UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

domingo, 24 de julho de 2016

Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha

A temática da mulher negra, pesquisas realizadas nos últimos anos demonstram a gravidade da situação enfrentada: a mulher negra apresenta o menor nível de escolaridade, trabalha
mais, porém com rendimento mínimo, em condições precárias e de informalidade; e as poucas que conseguem romper as barreiras do preconceito e da discriminação racial e ascender socialmente necessitam se empenhar mais e abdicar de outros aspectos de suas vidas, como lazer, relacionamento, maternidade.

Esta realidade, que manifesta resquícios do período de escravidão, tem sido transformada através da luta e da organização das mulheres negras na América Latina e no Caribe. Apesar de ainda em desvantagem, mais mulheres e, mais mulheres negras estão se inserindo na universidade e no mercado de trabalho, estão conquistando espaços importantes na economia, na sociedade, na política. Essas mulheres estão lutando para transformar a realidade, superar as desigualdades e construir uma nova cultura na sociedade, de combate à opressão de gênero e ao racismo.Apesar de corresponder a 53% dos brasileiros, a população negra ainda luta para eliminar desigualdades e discriminações. São cerca de 97 milhões de pessoas e, mesmo sendo a maioria, está sub-representada no Legislativo, Executivo, Judiciário, na mídia e em outras esferas. Em se tratando do gênero, o abismo é ainda maior. Apesar da baixa representatividade de Mulheres Negras na política e em cargos de Poder e de decisão, cada ascensão deve ser comemorada como reconhecimento.

Feminismo Negro – A partir de 1992, em Santo Domingo, na República Dominicana, com a realização do 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, criação da
Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e a definição do 25 de julho como Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha. A data – A Lei nº 12.987/2014, foi sancionado pela presidenta Dilma Rousseff, como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela foi uma líder quilombola, viveu durante o século 18. Com a morte do companheiro, Tereza se tornou a rainha do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças de Luiz Pinto de Souza Coutinho e a população (79 negros e 30 índios), morta ou aprisionada.


"A data objetiva ser um polo de aglutinação internacional da resistência das negras à cidadania de segunda categoria na região em que vivem, sob a égide das opressões de gênero e étnico-raciais, e assim “ampliar e fortalecer as organizações e a identidade das mulheres negras, construindo estratégias para o enfrentamento do racismo e do sexismo”.
A Marcha da Mulheres Negra no Brasil foi um marco e reuniu mais de 20 mil em Brasília...

“Nós, mulheres negras do Brasil, irmanadas com as mulheres do mundo afetadas pelo racismo, sexismo, lesbofobia, transfobia e outras formas de discriminação, estamos em marcha. Inspiradas em nossa ancestralidade somos portadoras de um legado que afirma um novo pacto civilizatório.”
Abaixo, da convocação da Marcha 2015... Reunimos mulheres negras, respeitando suas especificidades e diversidade em torno

de uma pauta comum. Despidas de nossas correntes ideológicas; superando as diferenças geracionais, religiosas, partidárias, o que sobra? Sobra o que somos essencialmente. Antes de tudo: mulheres negras.

– O racismo, o machismo, a pobreza, com a desigualdade social e econômica, tem prejudicado nossa vida, rebaixando a nossa auto-estima coletiva e nossa própria sobrevivência;

– O fortalecimento da identidade negra tem sido prejudicado ao longo dos séculos pela construção negativa da imagem da pessoa negra, especialmente da mulher negra, desde a estética (cabelo, corpo, etc.) até ao papel social desenvolvido pelas mulheres negras;

– As mulheres negras continuam recebendo os menores salários e são as que mais têm dificuldade para entrar no mundo do trabalho;

– A construção do papel social das mulheres negras é sempre pensada na perspectiva da dependência, da inferioridade e da subalternização, dificultando que nós possamos assumir

espaços de poder, de gerência e de decisão, quer seja no mercado de trabalho, quer seja no campo da representação política e social;

– As mulheres negras sustentam o grupo familiar desempenhando tarefas informais, que as levam a trabalhar em duplas e triplas jornadas de trabalho;

– Ainda não temos os nossos direitos humanos (direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais) plenamente respeitados.

Se liga: De acordo com o Mapa da Violência 2015, o assassinato de negras aumentou 54%, enquanto o de mulheres brancas diminuiu 10% na última década.
- Em um ano, morreram assassinadas 66,7% mais mulheres negras do que brancas no Brasil.
55,3% da violência contra mulheres ocorreu em casa, pela mão de companheiros, sendo que mulheres negras têm três vezes mais chance de sofrer feminicídio do que mulheres brancas.

- Mulheres negras também têm três vezes mais chance de serem estupradas do que mulheres brancas.

- A investigação policial no caso de assassinatos de mulheres negras é muito mais morosa, com muito mais casos sem solução ou sentença judicial sobre a morte.

- Enquanto mulheres brancas ainda ganham salários 30% menores que homens brancos, o salário de mulheres negras é ainda pior: 47,8% menor do que de homens brancos.
De 513 deputados federais na Câmara, apenas três são mulheres negras.

2016 por isso continuaremos marchando...

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.
fonte:Mulheres da UNEGRO/FNMN

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Neste dia do amigo:Carta da Liberdade..

A Carta da Liberdade é um documento fundamental da causa antiapartheid na África do Sul aprovado pela Aliança do Congresso, com a participação de Nelson Mandela.

O texto foi elaborado em meados da década de 1950, e aprovado pelo Congresso do Povo reunido em Kliptown (Soweto, em 26 de Junho de 1955.
A Carta defendia igualdade de direitos para todos os cidadãos sul-africanos, independente de sua etnia, e ainda a reforma agrária, melhoria das condições de vida e trabalho, justa distribuição de renda, obrigatoriedade do ensino público e leis efetivamente justas; foi instrumento importante na luta contra o apartheid.

Segue tradução da carta:
" NÓS, O POVO DA ÁFRICA DO SUL, PARA DECLARAR TODO O NOSSO PAÍS E DO MUNDO A SABER:  - Que a África do Sul pertence a todos os que nela vivem, negros e brancos, e que nenhum governo pode afirmar autoridade a menos que se baseia na vontade de todos os povos; - Que nosso povo tem roubado de sua terra de nascença, a liberdade ea paz, uma forma de governo fundado na injustiça e da desigualdade; - Que o nosso país nunca será próspero e livre até que todo o nosso povo viver em fraternidade, que gozam de direitos e oportunidades iguais; - Que somente um estado democrático, baseado na vontade de todos os povos, pode garantir a todos o seu direito de primogenitura, sem distinção de cor, raça, sexo ou crença; - E, portanto, nós, o povo da África do Sul, negros e brancos juntos iguais, compatriotas e irmãos adoptar esta Carta da Liberdade; - E nós nos comprometemos a lutar em conjunto, poupando nem a força nem coragem, até que as mudanças democráticas aqui estabelecidas forem ganhas.

O POVO GOVERNARÁ! - Cada homem e cada mulher tem o direito de voto e de elegibilidade de todos os órgãos que fazem as leis; Todas as pessoas têm o direito de tomar parte na administração do país; - Os direitos do povo será a mesma, independentemente de raça, cor ou sexo; - Todos os órgãos de governo minoritário, conselhos consultivos, conselhos e entidades devem ser substituídos por órgãos democráticos de auto-governo.

TODOS OS GRUPOS NACIONAIS TÊM IGUALDADE DE DIREITOS!- Não haverá estatuto de igualdade nos órgãos do Estado, nos tribunais e nas escolas de todos os grupos
nacionais e raças; - Todos os povos têm igual direito de utilizar suas próprias línguas, e desenvolver a sua própria cultura popular e costumes; - Todos os grupos nacionais devem ser protegidos por lei contra os insultos à sua raça e orgulho nacional; - A pregação ea prática
da corrida nacional, ou a discriminação de cor e desprezo deve ser um crime punível; Todas as leis do apartheid e práticas deve ser anulado.

O POVO DEVE COMPARTILHAR DA RIQUEZA DO PAÍS! - A riqueza nacional do nosso país, a herança dos sul-africanos, devem ser restauradas para o povo; - A riqueza mineral sob o solo, os bancos e o monopólio da indústria devem ser transferidos para a propriedade do povo como um todo; - Toda a indústria e comércio deverão ser controlados para ajudar o bem-estar do povo; - Todas as pessoas devem ter direitos iguais ao comércio onde escolher, para a fabricação e entrar todos os ofícios, ofícios e profissões.

A TERRA DEVE SER COMPARTILHADA COM AQUELES QUE TRABALHAM NELA!  - Restrições da propriedade da terra em uma base racial devem ser eliminadas e toda a terra deve ser dividida entre aqueles que trabalham para banir a fome e a fome de terra; - O Estado deve ajudar os camponeses com implementos, sementes, tratores e represas para salvar o solo e ajudar os perfilhos; - Liberdade de circulação deve ser garantida a todos os que trabalham na terra; - Todos têm o direito de ocupar a terra onde venham a escolher; - As pessoas não devem ser privadas de seu gado e os trabalhos forçados e prisões agrícolas devem ser abolidas.

TODOS SÃO IGUAIS PERANTE A LEI!  - Ninguém pode ser preso, deportado ou restrito, sem um julgamento justo; - Ninguém pode ser condenado por ordem de um funcionário do Governo; - Os tribunais devem ser representativos de todo o povo; - Prisão
deve ser apenas para crimes graves contra as pessoas e deve visar à reeducação, não vingança; - A polícia e o exército deverão ser abertos à todos em igualdade de condições e devem ser os ajudantes e protetores do povo; - Todas as leis que discriminam por motivos de raça, cor ou crença devem ser revogadas.

TODOS GOZAM DE IGUALDADE DE DIREITOS HUMANOS!- A lei garante a todos o seu direito de falar, de organizar, se reunir, a publicar, para pregar, para adorar e para educar os seus filhos; - A privacidade da casa das batidas policiais são protegidos por lei; - Todos devem ter a liberdade de viajar, sem restrição do campo para a cidade e de província para província, e da África do Sul no exterior; - As leis de passe, licenças e todas as outras leis restringindo as liberdades devem ser abolidos.

HAVERÁ TRABALHO E SEGURANÇA! - Todos os que trabalham devem ter a liberdade de formar sindicatos, para eleger os seus oficiais e de fazer acordos salariais com os empregadores; - O Estado reconhece o direito e o dever de todos para o trabalho e deve elaborar prestações de desemprego total; - Homens e mulheres de todas as raças devem receber salário igual para trabalho igual; - Haverá quarenta horas semanais de trabalho, um salário mínimo, férias anuais remuneradas, licença por doença e para todos os trabalhadores, e licença de maternidade na remuneração total para todas as mães que trabalham; - Os mineiros, trabalhadores domésticos, trabalhadores rurais e funcionários públicos devem ter os mesmos direitos que todos os outros que trabalham; - O trabalho infantil, trabalho composto, o sistema de tot e contrato de trabalho devem ser abolidos.

AS PORTAS PARA A CULTURA E O APRENDIZADO DEVEM SER ABERTAS!
- O governo deve descobrir, desenvolver e incentivar o talento nacional para o reforço da nossa vida cultural; - Todos os tesouros culturais da humanidade serão aberto a todos, por livre troca de livros, idéias e contato com outras terras; - O objetivo da educação é ensinar os
jovens a amar seu povo e sua cultura, de honrar a fraternidade humana,da liberdade e da paz; - A educação deve ser gratuita, obrigatória, universal e igual para todas as crianças, ensino superior e formação técnica, serão abertos a todos por meio de subsídios estatais e bolsas concedidas com base no mérito; - O Analfabetismo adulto deve ser eliminado por um plano de ensino de massa pelo Estado; - Os professores devem ter todos os direitos dos outros cidadãos; - A distinção de cores na vida cultural, no desporto e na educação deve ser abolida.

HAVERÁ CASAS, SEGURANÇA E CONFORTO! - Todas as pessoas devem ter o direito de viver onde escolher, dispor de moradia digna, e para trazer sua família com conforto e segurança; - Espaço de habitação não utilizada deve ser colocado à disposição do povo; Taxas e preços devem ser reduzidos, a comida abundante e ninguém deverá passar fome; - Um sistema de saúde preventiva deve ser executado pelo Estado; - Assistência médica gratuita e de hospitalização deve ser fornecida para todos, com atenção especial para as mães e crianças jovens; - Favelas devem ser demolidas, e os subúrbios reconstruídos no local onde todos têm transporte, estradas, iluminação, campos de jogos, creches e centros sociais; - Os idosos, os órfãos, os deficientes e os doentes devem ser tratados pelo Estado; - Descanso, lazer e recreação são direitos de todos; - Guetos e locais cercados serão eliminadas, e as leis que quebram as famílias devem ser revogadas.

HAVERÁ PAZ E AMIZADE!  - A África do Sul será um Estado totalmente independente, que respeita os direitos e a soberania de todas as nações; - A África do Sul deve se esforçar para manter a paz no mundo e à resolução de todos os conflitos internacionais pela via da negociação - a guerra não; - Paz e amizade entre todos os nossos povos serão garantidos por defender a igualdade de direitos, oportunidades e qualidade de todos; - O povo dos protetorados Basutoland, Bechuanaland Suazilândia estarão livres para decidir por si seu próprio futuro; - O direito de todos os povos da África para a independência e auto-governo deve ser reconhecido e será a base de uma cooperação estreita.

Deixe todas as pessoas que amam o seu povo e o seu país agora dizer, como dizemos aqui: POR ESTAS LIBERDADES NÓS LUTAREMOS, LADO A LADO, AO
LONGO DE NOSSAS VIDAS, ATÉ QUE NÓS GANHAMOS NOSSA LIBERDADE ! "

Um afro abraço, lutando por um pais mais justo!!!
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!

Claudia Vitalino.
fonte:MANDELA, Nelson. Long walk to freedom. Londres, Penguin Group, 2007/fontos net

terça-feira, 19 de julho de 2016

O racismo nas redes sociais e defende que o discurso do ódio é a base da " desigualdade" no Brasil

As redes sociais são um reflexo do mundo off-line  que milhares pessoas usam como uma
pseudo liberdade de expressão  para destilar todo o discurso de ódio e as violações de direitos humanos que acontecem nas redes digitais são originárias das assimetrias sociais e da legitimação da desigualdade que é algo naturalizado na sociedade. O racismo, por exemplo, é um sistema de opressão institucionalizado no Brasil. Podemos identificar isso nas relações interpessoais, na forma como o Estado trata os cidadãos afro-brasileiros e, sobretudo, na economia. Quando alguém usa a Internet para cometer um ato de racismo, ela apenas sente-se mais confortável ao usar o anonimato e por ter o sentimento de impunidade, já que há muitos casos diariamente que não são resolvidos...

Não há como separar o racismo cometido nas redes digitais do sistema de opressão racial que existe no Brasil fora do mundo virtual. Não é à toa que vivemos num ambiente de extrema violência onde milhares de jovens, em sua maioria negros, são assassinados todos os anos. Nas redes digitais, as consequências do racismo são, em geral, de caráter psicológico. Já nas ruas as consequências são físicas e não raramente geram morte, sejam cometidas por grupos extremistas ou pelo braço armado do Estado.
"somos um dos países mais racistas do mundo, tanto se olharmos os números de denúncias, como no racismo institucionalizado das polícias, no serviço médico, na mídia, no mundo corporativo"

Vários estudos indicam um aumento de discursos de ódio canalizados através das redes sociais. Quais seriam as causas?


Há uma sensação de que existe um aumento do ódio na Internet. De fato, o número de
denúncias e reportagens sobre esse assunto só cresce. Mas se analisarmos friamente, vamos perceber que, na verdade, as redes sociais aumentaram o poder de comunicação dos cidadãos, amplificando discursos, por isso achamos que há mais violações, mas, de fato, elas sempre estiveram presentes em nossa sociedade, pois o discurso do ódio é a base da nossa abissal desigualdade. Mas, sem dúvida, esses discursos vêm tomando uma grande proporção nos últimos tempos. Funciona assim: se antes uma pessoa racista fazia um comentário em seu círculo social, isso ficava ali, até que alguém eventualmente o denunciasse...

Injúria- O crime de injúria está previsto no artigo 140 do Código Penal e consiste em ofender a dignidade ou o decoro de alguém “na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia,
religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”.

A pena pode chegar a três anos de reclusão. Se o promotor entender que houve racismo, os acusados podem responder pelos crimes previstos na Lei 7.716, de 1989. Há várias penas possíveis para racismo, entre elas prisão e multa. O crime de racismo não prescreve e também não tem direito à fiança.

Se liga
:Os momentos de crise política sempre elevam as tensões sociais e acirram o radicalismo. Não há dúvida que isso tem influenciado o aumento dos casos de racismo nas
redes sociais. Apesar da questão político-partidária não ser o foco de nossa pesquisa, percebemos isso ao vermos alguns números recentes. Casos de xenofobia, racismo e

intolerância religiosa, que já são bastante elevados no Brasil, terminam sendo ampliados em um contexto onde há uma crise de representatividade, de liderança e aumento de uma retórica nociva e polarizada. As tensões históricas e a extrema desigualdade brasileira são elementos fundamentais para compreender o momento atual.

 Marcus Garvey disse :“um povo que não conhece sua história é como uma árvore sem raiz“

 É preciso fortalecer as contra-narrativas ao discurso de ódio, apresentando fatos históricos importantes, além da valorização estética e cultural dos afro-brasileiros, e em especial das mulheres negras que são o alvo principal dessas agressões. Não podemos perpetuar a ideia de que a cultura negra começou há 500 anos com a escravidão. Isso é muito limitador, parcial e abre caminho para aberrações como essas.

Finalizando:A neutralidade da rede e o anonimato devem ser preservados, pois garantem outros direitos. A questão não é mudar a essência da rede, mas garantir que as pessoas sejam responsabilizadas por seus atos de maneira rápida e justa. Deve-se estimular uma maior participação cidadã nas redes, uma revisão dos procedimentos no caso de crimes digitais e o fortalecimento das instituições que combatem o racismo. A Internet nasceu livre, aberta, democrática e descentralizada. E assim deve permanecer.

Um afro abraço,

Claudia Vitalino.

fonte:www.pragmatismopolitico.com.br/brasil.elpais.com

sábado, 16 de julho de 2016

Ainda á falta de formação e informação dificultam educação de temas étnicos raciais nas escolas...

No Brasil, o racismo é uma temática que precisa ser discutida constantemente no âmbito educacional
e outros setores da sociedade, isto porque se trata de uma prática que, de certa forma, é camuflada no país como se fosse algo presente apenas no imaginário de alguns indivíduos vítimas deste e não um fato consumado que é visto na realidade cotidiana.

Apreender a percepção de professores quanto o racismo na escola e suas principais consequências no processo ensino-aprendizado. Métodos: estudo qualitativo, realizado em um colégio Estadual, com 16 professores de ensino fundamental e médio. A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário semi-estruturado, e para a análise optou-se pela técnica de Análise de Conteúdo. Resultados: verificou-se que as manifestações de racismo na escola em estudo, em sua maioria foi evidenciada por meio de agressões verbais, principalmente direcionada à alunos negros e nem sempre estes acontecimentos foram tratados pelos professores de forma mais eficaz, capaz de prevenir outros episódios. Conclusão: é preciso mudanças nas propostas metodológicas e capacitação profissional de professores, afinal, por meio do processo educacional é possível prevenir as mais variadas manifestações de racismo no âmbito escolar bem como na sociedade.

Unitermos: Étnico-racial. .Racismo. Preconceito. Discriminação.

Percebe-se, que o negro sempre labutou e continua lutando pela sua equidade. E, dentre várias lutas, conseguiu levantar sua bandeira a partir da Lei 10.639/03, onde entrevê que o negro não deve ser visto somente como peça de trabalho, ou seja, a partir do tráfico negreiro, mas sim mostrar para o educando que este negro tem uma cultura, uma História a ser estudada, e foram os construtores do país chamado Brasil.

Vale ressaltar, que os educadores que se encontram no exercício de sua profissão sentem dificuldades perante certas situações de preconceito, isso se deve ao processo de assimilação de uma ideologia superior, imposta no âmbito escolar, já que quando eram educados, foram ensinados a perceber a vida do negro a partir da sua vinda ao Brasil para argamassar a economia de seus senhores mediante um trabalho duro e árduo.

"Analisar a desconstrução do racismo, preconceito e discriminação e a fomentação profissional dos Educadores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Presidente Castelo Branco, teve como a finalidade detectar a práxis dos educadores no que diz respeito a situação de preconceito existente no âmbito escolar, bem como identificar o aporte teórico dos educadores acerca do bojo da Lei 10.639/03".

Percebe-se que, ao enfrentar tal questão, os educadores se deparam com um grande desafio que decorre da necessidade de se desfazer os equívocos que deturparam as culturas de origem africana nas áreas onde se desenvolveram relações de trabalho escravo. O desafio decorre, ainda, da urgência de se analisar os esquemas de violência que perpassam as relações entre os diferentes grupos da sociedade brasileira, de se estudar e de se vivenciar as culturas africanas e afro-descendentes como realidades dialéticas, dispostas no jogo social, permeadas por contradições e em constante processo de reinterpretação de si mesmas.

-É notório, que dentro da escola constantemente, ocorrem casos de discriminação, onde na maioria das vezes, os educadores tentam camuflar a prática do preconceito dizendo: “o que é isso meu filho?
respeite o seu colega, ele é igual a você!” Esta é uma prática que acaba deixando o aluno sem autoestima, pois o professor deveria conversar com os alunos e mostrar que fenotipicamente eles são sim diferentes, mas que o seu colega atingido preconceituosamente, tem uma História, uma identidade deixada por seus descendentes que o engrandecem enquanto seres humanos que somos.

Neste ensaio teórico estudaremos os contextos das questões étnicos raciais, bem como alguns conceitos sobre racismo, etnocentrismo, discriminação e preconceito, enfatizando que o diferente deve ser tratado com diferença dentro da igualdade. A formação dos professores mediante o bojo da Lei 10.639/03 e a análise da pesquisa aplicada na Escola Estadual de Ensino Fundamental Presidente Castelo Branco. Deste modo, ao final do estudo observaremos algumas vitórias que a sociedade negra conquistou, adquirindo assim um corpo social capaz de transformar e estruturar diversos fatos históricos que impulsionaram rumo à equidade social.

 Relações Étnico Raciais na Educação Brasileira...

O objetivo deste tópico é oferecer uma contribuição ao debate sobre o tema das desigualdades raciais no trato com a Educação e que, nos últimos anos, tem havido um efetivo esforço crescente dos movimentos sociais, autoridades e escolas para contribuir com reflexões sobre a questão racial/educacional.

A leitura sobre as relações étnico-raciais perpassa por uma análise de como o sistema educacional fomentou sua práxis profissional ao relacionar-se com seus educandos tidos como afro-descendentes. Como embasamento para pesquisa procuramos enriquecer este trabalho com os aportes teóricos de Ellis Cashmore “Dicionário relações étnicas e raciais” (2000); Gilberto Freyre em sua obra “Casa Grande e Senzala” (1942); José Carlos de Paula Carvalho em seu artigo “Etnocentrismo inconsciente, imaginário e preconceito no universo das organizações educativas” (1997); Kabengele Munanga no livro “Usos e Sentidos” (1988); Oracy Nogueira no artigo “Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem” (2006); O Conde de Gobineau na obra, “Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças Humanas” (1855), bem como a assimilação das aulas do Curso de Especialização em Educação para Relações Étnico-Raciais – IFPA (2009).

-"Para compreender a Educação Brasileira, devem-se levar em conta as relações étnicas raciais que argamassaram esta nação, e que a construção capitalista desenvolvida neste território deve ser pontuada na escravidão a priori da população indígena e, posteriormente da população negra, gerando concepções e práticas racista que duram até nossa atualidade".

A matriz cultural brasileira recebeu força européia dominante, com intuito de silenciar as matrizes indígenas e africanas. Assim o português constrói um paradigma educacional que acaba consolidando
a formação educacional brasileira numa comunidade multirracial e pluriétnica. Segundo Rocha (2007, p.23), multirracial é um termo abrangente, sugerindo pluralidade de heranças por várias gerações. “Na realidade brasileira, podem ser encontrados indivíduos negros, asiáticos, brancos, indígenas. A maior parte da população, sem dúvida, resulta de mestiçagens várias de todos os grupos entre si, em maior ou menor grau”.

Apesar de considerarmos que o Brasil vive uma diversidade cultural, é notório que a escola ainda não se sente preparada para lidar com certas situações de racismo que segundo a acepção do “Dicionário Aurélio”, é “a doutrina que sustenta a superioridade de certas raças” (2004, p. 616).Enquanto sistema de pensamento, o racismo teve as suas primeiras teorizações no século passado, na França. O Conde de Gobineau foi o principal teórico das teorias racistas. Sua obra, “Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças Humanas” (1855), lançou as bases da teoria arianista, que considera a raça branca como a única pura e superior às demais, tomada como fundamento filosófico pelos nazistas, adeptos do pan-germanismo.

Tal ideologia de superioridade desmonta a tese lançada no século XX, com o lançamento de “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre que suscita um significativo debate acerca do provável relacionamento do escravo com seus senhores.

Freyre (1999) traz à tona a idéia de que no Brasil, houve um sistema patriarcal argamassado por uma economia agrária, onde a harmonia social fomentava-se a partir do cruzamento dos indivíduos envolvidos no processo de formação da civilização brasileira. Outra relação de brandura entre senhor e escravo pode ser constatada na miscigenação entre raça e cultura.

Ora, se realmente houve uma vicissitude entre indivíduos porque a ciência tenta montar explicações científicas de imputar no negro todos os males existentes na construção da sociedade. Dentre alguns estereótipos apontados ao negro, refere-se à mancha moral e física pré-conceituando este ser como sendo: impuro, pecaminoso, corrupto.

Munanga (1988, p. 14-15), concerne:

Em cima dessa imagem, tenta-se mostrar todos os males do negro por um caminho: a Ciência. O fato de ser o branco foi assumido como condição humana normativa e o de ser negro necessitava de uma
explicação científica. Uma primeira tentativa foi a de pensar o negro como um branco degenerado, caso de doença ou de desvio à norma.

A assimilação de superioridade nos é imposta, e muitas das vezes não nos sentimos preparados para enfrentar e desmistificar situações de preconceito, simplesmente por que não damos importância à formação continuada, haja vista que ao terminarmos a graduação nos intitulamos donos do “saber”, e diga-se de passagem, que para muitos educadores, basta apenas dominar o seu conteúdo e esquecem que a Educação é um processo que transforma o indivíduo incutindo neste ser, valores sócio culturais capazes de mudar o mundo, cabendo ao profissional da Educação estar antenado com as modificações que perpassam na sociedade.

O ambiente escolar é um local que agrupa diversos seres humanos com as mais variadas divergências. Emergindo assim um grave problema: Já que somos considerados racionais, atribuímos a nossa personalidade um tom de verdade. E quando vislumbramos o outro como diferente ao nosso comportamento, criamos obstáculos e discriminamos este ser, achando que ele se torna uma ameaça a nossa integridade. Tal situação tem como suporte no etnocentrismo. Ou, ainda poderia se dizer que etnocentrismo é: “visão de mundo que considera o grupo a que o indivíduo pertence o centro de tudo. Elegendo como o mais correto e como padrão cultural a ser seguido por todos, Considera os outros, de algumas formas diferentes, como inferiores”. (ROCHA 2007, p. 19)
A Educação e as organizações educativas são instrumentos culturais desse colonialismo cognitivo: é o etnocentrismo pedagógico e o correlato psico-cultural do “furor pedagógico”, uma gestão escolar autoritária e impositiva para nivelar as diferenças das culturas grupais por meio do planejamento. Oetnocentrismo consiste na dimensão ético-política da mesma problemática cuja dimensão psico-antropológica envolve a Sombra ou o Inconsciente.

É comum a comunidade escolar envolver-se com práticas discriminatórias, segregando os diferentes
da sociedade, com ofensas verbais e físicas. O etnocentrismo suscitou a partir de estereótipos denominados ao outro como: “preto, selvagem, fascistas, bagunceiros, olha o baleia, lá vem o boiola”, denominações perigosas que dentro da Educação necessita ser exterminado com a máxima urgência. Portanto, é certo que o negro sofreu e ainda sofre diversas discriminações no contexto escolar, onde ficou evidente a partir dos estudos feitos nas disciplinas Interdição do Negro no contexto da Legislação Educacional I e II, no Curso de Especialização para Relações Étnico-Raciais no IFPA, no período do primeiro semestre de 2009.

A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DOS EDUCADORES A PARTIR DA IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 10.639/03

Com o advento da Lei 10.639/03, as instituições públicas e privadas sentiram necessidade de fomentar aos seus funcionários práticas pedagógicas que qualificassem os profissionais da Educação, neste sentido, tem-se como objetivo analisar os avanços que a formação profissional vem galgando rumo a um aperfeiçoamento das relações étnico-raciais.

Os avanços que a Educação Brasileira vem conquistando nas décadas mais recentes são inegáveis. Considerando as condições de acesso, pode se verificar que as conquistas ainda estão restritas à implementação de leis sem se atentar para seu cumprimento nas posturas e práticas e que devem ser corrigidas a partir do corpo docente e de toda a comunidade escolar.

"A Lei e seus aportes encaminham duas questões correlacionadas. Por um lado, elege a África como uma das matrizes das instituições nacionais, retirando da Europa o lugar de matriz única de nossa cultura. Por outro lado, diz respeito ao agente mais importante do processo educacional – o professor. (COELHO, p. 307-308)"

O papel da escola na desconstrução do preconceito -A escola tem o papel de formar o aluno para o exercício de cidadania, do trabalho e continuar aprendendo ao longo da vida. Esta é a orientação da Lei de Diretrizes de Bases e das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino no Brasil. Ampliar a cidadania é um dos objetivos principais que devem orientar o trabalho pedagógico, e por causa disso, a escola tem que buscar o desenvolvimento de competência e habilidades que permitam compreender a sociedade que vivemos. Mas esta sociedade deve ser entendida como uma produção “dinâmica” dos seres humanos, um processo permanente de construção e reconstrução. O entendimento deste desenvolvimento da cidadania também significa a capacitação para saber avaliar o sentido do mundo em que se vive, os processos sociais e o papel de cada um nesses processos.

Se liga:No ambiente escolar, o racismo perpetua ainda nos dias atuais, um problema vivenciado no cotidiano de vários professores, que expressaram as várias formas de manifestações raciais que já presenciaram neste ambiente, sendo a mais citada a verbal e direcionadas, em sua maior parte, à
indivíduos negros, grupo étnico-racial que tem sido maior vítima do racismo.

Apesar do racismo ser um problema visto também no ambiente escolar, notou-se que vários professores, de certa forma, se posiciona de maneira pouco expressiva, tentando resolver esse problema apenas quando ele se manifesta, e não de maneira preventiva, como deveria ser realizado.

O racismo na escola precisa ser minimizado ou até mesmo extirpado, para isso, é necessário capacitação dos professores no intuito de que os mesmos possam implementar propostas metodológicas capazes de propiciar os alunos o entendimento, a compreensão e sensibilização de que independente das diferenças étnico-raciais, o “ser” faz parte de apenas uma “raça” - a humana, logo, os indivíduos devem cumprir seus deveres e merecem os mesmos direitos, dentre eles, o de ser livres, inclusive de manifestações/comportamento de racismo, que propiciam consequências negativas no processo de ensino-aprendizagem, bem como em sua socialização.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:www.palestras-inclusivas.org.br/

quinta-feira, 14 de julho de 2016

UNEGRO 28 anos: Muitas histórias de Lutas e conquistas e se renovando da cada dia....

Hoje faz 28 anos que um grupo de jovens negros em Salvador, inconformados com a forte
repressão policial e cientes que era importante que negros e negras assumissem organizadamente uma luta antissistêmica para superar a pobreza e a condição subcidadãos que assolava a população negra na Bahia, no Brasil e no mundo, fundaram a União de Negros e Negras Pela Igualdade - UNEGRO.

Sabemos que o nosso chamado ainda, não foi ouvido por muitos, ou por aqueles que insistem em não nos ouvir.Porém temos a plena consciência, de que tiramos de trás das cortinas o racismo que ali se encontrava disfarçado.
Conseguimos nesses anos mexer com as estruturas preconceituosas e colonizadoras de sociedade. Nós unimos aqueles que tem como objetivo o bem comum, independente de raça ou crédulo de cada um...


-Sim esses são os bons que como disse Mandela - não podem se calar.
Estamos ai a semente foi plantada e continuaremos a regá-la.
Sendo assim temos a convicção... Num futuro o qual esperamos não esteja tão distante,
colheremos os frutos da árvore da igualdade de direitos, tão falados mais
pouco socializados.

Nossa matéria prima são compreensões de como se estrutura a dominação:
Convicção que o racismo é um fenômeno que deve ser superado, pois não beneficia a

humanidade, ao contrário, aprisiona, gera conflitos, divide e vitimiza.
Consciência que a luta de classe e a luta contra a dominação de gênero compõe o triple da luta emancipatória da população negra e do povo brasileiro.
Determinação em não se adaptar ao racismo, ir à luta para sua superação.
Assim a UNEGRO tem enfrentado nesse quarto de século as vicissitudes da luta contra o racismo. Apesar do paradoxo da nossa existência seja a luta para nossa inexistência, hoje reiteramos nosso compromisso com a UNEGRO e fizemos votos de sucesso e longa vida para Entidade, nela depositamos nossas ideologias, trabalhos e sonhos.


De 14 de julho de 1988 até hoje, a UNEGRO se fez presente nas grandes lutas do

movimento negro brasileiro, travadas contra o racismo e nas empedernidas batalhas
cotidianas que incansavelmente a negritude brasileira tem vencido para que tenhamos um país justo e sem racismo.

UNEGRO vejo a continuidade dos sonhos de jovens negros que fomos ,longa vida a quem luta por justiça, por um país próspero e sem racismo! !!
Parabéns a
UNEGRO!
Parabéns aos unegrinos e unegrinas!
Parabéns ao movimento negro brasileiro!”

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

terça-feira, 12 de julho de 2016

‘Mulher Luiza Negra Bairros’

Ao avaliar a situação da mulher negra na sociedade brasileira, Luiza Bairros, disse:a
mulher negra embora esse esteja entre os que mais sofrem os efeitos do racismo, as mulheres negras são também as mais preparadas para transformar essa realidade.

Ainda somos parte das estatísticas do segmento que tem mais desvantagens na sociedade brasileira. Isso nos dá bem a noção do nível de dificuldades que nós mulheres negras temos que enfrentar. Ao mesmo tempo que o efeito do racismo se manifesta mais fortemente na nossa qualidade de vida, somos o setor da sociedade negra mais bem aparelhado para vencer o racismo”,

- Aos 63, Luiza viajava o Brasil militando pelo movimento negro e foi vítima de um câncer, contra o qual lutava há três meses..
Uma das principais personalidades brasileiras da luta contra o racismo, Luiza passou os últimos anos em viagens pelo país realizando palestras e trabalhando intensamente na articulação do movimento negro.. Fez sua carreira política na Bahia, onde era radicada. Formada em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, possuía Mestrado em Ciências sociais pela Universidade Federal da Bahia e doutorado em Sociologia pela Universidade de Michigan., atividade que desempenhava há mais de 40 anos.

-Morreu na manhã de 12/07/2016 em Porto Alegre, aos 63 anos, a intelectual e ativista do movimento negro Luiza Helena Bairros, ex-ministra da Secretaria de Políticas Públicas da Igualdade Racial, cargo que ocupou entre 2011 e 2014. Ela foi vítima de um câncer no pulmão, contra o qual lutava havia três meses.


A UNEGRO RJ, lamenta a morte e a perda desta grande mulher, uma voz combativa, na luta contra o racismo e feminismo negro. Um golpe irreparável para todas nós mulheres negras e para toda a militância da luta contra o racismo em nosso pais e haveremos um bom tempo tentando assimilar essa perda...



Que os Deuses de sua fé sigo contigo para a eternidade...

Claudia Vitalino.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Negro e seu Auto Espelho: Imagens...

Têm havido nas últimas décadas uma grande preocupação por parte dos estudiosos em demonstrar de que modo o negro é representado no imaginário ocidental. Tanto nos trabalhos que se debruçam sobre as imagens produzidas no passado de colonização do continente africano quanto naqueles que situam seu interesse em um período mais recente, procura-se mostrar a construção desse imaginário, desenvolvido nas sociedades européias ou na norte-americana através de imagens e discursos estereotipados e eivados de maior ou menor grau de exotismo e/ou racismo. Essas reflexões são importantes para entendermos o processo que levou à criação das ideologias que priorizam imagens hierarquizadas de culturas diferenciadas...

Até a primeira metade do século XX, uma estética branca determinava os padrões de beleza em praticamente todo o mundo. Os meios de comunicação, amplificando uma postura de boa parte da sociedade, fizeram o possível para ridicularizar e desvalorizar qualquer estética que remetesse aos africanos. O postulado que vigorava era de que o cabelo crespo dos negros é intrinsecamente feio. O racismo presente nessa estética branca teve efeitos perversos e duradouros para os afrodescendentes, que, a cada momento, precisam afirmar sua identidade.

A África nunca esteve distante do culto à beleza. Não apenas do corpo, mas também da beleza expressa nas diversas formas de arte. Na cultura africana, a concepção do belo está ligada ao bem e ao verdadeiro.

A Arte Africana
A arte é uma das marcas mais fortes dos povos africanos. Ela une utilidade e estética e está nos objetos, na música, na dança, na pintura corporal, no artesanato e nos rituais sagrados. A valorização da arte africana só aconteceu no final do século XIX, com a realização de uma exposição em Bruxelas, em 1897. A partir daí, ela se tornou fonte de inspiração para alguns dos principais artistas europeus, como Matisse, Braque e Picasso. Para essa cultura ancestral, todos os objetos do mundo estão ligados entre si e estão ligados ao corpo e ao espírito. A arte está sempre associada aos eventos e atividades da vida cotidiana, do nascimento à morte. Para o artista africano, nada é fixo ou estático, tudo é animado por um movimento cósmico.
A arte é conhecimento e não imitação da natureza.

Beleza Negra...
Ao longo da história, os cabelos receberam atenção especial nas culturas africanas e de matriz africana no Brasil. Em especial, nas culturas de origem banta.

Em conjunto com o rosto, os cabelos definiam a pessoa e o grupo a que pertencia. É um complexo sistema de linguagem que pode indicar posição social, identidade étnica, origem, religião, idade. Principalmente a partir dos cabelos é possível resgatar memórias ancestrais.

O negro é lindo! Esta era uma das premissas do movimento Black Power, surgido nos Estados Unidos em 1960, na luta pelos direitos civis dos negros.


O mundo chegou ao Brasil...
Raça é um conceito social, político e ideológico, não tendo uma sustentação biológica, uma vez que não é possível separar biologicamente seres humanos em raças distintas.Em um país profundamente miscigenado como o Brasil, não é fácil definir quem é negro, uma vez que muitos brasileiros, aparentemente brancos, são parcialmente descendentes de africanos, assim como muitos negros são parcialmente descendentes de europeus. Acrescenta-se a isso o grande número de pardos, cuja classificação racial pode ser bastante ambígua.
São consideradas negras todas as pessoas que têm essa "aparência"a questão é problemática e, segundo ele, deve prevalecer a autoclassificação. Portanto, se uma pessoa, aparentemente branca, se declara negra e se candidata a uma vaga com base em cotas raciais, a sua decisão deve ser respeitada.Em 2007, um caso polêmico chamou a atenção da mídia brasileira: dois irmãos, gêmeos idênticos, concorreram no vestibular da UnBsob o sistema de cotas. Na universidade havia uma banca que, após analisar as fotos dos candidatos, definia quem era negro e quem não era. Após terem suas fotos analisadas pela banca, um dos gêmeos foi considerado negro, e o outro não.O sociólogo Demétrio Magnoli considera perigoso a instauração de "tribunais raciais" no Brasil, o que aproximaria o país das nações racialistas e paranoicas do século passado. Em 1933, a Alemanha nazista definiu como judeu aquele que tinha ao menos um quarto de "sangue judaico" (equivalente a um avô). Em 1935, o próprio Hitler alteraria a regra, e passou-se a considerar como judeu somente quem tinha mais de dois terços de "sangue judaico", sendo alemães os "meio-judeus" (ou seja, com apenas dois avós judeus). 

"Adornos multicoloridos, tranças, dreads e blacks dão um toque bonito em qualquer visual. Mas, vão muito além da procura pela beleza. Assumir o gosto e o respeito pelas diferentes formas da estética negra sinaliza um pertencimento e um orgulho dessa herança."


Das bonecas, das modelos e da maquiagem: a naturalidade em questão...
Se os anos 1970 apontavam para o surgimento de movimentos políticos e culturais que proporcionaram o reconhecimento positivo de ser negro, com ênfase na existência do conceito de negritude os anos 1980 representaram a solidificação de uma auto-estima associada ao discurso de uma beleza negra específica. Nesse contexto de reafirmação da existência do belo inerente à qualquer raça, as bonecas africanas, denominadas Abayomis, servem de parâmetro educativo e modelo referencial para as crianças negras, sendo, portanto, o contraponto àquelas feitas à imagem e semelhança das Barbies: "Precisamos dispor de bonecas negras para que nossos filhos e netos não se espelhem unicamente nas bonecas industriais, que copiam os padrões anglo-saxônico...

- O corpo é o mais sagrado e completo instrumento de comunicação nas culturas africanas e afro-brasileiras de matriz banta. A linguagem corporal é compreendida tão claramente que a roupa não deve inibir nem privar seus movimentos, pois isto seria contra os princípios divinos. Assim como o corpo, a roupa mantém uma relação muito íntima com o sagrado.
Ancestralidade genômica de indivíduos não relacionados no Rio de Janeiro
CorNúmero de indivíduosameríndioafricanoeuropeu
Branco1076.7%6.9%86.4%
Pardo1198.3%23.6%68.1%
Preto1097.3%50.9%41.8%


"O negro não se veste, simplesmente. Ele se produz. - Por trás de cada gesto há um ritual que o mantém ligado à ancestralidade. Quando põe sobre o corpo ouro e metais; sementes e objetos de madeira, búzios, ossos, peles ou suas imitações, mesmo inconscientemente, está se conectando com os três reinos originais: o mineral, o vegetal e o animal".
Se liga:
As imagens de uma beleza negra produzidas nos salões se inscrevem em um caleidoscópio no qual se articulam elementos diversos. Aparentam ser homogêneas, visto que são reproduções de um ideal de beleza que se contrapõe ao ocidental, mas, observadas em detalhes, tornam-se fragmentos da política, da estética, da moda e do mercado.Se o cabelo é uma espécie de mediador entre uma estética afro natural e um discurso da negritude, como são percebidos e representados os salões de beleza nesse imaginário das últimas décadas? Pelos salões passam discursos múltiplos que vão da reiteração de uma "consciência racial" à criação de uma nova estética sem vinculação aparente com a definida pela militância negra...

Finalizando:
- O Estado brasileiro, que historicamente assumiu diversas atitudes claramente racistas, como no final do século XIX, quando proibiu a entrada de imigrantes africanos e asiáticos no país, ao mesmo tempo em que promovia a entrada de imigrantes europeus.

Ao fim do texto autobiográfico de Malcolm X quando relata sua primeira experiência de alisar o cabelo. 

"Ao se olhar no espelho e perceber que seu cabelo estava igual ao cabelo de um branco, a sensação foi de conforto e admiração"

Tomar esse exemplo como uma poderosa introjeção da beleza branca pode parecer lugar comum, pois, como já havia concluído Baudrillard (1993: 28), "o espelho, como objeto de ordem simbólica, não-somente reflete os traços do indivíduo como acompanha em seu
desenvolvimento o desenvolvimento histórico da consciência individual"; mas o fato adquire maior relevo se observarmos que a imagem refletida de Malcolm X em muito se assemelha àquelas do espelho de tinta da prosa narrativa de Jorge Luís Borges (1985: 78-ss). A princípio momentâneas ou imóveis, quando é a imagem que se deseja ver, elas se tornam complexas quando no espelho se vêem outras visões de mundo.

A estética africana – compreendendo-se sob este termo vário e diferentes estéticas e Áfrico – caracteriza-se por produzir e revelar a natureza, o ser humano e o mito de maneira vivencial, sendo antes de tudo uma estética de experimentar, e não apenas apreciar.

Quando pensamos acerca da estética como resistência logo nos remetemos a SUASSUNA (2007) pois o mesmo ressalta que a estética assume papéis de resistência, manutenção de identidades e criação de outras identidades não exclusivamente africanas, mas afro-brasileira. O belo afro é cultural, nasce do costume, determina o que identifica, diferencia e singulariza nos contextos das sociedades globalizadas. Assim, o belo é o alcance da memória e a gênese dessa estética que autentica nossa tão evidente afra-descendência de povo e civilização.

A forma como as pessoas se relacionam com seus cabelos dentro de uma cultura é bastante reveladora: são símbolos, indumentários, acessórios e maneiras de apresentação que falam sobre os valores de uma sociedade...

"Em terra de chapinha, quem tem crespo é rainha"

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:Cunha Olívia M. dos Santos G. (1988)Trabalho apresentado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional. Mímeo/

Favelas as grandes vítimas do coronavírus no Brasil

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