O marinheiro João Cândido aparece como o herói da Revolta da Chibata. Corajoso, ele liderou em 1910 o motim no qual dois mil marinheiros negros obrigaram a Marinha a extinguir punições desumanas contra os soldados, como ofensas, comida estragada e chicotadas. Os revoltosos conseguiram seu objetivo, mas foram expulsos dos quadros militares ou presos e mortos. Só recentemente João Cândido saiu da condição de personagem esquecido da historiografia oficial para o papel de protagonista. Em 2008, uma lei finalmente concedeu anistia póstuma a ele e a outros marinheiros. A reparação, porém, foi incompleta. No ano do centenário da Revolta da Chibata, João Cândido e os outros revoltosos continuam sem as devidas promoções e seus familiares sem receber indenização – como aconteceu com os que resistiram à ditadura militar, por exemplo. Os prejuízos com a expulsão da Marinha não foram compensados.
Para negar indenização aos anistiados, há dois anos, o governo alegou que, se todos os descendentes recebessem, haveria um rombo no orçamento. O tempo derrubou o álibi: apenas dois grupos de parentes pediram anistia. A verdade é que, por trás do argumento, estava também a resistência da Marinha. Agora, a família de João Cândido torna a reivindicar seus direitos. Por causa da exclusão da Marinha, ele não pôde mais conseguir emprego formal. Mudou-se para São João de Meriti, o mais pobre dos municípios da Baixada
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A Marinha tornou público seu ressentimento contra João Cândido em 2008, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou uma estátua em homenagem a ele, na Praça XV. Na ocasião, oficiais reclamaram e só se acalmaram quando conseguiram a garantia de que o monumento não ficaria de frente para a Escola Naval, situada ali perto. A estátua está voltada para o mar. Diante de tal rejeição, o filho do Almirante Negro se mostra cansado de brigar. “Se agora, no centenário da Revolta, não liberarem a indenização e a promoção dele, eu desisto de brigar”, diz Candinho.
Um afro abraço.
fonte: ISTOÉ
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