo “pós-moderno” utilizado para LGBTs), publicado por David Bell e Jon Binnie.
Segundo os autores, essa “estratégia de liberação pelo consumo”, pode levar (e com certeza o faz) “à aceitação de um tipo de gay (branco, de classe média), visto como um modelo de cidadão-consumidor e uma maior marginalização de todos os outros ‘devassos’
que não se encaixam nessa forma”, ou como Marsiaj diz, referindo-se aos brasileiros: “corre-se o risco de aceitar o gay rico e marginalizar ainda mais a bicha pobre” (p. 142).
E, se tudo isto não bastasse, como já foi dito por Luis Mott (do Grupo Gay da Bahia, responsável por levantamentos anuais sobre os ataques e assassinatos) são os LGBT’s negros (as) que estão mais expostos a situações marcadas pela brutalidade e a violência.

Venha somar com a gente; você também pode vestir essa camisa contra o preconceito e discriminação.

UNEGRO - RJ CONTRA A LGBTfobia!!
Tem negro no arco - íris, sim!

Respeitosamente,

Marisa Justino
Unegro / RJ
Coordenação Estadual do Coletivo LGBT
Fonte: Enciclopédia livre

domingo, 17 de janeiro de 2016

Brasil Racismo e Migração...

A Imigração na Europa
Quando se pensa em Europa, pensa-se logo em arte, riqueza, oportunidade, sucesso, ou
seja, em um lugar desenvolvido. Essa imagem faz dos países do continente europeu uma atração para estudantes, turistas, refugiados, e, principalmente, pessoas que desejam uma melhor perspectiva de vida. A Europa é hoje um lugar com um fluxo imigratório (oriundo principalmente de países africanos, mas também do Oriente Médio e da Ásia) cada vez maior, que tem causado uma série de consequências.

Histórico
Após a Segunda Guerra Mundial, os países da Europa se reconstituíram e passaram a ter um grande desenvolvimento no setor industrial, sobretudo a Alemanha e a França. Esse fato, a um primeiro momento, passou a atrair imigrantes do próprio continente em busca de empregos. As vagas que surgiam eram direcionadas a trabalhadores de baixa qualificação que recebiam, conseqüentemente, baixos salários e eram geralmente sem vínculos empregatícios.

Houve então uma mudança da origem desses imigrantes no decorrer das décadas de 1970 e 1980. Os trabalhadores passaram a ser oriundos das ex-colônias da Europa, como países da América Latina e da África, que enfrentavam crises de empobrecimento em seus países. A emigração para países mais prósperos tornou-se uma solução para a população dessas ex-colônias, então até mesmo países menos desenvolvidos do leste europeu passaram a receber grandes levas de trabalhadores.

A França
, por exemplo, foi sendo lentamente islamizada; o número de muçulmanos tornou-se cerca de 10% de sua população. Isso gerou uma série de medidas do governo com relação à cultura francesa, tentando adaptá-la aos islâmicos, mas que acabaram por ser motivo de manifestações.

Na Alemanha e na Suíça a xenofobia foi mais intensa, havendo uma grande segregação da população. Os estrangeiros não podiam se misturar com os naturais, sendo tratados apenas como mão-de-obra barata. Uma série de leis que tiravam direitos de naturalização dos trabalhadores estrangeiros foi aprovada, dificultando ainda mais as condições de vida dos imigrantes.

A Itália e a Espanha, sendo, ironicamente, países que sempre prezaram o “puro sangue” dos naturais, possuem taxas de natalidade tão baixas que a reposição de mão-de-obra é feita em sua maioria por estrangeiros, sobretudo muçulmanos.

Devido a essa imigração intensa, a Europa deixou de ser um continente tão receptivo aos estrangeiros. A partir dos primeiros anos do século XXI a política em relação à imigração se tornou cada vez mais restrita, não só pelos governos de extrema direita, como também pela esquerda, que cedeu às pressões dos eleitores. Países como a França, a Alemanha, o Reino Unido e os Países Baixos já criaram leis para dificultar a entrada de imigrantes em seu território.

Na Europa, o nacionalismo está na origem de duas grandes guerras e até hoje a nacionalidade de um indivíduo é determinada pela de seus pais. Na França, as manifestações realizadas por filhos de estrangeiros de segunda geração, ainda não integrados à sociedade local – que continua a vê-los, juridicamente e de fato, como estrangeiros – são outro exemplo do problema.

Em países que, como o Brasil, atribuem a nacionalidade não apenas em função dos pais do indivíduo, mas também em razão do local de seu nascimento (quem nasce no Brasil é, em geral, brasileiro), a integração dos estrangeiros é facilitada.

- A noção de que o Brasil é um país hospitaleiro, onde todos os estrangeiros e imigrantes são bem-vindos, não passa de um mito", diz o pesquisador Gustavo Barreto, após analisar mais de 11 mil edições de jornais e revistas entre 1808 e 2015.

A ideia de que o brasileiro é acolhedor e recebe bem todos os imigrantes não corresponde à realidade no caso de haitianos e africanos, vítimas de racismo em território brasileiro. É o que afirma o sociólogo Alex André Vargem, 35 anos, membro do IDDAB (Instituto do Desenvolvimento da Diáspora Africana no Brasil). Para Vargem, em seus países de origem esses imigrantes enfrentam questões étnicas diferentes das surgidas pelo “racismo à brasileira”, e é aqui que conhecem experiências concretas de discriminação.

A anistia de 2009 (aos estrangeiros em situação irregular no país, de acordo com a Lei 11.961) foi muito bonita no discurso, e muitos amigos achavam que o Brasil estava dando um exemplo para o mundo. Eu dizia: vamos sair do texto e ver o que acontece no terreno. Foram só seis meses para encaminhar o pedido, de julho a dezembro; houve pouca divulgação na imprensa; as taxas eram caras – além da Polícia Federal, os consulados dos países também cobravam. Foram 40 mil anistiados na primeira instância, enquanto temos uma estimativa de 150 mil a 600 mil estrangeiros indocumentados no Brasil. De africanos, foram menos de três mil, o que é muito pouco perto de um número que desconhecemos, mas acreditamos que seja bem maior do que aquele que o poder público estima.


A Policia Federal no Encalço.
O tratamento diferenciado para o africano começa já no recebimento dentro das dependências dos serviços de imigração, que possuem toda uma abordagem diferenciada para africanos e com maiores poderes punitivos.

Os imigrantes haitianos também não são tratados de forma receptiva pelo governo brasileiro. Desde o terremoto que assolou o país, vários foram os haitianos que buscaram no Brasil uma vida melhor, mas que, hoje, estão servindo mão de obra escrava, sem documentos ou a garantia de estadia no país.

Mesmo diante desses fatos, a Polícia Federal realiza o desserviço de tornar a vida do imigrante ainda mais difícil no Brasil.

A vida da população africana no Brasil se equivale (e muitas vezes é pior) que a do negro brasileiro. Da mesma forma, o povo negro sofre com o desemprego, salários abaixo do mínimo oficial e repressão policial, mostrando que o racismo segue a todo vapor em terras brasileiras, ao contrário do que tenta provar a imprensa burguesa.

- Há ainda casos de morte, como os de Zulmira e Toni, e de agressão como o ataque recente aos haitianos também em São Paulo. No final do ano passado, durante a Marcha do Migrante, que sai da Praça da República e vai até a Sé, um senhor começou a gritar: “voltem para suas casas, o que vocês estão fazendo aqui?” Quem está nesse meio sabe que não ações isoladas: são violências que se repetem a todo instante. Aquela violência que talvez a pessoa não manifeste contra corpos de negros brasileiros vai manifestar contra corpos de africanos e haitianos.

Se liga:

Em 2007, três apartamentos onde viviam estudantes africanos no campus da UnB (Universidade de Brasília) tiveram as portas queimadas – pichações racistas, aliás, têm aparecido nas dependências de várias universidades no país;
• Em 2011, Toni Bernardo da Silva, 27 anos, estudante da Guiné-Bissau em intercâmbio na UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso), foi espancado até a morte por um empresário e dois policiais militares numa pizzaria de Cuiabá;
• Em março de 2012, 575 africanos e haitianos foram detidos e levados em ônibus para delegacias numa megaoperação policial no Centro de São Paulo;
• Em maio de 2012, a estudante angolana Zulmira de Souza Borges Cardoso, 26 anos, foi assassinada a tiros após discussão entre brasileiros e um grupo de angolanos que confraternizava num bar do bairro do Brás, em São Paulo;
• Em agosto de 2015, seis haitianos foram baleados em dois ataques diferentes na Baixada do Glicério, no centro de São Paulo. De acordo com testemunhas, a pessoa que atirou antes gritou: "haitianos, vocês roubam nossos empregos!".

Apesar do esforço das organizações humanitárias, que sempre procuraram disseminar a ideia de igualdade, vê-se que ainda vigora o preconceito contra os estrangeiros. Quanto ao ponto, há que se distinguir o direito à entrada e permanência num país, que só pertence ao

nacional, do direito ao tratamento igualitário do estrangeiro já admitido no país. O Estado tem o direito de não receber estrangeiros, mas, uma vez recebendo-os, estes devem ser equiparados em seus direitos aos nacionais, salvo algumas exceções, como o direito ao voto e à candidatura a cargos públicos, tradicionalmente reservados aos nacionais.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:http://www.anovademocracia.com.br/no-64/2748-fascismo-europeu-humilha-jovens-estrangeiros\ http://www.jornalorebate.com.br/site/solidariedade-internacional/5562-os-imigrantes-na-europa-e-a-reascensao-do-fascismo\ http://www.euranet.eu/por/Dossier/Imigracao/O-novo-Pacto-sobre-Migracao-visa-gerir-a-politica-de-imigracao-da-Uniao-Europeia\foto net

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Aretha: Rainha do Soul

Aretha Louise Franklin (Memphis, 25 de março de 1942) é uma cantora norte-americana de gospel, R&B e soul que virou ícone da música negra. Foi considerada a maior cantora de todos os tempos pela revista Rolling Stone e, pela mesma revista, a nona maior artista da música de todos os tempos.
- Nascida em Memphis, criada em Detroit, Michigan, Aretha tornou-se a primeira mulher a fazer parte do Rock & Roll Hall of Fame em 3 de janeiro de1987. Recebeu os apelidos de "Rainha do Soul" ou "Dama do Soul". Reconhecida por suas habilidades na música soul e R&B, também é uma adepta de jazz, rock, blues, pop e até mesmo ópera. Ela é geralmente reconhecida como uma das melhores vocalistas da história da música por publicações de porte da revista Rolling Stone e do canal de televisão VH1. É a segunda cantora a possuir mais prêmios Grammy na história, atrás apenas de Alison Krauss. Aretha possui dezoito prêmios competitivos e três honorários. O estado de Michigan declarou a voz de Franklin como sendo uma maravilha natural.

Crianças e formação
Ele nasceu em 25 de março de 1942, em Memphis (Tennessee), e cresceu em Detroit. Ela é filha do pregador LeVaughn Clarence Franklin e cantora gospel Barbara Franklin . Sua mãe abandonou a família quando Aretha era uma criança, e, pouco depois, morreu. Seu pai logo percebeu o talento de Aretha, por isso queria ter aulas de piano, mas ela recusou, preferindo aprender sozinho com a ajuda de gravações. Neste momento, permaneceu em uma turnê evangelho viajar, onde uma das primeiras músicas que ele tocou foi "Precious Lord". Genie evangelho Clara Ward , James Cleveland e Mahalia Jackson estavam perto de sua família, assim Aretha cresceu rodeado por eles. Aos quinze anos, ela teve seu primeiro filho, e dois anos depois teve a segunda.

Princípios e influências gospel em Checker (1956-1960)
O raízes gospel de Franklin é uma das faixas pessoais e profissionais mais influentes. Com suas irmãs Carolyn Franklin e Erma Franklin (ambos também realizou carreiras solo) cantou na Igreja Batista de Detroit (Primeira Igreja Batista), que foi dirigido por seu pai, CL Franklin, um pastor batista, apelidado de "A voz de um milhão dólares "e um grande líder confiante Martin Luther King . Aretha passou a infância nesse ambiente gospel e jazz vozes cercado

como Dinah Washington eElla Fitzgerald . Com apenas 14 anos de idade fez sua primeira gravação para JVB / Battle Records, depois reeditado pela Checker , A alma evangelho de Aretha Franklin , em que você pode ouvir as composições do evangelho com um som potente e alma , cheio de melodias de piano, instrumento que dominava desde a infância. Em 1960, ele viajou para Nova York para ter aulas de técnica vocal e de dança. Neste momento, ele começou a gravar demos para enviar para as gravadoras.

Estágio em Columbia e Harmonia (1961-1966)
Depois de um tempo em que Aretha começou a ser considerado um prodígio, foi dito que a Motown estava interessado em ficharla, mas eventualmente assinou com a gravadora Columbia Records , sob a direção de John Hammond . Aretha entrou Columbia como um artista de alma, mas ao longo do tempo, a empresa começou adentrarla no seu catálogo de jazz, como demonstrado em Unforgettable: uma homenagem a Dinah Washington (1964), que presta homenagem a uma das suas grandes ídolos. Aretha não concordava com este guia

porque parecia que a alma de um artista e não uma senhora de jazz, embora naquele momento notamos a versatilidade musical que possuía e onde você pode encontrar muitas de suas mais belas melodias como por exemplo, "amor doce amargo", "Skylark", "Try a Little Tenderness" e muitos outros. Este foi o motivo da saída por opção Aretha Neste momento, em 1964, alcançou sucessos menores, entre os quais "Operação Heartbreak", "Rock-a-bye seu bebê com a Dixie Melody", "Lee Cruz" e "Soulville". Depois de sua partida de Columbia, ele lançou músicas de Fé (1964) com o registro em sua estréia e continuou onde o evangelho sentindo. Um ano depois, ele deixou uma vez na vida , sob o rótulo Harmony.

Revolução Alma (1967-1969) Quando Aretha deixou a Columbia a assinar os da gravadora Atlantic Records , o produtor Jerry Wexler foi proposto para remover toda a alma dentro dele. O primeiro single que ele gravou para a Atlantic Records foi "Eu nunca amei um homem do jeito que eu te amo", para o qual foram acompanhados pelo Muscle Shoals Rhythm Section , no Alabama . Este tópico foi endossado por muitos críticos como uma das grandes canções da alma , ea revista Rolling Stone escreveu: "Franklin gravou sua versão da Marvel alma, um lamento sobre o que-mal-me-tratou-o com Muscle Shoals Rhythm Section, alguns caras brancos de Alabama . " O único invadiu todos os rádios, mas que seria ainda muito mais forte " Respeito "-version da canção que Otis Redding havia gravado em 1965 com a qual Aretha definitivamente consagrada. A canção foi gravada no Atlantic Studios em New York , 14 de fevereiro de 1967 Na versão original de Redding foi adicionado uma ponte e um solo de sax, das mãos do rei Curtis ; Também foi adicionado às mudanças de acordes da canção "Quando algo está errado com o meu bebê", de Sam & Dave .

10 de março de 1967, o álbum foi editado eu nunca amei um homem do jeito que eu te amo , que contém os dois singles anteriores, além de temas como a versão da canção de Ray Charles "afogo em minhas próprias lágrimas" ou músicas de Sam Cooke "Good Times" e " A Change Is Gonna Come ". Mas Aretha também contribuíram para este álbum como

compositor com as músicas "Não me deixe perder esse sonho", "Baby, Baby, Baby", "Save Me" e "Dr. Feelgood (amor é um negócio sério)". Nesse mesmo ano, ele ganhou dois prêmios Grammy , a segunda mulher a fazê-lo. Também em 1967 (04 de agosto), ele lançou o álbum Aretha chega , o que pode-se destacar os temas "Satisfaction" e "Baby, eu te amo." Este segundo álbum Atlantic alcançou o número um, mas não era tão popular quanto seu antecessor.

Em 1968 lançou alma Lady , com o qual se reunirá enorme sucesso. O álbum continha soul music hits como "Chain of Fools", "Uma mulher natural" ou "não é de jeito nenhum". Houve também contribuições de Eric Clapton em "Bom para mim como eu sou para você", emite Ray Charles "Volte bebê," James Brown "O dinheiro não vai mudar você" eo clássico Curtis Mayfield "As pessoas ficam prontos ". No álbum, colaborando no refrão de The Sweet Inspirations , composto por Doris Troy, Dionne Warwick , sua irmã Dee Dee Warwick e primo tanto Cissy Houston (mãe de Whitney Houston ). Seis meses depois, lançou Aretha agora , dando continuidade a uma série de sucessos com " Pense "eo tema popular de Burt Bacharach " Eu faço uma pequena oração ", e que já havia tocado Dionne Warwick . Em 1969, o álbum Soul'69 fechou a década com o sucesso dos singles "o convite do Rio" e "Trazer isso para casa para mim".
Curiosidades
Aretha Franklin foi processada por quebra de contrato em 1984, quando ela não pôde estrelar no musical da Broadway Sing, Mahalia, Sing, (baseado na vida da cantora gospel Mahalia Jackson) porque ela estava com medo de voar de avião.
Ela foi introduzida no Hall da Fama das Mulheres de Michigan em 2001.
Aretha frequentemente convida a cantora Chaka Khan, uma de suas favoritas, para cantar em suas festas de aniversário.
Em 2006, o total de prêmios Grammy de Aretha Franklin subiu para dezessete com um prêmio de Melhor Performance Tradicional de R&B por "A House is Not a Home", um tributo a Luther Vandross

Vida pessoal
Ele é divorciado duas vezes, e mãe de quatro filhos. Dois deles, Kecalf e Teddy, são personagens ativos no mundo da música. Teddy é o estágio eo gerente banda Aretha músicos em turnê, além de tocar a guitarra elétrica. De 1962 a 1969, ele foi casado com

Teddy White. Em 1978 ela se casou com o ator Glynn Turman, que iriam se divorciar em 1984.

Em 2008 ele foi escolhido como Personalidade do Ano na Música 50th Prêmios Grammy , em que ele marcou seu vigésimo prêmio graças ao dueto com Mary J. Blige , "Você nunca vai mudar minha fé." Também em 2008 ele gravou um item promocional de uma empresa privada, intitulado "Levanta-te a ti mesmo", que serve simultaneamente como uma prévia para o álbum grooming.

Na terça-feira 20 de janeiro de 2009 ele apareceu no ato de tomar comando do presidente dos EUA, Barack Obama, para cantar "My Country dizer de ti."
incluído no CD So Amazing.

Aretha Franklin passou por uma cirurgia no início de dezembro de 2010, de uma doença que não iria fornecer mais detalhes.

-  Apesar de todo o sucesso, Franklin possui apenas dois singles que foram para o primeiro lugar na lista dos mais vendidos dos Estados Unidos segundo a revista Billboard: "Respect", na década de 1960 (sua canção mais conhecida) e "I Knew You Were Waiting (For Me)", um dueto com George Michael. No entanto, vários singles dela já apareceram entre os 20 mais

vendidos na lista daquela publicação, como "Think", "I Say a Little Prayer", "Until You Come Back to Me", "Chain of Fools", "(Sweet, Sweet Baby) Since You've Been Gone", "Call Me", "Ain't No Way", "Don't Play That Song (for me)", "Freeway of Love", entre outros.

Um afro abraço.

fonte:a enciclopédia livre/ unegro- cultura/fotos net

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Ser lésbica, negra e se jogar no mundo...

Eu sei que você tem a melhor das intenções:
Você sabe que é padrão, você sabe que tem escolhas, e você acha que estamos juntos.

Estamos?

Estamos no mundo, para trocas, para nos permitir, para ser e estar e celebrar nossa “contra-hegemonia​


afetiva”. Estamos?

Eu quero falar de afeto. Mas eu tenho tanto medo disso.

Sair do armário não foi difícil porque eu não tinha certeza sobre quem eu era, mas porque admitir meus afetos e afeições seria me expor, aquilo que eu tento esconder com tanto afinco. Porque ter afeto, e assumir afeto, é desarmar-se. É lembrar de todas aquelas que me afetaram. É lembrar de todas as vezes que foram só vontade, só espera, só distância.

O pensamento heterossexual, a estética heterossexual, o falo, me foram impostos provavelmente tanto quanto para você. Mas as possibilidades com esse falo foram outras. Eu lhe garanto. As possibilidades com quem ostentasse este falo também!

Me ensinaram a não me apegar, a pensar várias vezes antes de desenvolver carinho, e só trocar energias se estivesse preparada para cortar a troca, à disposição do outro. Aprendi o amor assim. Não qualquer amor, saiba bem do que estou falando. Me ensinaram a amar as crianças, os animais, as mães e as avós. Isso eu sei…

Saiba bem, não estou falando em maniqueísmos, em dicotomias, em lógicas tão simples que se resumiriam em mulher negra lésbica x mulher branca lésbica x homem branco gay, por exemplo. Estou falando em possibilidades, em permissões, em permitir-se, em arriscar-se. Eu estou falando de riscos. Em como eu me permito, você se permite, ela se permite. Porque, ora, eu sei que as pessoas se apaixonam e sofrem e amam, sendo quem são. Mas quem se permite sofrer? Por algum amor? Quem corre o risco?

Não sou eu!

Eu vejo você sofrendo. Por aqueles que não querem nada sério, ou talvez queiram, mas você não tem certeza. Mas você sofre, e se arrisca. Nunca consegui sofrer assim. Me lembro que passei mais de um ano da minha vida sem coragem de me ver no espelho. Não é um espelho metafórico, é aquele vidro que iria me mostrar minhas possibilidades, que refletiam minhas referências, as que me antecederam. E autoestima (quanto a estética!) era pouca. As possibilidades de afetividades eram mínimas, eram possibilidades que eu não queria. Eram sobre carne, ou sobre comodidade, ou sobre acordos. Preferia não correr o risco. Preferia me bastar e não arriscar no outro. Mas você se basta com uma autoestima assim?

Foram cinco anos de certezas sobre uma sexualidade contra-hegemônica. Foi uma sexualidade que se assumiu (com muitas reflexões sobre privilégios, sobre cisnormatividades, sobre expectativas, sobre colorismos), receosa, tentando controlar os espaços de manifestação. Mas foi uma libertação. Mas foi assumir que sinto afeto pelas pessoas, pessoas com nomes, com caras, com gênero. E aí vem você. Com toda a sua subversão, com toda a sua confiança e auto-estima. E transa. E ama. E ama em público e transa em público e faz poemas e anda nua, e se despe e se ama em público. E grita esse amor. E eu acho lindo, afinal, quem sou eu para desejar um amor-próprio de uma mina? Mas entenda que você pode se amar e pode se arriscar. Você olha a TV e olha suas referências, e elas amam em público e escolhem não amar em publico, e se arriscam. As minhas não.

E você? Que tem boas intenções. Que me pede, me sugere, limites. É para o meu bem! Limites… Diga para uma mulher negra (qualquer sexualidade que ela expresse) para ela ter limites, quando se trata de sexo ou de afeto. Limites nós conhecemos bem. Pensamos várias vezes (várias!) sobre qual imagem vamos permitir que tenham de nós. Sobre qual nível de esperança, de vontades, de afeto, de tensão sexual vamos permitir que transpareça. E você me pede limites. E você me pede para não arriscar a tão recente autoestima avassaladora que as vezes me surge. Auto-estima e permitir-se arriscar podem ser proporcionais, meu caro.

– Mas não sempre. Quando você, padrão como é (e não digo que sua vida é maravilhosa, mas você é padrão, por favor, admita) se permite apenas com os seus iguais, é bem diferente de quando eu me permito apenas com minhas iguais. Saiba disso –

Então, não venha me pedir limites, como quem cuida de me proteger do mundo. (E, ainda assim, cada vez mais me parece que a homossexualidade me permite mais, se eu fosse heterossexual, seria pior).

Mas veja bem, quer falar de limites? Vamos falar de igual para igual, só não venha me tutelar, ensinar como me apaixonar, me entregar, ou como não o fazer, no mundo real. Você se apaixona, se entrega, se preocupa, porque o risco de dar certo é maior que o de dar errado. Para mim não! Preciso que você saiba disso, antes de conversarmos ‘de igual para igual’.

E, quando me vier essa tão recente, tão passageira autoestima avassaladora, não me peça calma. Se você se importa mesmo, só cuide para que o mundo não a destrua, como já aconteceu tantas vezes. E se ele a destruir. Não me culpe. Eu, que tento tanto não te culpar, ser didática. E você sabe muito bem que não é minha obrigação.

Tenho tanto mais pra falar. Uma vontade louca de afirmar que não estou me vitimizando,

que eu não preciso que você se afaste, que não fale, que cuide de mim, porque qualquer coisa vai me ferir. Mas já aprendi que toda vez que eu for expor uma problematização ou estarei sendo grossa, ou estarei sendo vítima. E isso não muda. A culpa não é sua. De toda forma, não consigo elaborar um encaminhamento para suas atitudes. E olha que eu tento, tento tanto. Mesmo sabendo que não é minha obrigação. Eu só posso dizer que me importo com você, que sei que se importa comigo. Eu só quero pedir que me escute.


E é só.
​Por Carol Carolina​

Imagem destacada:Sou Betina Page

Afro abraços!

fonte:Marisa Justino
Coordenação Estadual do Coletivo LGBT

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Pertencente à tribo Mahin ; sou sou Luisa Mahin

Luísa Mahin (nascida no início do século XIX) foi uma ex-escrava africana, radicada no Brasil, mãe do abolicionista Luís Gama.

Pertencia à tribo Mahi (daí seu sobrenome), integrante da nação africana Nagô. Praticantes da religião islâmica, os Mahin eram mais conhecidos no Brasil como malês, denominação genérica atribuída, especialmente na Bahia, aos negros islamizados - hauçás, tapas, bornus, etc. -trazidos do Golfo do Benin, noroeste da África, que no final do século XVIII foi colonizado por muçulmanos, vindos do Oriente Médio.

A origem de Luísa Mahin é, no entanto, incerta. Não se sabe teria nascido na Costa da Mina, na África, ou na Bahia. Segundo seu filho, Luiz Gama, ela dizia ter sido princesa na África. Alforriada em 1812, daí em diante teria vivido do seu trabalho como quituteira em Salvador. De sua união com um fidalgo português, nasceu Luís Gama. Aos cuidados do pai, dissipador, a criança, então com dez anos de idade, acabou sendo vendida ilegalmente como escrava, para quitar uma dívida de jogo.

Luísa esteve envolvida na articulação de todas as revoltas e levantes de escravos que sacudiram a então Província da Bahia nas primeiras décadas do século XIX. Quituteira de profissão, de seu tabuleiro eram distribuídas as mensagens em árabe, através dos meninos que pretensamente com ela adquiriam quitutes Desse modo, esteve envolvida na Revolta dos Malês (1835) e na Sabinada (1837-1838). Caso o levante dos malês tivesse sido vitorioso, Luísa teria sido reconhecida como Rainha da Bahia.



Descoberta, foi perseguida, logrando evadir-se para o Rio de Janeiro onde foi encontrada, detida e, possivelmente, degredada para Angola, na África. Não existe, entretanto, nenhum documento que comprove essa informação.

Alguns autores acreditam que ela tenha conseguido fugir, vindo a instalar-se no Maranhão, onde, com a sua influência, desenvolveu-se o chamado tambor de crioula.

Em suas notas biográficas, o poeta e abolicionista Luís Gama, registrou acerca de sua mãe:"Sou filho natural de negra africana, livre, da nação nagô, de nome Luísa Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. Minha mãe era baixa, magra, bonita, a cor de um preto retinto sem lustro, os dentes eram alvíssimos, como a neve. Altiva, generosa, sofrida e vingativa. Era quitandeira e laboriosa."

Em outros versos do autor indica-se que Luísa Mahin teve mais um filho, cujo destino é ignorado

Como negra africana, sempre recusou o batismo e a doutrina cristã, e um de seus filhos naturais, Luís Gama (1830-1882), tornou-se poeta e um dos maiores abolicionistas do Brasil.


Um afro abraço.

fonte:www.palmares.gov.br

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Historias Africanas: A Lua Feiticeira e a Filha que não sabia pilar

A LUA TINHA UMA FILHA BRANCA    
... Em idade de casar. Um dia apareceu-lhe em casa um monhé pedindo a filha em casamento. A lua perguntou-lhe:— Como pode ser isso, se tu és monhé? Os monhés não comem ratos nem carne de porco e também não apreciam cerveja... Além disso, ela nãosabe pilar...
O monhé respondeu:
__ Não vejo impedimento porque, embora eu seja monhé, a menina pode continuar a comer ratos e carne de porco e a beber cerveja... Quanto a não saber pilar, isso também não tem importância pois as minhas irmãs podem fazê-lo.
A lua, então, respondeu:
__ Se é como dizes, podes levar a minha filha que, quanto ao mais, é boa rapariga.
O monhé levou consigo a menina. Ao chegar a casa foi ter com a sua mãe e fez-lhe saber que a menina com quem tinha casado comia ratos, carne de porco e bebia cerveja, mas que era necessário deixá-la à-vontade naqueles hábitos. Acrescentou também que ela não sabia pilar mas que as suas irmãs teriam a paciência de suprir essa falta.
Dias depois, o monhé saiu para o mato à caça. Na sua ausência, as irmãs chamaram a rapariga (sua cunhada) para ir pilar com elas para as pedras do rio e esta desatou a chorar.
As irmãs censuraram-na:
__ Então tu pões-te a chorar por te convidarmos a pilar?... Isso não está bem! Tens de aprender porque é trabalho próprio das mulheres.
E, sem mais conversas, pegaram-lhe na mão e conduziram-na ao lugar onde costumavam pilar. Quando chegaram ao rio puseram-lhe o pilão na frente, entregaram-lhe um maço e ordenaram que pilasse.
A rapariga começou a pilar mas com uma mágoa tão grande que as lágrimas não paravam de lhe escorrer pela cara. Enquanto pilava ia-se lamentando:
__ Quando estava em casa da minha mãe não costumava pilar... Ao dizer estas palavras, a rapariga, sempre a pilar e juntamente com o pilão, começou a sumir-se pelo chão abaixo, por
entre as pedras que, misteriosamente, se afastavam. E foi mergulhando, mergulhando... até desaparecer.
Ao verem aquele estranho fenómeno, as irmãs do monhé abandonaram os pilões e foram a correr contar à mãe o que acontecera. Esta ficou assustada com a estranha novidade e tinha o coração apertado de receio quando chegou o monhé, seu filho.
Este, ao ouvir o relato do que acontecera à sua mulher, ralhou com as irmãs, censurando-as por não terem cumprido as suas ordens. Apressou-se a ir ter com a lua, sua sogra, para lhe dar conta do desaparecimento da filha.
A lua, muito irritada, disse:
__ A minha filha desapareceu porque não cumpriste o que prometeste. Faz como quiseres, mas a minha filha tem de aparecer!
__ Mas como posso ir ao encontro dela se desapareceu pelo chão abaixo?
A lua mudou, então, de aspecto e, mostrando-se conciliadora, disse:
__ Bom, vou mandar chamar alguns animais para se fazer um remédio que obrigue a minha filha a voltar... Vai para o lugar onde desapareceu a minha filha e espera lá por mim.
O monhé foi-se embora e a lua chamou um criado ordenando:
- Chama o javali, a pacala, a gazela, o búfalo e o cágado e diz-lhes que compareçam, sem demora, nas pedras do rio onde desapareceu a minha filha.
O criado correu a cumprir as ordens e os animais convidados apressaram-se para chegar ao lugar indicado. A lua também para lá se dirigiu com um cesto de alpista. Quando chegou ao rio, derramou um punhado de alpista numa pedra e ordenou ao porco que moesse.
O porco, enquanto moía, cantou:
- Eu sou o javali e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!
Nesse momento ouviu-se a voz cava da menina que, debaixo do chão, respondia:
- Não te conheço!
O javali, despeitado, largou a pedra das mãos e afastou-se cabisbaixo. Aproximou-se em seguida a pacala e, enquanto moía, cantou:
- Eu sou a pacala e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz! Ouviu-se novamente a voz da menina que dizia:
- Não te conheço!
A gazela e o búfalo ajoelharam também junto do moinho, fazendo a sua invocação, mas a menina deu a ambos a mesma resposta:
- Não te conheço!
Por último, tomou a pedra o cágado e, enquanto moía, cantou:
- Eu sou o cágado e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!
A menina cantou, então, em voz terna e melodiosa:
- Sim, cágado, à tua voz eu vou aparecer!...
E, pouco a pouco, a menina começou a surgir por entre as pedras do rio, juntamente com o pilão, mas sem pilar. Quando emergiu completamente parou e ficou silenciosa.
Os animais juntaram-se todos, curiosos, à volta da menina.
Então, a lua disse:
-Agora a minha filha já não pode continuar a ser mulher do monhé pois ele não soube cumprir o que me prometeu. Ela será, daqui para o futuro, mulher do cágado, pois só à sua voz é que
ela tornou a aparecer.
Então o cágado levantou a voz dizendo:
-Estou muito feliz com a menina que acaba de me ser dada em casamento e, como prova da minha satisfação, vou oferecer-lhe um vestido luxuoso que ela vestirá uma só vez, pois durará até ao fim da sua vida. E, dizendo isto, entregou à menina uma carapaça lindamente trabalhada, igual à sua.
Da ligação do cágado com a filha da lua
é que descendem todos os cágados do mundo...

Um afro abraço.

fonte:www.contioutra.com/

Favelas as grandes vítimas do coronavírus no Brasil

O Coronavírus persiste e dados científicos se tornam disponíveis para a população, temos observado que a pandemia evidencia como as desigual...