Baseados em mitos e episódios históricos a saga das mulheres africanas e afro-descendentes que mantêm em comum o laço de soberania real e espiritual sobre seus povos - ao estabelecer um elo imaginário de ascendência e descendência com as guerreiras africanas.
história de rainhas africanas, guerreiras, sacerdotisaS e outras, onde cada uma em seu tempo comandaram impérios, irmandades, comunidades de terreiro mostrando ao mundo durante todo esses quase 10 mil anos de existência da humanidade a força, a garra e a beleza da Mulher Negra.
Do grande continente africano traz não só a origem, mas também toda uma crença ancestral que exalta a figura feminina como a grande provedora que principiou a vida do Homem.
Um desses mitos conta que no início de tudo, ligadas às origens da Terra, havia as Mães Feiticeiras. Donas do destino da humanidade, elas eram o ventre do mundo. Conhecedoras dos segredos da vida tinham em si a capacidade de manipular os opostos e, assim, manter o equilíbrio do universo. Traziam consigo a força criadora e criativa do planeta. Raízes de um misticismo que abrigava em sua sabedoria a dualidade do cosmos eram donas do poder sobre a vida e a morte, o bem o mal, o amor e a cólera, o princípio e o fim.
As primeiras rainhas
Do mito à história, através do exemplo de grandes rainhas da Antigüidade, exaltamos o comando de mulheres negras sobre seus povos. Assim, evocamos a primeira rainha:
HATSHEPSUT (1503 -1482 antes de Cristo)
A Rainha mais habilidosa de uma Antiguidade distante, Hatshepsut subiu ao poder depois que seu pai, Thutmose I, que estava com paralisia. Ele designou Hatshepsut como sua principal ajudante e herdeira para o trono. Enquanto vários rivais masculinos buscavam o poder, Hatshepsut resistiu aos desafios deles para permanecer líder daquela que era até então a principal nação do mundo. Para ajudar a aumentar sua popularidade com o povo do Egito, Hatshepsut teve vários templos espetaculares e pirâmides erguidas. Algumas das altíssimas estruturas ainda hoje permanecem como uma lembrança da primeira governante real de uma nação civilizada. Ela realmente foi "A Rainha mais Habilidosa de uma Antiguidade Distante" e permaneceu assim durante trinta e três anos.
TIYE - A Rainha Núbia do Egito (1415 - 1340 antes de Cristo)
Uma mulher sábia e bonita de Núbia capturou o coração do faraó, e assim ela mudou o curso da história. Amenhotep III, jovem dirigente egípcio, foi tão levado pela beleza, intelecto e vontade de Tiye, que ele desafiou os sacerdotes e os costumes de sua nação, proclamando esta, cidadã de Núbia como sua cônjuge real. Ele expressou publicamente de várias maneiras seu amor por sua linda rainha negra, fazendo dela uma pessoa célebre e rica em seus próprios direitos. Ele tomava vários conselhos dela em assuntos políticos e militares e depois declarou que, como ele tinha a tratado em vida, assim ela deveria ser descrita na morte, a sua igualdade.
NEFERTARI- Rainha Núbia de Egito (1292 - 1225 antes de Cristo)
Uma das muitas grandiosas rainhas da Núbia, Nefertari é anunciada como a rainha que se casou para a paz. O matrimônio dela com o Rei Ramesés II do Egito, um dos últimos grandes faraós egípcios, começou estritamente como um movimento político, com o poder sendo compartilhado entre dois líderes. Isso não só se transformou em um dos maiores casos de amor na realeza da história, mas colocou um fim na guerra dos 100 anos entre Núbia e Egito. Mesmo até hoje, um monumento permanece em honra da Rainha Nefertari. Na realidade, o templo que Ramesés construiu para ela em Abu Simbel, é uma das maiores e mais belas estruturas construídas para honrar uma esposa e celebrar paz.
A Rainha Amamishaketeu capitulo a parte:.
A rainha Amanirenas reinou na cidade Meroé e quando o imperador romano Augustus tentou impor um imposto aos cushitas, Amanirenas e seu filho Akinidad, realizaram um ataque violento a um forte romano na cidade Asuan. Augustus mandou as tropas romanas; comandadas pelo general Peroneus, retaliaram, mas, encontraram uma forte resistência de Amanirenas comandando as tropas que derrotou os romanos e os obrigaram a negociar a paz. Os cushitas detiveram o avanço dos romanos na África, e colocaram um busto de César Augustus enterrado debaixo de uma entrada em um templo. Nesta maneira, todos que entraram pisariam em sua cabeça.
A Rainha Amamishakete e seu companheiro.
A rainha Amanirenas era alta, muito forte e cega de um olho; venceu as tropas romanas no ano 23 a.C., obrigando Roma a trocar embaixadores e fecharam um acordo, onde Roma devolveu um território cushita, anteriormente pago em imposto. Outras rainhas também enfrentaram as tropas romanas.
O exército africano de Cush derrotou inimigos egípcios, gregos e romanos.
A civilização de Cush, com seu alfabeto, comércio e triunfos arquitetônicos é considerada por alguns estudiosos, como superior às civilizações mais desenvolvidas do mundo antigo.
MAKEDA- Rainha de Sheba (ou Sabá) (960 A.C.)
Ela deu para o rei 120 talentos de ouro, variados temperos e pedras preciosas; lá não chegou mais nenhuma abundância de temperos como estes que a Rainha de Sheba deu ao Rei Salomão ". (Reis, 10:10) A passagem Bíblica recorre aos presentes que Makeda apresentou ao Rei Salomão de Israel em sua famosa viagem para visitar o monarca de Judá. Mas o presente de Makeda para Solomon se estendeu além de objetos materiais; ela também lhe deu um filho, Menelik I. A notável semelhança do menino com o avô (o grande Rei Davi) incitou Salomão a re-batizar Menelik. Salomão mais tarde re-nomeou seu filho como seu próprio pai, o Rei Davi.
NEFERTITI
No século 14 antes de Cristo, Nefertiti reinou no Egito por mais de uma década durante o apogeu de uma civilização que influenciou toda a humanidade. Reverenciada por sua beleza, governou ao lado de Amenófis IV (Akhenaton) com status equivalente ao dele. Juntos, implementaram reformas culturais e religiosas, dentre elas o culto ao Deus Sol Aton. Foi imortalizada em templos mais do que qualquer outra rainha egípcia.
CLEÓPATRA VI I- Rainha do Egito (69 - 30 antes de Cristo)
A mais famosa das sete matriarcas com este nome, Cleópatra subiu ao trono aos dezessete anos. A jovem rainha é freqüentemente retratada de forma errada como uma caucasiana (raça branca), porém ela tinha descendência grega e africana. Dominando vários idiomas diferentes e vários dialetos africanos, ela foi um importante instrumento além das fronteiras do Egito. Esforçou-se para dar ao Egito a supremacia mundial, Cleópatra recrutou os serviços militares de dois grandes líderes romanos. Ela persuadiu Júlio César e, depois, Marco Antônio para renunciar as submissões romanas deles para lutar em nome do Egito. Porém, cada um conheceu a morte assim que os sonhos de conquistas de Cleópatra se realizaram. Desanimada, Cleópatra se matou, colocando um fim na vida da rainha africana.
NZINGA - Rainha Amazona de Matamba, África Ocidental (1582 - 1663)
Muitas mulheres estiveram entre as grandes dirigentes da África, inclusive esta rainha angolana que era uma astuta diplomata e se sobressaiu bem como líder militar. Quando os escravizadores portugueses atacaram o exército do reino de seu irmão, Nzinga foi enviada para negociar a paz. Com habilidade surpreendente e tato político ela se impôs, apesar do fato de seu irmão ter matado uma criança dela. Mais tarde ela formou seu próprio exército contra os portugueses, e empreendeu uma guerra durante quase trinta anos. Estas batalhas viram um momento sem igual na história colonial quando Nzinga aliou sua nação aos os holandeses, fazendo assim a primeira aliança européia africana contra um opressor europeu. Nzinga continuou com sua considerável influência entre seus assuntos, apesar de estar em exílio forçado. Por causa de seu apelo pela liberdade e seu direcionamento para trazer a paz ao seu povo, Nzinga permanece como um forte símbolo de inspiração, além de ter sido uma mulher a frente do seu tempo pois havia sido educada por padres e com isso sabia ler e escrever, fato raro na época.
NANDI- Rainha da Terra Zulu (1778 - 1826)
O ano era 1786. O rei da terra Zulu era jubiloso. Sua esposa, Nandi, tinha dado luz a seu primeiro filho, que eles chamaram Shaka. Mas as outras esposas do Rei, que era ciumento e frio, o pressionaram a banir Nandi e o jovem menino em exílio. Firme e orgulhosa, ela criou seu filho com o tipo de treinamento e orientação que um herdeiro real deveria ter. Depois ela e seu filho foram finalmente recompensados e mais tarde Shaka retornou para se tornar o maior de todos os Reis Zulus. Até hoje o povo Zulu usa seu nome, "Nandi”, para se referir a uma mulher de alta estima.
NEHANDA - Guerreira do Zimbábue
Nascida em uma família religiosa, Nehanda exibiu liderança notável e habilidades organizacionais, e jovem se tornou uma das líderes religiosas mais influentes do Zimbábue. Quando os colonos ingleses invadiram o Zimbábue em 1896 e começaram a confiscar a terra e o gado, Nehanda e outros líderes declararam guerra. A princípio eles alcançaram grande sucesso, mas como os materiais se esgotaram, foram vencidos no campo de batalha. Nehanda foi capturada, culpada e executada por ordenar a matança de um notável e cruel chefe nativo. Apesar de estar morta por quase cem anos, Nehanda permanece o que ela era quando viva - a única pessoa mais importante na história moderna do Zimbábue, e ainda é chamada de Mbuya (avó) Nehanda por patriotas do Zimbábue.
Negras Guerreiras: Constância de Angola, Zacimba Gaba, Mariana Criola, Felipa Maria, Teresa Rainha, Sabrina da Cruz, Teresa de Quatiretê, Luiza Mahin, são alguns outros exemplos de comando e resistência que continuaram a florescer por outras eras e civilizações. Várias luas se ergueram e se puseram no céu do continente negro. Um dia, rainhas e princesas de tribos e reinos se viram obrigadas ao trabalho forçado no novo mundo. Mas foi ali que fizeram multiplicar o sangue de muitas guerreiras, tornando–se quilombolas. Em terras tão distantes, ligadas ao passado, mulheres negras geraram o valor da bravura herdada de suas ancestrais.
A palavra liberdade ganhou um significado mítico no Brasil, dando um novo sentido à vida levada entre a clausura e o trabalho forçado. Para elas, ser livre era também reverenciar seus costumes, reviver o passado soberano, encenar a memória dos seus antepassados. Em folguedos, foram eternizadas na glória real da corte negra. No novo continente, há o despertar para o misticismo trazido do outro lado do Atlântico. A construção da identidade africana no Brasil encontra nas celebrações e ritos toda uma reverência à mulher como mediadora entre os deuses e a humanidade.
Assim, tornaram-se as grandes mães negras como Mãe Menininha do Gantois(gantuá)e muitas outras sacerdotisas que exerceram o poder espiritual trazido de África por suas ancestrais no novo mundo.
Majestade, soberana, guardiã da sagrada chama da vida. Derrama teu talento ao interpretar a história da raça; enfeitiça os sentidos com tua beleza negra, libertando corpo e alma. Eleva-te ao panteon das matriarcas ancestrais da África e invoca a rainha dentro de ti. Resgata a força feminina das guerreiras imortais, Rainhas Mães de todos os tempos, para abençoar e iluminar teus filhos, emanando o Axé, força que permite a realização da vida: que assegura a existência dinâmica; que possibilita os acontecimentos e as trasformações.
FONTES:Guetto/www.starnews2001.com.br/www.afroasia.ufba.br/www.dogon.lobi.ch/www.casadasafricas.org.br/www.firmaproducoes.com/LOPES, Nei. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana, São Paulo: Selo Negro, 2004/civilizacoesafricanas.blogspot.com.
UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ
sábado, 28 de janeiro de 2012
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Nossa Historia: Tia Ciata...
No futuro, quando se fizer uma história do Brasil honesta e sincera, é que se poderá dar o valor devido à etnia negra na formação do povo brasileiro, principalmente na constituição de seu perfil cultural.
Ainda está por ser feito o inventário da contribuição do negro na formação do povo brasileiro.
A pequena Africa Carioca...
No século XIX, com o desenvolvimento da cultura do café no Sudeste, se manteria o fluxo escravagista para o Rio de Janeiro, e muitos negros viriam do Nordeste para as plantações do vale do Paraíba como para trabalhar no interior paulista.
A Abolição engrossa o fluxo de baianos para o Rio de Janeiro, liberando os que se mantinham em Salvador em virtude de laços com escravos, fundando-se praticamente uma pequena diáspora baiana na capital do país, gente que terminaria por se identificar com a nova cidade onde nascem seus descendentes, e que, naqueles tempos de transição, desempenharia notável papel na reorganização do Rio de Janeiro popular, subalterno, em volta do cais e nas velhas casas do Centro.
Quase em paralelo com a chegada dos iorubanos, se instalaram na mesma região os ex-combatentes da recém-terminada campanha de Canudos.
Cerca de 10 mil soldados vieram para o Rio de Janeiro, sendo que muitos deles voltaram casados com mulheres baianas, com a promessa do Governo de ganhar casas na então capital federal e acabaram se instalando em caráter “provisório” nas encostas Morro da Providência, próximo desses bairros portuários e também da sede do então Ministério da Guerra.
Como as casas prometidas nunca saíram do papel, pelo Morro da Providência acabaram mesmo ficando.
Formaram ali uma comunidade que eles próprios denominaram de “favela”, referência a um morro que ficava nas proximidades de Canudos e que serviu de base e acampamento para os soldados republicanos.
Com o passar do tempo, a expressão “favela” acabou virando sinônimo de construções irregulares das classes menos favorecidas.
O grupo baiano iria situar-se na parte da cidade onde a moradia era mais barata, na Saúde, perto do cais do porto, onde os homens, como trabalhadores braçais, buscam vagas na estiva.
Com a brusca mudança no meio negro ocasionada pela Abolição, que extinguiu as organizações de nação ainda existentes no Rio de Janeiro, o grupo baiano tornar-se-ia uma nova liderança.
Muitos dos alforriados em Salvador trouxeram o aprendizado de ofícios urbanos, e às vezes algum dinheiro poupado.
Mas principalmente a experiência de liderança nos candomblés, irmandades, nas juntas ou na organização de grupos festeiros, seriam a garantia do negro no Rio de Janeiro.
A síntese dessa cultura negra do Rio de Janeiro, é uma das principais referências civilizatórias da moderna cultura nacional.
A luta pela independência , pelo fim da escravidão, do racismo, do genocídio e da exploração desenfreada da força de trabalho passavam pela afirmação sócio-existencial constituinte da identidade negra através da implantação e expansão do processo civilizatório negro-africano no Brasil.
Da comunidade terreiro, centro irradiador dos valores da tradição, se desdobravam formas de atuação frente à sociedade neocolonial que se constituia paralelamente.
Seguindo os passos de Oba Saniya e Bamboxê, Mãe Aninha ( Iya Oba Biyi) faria inúmeras viagens da Bahia para o Rio de Janeiro.
Oba Saniya e Bamboxê que também possuía o titulo de Balé Xango, estiveram no Rio de Janeiro por volta de 1886 e se instalaram no bairro da Saúde, plantando o axé de suas respectivas casas.
O terreiro fundado por Bamboxê, após seu retorno à Bahia, foi segundo contam, entregue ao renomado João Alaba, que continuaria a tradição.
No terreiro de João Alaba, Hilaria Batista de Almeida, Omo Oxum ( filha de oxum) conhecida por Tia Ciata, ocuparia o posto de Iyá Kekere ( Mãe Pequena).
A casa de João Alabá, de Omulu, dava continuidade a um candomblé nagô que havia sido iniciado na Saúde, talvez o primeiro do Rio de Janeiro, por Quimbambochê, ou Bambochê Obiticô.
Africano que chega a Salvador num negreiro na metade do século XIX, junto com a avó da Iyalorixá Senhora, onde se tornou, depois de alforriado por sua irmã de nação Marcelina, um influente babalaô.
A baiana Bebiana, irmã de santo da grande Ciata de Oxum, é figura central da primeira fase dos ranchos cariocas, ainda ligada ao ciclo do Natal, guardando em sua casa, no antigo largo de São Domingos, a lapinha, em frente à qual os cortejos iam evoluir no dia de Reis.
Entre as tias baianas que emigraram com tia Ciata, destacam-se tia Amélia (mãe de Donga), tia Presciliana de Santo Amaro (mãe de João da Baiana), tia Veridiana (mãe de Chico da Baiana).
Tia Bebiana e suas irmãs-de-santo, Mônica, Carmem do Xibuca, Ciata, Perciliana, Amélia e outras, que pertenciam ao terreiro de João Alabá, formam um dos núcleos principais de organização e influência sobre a comunidade.
Muitos nomes de negros valorosos haverão que ser lembrados, na constituição dos vários segmentos da cultura brasileira.
Tia Ciata nasceu em Salvador em 1854 e aos 22 anos levou o samba da Bahia para o Rio de Janeiro . Foi a mais famosa das tias baianas (na maioria iyalorixás do Candomblé que deixaram Salvador por causa das perseguições policiais) do início do século, eram negras baianas que foram para o Rio de Janeiro especialmente na última década do século 19 e na primeira do século 20 para morar na região da Cidade Nova, do Catumbi, Gamboa, Santo Cristo e arredores. Logo na chegada ao Rio de Janeiro, conheceu Noberto da Rocha Guimarães, envolvendo-se com ele, então, e acabou ficando grávida de sua primeira filha lhe dando o nome de Isabel. O caso dos dois não foi adiante. Ela acabou se separando de Noberto e, para sustentar a filha, começou a trabalhar como quituteira na Rua Sete de Setembro, sempre paramentada com suas vestes de baiana. Era na comida que ela expressava suas convicções religiosas, ou seja, a sua fé no candomblé. Religião proibida e perseguida naqueles tempos. Ia para o ponto de venda com sua roupa de baiana uma saia rodada e bem engomada, turbante e diversos colares (guias ou fio-de-contas) e pulseiras sempre na cor do orixá que iria homenagear. O tabuleiro era famoso e farto, repleto de bolos e manjares que faziam a alegria dos transeuntes de todas as classes sociais.
Mais tarde, Tia Ciata casou-se com João Batista da Silva, que para aquela época era um negro bem-sucedido na vida. Deste casamento resultaram 14 filhos, uma relação fundamental para a sua afirmação na Pequena África, como era conhecida a área da Praça Onze nesta época. Recebia todos os finais de semana em sua casa, nos pagodes, que eram festas dançantes, regadas a música da melhor qualidade e claro seus quitutes. Partideira reconhecida, cantava com autoridade respondendo aos refrões das festas, que se arrastavam por dias. Tia Ciata cuidava para que a comida estivesse sempre quente e saborosa e o samba nunca parasse.
Foi em sua casa que se reuniram os maiores compositores e malandros, como Donga, Sinhô e João da Baiana, para saraus. A hospitalidade dessas baianas fornecia a base para que os compositores pudessem desenvolver no Rio de Janeiro. A casa da Tia Ciata na Praça Onze era tradicional ponto de encontro de personagens do samba carioca, tanto que nos primeiros anos de desfile das escolas de samba, era "obrigatório" passar diante de sua casa.
Normalmente, a polícia perseguia estes encontros, mas Tia Ciata era famosa por seu lado curandeiro e foi justamente um investigador e chofer de polícia, conhecido como Bispo que proporcionou a ela uma interessante história envolvendo o presidente da República, Wenceslau Brás. O presidente estava adoentado em virtude de uma ferida na perna que os médicos não conseguiam curar e este investigador então disse ao então Presidente que Tia Ciata poderia curá-lo. Feito isto, foi falar com ela, dizendo:
- "Ele é um homem, um senhor do bem. Ele é o criador desse negócio da Lei de um dia não trabalha..."
E ela respondeu:
- "Quem precisa de caridade que venha cá."
Ela então incorporou um Orixá que disse aos presentes haver cura para a tal ferida e recomendou a Wenceslau Brás que fizesse uma pasta feita de ervas que deveria ser colocada por três dias seguidos. O Presidente ficou bom e em troca ofereceu a realização de qualquer pedido. Tia Ciata respondeu que não precisava de nada, mas que seu marido sim, pedindo para o Presidente um trabalho no serviço público, "pois minha família é numerosa", explicou ela.
Além dos doces, Tia Ciata alugava as roupas de baiana para os teatros para que fossem usados como figurinos de peça e para o Carnaval dos clubes. Nesta época, mesmo os homens, se vestiam com as suas fantasias, se divertindo nos blocos de rua. Com este comércio, muita gente da Zona Sul da cidade, da alta sociedade, ia à casa da baiana e passando assim a freqüentar as suas festas. Era nessas festas que Tia Ciata passou a dar consultas com seus orixás. Sua casa é uma referência na história do samba, do candomblé e da cidade.
Em 1910, morre seu marido João Batista da Silva, mas ela já havia conquistado o seu lugar de estrela no universo do samba carioca. Era respeitada na cidade, coisa de cidadão, muito longe da realidade comum dos negros de sua época. Todo o ano, durante o Carnaval, armava uma barraca na Praça Onze, reunindo desde trabalhadores até a fina flor da malandragem. Na barraca eram lançadas as músicas, as conhecidas marchinhas, que ficariam famosas no Carnaval do Rio de Janeiro. Tia Ciata morreu em 1924, mas até hoje é parte fundamental da memória do samba. Curiosamente, existem pouquíssimas imagens de Tia Ciata. Tia Ciata era uma mulher muito respeitada.
Extraordinária Mulher, Hilária Batista de Almeida a mais popular das Tias Baianas da Praça Onze, Organizava Saraus concorridíssimos na sua casa, na rua Visconde de Itauna 117 onde tocavam, cantavam e dançavam o Miudinho, que sempre foi muito lembrado e comentado por Paulinho da Viola. A Casa da Tia Ciata era freqüentada por Pixinguinha, Donga, Heitor dos Prazeres, Mário de Almeida Sinhô e toda uma Turma que acompanhava estes mestres, onde haviam muitos malandros, e que pela força Divina da Nossa Música Brasileira nunca houve problemas registrados, estragando esta linda História do surgimento e florescimento inicial do Samba no Rio de Janeiro. Um Tempo Heróico e uma gente Inspirada, que tanto elevam e honram a nossa Cultura Musical, dando orgulho de ser Brasileiro e do Samba, porque quem não gosta do Samba, bom sujeito não é.
Fonte:enciclopédia livre/www.flogao.com.br/czeiger.
Ainda está por ser feito o inventário da contribuição do negro na formação do povo brasileiro.
A pequena Africa Carioca...
No século XIX, com o desenvolvimento da cultura do café no Sudeste, se manteria o fluxo escravagista para o Rio de Janeiro, e muitos negros viriam do Nordeste para as plantações do vale do Paraíba como para trabalhar no interior paulista.
A Abolição engrossa o fluxo de baianos para o Rio de Janeiro, liberando os que se mantinham em Salvador em virtude de laços com escravos, fundando-se praticamente uma pequena diáspora baiana na capital do país, gente que terminaria por se identificar com a nova cidade onde nascem seus descendentes, e que, naqueles tempos de transição, desempenharia notável papel na reorganização do Rio de Janeiro popular, subalterno, em volta do cais e nas velhas casas do Centro.
Quase em paralelo com a chegada dos iorubanos, se instalaram na mesma região os ex-combatentes da recém-terminada campanha de Canudos.
Cerca de 10 mil soldados vieram para o Rio de Janeiro, sendo que muitos deles voltaram casados com mulheres baianas, com a promessa do Governo de ganhar casas na então capital federal e acabaram se instalando em caráter “provisório” nas encostas Morro da Providência, próximo desses bairros portuários e também da sede do então Ministério da Guerra.
Como as casas prometidas nunca saíram do papel, pelo Morro da Providência acabaram mesmo ficando.
Formaram ali uma comunidade que eles próprios denominaram de “favela”, referência a um morro que ficava nas proximidades de Canudos e que serviu de base e acampamento para os soldados republicanos.
Com o passar do tempo, a expressão “favela” acabou virando sinônimo de construções irregulares das classes menos favorecidas.
O grupo baiano iria situar-se na parte da cidade onde a moradia era mais barata, na Saúde, perto do cais do porto, onde os homens, como trabalhadores braçais, buscam vagas na estiva.
Com a brusca mudança no meio negro ocasionada pela Abolição, que extinguiu as organizações de nação ainda existentes no Rio de Janeiro, o grupo baiano tornar-se-ia uma nova liderança.
Muitos dos alforriados em Salvador trouxeram o aprendizado de ofícios urbanos, e às vezes algum dinheiro poupado.
Mas principalmente a experiência de liderança nos candomblés, irmandades, nas juntas ou na organização de grupos festeiros, seriam a garantia do negro no Rio de Janeiro.
A síntese dessa cultura negra do Rio de Janeiro, é uma das principais referências civilizatórias da moderna cultura nacional.
A luta pela independência , pelo fim da escravidão, do racismo, do genocídio e da exploração desenfreada da força de trabalho passavam pela afirmação sócio-existencial constituinte da identidade negra através da implantação e expansão do processo civilizatório negro-africano no Brasil.
Da comunidade terreiro, centro irradiador dos valores da tradição, se desdobravam formas de atuação frente à sociedade neocolonial que se constituia paralelamente.
Seguindo os passos de Oba Saniya e Bamboxê, Mãe Aninha ( Iya Oba Biyi) faria inúmeras viagens da Bahia para o Rio de Janeiro.
Oba Saniya e Bamboxê que também possuía o titulo de Balé Xango, estiveram no Rio de Janeiro por volta de 1886 e se instalaram no bairro da Saúde, plantando o axé de suas respectivas casas.
O terreiro fundado por Bamboxê, após seu retorno à Bahia, foi segundo contam, entregue ao renomado João Alaba, que continuaria a tradição.
No terreiro de João Alaba, Hilaria Batista de Almeida, Omo Oxum ( filha de oxum) conhecida por Tia Ciata, ocuparia o posto de Iyá Kekere ( Mãe Pequena).
A casa de João Alabá, de Omulu, dava continuidade a um candomblé nagô que havia sido iniciado na Saúde, talvez o primeiro do Rio de Janeiro, por Quimbambochê, ou Bambochê Obiticô.
Africano que chega a Salvador num negreiro na metade do século XIX, junto com a avó da Iyalorixá Senhora, onde se tornou, depois de alforriado por sua irmã de nação Marcelina, um influente babalaô.
A baiana Bebiana, irmã de santo da grande Ciata de Oxum, é figura central da primeira fase dos ranchos cariocas, ainda ligada ao ciclo do Natal, guardando em sua casa, no antigo largo de São Domingos, a lapinha, em frente à qual os cortejos iam evoluir no dia de Reis.
Entre as tias baianas que emigraram com tia Ciata, destacam-se tia Amélia (mãe de Donga), tia Presciliana de Santo Amaro (mãe de João da Baiana), tia Veridiana (mãe de Chico da Baiana).
Tia Bebiana e suas irmãs-de-santo, Mônica, Carmem do Xibuca, Ciata, Perciliana, Amélia e outras, que pertenciam ao terreiro de João Alabá, formam um dos núcleos principais de organização e influência sobre a comunidade.
Muitos nomes de negros valorosos haverão que ser lembrados, na constituição dos vários segmentos da cultura brasileira.
Tia Ciata nasceu em Salvador em 1854 e aos 22 anos levou o samba da Bahia para o Rio de Janeiro . Foi a mais famosa das tias baianas (na maioria iyalorixás do Candomblé que deixaram Salvador por causa das perseguições policiais) do início do século, eram negras baianas que foram para o Rio de Janeiro especialmente na última década do século 19 e na primeira do século 20 para morar na região da Cidade Nova, do Catumbi, Gamboa, Santo Cristo e arredores. Logo na chegada ao Rio de Janeiro, conheceu Noberto da Rocha Guimarães, envolvendo-se com ele, então, e acabou ficando grávida de sua primeira filha lhe dando o nome de Isabel. O caso dos dois não foi adiante. Ela acabou se separando de Noberto e, para sustentar a filha, começou a trabalhar como quituteira na Rua Sete de Setembro, sempre paramentada com suas vestes de baiana. Era na comida que ela expressava suas convicções religiosas, ou seja, a sua fé no candomblé. Religião proibida e perseguida naqueles tempos. Ia para o ponto de venda com sua roupa de baiana uma saia rodada e bem engomada, turbante e diversos colares (guias ou fio-de-contas) e pulseiras sempre na cor do orixá que iria homenagear. O tabuleiro era famoso e farto, repleto de bolos e manjares que faziam a alegria dos transeuntes de todas as classes sociais.
Mais tarde, Tia Ciata casou-se com João Batista da Silva, que para aquela época era um negro bem-sucedido na vida. Deste casamento resultaram 14 filhos, uma relação fundamental para a sua afirmação na Pequena África, como era conhecida a área da Praça Onze nesta época. Recebia todos os finais de semana em sua casa, nos pagodes, que eram festas dançantes, regadas a música da melhor qualidade e claro seus quitutes. Partideira reconhecida, cantava com autoridade respondendo aos refrões das festas, que se arrastavam por dias. Tia Ciata cuidava para que a comida estivesse sempre quente e saborosa e o samba nunca parasse.
Foi em sua casa que se reuniram os maiores compositores e malandros, como Donga, Sinhô e João da Baiana, para saraus. A hospitalidade dessas baianas fornecia a base para que os compositores pudessem desenvolver no Rio de Janeiro. A casa da Tia Ciata na Praça Onze era tradicional ponto de encontro de personagens do samba carioca, tanto que nos primeiros anos de desfile das escolas de samba, era "obrigatório" passar diante de sua casa.
Normalmente, a polícia perseguia estes encontros, mas Tia Ciata era famosa por seu lado curandeiro e foi justamente um investigador e chofer de polícia, conhecido como Bispo que proporcionou a ela uma interessante história envolvendo o presidente da República, Wenceslau Brás. O presidente estava adoentado em virtude de uma ferida na perna que os médicos não conseguiam curar e este investigador então disse ao então Presidente que Tia Ciata poderia curá-lo. Feito isto, foi falar com ela, dizendo:
- "Ele é um homem, um senhor do bem. Ele é o criador desse negócio da Lei de um dia não trabalha..."
E ela respondeu:
- "Quem precisa de caridade que venha cá."
Ela então incorporou um Orixá que disse aos presentes haver cura para a tal ferida e recomendou a Wenceslau Brás que fizesse uma pasta feita de ervas que deveria ser colocada por três dias seguidos. O Presidente ficou bom e em troca ofereceu a realização de qualquer pedido. Tia Ciata respondeu que não precisava de nada, mas que seu marido sim, pedindo para o Presidente um trabalho no serviço público, "pois minha família é numerosa", explicou ela.
Além dos doces, Tia Ciata alugava as roupas de baiana para os teatros para que fossem usados como figurinos de peça e para o Carnaval dos clubes. Nesta época, mesmo os homens, se vestiam com as suas fantasias, se divertindo nos blocos de rua. Com este comércio, muita gente da Zona Sul da cidade, da alta sociedade, ia à casa da baiana e passando assim a freqüentar as suas festas. Era nessas festas que Tia Ciata passou a dar consultas com seus orixás. Sua casa é uma referência na história do samba, do candomblé e da cidade.
Em 1910, morre seu marido João Batista da Silva, mas ela já havia conquistado o seu lugar de estrela no universo do samba carioca. Era respeitada na cidade, coisa de cidadão, muito longe da realidade comum dos negros de sua época. Todo o ano, durante o Carnaval, armava uma barraca na Praça Onze, reunindo desde trabalhadores até a fina flor da malandragem. Na barraca eram lançadas as músicas, as conhecidas marchinhas, que ficariam famosas no Carnaval do Rio de Janeiro. Tia Ciata morreu em 1924, mas até hoje é parte fundamental da memória do samba. Curiosamente, existem pouquíssimas imagens de Tia Ciata. Tia Ciata era uma mulher muito respeitada.
Extraordinária Mulher, Hilária Batista de Almeida a mais popular das Tias Baianas da Praça Onze, Organizava Saraus concorridíssimos na sua casa, na rua Visconde de Itauna 117 onde tocavam, cantavam e dançavam o Miudinho, que sempre foi muito lembrado e comentado por Paulinho da Viola. A Casa da Tia Ciata era freqüentada por Pixinguinha, Donga, Heitor dos Prazeres, Mário de Almeida Sinhô e toda uma Turma que acompanhava estes mestres, onde haviam muitos malandros, e que pela força Divina da Nossa Música Brasileira nunca houve problemas registrados, estragando esta linda História do surgimento e florescimento inicial do Samba no Rio de Janeiro. Um Tempo Heróico e uma gente Inspirada, que tanto elevam e honram a nossa Cultura Musical, dando orgulho de ser Brasileiro e do Samba, porque quem não gosta do Samba, bom sujeito não é.
Fonte:enciclopédia livre/www.flogao.com.br/czeiger.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Fórum Social Mundial já começou aprevisão e de reunir 40 mil em Porto Alegre.
Em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo, de 24 a 29 de janeiro, a atração recebe o nome de Fórum Social Temático (FST), cujo tema é “Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental”. São esperados 40 mil participantes nas 900 atividades realizadas nas quatro cidades.
"Entendo o Fórum Social como uma oportunidade para que pessoas e organismos dedicados à inovação social possam se encontrar, debater e criar redes. Estou convencido de que os movimentos dos `Indignados` e `Occupy` podem trazer uma visão atualizada sobre medidas de ação e organização em rede", disse à AFP Domenico de Siena, que participou do movimento na Espanha que ocupou grandes praças em protesto contra a crise financeira e as soluções de austeridade do governo do país.
Ao contrário do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que marcou presença durante vários anos em Davos, Dilma deverá se ausentar do encontro suíço.
Os dois eventos discutirão a crise mundial e, embora as propostas de solução sejam diametralmente opostas, Davos incorporou em seus debates alguns dos princípios do altermundialismo, como uma taxa para as transações financeiras e o controle dos mercados financeiros.
O Fórum Social Mundial nasceu em 2001 em Porto Alegre, quando surpreendeu o mundo ao atrair 20.000 ativistas sob o lema "Outro Mundo é Possível", um grito unânime para rejeitar o mundo governado pelos senhores do capital.
A última edição do evento foi celebrada em 2011 em Dacar.
"O Fórum Social Mundial nasceu aqui, em Porto Alegre, há doze anos, para contestar a arrogância neoliberal do Fórum Econômico de Davos. Dissemos claramente que queríamos outro mundo. Agora, precisamos construir os caminhos, as alternativas", disse à AFP Candido Grzybowski, coordenador do fórum.
Ultimas agendas:
25/1/2012 | 14h09 - Brasil e Venezuela vão se unir para combater o crime organizado e o tráfico
25/1/2012 | 13h32 - Policiais rodoviários federais se capacitam para agir contra motoristas bêbados
25/1/2012 | 11h40
Rumores de mortes no Pinheirinho se multiplicam na internet
25/1/2012 | 11h18 - ONG abre processo para apurar abusos em Pinheirinho
25/1/2012 | 11h15 - Quinze atletas paraolímpicos vão receber ajuda da prefeitura do Rio para treinos
25/1/2012 | 10h40
Líder do MST compara desocupação à ação policial na fazenda da Cutrale
Confirmaram presença no evento a presidente Dilma Rousseff, o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, os sociólogos Boaventura de Sousa Santos, Emir Sader e Ignacio Ramonet, além dos músicos Fito Paez e Gilberto Gil.
Como de costume, o fórum traz ainda representantes de grandes movimentos sociais pelo mundo. Neste ano, participam do evento representantes dos estudantes do Chile, da Primavera Árabe, do Occupy Wall Street e dos Indignados da Espanha.
A edição 2012 traz como uma das prioridades a preparação para a Reunião dos Povos – encontro que os movimentos sociais celebrarão em paralelo ao Rio+20, conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, que receberá chefes de Estado do mundo todo em junho, no Rio de Janeiro.
A presidente Dilma participa do fórum na quinta-feira (26) durante o evento “Diálogos entre Sociedade Civil e Governos”, onde serão abordados temas como a crise econômica, as políticas públicas de combate à pobreza e as diretrizes brasileiras para a conferência de junho. Com a participação, a presidente dá sequência à tradição de Luiz Inácio Lula da Silva, que esteve presente em todas as edições do evento no Brasil.
Já no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Dilma será representada pelos ministros das Relações Exteriores, Antônio Patriota, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel.
Outras duas atrações do chamado Fórum Social Temático são o Fórum Mundial da Educação, o Fórum Social Temático da Saúde e Seguridade Social, e o Conexões Globais 2.0, todos em Porto Alegre.
fontes:noticias.uol.com.br/www.diariodepernambuco.com.br
"Entendo o Fórum Social como uma oportunidade para que pessoas e organismos dedicados à inovação social possam se encontrar, debater e criar redes. Estou convencido de que os movimentos dos `Indignados` e `Occupy` podem trazer uma visão atualizada sobre medidas de ação e organização em rede", disse à AFP Domenico de Siena, que participou do movimento na Espanha que ocupou grandes praças em protesto contra a crise financeira e as soluções de austeridade do governo do país.
Ao contrário do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que marcou presença durante vários anos em Davos, Dilma deverá se ausentar do encontro suíço.
Os dois eventos discutirão a crise mundial e, embora as propostas de solução sejam diametralmente opostas, Davos incorporou em seus debates alguns dos princípios do altermundialismo, como uma taxa para as transações financeiras e o controle dos mercados financeiros.
O Fórum Social Mundial nasceu em 2001 em Porto Alegre, quando surpreendeu o mundo ao atrair 20.000 ativistas sob o lema "Outro Mundo é Possível", um grito unânime para rejeitar o mundo governado pelos senhores do capital.
A última edição do evento foi celebrada em 2011 em Dacar.
"O Fórum Social Mundial nasceu aqui, em Porto Alegre, há doze anos, para contestar a arrogância neoliberal do Fórum Econômico de Davos. Dissemos claramente que queríamos outro mundo. Agora, precisamos construir os caminhos, as alternativas", disse à AFP Candido Grzybowski, coordenador do fórum.
Ultimas agendas:
25/1/2012 | 14h09 - Brasil e Venezuela vão se unir para combater o crime organizado e o tráfico
25/1/2012 | 13h32 - Policiais rodoviários federais se capacitam para agir contra motoristas bêbados
25/1/2012 | 11h40
Rumores de mortes no Pinheirinho se multiplicam na internet
25/1/2012 | 11h18 - ONG abre processo para apurar abusos em Pinheirinho
25/1/2012 | 11h15 - Quinze atletas paraolímpicos vão receber ajuda da prefeitura do Rio para treinos
25/1/2012 | 10h40
Líder do MST compara desocupação à ação policial na fazenda da Cutrale
Confirmaram presença no evento a presidente Dilma Rousseff, o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, os sociólogos Boaventura de Sousa Santos, Emir Sader e Ignacio Ramonet, além dos músicos Fito Paez e Gilberto Gil.
Como de costume, o fórum traz ainda representantes de grandes movimentos sociais pelo mundo. Neste ano, participam do evento representantes dos estudantes do Chile, da Primavera Árabe, do Occupy Wall Street e dos Indignados da Espanha.
A edição 2012 traz como uma das prioridades a preparação para a Reunião dos Povos – encontro que os movimentos sociais celebrarão em paralelo ao Rio+20, conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, que receberá chefes de Estado do mundo todo em junho, no Rio de Janeiro.
A presidente Dilma participa do fórum na quinta-feira (26) durante o evento “Diálogos entre Sociedade Civil e Governos”, onde serão abordados temas como a crise econômica, as políticas públicas de combate à pobreza e as diretrizes brasileiras para a conferência de junho. Com a participação, a presidente dá sequência à tradição de Luiz Inácio Lula da Silva, que esteve presente em todas as edições do evento no Brasil.
Já no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Dilma será representada pelos ministros das Relações Exteriores, Antônio Patriota, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel.
Outras duas atrações do chamado Fórum Social Temático são o Fórum Mundial da Educação, o Fórum Social Temático da Saúde e Seguridade Social, e o Conexões Globais 2.0, todos em Porto Alegre.
fontes:noticias.uol.com.br/www.diariodepernambuco.com.br
Rio Comunitário -2012 Presentation
Hi there friends,
City Estatute, a Federal Law number 10.257/2001, It was criated to regularize two importants articles from Brazillian Federal Constituition numbers, 182 and 183. These articles present practice, clear and objective directions to be instaurated in city over, 20.000 habitant, after their respective Director Plan approbation, in respect with these... articles: IT ONLY CAN BE CONSIDERED REAL, PROPRIETIES THAT PRESERVES, ALL SOCIAL FUNCTION OF THE CITY.
We understand that, social function of the city, in according with the article 1° Law Nº 11.481 from May 31st 2007, The Executive Power intermediated by Planning Ministry are responsible to realize: Control, identify area demark, follow up and regularize, from all Union Propriety and also irregular occupation of the urban area. In fact it isn’t the true, our city still in an irregular process growing up, the poor population, are living in misery and sub human situation. The Public Power would have to improve up the regularization of our poor population and promote its social inserting. The Federal Constitution in article Nº 30 that all government scale have to firm contracts to make accessible the process.
Rio de Janeiro communities organized by PROGRAMA RIO COMUNITÁRIO, agree that, all regularizations process in RIO is more than a social problem, it have to be faced as a Public Order responsibility.
FAFRIO – Federação das Associações de Favelas do Município do Rio de Janeiro and all of our associated communities believe that, Rio Comunitário Program success depends on a population and government real integration. We can say that, the most miserable situation communities really need support to show their voice and shout up, by their own representation, they expect a more human, just and opportunity city,. Unfortunately we weren’t able to be in SFM, so what can we do to show the world that, Rio de Janeiro is more than a 2016 Olympic Games city.
FAFRIO – Federação das Associações de Favelas do Município do Rio de Janeiro, And all of our communities are looking for a social control and participation, so we’d like to know, how can we get in touch and participate from SFM on line, in fact I’m worried because I’ll have to give them a Federation position, by the way, I’ll send you in annex the construction our RIO COMUNITÁRIO PRESENTATION.
Thanks for your attention,
fonte:Venicio Bramer
DESENVOLVIMENTOSOCIAL FAFRIO/UNEGRO BRAZIL
City Estatute, a Federal Law number 10.257/2001, It was criated to regularize two importants articles from Brazillian Federal Constituition numbers, 182 and 183. These articles present practice, clear and objective directions to be instaurated in city over, 20.000 habitant, after their respective Director Plan approbation, in respect with these... articles: IT ONLY CAN BE CONSIDERED REAL, PROPRIETIES THAT PRESERVES, ALL SOCIAL FUNCTION OF THE CITY.
We understand that, social function of the city, in according with the article 1° Law Nº 11.481 from May 31st 2007, The Executive Power intermediated by Planning Ministry are responsible to realize: Control, identify area demark, follow up and regularize, from all Union Propriety and also irregular occupation of the urban area. In fact it isn’t the true, our city still in an irregular process growing up, the poor population, are living in misery and sub human situation. The Public Power would have to improve up the regularization of our poor population and promote its social inserting. The Federal Constitution in article Nº 30 that all government scale have to firm contracts to make accessible the process.
Rio de Janeiro communities organized by PROGRAMA RIO COMUNITÁRIO, agree that, all regularizations process in RIO is more than a social problem, it have to be faced as a Public Order responsibility.
FAFRIO – Federação das Associações de Favelas do Município do Rio de Janeiro and all of our associated communities believe that, Rio Comunitário Program success depends on a population and government real integration. We can say that, the most miserable situation communities really need support to show their voice and shout up, by their own representation, they expect a more human, just and opportunity city,. Unfortunately we weren’t able to be in SFM, so what can we do to show the world that, Rio de Janeiro is more than a 2016 Olympic Games city.
FAFRIO – Federação das Associações de Favelas do Município do Rio de Janeiro, And all of our communities are looking for a social control and participation, so we’d like to know, how can we get in touch and participate from SFM on line, in fact I’m worried because I’ll have to give them a Federation position, by the way, I’ll send you in annex the construction our RIO COMUNITÁRIO PRESENTATION.
Thanks for your attention,
fonte:Venicio Bramer
DESENVOLVIMENTOSOCIAL FAFRIO/UNEGRO BRAZIL
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Nossa História:Manoel Congo
Manoel Congo foi o líder da maior rebelião de escravos que ocorreu na região do vale do Paraíba do Sul, especificamente em Paty do Alferes, no Rio de Janeiro. Morreu enforcado em 6 de setembro de 1839.
Em 1838, o centro da economia nacional passava a ser a região sul fluminense, na qual ocorria um intenso desmatamento de terras e introdução do cultivo do café. Cerca de 70% do café exportado pelo Brasil naquela data era colhido nas terras da Vila de Vassouras que incluíam este atual município, mais os de Mendes, Paty do Alferes, Miguel Pereira e parte de Paracambi. As plantações de café também se expandiam pelos municípios vizinhos de Valença e Paraíba do Sul e já eram o principal sustentáculo econômico do Império do Brasil. Paty do Alferes era a mais rica das freguesias de Vassouras e o local original de colonização da região, já que era o caminho mais antigo entre o porto do Rio de Janeiro e as Minas Gerais.
O intenso crescimento econômico da região causava uma grande necessidade de mão-de-obra escrava que era comprada em outros Estados ou importada da África. Esta foi a época em que o Brasil mais importou escravos da África.
A população da então vila de Vassouras crescia rapidamente com a expansão da lavoura do café, mas a população de escravos era bem superior a de pessoas livres, brancas ou não. Em 1840, Vassouras tinha 20.589 habitantes, dos quais 6.225 livres e 14.333 escravos. Por volta de 1850, a população atingiu 35.000 pessoas (a mesma população do município atual, embora numa área bem menor).
A maior parte dos escravos era constituída por homens jovens nascidos na África. Segundo dados de 1837-1840, cerca de 75% dos escravos da região eram africanos, 68% tinha idade na faixa entre 15 e 40 anos, 73,7% eram homens. Os escravos homens e jovens eram os preferidos pois a maior parte do trabalho consistia em derrubar matas, plantar e capinar, o que requeria grande vigor físico. Entretanto, os escravos africanos eram temidos pela rebeldia ou pouco apreciados por não conheceram ainda a língua, os costumes e a religião da terra.
A Revolta dos Malês ocorrida na Bahia em 1835 espalhou o medo de novas revoltas por todo o Império. Denúncias e boatos de revoltas eram comuns em todo lugar onde havia muitos escravos. Os "pretos minas", nascidos na costa ocidental da África, eram especialmente temidos por seu envolvimento na Revolta dos Malês.
Manoel Congo
Contava-se que Manoel Congo era um negro forte e habilidoso, de pouca fala e sorriso escasso. Como era comum entre os escravos nascidos na África, seu nome era composto por um prenome português associado ao nome de sua "nação" ou região de origem.
Pertencia ao capitão-mor de ordenanças Manoel Francisco Xavier, dono de centenas de escravos e das fazendas Freguesia e Maravilha em Paty do Alferes.
Era ferreiro, ofício que requer treinamento e habilidade, o que certamente lhe dava status superior entre os outros escravos e maior valor econômico perante os senhores. A sociedade da época tinha grande carência de ferreiros e marceneiros, tanto que, em 1832, foi criada em Vassouras a "Sociedade Promotora da Civilização e da Indústria" que, entre outras coisas, treinava os escravos considerados mais hábeis e inteligentes no ofício de ferreiro. Coincidentementemente, na cultura dos Kimbundos, grupo étnico angolano que contribuiu com muitos escravos para a região, o ofício de ferreiro era uma ocupação exclusiva de reis e nobres.
Marianna Crioula
Marianna Crioula era uma escrava, como indica o nome, nascida no Brasil, com cerca de 30 anos na época. Era costureira e mucama (escrava de companhia) de Francisca Elisa Xavier, esposa do capitão-mor Manoel Francisco Xavier. Foi descrita como sendo a "preta de estimação", assim como uma das escravas mais dóceis e confiáveis da sua patroa.
Apesar de ser casada com o escravo José, que trabalhava na lavoura, vivia e dormia na casa-grande, sinal de que tinha privilégios concedidos pelos senhores. Na época, os homens eram cerca de 90% dos escravos traficados da África e cerca de 75% dos escravos que trabalhavam nas fazendas de café, portanto um casal de escravos era raro.
O capitão-mor Manoel Francisco Xavier era um rico proprietário que possuía três fazendas em Paty do Alferes: Freguesia (atual Aldeia de Arcozelo), Maravilha e Santa Tereza, além do sítio da Cachoeira. Manoel Francisco Xavier era casado com Francisca Elisa Xavier, futuramente agraciada com o título de baronesa da Soledade, a primeira do nome.
O coronel Francisco Peixoto de Lacerda Wernek, que comandou a repressão da revolta, escreveu na época da perseguição e julgamento, vários memorandos ao presidente da província do Rio de Janeiro. Em um deles, explica as causas da revolta em curso escrevendo: "há muito tempo que se receava o que hoje acontece, por fatos que se têm observado entre esta escravatura" (...) "homens brancos, feitores e capatazes, foram espancados e até assassinados pelos escravos" (...) ""escravos foram castigados até morrer" (...) [ocorrem] "iniqüidades, falta de ordem e falta de pulso". Segundo o coronel Lacerda Wernek, o capitão-mor não sabia tratar seus escravos, sendo às vezes muito leniente, outras extremamente severo.
O inventário dos bens de Manoel Francisco Xavier, feito com sua morte em 1840, dois anos depois da revolta de Manoel Congo, relaciona 449 escravos dos quais 85% eram homens e 80% eram africanos.
Rebelião e fuga
Em 5 de novembro de 1838, o capataz da fazenda Freguesia matou o escravo africano Camilo Sapateiro a tiros quando este ia sem autorização para a fazenda Maravilha. Os escravos tentaram linchar o capataz, mas foram contidos. Nenhuma punição foi dada ao assassino e o clima de revolta se estabeleceu nas senzalas das duas fazendas do capitão-mor Manoel Francisco Xavier.
Por volta da meia-noite, as portas das senzalas da fazenda Freguesia foram arrombadas e um grupo de cerca de 80 negros cruzou correndo o pátio, chamou as escravas domésticas que dormiam no sobrado, arrombou os depósitos e se armou com facões e uma velha garrucha.
Os revoltosos fugiram e se esconderam nas matas da fazenda Santa Catarina, propriedade do capitão Carlos de Miranda Jordão. Na noite seguinte, os revoltosos saíram da mata fora até a fazenda da Maravilha que também pertencia a Manoel Francisco Xavier. Ameaçaram matar o capataz, mas este fugiu para o telhado da casa; espancaram um escravo que não quis participar da revolta; colocaram uma escada na janela da cozinha para que as escravas domésticas que lá dormiam pudessem fugir; abriram as senzalas e chamaram os outros escravos para juntarem-se a eles; arrombaram os depósitos de mantimentos; pegaram os porcos capados que ainda estavam na engorda; e finalmente fugiram com todas ferramentas e mantimentos que puderam carregar. No caminho, o grupo ainda passou pela fazenda Pau Grande, pertencente a Paulo Gomes Ribeiro de Avelar, que ficava perto, onde libertou mais escravos das senzalas. Neste momento, os fugitivos já eram mais de cem, a maior parte armada com facões e outras armas cortantes.
Sabendo dos eventos, vários escravos também fugiram das fazendas São Luís da Boa Vista, Cachoeira, Santa Teresa, Monte Alegre, além de outras não registradas nos documentos históricos. Em torno de 300 a 400 escravos seguiram pelas matas então cerradas da Serra da Estrela, a caminho da Serra da Taquara. Algum planejamento prévio pode ter ocorrido, pois foi rápida a adesão de escravos das outras fazendas e houve pontos de encontros nas matas para os vários grupos.
Manoel Congo foi certamente o principal líder da revolta, e neste momento deve ter se "juntado" com Marianna Crioula, tanto que os dois foram posteriormente delatados como o "rei" e "rainha" do grupo de sublevados. Um escravo tinha a função de "vice-rei"; supõe-se que fosse Epifânio Moçambique, africano da nação Munhambane, escravo da fazenda Pau Grande, mas pode ter sido algum outro que foi morto em combate.
Vários grupos de fugitivos caminhavam pela mata e, no final de cada tarde, montavam um rancho para pernoite. Não é claro que os negros fugidos pretendiam formar um quilombo. Talvez pensassem em voltar, pois a sobrevivência nas matas requer conhecimentos especiais e, como os fatos mostrariam, era forte o poder de retaliação da sociedade escravocrata. Considerando que não houve qualquer violência de centenas de escravos armados com facões contra pessoas brancas, nem que qualquer dano ou prejuízo foi causado a outras propriedades exceto às do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, pode-se até supor a fuga poderia ser parte de uma negociação futura por melhores condições de trabalho, algo que não era incomum na época. O que certamente surpreendeu e amedrontou as classes dominantes foi o fato de ter havido uma fuga em massa.
Luta e captura.
O capitão-mor Manoel Francisco Xavier, proprietário das fazendas saqueadas e da maioria dos escravos fugitivos, pediu ajuda ao juiz de paz da freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paty do Alferes, tenente-coronel José Pinheiro de Souza Vernek, porém demonstrando que o fazia com má-vontade. É compreensível pois ele não queria perder escravos em combates; melhor seria se eles voltassem ao trabalho sem ferimentos e do modo mais pacífico possível. Além disto, tinha tido um longo conflito político com o sargento-mor, depois padre, Inácio de Sousa Vernek[1], avõ do juiz de paz José Pinheiro de Souza Vernek e do coronel-chefe da 13ª Legião da Guarda Nacional, Francisco Peixoto de Lacerda Vernek.
Alarmado com a quantidade de fugitivos, o juiz de paz José Pinheiro imediatamente enviou mensagem ao seu primo, o coronel-chefe da 13ª Legião da Guarda Nacional, Francisco Peixoto de Lacerda Vernek, futuro barão de Pati do Alferes, pedindo-lhe providências, em prol "da ordem e do sossego público". A 13ª Legião da Guarda Nacional era sediada em Valença e também mantinha a ordem pública nas vilas de Vassouras e Paraíba do Sul.
As notícias de fuga em massa de escravos geraram pânico entre os fazendeiros da região. Apenas 48 horas após o último incidente, o coronel Lacerda Vernek já havia reunido 160 homens da Guarda Nacional bem armados e prontos para a luta. Ao mesmo tempo, enviou um memorando ao presidente da província do Rio de Janeiro informando-o dos fatos e solicitando auxílio. No mesmo documento, o falastrão coronel Lacerda Vernek enfatizou a motivação das suas tropas escrevendo: "... nesta ocasião dirigi a meus camaradas um discurso, cuja leitura enérgica produziu um efeito admirável, fazendo ressoar por alguns momentos entusiasmados vivas".
A tropa liderada pelo coronel Lacerda Vernek, acompanhado pelo juiz de paz José Pinheiro, reuniu-se na fazenda Maravilha no dia 10 de novembro. No dia seguinte, partiram em perseguição aos escravos revoltosos. A localização das rotas de fuga foi fácil e o avanço foi rápido, pois os fugitivos caminhavam tendo que abrir picadas na densa mata que então existia na região.
Como contou o coronel Lacerda Vernek em um dos seus memorandos, no dia 11 de novembro, às 5 horas da tarde, depois de algumas léguas e horas de busca, "sentimos golpes de machado e falar gente". Haviam descoberto o grupo principal de fugitivos que avançava mais lentamente com crianças, velhos e mulheres. Os fugitivos perceberam que tinham sido alcançados e se preparou para a luta. A tropa avançou angulada como uma cunha e exigiu a rendição de todos. Manoel Congo incitou um ataque. O coronel Lacerda Vernek escreveu que os escravos "fizeram uma linha", e pegaram as armas, "umas de fogo, outras cortantes", e gritaram: "Atira caboclo, atira diabos". "Este insulto foi seguido de uma descarga que matou dois dos nossos e feriu outros dois. Quão caro lhes custou! Vinte e tantos rolaram pelo morro abaixo à nossa primeira descarga, uns mortos e outros gravemente feridos, então se tornou geral o tiroteio, deram cobardemente costas, largando parte das armas; foram perseguidos e espingardeados em retirada e em completa debandada."(...)"Notei que nem um só fez alto quando se mandava parar, sendo preciso espingardeá-los, pelas pernas. Uma crioula de estimação de Dona Francisca Xavier não se entregou senão a cacete, e gritava: morrer sim, entregar não!!!".
Finalmente, os sobreviventes foram cercados e obrigados a se render. Neste único combate foram presos o "rei' Manoel Congo e a "rainha" Mariana Crioula. Os mantimentos e as armas tinham sido abandonados na pressa da fuga pela vida. Outros fugitivos foram capturados nos dias seguintes sem haver combates ou mortes.
Não se conseguiu capturar um grupo de fugitivos comandado por um certo João Angola, que escapou do combate por não ter comparecido ao ponto de encontro com o grupo de Manoel Congo. No dia anterior ao combate final, o grupo de João Angola foi visto tentando assaltar uma fábrica de pólvora da região, mas fugiu em direção à Serra do Couto, próxima à Serra da Estrela.
Vários grupos vagaram pela floresta durante dias até que a fome os obrigou a voltar. Os escravos fugitivos saiam das matas e procuravam uma fazenda próxima a de sua fazenda de origem, cujo proprietário fosse conhecido por tratar bem os escravos. Então pediam a ele que os "apadrinhasse", isto é, que os escoltasse de volta à fazenda de origem, protegendo-os de grupos armados que poderiam encontrar pelo caminho e que solicitasse ao senhores de quem fugiram que os perdoasse pela fuga.
Posteriormente, no dia 14 de novembro, chegou uma tropa de 50 homens do Exército, a Polícia de Niterói, enviada pela presidência da província do Rio de Janeiro. O comando era do Tenente CoronelLuís Alves de Lima, futuro duque de Caxias, que assim, escapou por pouco de macular sua carreira, pois a ordem pública já havia sido restaurada e não era mais necessário perseguir escravos fugitivos.
Julgamento e execução
Apesar de ter havido mais de 300 fugitivos, apenas dezesseis foram levados a julgamento: Manoel Congo, Pedro Dias, Vicente Moçambique, Antônio Magro, Justino Benguela, Belarmino, Miguel Crioulo, Canuto Moçambique, Afonso Angola, Adão Benguela, Marianna Crioula, Rita Crioula, Lourença Crioula, Joanna Mofumbe, Josefa Angola e Emília Conga. Todos eles eram escravos do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, que assim foi indiretamente punido pelos outros fazendeiros por não ter controlado seus escravos e, conseqüentemente, ter balançado o frágil equilíbrio social da próspera região. Os escravos pertencentes a outros fazendeiros não foram julgados, inclusive aqueles que tiveram participação importante nos eventos. Por exemplo, o escravo Epifânio Moçambique, que pertencia ao dono da fazenda Pau Grande, foi citado por várias testemunhas como um dos líderes ao lado de Manoel Congo e talvez tenha sido o "vice-rei" da rebelião, porém foi apenas interrogado no processo penal.
Os réus foram conduzidos em ferros para serem julgados em Vassouras, a então vila a que estava subordinada a então freguesia de Paty do Alferes. O povo reuniu-se para assistir à sua chegada. Uma das escravas aprisionadas, talvez Marianna Crioula, gritou que preferia morrer a voltar ao cativeiro, o que causou tumulto na multidão que tentou linchá-la.
Dos dezesseis réus, nove eram homens e sete mulheres, onze eram africanos e cinco eram crioulos, dez eram trabalhadores especializados ou domésticos e apenas dois eram trabalhadores da roça sem especialização. Os trabalhadores especializados eram ferreiros, como Manoel Congo, carpinteiros ou caldeireiros; todas as mulheres eram trabalhadoras domésticas especializadas como lavadeiras, costureiras ou enfermeiras.
Os trabalhadores especializados e doméstico tinham mais prestígio entre os demais escravos e perante os senhores, portanto assumiam mais facilmente as posições de liderança. Além disto tinham maior facilidade de movimentação entre as fazendas, o que facilitava o contato com parceiros e a organização de fugas. Isto posto, é possível que tenham planejado a insurreição e fuga, embora este plano possa ter existido apenas na imaginação de senhores de escravos amedrontados com a recente Revolta dos Malês na Bahia.
Da manhã de 22 de janeiro de 1839 até o dia 31 do mesmo mês, o tribunal se reuniu na Praça da Concórdia, diante da Igreja Matriz da Vila de Vassouras. O julgamento foi presidido pelo juiz interino Inácio Pinheiro de Souza Verneck, irmão do juiz de paz José Pinheiro de Souza Vernek e, portanto, também primo do coronel Lacerda Vernek.
A participação de Mariana Crioula na rebelião causou furor no julgamento, pois ela era "uma crioula de estimação de dona Francisca Xavier" que, como narrou o coronel Lacerda Vernek, só se entregou "a cacete" depois do combate e ainda gritando: "morrer sim, entregar não!!!". Ao ser interrogada, Marianna Crioula tentou disssimular sua participação nos acontecimentos e alegou que fora induzida à fuga, mas os outros réus a delataram como a "rainha" dos revoltosos.
Ao que tudo indica, durante o julgamento decidiu-se não aumentar muito as perdas do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, que já tinha perdido sete escravos mortos no combate. Pelo acordo feito, apenas o líder da rebelião seria condenado pela morte em combate dos dois soldados da Guarda Nacional. Todos réus indicaram Manoel Congo como líder do levante que, portanto, foi condenado ao enforcamento.
Outros sete réus foram condenados a "650 açoites a cada um, dados a cinqüenta por dia, na forma da lei", e a "três anos com gonzo de ferro ao pescoço". Adão Benguela foi o único homem totalmente absolvido, apesar de estar tão implicado quanto os outros. A maior surpresa foi a absolvição de Mariana Crioula e todas as mulheres, certamente a pedido de sua proprietária Francisca Elisa Xavier. Entretanto, Mariana Crioula ainda foi obrigada a assistir à execução pública do seu companheiro Manoel Congo.
No dia 4 de setembro de 1839, Manoel Congo subiu ao cadafalso no Largo da Forca em Vassouras para cumprir sua “pena de morte para sempre”, isto é, foi enforcado e ficou sem sepultamento.
Conseqüências
Não há registros exatos de quantos escravos fugiram e quantos retornaram. A maioria dos proprietários alegou que seus escravos retornaram espontaneamente às suas fazendas. Os fazendeiros tinham pesadas custas processuais quando seus escravos eram arrolados em processos como réus ou rebeldes, portanto, às vezes era melhor mentir e aceitar a perda de um escravo foragido. Portanto, vários fugitivos, como o grupo de João Angola, podem ter alcançado a liberdade e, até mesmo, embora não haja fontes históricas, ter formado o lendário Quilombo de Santa Catarina. Certo é que não houve tempo para se formar o Quilombo de Manoel Congo que freqüentemente é citado como verídico.
Apesar de relativamente inócua, a rebelião de Manoel Congo gerou uma grande insegurança entre os fazendeiros da região de Vassouras, Valença e Paraíba do Sul. O clima de medo permaneceu por décadas durante toda a época de apogeu de cultura do café no vale do Paraíba do Sul.
Algumas tentativas de revoltas ainda ocorreram. Em 1847, foi denunciado que um outro ferreiro, o negro livre Estêvão Pimenta, chefiava uma organização secreta que preparava uma revolta para o dia 24 de junho daquele ano. A organização secreta foi infiltrada por seis soldados; Estevão Pimenta e outros foram presos e, talvez por isto, nenhuma revolta ocorreu. Os registros policiais da época afirmaram que a organização secreta denominada Elbanda (talvez, Embanda, sacerdote ou médico em quimbundo) era formada por núcleos clandestinos dirigidos, obrigatoriamente, por escravos ferreiros (como era Manoel Congo) e marceneiros, chamados de Pais-Korongos ou Tatas-Korongos.
O fim do tráfico de escravos da África, que ocorreu com a Lei Eusébio de Queirós, aumentou o preço dos escravos: em 1835 um escravo jovem e de boa saúde custava 375 mil-réis, uma escrava nas mesmas condições de saúde e idade custava 359 mil-réis; em 1855, um escravo custava 1.075 mil0réis, e uma escrava 857 mil-réis. Isto forçou a melhoria do tratamento dos escravos e nenhuma rebelião importante aconteceu na região até a abolição da escravidão em 1888.
Em 1854, dezesseis anos depois da revolta de Manoel Congo, quatro fazendeiros fundaram em Vassouras uma "comissão permanente" para implantação de políticas que afastassem o perigo de sublevações de escravos. O texto de constituição da comissão dizia que "o escravo é o inimigo inconciliável" e "se o receio de uma insurreição geral é talvez ainda remoto, contudo o das insurreições parciais é sempre iminente, com particularidade hoje que as fazendas estão se abastecendo com escravos vindos do Norte, que em todo tempo gozaram de triste celebridade. Ou seja, a imposição forte da Lei Eusébio de Queirós tinha eliminado o tráfico de escravos da Africa, mas o perigo ainda existia quando se traziam escravos da Bahia, onde havia ocorrido a Revolta dos Malês.
A "comissão permanente" recomendou aos fazendeiros vários procedimentos de prevenção de revoltas: manter armas prontas para serem usadas; manter uma polícia vigilante; prender os escravos de noite em senzalas fechadas; impedir a comunicação entre escravos de diferentes fazendas; permitir danças e folguedos, pois "quem se diverte não conspira"; incentivar as práticas do Catolicismo, pois "a religião é um freio e ensina a resignação". Finalmente propunha a introdução de colonos europeus em quantidades calculadas de acordo com a quantidade de escravos existente em cada fazenda, pois o trabalhador branco seria sempre "um braço amigo, um companheiro de armas, com cuja lealdade se pode contar na ocasião da luta: os interesses são comuns".
Locais históricos
A fazenda Freguesia, onde se iniciou a revolta, é atualmente o centro cultural Aldeia de Arcozelo em Paty do Alferes, o maior em área da América Latina. A antiga capela da casa grande foi consagrada à memória dos escravos condenados pela rebelião. Na sua frente estão escritos os nomes de Manoel Congo e dos outros escravos julgados pela revolta, porém os nomes de mais de vinte escravos mortos no combate foram esquecidos pois não foram registrados nos processos penais.
O Largo da Forca, onde foi executado Manoel Congo, é o atual Largo da Pedreira em Vassouras. Neste local foi construído, em 1996, o Memorial de Manoel Congo.
Fonte:Manoel Congo foi o líder da maior rebelião de escravos que ocorreu na região do vale do Paraíba do Sul, especificamente em Paty do Alferes, no Rio de Janeiro. Morreu enforcado em 6 de setembro de 1839.
Em 1838, o centro da economia nacional passava a ser a região sul fluminense, na qual ocorria um intenso desmatamento de terras e introdução do cultivo do café. Cerca de 70% do café exportado pelo Brasil naquela data era colhido nas terras da Vila de Vassouras que incluíam este atual município, mais os de Mendes, Paty do Alferes, Miguel Pereira e parte de Paracambi. As plantações de café também se expandiam pelos municípios vizinhos de Valença e Paraíba do Sul e já eram o principal sustentáculo econômico do Império do Brasil. Paty do Alferes era a mais rica das freguesias de Vassouras e o local original de colonização da região, já que era o caminho mais antigo entre o porto do Rio de Janeiro e as Minas Gerais.
O intenso crescimento econômico da região causava uma grande necessidade de mão-de-obra escrava que era comprada em outros Estados ou importada da África. Esta foi a época em que o Brasil mais importou escravos da África.
A população da então vila de Vassouras crescia rapidamente com a expansão da lavoura do café, mas a população de escravos era bem superior a de pessoas livres, brancas ou não. Em 1840, Vassouras tinha 20.589 habitantes, dos quais 6.225 livres e 14.333 escravos. Por volta de 1850, a população atingiu 35.000 pessoas (a mesma população do município atual, embora numa área bem menor).
A maior parte dos escravos era constituída por homens jovens nascidos na África. Segundo dados de 1837-1840, cerca de 75% dos escravos da região eram africanos, 68% tinha idade na faixa entre 15 e 40 anos, 73,7% eram homens. Os escravos homens e jovens eram os preferidos pois a maior parte do trabalho consistia em derrubar matas, plantar e capinar, o que requeria grande vigor físico. Entretanto, os escravos africanos eram temidos pela rebeldia ou pouco apreciados por não conheceram ainda a língua, os costumes e a religião da terra.
A Revolta dos Malês ocorrida na Bahia em 1835 espalhou o medo de novas revoltas por todo o Império. Denúncias e boatos de revoltas eram comuns em todo lugar onde havia muitos escravos. Os "pretos minas", nascidos na costa ocidental da África, eram especialmente temidos por seu envolvimento na Revolta dos Malês.
Manoel Congo
Contava-se que Manoel Congo era um negro forte e habilidoso, de pouca fala e sorriso escasso. Como era comum entre os escravos nascidos na África, seu nome era composto por um prenome português associado ao nome de sua "nação" ou região de origem.
Pertencia ao capitão-mor de ordenanças Manoel Francisco Xavier, dono de centenas de escravos e das fazendas Freguesia e Maravilha em Paty do Alferes.
Era ferreiro, ofício que requer treinamento e habilidade, o que certamente lhe dava status superior entre os outros escravos e maior valor econômico perante os senhores. A sociedade da época tinha grande carência de ferreiros e marceneiros, tanto que, em 1832, foi criada em Vassouras a "Sociedade Promotora da Civilização e da Indústria" que, entre outras coisas, treinava os escravos considerados mais hábeis e inteligentes no ofício de ferreiro. Coincidentementemente, na cultura dos Kimbundos, grupo étnico angolano que contribuiu com muitos escravos para a região, o ofício de ferreiro era uma ocupação exclusiva de reis e nobres.
Marianna Crioula
Marianna Crioula era uma escrava, como indica o nome, nascida no Brasil, com cerca de 30 anos na época. Era costureira e mucama (escrava de companhia) de Francisca Elisa Xavier, esposa do capitão-mor Manoel Francisco Xavier. Foi descrita como sendo a "preta de estimação", assim como uma das escravas mais dóceis e confiáveis da sua patroa.
Apesar de ser casada com o escravo José, que trabalhava na lavoura, vivia e dormia na casa-grande, sinal de que tinha privilégios concedidos pelos senhores. Na época, os homens eram cerca de 90% dos escravos traficados da África e cerca de 75% dos escravos que trabalhavam nas fazendas de café, portanto um casal de escravos era raro.
O capitão-mor Manoel Francisco Xavier era um rico proprietário que possuía três fazendas em Paty do Alferes: Freguesia (atual Aldeia de Arcozelo), Maravilha e Santa Tereza, além do sítio da Cachoeira. Manoel Francisco Xavier era casado com Francisca Elisa Xavier, futuramente agraciada com o título de baronesa da Soledade, a primeira do nome.
O coronel Francisco Peixoto de Lacerda Wernek, que comandou a repressão da revolta, escreveu na época da perseguição e julgamento, vários memorandos ao presidente da província do Rio de Janeiro. Em um deles, explica as causas da revolta em curso escrevendo: "há muito tempo que se receava o que hoje acontece, por fatos que se têm observado entre esta escravatura" (...) "homens brancos, feitores e capatazes, foram espancados e até assassinados pelos escravos" (...) ""escravos foram castigados até morrer" (...) [ocorrem] "iniqüidades, falta de ordem e falta de pulso". Segundo o coronel Lacerda Wernek, o capitão-mor não sabia tratar seus escravos, sendo às vezes muito leniente, outras extremamente severo.
O inventário dos bens de Manoel Francisco Xavier, feito com sua morte em 1840, dois anos depois da revolta de Manoel Congo, relaciona 449 escravos dos quais 85% eram homens e 80% eram africanos.
Rebelião e fuga
Em 5 de novembro de 1838, o capataz da fazenda Freguesia matou o escravo africano Camilo Sapateiro a tiros quando este ia sem autorização para a fazenda Maravilha. Os escravos tentaram linchar o capataz, mas foram contidos. Nenhuma punição foi dada ao assassino e o clima de revolta se estabeleceu nas senzalas das duas fazendas do capitão-mor Manoel Francisco Xavier.
Por volta da meia-noite, as portas das senzalas da fazenda Freguesia foram arrombadas e um grupo de cerca de 80 negros cruzou correndo o pátio, chamou as escravas domésticas que dormiam no sobrado, arrombou os depósitos e se armou com facões e uma velha garrucha.
Os revoltosos fugiram e se esconderam nas matas da fazenda Santa Catarina, propriedade do capitão Carlos de Miranda Jordão. Na noite seguinte, os revoltosos saíram da mata fora até a fazenda da Maravilha que também pertencia a Manoel Francisco Xavier. Ameaçaram matar o capataz, mas este fugiu para o telhado da casa; espancaram um escravo que não quis participar da revolta; colocaram uma escada na janela da cozinha para que as escravas domésticas que lá dormiam pudessem fugir; abriram as senzalas e chamaram os outros escravos para juntarem-se a eles; arrombaram os depósitos de mantimentos; pegaram os porcos capados que ainda estavam na engorda; e finalmente fugiram com todas ferramentas e mantimentos que puderam carregar. No caminho, o grupo ainda passou pela fazenda Pau Grande, pertencente a Paulo Gomes Ribeiro de Avelar, que ficava perto, onde libertou mais escravos das senzalas. Neste momento, os fugitivos já eram mais de cem, a maior parte armada com facões e outras armas cortantes.
Sabendo dos eventos, vários escravos também fugiram das fazendas São Luís da Boa Vista, Cachoeira, Santa Teresa, Monte Alegre, além de outras não registradas nos documentos históricos. Em torno de 300 a 400 escravos seguiram pelas matas então cerradas da Serra da Estrela, a caminho da Serra da Taquara. Algum planejamento prévio pode ter ocorrido, pois foi rápida a adesão de escravos das outras fazendas e houve pontos de encontros nas matas para os vários grupos.
Manoel Congo foi certamente o principal líder da revolta, e neste momento deve ter se "juntado" com Marianna Crioula, tanto que os dois foram posteriormente delatados como o "rei" e "rainha" do grupo de sublevados. Um escravo tinha a função de "vice-rei"; supõe-se que fosse Epifânio Moçambique, africano da nação Munhambane, escravo da fazenda Pau Grande, mas pode ter sido algum outro que foi morto em combate.
Vários grupos de fugitivos caminhavam pela mata e, no final de cada tarde, montavam um rancho para pernoite. Não é claro que os negros fugidos pretendiam formar um quilombo. Talvez pensassem em voltar, pois a sobrevivência nas matas requer conhecimentos especiais e, como os fatos mostrariam, era forte o poder de retaliação da sociedade escravocrata. Considerando que não houve qualquer violência de centenas de escravos armados com facões contra pessoas brancas, nem que qualquer dano ou prejuízo foi causado a outras propriedades exceto às do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, pode-se até supor a fuga poderia ser parte de uma negociação futura por melhores condições de trabalho, algo que não era incomum na época. O que certamente surpreendeu e amedrontou as classes dominantes foi o fato de ter havido uma fuga em massa.
Luta e captura
O capitão-mor Manoel Francisco Xavier, proprietário das fazendas saqueadas e da maioria dos escravos fugitivos, pediu ajuda ao juiz de paz da freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paty do Alferes, tenente-coronel José Pinheiro de Souza Vernek, porém demonstrando que o fazia com má-vontade. É compreensível pois ele não queria perder escravos em combates; melhor seria se eles voltassem ao trabalho sem ferimentos e do modo mais pacífico possível. Além disto, tinha tido um longo conflito político com o sargento-mor, depois padre, Inácio de Sousa Vernek[1], avõ do juiz de paz José Pinheiro de Souza Vernek e do coronel-chefe da 13ª Legião da Guarda Nacional, Francisco Peixoto de Lacerda Vernek.
Alarmado com a quantidade de fugitivos, o juiz de paz José Pinheiro imediatamente enviou mensagem ao seu primo, o coronel-chefe da 13ª Legião da Guarda Nacional, Francisco Peixoto de Lacerda Vernek, futuro barão de Pati do Alferes, pedindo-lhe providências, em prol "da ordem e do sossego público". A 13ª Legião da Guarda Nacional era sediada em Valença e também mantinha a ordem pública nas vilas de Vassouras e Paraíba do Sul.
As notícias de fuga em massa de escravos geraram pânico entre os fazendeiros da região. Apenas 48 horas após o último incidente, o coronel Lacerda Vernek já havia reunido 160 homens da Guarda Nacional bem armados e prontos para a luta. Ao mesmo tempo, enviou um memorando ao presidente da província do Rio de Janeiro informando-o dos fatos e solicitando auxílio. No mesmo documento, o falastrão coronel Lacerda Vernek enfatizou a motivação das suas tropas escrevendo: "... nesta ocasião dirigi a meus camaradas um discurso, cuja leitura enérgica produziu um efeito admirável, fazendo ressoar por alguns momentos entusiasmados vivas".
A tropa liderada pelo coronel Lacerda Vernek, acompanhado pelo juiz de paz José Pinheiro, reuniu-se na fazenda Maravilha no dia 10 de novembro. No dia seguinte, partiram em perseguição aos escravos revoltosos. A localização das rotas de fuga foi fácil e o avanço foi rápido, pois os fugitivos caminhavam tendo que abrir picadas na densa mata que então existia na região.
Como contou o coronel Lacerda Vernek em um dos seus memorandos, no dia 11 de novembro, às 5 horas da tarde, depois de algumas léguas e horas de busca, "sentimos golpes de machado e falar gente". Haviam descoberto o grupo principal de fugitivos que avançava mais lentamente com crianças, velhos e mulheres. Os fugitivos perceberam que tinham sido alcançados e se preparou para a luta. A tropa avançou angulada como uma cunha e exigiu a rendição de todos. Manoel Congo incitou um ataque. O coronel Lacerda Vernek escreveu que os escravos "fizeram uma linha", e pegaram as armas, "umas de fogo, outras cortantes", e gritaram: "Atira caboclo, atira diabos". "Este insulto foi seguido de uma descarga que matou dois dos nossos e feriu outros dois. Quão caro lhes custou! Vinte e tantos rolaram pelo morro abaixo à nossa primeira descarga, uns mortos e outros gravemente feridos, então se tornou geral o tiroteio, deram cobardemente costas, largando parte das armas; foram perseguidos e espingardeados em retirada e em completa debandada."(...)"Notei que nem um só fez alto quando se mandava parar, sendo preciso espingardeá-los, pelas pernas. Uma crioula de estimação de Dona Francisca Xavier não se entregou senão a cacete, e gritava: morrer sim, entregar não!!!".
Finalmente, os sobreviventes foram cercados e obrigados a se render. Neste único combate foram presos o "rei' Manoel Congo e a "rainha" Mariana Crioula. Os mantimentos e as armas tinham sido abandonados na pressa da fuga pela vida. Outros fugitivos foram capturados nos dias seguintes sem haver combates ou mortes.
Não se conseguiu capturar um grupo de fugitivos comandado por um certo João Angola, que escapou do combate por não ter comparecido ao ponto de encontro com o grupo de Manoel Congo. No dia anterior ao combate final, o grupo de João Angola foi visto tentando assaltar uma fábrica de pólvora da região, mas fugiu em direção à Serra do Couto, próxima à Serra da Estrela.
Vários grupos vagaram pela floresta durante dias até que a fome os obrigou a voltar. Os escravos fugitivos saiam das matas e procuravam uma fazenda próxima a de sua fazenda de origem, cujo proprietário fosse conhecido por tratar bem os escravos. Então pediam a ele que os "apadrinhasse", isto é, que os escoltasse de volta à fazenda de origem, protegendo-os de grupos armados que poderiam encontrar pelo caminho e que solicitasse ao senhores de quem fugiram que os perdoasse pela fuga.
Posteriormente, no dia 14 de novembro, chegou uma tropa de 50 homens do Exército, a Polícia de Niterói, enviada pela presidência da província do Rio de Janeiro. O comando era do Tenente CoronelLuís Alves de Lima, futuro duque de Caxias, que assim, escapou por pouco de macular sua carreira, pois a ordem pública já havia sido restaurada e não era mais necessário perseguir escravos fugitivos.
Julgamento e execução
Apesar de ter havido mais de 300 fugitivos, apenas dezesseis foram levados a julgamento: Manoel Congo, Pedro Dias, Vicente Moçambique, Antônio Magro, Justino Benguela, Belarmino, Miguel Crioulo, Canuto Moçambique, Afonso Angola, Adão Benguela, Marianna Crioula, Rita Crioula, Lourença Crioula, Joanna Mofumbe, Josefa Angola e Emília Conga. Todos eles eram escravos do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, que assim foi indiretamente punido pelos outros fazendeiros por não ter controlado seus escravos e, conseqüentemente, ter balançado o frágil equilíbrio social da próspera região. Os escravos pertencentes a outros fazendeiros não foram julgados, inclusive aqueles que tiveram participação importante nos eventos. Por exemplo, o escravo Epifânio Moçambique, que pertencia ao dono da fazenda Pau Grande, foi citado por várias testemunhas como um dos líderes ao lado de Manoel Congo e talvez tenha sido o "vice-rei" da rebelião, porém foi apenas interrogado no processo penal.
Os réus foram conduzidos em ferros para serem julgados em Vassouras, a então vila a que estava subordinada a então freguesia de Paty do Alferes. O povo reuniu-se para assistir à sua chegada. Uma das escravas aprisionadas, talvez Marianna Crioula, gritou que preferia morrer a voltar ao cativeiro, o que causou tumulto na multidão que tentou linchá-la.
Dos dezesseis réus, nove eram homens e sete mulheres, onze eram africanos e cinco eram crioulos, dez eram trabalhadores especializados ou domésticos e apenas dois eram trabalhadores da roça sem especialização. Os trabalhadores especializados eram ferreiros, como Manoel Congo, carpinteiros ou caldeireiros; todas as mulheres eram trabalhadoras domésticas especializadas como lavadeiras, costureiras ou enfermeiras.
Os trabalhadores especializados e doméstico tinham mais prestígio entre os demais escravos e perante os senhores, portanto assumiam mais facilmente as posições de liderança. Além disto tinham maior facilidade de movimentação entre as fazendas, o que facilitava o contato com parceiros e a organização de fugas. Isto posto, é possível que tenham planejado a insurreição e fuga, embora este plano possa ter existido apenas na imaginação de senhores de escravos amedrontados com a recente Revolta dos Malês na Bahia.
Da manhã de 22 de janeiro de 1839 até o dia 31 do mesmo mês, o tribunal se reuniu na Praça da Concórdia, diante da Igreja Matriz da Vila de Vassouras. O julgamento foi presidido pelo juiz interino Inácio Pinheiro de Souza Verneck, irmão do juiz de paz José Pinheiro de Souza Vernek e, portanto, também primo do coronel Lacerda Vernek.
A participação de Mariana Crioula na rebelião causou furor no julgamento, pois ela era "uma crioula de estimação de dona Francisca Xavier" que, como narrou o coronel Lacerda Vernek, só se entregou "a cacete" depois do combate e ainda gritando: "morrer sim, entregar não!!!". Ao ser interrogada, Marianna Crioula tentou disssimular sua participação nos acontecimentos e alegou que fora induzida à fuga, mas os outros réus a delataram como a "rainha" dos revoltosos.
Ao que tudo indica, durante o julgamento decidiu-se não aumentar muito as perdas do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, que já tinha perdido sete escravos mortos no combate. Pelo acordo feito, apenas o líder da rebelião seria condenado pela morte em combate dos dois soldados da Guarda Nacional. Todos réus indicaram Manoel Congo como líder do levante que, portanto, foi condenado ao enforcamento.
Outros sete réus foram condenados a "650 açoites a cada um, dados a cinqüenta por dia, na forma da lei", e a "três anos com gonzo de ferro ao pescoço". Adão Benguela foi o único homem totalmente absolvido, apesar de estar tão implicado quanto os outros. A maior surpresa foi a absolvição de Mariana Crioula e todas as mulheres, certamente a pedido de sua proprietária Francisca Elisa Xavier. Entretanto, Mariana Crioula ainda foi obrigada a assistir à execução pública do seu companheiro Manoel Congo.
No dia 4 de setembro de 1839, Manoel Congo subiu ao cadafalso no Largo da Forca em Vassouras para cumprir sua “pena de morte para sempre”, isto é, foi enforcado e ficou sem sepultamento.
Conseqüências
Não há registros exatos de quantos escravos fugiram e quantos retornaram. A maioria dos proprietários alegou que seus escravos retornaram espontaneamente às suas fazendas. Os fazendeiros tinham pesadas custas processuais quando seus escravos eram arrolados em processos como réus ou rebeldes, portanto, às vezes era melhor mentir e aceitar a perda de um escravo foragido. Portanto, vários fugitivos, como o grupo de João Angola, podem ter alcançado a liberdade e, até mesmo, embora não haja fontes históricas, ter formado o lendário Quilombo de Santa Catarina. Certo é que não houve tempo para se formar o Quilombo de Manoel Congo que freqüentemente é citado como verídico.
Apesar de relativamente inócua, a rebelião de Manoel Congo gerou uma grande insegurança entre os fazendeiros da região de Vassouras, Valença e Paraíba do Sul. O clima de medo permaneceu por décadas durante toda a época de apogeu de cultura do café no vale do Paraíba do Sul.
Algumas tentativas de revoltas ainda ocorreram. Em 1847, foi denunciado que um outro ferreiro, o negro livre Estêvão Pimenta, chefiava uma organização secreta que preparava uma revolta para o dia 24 de junho daquele ano. A organização secreta foi infiltrada por seis soldados; Estevão Pimenta e outros foram presos e, talvez por isto, nenhuma revolta ocorreu. Os registros policiais da época afirmaram que a organização secreta denominada Elbanda (talvez, Embanda, sacerdote ou médico em quimbundo) era formada por núcleos clandestinos dirigidos, obrigatoriamente, por escravos ferreiros (como era Manoel Congo) e marceneiros, chamados de Pais-Korongos ou Tatas-Korongos.
O fim do tráfico de escravos da África, que ocorreu com a Lei Eusébio de Queirós, aumentou o preço dos escravos: em 1835 um escravo jovem e de boa saúde custava 375 mil-réis, uma escrava nas mesmas condições de saúde e idade custava 359 mil-réis; em 1855, um escravo custava 1.075 mil0réis, e uma escrava 857 mil-réis. Isto forçou a melhoria do tratamento dos escravos e nenhuma rebelião importante aconteceu na região até a abolição da escravidão em 1888.
Em 1854, dezesseis anos depois da revolta de Manoel Congo, quatro fazendeiros fundaram em Vassouras uma "comissão permanente" para implantação de políticas que afastassem o perigo de sublevações de escravos. O texto de constituição da comissão dizia que "o escravo é o inimigo inconciliável" e "se o receio de uma insurreição geral é talvez ainda remoto, contudo o das insurreições parciais é sempre iminente, com particularidade hoje que as fazendas estão se abastecendo com escravos vindos do Norte, que em todo tempo gozaram de triste celebridade. Ou seja, a imposição forte da Lei Eusébio de Queirós tinha eliminado o tráfico de escravos da Africa, mas o perigo ainda existia quando se traziam escravos da Bahia, onde havia ocorrido a Revolta dos Malês.
A "comissão permanente" recomendou aos fazendeiros vários procedimentos de prevenção de revoltas: manter armas prontas para serem usadas; manter uma polícia vigilante; prender os escravos de noite em senzalas fechadas; impedir a comunicação entre escravos de diferentes fazendas; permitir danças e folguedos, pois "quem se diverte não conspira"; incentivar as práticas do Catolicismo, pois "a religião é um freio e ensina a resignação". Finalmente propunha a introdução de colonos europeus em quantidades calculadas de acordo com a quantidade de escravos existente em cada fazenda, pois o trabalhador branco seria sempre "um braço amigo, um companheiro de armas, com cuja lealdade se pode contar na ocasião da luta: os interesses são comuns".
Locais históricos
A fazenda Freguesia, onde se iniciou a revolta, é atualmente o centro cultural Aldeia de Arcozelo em Paty do Alferes, o maior em área da América Latina. A antiga capela da casa grande foi consagrada à memória dos escravos condenados pela rebelião. Na sua frente estão escritos os nomes de Manoel Congo e dos outros escravos julgados pela revolta, porém os nomes de mais de vinte escravos mortos no combate foram esquecidos pois não foram registrados nos processos penais.
O Largo da Forca, onde foi executado Manoel Congo, é o atual Largo da Pedreira em Vassouras. Neste local foi construído, em 1996, o Memorial de Manoel Congo.
Fonte: Nucleo da UNEGRO/Manoel Congo-Paty de Alferes
Em 1838, o centro da economia nacional passava a ser a região sul fluminense, na qual ocorria um intenso desmatamento de terras e introdução do cultivo do café. Cerca de 70% do café exportado pelo Brasil naquela data era colhido nas terras da Vila de Vassouras que incluíam este atual município, mais os de Mendes, Paty do Alferes, Miguel Pereira e parte de Paracambi. As plantações de café também se expandiam pelos municípios vizinhos de Valença e Paraíba do Sul e já eram o principal sustentáculo econômico do Império do Brasil. Paty do Alferes era a mais rica das freguesias de Vassouras e o local original de colonização da região, já que era o caminho mais antigo entre o porto do Rio de Janeiro e as Minas Gerais.
O intenso crescimento econômico da região causava uma grande necessidade de mão-de-obra escrava que era comprada em outros Estados ou importada da África. Esta foi a época em que o Brasil mais importou escravos da África.
A população da então vila de Vassouras crescia rapidamente com a expansão da lavoura do café, mas a população de escravos era bem superior a de pessoas livres, brancas ou não. Em 1840, Vassouras tinha 20.589 habitantes, dos quais 6.225 livres e 14.333 escravos. Por volta de 1850, a população atingiu 35.000 pessoas (a mesma população do município atual, embora numa área bem menor).
A maior parte dos escravos era constituída por homens jovens nascidos na África. Segundo dados de 1837-1840, cerca de 75% dos escravos da região eram africanos, 68% tinha idade na faixa entre 15 e 40 anos, 73,7% eram homens. Os escravos homens e jovens eram os preferidos pois a maior parte do trabalho consistia em derrubar matas, plantar e capinar, o que requeria grande vigor físico. Entretanto, os escravos africanos eram temidos pela rebeldia ou pouco apreciados por não conheceram ainda a língua, os costumes e a religião da terra.
A Revolta dos Malês ocorrida na Bahia em 1835 espalhou o medo de novas revoltas por todo o Império. Denúncias e boatos de revoltas eram comuns em todo lugar onde havia muitos escravos. Os "pretos minas", nascidos na costa ocidental da África, eram especialmente temidos por seu envolvimento na Revolta dos Malês.
Manoel Congo
Contava-se que Manoel Congo era um negro forte e habilidoso, de pouca fala e sorriso escasso. Como era comum entre os escravos nascidos na África, seu nome era composto por um prenome português associado ao nome de sua "nação" ou região de origem.
Pertencia ao capitão-mor de ordenanças Manoel Francisco Xavier, dono de centenas de escravos e das fazendas Freguesia e Maravilha em Paty do Alferes.
Era ferreiro, ofício que requer treinamento e habilidade, o que certamente lhe dava status superior entre os outros escravos e maior valor econômico perante os senhores. A sociedade da época tinha grande carência de ferreiros e marceneiros, tanto que, em 1832, foi criada em Vassouras a "Sociedade Promotora da Civilização e da Indústria" que, entre outras coisas, treinava os escravos considerados mais hábeis e inteligentes no ofício de ferreiro. Coincidentementemente, na cultura dos Kimbundos, grupo étnico angolano que contribuiu com muitos escravos para a região, o ofício de ferreiro era uma ocupação exclusiva de reis e nobres.
Marianna Crioula
Marianna Crioula era uma escrava, como indica o nome, nascida no Brasil, com cerca de 30 anos na época. Era costureira e mucama (escrava de companhia) de Francisca Elisa Xavier, esposa do capitão-mor Manoel Francisco Xavier. Foi descrita como sendo a "preta de estimação", assim como uma das escravas mais dóceis e confiáveis da sua patroa.
Apesar de ser casada com o escravo José, que trabalhava na lavoura, vivia e dormia na casa-grande, sinal de que tinha privilégios concedidos pelos senhores. Na época, os homens eram cerca de 90% dos escravos traficados da África e cerca de 75% dos escravos que trabalhavam nas fazendas de café, portanto um casal de escravos era raro.
O capitão-mor Manoel Francisco Xavier era um rico proprietário que possuía três fazendas em Paty do Alferes: Freguesia (atual Aldeia de Arcozelo), Maravilha e Santa Tereza, além do sítio da Cachoeira. Manoel Francisco Xavier era casado com Francisca Elisa Xavier, futuramente agraciada com o título de baronesa da Soledade, a primeira do nome.
O coronel Francisco Peixoto de Lacerda Wernek, que comandou a repressão da revolta, escreveu na época da perseguição e julgamento, vários memorandos ao presidente da província do Rio de Janeiro. Em um deles, explica as causas da revolta em curso escrevendo: "há muito tempo que se receava o que hoje acontece, por fatos que se têm observado entre esta escravatura" (...) "homens brancos, feitores e capatazes, foram espancados e até assassinados pelos escravos" (...) ""escravos foram castigados até morrer" (...) [ocorrem] "iniqüidades, falta de ordem e falta de pulso". Segundo o coronel Lacerda Wernek, o capitão-mor não sabia tratar seus escravos, sendo às vezes muito leniente, outras extremamente severo.
O inventário dos bens de Manoel Francisco Xavier, feito com sua morte em 1840, dois anos depois da revolta de Manoel Congo, relaciona 449 escravos dos quais 85% eram homens e 80% eram africanos.
Rebelião e fuga
Em 5 de novembro de 1838, o capataz da fazenda Freguesia matou o escravo africano Camilo Sapateiro a tiros quando este ia sem autorização para a fazenda Maravilha. Os escravos tentaram linchar o capataz, mas foram contidos. Nenhuma punição foi dada ao assassino e o clima de revolta se estabeleceu nas senzalas das duas fazendas do capitão-mor Manoel Francisco Xavier.
Por volta da meia-noite, as portas das senzalas da fazenda Freguesia foram arrombadas e um grupo de cerca de 80 negros cruzou correndo o pátio, chamou as escravas domésticas que dormiam no sobrado, arrombou os depósitos e se armou com facões e uma velha garrucha.
Os revoltosos fugiram e se esconderam nas matas da fazenda Santa Catarina, propriedade do capitão Carlos de Miranda Jordão. Na noite seguinte, os revoltosos saíram da mata fora até a fazenda da Maravilha que também pertencia a Manoel Francisco Xavier. Ameaçaram matar o capataz, mas este fugiu para o telhado da casa; espancaram um escravo que não quis participar da revolta; colocaram uma escada na janela da cozinha para que as escravas domésticas que lá dormiam pudessem fugir; abriram as senzalas e chamaram os outros escravos para juntarem-se a eles; arrombaram os depósitos de mantimentos; pegaram os porcos capados que ainda estavam na engorda; e finalmente fugiram com todas ferramentas e mantimentos que puderam carregar. No caminho, o grupo ainda passou pela fazenda Pau Grande, pertencente a Paulo Gomes Ribeiro de Avelar, que ficava perto, onde libertou mais escravos das senzalas. Neste momento, os fugitivos já eram mais de cem, a maior parte armada com facões e outras armas cortantes.
Sabendo dos eventos, vários escravos também fugiram das fazendas São Luís da Boa Vista, Cachoeira, Santa Teresa, Monte Alegre, além de outras não registradas nos documentos históricos. Em torno de 300 a 400 escravos seguiram pelas matas então cerradas da Serra da Estrela, a caminho da Serra da Taquara. Algum planejamento prévio pode ter ocorrido, pois foi rápida a adesão de escravos das outras fazendas e houve pontos de encontros nas matas para os vários grupos.
Manoel Congo foi certamente o principal líder da revolta, e neste momento deve ter se "juntado" com Marianna Crioula, tanto que os dois foram posteriormente delatados como o "rei" e "rainha" do grupo de sublevados. Um escravo tinha a função de "vice-rei"; supõe-se que fosse Epifânio Moçambique, africano da nação Munhambane, escravo da fazenda Pau Grande, mas pode ter sido algum outro que foi morto em combate.
Vários grupos de fugitivos caminhavam pela mata e, no final de cada tarde, montavam um rancho para pernoite. Não é claro que os negros fugidos pretendiam formar um quilombo. Talvez pensassem em voltar, pois a sobrevivência nas matas requer conhecimentos especiais e, como os fatos mostrariam, era forte o poder de retaliação da sociedade escravocrata. Considerando que não houve qualquer violência de centenas de escravos armados com facões contra pessoas brancas, nem que qualquer dano ou prejuízo foi causado a outras propriedades exceto às do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, pode-se até supor a fuga poderia ser parte de uma negociação futura por melhores condições de trabalho, algo que não era incomum na época. O que certamente surpreendeu e amedrontou as classes dominantes foi o fato de ter havido uma fuga em massa.
Luta e captura.
O capitão-mor Manoel Francisco Xavier, proprietário das fazendas saqueadas e da maioria dos escravos fugitivos, pediu ajuda ao juiz de paz da freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paty do Alferes, tenente-coronel José Pinheiro de Souza Vernek, porém demonstrando que o fazia com má-vontade. É compreensível pois ele não queria perder escravos em combates; melhor seria se eles voltassem ao trabalho sem ferimentos e do modo mais pacífico possível. Além disto, tinha tido um longo conflito político com o sargento-mor, depois padre, Inácio de Sousa Vernek[1], avõ do juiz de paz José Pinheiro de Souza Vernek e do coronel-chefe da 13ª Legião da Guarda Nacional, Francisco Peixoto de Lacerda Vernek.
Alarmado com a quantidade de fugitivos, o juiz de paz José Pinheiro imediatamente enviou mensagem ao seu primo, o coronel-chefe da 13ª Legião da Guarda Nacional, Francisco Peixoto de Lacerda Vernek, futuro barão de Pati do Alferes, pedindo-lhe providências, em prol "da ordem e do sossego público". A 13ª Legião da Guarda Nacional era sediada em Valença e também mantinha a ordem pública nas vilas de Vassouras e Paraíba do Sul.
As notícias de fuga em massa de escravos geraram pânico entre os fazendeiros da região. Apenas 48 horas após o último incidente, o coronel Lacerda Vernek já havia reunido 160 homens da Guarda Nacional bem armados e prontos para a luta. Ao mesmo tempo, enviou um memorando ao presidente da província do Rio de Janeiro informando-o dos fatos e solicitando auxílio. No mesmo documento, o falastrão coronel Lacerda Vernek enfatizou a motivação das suas tropas escrevendo: "... nesta ocasião dirigi a meus camaradas um discurso, cuja leitura enérgica produziu um efeito admirável, fazendo ressoar por alguns momentos entusiasmados vivas".
A tropa liderada pelo coronel Lacerda Vernek, acompanhado pelo juiz de paz José Pinheiro, reuniu-se na fazenda Maravilha no dia 10 de novembro. No dia seguinte, partiram em perseguição aos escravos revoltosos. A localização das rotas de fuga foi fácil e o avanço foi rápido, pois os fugitivos caminhavam tendo que abrir picadas na densa mata que então existia na região.
Como contou o coronel Lacerda Vernek em um dos seus memorandos, no dia 11 de novembro, às 5 horas da tarde, depois de algumas léguas e horas de busca, "sentimos golpes de machado e falar gente". Haviam descoberto o grupo principal de fugitivos que avançava mais lentamente com crianças, velhos e mulheres. Os fugitivos perceberam que tinham sido alcançados e se preparou para a luta. A tropa avançou angulada como uma cunha e exigiu a rendição de todos. Manoel Congo incitou um ataque. O coronel Lacerda Vernek escreveu que os escravos "fizeram uma linha", e pegaram as armas, "umas de fogo, outras cortantes", e gritaram: "Atira caboclo, atira diabos". "Este insulto foi seguido de uma descarga que matou dois dos nossos e feriu outros dois. Quão caro lhes custou! Vinte e tantos rolaram pelo morro abaixo à nossa primeira descarga, uns mortos e outros gravemente feridos, então se tornou geral o tiroteio, deram cobardemente costas, largando parte das armas; foram perseguidos e espingardeados em retirada e em completa debandada."(...)"Notei que nem um só fez alto quando se mandava parar, sendo preciso espingardeá-los, pelas pernas. Uma crioula de estimação de Dona Francisca Xavier não se entregou senão a cacete, e gritava: morrer sim, entregar não!!!".
Finalmente, os sobreviventes foram cercados e obrigados a se render. Neste único combate foram presos o "rei' Manoel Congo e a "rainha" Mariana Crioula. Os mantimentos e as armas tinham sido abandonados na pressa da fuga pela vida. Outros fugitivos foram capturados nos dias seguintes sem haver combates ou mortes.
Não se conseguiu capturar um grupo de fugitivos comandado por um certo João Angola, que escapou do combate por não ter comparecido ao ponto de encontro com o grupo de Manoel Congo. No dia anterior ao combate final, o grupo de João Angola foi visto tentando assaltar uma fábrica de pólvora da região, mas fugiu em direção à Serra do Couto, próxima à Serra da Estrela.
Vários grupos vagaram pela floresta durante dias até que a fome os obrigou a voltar. Os escravos fugitivos saiam das matas e procuravam uma fazenda próxima a de sua fazenda de origem, cujo proprietário fosse conhecido por tratar bem os escravos. Então pediam a ele que os "apadrinhasse", isto é, que os escoltasse de volta à fazenda de origem, protegendo-os de grupos armados que poderiam encontrar pelo caminho e que solicitasse ao senhores de quem fugiram que os perdoasse pela fuga.
Posteriormente, no dia 14 de novembro, chegou uma tropa de 50 homens do Exército, a Polícia de Niterói, enviada pela presidência da província do Rio de Janeiro. O comando era do Tenente CoronelLuís Alves de Lima, futuro duque de Caxias, que assim, escapou por pouco de macular sua carreira, pois a ordem pública já havia sido restaurada e não era mais necessário perseguir escravos fugitivos.
Julgamento e execução
Apesar de ter havido mais de 300 fugitivos, apenas dezesseis foram levados a julgamento: Manoel Congo, Pedro Dias, Vicente Moçambique, Antônio Magro, Justino Benguela, Belarmino, Miguel Crioulo, Canuto Moçambique, Afonso Angola, Adão Benguela, Marianna Crioula, Rita Crioula, Lourença Crioula, Joanna Mofumbe, Josefa Angola e Emília Conga. Todos eles eram escravos do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, que assim foi indiretamente punido pelos outros fazendeiros por não ter controlado seus escravos e, conseqüentemente, ter balançado o frágil equilíbrio social da próspera região. Os escravos pertencentes a outros fazendeiros não foram julgados, inclusive aqueles que tiveram participação importante nos eventos. Por exemplo, o escravo Epifânio Moçambique, que pertencia ao dono da fazenda Pau Grande, foi citado por várias testemunhas como um dos líderes ao lado de Manoel Congo e talvez tenha sido o "vice-rei" da rebelião, porém foi apenas interrogado no processo penal.
Os réus foram conduzidos em ferros para serem julgados em Vassouras, a então vila a que estava subordinada a então freguesia de Paty do Alferes. O povo reuniu-se para assistir à sua chegada. Uma das escravas aprisionadas, talvez Marianna Crioula, gritou que preferia morrer a voltar ao cativeiro, o que causou tumulto na multidão que tentou linchá-la.
Dos dezesseis réus, nove eram homens e sete mulheres, onze eram africanos e cinco eram crioulos, dez eram trabalhadores especializados ou domésticos e apenas dois eram trabalhadores da roça sem especialização. Os trabalhadores especializados eram ferreiros, como Manoel Congo, carpinteiros ou caldeireiros; todas as mulheres eram trabalhadoras domésticas especializadas como lavadeiras, costureiras ou enfermeiras.
Os trabalhadores especializados e doméstico tinham mais prestígio entre os demais escravos e perante os senhores, portanto assumiam mais facilmente as posições de liderança. Além disto tinham maior facilidade de movimentação entre as fazendas, o que facilitava o contato com parceiros e a organização de fugas. Isto posto, é possível que tenham planejado a insurreição e fuga, embora este plano possa ter existido apenas na imaginação de senhores de escravos amedrontados com a recente Revolta dos Malês na Bahia.
Da manhã de 22 de janeiro de 1839 até o dia 31 do mesmo mês, o tribunal se reuniu na Praça da Concórdia, diante da Igreja Matriz da Vila de Vassouras. O julgamento foi presidido pelo juiz interino Inácio Pinheiro de Souza Verneck, irmão do juiz de paz José Pinheiro de Souza Vernek e, portanto, também primo do coronel Lacerda Vernek.
A participação de Mariana Crioula na rebelião causou furor no julgamento, pois ela era "uma crioula de estimação de dona Francisca Xavier" que, como narrou o coronel Lacerda Vernek, só se entregou "a cacete" depois do combate e ainda gritando: "morrer sim, entregar não!!!". Ao ser interrogada, Marianna Crioula tentou disssimular sua participação nos acontecimentos e alegou que fora induzida à fuga, mas os outros réus a delataram como a "rainha" dos revoltosos.
Ao que tudo indica, durante o julgamento decidiu-se não aumentar muito as perdas do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, que já tinha perdido sete escravos mortos no combate. Pelo acordo feito, apenas o líder da rebelião seria condenado pela morte em combate dos dois soldados da Guarda Nacional. Todos réus indicaram Manoel Congo como líder do levante que, portanto, foi condenado ao enforcamento.
Outros sete réus foram condenados a "650 açoites a cada um, dados a cinqüenta por dia, na forma da lei", e a "três anos com gonzo de ferro ao pescoço". Adão Benguela foi o único homem totalmente absolvido, apesar de estar tão implicado quanto os outros. A maior surpresa foi a absolvição de Mariana Crioula e todas as mulheres, certamente a pedido de sua proprietária Francisca Elisa Xavier. Entretanto, Mariana Crioula ainda foi obrigada a assistir à execução pública do seu companheiro Manoel Congo.
No dia 4 de setembro de 1839, Manoel Congo subiu ao cadafalso no Largo da Forca em Vassouras para cumprir sua “pena de morte para sempre”, isto é, foi enforcado e ficou sem sepultamento.
Conseqüências
Não há registros exatos de quantos escravos fugiram e quantos retornaram. A maioria dos proprietários alegou que seus escravos retornaram espontaneamente às suas fazendas. Os fazendeiros tinham pesadas custas processuais quando seus escravos eram arrolados em processos como réus ou rebeldes, portanto, às vezes era melhor mentir e aceitar a perda de um escravo foragido. Portanto, vários fugitivos, como o grupo de João Angola, podem ter alcançado a liberdade e, até mesmo, embora não haja fontes históricas, ter formado o lendário Quilombo de Santa Catarina. Certo é que não houve tempo para se formar o Quilombo de Manoel Congo que freqüentemente é citado como verídico.
Apesar de relativamente inócua, a rebelião de Manoel Congo gerou uma grande insegurança entre os fazendeiros da região de Vassouras, Valença e Paraíba do Sul. O clima de medo permaneceu por décadas durante toda a época de apogeu de cultura do café no vale do Paraíba do Sul.
Algumas tentativas de revoltas ainda ocorreram. Em 1847, foi denunciado que um outro ferreiro, o negro livre Estêvão Pimenta, chefiava uma organização secreta que preparava uma revolta para o dia 24 de junho daquele ano. A organização secreta foi infiltrada por seis soldados; Estevão Pimenta e outros foram presos e, talvez por isto, nenhuma revolta ocorreu. Os registros policiais da época afirmaram que a organização secreta denominada Elbanda (talvez, Embanda, sacerdote ou médico em quimbundo) era formada por núcleos clandestinos dirigidos, obrigatoriamente, por escravos ferreiros (como era Manoel Congo) e marceneiros, chamados de Pais-Korongos ou Tatas-Korongos.
O fim do tráfico de escravos da África, que ocorreu com a Lei Eusébio de Queirós, aumentou o preço dos escravos: em 1835 um escravo jovem e de boa saúde custava 375 mil-réis, uma escrava nas mesmas condições de saúde e idade custava 359 mil-réis; em 1855, um escravo custava 1.075 mil0réis, e uma escrava 857 mil-réis. Isto forçou a melhoria do tratamento dos escravos e nenhuma rebelião importante aconteceu na região até a abolição da escravidão em 1888.
Em 1854, dezesseis anos depois da revolta de Manoel Congo, quatro fazendeiros fundaram em Vassouras uma "comissão permanente" para implantação de políticas que afastassem o perigo de sublevações de escravos. O texto de constituição da comissão dizia que "o escravo é o inimigo inconciliável" e "se o receio de uma insurreição geral é talvez ainda remoto, contudo o das insurreições parciais é sempre iminente, com particularidade hoje que as fazendas estão se abastecendo com escravos vindos do Norte, que em todo tempo gozaram de triste celebridade. Ou seja, a imposição forte da Lei Eusébio de Queirós tinha eliminado o tráfico de escravos da Africa, mas o perigo ainda existia quando se traziam escravos da Bahia, onde havia ocorrido a Revolta dos Malês.
A "comissão permanente" recomendou aos fazendeiros vários procedimentos de prevenção de revoltas: manter armas prontas para serem usadas; manter uma polícia vigilante; prender os escravos de noite em senzalas fechadas; impedir a comunicação entre escravos de diferentes fazendas; permitir danças e folguedos, pois "quem se diverte não conspira"; incentivar as práticas do Catolicismo, pois "a religião é um freio e ensina a resignação". Finalmente propunha a introdução de colonos europeus em quantidades calculadas de acordo com a quantidade de escravos existente em cada fazenda, pois o trabalhador branco seria sempre "um braço amigo, um companheiro de armas, com cuja lealdade se pode contar na ocasião da luta: os interesses são comuns".
Locais históricos
A fazenda Freguesia, onde se iniciou a revolta, é atualmente o centro cultural Aldeia de Arcozelo em Paty do Alferes, o maior em área da América Latina. A antiga capela da casa grande foi consagrada à memória dos escravos condenados pela rebelião. Na sua frente estão escritos os nomes de Manoel Congo e dos outros escravos julgados pela revolta, porém os nomes de mais de vinte escravos mortos no combate foram esquecidos pois não foram registrados nos processos penais.
O Largo da Forca, onde foi executado Manoel Congo, é o atual Largo da Pedreira em Vassouras. Neste local foi construído, em 1996, o Memorial de Manoel Congo.
Fonte:Manoel Congo foi o líder da maior rebelião de escravos que ocorreu na região do vale do Paraíba do Sul, especificamente em Paty do Alferes, no Rio de Janeiro. Morreu enforcado em 6 de setembro de 1839.
Em 1838, o centro da economia nacional passava a ser a região sul fluminense, na qual ocorria um intenso desmatamento de terras e introdução do cultivo do café. Cerca de 70% do café exportado pelo Brasil naquela data era colhido nas terras da Vila de Vassouras que incluíam este atual município, mais os de Mendes, Paty do Alferes, Miguel Pereira e parte de Paracambi. As plantações de café também se expandiam pelos municípios vizinhos de Valença e Paraíba do Sul e já eram o principal sustentáculo econômico do Império do Brasil. Paty do Alferes era a mais rica das freguesias de Vassouras e o local original de colonização da região, já que era o caminho mais antigo entre o porto do Rio de Janeiro e as Minas Gerais.
O intenso crescimento econômico da região causava uma grande necessidade de mão-de-obra escrava que era comprada em outros Estados ou importada da África. Esta foi a época em que o Brasil mais importou escravos da África.
A população da então vila de Vassouras crescia rapidamente com a expansão da lavoura do café, mas a população de escravos era bem superior a de pessoas livres, brancas ou não. Em 1840, Vassouras tinha 20.589 habitantes, dos quais 6.225 livres e 14.333 escravos. Por volta de 1850, a população atingiu 35.000 pessoas (a mesma população do município atual, embora numa área bem menor).
A maior parte dos escravos era constituída por homens jovens nascidos na África. Segundo dados de 1837-1840, cerca de 75% dos escravos da região eram africanos, 68% tinha idade na faixa entre 15 e 40 anos, 73,7% eram homens. Os escravos homens e jovens eram os preferidos pois a maior parte do trabalho consistia em derrubar matas, plantar e capinar, o que requeria grande vigor físico. Entretanto, os escravos africanos eram temidos pela rebeldia ou pouco apreciados por não conheceram ainda a língua, os costumes e a religião da terra.
A Revolta dos Malês ocorrida na Bahia em 1835 espalhou o medo de novas revoltas por todo o Império. Denúncias e boatos de revoltas eram comuns em todo lugar onde havia muitos escravos. Os "pretos minas", nascidos na costa ocidental da África, eram especialmente temidos por seu envolvimento na Revolta dos Malês.
Manoel Congo
Contava-se que Manoel Congo era um negro forte e habilidoso, de pouca fala e sorriso escasso. Como era comum entre os escravos nascidos na África, seu nome era composto por um prenome português associado ao nome de sua "nação" ou região de origem.
Pertencia ao capitão-mor de ordenanças Manoel Francisco Xavier, dono de centenas de escravos e das fazendas Freguesia e Maravilha em Paty do Alferes.
Era ferreiro, ofício que requer treinamento e habilidade, o que certamente lhe dava status superior entre os outros escravos e maior valor econômico perante os senhores. A sociedade da época tinha grande carência de ferreiros e marceneiros, tanto que, em 1832, foi criada em Vassouras a "Sociedade Promotora da Civilização e da Indústria" que, entre outras coisas, treinava os escravos considerados mais hábeis e inteligentes no ofício de ferreiro. Coincidentementemente, na cultura dos Kimbundos, grupo étnico angolano que contribuiu com muitos escravos para a região, o ofício de ferreiro era uma ocupação exclusiva de reis e nobres.
Marianna Crioula
Marianna Crioula era uma escrava, como indica o nome, nascida no Brasil, com cerca de 30 anos na época. Era costureira e mucama (escrava de companhia) de Francisca Elisa Xavier, esposa do capitão-mor Manoel Francisco Xavier. Foi descrita como sendo a "preta de estimação", assim como uma das escravas mais dóceis e confiáveis da sua patroa.
Apesar de ser casada com o escravo José, que trabalhava na lavoura, vivia e dormia na casa-grande, sinal de que tinha privilégios concedidos pelos senhores. Na época, os homens eram cerca de 90% dos escravos traficados da África e cerca de 75% dos escravos que trabalhavam nas fazendas de café, portanto um casal de escravos era raro.
O capitão-mor Manoel Francisco Xavier era um rico proprietário que possuía três fazendas em Paty do Alferes: Freguesia (atual Aldeia de Arcozelo), Maravilha e Santa Tereza, além do sítio da Cachoeira. Manoel Francisco Xavier era casado com Francisca Elisa Xavier, futuramente agraciada com o título de baronesa da Soledade, a primeira do nome.
O coronel Francisco Peixoto de Lacerda Wernek, que comandou a repressão da revolta, escreveu na época da perseguição e julgamento, vários memorandos ao presidente da província do Rio de Janeiro. Em um deles, explica as causas da revolta em curso escrevendo: "há muito tempo que se receava o que hoje acontece, por fatos que se têm observado entre esta escravatura" (...) "homens brancos, feitores e capatazes, foram espancados e até assassinados pelos escravos" (...) ""escravos foram castigados até morrer" (...) [ocorrem] "iniqüidades, falta de ordem e falta de pulso". Segundo o coronel Lacerda Wernek, o capitão-mor não sabia tratar seus escravos, sendo às vezes muito leniente, outras extremamente severo.
O inventário dos bens de Manoel Francisco Xavier, feito com sua morte em 1840, dois anos depois da revolta de Manoel Congo, relaciona 449 escravos dos quais 85% eram homens e 80% eram africanos.
Rebelião e fuga
Em 5 de novembro de 1838, o capataz da fazenda Freguesia matou o escravo africano Camilo Sapateiro a tiros quando este ia sem autorização para a fazenda Maravilha. Os escravos tentaram linchar o capataz, mas foram contidos. Nenhuma punição foi dada ao assassino e o clima de revolta se estabeleceu nas senzalas das duas fazendas do capitão-mor Manoel Francisco Xavier.
Por volta da meia-noite, as portas das senzalas da fazenda Freguesia foram arrombadas e um grupo de cerca de 80 negros cruzou correndo o pátio, chamou as escravas domésticas que dormiam no sobrado, arrombou os depósitos e se armou com facões e uma velha garrucha.
Os revoltosos fugiram e se esconderam nas matas da fazenda Santa Catarina, propriedade do capitão Carlos de Miranda Jordão. Na noite seguinte, os revoltosos saíram da mata fora até a fazenda da Maravilha que também pertencia a Manoel Francisco Xavier. Ameaçaram matar o capataz, mas este fugiu para o telhado da casa; espancaram um escravo que não quis participar da revolta; colocaram uma escada na janela da cozinha para que as escravas domésticas que lá dormiam pudessem fugir; abriram as senzalas e chamaram os outros escravos para juntarem-se a eles; arrombaram os depósitos de mantimentos; pegaram os porcos capados que ainda estavam na engorda; e finalmente fugiram com todas ferramentas e mantimentos que puderam carregar. No caminho, o grupo ainda passou pela fazenda Pau Grande, pertencente a Paulo Gomes Ribeiro de Avelar, que ficava perto, onde libertou mais escravos das senzalas. Neste momento, os fugitivos já eram mais de cem, a maior parte armada com facões e outras armas cortantes.
Sabendo dos eventos, vários escravos também fugiram das fazendas São Luís da Boa Vista, Cachoeira, Santa Teresa, Monte Alegre, além de outras não registradas nos documentos históricos. Em torno de 300 a 400 escravos seguiram pelas matas então cerradas da Serra da Estrela, a caminho da Serra da Taquara. Algum planejamento prévio pode ter ocorrido, pois foi rápida a adesão de escravos das outras fazendas e houve pontos de encontros nas matas para os vários grupos.
Manoel Congo foi certamente o principal líder da revolta, e neste momento deve ter se "juntado" com Marianna Crioula, tanto que os dois foram posteriormente delatados como o "rei" e "rainha" do grupo de sublevados. Um escravo tinha a função de "vice-rei"; supõe-se que fosse Epifânio Moçambique, africano da nação Munhambane, escravo da fazenda Pau Grande, mas pode ter sido algum outro que foi morto em combate.
Vários grupos de fugitivos caminhavam pela mata e, no final de cada tarde, montavam um rancho para pernoite. Não é claro que os negros fugidos pretendiam formar um quilombo. Talvez pensassem em voltar, pois a sobrevivência nas matas requer conhecimentos especiais e, como os fatos mostrariam, era forte o poder de retaliação da sociedade escravocrata. Considerando que não houve qualquer violência de centenas de escravos armados com facões contra pessoas brancas, nem que qualquer dano ou prejuízo foi causado a outras propriedades exceto às do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, pode-se até supor a fuga poderia ser parte de uma negociação futura por melhores condições de trabalho, algo que não era incomum na época. O que certamente surpreendeu e amedrontou as classes dominantes foi o fato de ter havido uma fuga em massa.
Luta e captura
O capitão-mor Manoel Francisco Xavier, proprietário das fazendas saqueadas e da maioria dos escravos fugitivos, pediu ajuda ao juiz de paz da freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paty do Alferes, tenente-coronel José Pinheiro de Souza Vernek, porém demonstrando que o fazia com má-vontade. É compreensível pois ele não queria perder escravos em combates; melhor seria se eles voltassem ao trabalho sem ferimentos e do modo mais pacífico possível. Além disto, tinha tido um longo conflito político com o sargento-mor, depois padre, Inácio de Sousa Vernek[1], avõ do juiz de paz José Pinheiro de Souza Vernek e do coronel-chefe da 13ª Legião da Guarda Nacional, Francisco Peixoto de Lacerda Vernek.
Alarmado com a quantidade de fugitivos, o juiz de paz José Pinheiro imediatamente enviou mensagem ao seu primo, o coronel-chefe da 13ª Legião da Guarda Nacional, Francisco Peixoto de Lacerda Vernek, futuro barão de Pati do Alferes, pedindo-lhe providências, em prol "da ordem e do sossego público". A 13ª Legião da Guarda Nacional era sediada em Valença e também mantinha a ordem pública nas vilas de Vassouras e Paraíba do Sul.
As notícias de fuga em massa de escravos geraram pânico entre os fazendeiros da região. Apenas 48 horas após o último incidente, o coronel Lacerda Vernek já havia reunido 160 homens da Guarda Nacional bem armados e prontos para a luta. Ao mesmo tempo, enviou um memorando ao presidente da província do Rio de Janeiro informando-o dos fatos e solicitando auxílio. No mesmo documento, o falastrão coronel Lacerda Vernek enfatizou a motivação das suas tropas escrevendo: "... nesta ocasião dirigi a meus camaradas um discurso, cuja leitura enérgica produziu um efeito admirável, fazendo ressoar por alguns momentos entusiasmados vivas".
A tropa liderada pelo coronel Lacerda Vernek, acompanhado pelo juiz de paz José Pinheiro, reuniu-se na fazenda Maravilha no dia 10 de novembro. No dia seguinte, partiram em perseguição aos escravos revoltosos. A localização das rotas de fuga foi fácil e o avanço foi rápido, pois os fugitivos caminhavam tendo que abrir picadas na densa mata que então existia na região.
Como contou o coronel Lacerda Vernek em um dos seus memorandos, no dia 11 de novembro, às 5 horas da tarde, depois de algumas léguas e horas de busca, "sentimos golpes de machado e falar gente". Haviam descoberto o grupo principal de fugitivos que avançava mais lentamente com crianças, velhos e mulheres. Os fugitivos perceberam que tinham sido alcançados e se preparou para a luta. A tropa avançou angulada como uma cunha e exigiu a rendição de todos. Manoel Congo incitou um ataque. O coronel Lacerda Vernek escreveu que os escravos "fizeram uma linha", e pegaram as armas, "umas de fogo, outras cortantes", e gritaram: "Atira caboclo, atira diabos". "Este insulto foi seguido de uma descarga que matou dois dos nossos e feriu outros dois. Quão caro lhes custou! Vinte e tantos rolaram pelo morro abaixo à nossa primeira descarga, uns mortos e outros gravemente feridos, então se tornou geral o tiroteio, deram cobardemente costas, largando parte das armas; foram perseguidos e espingardeados em retirada e em completa debandada."(...)"Notei que nem um só fez alto quando se mandava parar, sendo preciso espingardeá-los, pelas pernas. Uma crioula de estimação de Dona Francisca Xavier não se entregou senão a cacete, e gritava: morrer sim, entregar não!!!".
Finalmente, os sobreviventes foram cercados e obrigados a se render. Neste único combate foram presos o "rei' Manoel Congo e a "rainha" Mariana Crioula. Os mantimentos e as armas tinham sido abandonados na pressa da fuga pela vida. Outros fugitivos foram capturados nos dias seguintes sem haver combates ou mortes.
Não se conseguiu capturar um grupo de fugitivos comandado por um certo João Angola, que escapou do combate por não ter comparecido ao ponto de encontro com o grupo de Manoel Congo. No dia anterior ao combate final, o grupo de João Angola foi visto tentando assaltar uma fábrica de pólvora da região, mas fugiu em direção à Serra do Couto, próxima à Serra da Estrela.
Vários grupos vagaram pela floresta durante dias até que a fome os obrigou a voltar. Os escravos fugitivos saiam das matas e procuravam uma fazenda próxima a de sua fazenda de origem, cujo proprietário fosse conhecido por tratar bem os escravos. Então pediam a ele que os "apadrinhasse", isto é, que os escoltasse de volta à fazenda de origem, protegendo-os de grupos armados que poderiam encontrar pelo caminho e que solicitasse ao senhores de quem fugiram que os perdoasse pela fuga.
Posteriormente, no dia 14 de novembro, chegou uma tropa de 50 homens do Exército, a Polícia de Niterói, enviada pela presidência da província do Rio de Janeiro. O comando era do Tenente CoronelLuís Alves de Lima, futuro duque de Caxias, que assim, escapou por pouco de macular sua carreira, pois a ordem pública já havia sido restaurada e não era mais necessário perseguir escravos fugitivos.
Julgamento e execução
Apesar de ter havido mais de 300 fugitivos, apenas dezesseis foram levados a julgamento: Manoel Congo, Pedro Dias, Vicente Moçambique, Antônio Magro, Justino Benguela, Belarmino, Miguel Crioulo, Canuto Moçambique, Afonso Angola, Adão Benguela, Marianna Crioula, Rita Crioula, Lourença Crioula, Joanna Mofumbe, Josefa Angola e Emília Conga. Todos eles eram escravos do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, que assim foi indiretamente punido pelos outros fazendeiros por não ter controlado seus escravos e, conseqüentemente, ter balançado o frágil equilíbrio social da próspera região. Os escravos pertencentes a outros fazendeiros não foram julgados, inclusive aqueles que tiveram participação importante nos eventos. Por exemplo, o escravo Epifânio Moçambique, que pertencia ao dono da fazenda Pau Grande, foi citado por várias testemunhas como um dos líderes ao lado de Manoel Congo e talvez tenha sido o "vice-rei" da rebelião, porém foi apenas interrogado no processo penal.
Os réus foram conduzidos em ferros para serem julgados em Vassouras, a então vila a que estava subordinada a então freguesia de Paty do Alferes. O povo reuniu-se para assistir à sua chegada. Uma das escravas aprisionadas, talvez Marianna Crioula, gritou que preferia morrer a voltar ao cativeiro, o que causou tumulto na multidão que tentou linchá-la.
Dos dezesseis réus, nove eram homens e sete mulheres, onze eram africanos e cinco eram crioulos, dez eram trabalhadores especializados ou domésticos e apenas dois eram trabalhadores da roça sem especialização. Os trabalhadores especializados eram ferreiros, como Manoel Congo, carpinteiros ou caldeireiros; todas as mulheres eram trabalhadoras domésticas especializadas como lavadeiras, costureiras ou enfermeiras.
Os trabalhadores especializados e doméstico tinham mais prestígio entre os demais escravos e perante os senhores, portanto assumiam mais facilmente as posições de liderança. Além disto tinham maior facilidade de movimentação entre as fazendas, o que facilitava o contato com parceiros e a organização de fugas. Isto posto, é possível que tenham planejado a insurreição e fuga, embora este plano possa ter existido apenas na imaginação de senhores de escravos amedrontados com a recente Revolta dos Malês na Bahia.
Da manhã de 22 de janeiro de 1839 até o dia 31 do mesmo mês, o tribunal se reuniu na Praça da Concórdia, diante da Igreja Matriz da Vila de Vassouras. O julgamento foi presidido pelo juiz interino Inácio Pinheiro de Souza Verneck, irmão do juiz de paz José Pinheiro de Souza Vernek e, portanto, também primo do coronel Lacerda Vernek.
A participação de Mariana Crioula na rebelião causou furor no julgamento, pois ela era "uma crioula de estimação de dona Francisca Xavier" que, como narrou o coronel Lacerda Vernek, só se entregou "a cacete" depois do combate e ainda gritando: "morrer sim, entregar não!!!". Ao ser interrogada, Marianna Crioula tentou disssimular sua participação nos acontecimentos e alegou que fora induzida à fuga, mas os outros réus a delataram como a "rainha" dos revoltosos.
Ao que tudo indica, durante o julgamento decidiu-se não aumentar muito as perdas do capitão-mor Manoel Francisco Xavier, que já tinha perdido sete escravos mortos no combate. Pelo acordo feito, apenas o líder da rebelião seria condenado pela morte em combate dos dois soldados da Guarda Nacional. Todos réus indicaram Manoel Congo como líder do levante que, portanto, foi condenado ao enforcamento.
Outros sete réus foram condenados a "650 açoites a cada um, dados a cinqüenta por dia, na forma da lei", e a "três anos com gonzo de ferro ao pescoço". Adão Benguela foi o único homem totalmente absolvido, apesar de estar tão implicado quanto os outros. A maior surpresa foi a absolvição de Mariana Crioula e todas as mulheres, certamente a pedido de sua proprietária Francisca Elisa Xavier. Entretanto, Mariana Crioula ainda foi obrigada a assistir à execução pública do seu companheiro Manoel Congo.
No dia 4 de setembro de 1839, Manoel Congo subiu ao cadafalso no Largo da Forca em Vassouras para cumprir sua “pena de morte para sempre”, isto é, foi enforcado e ficou sem sepultamento.
Conseqüências
Não há registros exatos de quantos escravos fugiram e quantos retornaram. A maioria dos proprietários alegou que seus escravos retornaram espontaneamente às suas fazendas. Os fazendeiros tinham pesadas custas processuais quando seus escravos eram arrolados em processos como réus ou rebeldes, portanto, às vezes era melhor mentir e aceitar a perda de um escravo foragido. Portanto, vários fugitivos, como o grupo de João Angola, podem ter alcançado a liberdade e, até mesmo, embora não haja fontes históricas, ter formado o lendário Quilombo de Santa Catarina. Certo é que não houve tempo para se formar o Quilombo de Manoel Congo que freqüentemente é citado como verídico.
Apesar de relativamente inócua, a rebelião de Manoel Congo gerou uma grande insegurança entre os fazendeiros da região de Vassouras, Valença e Paraíba do Sul. O clima de medo permaneceu por décadas durante toda a época de apogeu de cultura do café no vale do Paraíba do Sul.
Algumas tentativas de revoltas ainda ocorreram. Em 1847, foi denunciado que um outro ferreiro, o negro livre Estêvão Pimenta, chefiava uma organização secreta que preparava uma revolta para o dia 24 de junho daquele ano. A organização secreta foi infiltrada por seis soldados; Estevão Pimenta e outros foram presos e, talvez por isto, nenhuma revolta ocorreu. Os registros policiais da época afirmaram que a organização secreta denominada Elbanda (talvez, Embanda, sacerdote ou médico em quimbundo) era formada por núcleos clandestinos dirigidos, obrigatoriamente, por escravos ferreiros (como era Manoel Congo) e marceneiros, chamados de Pais-Korongos ou Tatas-Korongos.
O fim do tráfico de escravos da África, que ocorreu com a Lei Eusébio de Queirós, aumentou o preço dos escravos: em 1835 um escravo jovem e de boa saúde custava 375 mil-réis, uma escrava nas mesmas condições de saúde e idade custava 359 mil-réis; em 1855, um escravo custava 1.075 mil0réis, e uma escrava 857 mil-réis. Isto forçou a melhoria do tratamento dos escravos e nenhuma rebelião importante aconteceu na região até a abolição da escravidão em 1888.
Em 1854, dezesseis anos depois da revolta de Manoel Congo, quatro fazendeiros fundaram em Vassouras uma "comissão permanente" para implantação de políticas que afastassem o perigo de sublevações de escravos. O texto de constituição da comissão dizia que "o escravo é o inimigo inconciliável" e "se o receio de uma insurreição geral é talvez ainda remoto, contudo o das insurreições parciais é sempre iminente, com particularidade hoje que as fazendas estão se abastecendo com escravos vindos do Norte, que em todo tempo gozaram de triste celebridade. Ou seja, a imposição forte da Lei Eusébio de Queirós tinha eliminado o tráfico de escravos da Africa, mas o perigo ainda existia quando se traziam escravos da Bahia, onde havia ocorrido a Revolta dos Malês.
A "comissão permanente" recomendou aos fazendeiros vários procedimentos de prevenção de revoltas: manter armas prontas para serem usadas; manter uma polícia vigilante; prender os escravos de noite em senzalas fechadas; impedir a comunicação entre escravos de diferentes fazendas; permitir danças e folguedos, pois "quem se diverte não conspira"; incentivar as práticas do Catolicismo, pois "a religião é um freio e ensina a resignação". Finalmente propunha a introdução de colonos europeus em quantidades calculadas de acordo com a quantidade de escravos existente em cada fazenda, pois o trabalhador branco seria sempre "um braço amigo, um companheiro de armas, com cuja lealdade se pode contar na ocasião da luta: os interesses são comuns".
Locais históricos
A fazenda Freguesia, onde se iniciou a revolta, é atualmente o centro cultural Aldeia de Arcozelo em Paty do Alferes, o maior em área da América Latina. A antiga capela da casa grande foi consagrada à memória dos escravos condenados pela rebelião. Na sua frente estão escritos os nomes de Manoel Congo e dos outros escravos julgados pela revolta, porém os nomes de mais de vinte escravos mortos no combate foram esquecidos pois não foram registrados nos processos penais.
O Largo da Forca, onde foi executado Manoel Congo, é o atual Largo da Pedreira em Vassouras. Neste local foi construído, em 1996, o Memorial de Manoel Congo.
Fonte: Nucleo da UNEGRO/Manoel Congo-Paty de Alferes
domingo, 22 de janeiro de 2012
Violencia policial, Mulher Negra , Racismo e Pré- Conceito...
A polícia, instrumento de acção repressiva directa do Estado, promove a violência policial no espaço público, sobretudo contra classes sócio-económicas desfavorecidas e contra as pessoas migrantes e as mulheres. Neste sentido assistimos a um investimento no Estado policial e por outro lado a um desinvestimento no Estado social.
Esta polícia sustentada por uma corrente de tolerância zero e de criminalização da miséria não é compatível com um modelo social democrático real e não é compatível com uma sociedade equilibrada, justa e equitativa., tal como definido na Constituição.
Precisamos divulgar para todo mundo como a Polícia Militar do Estado trata a população negra e promove um verdadeiro genocídio da juventude negra.
Observem que o caráter racista está bem estabelecido, vocês podem ver que o policial vai pedir a carteira de estudante para um jovem negro que nem estava no debate sobre a desocupação do espaço, estava quieto em um canto.
- Demuncia:
Mulher negra desconhecida, vítima de violência de PMs masculinos em pleno centro do Rio, segundo denúncia no Facebook(replicamos para o mundo o texto de Analice Barreto)
Denúncia na hora certa, infelizmente existe ainda a necessidade de se treinar as testemunhas ou as vítimas a perguntarem ou gritarem o seu nome no momento em que sofram vilolências. Como fazíamos durante a ditadura.
Na denúncia da Analice nao está claro quem chamou a polícia. Nós da mamapres elogiamos a coragem da Analice e seu namorado, ao trazerem para mundo a notícia dos desmando destes esbirros. Que o ministério público tome providências e apure os fatos.
Como podemos perceber, inúmeras irregularidades ocorrerem nos procedimentos da abordagem policial. Desde o aparente desrespeito por parte destes policiais ao estilo musical Reggae, às reações de extrema violência da polícia para com a população, até os atos de violência ao longo do processo.
Devemos embrar que na historia o capitão do mato tambem era negro, e aenas pelo fato do poicial ser negro descaracteriza uma possível demonstração de racismo polícial e que os fatos devem ser esclarecido e se deve prosseguir com a denúncia contra a ação dos envolvidos.
Denunciamos assim a opressão explícita, ao saber que este não é o único e nem o primeiro caso de abuso e violência gratuita da polícia militar
A violência contra as mulheres no Brasil têm feito importantes contribuições empíricas e teóricas para a visibilidade e a compreensão desse fenômeno. Os mapeamentos das queixas, os debates sobre a posição da “vítima” e as investigações sobre os sistemas policial e judiciário têm-nos revelado que a violência contra as mulheres é um sério problema na sociedade brasileira, merecendo a atenção, não apenas das Ciências Sociais, como também dos poderes públicos.
Com base em nossa revisão das principais referências teóricas que orientam esses estudos, tecemos breves considerações finais no intuito de colaborar com o desenvolvimento dos debates feministas;
Primeiro, entendemos que a noção de dominação patriarcal é insuficiente para dar conta das mudanças que vêm ocorrendo nos diferentes papéis que as mulheres em situação de violência têm assumindo. Defendemos uma abordagem da violência contra as mulheres como uma relação de poder, entendendo-se o poder não de forma absoluta e estática, exercido via de
regra pelo homem sobre a mulher, como quer-nos fazer crer a abordagem da dominação patriarcal, senão de forma dinâmica e relacional, exercido tanto por homens como por mulheres,ainda que de forma desigual.
Segundo, torna-se necessário definir “violência de gênero” com maior rigor teórico,incorporando-se todos os aspectos do conceito de gênero de Joan Scott, sobretudo sua referência a gênero como um campo em que o poder é articulado. Além disso, devemos precisar melhor os conceitos com os quais trabalhamos, avançando nas reflexões sobre as diferenças conceituais entre expressões como “violência contra as mulheres”, “violência de gênero”, “violência conjugal”, “violência familiar” e “violência doméstica”. Terceiro, consideramos importante uma ampliação do objeto das pesquisas para que a perspectiva de gênero não exclua diferentes categorias sociais das análises sobre violência contra as mulheres no Brasil. Por exemplo, precisamos compreender melhor não apenas o papel das mulheres nas relações de violência, como também o papel exercido pelos homens, já que ambos participam na produção dos papéis sociais que legitimam a violência. 48 Nesse sentido, é importante que se estude como a construção social tanto da feminilidade quanto da masculinidade está conectada com o fenômeno da violência. Além disso, seja em situações de violência conjugal ou de outras formas de violência contra as mulheres – tais como, violência policial contra prostitutas, violência contra mulheres negras e violência contra lésbicas –, as práticas de violência e as respostas dadas pelos agentes do Estado e por diferentes grupos sociais podem estar relacionadas não apenas a questões de gênero, como também de classe social, raça/etnia e orientação sexual, entre outras categorias socialmente construídas.
fonte:http://www.youtube.com/watch?v=IeQ9ZVvxLRA&feature=related/http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2011/08/495663.shtml/facebook
Esta polícia sustentada por uma corrente de tolerância zero e de criminalização da miséria não é compatível com um modelo social democrático real e não é compatível com uma sociedade equilibrada, justa e equitativa., tal como definido na Constituição.
Precisamos divulgar para todo mundo como a Polícia Militar do Estado trata a população negra e promove um verdadeiro genocídio da juventude negra.
Observem que o caráter racista está bem estabelecido, vocês podem ver que o policial vai pedir a carteira de estudante para um jovem negro que nem estava no debate sobre a desocupação do espaço, estava quieto em um canto.
- Demuncia:
Mulher negra desconhecida, vítima de violência de PMs masculinos em pleno centro do Rio, segundo denúncia no Facebook(replicamos para o mundo o texto de Analice Barreto)
Denúncia na hora certa, infelizmente existe ainda a necessidade de se treinar as testemunhas ou as vítimas a perguntarem ou gritarem o seu nome no momento em que sofram vilolências. Como fazíamos durante a ditadura.
Na denúncia da Analice nao está claro quem chamou a polícia. Nós da mamapres elogiamos a coragem da Analice e seu namorado, ao trazerem para mundo a notícia dos desmando destes esbirros. Que o ministério público tome providências e apure os fatos.
Como podemos perceber, inúmeras irregularidades ocorrerem nos procedimentos da abordagem policial. Desde o aparente desrespeito por parte destes policiais ao estilo musical Reggae, às reações de extrema violência da polícia para com a população, até os atos de violência ao longo do processo.
Devemos embrar que na historia o capitão do mato tambem era negro, e aenas pelo fato do poicial ser negro descaracteriza uma possível demonstração de racismo polícial e que os fatos devem ser esclarecido e se deve prosseguir com a denúncia contra a ação dos envolvidos.
Denunciamos assim a opressão explícita, ao saber que este não é o único e nem o primeiro caso de abuso e violência gratuita da polícia militar
A violência contra as mulheres no Brasil têm feito importantes contribuições empíricas e teóricas para a visibilidade e a compreensão desse fenômeno. Os mapeamentos das queixas, os debates sobre a posição da “vítima” e as investigações sobre os sistemas policial e judiciário têm-nos revelado que a violência contra as mulheres é um sério problema na sociedade brasileira, merecendo a atenção, não apenas das Ciências Sociais, como também dos poderes públicos.
Com base em nossa revisão das principais referências teóricas que orientam esses estudos, tecemos breves considerações finais no intuito de colaborar com o desenvolvimento dos debates feministas;
Primeiro, entendemos que a noção de dominação patriarcal é insuficiente para dar conta das mudanças que vêm ocorrendo nos diferentes papéis que as mulheres em situação de violência têm assumindo. Defendemos uma abordagem da violência contra as mulheres como uma relação de poder, entendendo-se o poder não de forma absoluta e estática, exercido via de
regra pelo homem sobre a mulher, como quer-nos fazer crer a abordagem da dominação patriarcal, senão de forma dinâmica e relacional, exercido tanto por homens como por mulheres,ainda que de forma desigual.
Segundo, torna-se necessário definir “violência de gênero” com maior rigor teórico,incorporando-se todos os aspectos do conceito de gênero de Joan Scott, sobretudo sua referência a gênero como um campo em que o poder é articulado. Além disso, devemos precisar melhor os conceitos com os quais trabalhamos, avançando nas reflexões sobre as diferenças conceituais entre expressões como “violência contra as mulheres”, “violência de gênero”, “violência conjugal”, “violência familiar” e “violência doméstica”. Terceiro, consideramos importante uma ampliação do objeto das pesquisas para que a perspectiva de gênero não exclua diferentes categorias sociais das análises sobre violência contra as mulheres no Brasil. Por exemplo, precisamos compreender melhor não apenas o papel das mulheres nas relações de violência, como também o papel exercido pelos homens, já que ambos participam na produção dos papéis sociais que legitimam a violência. 48 Nesse sentido, é importante que se estude como a construção social tanto da feminilidade quanto da masculinidade está conectada com o fenômeno da violência. Além disso, seja em situações de violência conjugal ou de outras formas de violência contra as mulheres – tais como, violência policial contra prostitutas, violência contra mulheres negras e violência contra lésbicas –, as práticas de violência e as respostas dadas pelos agentes do Estado e por diferentes grupos sociais podem estar relacionadas não apenas a questões de gênero, como também de classe social, raça/etnia e orientação sexual, entre outras categorias socialmente construídas.
fonte:http://www.youtube.com/watch?v=IeQ9ZVvxLRA&feature=related/http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2011/08/495663.shtml/facebook
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
SÃO SEBASTIÃO E O SINCRETISMO NO BRASIL.
CATÓLICO E O SINCRETISMO:
O sincretismo católico-umbanda no Brasil foi uma contrução dos próprios escravos. PopuLação negra dominada, trazida ao Brasil a ferro, nos navios que faziam o tráfico humano, os africanos seguiram as leis históricas que presidem as relações entre os povos."A popuação negra teve que se adaptar para sobreviver conjuntamente com o dominante e produz-se uma série de acomodações e adaptações, tanto da parte do vencedor como do vencido".
O africano não abandonaram as suas crenças religiosas muito pelo contrario. O negro, procurou acomodar a sua cresça a nova situação e o processo mais inteligente foi exatamente o de comparar as qualidades dos seus ORIXÁS com as dos Santos católicos. Tomaram como base o Santo mais adorado do lugar: daí, algumas alterações verificadas no sincretismo, especialmente na Bahia e no Rio de Janeiro.
Os Senhores, primeiramente não entenderam mais achavam graça no sincretismo e como consideravam os africanos ignorantes, consentiam na prática bem disfarçada de seus cultos. E assim, graças à inteligência dos sacerdotes africanos, as suas antiqüíssimas e sábias idéias religiosas puderam sobreviver até hoje, apesar da intolerância de uma ou outra autoridade policial atrasada. E que a UMBANDA é uma das mais antigas religiões da humanidade e, contra ela não adianta a burrice de um simples mortal.
Voces sabem que a diferença mais notável é quanto a Oxossi e OGUN. Enquanto no Rio, OGUN é equiparado a São Jorge, na Bahia é Santo Antônio. OXOSSI que, no Rio, é São Sebastião, na Bahia é São Jorge.
YEMANJÁ E OXUN são comparadas a Nossa Senhora, sob diversas invocações. Os Nagôs, ao que parece, consideram OXÚN "faceira e vaidosa", concepção que diverge da adotada no OMOLOCÔ do Rio, para o qual OXÚN é o símbolo da "dona de casa".
Na verdade, o sincretismo e tambem um fenômeno histórico sem influência alguma na filosofia religiosa de Umbanda.
Onde há coincidência é quanto ao Senhor do Universo, Deus e seu Filho. Nesse ponto, todas as religiões coincidem. Só há um DEUS e um só FILHO DE DEUS. DEUS é DEUS. Tem ELE, na Umbanda, os nomes de Zambi, OLORUN; ZAMBI, no Omolocô; no NAGÔ. Chamam-no também, OXALÁ ALUFAN, sendo JESUS CRISTO O OXALÁ GUIAN, isto é, OXALÁ NOVO.
São Sebastião: A "característica" que une São Sebastião a Oxossi é o objeto com o qual ele fora martirizado - a flecha.
Sua história...
São Sebastião era um soldado romano cristão, que viveu no século III d.C., quando o cristianismo era ainda proibido. Enquanto o Imperador Romano não sabia da sua religião, o tinha como homem de confiança, mas quando tomou ciência, o condenou ao martírio pelas mãos dos arqueiros. Por outro lado temos que, na religião dos orixás, Oxossi é o orixá provedor. É o orixá da caça e da pesca que cultuamos para que não nos falte o alimento. É o orixá que nos concede o axé da fartura, sempre à medida que necessitamos, não entendendo aqui fartura como algo para além da nossa capacidade de consumir. E um dos instrumentos de caça de Oxossi é a flecha. Em tempos de preocupação com o meio ambiente, a melhor forma de defini-lo é como orixá do equilíbrio ecológico.
Portanto, não podemos indicar como paralelo a profissão de ambos, pois o paralelo militar entre os santos católicos e os orixás se dá entre São Jorge e Ogun; nem tampouco falar em paralelo de morte, posto que São Sebastião foi um ser humano datado historicamente que foi martirizado por duas, na primeira flechado, enquanto Oxossi é um orixá - essência divina - que até no mito em que morre, é ressuscitado. Só nos resta realmente a flecha, mas ainda assim com sentidos diversos: as que alvejaram São Sebastião eram confeccionadas para a guerra; enquanto as de Oxóssi são símbolos da caça.
Enquanto os santos católicos e os orixás são entidades espirituais diferentes, Jesus Cristo é a mesma pessoa de OXALÁ GUIAN (ou OXAGUIAN).
Quem tiver vocação para pensar-mos a religiosidade e o sincretismo e, analise bem o significado do culto da visita dos 3 Reis Magos (um africano, um europeu e um asiático) a Jesus Cristo em seu nascimento.
RELEMBRANDO: O ESTADO NOVO REPRIMINDO A RELIGIÕES AFRO BRASILEIRAS.
Durante o governo de Agamenon Magalhães, os cultos afrobrasileiros foram proibidos e perseguidos, porque o seu governo “era declaradamente de maioria católico e apontava na perspectiva de que tudo o que não fosse cristão era digno de perseguição e combate.” Nesta perspectiva, os seguidores dos cultos afro-brasileiros só podiam realizar seus atos religiosos em particular, no espaço privado, e não em lugares públicos.
Contra esta intolerância religiosa e para poderem praticar os seus atos religiosos, os seguidores (as) dos cultos afro-brasileiros, usaram como estratégia, sincretizar as suas práticas religiosas, escondendo-as por meio da prática da religião do dominador, onde só assim podia cultuar seus orixás (Deuses africanos), comparando-os aos santos cultuados pela igreja católica.
Mais os afro-brasileiros nem sempre foram apoiados ou encorajados a praticar abertamente sua religião tradicional, suas práticas religiosas foram proibidas e perseguidas. Entretanto, o sincretismo religioso com os santos católicos deu a elas certa legitimidade entre a população predominantemente católica do Brasil. Na verdade, as religiões de matriz africana ficaram a margem das elites governantes tanto a nível regional quanto internacional no Brasil e em outras regiões.
“As manifestações religiosas eram tidas como práticas bárbaras, magias e superstições, além de serem criminalizadas pelo código civil, como exercício ilegal da medicina, ou mesmo puro charlatanismo [...] Durante o Estado Novo, no governo de Agamenon Magalhães, houve um forte recrudescimento no combate às práticas e costumes dos negros e negras, sobretudo aquelas de caráter religioso.
Aproximadamente no período da década de 1930, “os maracatus foram utilizados pelos praticantes da religião afro-descendentes para acobertar suas práticas religiosas, uma vez que apesar dos preconceitos, os maracatus possuíam legitimidade para circular nas ruas durante o carnaval.” [20]. A partir desta afirmação surgiram algumas inquietações. Na atualidade, os seguidores (as) dos cultos afro-brasileiros da cidade do Recife, precisam camuflar sua religiosidade diante dos maracatus? Os preconceitos, discriminações e as formas pejorativas à religiosidade afro-brasileira continuam permeando nossa sociedade? Ou será que estamos revivendo as repressões ocorridas com os nossos ancestrais nos séculos XVI-XVIII? Acreditamos que hoje, a religião afrobrasileira esteja passando por processos de transformações em nossa sociedade, seja ela, no campo político, social ou educacional.
Deste modo, para compreendermos estas transformações sociais, analisaremos a relação sócio-religiosa entre os seguidores (as) e não seguidores (as) dos cultos afro-brasileiros,precisa intenssificar a conscientização de respeito às diferenças religiosas neste espaço de igualdade e de tolerância.
Um afro abraço.
fonte:www.umbandamenor.kit.net/www.sidneyrezende.com/Negros Hereges, Agentes do Diabo. Religiosidade Negra e Inquisição em Portugal – séculos XVI-XVIII. In: FLORENTINO, Manolo e MACHADO, Caalda (Orgs.). Ensaios Sobre a Escravidão (z). Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003.
CAMPOS, Zuleica Dantas Pereira. A Polícia no Estado Novo Combatendo o Catimbó. Revista Brasileira de História das Religiões – Ano I, n.3, Jan.2009 – ISSN 1893-2859. Dossiê Tolerância e Intolerância nas manifestações religiosas.
CANDAU, Vera Maria. (org.). Sociedade, Educação e Cultura: Questões e Propostas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas. São Paulo: EDUSP, 1999.
CASCUDO, Luís da Câmara. Made in Africa [1898-1986]. São Paulo: Global, 2002.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Ed. Loyola, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
GOFFMAN, Erving. Estigmas. Rio de Janeiro: Guanabara, 1963.
GÓIS, Aurino José. O Diálogo Inter-Religioso entre o Cristianismo e as Tradições Afro-Brasileiras. In: AMÂNCIO, Iris Maria da Costa. (org.). África-Brasil-África: Matrizes, Heranças e Diálogos Contemporâneos. Belo Horizonte: Editora PUC Minas; Nandyala, 2008.
LIMA, Ivaldo Marciano de França. Maracatu-Nação: ressignificando velhas histórias. Recife: Bagaço, 2005.
Cultura Afro-descendente no Recife: Maracatus, valentes e catimbós. Recife: Edições Bagaço, 2007
O sincretismo católico-umbanda no Brasil foi uma contrução dos próprios escravos. PopuLação negra dominada, trazida ao Brasil a ferro, nos navios que faziam o tráfico humano, os africanos seguiram as leis históricas que presidem as relações entre os povos."A popuação negra teve que se adaptar para sobreviver conjuntamente com o dominante e produz-se uma série de acomodações e adaptações, tanto da parte do vencedor como do vencido".
O africano não abandonaram as suas crenças religiosas muito pelo contrario. O negro, procurou acomodar a sua cresça a nova situação e o processo mais inteligente foi exatamente o de comparar as qualidades dos seus ORIXÁS com as dos Santos católicos. Tomaram como base o Santo mais adorado do lugar: daí, algumas alterações verificadas no sincretismo, especialmente na Bahia e no Rio de Janeiro.
Os Senhores, primeiramente não entenderam mais achavam graça no sincretismo e como consideravam os africanos ignorantes, consentiam na prática bem disfarçada de seus cultos. E assim, graças à inteligência dos sacerdotes africanos, as suas antiqüíssimas e sábias idéias religiosas puderam sobreviver até hoje, apesar da intolerância de uma ou outra autoridade policial atrasada. E que a UMBANDA é uma das mais antigas religiões da humanidade e, contra ela não adianta a burrice de um simples mortal.
Voces sabem que a diferença mais notável é quanto a Oxossi e OGUN. Enquanto no Rio, OGUN é equiparado a São Jorge, na Bahia é Santo Antônio. OXOSSI que, no Rio, é São Sebastião, na Bahia é São Jorge.
YEMANJÁ E OXUN são comparadas a Nossa Senhora, sob diversas invocações. Os Nagôs, ao que parece, consideram OXÚN "faceira e vaidosa", concepção que diverge da adotada no OMOLOCÔ do Rio, para o qual OXÚN é o símbolo da "dona de casa".
Na verdade, o sincretismo e tambem um fenômeno histórico sem influência alguma na filosofia religiosa de Umbanda.
Onde há coincidência é quanto ao Senhor do Universo, Deus e seu Filho. Nesse ponto, todas as religiões coincidem. Só há um DEUS e um só FILHO DE DEUS. DEUS é DEUS. Tem ELE, na Umbanda, os nomes de Zambi, OLORUN; ZAMBI, no Omolocô; no NAGÔ. Chamam-no também, OXALÁ ALUFAN, sendo JESUS CRISTO O OXALÁ GUIAN, isto é, OXALÁ NOVO.
São Sebastião: A "característica" que une São Sebastião a Oxossi é o objeto com o qual ele fora martirizado - a flecha.
Sua história...
São Sebastião era um soldado romano cristão, que viveu no século III d.C., quando o cristianismo era ainda proibido. Enquanto o Imperador Romano não sabia da sua religião, o tinha como homem de confiança, mas quando tomou ciência, o condenou ao martírio pelas mãos dos arqueiros. Por outro lado temos que, na religião dos orixás, Oxossi é o orixá provedor. É o orixá da caça e da pesca que cultuamos para que não nos falte o alimento. É o orixá que nos concede o axé da fartura, sempre à medida que necessitamos, não entendendo aqui fartura como algo para além da nossa capacidade de consumir. E um dos instrumentos de caça de Oxossi é a flecha. Em tempos de preocupação com o meio ambiente, a melhor forma de defini-lo é como orixá do equilíbrio ecológico.
Portanto, não podemos indicar como paralelo a profissão de ambos, pois o paralelo militar entre os santos católicos e os orixás se dá entre São Jorge e Ogun; nem tampouco falar em paralelo de morte, posto que São Sebastião foi um ser humano datado historicamente que foi martirizado por duas, na primeira flechado, enquanto Oxossi é um orixá - essência divina - que até no mito em que morre, é ressuscitado. Só nos resta realmente a flecha, mas ainda assim com sentidos diversos: as que alvejaram São Sebastião eram confeccionadas para a guerra; enquanto as de Oxóssi são símbolos da caça.
Enquanto os santos católicos e os orixás são entidades espirituais diferentes, Jesus Cristo é a mesma pessoa de OXALÁ GUIAN (ou OXAGUIAN).
Quem tiver vocação para pensar-mos a religiosidade e o sincretismo e, analise bem o significado do culto da visita dos 3 Reis Magos (um africano, um europeu e um asiático) a Jesus Cristo em seu nascimento.
RELEMBRANDO: O ESTADO NOVO REPRIMINDO A RELIGIÕES AFRO BRASILEIRAS.
Durante o governo de Agamenon Magalhães, os cultos afrobrasileiros foram proibidos e perseguidos, porque o seu governo “era declaradamente de maioria católico e apontava na perspectiva de que tudo o que não fosse cristão era digno de perseguição e combate.” Nesta perspectiva, os seguidores dos cultos afro-brasileiros só podiam realizar seus atos religiosos em particular, no espaço privado, e não em lugares públicos.
Contra esta intolerância religiosa e para poderem praticar os seus atos religiosos, os seguidores (as) dos cultos afro-brasileiros, usaram como estratégia, sincretizar as suas práticas religiosas, escondendo-as por meio da prática da religião do dominador, onde só assim podia cultuar seus orixás (Deuses africanos), comparando-os aos santos cultuados pela igreja católica.
Mais os afro-brasileiros nem sempre foram apoiados ou encorajados a praticar abertamente sua religião tradicional, suas práticas religiosas foram proibidas e perseguidas. Entretanto, o sincretismo religioso com os santos católicos deu a elas certa legitimidade entre a população predominantemente católica do Brasil. Na verdade, as religiões de matriz africana ficaram a margem das elites governantes tanto a nível regional quanto internacional no Brasil e em outras regiões.
“As manifestações religiosas eram tidas como práticas bárbaras, magias e superstições, além de serem criminalizadas pelo código civil, como exercício ilegal da medicina, ou mesmo puro charlatanismo [...] Durante o Estado Novo, no governo de Agamenon Magalhães, houve um forte recrudescimento no combate às práticas e costumes dos negros e negras, sobretudo aquelas de caráter religioso.
Aproximadamente no período da década de 1930, “os maracatus foram utilizados pelos praticantes da religião afro-descendentes para acobertar suas práticas religiosas, uma vez que apesar dos preconceitos, os maracatus possuíam legitimidade para circular nas ruas durante o carnaval.” [20]. A partir desta afirmação surgiram algumas inquietações. Na atualidade, os seguidores (as) dos cultos afro-brasileiros da cidade do Recife, precisam camuflar sua religiosidade diante dos maracatus? Os preconceitos, discriminações e as formas pejorativas à religiosidade afro-brasileira continuam permeando nossa sociedade? Ou será que estamos revivendo as repressões ocorridas com os nossos ancestrais nos séculos XVI-XVIII? Acreditamos que hoje, a religião afrobrasileira esteja passando por processos de transformações em nossa sociedade, seja ela, no campo político, social ou educacional.
Deste modo, para compreendermos estas transformações sociais, analisaremos a relação sócio-religiosa entre os seguidores (as) e não seguidores (as) dos cultos afro-brasileiros,precisa intenssificar a conscientização de respeito às diferenças religiosas neste espaço de igualdade e de tolerância.
Um afro abraço.
fonte:www.umbandamenor.kit.net/www.sidneyrezende.com/Negros Hereges, Agentes do Diabo. Religiosidade Negra e Inquisição em Portugal – séculos XVI-XVIII. In: FLORENTINO, Manolo e MACHADO, Caalda (Orgs.). Ensaios Sobre a Escravidão (z). Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003.
CAMPOS, Zuleica Dantas Pereira. A Polícia no Estado Novo Combatendo o Catimbó. Revista Brasileira de História das Religiões – Ano I, n.3, Jan.2009 – ISSN 1893-2859. Dossiê Tolerância e Intolerância nas manifestações religiosas.
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CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas. São Paulo: EDUSP, 1999.
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