UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

REFLETINDO A TRAJETÓRIA DO NEGRO NO BRASIL E A IMPORTÂNCIA DA CULTURA AFRO

Desde o momento em que os portugueses, levados pela escassez de mão de obra no período colonial no Brasil, decidiram importar escravos, não tinham conhecimento do tratamento desumano que seria impostos aos cativos. Por certo, também não tinham ciência de que os descendentes desta raça sofrida, viveriam, séculos mais tarde, contribuindo para o mundo das artes, dos esportes, da política, enfim, da vida social brasileira.
Dos negros trazidos para o Brasil e feitos escravos, restou sua cultura que orgulha não somente as pessoas que são definidas como descendentes afro-brasileiro, mas a todos os que vivem neste país. São tradições, costumes, fatos e mais uma infinidade de coisas que se transmitem de forma duradoura por várias gerações.
Conclui-se que os estudos nas escolas do Brasil se apresentam pouco generosos com relação a trajetória dos negros em nosso país. Não exatamente por omissão,mas pela ausência da conscientização de que o negro foi importante para o Brasil,de que sua cultura deve ser preservada e conhecida, além de que a cultura afro brasileira é a de todos os que vivem neste país. Vive-se num país aparentemente sem preconceitos raciais.
Vibra-se com gols de jogadores negros, com músicas que embalam os momentos inesquecíveis, mas ainda se convive com um preconceito retido no fundo das almas. Seja no tratamento, seja nos espetáculos televisivos ou teatrais, no ambiente de trabalho, sente-se que os espaços ainda não estão devidamente preenchidos por esta parcela tão sofrida da sociedade.Objetivou-se no presente estudo mostrar aos alunos um pouco mais da história do negro no Brasil, sua trajetória, sua vida em nosso país, sua cultura, seus momentos de amargura que não raras vezes se transformavam em danças, músicas e momentos em que esqueciam o sofrimento do dia a dia. Teve-se ainda a intenção de conscientizar sobre o preconceito que existe em nossos dias. Ele está contido nas frases, nas ações, nos espetáculos, ou seja, em tudo que influenciam a mídia. Considera-se ser preciso arrancar as raízes que existem as pessoas que orgulham de ser preconceituosas e não compreendem o negro como um irmão que está do lado com repeito as diferenças.

Tradições:

Nosso povo adotou essas culturas em sua bagagem cultural, na música, na religião, no modo de falar. Pode-se definir, em nível de Brasil, que a cultura que cerca seus habitantes é uma herança social provinda dos portugueses, italianos, espanhóis, índios e negros. Sobretudo os últimos deixaram sua cultura evidente principalmente considerando sua trajetória pelo Brasil, sua história carregada de sofrimentos e preconceitos que se perpetuam,ao lado da cultura, até os dias de hoje. A história do negro no Brasil, contada nas
escolas, em sua maioria, vale-se de descrever o período da escravidão e os horrores do caminho percorrido, e menciona superficialmente a cultura afro-brasileira e a tradição negra.

A CULTURA E AS RELIGIÕES DOS ESCRAVOS NAS SENZALAS E QUILOMBOS:
Os africanos, apesar dos percalços da vida escrava, dos maus tratos, jamais abandonaram seus costumes e sua religião. Não obstante o trabalho estafante, o pequeno ciclo de vida, o escravo teve seus momentos de diversão. Organizavam suas festas, os adornos no corpo e esquecendo temporariamente seus desencantos com a sorte, em festas, lembravam suas origens. Uma das mais típicas e interessantes era a do Rei do Congo, também conhecida por Congada, festa ao mesmo tempo profana e religiosa. Na sua música, os sons e as expressões eram carregados de sofrimento e faziam um curioso contraste com os raros momentos de alegria. A língua de origem sobressaia no canto. Com autorização dos senhores, os escravos organizavam pequenos desfiles em torno da casa grande, dançando e cantando. A Congada tinha um rei, eleitos pelos companheiros, uma rainha, os príncipes, os fidalgos e os embaixadores. Sobre a cultura dos escravos sabe-se que a arte de cantar e dançar fez parte de sua alma sofrida. Outra dança muito apreciada era o batuque, batidas de tambores e demais primitivos instrumentos de percussão que acompanhavam as danças.

“Um bambolear sereno do corpo, acompanhado de um pequeno movimento dos pés, da cabeça e dos braços” (MACEDO apud ALMEIDA, 1974, p. 62).
Os africanos mulçumanos:

Os africanos mulçumanos destinaram-se, em especial, à Bahia. Passaram a ser conhecidos por malês que quer dizer mulçumano. Estes valorizavam os amuletos, patuás e bolsas de mandingas. Os amuletos, desde a África, eram talismãs que protegiam os africanos de guerras e qualquer tipo de mal que poderia lhe acontecer. Havia ainda os curandeiros que praticavam o calundu. Esses tinham grande influência na comunidade, considerados líderes religiosos.  Possuíam conhecimento de “técnicas medicinais”. Estas nada mais eram do que ervas, frutos e produtos naturais encontrados facilmente nas regiões. Os curandeiros eram
considerados feiticeiros ou bruxos, mas com grande força diante de doenças que eram consideradas incuráveis.  No entanto, não foram apenas as religiões de origem africana que ajudaram a construir identidades. Aos escravos foi ensinado o catolicismo, como obrigação dos senhores para compor novas comunidades negras com devoção a algum santo. Os principais santos de devoção das irmandades de negros eram Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito. Além do culto aos santos, os escravos começaram a valorizar os irmãos mortos, as missas em favor de suas almas, e amparavam as famílias desconsoladas. Lentamente os negros se incorporaram ao mundo católico, passando a crer que eram possuidores de almas. No inicio a religião católica foi imposta aos escravos como religião oficial e obrigatória. Anos mais tarde com finalidade de atrair os negros livres para a religião católica, foram canonizados alguns santos negros e foram incorporadas manifestações culturais de origem africana aos rituais católicos.

Segundo Souza (2008, p.39)
Outro sinal de que o catolicismo muitas vezes passou a fazer parte da intimidade e da vida cotidiana de africanos no Brasil são algumas imagens de santos católicos, esculpidas em madeiras e às vezes em osso.”

A MESTIÇAGEM
A mestiçagem foi um processo natural, dificilmente tolerada pela maioria das épocas passadas e pouco pacifica. Iniciou-se com a submissão das negras escravas diante de seus donos brancos que eram proprietários, não somente das terras, mas dos corpos das escravas que lhe interessavam. Vendo dessa maneira tem-se conhecimento de que a mestiçagem não foi um fato programado e sim uma imposição do dono diante da mercadoria disponível. Procede-se assim a construção lenta do mestiço. Havia casos em que filhos mulatos, resultado do cruzamento do senhor com a escrava, eram alforriados,aprendiam algum oficio, mas não herdavam terras, pois elas estariam disponíveis apenas aos filhos legítimos e brancos.

(SOUZA. 2008, p. 129)
[...] Assim, quando falamos em mestiçagem do povo brasileiro, estamos nos referindo basicamente às misturas entre africanos e os povos que eles encontraram aqui, principalmente portugueses e indígenas. Foi essa mestiçagem que, apesar de atormentar as elites brasileiras que tentaram diluídas com outras misturas, se impôs como conseqüência da importação de cerca de 5 milhões de africanos ao longo de mais de trezentos anos.


 OS COSTUMES E A CULTURA PÓS- LIBERDADE...

Toda a história do Brasil que se conhece, com raras exceções, ainda não aprofundou na trajetória da raça negra em nosso país. A decantada abolição da escravatura não conseguiu livras os negros da discriminação racial e suas conseqüências, tais como, a exclusão e a miséria. A discriminação de aspectos cruéis e efeitos inimagináveis emergiu após treze de maio. A opressão continuou durante várias décadas.O abandono intelectual e econômico aos negros recém libertados foi um ponto crucial para o aparecimento das favelas, da subcultura, da pobreza trazendo a eles o desencanto com a liberdade. As inquietações com relação às senzalas se perpetuaram no que se refere a favelas. Como traduz a frase contida no samba enredo da Mangueira de 1988: “Livre do açoite da senzala, preso na miséria da favela.” 
(Silva, 1988)

[...] As dificuldades da após-Abolição, com a grande massa de libertos sem ter o que fazer, entregues à própria sorte, não foram cogitadas no momento devido e tiveram como resultado a desorganização geral que se verificou depois, prejudicando fundamentalmente a vida nacional.(LUNA, 1968, p.203)

A abolição foi decretada no Brasil sem que se preparasse para ela. As conseqüências foram inevitáveis. Os resultados decepcionaram os que lutavam para que ela se concretizasse. Mesmo os abolicionistas já não acreditavam no sucesso daquele ato. A Lei não previa nada que trouxesse aos escravos libertos, uma garantia que lhes garantisse algum direito adicional. Muitos negros continuaram na condição de escravos, não por deixar de entender a situação em que se encontravam, mas por falta de opção.
Novamente percebe-se que a abolição não livrou totalmente os negros, pois se acreditava que o Brasil só atingiria o nível das nações desenvolvidas se eliminasse o lado africano do país. Restava, aos ex-escravos, poucas opções de sobrevivência. Deparava-se com o desemprego, a fome, as dificuldades e com uma rotina que havia melhorado sua vida, mas não como sonhavam. O ex-escravo que trabalhava no campo muitas vezes preferiu permanecer nas áreas rurais, ocupando pequenos pedaços de terra, geralmente em
sistema de parceria nos quais cedia parte de sua produção ao dono da terra que cultivava. Mas ao longo do século XX, e principalmente a partir da década de 1930, a migração de negros e seus descendentes rumo ás cidades cresceu cada vez mais. Eles geralmente desempenhavam as funções mais subalternas, uma vez que só alguns poucos afro-brasileiros conseguiam se educar, prosperar nos negócios e ascender oficialmente.

Depois das Leis e consequentemente da liberdade dos escravos ficaram as histórias desse tempo, que apesar do esforço dos historiadores, há os que digam que esta não foi contada com devida crueza. Hoje a maioria que passam pelas escolas tem a escravidão como um fato vago e em termos suavizados; o herói Zumbi, o senhor desalmado e insensível, a sinhazinha bondosa que freqüentava a senzala. A realidade foi outra, mais obscura, mais difícil de digerir. Observa-se que a impiedade, humilhação e o sangue derramado foram muito além do que contém os livros. As dificuldades transmitidas pelos ex-escravos errantes pelas ruas, sedentos e esfomeados, também fazem parte de sua amarga trajetória. No entanto, a originalidade em tentar esquecer a história e suas partes degradantes, não é só de brasileiros. Os próprios africanos não gostam de se lembrar que venderam seu povo para ser escravizado.Mas ficaram suas tradições, seus mitos, sua cultura, para mostrar aos brasileiros que também houve breves momentos de alegria, de afeto, de religiosidade, de relembrar a terra distante para qual jamais voltariam. Foi um ciclo da história que se completou. Ficou a cultura que os negros deixaram, não apenas aos seus descendentes afro, mas a todos que admitem que sua história tem que ser contada seja ela, amarga ou não.

HOJE...
Existe um questionamento frequente sobre o preconceito contra os negros no mundo. Em especial, no Brasil constata-se que, por ter sido seu trabalho a força motriz que impulsionou o progresso das classes ominantes séculos atrás, foi o que deu a eles esta situação de desigualdade diante dos brancos. As disparidades são evidentes no aspecto social e aliadas a esta desproporcionalidade convive-se com o preconceito.Nas novelas e filmes ainda causa espanto uma atriz branca viver um papel em que mantém um relacionamento mais intimo com um ator negro. Certa vez, Oda Gonçalves, esposa do ator Milton Gonçalves que é de descendência afro, disse, em tom de desabafo, que gostaria de ver seu marido não se limitar a papéis de escravos ou bandido, mas sim beijando alguma atriz loura das novela da oito. Os papéis desempenhados pelos negros nas novelas, na maioria das vezes são de bandidos ou de empregados em funções humildes.


[...] Em nosso país, apesar de todos se dizerem avessos ao racismo, não há quem não conheça cenas de discriminação ou não saiba uma boa piada sobre o tema. Ainda hoje o trabalho manual é considera aviltante e a hierarquia social reproduz uma divisão que data da época do cativeiro. Com naturalidade absorvemos a idéia de um elevador de serviço ou de lugares que se transformam em verdadeiros guetos raciais. É por isso que não basta condenar a história, ou encontrar heróis delimitados. Zumbi existe em cada um de nós. É passado e é presente.
 (MOURA. 1996. P.30)

Um afro abraço.
UNEGRO 25 ANOS DE LUTA...
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!

fonte:ARAUJO, Emanoel. Viva Cultura, Viva o Povo Brasileiro. Museu Nacional: São Paulo, 2007.
BORGES, Antonio José. Compêndio de História do Brasil.. Nacional: São Paulo,1972.BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História Cultura Afro-Brasileira e Africana.Brasília, 2005.LUNA, Luiz. O Negro na luta contra a escravidão.. Leitura: Rio de Janeiro, 1968.MACEDO, Sérgio D. T. Crônica do Negro no Brasil. Record: Rio de Janeiro,MATTOS, Regiane A. História e cultura afro-brasileira. Contexto: São Paulo, 2007.MOURA, Glória. Navio Negreiro-Batuque no Quilombo. CNNCT. São Paulo, 1996.RESENDE, Maria Efigênia L. História Fundamental do Brasil . Álvares: Belo Horizonte, 1971.SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil Africano. Ática: São Paulo: 2008.TOLEDO, Roberto P. À Sombra da Escravidão. Veja. São Paulo. p. 52-64, mai.1996

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Joventude membros da cultura hip hop...

  "Colocam que o negro foi a segunda negação no Brasil (após o índio ter sido negado), tendo como diferença o reconhecimento da força de trabalho, a escravização, que moveu a economia do país por um largo período de tempo. Na consciência colectiva, vemos, de acordo com os autores, o negro como aquele que constituiu junto, mas nunca como aquele que está profundamente arraigado à nossa identidade."(DIAS e GAMBINI -1999)

Historicismo que é o processo de recepção e reprodução dos elementos da cultura hip hop entre parte dos jovens, é tentar perceber a construção e o reconhecimento da diferença forjada por eles próprios, através do contado com as diversas representações recebidas desta cultura. Que se constitui em uma luta por reconhecimento, espaço e possibilidades, visto que a juventude que se apropria dos elementos dessa cultura são jovens das periferias das grandes cidades, jovens pobres e esquecidos das políticas públicas, dos processos de integração e constituição identidade nacional e regional. Assim, os fatores étnicos e sociais são cruciais para estabelecimento do lugar que lhes são devidos dentro da estrutura social.
Poderíamos assim, resgatar através do estudo das apropriações de certos elementos estéticos e discursivo, que chegam através de representações da cultura hip hop . Tais representações são produzidas por jovens membros da cultura hip hop; e estas sofrem um processo de internacionalização a partir da década de 1980. A música, o visual, o movimento, a cor, produzidas por jovens e reproduzidas por aqui, através dos meios de comunicação (TV, rádio,  jornais, etc.) – mas também por gravações caseiras , chamam a atenção dos jovens que se identificam com aquelas representações.

 Enfim, perceber o processo de transformação do “estilo de vida”, que incorpora música, dança, artes plásticas, consumo, reivindicações, que os fazem diferenciar tanto das gerações anteriores, quanto dos jovens contemporâneos. Através de uma identificação que os diferencia. Esta diferença seria, portanto, resultado de uma colonização cultural apregoada,  quando fala dos anos 1960 e 1970 acerca da chegada do rock no Brasil e, toda sua carga simbólica e ideológica a serviço dos dominadores Estados Unidos e sua indústria cultural... ou um dialogo entre culturas distintas, em que seus elementos, presentes nas representações, seriam apropriados, reproduzidos, reindustrializados, de forma híbrida, diaspórica, ou seja, não consciencializada, implantada, mas sim, diversa e negociada...


Pele negra x Máscara branca...

Existem diferentes formas de manifestação do racismo. É mais fácil lidar com o racismo aberto, como coloca DALAL (2002), porque é “auto-confesso” e, portanto, visível a todos, do que lidar com o racismo encoberto. No entanto, é problemático precisamente por ser invisível e facilmente negado, tanto de forma consciente como inconsciente. Uma maneira de se revelar o racismo é a evidência estatística. Diga-se de passagem, é sabido que, no Brasil, o racismo é bastante encoberto, em relação a países como os Estados Unidos ou a África do Sul, por exemplo – o que faz com que a categorização das pessoas pelas diferenças “raciais” seja ainda mais latente.

Os brasileiros, em geral, definem as categorias “raciais” baseados principalmente na aparência, e não na ascendência, como fazem os norte-americanos, por exemplo (FRY, 1996). No entanto, é interessante ressaltar uma pesquisa por amostragem realizada por PENA e BORTOLINI (2004) que, baseados em critérios genéticos previamente utilizados, capazes de estimar com precisão o grau de mistura africana e européia de uma população, afirmam que, se toda pessoa com mais de 10% de ancestralidade africana for considerada negro-descendente (classificação arbitrária, como eles próprios assumem), 87% (cerca de 146 milhões de habitantes) dos brasileiros estariam nessa categoria – o que é uma cifra impressionante.

Concluem que mais de 80 milhões de pessoas (ou 54% da população de nosso país) apresentam 90% ou mais de ancestral idade africana. Porém, de acordo com tais autores, 48% dos negro-descendentes brasileiros autoclassificam-se como “brancos” (PENA; BORTOLINI, 2004). Assim, muitos cidadãos que poderiam ser tranqüilamente classificados como “negros” ou “pardos” acreditando serem “brancos”. É um sinal lógico de que há vantagens em ser “branco” no Brasil, pois provavelmente esse cidadão sente-se mais aceito na sociedade se considerado como tal. Caso contrário, simplesmente se auto-classificariam como negros.

Assim, os negro-mestiços estão bem mais próximos, em geral, do negro, em termos de posição financeira, educacional e social (SANTOS, 2001). Parece-me uma situação perversa por parte das elites: por um lado, querem o embranquecimento do Brasil para que não sejamos vistos como um país de “pretos”, como se isso fosse naturalmente negativo. Por outro, os “mulatos”, mesmo que claros, têm um lugar reservado com os, de fato, “negros”: a senzala ou a periferia da sociedade – ou da cidade. Trata-se de um lugar simbólico e concreto ao mesmo tempo: no plano do poder aquisitivo e no da discriminação.
Os resultados de minha recente pesquisa mostram, como procurarei apontar brevemente no presente artigo, que o hip hop vem justamente ao encontro dessa postura: manifestação essencialmente da periferia excluída, traz o que é inconsciente para a consciência, que pode, então, se reestruturar continuamente, a fim de assimilar aspectos até então relegados, e levá-los às ações e interações mais discriminadas (SCANDIUCCI, 2005).
Os complexos da “alma brasileira...”

Para JUNG (1934, 1995), dentro do que ele chamou de “processos psíquicos complicados”, emergem possibilidades ilimitadas que, às vezes, já desde o início, dão origem a uma situação de experiência que pode ser chamada de constelação.

“Este termo exprime o fato de que a situação exterior desencadeia um processo psíquico que consiste na aglutinação e na atualização de determinados conteúdos. A expressão ‘está constelado’ indica que o indivíduo adotou uma atitude preparatória e de expectativa, com base na qual reagirá de forma inteiramente definida” (JUNG, 1934/1995, p. 29).
Ora, esses conteúdos constelados são chamados de complexos; não podem ser detidos pela vontade da pessoa, pois apresentam energia específica própria, superando, muitas vezes, nossas intenções conscientes. Os complexos podem “ter-nos”, portanto, de acordo com JUNG (1934, 1995), atuando como uma espécie de segundo “eu”.

Dessa forma, o “complexo afetivo” pode ser definido como uma imagem de uma determinada situação psíquica de forte carga emocional. Além disso, pode ser incompatível com as disposições ou atitude habitual da consciência. Assim, o complexo tem elevado grau de autonomia. Pode ser reprimido, mas não negado enquanto existência, pois, em ocasião favorável, volta à tona com toda a sua força original (JUNG, 1934/1995).


O lugar do hip hop na sociedade brasileira...

O aspecto geográfico ou espacial parece ser de extrema importância no que tange ao enraizamento da cultura. De acordo com esses depoimentos, percebe-se que o hip hop tem maior poder de entrada na camada pobre das cidades. Não é à toa que muitas letras de rap aludem ao bairro, à “quebrada” de origem de seus componentes.
O grupo Z’África Brasil (2002), através do rap “Antigamente quilombos, hoje periferia” passa, a meu ver, a noção de que a periferia teria uma correspondência com os quilombos dos tempos da escravidão. Isto é, um espaço da população pobre “escravizada”, que ao mesmo tempo carrega uma luta e uma resistência à exploração dos “patrões”. É nela que se encontram as pessoas mais sofredoras, é nela que uma revolta contra um sistema injusto pode aparecer.

CARRIL (2003) enxerga, neste rap, uma analogia entre o capitalismo atual e aquele que estimulou a entrada de africanos no Brasil colonial, a fim de abastecer de mão-de-obra seu mercado. No contexto de “hoje”, o Z’África Brasil produz uma imagem de uma nova resistência do negro, aludindo às “guerras” nos territórios das periferias  – uma “terra de ninguém” e do negro: um novo quilombo.

 Se liga...

Acredito que defender a ideia de pode-se afirmar que o hip hop e o rap funcionam como canais expressivos de símbolos ao darem possibilidade de “fala” à juventude negra. Ao abrir espaço para a expressão de elementos reprimidos, pertencentes às relações sociais, atuam como função compensatória no self cultural. Ao realizar tal elaboração simbólica, ocorre uma ampliação da consciência diante dos mecanismos inconscientes que atuam no bojo das experiências de cada indivíduo.

 Um afro abraço.

UNEGRO 25 ANOS DE LUTA.
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!

fonte:DIAS, L. & GAMBINI, R. Outros 500: uma conversa sobre a alma brasileira.  Editora Senac, 1999. ao Departamento de Ciências Sociais, 1995, p. 10. xii Dissertação defendida junto ao programa de Mestrado do Departamento de História da Universidade Federal de Goiás em 1999. xiii Sobre a virada ocorrida no seio da ciência histórica ver PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. xiv Cf. HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Trad. Tomaz T. e Silva, Guacira L. Louro. 6ª ed. Rio de Janeiro: DP & A, 2001. xv Op. Cit., 2001, p. 75. xvi Representação que marca uma presença, porém distinta daquilo que é representado. São componentes de uma realidade social , “uma vez que são produtoras de ordenamento, de afirmação de distâncias, de divisões, a orientar a ação dos agentes”. Estas são inscritas “nos textos” ou são “produzidas pelos indivíduos”, e sempre determinadas pelos interesses do grupo que as forjam. (...) daí para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição de quem os utiliza. Cf. CHARTIER, Roger. Introdução: Por uma sociologia histórica das práticas culturais. In: A História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 1990; HUNT, Lyn. A nova história cultural. São Paulo: Martins.       

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Fundamentalismo religioso ameaça laicismo ...?


 fundamentalismo religioso está presente em todas as religiões, durante todas as épocas da história da humanidade. Os fundamentalistas são os mais conservadores e literais seguidores de uma religião.
Existem várias correntes fundamentalistas religiosas entre os adeptos do judaísmo, cristianismo e islamismo, além de outras...
Em muitos casos, o fundamentalismo religioso é um fenômeno moderno, caracterizado pelo senso de esvaziamento do meio cultural, até mesmo onde a cultura pode nominalmente ser influenciada pela religião dos partidários. O termo pode também se referir especificamente à crença ou convicção de que algum texto ou preceito religioso seja infalível e historicamente preciso ainda que contrários ao entendimento de estudiosos modernos...

O laicismo é uma tentativa de articular a diversidade e o pluralismo em todas suas manifestações pessoais e coletivas. É uma crítica do clericalismo político, à tentativa das castas sacerdotais de todas as religiões de controlar a ação do Estado. Também é a defesa do pluralismo, da autonomia da ordem jurídica e política, da dignidade e legitimidade de uma moral autônoma, e da liberdade de consciência. Além disso é a reivindicação de uma cultura de tolerância ativa. O laicismo não só se opõe à dominação, mas também é um humanismo que propõe virtudes, implicando na criação de cidadãos e, por isso, dá grande importância à educação.
UMA AMEAÇA À DEMOCRACIA?
 
O laicismo defende a liberdade religiosa, mas está contra as instituições que dificultam o pluralismo de uma cidadania diversa. Os fundamentalismos e integralismos religiosos radicais (chamem-se islamismo político, hinduismo identitário, judaísmo ultra-ortodoxo ou cristanismo neo-integrista (católico ou protestante) constituem uma ameaça para a democracia e devem ser enfrentados, a fim de não impedirem o pluralismo. Portanto, deve-se recusar suas tentativas de que se legisle a partir da verdade que dizem possuir.
Mas não se deve esquecer que a religião é uma questão pública. Nisto coincidem todos os grandes clássicos da sociologia. As religiões não devem ser privatizadas, devem ter uma presença na vida pública e contribuir para isso, mas em democracia, devem autocontrolar seu projeto de hegemonia. Não nasceram em âmbitos de laicidade e devem aprender a viver em contextos laicos, sabendo que existe algo inviolável: a liberdade de consciência.
 
"O processo de globalização tem mostrado a grande força social, cultural e política das religiões. Estas exercem um importante papel público nas democracias avançadas".

No Brasil na questão racial e negritude, a luta dos negros e negras no cenário protestante não é nova. Ela se inicia em 1841 quando um negro alfaiate, letrado, chamado Agostinho Jose Pereira, começou a pregar nas ruas de Recife a liberdade dos negros e negras nos termos bíblicos e como libertação divina.


As Igrejas Evangélicas Históricas
São as primeiras Igrejas ou denominações que chegaram ao Brasil através dos imigrantes e dos missionários estrangeiros: Congregacionais, Batistas, Presbiterianos, Metodistas, Luteranos, Anglicanos. Essas Igrejas chegaram ainda no período da escravidão e tiveram entre seus líderes defensores da escravidão, omissos e abolicionistas. Os defensores da escravidão: na sua maioria, eram missionários que vieram do sul dos Estados Unidos, ainda com ressentimentos da derrota na Guerra da Secessão que tinha como uma de suas causas a escravidão. Os omissos: Esta era a posição da grande maioria dos evangélicos históricos a respeito da escravidão negra. Os abolicionistas: Estes estiveram presentes em quase todas as denominações históricas; eram, em sua maioria, missionários oriundos do norte dos Estados Unidos, europeus e alguns convertidos brasileiros. E eram em número pequeno.
As Igrejas Evangélicas Pentecostais
O fundador do Pentecostalismo foi um negro chamado William Joseph Seymour, filho de ex-escravos. Seymour, sabendo de uma escola bíblica em Topeka, Kansas, na qual um certo Charles Fox Parham estudava na bíblia a experiência do batismo do Espírito Santo, procurou-o. Charles Fox Parham, considerado por alguns como pioneiro do pentecostalismo, era racista e também simpatizante da Ku Klux Klan e não permitiu que Seymour, por ser negro, entrasse em sua sala de aulas, permitindo apenas que ele participasse das aulas fora da sala através da porta entreaberta. Mas Seymour não desistiu, mesmo sendo humilhado, e continuou até chegar no reavivamento da rua Azusa, Los Angeles, em 1906, dando origem ao Pentecostalismo. O próprio Charles Parham foi para a rua Azusa e denunciou a mistura de raças na igreja de Seymour. E muitos diziam: “O que de bom pode vir de um auto-intitulado profeta negro?”
O racismo e a intolerância mais uma vez dividia o cristianismo transformando as igrejas pentecostais em igrejas de brancos e igrejas de negros da mesma forma que já tinha acontecido com as igrejas históricas. O pentecostalismo implantado no Brasil vem do pentecostalismo branco racista norte-americano de viés reformado. Primeiro em 1910 por meio do italiano Luigi Francescon, fundador da Congregação Cristã no Brasil; e em seguida, em 1911 por meio dos suecos Gunnar Adolf Vingren e Daniel Berg, precursores da Assembléia de Deus. Mesmo assim não conseguiram destruir a raiz negra do pentecostalismo que tomou dimensão mundial e com forte aceitação entre os negros (e) brasileiros.
As Igrejas Evangélicas Neopentecostais
O neopentecostalismo também tem sua origem nos Estados Unidos por grupos que surgiram no final dos anos 50, pregando a prosperidade, a cura e a confissão positiva, dando origem ao “movimento da fé”, também chamado de Teologia da Prosperidade. Um dos propagadores foi Kenneth Hagin, que também tem em seu currículo uma história racista, como atesta sua oposição a casamentos inter-raciais.
No Brasil, as Igrejas Neopentecostais surgiram a partir dos anos setenta. Além de reforçar a demonização da cultura negra como Históricos e Pentecostais já tinham feito, trouxeram novos pontos teológicos com fortes indícios de racismo através da doutrina da prosperidade, das maldições hereditárias e da batalha espiritual. Na doutrina da prosperidade se mede o crente abençoado por seus bens, onde de uma maneira simplista se faz um diagnóstico da situação do povo negro: “é pobre porque é pecador e é oriundo de um continente idólatra e praticante da bruxaria”.
Segundo as maldições hereditárias, o povo negro é considerado uma raça maldita. E para que o negro se livre desta maldição (aceitar Jesus não é suficiente) é necessário que ele faça uma espécie de cura interior se desvinculando de todos os seus antepassados, ou seja, não sendo mais negro. Qualquer relação que ele tenha com a sua cultura poderá trazer de volta as maldições. A Batalha Espiritual reforça a demonização do povo negro. Se olharmos cuidadosamente os livros que tratam do assunto — principalmente dos EUA, ver o livro Este Mundo Tenebroso, de Frank E. Peretti, Editora Vida — veremos que no exército de Deus são todos brancos e louros enquanto que no exército do diabo são todos pretos e negros.
É neste contexto que o Movimento Negro Evangélico tem ampliado cada vez mais sua organização e se fortalecido. Mesmo sem uma agenda única de luta, os grupos mais articulados vêm buscando construir essa agenda comum. Não é uma tarefa fácil porque esse movimento é formado por integrantes de diferentes igrejas evangélicas, desde as igrejas mais fundamentalistas às igrejas mais liberais. Vemos, por exemplo, em algumas iniciativas o objetivo único de evangelizar não tocando no racismo existente nas igrejas. Em outras, busca-se combater o racismo focalizado na sociedade mas não na igreja. E temos também as que se focalizam no combate ao racismo nas igrejas evangélicas e participam também da luta anti-racista na sociedade.
As principais reivindicações dos Negro Evangélico que aparecem na pauta das reuniões e seminários das organizações e grupos mais articulados são: combate ao racismo, políticas de ações afirmativas e reparações e superação da intolerância religiosa. Dentro do cenário evangélico, essa luta também tem as suas reivindicações especificas: reparações no sentido teológico e material, releitura bíblica, e políticas de ações afirmativas com cotas e bolsas de estudos para negros em colégios e universidades protestantes.
Diante de tantos desafios, o Negro Evangélico vem avançando, conquistando espaço e gerando impacto. Mesmo assim, as mudanças são lentas e os desafios são cada vez maiores. Podemos ver isso quando examinamos a sua atuação e situação dentro das igrejas:
- Pioneira, a igreja Metodista é a única denominação que tem um ministério de combate ao racismo. Também em 2005 foi criado o ministério de Ações Afirmativas para Afro-descendentes.
- A Igreja Evangélica de Confissão Luterana tem dado espaço ao Grupo Identidade (anteriormente Grupo de Negros e Negras) um grupo de estudantes de teologia da Escola Superior de Teologia, no Rio Grande do Sul.
- A Igreja Presbiteriana Unida, no seu trabalho de combate ao racismo, vem dando passos importantes através de seu Conselho Coordenador. Passou a ter como parte de seu calendário litúrgico anual o “Dia da Consciência Negra”, que é comemorado no país em 20 de novembro.
- A Comissão Ecumênica Nacional de Combate ao Racismo – CENACORA, vem articulando as Igrejas Históricas para a questão do racismo e negritude.
- E o Conselho Latino Americano de Igrejas - CLAI- Brasil criou a Pastoral da Negritude, incentivando a criação da mesma pastoral em nível continental.
- Alem desses trabalhos, existem atuações de grupos e pessoas dentro das denominações históricas não-ecumênicas como a Igreja Batista do Pinheiro, que criou uma Pastoral da Negritude para atuar na cidade de Maceió, Alagoas.
- Nas Igrejas Pentecostais, o trabalho de combate ao racismo e negritude não fazem parte da agenda de nenhuma das denominações desse seguimento; os trabalhos que existem vêm das bases, de membros e pastores.
- E nas Igrejas Neopentecostais, não existe nenhum trabalho focalizado no combate ao racismo e consciência negra; o que tem é o movimento black gospel.
A integração será certamente uma etapa importante para a consolidação do negro religiosos. É através dela que poderá ser criada uma agenda comum que esteja sintonizada com as massas negras evangélicas e não evangélicas. Não é uma tarefa fácil, os obstáculos são muitos e precisam ser vencidos. Uma coisa tenho certeza: o negro evangélico dentro do movimento.


Se vivemos em um estado democrático, onde impera a liberdade irrestrita de expressão estamos falando estritamente sobre o posicionamento social e religioso, a conduta e inclusive a crença do sujeito em questão.Todos nós precisamos aprender a cultura da tolerância ativa, que é a pedra angular da laicidade e direito de escolha. Não deveríamos utilizar nossos símbolos de identidade simbólica  religiosa como armas de negação de nossa  identidades cultural. Os países, inclusive os micro-países, são plurais e, portanto, países arco-íris. Devemos evitar as guerras de bandeiras. Expressemos nossos símbolos, vendo-os como complementares. Aprendamos a conviver na sociedade civil. Ninguém deveria pretender ter com exclusividade uma pátria ou monopolizar a cultura,religião escolha e pensamentos de um grupo de coletivo ou individual  de um país. Nos afro descendentes nas questões da luta contra o preconceito temos ou deveríamos ter uma bandeira unica.
Claudia Vitalino.
Um afro abraço.
UNEGRO 25 ANOS DE LUTA...
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!
fonte:Excerto do livro O Movimento Negro Evangélico – Um mover do Espírito. Selo Negritude Cristã, 2009/Wikipédia, a enciclopédia livre.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Turquia um país ‘Afro-EuroAsiático’

História e Política
Localizada em uma região estratégica, entre a Europa e a Ásia, a Turquia era uma espécie de encruzilhada para muitos povos da antiguidade. Em alguns períodos, a região fez parte de importantes rotas comerciais, sendo constantemente atravessada por caravanas que transportavam seda e especiarias da China. O nome Turquia significa “terra dos turcos”. Os chineses chamavam os povos que habitavam a Ásia Central de Tu-kin. Os bizantinos utilizavam o nome Tourkia para se referir à Hungria medieval.   A  Turquia conta com uma rica história. A região da Anatólia (Ásia Menor), hoje parte da Turquia, foi o lar de vários impérios da antiguidade, como Troia, Hitita, Persa, Grego, Romano e Bizantino. Após a chegada do islamismo à região, no século VII, o país foi dominado por impérios islâmicos como o Abássida*, o Seljúcida** e o Otomano.
A história do país é influenciada tanto pela Europa quanto por povos da Ásia, já que a região denominada de Anatólia localiza-se nesse continente. Constantinopla, cidade fundada pelo imperador Constantino, passou a ser a capital do Império Bizantino (Império Romano do Oriente), após a queda de Roma, em 476 d.C. Os bizantinos conquistaram os Bálcãs, a Anatólia e o norte da África. Mas com o advento do Islã, no século VII, os bizantinos encontraram nos árabes um adversário à altura, que já haviam conquistado a Pérsia e o Egito, ansiando por levar seu poderio e religião para as terras dominadas pelos bizantinos. Tal fato gerou diversas guerras entre os dois povos, entre os séculos VII e XV. O processo de adesão da Turquia ao espaço europeu está estagnado. Num encontro com embaixadores africanos naquele país, o sub-secretário do Ministério das Relações Exteriores da Turquia, BirnurFertekligil, revelou dados que apontam para um reposicionamento turco no continente negro.“Antes de mais gostaria de agradecer a todos vós por terdes aceite o meu convite e juntarem-se a nós neste evento de família que marca o fim do ano, que estou confiante que se tornará tradicional nos próximos anos”, começou por dizer o anfitrião.

“Por outro lado, sinto-me feliz por acolher entre nós, hoje, pela primeira vez, os embaixadores residentes e encarregados de negócios de Angola, Quénia, Djibuti, Níger, Sudão do Sul e Ghana, que têm enriquecido a parceria turco-africana, pela via da troca de embaixadas”, continuou. Na ocasião foi igualmente avançado que o Benin, a República do Congo e a Côte D’Ivoire serão os países africanos a abrir embaixadas em Ankara nos próximos meses, o que fará subir para 24 o número de representações diplomáticas africanas residentes em Ankara.
No lado turco, esta aproximação com África é recebida com satisfação. “Estamos confiantes de que Vossas Excelências irão explorar todas as oportunidades disponíveis para diversificar e aprofundar as nossas relações”, disse BirnurFertekligil.  O diplomata nota que “no final de cada ano temos a oportunidade de reflectir sobre o que temos feito ou o que deveriam ser os passos adicionais que podem ter de fazer melhor, em todos os âmbitos das nossas vidas”. África, definitivamente, entrou para as prioridades turcas, como se pode depreender das palavras do diplomata, ao dizer que: “No presente processo, posso manifestar com confiança que iremos desenvolver as nossas relações com África, com que temos laços históricos e culturais que continuarão a constituir uma das primeiras orientações da nossa política externa”, lembrou o diplomata.
A Igreja
A história da Igreja Cristã está intimamente ligada à da Turquia, que foi um dos berços do Cristianismo e onde existiram algumas das maiores igrejas do mundo antigo. Por volta do ano 47-49 d.C., o apóstolo Paulo viajou para Antioquia, a fim de pregar o evangelho e fundar as primeiras igrejas cristãs fora da Palestina (Judeia). Ali a mensagem de Paulo teve grande aceitação e foi onde pela primeira vez os seguidores de Jesus foram chamados de cristãos. As “sete igrejas da Ásia Menor” mencionadas no livro de Apocalipse (Eféso, Esmirna, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodiceia e Pérgamo) encontram-se no território da atual Turquia. Além disso, fica na Turquia a cidade de origem do apóstolo Paulo, Tarso.
Constantinopla (atual Istambul) se tornou, em 330 d.C., o centro da religião cristã, do Império Romano e mais tarde do Império Bizantino (Império Romano do Oriente). Em 380 d.C., o Cristianismo foi declarado a religião oficial do Império Romano, durante o reinado de Teodósio I. Após o surgimento do Islamismo na Arábia e sua expansão nos séculos VII e VIII, o cristianismo perdeu força na Turquia. Após a queda de Constantinopla para os Otomanos, no século XV (1453), e o fim do Império Bizantino, a Turquia se tornou definitivamente um país de maioria islâmica.   A comunidade cristã atual é formada por ortodoxos, na maioria, protestantes e um pequeno grupo de católicos. Há também comunidades de ex-muçulmanos, mas que se reúnem de forma discreta.  Afirmando que a Turquia pode ser vista como um estado “Afro-EuroAsiático”, reforçou que a abertura da “ nossa política à África não é o reflexo de uma expectativa política e económica periódica, ao contrário, é o produto de um processo com base histórica. É, sobretudo, a expressão e o resultado natural dos sentimentos fortes de amizade entre turcos e os povos africanos”.

População
O antigo Império Turco-Otomano sempre foi multiétnico, multilinguístico e multirreligioso (turcos, curdos, gregos, armênios, eslavos etc.). Hoje a maioria da população da Turquia é da etnia turca. Os curdos são uma importante minoria e correspondem a 20% dos habitantes.
Embora a Turquia seja constitucionalmente um Estado laico, o islamismo continua a dominar a cultura do país. A maioria dos muçulmanos turcos é de tradição sunita, embora haja xiitas no país.  Neste contexto, como se viu nos últimos anos, a abertura de embaixadas, visitas de alto nível, os acordos assinados, as consultas em diversos níveis, as visitas realizadas por empresários, os investimentos, as atividades de ONGs turcas no continente, o início dos voos da Turkish Airlines para vários destinos no continente, são tidas como ferramentas importantes para que esta parceria atinja o nível pretendido.

A Turquia contribuiu com 1 milhões de dólares para o Orçamento da Comissão da União Africana em 2012 e continuará a fazê-lo nos três anos subsequentes. “Queremos continuar a contribuir para a paz, a segurança e a estabilidade no continente. Por outro lado, continuamos a contribuir modestamente em 5 das 6 missões da ONU de manutenção da paz no continente”.
Um afro abraço
.UNEGRO 25 ANOS DE LUTA...
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!
fonte:www.exame./www.portasabertas.org.b

Denúncia de tráfico de mulheres ao Ligue 180 desbarata quadrilhas no Brasil e na Espanha...

  No período de sete meses, de junho de 2012 a janeiro deste ano, operações Palmera e Planeta, da Polícia Federal, resgataram cerca de 40 mulheres, entre brasileiras e estrangeiras exploradas sexualmente em Ibiza e Salamanca, na Espanha. Ligue 180 Internacional, da SPM, foi criado em novembro de 2011 e está disponível para Espanha, Itália e Portugal.Uma rápida ligação da filha explorada sexualmente, na Espanha, para sua mãe, em Salvador (BA). E a lembrança da mãe sobre as cenas da novela Salve Jorge foram suficientes para que ela percebesse que sua filha é uma das milhões de vítimas de tráfico de pessoas - 85% são mulheres.

A partir daí, se iniciou uma cadeia de fatos que começaram, em 30 de outubro de 2012, com a denúncia da mãe à Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR). Imediatamente o serviço acionou a Polícia Federal, que deu continuidade à investigação por meio de tomada de depoimento da mãe. Foi montada a Operação Planeta que tem cooperação com a Embaixada do Brasil em Madri e o Cuerpo Nacional de Polícia. Desde a última quarta-feira (30/01), as polícias do Brasil e da Espanha fazem prisões, nos dois países, e prestam apoio às vítimas.

Em sete meses, as operações Palmera e Planeta, da Polícia Federal, resgataram cerca de 40 pessoas, entre brasileiras e estrangeiras exploradas sexualmente. Tiveram apoio do Ministério das Relações Exteriores.

Para a ministra Eleonora Menicucci, da SPM, o Ligue 180 Internacional está salvando vidas de mulheres no Brasil e no exterior. “São mais de três milhões de atendimentos desde 2006. Esse é um dos resultados dos dez anos de trabalho da SPM, que culmina com a consolidação de parcerias estabelecidas pelo Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Hoje, temos uma rede forte de parceiros nos principais circuitos de tráfico e exploração sexual no exterior – Espanha, Itália e Portugal -, com a segurança pública e o sistema de justiça para enfrentar a impunidade e prender criminosos”, afirma a ministra Eleonora Menicucci.

Ela frisa que a população faz bom uso do serviço, fornecendo informações precisas que ajudam o trabalho da polícia e a localização das pessoas, como verificado nas duas operações – Palmera e Planeta, em junho de 2012 e janeiro de 2013, respectivamente, da Polícia Federal. Ambas tiveram como destino final a Espanha, com o fechamento de estabelecimentos de exploração sexual, em Ibiza e em Salamanca, e resgate das vítimas.

“Podemos dizer que o Brasil tem inteligência, estratégia e capacidade de articulação para enfrentar o crescente tráfico de pessoas, em que as mulheres são alvo principal. A SPM tem orgulho de dizer que o Ligue 180 faz parte dessa rede”, avalia a ministra Eleonora.

Ibiza, junho de 2012 – Uma organização criminosa de aliciadores foi presa em 24 de junho, em Ibiza, numa cooperação entre a Polícia Eivissa (Espanha) e Polícia Federal do Brasil. A investigação se iniciou após registro de denúncia no Ligue 180, da SPM, no início daquele mês. 

De acordo com a Unidade de Repressão ao Tráfico de Pessoas da Polícia Federal do Brasil, na Espanha, foram presas sete pessoas, em sua maioria brasileiros e membros da mesma família. A “Operación Palmera” resultou na prisão da brasileira M.L.F.L., de 52 anos e do cidadão alemão H.G.L., de 70 anos, bem como do filho do casal W.F.L. de 32 anos e a esposa deste. Foram detidas, ainda, três brasileiras que exerciam funções de “encarregadas do negócio”. 

Foram encontradas 28 mulheres de diferentes nacionalidades que viviam confinadas em pequenos quartos superlotados. Os serviços sexuais eram oferecidos aos clientes 24 horas por dia, ficando a organização com 50% do valor cobrado por programa. Segundo a Polícia Federal, elas eram controladas pela organização criminosa por meio de câmeras instaladas por todo o estabelecimento.

Salamanca, janeiro de 2013 - As brasileiras recebiam passagens aéreas, 100 euros para despesas e seguiam para a Europa. Lá, se viam obrigadas a trabalhar como prostitutas e descobriam que haviam contraído uma dívida de 4 mil euros. De acordo com a Polícia Federal, as mulheres faziam programas ao custo de 40 euros cada. Elas eram frequentemente transferidas para outras casas noturnas, para que não estabelecessem vínculos de amizade suficientes para ajudá-las a escapar. 

Na Espanha, as prisões e o fechamento de dois estabelecimentos de exploração sexual, além do resgate das vítimas, foram feitos em cooperação pela Polícia Federal e pelo Cuerpo Nacional de Polícia. A operação tem apoio da Embaixada do Brasil em Madri.

Acesso ao Ligue 180 – As mulheres em situação de violência na Espanha devem ligar para 900 990 055, discar a opção 1 e, em seguida, informar a atendente (em Português) o número 61-3799.0180. 

Em Portugal, devem ligar para 800 800 550, também discar a opção 1 e informar o número 61-3799.0180. E, na Itália, as brasileiras podem ligar para o 800 172 211, fazer a opção 1 e, depois, informar o número 61-3799.0180. 

O serviço do Ligue 180 no exterior conta com a parceria do Ministério da Justiça e suporte de embaixadas do Brasil.
Assessoria de Comunicação Social
Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM
Presidência da República – PR

Um afro abraço.
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fonte:http://www.unegro.org.br

Favelas as grandes vítimas do coronavírus no Brasil

O Coronavírus persiste e dados científicos se tornam disponíveis para a população, temos observado que a pandemia evidencia como as desigual...