Dos negros trazidos para o Brasil e feitos escravos, restou sua cultura que orgulha não somente as pessoas que são definidas como descendentes afro-brasileiro, mas a todos os que vivem neste país. São tradições, costumes, fatos e mais uma infinidade de coisas que se transmitem de forma duradoura por várias gerações.
Conclui-se que os estudos nas escolas do Brasil se apresentam pouco generosos com relação a trajetória dos negros em nosso país. Não exatamente por omissão,mas pela ausência da conscientização de que o negro foi importante para o Brasil,de que sua cultura deve ser preservada e conhecida, além de que a cultura afro brasileira é a de todos os que vivem neste país. Vive-se num país aparentemente sem preconceitos raciais.
Vibra-se com gols de jogadores negros, com músicas que embalam os momentos inesquecíveis, mas ainda se convive com um preconceito retido no fundo das almas. Seja no tratamento, seja nos espetáculos televisivos ou teatrais, no ambiente de trabalho, sente-se que os espaços ainda não estão devidamente preenchidos por esta parcela tão sofrida da sociedade.Objetivou-se no presente estudo mostrar aos alunos um pouco mais da história do negro no Brasil, sua trajetória, sua vida em nosso país, sua cultura, seus momentos de amargura que não raras vezes se transformavam em danças, músicas e momentos em que esqueciam o sofrimento do dia a dia. Teve-se ainda a intenção de conscientizar sobre o preconceito que existe em nossos dias. Ele está contido nas frases, nas ações, nos espetáculos, ou seja, em tudo que influenciam a mídia. Considera-se ser preciso arrancar as raízes que existem as pessoas que orgulham de ser preconceituosas e não compreendem o negro como um irmão que está do lado com repeito as diferenças.
Tradições:
Nosso povo adotou essas culturas em sua bagagem cultural, na música, na religião, no modo de falar. Pode-se definir, em nível de Brasil, que a cultura que cerca seus habitantes é uma herança social provinda dos portugueses, italianos, espanhóis, índios e negros. Sobretudo os últimos deixaram sua cultura evidente principalmente considerando sua trajetória pelo Brasil, sua história carregada de sofrimentos e preconceitos que se perpetuam,ao lado da cultura, até os dias de hoje. A história do negro no Brasil, contada nas
escolas, em sua maioria, vale-se de descrever o período da escravidão e os horrores do caminho percorrido, e menciona superficialmente a cultura afro-brasileira e a tradição negra.
A CULTURA E AS RELIGIÕES DOS ESCRAVOS NAS SENZALAS E QUILOMBOS:
Os africanos, apesar dos percalços da vida escrava, dos maus tratos, jamais abandonaram seus costumes e sua religião. Não obstante o trabalho estafante, o pequeno ciclo de vida, o escravo teve seus momentos de diversão. Organizavam suas festas, os adornos no corpo e esquecendo temporariamente seus desencantos com a sorte, em festas, lembravam suas origens. Uma das mais típicas e interessantes era a do Rei do Congo, também conhecida por Congada, festa ao mesmo tempo profana e religiosa. Na sua música, os sons e as expressões eram carregados de sofrimento e faziam um curioso contraste com os raros momentos de alegria. A língua de origem sobressaia no canto. Com autorização dos senhores, os escravos organizavam pequenos desfiles em torno da casa grande, dançando e cantando. A Congada tinha um rei, eleitos pelos companheiros, uma rainha, os príncipes, os fidalgos e os embaixadores. Sobre a cultura dos escravos sabe-se que a arte de cantar e dançar fez parte de sua alma sofrida. Outra dança muito apreciada era o batuque, batidas de tambores e demais primitivos instrumentos de percussão que acompanhavam as danças.
“Um bambolear sereno do corpo, acompanhado de um pequeno movimento dos pés, da cabeça e dos braços” (MACEDO apud ALMEIDA, 1974, p. 62).
Os africanos mulçumanos:
Os africanos mulçumanos destinaram-se, em especial, à Bahia. Passaram a ser conhecidos por malês que quer dizer mulçumano. Estes valorizavam os amuletos, patuás e bolsas de mandingas. Os amuletos, desde a África, eram talismãs que protegiam os africanos de guerras e qualquer tipo de mal que poderia lhe acontecer. Havia ainda os curandeiros que praticavam o calundu. Esses tinham grande influência na comunidade, considerados líderes religiosos. Possuíam conhecimento de “técnicas medicinais”. Estas nada mais eram do que ervas, frutos e produtos naturais encontrados facilmente nas regiões. Os curandeiros eram
considerados feiticeiros ou bruxos, mas com grande força diante de doenças que eram consideradas incuráveis. No entanto, não foram apenas as religiões de origem africana que ajudaram a construir identidades. Aos escravos foi ensinado o catolicismo, como obrigação dos senhores para compor novas comunidades negras com devoção a algum santo. Os principais santos de devoção das irmandades de negros eram Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito. Além do culto aos santos, os escravos começaram a valorizar os irmãos mortos, as missas em favor de suas almas, e amparavam as famílias desconsoladas. Lentamente os negros se incorporaram ao mundo católico, passando a crer que eram possuidores de almas. No inicio a religião católica foi imposta aos escravos como religião oficial e obrigatória. Anos mais tarde com finalidade de atrair os negros livres para a religião católica, foram canonizados alguns santos negros e foram incorporadas manifestações culturais de origem africana aos rituais católicos.
Segundo Souza (2008, p.39)
“Outro sinal de que o catolicismo muitas vezes passou a fazer parte da intimidade e da vida cotidiana de africanos no Brasil são algumas imagens de santos católicos, esculpidas em madeiras e às vezes em osso.”
A mestiçagem foi um processo natural, dificilmente tolerada pela maioria das épocas passadas e pouco pacifica. Iniciou-se com a submissão das negras escravas diante de seus donos brancos que eram proprietários, não somente das terras, mas dos corpos das escravas que lhe interessavam. Vendo dessa maneira tem-se conhecimento de que a mestiçagem não foi um fato programado e sim uma imposição do dono diante da mercadoria disponível. Procede-se assim a construção lenta do mestiço. Havia casos em que filhos mulatos, resultado do cruzamento do senhor com a escrava, eram alforriados,aprendiam algum oficio, mas não herdavam terras, pois elas estariam disponíveis apenas aos filhos legítimos e brancos.
(SOUZA. 2008, p. 129)
[...] Assim, quando falamos em mestiçagem do povo brasileiro, estamos nos referindo basicamente às misturas entre africanos e os povos que eles encontraram aqui, principalmente portugueses e indígenas. Foi essa mestiçagem que, apesar de atormentar as elites brasileiras que tentaram diluídas com outras misturas, se impôs como conseqüência da importação de cerca de 5 milhões de africanos ao longo de mais de trezentos anos.
OS COSTUMES E A CULTURA PÓS- LIBERDADE...
Toda a história do Brasil que se conhece, com raras exceções, ainda não aprofundou na trajetória da raça negra em nosso país. A decantada abolição da escravatura não conseguiu livras os negros da discriminação racial e suas conseqüências, tais como, a exclusão e a miséria. A discriminação de aspectos cruéis e efeitos inimagináveis emergiu após treze de maio. A opressão continuou durante várias décadas.O abandono intelectual e econômico aos negros recém libertados foi um ponto crucial para o aparecimento das favelas, da subcultura, da pobreza trazendo a eles o desencanto com a liberdade. As inquietações com relação às senzalas se perpetuaram no que se refere a favelas. Como traduz a frase contida no samba enredo da Mangueira de 1988: “Livre do açoite da senzala, preso na miséria da favela.”
(Silva, 1988)
[...] As dificuldades da após-Abolição, com a grande massa de libertos sem ter o que fazer, entregues à própria sorte, não foram cogitadas no momento devido e tiveram como resultado a desorganização geral que se verificou depois, prejudicando fundamentalmente a vida nacional.(LUNA, 1968, p.203)
A abolição foi decretada no Brasil sem que se preparasse para ela. As conseqüências foram inevitáveis. Os resultados decepcionaram os que lutavam para que ela se concretizasse. Mesmo os abolicionistas já não acreditavam no sucesso daquele ato. A Lei não previa nada que trouxesse aos escravos libertos, uma garantia que lhes garantisse algum direito adicional. Muitos negros continuaram na condição de escravos, não por deixar de entender a situação em que se encontravam, mas por falta de opção.Novamente percebe-se que a abolição não livrou totalmente os negros, pois se acreditava que o Brasil só atingiria o nível das nações desenvolvidas se eliminasse o lado africano do país. Restava, aos ex-escravos, poucas opções de sobrevivência. Deparava-se com o desemprego, a fome, as dificuldades e com uma rotina que havia melhorado sua vida, mas não como sonhavam. O ex-escravo que trabalhava no campo muitas vezes preferiu permanecer nas áreas rurais, ocupando pequenos pedaços de terra, geralmente em
sistema de parceria nos quais cedia parte de sua produção ao dono da terra que cultivava. Mas ao longo do século XX, e principalmente a partir da década de 1930, a migração de negros e seus descendentes rumo ás cidades cresceu cada vez mais. Eles geralmente desempenhavam as funções mais subalternas, uma vez que só alguns poucos afro-brasileiros conseguiam se educar, prosperar nos negócios e ascender oficialmente.
Depois das Leis e consequentemente da liberdade dos escravos ficaram as histórias desse tempo, que apesar do esforço dos historiadores, há os que digam que esta não foi contada com devida crueza. Hoje a maioria que passam pelas escolas tem a escravidão como um fato vago e em termos suavizados; o herói Zumbi, o senhor desalmado e insensível, a sinhazinha bondosa que freqüentava a senzala. A realidade foi outra, mais obscura, mais difícil de digerir. Observa-se que a impiedade, humilhação e o sangue derramado foram muito além do que contém os livros. As dificuldades transmitidas pelos ex-escravos errantes pelas ruas, sedentos e esfomeados, também fazem parte de sua amarga trajetória. No entanto, a originalidade em tentar esquecer a história e suas partes degradantes, não é só de brasileiros. Os próprios africanos não gostam de se lembrar que venderam seu povo para ser escravizado.Mas ficaram suas tradições, seus mitos, sua cultura, para mostrar aos brasileiros que também houve breves momentos de alegria, de afeto, de religiosidade, de relembrar a terra distante para qual jamais voltariam. Foi um ciclo da história que se completou. Ficou a cultura que os negros deixaram, não apenas aos seus descendentes afro, mas a todos que admitem que sua história tem que ser contada seja ela, amarga ou não.
HOJE...
Existe um questionamento frequente sobre o preconceito contra os negros no mundo. Em especial, no Brasil constata-se que, por ter sido seu trabalho a força motriz que impulsionou o progresso das classes ominantes séculos atrás, foi o que deu a eles esta situação de desigualdade diante dos brancos. As disparidades são evidentes no aspecto social e aliadas a esta desproporcionalidade convive-se com o preconceito.Nas novelas e filmes ainda causa espanto uma atriz branca viver um papel em que mantém um relacionamento mais intimo com um ator negro. Certa vez, Oda Gonçalves, esposa do ator Milton Gonçalves que é de descendência afro, disse, em tom de desabafo, que gostaria de ver seu marido não se limitar a papéis de escravos ou bandido, mas sim beijando alguma atriz loura das novela da oito. Os papéis desempenhados pelos negros nas novelas, na maioria das vezes são de bandidos ou de empregados em funções humildes.
[...] Em nosso país, apesar de todos se dizerem avessos ao racismo, não há quem não conheça cenas de discriminação ou não saiba uma boa piada sobre o tema. Ainda hoje o trabalho manual é considera aviltante e a hierarquia social reproduz uma divisão que data da época do cativeiro. Com naturalidade absorvemos a idéia de um elevador de serviço ou de lugares que se transformam em verdadeiros guetos raciais. É por isso que não basta condenar a história, ou encontrar heróis delimitados. Zumbi existe em cada um de nós. É passado e é presente.
(MOURA. 1996. P.30)
Um afro abraço.
UNEGRO 25 ANOS DE LUTA...
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!
fonte:ARAUJO, Emanoel. Viva Cultura, Viva o Povo Brasileiro. Museu Nacional: São Paulo, 2007.
BORGES, Antonio José. Compêndio de História do Brasil.. Nacional: São Paulo,1972.BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História Cultura Afro-Brasileira e Africana.Brasília, 2005.LUNA, Luiz. O Negro na luta contra a escravidão.. Leitura: Rio de Janeiro, 1968.MACEDO, Sérgio D. T. Crônica do Negro no Brasil. Record: Rio de Janeiro,MATTOS, Regiane A. História e cultura afro-brasileira. Contexto: São Paulo, 2007.MOURA, Glória. Navio Negreiro-Batuque no Quilombo. CNNCT. São Paulo, 1996.RESENDE, Maria Efigênia L. História Fundamental do Brasil . Álvares: Belo Horizonte, 1971.SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil Africano. Ática: São Paulo: 2008.TOLEDO, Roberto P. À Sombra da Escravidão. Veja. São Paulo. p. 52-64, mai.1996