UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

PATERNIDADE PRETA

Introdução: Paternidade Patriarcal
No período chamado de Paternidade Patriarcal, o pai representava a figura de poder na

família. Sua autoridade era aceita com naturalidade no mundo agrícola em que vivia. A família era a unidade econômica maior, com o pai chefiando a produção e cada filho contribuindo ativamente, desde muito cedo, para a sobrevivência familiar. Ao pai competia prover as necessidades físicas de todos os familiares, treinando-os para o trabalho. Também devia orientar o crescimento moral e espiritual das crianças, responsabilizando-se por todas as medidas disciplinares que julgasse necessárias. Cabia ao pai, ainda, a escolha dos casamentos de seus filhos.

Muitas mudanças de ideias e de condições de vida começassem a ocorrer em meados do século XVIII. Com o crescimento da população e o declínio da atividade agrícola, os filhos começaram seu deslocamento em direção às cidades, longe do controle dos pais.O período vai de 1800 a 1880, refere-se à urbanização da classe média. Neste contexto, os pais tornaram-se provedores econômicos especializados, algumas vezes concorrentes dos próprios filhos mais velhos, deixando a casa para trabalhar e delegando às mulheres a administração da casa e a educação das crianças. Mas, embora tenham perdido muito da autoridade, os homens continuavam a agir como chefes da família.

Talvez uma das relações mais destruídas pela escravização tenha sido a paternidade preta. A justa reclamação de muitos filhos e filhas da ausência desse pai não é recente.

Ela dura mais de 500 anos.
A história do Brasil registra o que hoje ninguém desconhece: a construção histórica do país começa com o cimento da pluralidade de povos, representada esquematicamente pelas populações indígenas, pelos brancos, predominantemente portugueses, pelos negros  escravizados em África desde o século XVI até o século XIX. Apenas a partir de 1875, data-símbolo do início do processo migratório com a vinda de imigrantes brancos de várias procedências e, anos depois, em 1908, com a chegada dos japoneses, é que essa pluralidade deixou de ser trinária e se tornou complexa tal qual a conhecemos hoje.

Durante mais de 350 anos, esse pai era um “escravo reprodutor”: um homem preto era escolhido e obrigado a engravidar dezenas de “fêmeas” com as quais, mais tarde, ele não
teria contato. Em outros casos, mesmo que o pai quisesse manter contato com esse filho, ele era proibido e, se insistisse, era assassinado. Pro sistema racista da escravidão, o filho não era dele, mas propriedade do homem branco, que era também dono de sua “esposa”, da terra, de tudo.

REDEFININDO A IDENTIDADE
A reação dos negros a essa imagem estigmatizada se dá, de forma titubeante, com uma incipiente imprensa, nos primórdios da década de 10 (século XX).
A figura da maternidade preta, diferentemente, se manteve um pouco mais. Essas crianças precisavam ser amamentadas e cuidadas até que pudessem começar a trabalhar. Por tudo isso e mais um pouco, dizer que os pais pretos simplesmente abandonam os filhos porque são machistas, é não conhecer nossa história. Nosso drama racial não permitiu a paternidade negra durante quase 4 séculos, e hoje a gente colhe os danosos frutos disso.

Sei que homens pretos podem ser pais maravilhosos. Ele era presente, carinhoso, sensível, meio ranzinza, muito chorão.

SE LIGA: Mãe e pai. 50% e 50%. Meio a meio. Responsabilidades divididas. Criação dividida. Cuidados divididos. Desde sempre, o pai é tido como o ser que ajuda a mãe só quando ele pode. O ser que participa da reprodução, mas que só participa da criação nos finais de semana, sempre com diversão e sem responsabilidades.

Saudações às mulheres que criaram/criam seus filhos sem pais.

Parabéns aos aos pais que estão “dentro do modelo”, aos que fora do padrão estabelecido, aos que bebem, aos que perderam a sanidade, aos que estão encarcerados, aos que vivem na rua, no mundo. Aos pais aos pretinhos gays que estão lidando com o sistema racista da adoção.
Desejo que possamos ir reconstruindo as nossas famílias pretas. Exercer a paternidade
preta, essa paternidade-resistência, faz parte indiscutível desse processo. Muito amor e respeito para as famílias pretas . Temos muito trabalho de amor a fazer entre nós.


Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:https://pensamentosmulheristas.wordpress.com/www.jusbrasil.com.br

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Reis Africanos: Os Impérios Negros de Iorubá...

Império Ioruba-
A sudeste da atual Nigéria constituíra-se o poderoso e dinâmico grupo Ibo. Possuía uma


estrutura ultrademocrática que favorecia a iniciativa individual. A unidade sociopolítica era a aldeia. No sudoeste, desenvolveram-se os principados iorubás e aparentados, entre os séculos VI e XI. As suas origens, mergulhadas na mitologia dos deuses e semideuses, não nos fornecem, do ponto de vista cronológico, informações suficientes. O grande passado de todos estes príncipes é Odudua. Seria ele próprio filho de Olodumaré, que para muitos seria o Nimrod de que fala a Bíblia, ou segundo a piedosa tradição islâmica, de Lamurudu, rei de Meca. O seu filho Okanbi, teria tido sete filhos que vieram a ser todos “cabeças coroadas”, a reinar em Owu, Sabé, Popo. Benin, Olé, Ketu e Oyó. Por volta do século XII, Ifé era uma cidade-estado cujo soberano o Oni, era reconhecido como chefe religioso pelas outras cidades iorubás. É que Ifé, fora o lugar a partir de onde as terras se teriam espalhado sobre as águas originais para, segundo a tradição, fazerem nascer o mundo. Os iorubás foram expulsos da antiga Oyó pelos Nupês (Tapas) estabelecendo-se no que é a Oyó de hoje.
A partir do século XVI o poder da cidade-Estado de Oyó cresce até unificar toda as cidades-Estado ioruba. O alafin (rei de Oió) exerce a soberania temporal dos iorubas e também começa a questionar a legitimidade de Ifé, deificando Xangô, antigo rei oioano, como divindade principal.No século XVII o Império de Oyó dominará grande parte da Nigéria, incluindo o Reino de Daomé. A civilização dos iorubas alcançou grande prosperidade, notavelmente em relação à vida urbana. Censos iorubas de 1850 revelam 10 cidades com mais de 100 mil habitantes.

O Império de Oyo Yoruba (c. 1400 - 1835) foi um império da África Ocidental onde é hoje a Nigéria ocidental. O império foi criado pelos Yoruba, no século XV e cresceu para se tornar um dos maiores estados do Oeste africano encontradas pelos exploradores coloniais. Aumentou a vantagem riqueza adquirida através do comércio e de sua posse de uma poderosa cavalaria. O império de Oyo foi o estado mais importante politicamente na região de meados século XVII ao final do século XVIII, dominando não só outras monarquias Yoruba nos dias atuais Nigéria, República do Benim, e Togo, mas também outras monarquias africanas, sendo a mais notável o reino Fon do Dahomey localizado no que é hoje a República do Benim).

Império do Benin Famoso por sua arte, o Benin, situado à sudeste de Ifé, foi fundado, segundo a tradição, também por Oranian, pai de Xangô, sendo então, intimamente aparentado com Oyó e Ifé. A primeira dinastia a reinar teve, segundo mitos, primeiro doze Obas (reis) e terminou por uma revolta, quando se constituiu em reino. Seu apogeu ocorreu

no século XIV, com a capital Edo, que perdura até hoje. A cultura nagô, evidenciada nesta pesquisa, tem procedência no grupo dos escravos sudaneses do império iorubá, acima citado, em suas origens.Na verdade a denominação “nagô” foi dada, no Brasil, a língua iorubá que foi, na Bahia, a “língua geral” dos escravos, tendo dominado as línguas faladas pelos escravos de outras nações. O iorubá compreende vários subgrupos e dialetos, entre os quais o Egbá, que inclui o grupo Ketu e Ijexá, das tribos do mesmo nome, cujos rituais foram adotados, principalmente o Ketu, pelos candomblés mais conservadores. Do ewe “anago”, nome dado pelos daomeanos aos povos que falavam o iorubá, tanto na Nigéria como no Daomé (atual Benin), Togo e arredores, e que os franceses chamavam apenas nagô.
Os estudos dizem que teria sido fundado por Oranian, um ioruba. A sede é a cidade de Ubini.No século XVI é proibido a escravidão masculina, numa política de estímulo demográfico. O oba mantinha o monopólio na produção e circulação do marfim e da Pimenta.
O território onde o Benim se localiza era ocupado no período pré-colonial por pequenas monarquias tribais, das quais a mais poderosa foi a do reinado Fon de Daomé. A partir do século XVII, os portugueses estabelecem entrepostos no litoral, conhecido então como Costa dos Escravos. Os negros capturados são vendidos no Brasil e no Caribe. No século XIX, a França, em campanha para abolir o comércio de escravos, entra em guerra com reinos locais. Em 1892, o reinado Fon é subjugado e o país torna-se protetorado francês, com o nome de Daomé. Em 1904 integra-se à África Ocidental Francesa. O domínio colonial encerra-se em 1960, quando Daomé torna-se independente, tendo Hubert Maga como primeiro presidente. A partir de 1963, o país mergulha na instabilidade política,com seis sucessivos golpes militares.

"Em 1972, um grupo de oficiais subalternos toma o poder e institui um regime esquerdista, liderado pelo major Mathieu Kérékou, que governa até 1990."

 Kérékou nacionaliza companhias estrangeiras, estatiza empresas privadas de grande porte
e cria programas populares de saúde e educação. A doutrina oficial do Estado é o marxismo-leninismo, mas a agricultura e o comércio permanecem em mãos privadas. Em 1975, o país passa a designar-se Benim. O regime político entra em crise na década de 1980, e o governo recorre a empréstimos estrangeiros. Uma onda de protestos, em 1989, leva Kérékou a promover uma abertura política e econômica. Com a instituição do pluripartidarismo, surgem mais de 50 partidos. Nicéphore Soglo, chefe do governo de transição formado em 1990, é eleito presidente em 1991.



Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:unesdoc.unesco.org\www.casadasafricas.org.br

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Machado de Assis em ¨Preto e Branco¨

Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior
escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que frequentara o autodidata Machado de Assis.

De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa. Com a morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é até provável que assistisse às aulas nas ocasiões em que não estava trabalhando.

Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender. Consta que, em São Cristóvão, conheceu uma senhora francesa, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de Francês. Contava, também, com a proteção da madrinha D. Maria José de Mendonça Barroso, viúva do Brigadeiro e Senador do Império Bento Barroso Pereira, proprietária da Quinta do Livramento, onde foram agregados seus pais.

Aos 16 anos, publica em 12-01-1855 seu primeiro trabalho literário, o poema "Ela", na revista Marmota Fluminense, de Francisco de Paula Brito. A Livraria Paula Brito acolhia novos talentos da época, tendo publicado o citado poema e feito de Machado de Assis seu colaborador efetivo.

Com 17 anos, consegue emprego como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, e começa a escrever durante o tempo livre. Conhece o então diretor do órgão, Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sargento de milícias, que se torna seu protetor.

- É o fundador da cadeira nº. 23, e escolheu o nome de José de Alencar, seu grande amigo, para ser seu patrono.
- Por sua importância, a Academia Brasileira de Letras passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis.

Se liga :Dizem os críticos que Machado era "urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. ... A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica. ... Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos."

A temática da escravidão e do negro está completamente ausente da obra de Machado de Assis em sua primeira fase. Isso não é à toa, e não ocorreu porque era uma temática pouco relevante para o autor: certamente não esquecera de sua infância marcada pela pobreza, de sua descendência de escravos, de sua pele negra que devia ter lhe custado uma boa dose de sofrimento em sua própria vida, a despeito de que tenha conseguido ascender socialmente. Ocorre que, a alguém interessado em galgar degraus de uma posição social humilde rumo à inclusão entre a intelectualidade da classe dominante – ainda mais alguém negro – certamente não era conveniente tocar em um tema tão polêmico antes de firmar seu lugar social. E foi o que Machado fez. Paralelamente à ausência do tema do negro nessa fase de sua literatura, se deu o processo de “embranquecimento” do autor. Hoje mesmo raramente encontramos alguma referência à cor de Machado que não o classifique como “mulato”, termo que deriva da palavra “mula”, designando a mestiçagem. Isso quando muito. Na época, certamente a referência à negritude de Machado tornava-se um tabu cada vez maior conforme ele era incluído nos círculos “bem pensantes” da sociedade carioca, que incluíam racistas empedernidos do

calibre de um José de Alencar – grande amigo pessoal de Machado e autor das “Cartas a favor da escravidão”, escritas entre 1867 e 1868, defendendo a manutenção da instituição no Brasil quando já entrava em decadência mundialmente. Não seria demasiado classificar Alencar como uma espécie de “precursor intelectual” da teoria racista da “democracia racial” de Gilberto Freyre, a partir de romances como Iracema, em que apresenta uma visão idealizada e idílica da barbárie colonizadora dos portugueses como um simbólico romance entre uma índia e um português. Vale ressaltar que o nome de Alencar foi defendido por Machado para ser o patrono da cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras, tamanha era a admiração que nutria pelo seu amigo escravocrata.

A maturidade: a crítica social de um cínico...
Quando Machado já se encontra em uma posição social de conforto, tendo seu nome assegurado no cânone literário e sua condição econômica garantida, o autor irá realizar o melhor de sua obra, expressando aquilo que merecidamente o consagraria como um dos grandes autores da literatura mundial. É então que aparece a sua crítica social. Esta, no entanto, não é a de um autor que se indigna diante de uma sociedade de miséria, empenhando seus esforços em transformá-la, como vemos, por exemplo, nos poemas abolicionistas de Castro Alves. É a de alguém que tem a consciência plena de que nada irá mudar, e cabe apenas um apontamento pessimista, cínico e resignado da tamanha hipocrisia de uma sociedade da qual o próprio autor se tornou um “medalhão”. O cinismo de Machado ao criticar a sociedade é o de alguém que sabe que está cuspindo no prato em que comeu.

Para exemplificar essa postura, particularmente em relação à escravidão e ao racismo, tomamos aqui quatro exemplos. O primeiro é o famoso capítulo LXVIII de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “O Vergalho”, em que o antigo escravo alforriado de Brás Cubas, Prudêncio, é flagrado por ele castigando violentamente um outro negro publicamente, açoitando-o com um vergalho. A postura de Prudêncio, mesmo alforriado, diante de seu antigo senhor, é a de completa submissão, chamando-o de “nhonhô” e cessando os castigos ao pedido desse, respondendo

-Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede.” Assim fala Brás Cubas ao leitor: “Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas recebidas, - transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca, e desancava-o sem compaixão; ele gemia e sofria. Agora, porém, que era livre, dispunha de si mesmo, dos braços, das pernas, podia trabalhar, folgar, dormir desagrilhoado da antiga condição, agora é que ele se desbancava: comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera.

Finalizando:Os negros escravizados no Brasil, bem diferente de como aparecem na literatura de Machado, não eram meramente “coitados submissos”. Criaram milhares de Quilombos, protagonizaram enormes lutas de resistência, mataram senhores, fugiram aos milhares. Resistiram, sempre. Muito diferente da postura cínica que apresenta Machado quando, por meio de seu irônico narrador em “Pai contra mãe”, afirma: “(...) os escravos fugiam com freqüência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia

ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada”. A ironia de Machado dirige-se não apenas contra os senhores, mas também contra ele próprio, que não deixa de ser um pouco cúmplice desse estado de coisas. E naturaliza o mito de que os negros eram passivos diante da escravidão. Não eram, e, diferente de Machado, nunca tiveram a opção de se contentar em escrever linhas mordazes satirizando a escravidão. Para resistir, precisaram lutar, e muito, como ainda hoje o fazem contra uma sociedade racista que relega a eles o que há mais brutal na exploração e opressão.


Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
fonte:www.pragmatismopolitico.com.br/.www.esquerdadiario.com.br/www.passeiweb.com/estudos/

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Um dialogo Sobre: Apatia Social perda...

Indo direto ao ponto: Esse processo de lenta construção de uma população livre — que,
embora não diretamente envolvida no universo das relações socioeconômicas definidoras da estrutura hegemônica da Colônia e do Império, não pode ser considerada intersticial ou supérflua — foi decisivo para o que se seguiu ao final da escravização. Atenho-me a cinco desdobramentos relevantes para aquilo que me interessa aqui, isto é, a configuração social que deu sentido às relações de classe tecidas nos inícios da constituição da "ordem social competitiva" no Brasil.

Mas a inércia se manifestava em outra dimensão, mais profunda, porque fruto direto do impacto dos séculos de escravidão no imaginário da elite paulista. Os debates na Assembléia Legislativa da província durante os anos 1870 e seguintes, confrontando posições imigrantistas e contrárias, revelam a forte resistência de parte majoritária da elite governante a incorporar o elemento nacional à lavoura de café por meio da combinação de incentivos monetários e repressão à vadiagem... Talvez fosse possível obrigar os "vadios" a vender sua força de trabalho por lei, sob pena de prisão ou castigos físicos. Mas quanto seria preciso estender a noção de vadiagem para abranger todos os que a lavoura de café em expansão demandava, incluindo, por exemplo, os pequenos posseiros ou os proprietários de terras ou animais espalhados pelo vasto território provincial? Essa alternativa requeria um efetivo policial ramificado no território, o que não existia, ou então milícias privadas de grande envergadura, impensáveis num momento em que os capitais disponíveis estavam todos comprometidos com a lavoura cafeeira.

Teve resistencia; logico -A resistência combinava preconceito racial e desprezo pelo trabalhador livre nacional, visto como preguiçoso, inconfiável e privado de mentalidade moderna (burguesa, acumulativa), já que se satisfazia com muito pouco, de modo que não podia ser submetido ou disciplinado por incentivos pecuniários. Ademais, boa parte do elemento nacional tinha cor, e homem de cor, assim imaginava a elite paulista, só se submetia pela força e pelo látego. Parecia impensável tentar sua adesão voluntária ao trabalho. Nesse aspecto, é reveladora a carta do conselheiro Paula Souza transcrita por Florestan Fernandes em seu clássico sobre a integração do negro na sociedade de classes. na qual ele argumenta ao destinatário que os negros libertos trabalhavam do mesmo modo como faziam quando escravos simplesmente porque "precisam de viver e de alimentar-se, e, portanto, de trabalhar, coisa que eles compreendem em breve prazo [depois da libertação]". Pressuposta nessa argumentação está a concepção — obviamente compartilhada pelo destinatário — de que a única maneira de arrancar trabalho desse "bruto" era a força, já que ele parecia geneticamente propenso à preguiça e à vagabundagem. O Conselheiro, que aprendera rapidamente como funcionava o mercado de trabalho livre, sabia que a fome era o melhor corretivo para presumidas propensões atávicas à preguiça.O caráter ordeiro da população brasileira foi louvado em diversos momentos da nossa história, remota ou recente, e está na base do argumento, defendido por muitos pensadores da hora, segundo o qual a transição para o trabalho livre se deu de forma pouco traumática, ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos ou no Haiti, por exemplo. Nas primeiras décadas do século XX, a nascente sociologia brasileira veria no caráter pacífico do povo um elemento definidor da nacionalidade com raízes profundas na ordem anterior, marcada pelo familismo, o individualismo e o patrimonialismo, isto é, nossa herança ibérica, avessa a conflitos abertos e sobretudo à ação coletiva. Essas idéias estão igualmente presentes em Sérgio Buarque de Holanda, Oliveira Vianna ou Gilberto Freyre, ainda que encadeadas de forma diversa em cada qual e tratadas com maior ou menor distanciamento crítico. Nessa concepção, a ação coletiva aparece como corrupção da ordem natural das coisas, marcada pela sujeição individual dos subalternos a um potentado local que seria o senhor do destino de todos.

Se liga:O elemento alienígena trazido ao país pela imigração européia — estrangeiro mas

branco, e por isso civilizado — foi enquadrado na mesma ordem de percepções, aparecendo como portador de idéias sem lugar na realidade social brasileira, porque gestadas em um ambiente conturbado e afeito à luta de classes, oposto ao clima de concórdia pretensamente imperante no país. O estrangeiro com idéias socialistas ou anarquistas emergiu como um outro ainda mais perigoso do que o escravizados, pois seria capaz de contaminar corações e mentes com idéias que desestabilizariam a estrutura de dominação tradicional. O escravo fora temido por sua diferença e sobretudo por sua opacidade, que suscitaram o temor de uma sublevação negra que pusesse fim à civilização. O temor em relação ao socialista ou anarquista europeu ia além. Ele não queria o fim da civilização, mas um arranjo civilizatório que o incluísse de forma não-subordinada ou igualitária. Seu proselitismo poderia revelar ao brasileiro pacífico e ordeiro que sua posição na hierarquia social era injusta e que a ordem, portanto, era ilegítima. Poderia transformar o povo no inimigo interno que o escravo representara no ideário das elites.

O fim da escravidão não mudou esse quadro: em meio à generalizada pobreza no campo e à inacessibilidade das posições superiores, interditadas pela rígida hierarquia social, as expectativas de melhoria de vida permaneceram achatadas por várias décadas, somente ampliando-se com a intensificação da industrialização na segunda metade do século XX.

"A sociabilidade capitalista, em suma, teve de se haver com uma ordem profundamente antiliberal em suas práticas e visões de mundo"...

A situação social concreta da população negra brasileira e, tanto a ação quanto a inércia do Estado e do grande poderio econômico, sempre encontrou embasamento teórico que justificasse incursões preconceituosas e racistas. As desigualdades econômicas, materiais, educacionais e de acesso efetivo à cidadania sempre mantiveram forte dimensão étnico-racial.

Um olhar retrospectivo sobre a política social no país demonstra a ausência de espaços democráticos em sua formulação, que, somente após o fim da ditadura militar e a partir da mobilização social,que agora logico esta ameaçado...

As lutas da sociedade civil que antecederam e caracterizaram o período da redemocratização deram visibilidade às grandes demandas sociais, que se transformaram posteriormente em políticas públicas. Movimentos sociais, associações, entidades de classe e categorias profissionais construíram uma pauta de reivindicações que incluía direitos civis, políticos e sociais, como a melhoria das condições de vida, salário, educação e saúde. Esses atores construíram a agenda de mudanças que desaguou na elaboração da nova Constituição Federal, promulgada em 1988, inaugurando, assim, uma nova ordem democrática. Nesse contexto, a garantia e a ampliação dos direitos individuais e coletivos estão intimamente ligadas à formação da consciência política e à construção da cidadania.

A política de desenvolvimento social com inclusão procura romper com a lógica adotada pelo Estado brasileiro no passado. Lógica que se baseava na tutela do Estado sobre as iniciativas da sociedade civil. Em decorrência dessa visão patriarcal, mesmo quando atuando para proteger direitos sociais, o Estado agia autoritariamente, negando a participação popular e obstaculizando a construção de uma consciência pública.

Brasil: o país do Apartaihd camuflado

- Gente, quem pensa que a hegemonia branca do ministério do presidente interino Michel Temer é apenas um golpe simbólico à representatividade dos negros nos escalões superiores do governo ,seu primeiro ato, o de diminuir a quantidade de ministérios de 32 para 23, trouxe mais efeitos simbólicos do que práticos, assim como o corte de pouco mais de 4.000 cargos, anunciados na última sexta, cuja estimativa de economia gira em torno de 230 milhões de reais. "Na presença de um déficit orçamentário de 170,5 bilhões, o efeito de cortar ministérios e funções gratificadas é insignificante", afirma Gil Castello Branco, fundador e secretário-geral da organização Contas Abertas. Ele explica que antigos ministérios viraram secretarias, com estruturas similares, que encolheram pouco. Uma economia, portanto, pequena, pois o efeito foi a eliminação de alguns cargos comissionados repetidos.

Na contramão disso, entretanto, o Congresso, com a base de Temer, autorizou a criação de
14.000 cargos federais, além de ter permitido o aumento de salários de funcionários federais e do Ministério Público, com impacto de ao menos 58 bilhões até 2019, o que colocou seu plano de austeridade em xeque. Depois da polêmica, o presidente interino decidiu não apoiar a criação dos cargos e o aumento dos funcionários públicos.

Na prática, duas medidas de impacto foram tomadas até o momento -ambas já planejadas, ainda que com conteúdos diferentes, por sua antecessora. Com a super base que formou no Congresso, ao contemplar 11 partidos em seus ministérios, Temer garantiu, primeiro, a aprovação da nova meta fiscal, que autoriza o rombo de 170,5 bilhões. Também conseguiu aprovar em segundo turno na Câmara a Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permite que o Governo federal use sua arrecadação de forma mais livre, ampliando de 20% para 30% o percentual da receita que pode ser remanejado no Orçamentoo congelamento do aumento dos gastos públicos, que ficariam limitados à inflação do ano anterior, a partir da aprovação de uma lei que ainda deve ser enviada para o Congresso. Novamente, ganhou o aval dos investidores, ainda que tenha gerado mal estar com grupos da sociedade civil, já que a medida implicaria em cortar gastos com saúde, educação e previdência.

.“O governo interino fez, em um mês, o que a Dilma não conseguiu nos últimos doze”, afirma Márcio Holland, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-secretário do Ministério da Fazenda na gestão Guido Mantega, Arevogação de portarias que expandiriam moradias do Minha Casa, Minha Vida, feita logo na primeira semana de Governo, foi criticada pelos movimentos sociais...
Projeto Conservador

* Com o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos diluído no Ministério da Justiça, é improvável que a gestão Temer se empenhe na promoção de políticas de igualdade racial.

* Não bastasse o esvaziamento da pasta relativo aos Direitos Humanos, o histórico profissional do novo Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ratifica a ideia de que conquistas no campo das políticas raciais, como a lei de cotas que ajudou 150 mil jovens negros a ingressar em universidades, serão na melhor das hipóteses estagnadas.

* Advogado formado pela USP, onde atua como professor, Moraes estava desde janeiro de 2015 à frente da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, instituição que ordena as ações truculentas da Polícia Militar contra movimentos sociais e as operações de retirada dos estudantes que ocupavam escolas públicas por melhorias na qualidade do ensino.

* Foram desocupações nas quais a PM atuou sem mandado judicial e atropelando o Estatuto da Criança do Adolescente.

* Durante sua gestão na Segurança Pública, o número de mortes de suspeitos em confrontos com a polícia subiu 61%. Outra iniciativa contrária à promoção dos direitos humanos foi a determinação do sigilo de 50 anos para dados de boletins de ocorrência registrados pela polícia.

* Não é de se espantar que Moraes, que advogou para Eduardo Cunha e a cooperativa de transporte Trasncooper, suspeita de envolvimento com o PCC (Primeiro Comando da Capital), tenha classificado manifestações contra o impeachment de “atos de guerrilha”.

* Os entraves aos avanços nas políticas raciais se encontram também no Ministério da Educação, chefiado por Mendonça Filho, do Democratas. Em 2009, o partido entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo contra a implantação de cotas raciais nas universidades públicas.

* A legenda ajuizou o mesmo tipo de ação contra o Decreto nº 4.887/2003, cujo texto “regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos”.

* Para deixar a situação ainda mais difícil para o povo preto, a delimitação dos territórios quilombolas ficará sob responsabilidade da pasta comandada por Mendonça Filho, que incorporou o Ministério da Cultura.

"Impossível, nesta situação, não lembrar da figura clichê do lobo cuidando das ovelhas".

Em um vídeo que compartilhou em sua página no Facebook, Pinheiro, ex-ministro de Direitos Humanos no governo FHC e um dos oito integrantes da Comissão Nacional da Verdade, explica que a medida do presidente interino anulou uma “política de estado” que remonta aos anos 40.

Depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos, vários pactos foram assinados, como o Pacto internacional Sobre Direitos Civis e Políticos, a Convenção da Tortura, que o presidente Sarney assinou em 1985 – o Brasil foi um dos primeiros a assinar essa convenção. Depois outras convenções como a da discriminação racial, da violência contra a mulher, dos portadores de necessidades especiais (sic), sobre os desaparecimentos, enfim, pouco a pouco mais grupos sociais determinados foram tendo seus direitos reconhecidos.”

“Mas esse governo tem uma ignorância crassa sobre o que ocorreu no mundo desde 1948. Agora, o que é mais grave é o desconhecimento do que ocorreu no Brasil, porque praticamente todos presidentes da república desde o presidente José Sarney até a presidenta Dilma, todos contribuíram na construção de uma política de estado de direitos humanos”, disse o diplomata.

Conclusão:De acordo com projeções do IPEA, em pesquisa feita com base nos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a renda média da população negra só se equiparará à renda da população branca no ano de 2040, caso haja uma permanência das políticas públicas dirigidas, atualmente não mais em vigor.

Sendo assim esqueça esses dados:As rendas de negros e negras só serão iguais à da população branca daqui a 32 anos. Hoje, negros ganham, em média, 53% da renda do branco. A taxa de desemprego entre os negros é de 9,3%, enquanto que a dos brancos é de 7,5%. Nos setores com menor remuneração a maioria dos trabalhadores é negra, caso da agricultura (60,3%), construção civil (57,9%) e serviços domésticos (59,1%).

Aos donos de olhares mais atentos, é comum a percepção de que existe uma seleção étnica na oportunização de empregos de médio e alto prestígio. São raros os casos de ocupação de chefias ou demais cargos importantes por negros e negras. A presença de negros em cargos de nível executivo nas maiores companhias brasileiras é de apenas 3,5%, segundo pesquisa do Ibope/Instituto Ethos. A situação das mulheres negras é ainda
pior, uma vez que são vitimadas pelo duplo preconceito. A pesquisa realizada pelo Ibope/Instituto Ethos, de 2012, demonstra que mulheres negras ocupam menos de 0,5% de cargos executivos.

"Há um embranquecimento da população conforme se sobe na pirâmide social
"

A conceituação do "racismo institucional", ou "estrutural e sistêmico", cujo qual opera na sociedade a revelia dos indivíduos, traz em sua prática o reforço dos estereótipos preconceituosos. O racismo, o preconceito e a discriminação operam sobre a naturalização da pobreza, ao mesmo tempo em que a pobreza opera sobre a naturalização do racismo, exercendo uma importante influência na situação do negro no Brasil.

Pelas expectativas, voltaremos a ser um país de maioria negra. Como é possível ignorar as discrepâncias e os efeitos do racismo dirigido a uma população potencialmente majoritária em nosso país? Como aceitar que, apesar dos avanços sociais e econômicos vividos por nosso país durante todo o século XXI, a população negra não tenha sido atendida em demandas tão essenciais como, por exemplo, no campo da formação educacional?

Ta difícil em gente, quando com o fim da escravidão deixou um legado a todo militante no combate a um tipo de racismo tão específico, fruto desses mais de 500 anos de construção do Brasil.

O Racismo como dimensão da luta de classes na sociedade brasileira.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:www.coladaweb.com \28reuniao.anped.org.br/


sábado, 27 de agosto de 2016

28 de Agosto - Um discurso com um final perfeito...

A Marcha em Washington pelo Empregos e Liberdade aconteceu em Agosto de 1963 e foi o local do célebre discurso "Eu Tenho um Sonho" feito pelo Reverendo Dr. Martin
Luther King, Jr., presidente da Conferência de Liderança Cristã do Sul. A. Philip Randolph, um líder trabalhista e fundador da Irmandade Sleeping Car Porters, propôs uma grande passeata para a capital como uma forma de incintar o Congresso e a administração do Presidente John F. Kennedy a agir em defesa dos direitos civis. Outros envolvidos no planejamento incluia o próprio Rei, a Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor o Presidente Roy Wilkins, e John Lewis, presidente da Comissão Coordenadora Estudantil pela Não-Violência. A passeata foi totalmente tranquila, e reunium um número estimado em 200 mil - 300 mil pessoas. Foi amplamente creditada com ajuda a passar a legislação revolucionária dos direitos civis em 1964 e 1965. Aqui é mostrada o dia da passeata com o Rei e Mathew Ahmann, o Diretor-Executivo da Conferência Nacional Católica para Justiça Interracial.

A história nos lembra do discurso, da multidão e do protesto pacífico. Mas nos bastidores, a famosa manifestação liderada pelo reverendo Martin Luther King Jr. em Washington, em 1963, provocou suspeitas, ansiedade e receio na Casa Branca de que o dia terminasse em violência.
Em todo o país, uma onda de protestos havia se espalhado após semanas de disputas raciais em Birmingham, no Estado do Alabama, onde cães policiais feriram manifestantes e potentes jatos de água foram usados em crianças.

Entre maio e o fim de agosto de 1963, houve 1.340 manifestações em mais de 200 cidades. Algumas aconteceram em comunidades por muito tempo divididas por questões raciais. Outras nunca haviam tido episódios de violência.

A aleatoriedade dos tumultos fez com que fossem ainda mais assustadores para as autoridades.

Com 200 mil manifestantes prestes a se reunir na capital dos Estados Unidos, o governo tinha medo de que Washington testemunhasse o mesmo caos e desordem.

Para o reverendo Martin Luther King Jr., o líder não-declarado do movimento pelos direitos civis, os acontecimentos do início do verão americano haviam transformado a luta pela igualdade racial do que ele chamava de "protesto negro" em uma "revolução negra". Os Estados Unidos, segundo ele, tinham chegado a um "ponto de explosão".

Mas as vozes da ansiedade também se fizeram ouvir dentro da administração Kennedy.

"Assuntos que não se resolvam com justiça e equilíbrio, cedo ou tarde serão resolvidos pela força e pela violência", alertou o vice-presidente Lyndon Baines Johnson. O único conselheiro negro do presidente, Louis Martin, também alertou para uma possível confusão iminente.
"O ritmo acelerado da inquietação dos negros", disse ele a Kennedy, em particular, "pode provocar o estado mais crítico das relações raciais desde a Guerra Civil". Durante uma reunião tensa na Casa Branca em maio, o procurador-geral Robert Kennedy também alertou seu irmão mais velho do risco de que a situação saísse do controle.

"Os negros agora estão hostis e furiosos e eles ficarão furiosos com tudo. Não dá para conversar com eles", disse.
"Meus amigos dizem que (até) as empregadas domésticas e funcionários negros estão hostis."

Durante boa parte de seu governo, John F. Kennedy enxergou os direitos civis mais como um assunto político a ser administrado do que como uma questão
moral a defender.

Pender para a última alternativa era arriscar a fragmentação do partido Democrata, que na época era um amálgama conturbado de liberais do norte, segregacionistas do sul e pragmáticos, como o presidente, que tentavam manejar as diferenças.

Kennedy, famoso por sua postura de distanciamento, tampouco tinha um compromisso emocional forte com a luta pela liberdade. Durante a maior parte do tempo, ele havia sido um observador da grande revolução social de sua época.

No verão de 1963, no entanto, ele percebeu que seu governo poderia vir a ser definido por sua resposta à crise racial. A inação não era mais uma opção. Como ele mesmo comentou durante um discurso televisivo em junho, as "chamas da frustração e da discórdia estão queimando em todas as cidades, ao norte e ao sul".

Controle- Para tirar os manifestantes das ruas, Kennedy havia finalmente apresentado um esperado projeto de lei que começaria a desfazer a segregação ─ sistema deapartheid racial que prevalecia na maior parte do sul dos Estados Unidos. Mas mesmo depois do pronunciamento à nação, e dado o aval da Casa Branca para a luta dos negros, os protestos e a violência continuaram. A possibilidade de uma enorme manifestação em Washington, portanto, provocava medo.

- Quando o governo descobriu, em meados de junho, sobre os planos para a manifestação em Washington, sua primeira resposta foi pressionar líderes negros pedindo o cancelamento.

Em uma reunião na Casa Branca, Kennedy disse a Luther King e a outros líderes dos movimentos de direitos civis que não queria "um grande show no Capitólio" porque isso complicaria os esforços para transformar o projeto de direitos civis em lei. Quando as tentativas de persuasão falharam, o governo decidiu brigar pelo controle da manifestação.

Nesse momento, o presidente foi surpreendentemente determinado. "É provável que eles venham aqui e defequem no Monumento (de Washington) inteiro", disse Kennedy a assessores. "Tenho um projeto de lei sobre direitos civis para passar e vamos fazê-lo."

Para impedir que a manifestação se transformasse em um enorme tumulto, Kennedy ordenou uma mobilização do aparato de segurança do governo federal sem precedentes fora de períodos de guerra.

Para começar, o FBI (a polícia federal americana) aumentou sua já vasta operação de vigilância ao movimento dos direitos civis, que incluía escutas dos telefonemas de Luther King. O órgão instruiu cada um de seus agentes no país a fornecer informações de inteligência sobre a quantidade de ativistas negros que planejavam ir até Washington e se eles tinham alguma ligação com organizações comunistas.

Outro receio era o de que ativistas negros, que haviam rejeitado as táticas não-violentas de grupos de direitos civis mais moderados, tomassem conta da manifestação. Cerca de 150 agentes do FBI foram destacados para se misturarem à multidão, trabalhando em conjunto com agentes do serviço secreto.

Outros ficavam em pontos de observação dos telhados do Lincoln Memorial, da Union station (principal estação ferroviária) e do Departamento do Comércio, com vista para o Passeio Nacional - espaço a céu aberto que fica entre o Capitólio e o Monumento de Washington. Na sede do FBI, que o então diretor J. Edgar Hoover temia ser atacada por manifestantes, a segurança também aumentou. Funcionários foram instruídos a sentar longe das janelas.

Semanas antes da manifestação, a perspectiva de violência também preocupou o departamento de polícia de Washington, que ficou em seu mais alto estado de alerta. O órgão preparou 72 possíveis cenários de desastre e uma resposta para cada um deles.

O fato de que três lados do Lincoln Memorial eram próximos da água facilitava a situação para a polícia. Mas cada esquina de Washington também foi protegida. Na colina do Capitólio, uma fila de policiais, distantes 1,5 metro uns dos outros, rodeava o Congresso.
Um policial ou um membro da guarda nacional estaria posicionado em cada canto do centro

financeiro para garantir a segurança em caso de saques. Para reforçar a presença da polícia, centenas de oficiais extras foram trazidos de forças de áreas vizinhas, e foram especialmente treinados para lidar com os protestos.

Apesar da grande mobilização, cães de guarda permaneceram em seus canis. Várias imagens dos protestos de Birmingham em maio, nas quais fotógrafos de jovens manifestantes foram mostrados sendo atacados por cães agressivos, chocaram tanto os americanos brancos, que a presença dos animais poderia facilmente incitar uma má reação da multidão.

Por causa das muitas prisões esperadas para o dia, um time de juízes locais foi mantido nas salas das cortes da cidade. Na prisão do distrito de Columbia, 350 detentos foram evacuados para criar espaço para os possíveis manifestantes presos. Cirurgias que estavam agendadas na região metropolitana de Washington foram canceladas para que 350 leitos pudessem ficassem disponíveis para emergências durante os manifestos. O hospital geral da capital chegou ao ponto de decretar um "plano nacional de desastres".

Aparato militar- A vida em Washington foi completamente interrompida com a possibilidade de protestos. Repartições públicas fecharam e funcionários federais foram recomendados a ficar em casa. Também foi decretada uma "lei seca", não permitindo a venda de bebidas alcoólicas pela primeira vez desde do chamada "Prohibition" (Proibição) - decreto do governo americano que proibiu a venda de álcool entre os anos de 1919 a 1933, em um movimento para garantir a "saúde pública e moral" da população.

O papel de Mahalia Jackson- Foi com o incentivo Mahalia ao dizer: "Fale a eles sobre o sonho, Martin", que fez Martin Luther King improvisar seu discurso histórico.
Como cantora gospel nascida em família pobre em New Orleans, ela chegou a ganhar um prêmio Grammy.
Mahalia passou a se envolver fortemente no movimento de direitos civis e cantou no funeral de King.
O receio de uma marcha possivelmente violenta também preocupava seus próprios organizadores. O movimento era liderado pelo carismático Bayard Rustin, que decidiu atuar bem de perto da organização para garantir que ele fosse um movimento pacífico.

Os organizadores concordaram em antecipar o horário de início da marcha para que os manifestantes não ficassem nas ruas depois de escurecer. Ainda mais difícil foi a decisão de mudar o local da concentração da marcha. O plano original para o protesto em massa nas escadarias do Congresso americano foi engavetado. Em vez disso, eles escolheram o Lincoln Memorial , uma área mais fácil de organizar as pessoas com menos tensão política.

Mesmo depois de quatro semanas de planejamento meticuloso, os oficiais da administração de Washington não puderam descartar o risco de violência. Assim, no dia da marcha, no distrito de Columbia, o presidente ordenou que fosse estabelecido um centro de operações militares - o maior da história dos EUA em tempos de paz. Logo no início da manhã do dia 28 de agosto, cinco bases militares montadas em áreas afastadas do centro da cidade já estavam com grande atividade, com veículos pesados de guerra e 4.000 soldados organizados na operação batizada de "Inside", pronta para atuar.

Para os fortes de Myer, Belvoir, Meade, além da base marinha de Quantico e da estação naval de Anascotia, foram trazidos 30 helicópteros com rápida capacidade de decolagem. No forte Bragg, na Carolina do Norte, 15 mil homens da força especial denominada STRICOM foram posicionados em sobreaviso, prontos para serem levadas à área dos confrontos pelo ar.

Se a violência se disseminasse, a rapidez com que as tropas chegassem a Washington seria essencial. Todas as proclamações presidenciais, ordens executivas e cartas de instrução militar foram preparadas antecipadamente. Se os protestos começassem, a Casa Branca emitiria uma proclamação presidencial exigindo que os manifestantes se dispersassem imediatamente.

Se a violência persistisse, o presidente assinaria uma ordem executiva autorizando o Pentágono (o departamento de segurança nacional dos EUA) a tomar "todas as medidas necessárias" para dispersar a multidão. Um memorando confidencial, demonstrava bem isso: "(A) intenção de utilizar a mínima força não deve prejudicar o fim da missão".

Em resposta ao possível deterioramento da situação, tropas utilizariam primeiramente rifles não carregados como forma de intimidação, com baionetas acopladas (parte cortante fixada às armas).

Se isso falhasse, gás lacrimogênio poderia ser utilizados, assim como rifles carregados com munição. A missão ganhou o nome de Operação Washington. Tão pesado era o arsenal militar, que um repórter observou à época que "a cidade foi transformada da capital da nação em tempo de paz para uma nação em guerra".

Dia 28 de agosto- Em toda a manhã do dia 28 de agosto, enquanto manifestos ganhavam forma do lado de fora de sua janela, o Presidente Kennedy permanecia seguro dentro da Casa Branca liderando uma reunião com estrategistas em política internacional para discutir a guerra do Vietnã. Antecipadamente à marcha, ele tinha resistido às exigências de Martin Luther King e demais líderes das chamadas "Big Six" (grandes seis) organizações de direito civil de recebê-los em audiência naquela manhã, já que ele não gostaria de ser identificado como um líder muito próximo das manifestações que poderiam se tornar violentas.

Seus conselheiros também estavam preocupados com a possibilidade de que os líderes negros chegassem à Casa Branca com uma lista de requisições nada razoáveis, impossíveis para o presidente realizar. Se eles deixassem o salão oval da casa presidencial sem um acordo, toda a demonstração nas ruas poderia mudar drasticamente. Para desapontamento

dos organizadores da marcha, Kennedy decidiu ser contra a iniciativa de enviar aos manifestantes uma mensagem presidencial, temendo que isso poderia provocar manifestações contra ele no "Mall" - área pública que circunda a Casa Branca. Em vez disso, ele concordou em receber uma delegação de líderes negros na Casa Branca somente depois que a marcha terminasse, com a esperança de que isso abrandasse a retórica contra ele.

Como precaução extra contra pronunciamentos inflamados - e também para prevenir os subversivos de tomar o controle do sistema de anúncio presidencial - um oficial da administração foi posicionado do lado direito do Lincoln Memorial com um interruptor para desligar o equipamento de som e também com uma vitrola de tocar discos. Se os manifestantes conseguissem tomar o palanque do microfone, o som seria cortado e a música "Ele tem o mundo todo em suas mãos", cantada por Mahalia Jackson, seria tocada no lugar.

O discurso histórico - Às 13h40, a asa oeste da Casa Branca acomodava uma pequena televisão no salão oval por meio da qual Kennedy começou a assistir King pouco antes de ele começar a falar. De pé e posicionado bem no meio da escadaria do mais magnificente púlpito que a América poderia oferecer, o orador pairou o olhar sobre o imenso "mar" de 200 mil manifestantes que se aglomeravam nos dois lados do espalho d'água até além dos limites do Mall, chegando ao Monumento Washington.

Milhares também formavam uma multidão nas áreas laterais do gramado, enquanto outros se mantinham na água da piscina com água até os joelhos para amenizar o calor. Outros ainda cantarolavam amontoados nas árvores expostas à brisa de fim de tarde. Eles não estavam apenas cantando, mas rezando, se abraçando, dando risadas e aplaudindo.

Com a imponente estátua de Abraham Lincoln pairando sobre ele, King então começou a falar para os manifestantes que sua presença à sombra simbólica do "grande emancipador" oferecia uma prova maravilhosa de que uma nova ordem estava se espalhando pelo país. Por muito tempo, ele reclamou do fato de os americanos negros serem exilados na sua própria terra, "paralisados pelas amarras da segregação e das correntes da discriminação".

Seria fatal para a nação "não vislumbrar a urgência do momento e subestimar a determinação do negro".      Sofrendo com o calor sufocante, a primeira reação dos manifestantes foi o silêncio. O discurso não estava indo bem.

Fale para eles sobre o sonho, Martin Mahalia Jackson, cantora que incitou King a iniciar histórico discurso
"Fale para eles sobre o sonho, Martin", gritou Mahalia Jackson, se referindo ao já conhecido artifício de discurso utilizado por King muitas vezes. A mensagem não havia entrado no discurso planejado por ele, porque seus assessores insistiram em material novo. Mas King decidiu deixar de lado suas anotações e adentrou espontaneamente no refrão pelo qual ele será lembrado para sempre na história.

"Eu tenho um sonho de que um dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado de sua crença", gritou King com seu braço direito levantado para o céu. Rapidamente, ele já estava ganhando seu ritmo vigoroso pela coro emocionado da multidão. "Sonhe!", gritavam eles. "Sonhe!"

Com sua voz alcançando toda a extensão do Mall, King imaginou um futuro em que crianças poderiam "viver numa nação onde eles não seriam julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu carácter". Foi assim que ele alcançou seu caloroso final.

King ainda pediu à multidão para sinalizar se estavam ouvindo bem. - Assistindo na Casa Branca, o presidente Kennedy estava imóvel. Como muitos americanos, esta foi a primeira vez que ele ouvira o discurso de um orador de 34 anos em sua totalidade - pela primeira vez ele avaliou seu método e ouviu sua cadência. "Ele é bom", disse Kennedy para um de seus assessores. "Ele é muito bom". Entretanto, o presidente parecia ter se impressionado mais pela qualidade da performance de King do que no poder de sua mensagem.
Mas a mensagem era vital. King fez um poderoso discurso pela mudança racial de forma não-violenta. E fez isso com tanta eloquência e poder que a mensagem reverberou não apenas no Mall de Washington, mas também na sala de estar dos americanos. Dias terríveis e violentos se seguiram. Ainda assim, mesmo com toda a preocupação com a segurança antes do manifesto, 28 de agosto de 1963 foi um dia incrivelmente belo.

Sem confrontos, a marcha provou-se um alívio para a polícia. Até o cair da tarde, houve apenas três prisões, todas envolvendo brancos. No evento, a única ameaça para a polícia não veio de um manifestante desordeiro, mas do frango distribuído mais cedo naquela manhã,

que não havia sido refrigerado adequadamente. Pouco depois das 16h, o chefe da polícia emitiu sua mais importante ordem do dia: nenhum dos oficiais deveria, sob qualquer hipótese, tocar no frango que fora preparado para o jantar.
Aos pés do Lincoln Memorial, Martin Luther King e seus colegas foram colocados em uma caravana de limousines oficiais que bem devagar cruzaram por entre a multidão no trajeto até a a Casa Branca.
Kennedy então recebeu os líderes negros com cumprimentos e repetiu o sonoro refrão que elevou o movimento de direitos civis a um novo plano espiritual: "Eu tenho um sonho".
Rebele-Se Contra o Racismo!

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

fonte:www.bbc.com/portuguese/noticias/

domingo, 21 de agosto de 2016

O legado Rio-2016 Olimpíadas Mérito da População Negra :Atletas Negr@s se destacam pela persistência

Desde a primeira edição dos Jogos Olímpicos da era moderna, em Atenas, em 1896, o
evento tem construído uma rica história, com conquistas esportivas inspiradoras. Nas Olimpíadas, tudo está no limite, fazendo cada triunfo ainda maior e de tirar o fôlego. Por isso, o Portal EBCdestaca alguns desses momentos.

Podemos dizer que tudo começou com Jesse Owens quando ele “desafiou” Hitler...
Aos 23 anos, o velocista Jesse Owens foi protagonista nas Olimpíadas de Berlim. A teoria nazista de superioridade da raça ariana foi derrubada pelo velocista negro e filho de escravos. Em seu país, os Estados Unidos, o atleta ainda era obrigado a andar na traseira do ônibus, por conta da política de segregação racial que privilegiava brancos. Além dessa conquista, Owens levou para casa o ouro nos 200m (20 segundos 7) e no salto em distância (8,13m) - ambos com recordes olímpicos -, e no 4x100m (39 segundos 8), ajudando o time norte-americano a bater o recorde mundial.
Melbourne, 1956: Brasileiro Adhemar Ferreira da Silva se torna bicampeão olímpico de salto triplo

- O brasileiro Adhemar Ferreira da Silva conquistou reconhecimento internacional ao ganhar duas vezes seguidas a medalha de ouro olímpica no salto triplo nos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952, e Melbourne, em 1956. Além das performances de sucesso nas provas, o brasileiro deixou sua marca no esporte por ter inventado a 'volta olímpica' para ser aplaudido de perto pelo público.

- Em Helsinque, em suas seis tentativas, o atleta bateu sucessivamente o recorde olímpico e mundial da prova por quatro vezes: 16,05m; 16,09m; 16,12m e, por fim, 16,22m, performance que o levou ao topo do atletismo internacional.

- Em Melbourne, consagrou-se campeão, tornando-se até então o único bicampeão brasileiro olímpico, com a marca de 16,35 metros. Ele só seria igualado 48 anos depois pelos iatistas Robert Scheidt, Torben Grael, Marcelo Ferreira e pelos jogadores de voleibol Giovanni e Maurício, todos bicampeões olímpicos em Atenas 2004. Sua vitoriosa carreira

no salto triplo, em especial depois de sua vitória em Melbourne, Austrália, conferiu-lhe o epíteto de “Canguru Brasileiro”.
Roma, 1960: Etíope Abebe Bikila entra para a história ao vencer maratona com pés descalços

Creative Commons - CC BY 3.0 - Abebe Bikila
Durante a 17ª edição das Olimpíadas em Roma, o etíope Abebe Bikila conquistou a medalha de ouro na maratona e se tornou o primeiro competidor da África subsaariana a ganhar uma medalha olímpica. Seu feito destaca-se ainda mais por ter sido o primeiro atleta a vencer uma maratona com os pés descalços. Após a conquista, foi recebido na Etiópia sob chuva de pétalas de rosa e confetes. O imperador também o condecorou com a
Ordem da Estrela da Etiópia.
México, 1968: Após cair, maratonista da Tanzânia corre maior parte do percurso com sangramento

Creative Commons - CC BY 3.0 - John Stephen Akhwari
Nas Olimpíadas de 1968, John Stephen Akhwari, da Tanzânia, chegou em último lugar na maratona. Ele correu a maior parte do percurso de 42 quilômetros pelas ruas da Cidade do México com uma perna enfaixada e sangrando, além das dores por conta de uma queda logo no início da corrida. Ele chegou mais de uma hora após o primeiro colocado e cerca de 20 minutos mais devagar que qualquer outro competidor. Mais tarde, perguntado sobre por que não tinha desistido da corrida, Akhwari pareceu perplexo e respondeu simplesmente: “Acho que vocês não entenderam. Meu país não me enviou à Olimpíada para começar a corrida. Eu fui enviado para completar a prova”.
Montreal, 1976: Nadia Comaneci foi a primeira ginasta da história a obter a nota perfeita nas Olimpíadas

Barcelona, 1992: Dream Team americano de Basquete vai para Olimpíadas
Creative Commons - CC BY 3.0 - Michael Jordan
A equipe masculina de basquete dos Estados Unidos selecionada para ir às Olimpíadas de 1992 foi apelidada de “Dream Team” (“Time dos Sonhos”). Isso porque a equipe era formada por grandes nomes da modalidade, como Michael Jordan, Charles Barkley e Patrick Ewing, para citarmos alguns. Foi a primeira vez que um time ativo na NBA foi recrutado para os Jogos Olímpicos. O “Time dos Sonhos” fechou os Jogos Olímpicos de Barcelona invicto, com média de 45 pontos de vantagem.
Com 9 ouros, velocista jamaicano Usain Bolt torna-se um raio certeiro nas pistas

- Primeiro homem a ser tricampeão olímpico nos 100m, 200m e 4x100m, em Pequim-2008, Londres-2012 e nos Jogos do Rio, ele se autodenomina 'uma lenda' no esporte Se alguém acha que um raio não cai no mesmo lugar, este alguém não conhece o jamaicano Usain St.
Leo Bolt. Depois de assombrar o mundo nos Jogos de Pequim, em 2008, vencendo os 100m, os 200m e o 4x100m, o velocista jamaicano repetiu a dose quatro anos depois. Em Londres, Bolt se tornou o primeiro homem na História a ser bicampeão olímpico nas duas provas mais velozes do atletismo e, segundo suas palavras, tornou-se uma lenda. Na Olimpíada do Rio, Bolt fez história mais uma vez, ao se tornar tricampeão olímpico nos 100m rasos, com o tempo de 9s81.

Usain Bolt também voltou a vencer nas outras duas provas nos Jogos de 2016. Nos 200m rasos, sua distância preferida já que costuma largar mal nos 100m, o velocista jamaicano foi o mais rápido do planeta, mesmo com a pista molhada, com o tempo de 19s78. Já no revezamento 4x100m, fechou de forma espetacular a prova, levando o time da Jamaica a registrar a marca de 37s27. Com os resultados históricos alcançados no Estádio Olímpico João Havelange (Nílton Santos), o Engenhão, o atleta acumula incríveis nove medalhas de ouro.
Em 2012, o show londrino do homem mais rápido do mundo teve início nos 100m rasos. Depois de passear pelas eliminatórias, ele venceu uma final recheada de rivais de peso, como o compatriota Asafa Powell e os americanos Justin Gatlin e Tyson Gay, com o tempo
de 9s63, quebrando o recorde olímpico. O também jamaicano Yohan Blake ficou com a prata, e o americano Gatlin completou o pódio.

— Muitas pessoas duvidaram de mim. Muita gente estava dizendo que eu não ia ganhar, que eu não parecia bem, mas mostrei que sou o número 1, que ainda sou o melhor. Dei mais um passo para me tornar uma lenda. Ainda faltam os 200m — disse Bolt, conforme publicado na edição de 22 de julho de 2016 da revista "A história dos Jogos Olímpicos", do GLOBO.
Quatro dias depois, Bolt voltou a voar baixo no Estádio Olímpico de Londres, desta vez nos 200m. O jamaicano correu a prova em 19s32, passando a impressão de que não quebrou o recorde olímpico (19s30) apenas porque reduziu o ritmo na reta final. Tirando onda, ele cruzou a linha com o dedo sobre a boca, como se pedisse silêncio, e ainda fez flexões na pista após a vitória:

— Só sei que agora eu sou uma lenda.
Poucos dias depois, ele acrescentou uma sexta medalha olímpica de ouro à sua coleção ao fazer parte do time jamaicano que venceu o 4x100m com o tempo de 36s84, novo recorde mundial.
— Fui lá e mostrei ao mundo que eu poderia fazer de novo. Este era o meu foco e consegui. Foi uma longa temporada, mas conquistei o que queria em Londres. Estou muito orgulhoso de mim mesmo — decretou o velocista jamaicano em 2012.

Sem tanto marketing, mas com um talento inigualável, outra lenda fez história em Londres: o nadador americano Michael Phelps, o atleta com maior número de medalhas de ouro na história até aqueles Jogos: 18.
Bolt se consolida como o maior velocista da história no adeus
O jamaicano fez o que se propôs e se converteu no primeiro homem na história a ser tricampeão dos 100 m, 200 m e revezamento 4x100 m.
"Nunca pensei que faria três vezes. Na primeira, fiquei feliz; na segunda, foi difícil; e a terceira é inacreditável. Botei a barra em uma altura que ninguém poderá me alcançar", afirmou.
Esta prova de superioridade foi a maneira de dizer adeus de forma triunfal. Aos 30 anos - completados neste domingo -, o astro já disse que não estará em Tóquio-2020. Sua despedida definitiva deverá ocorrer no Mundial de Londres, em 2017.

 Ele não é apenas um embaixador, tem um papel muito mais importante para ser desenvolvido e fazerem mais pessoas se engajarem com o esporte", disse Sebastian Coe, presidente da Associação das Federações Internacionais de Atletismo (Iaaf).
Brasil tem ouro inédito e mais que dobra número de finais do último Mundial.

Mulher, negra e de origem na periferia, Rafaela Silva se reinventa
Depois da eliminação precoce nos Jogos de 2012 que quase a afastou do esporte, atleta tem campanha perfeita em casa e se torna a primeira judoca campeã olímpica e mundial no país
Esta não é apenas a história de uma medalha de ouro, a primeira do Brasil nos Jogos Olímpicos Rio 2016. A narrativa escrita por Rafaela Silva no Parque Olímpico da Barra, nesta segunda-feira (08.07), tem trechos de determinação, de volta por cima, de segundas

chances. Ainda com o filme da campanha em Londres 2012 em mente, quando foi eliminada na segunda rodada e chegou a pensar em abandonar o judô, Rafaela subiu ao tatame da Arena Carioca 2 para exorcizar os fantasmas de quatro anos atrás e, mais uma vez, superar-se.
Em cinco vitórias estrategicamente perfeitas, a carioca se tornou a primeira campeã olímpica e mundial do judô brasileiro e a primeira medalhista de ouro do país nos Jogos disputados em casa. “O ginásio chegava a tremer. Eu via que minhas adversárias sentiam a pressão e eu não podia decepcionar todas essas pessoas que vieram torcer por mim aqui dentro da minha casa. Dedico essa medalha a todo o povo brasileiro que veio aqui torcer, a minha família e a meus amigos que viveram isso comigo diariamente”, emocionou-se.
Por que a 1ª medalha de ouro de uma nadadora negra é importante

Recordes são feitos para serem quebrados, diz um dos mais conhecidos clichês do esporte - e isso deverá ocorrer em algum momento com o tempo conquistado pela nadadora Simone Manuel na final dos 100 metros livre. Mas seu outro feito inédito não será superado.
Manuel tornou-se a primeira nadadora negra a ganhar uma medalha de ouro na história dos Jogos Olímpicos. E disse esperar que sua vitória leve a uma maior diversidade no esporte.

"Essa medalha não é só para mim, mas para todos os afro-americanos que vieram antes e serviram de inspiração", afirmou. "Espero inspirar outras pessoas. A medalha é para quem vier depois de mim no esporte."
Carcereiros, cortadores de cana e carregadores de mala dão a Fiji sua 1ª medalha olímpica na história
Como cientistas descobriram que tubarão de 400 anos é vertebrado mais velho do mundo
Entenda por que a vitória de Simone Manuel é tão significativa.
As piscinas foram um território proibido para negros americanos por gerações
As piscinas são há muito tempo um ponto especialmente sensível da questão racial nos Estados Unidos.

Afro-americanos não podiam entrar nelas quando a segregação ainda era praticada, e,
mesmo depois de ela ser abolida, brancos encontraram outras formas de mantê-los excluídos.
Mas, apesar de tudo isso, exceções podem surgir.
Por exemplo: a mãe de Cullen Jones, o primeiro negro a ser detentor de um recorde mundial de natação e medalhista de ouro nos Jogos de Pequim, levou o atleta para ter suas primeiras aulas após ele quase se afogar em um parque de diversões quando tinha 5 anos.
A ginasta americana 'massacrada' nas redes sociais mesmo após ouro

Aos 8, ele já competia. Em 2008, fez parte da equipe americana que venceu a final dos 4x100 metros livre.
Levou um longo tempo para chegarmos até o ponto atual
Ainda hoje, ver um negro vencer uma prova de natação é algo raro.
O holandês Enith Brigitha tornou-se o primeiro nadador negro a ganhar uma medalha olímpica ao chegar em terceiro nos 100 metros livre em Montreal, em 1976, perdendo para dois atletas que depois foram flagrados em exames antidoping, segundo o Hall Internacional da Fama da Natação.

O próximo feito viria só em 1988, nos Jogos de Seul, quando Anthony Nesty, do Suriname, tornou-se o primeiro homem descendente de africanos a ganhar o ouro na natação.
Anderson Silva ajudou Maicon Andrade a conquistar a medalha de bronze.Um brasileiro levou medalha na categoria acima de 80 kg no taekwondo. Algum desavisado pode perguntar se foi Anderson Silva o medalhado. Não, foi Maicon Andrade, 23 anos, quem levou o bronze na Arena Carioca 3, nos Jogos Olímpicos do Rio. Mas ele e seu técnico entendem que o ex-campeão do UFC de alguma maneira ajudou na conquista.
Anderson Silva, 41, uma das maiores estrelas de todos os tempos do MMA, teve sua base nas artes marciais no taekwondo, modalidade na qual não pratica mais há muitos anos (lutou dos sete aos 17). De 2013 até o ano passado passou a aventar a possibilidade de disputar os Jogos do Rio ao participar das seletivas brasileiras para uma vaga na categoria acima de 80 kg.

"O Brasil nunca ganhou o ouro no futebol porque eu nunca joguei". A frase é de Pelé, tricampeão do mundo pela Seleção...
Neymar e Marta, a Rainha, considerada por muitos como o "Pelé de saias". Dois craques, mas duas carreiras bem distintas. Neymar, de 24 anos, vive a realidade dos salários milionários das estrelas internacionais. Marta, agora trintona, tem cinco prêmios da Fifa de melhor do mundo e ainda sofre com a falta de reconhecimento do futebol feminino.
Marta, que foi eleita cinco vezes a melhor jogadora de futebol do mundo, recebe $400.000,00 por ano (R$ 1.300.000,00) de seus patrocinadores – Coca-Cola e Puma – que utilizam sua imagem para aumentar as vendas junto às mulheres. O clube em que Marta atua, o FC Rosengård da Suécia, não paga qualquer salário à atleta, dado que o futebol feminino atrai cerca de 1.000 pagantes por jogo naquele país. Mesmo assim, o salário de Marta é o segundo maior do mundo no futebol feminino, atrás apenas da atacante americana Alex Morgan ($450.000,00 por ano), que atua na principal liga de futebol feminino do mundo, a dos EUA.

Seleção celebra seus dias de 'empoderamento', mas segue cética
Marta no futebol feminino fez historia e A derrota nos pênaltis nesta terça-feira, que tirou a equipe da disputa pelo ouro, causou comoção no Maracanã. A goleira reserva Aline acredita que tamanho carinho ocorre porque o time representa o "espírito do tempo": as reivindicações das mulheres pelos mesmos direitos, oportunidades e salários que os "homens".
“Queríamos muito a medalha de ouro. Não só para benefício próprio, mas para o futuro da modalidade, para as próximas gerações aqui no Brasil
Marta representa um alicerce para que o futebol feminino do Brasil siga crescendo. Sua representatividade no exterior dá a visibilidade que a modalidade não alcançaria sem ela. Embaixadora da ONU - algo que CR7 tentou e não conseguiu -, leva ainda um exemplo de luta às mulheres e faz com que meninas sonhem ter sucesso em um esporte que até pouco era visto como "tabu" por ser classificado como masculinizado. A número 10 não sente o peso de sua camisa. É líder durante os jogos. Sabe que seu papel é servir de exemplo e assim o faz. Uma campeã com cinco títulos de melhor do mundo.

e "negro" Neymar desencantou:O atacante é a principal referência do futebol no país há pelo menos seis anos, desde que passou de jovem talentoso a um dos mais valiosos jogadores do planeta. Enquanto o país lamenta o fim do encanto, do futebol-arte, Neymar é uma resistência do encantamento, do drible, da molecagem. Ser protagonista da primeira medalha de ouro do futebol brasileiro o levaria a um patamar nacional diferente, principalmente com a final no mítico Maracanã. Ídolo de jovens que têm o hábito de copiar seus penteados ou visuais às vezes extravagantes, Neymar é hoje, dentro de campo, o principal símbolo do que se espera do futebol brasileiro.

  Aconteceu! O Brasil venceu a Alemanha na decisão do futebol nos Jogos Olímpicos Rio-2016 e garantiu o ouro inédito em casa. Neymar, que foi tão criticado( merecido que fique aqui o registro), fez um gol no tempo normal e marcou o último pênalti que garantiu a vitória.
Gente com base no número de gols feitos na seleção, como se o salário de um atleta dependesse somente da seleção – com o claro intuito de inferir “machismo” nos esportes. A comparação foi devidamente destruída pela página Caneta Desesquerdizadora, que colocou a realidade dos dados na mesma imagem.
De 2004 a 2014 a diferença salarial entre mulheres e homens diminuiu, com o rendimento feminino ultrapassando os 70% da renda masculina – e o tempo médio de estudo das mulheres aumentou com relação aos homens – 6,4 anos para elas e 5,3 para eles. Os destaques são da Pesquisa Mulheres e Trabalho: breve análise do período 2004-2014, divulgada nesta sexta-feira pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e não e diferente o esporte ganhamos menos também que o homem negro...
Nossa gente como entramos neste debate!!!
Ah esta ia para a gente refletir...
Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

Fonte: Superesportes\fotos net

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

“Convergências da Luta de Combate ao Racismo no Brasil”

Documento define pontos que unificam combate ao racismo no Brasil - 
Apesar dos avanços conquistados no Brasil no últimos anos, com a adoção de políticas de
promoção da igualdade racial e de ações afirmativas que possibilitaram, entre outras mudanças, a inclusão de afrodescendentes nas universidades, é inegável que a população negra ainda sofre racismo e frequentemente se vê em situação de discriminação. São os negros as maiores vítimas da violência e os que sofrem mais com a pobreza. Eles também têm pouca representatividade nas esferas políticas e tem renda média muito menor que a dos brancos. Diante desta realidade, a luta contra o racismo no Brasil continua fundamental para a construção de justiça social no país.
Movidas por esta convicção, lideranças do movimento negro representando vinte e uma organizações nacionais reuniram-se em janeiro, durante o Fórum Social Mundial Temático, realizado em Porto Alegre, para debater pontos que unificam o movimento e o diálogo de combate ao racismo, para construção da unidade. Os pontos foram sistematizados na Declaração de Porto Alegre e envolvem temas como o impedimento da redução da maioridade penal, combate ao extermínio da juventude negra e à intolerância religiosa. Conheça a íntegra do texto:

Construir 'Convergências da luta de combate ao racismo no Brasil'

Reunidas no dia 21 de Janeiro de 2016, durante o Fórum Social Temático de Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul, lideranças do movimento negro representando vinte e uma organizações nacionais, regionais e estaduais de treze estados brasileiros declaram e tornam públicos os seguintes pontos que orientam o diálogo para a construção da unidade da luta de combate ao racismo, iniciado em reunião das organizações negras na cidade de Salvador (Bahia) em de novembro de 2015.

I - Reafirmar os desafios da conjuntura e para o futuro da luta negra no Brasil apresentados na Carta de Salvador de 29 de novembro de 2015.

O Mundo vive uma grave crise econômica, política, ambiental, humanitária e moral que traz

como consequência a destruição da natureza; a desvalorização do trabalho; a recolonização, que envolve racismo, genocídio contra a população negra, em especial, em relação à juventude negra, a xenofobia e a criminalização dos movimentos sociais. A crise financeira mundial ainda não superada é usada para justificar o pensamento conservador que a cada dia ganha mais espaço na agenda pública na Europa e nas Américas.

Nos EUA, a tônica para a próxima disputa eleitoral entre os Republicanos é a busca do candidato mais ultraconservador, entre os ultraconservadores. Ideários nazi-fascistas orientam as políticas imigratórias nos EUA, Canadá e Comunidade Européia. Medidas draconianas contra estrangeiros, refugiados e trabalhadores não nacionais se intensificam. Crescem os conflitos armados e genocidas contra povos e nações não brancas e não ocidentais em todo planeta.

O povo brasileiro não está imune a crise, tem amargado seus nefastos efeitos, ultimamente potencializado por medidas regressivas do ajuste fiscal e na pauta imposta pela maioria conservadora do Congresso Nacional, tais como a redução da maioridade penal, ampliação da terceirização, lei antiterrorismo e outros ataques aos direitos trabalhistas.

No campo da luta por igualdade racial o agravo da crise é maior, o ambiente está muito mais desfavorável, pois será principalmente sobre os ombros dos (as) trabalhadores (as) negros (as) que pesará o ônus da crise. Será a maioria dos (as) desempregados (as), que mais sofrerão os altos e baixos do contingenciamento de recursos nas áreas sociais, tais como saúde e educação.

Diante da conjuntura adversa para luta contra o racismo e pela eminência do conservadorismo avançar sobre a pauta da igualdade racial, precisamos apostar na unidade do movimento negro como ferramenta de resistência e luta contra a onda conservadora que busca revogar as mais minúsculas conquistas da população negra.

O movimento negro vem ao logo dos últimos anos buscando consensos. Foi assim, que derrubou o “mito da democracia racial”; construiu a unidade em torno do Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro); realizou a Marcha dos 300 Anos da Imortalidade de Zumbi dos Palmares, quando transformou Zumbi em herói nacional; as movimentações dos 500 Anos de Resistência Indígena, Negra e Popular; das mobilizações pela aprovação e a constitucionalidade das cotas raciais e pela aprovação do Estatuto da Igualdade Racial.

Em que pese os avanços alcançados nos últimos anos, através de um conjunto de políticas públicas, legislações e estruturas governamentais voltadas para ascensão da população negra e para o combate ao racismo ainda persiste a perversa desigualdade racial no nosso país. Há
muito a ser feito para o alcance da justiça racial, apesar do caminho tortuoso e longo, enfrentando uma carga de quinhentos anos de construção do racismo e da desigualdade, que não nos faz recuar, muito pelo contrário, aumenta nossa determinação na luta.

As organizações do Movimento Negro estarão sempre presentes nas justas mobilizações do povo, na construção de um país sem opressores, sem oprimidos e com soberania. Temos que ocupar as ruas, defender a democracia e uma agenda de retomada do desenvolvimento, que assegure direitos, valorize o trabalho, combata o racismo, machismo, homofobia e outras manifestações correlatas de ódio e opressão.
II - Considerar como ponto de partida para a construção de uma plataforma e um plano de lutas comum e unitário, as bandeiras abaixo relacionadas que foram decididas coletivamente na reunião de Salvador:
Contra a redução da maioridade penal;
Combater o extermínio/genocídio juventude negra;
Aprofundar as políticas e ações afirmativas no país, com destaque nas mulheres negras;
Autonomia das mulheres negras e participação nos espaços de poder público e privado;
Lutar pela efetivação das leis 10.639/03 e 11.645/08;
Avançar na pauta quilombola, nenhum quilombo sem suas terras regularizadas e tituladas e com políticas públicas para melhoria da qualidade de vida;
Combater a intolerância e violência religiosa, garantir a laicidade do estado e proteger a liberdade de culto;
Criminalizar a homofobia;
Pela aprovação da PL 4471/12, que põe fim aos autos de resistência;
Democratização dos meios de comunicação;

A cultura afro-brasileira é parte fundamental da cultura geral no Brasil, neste sentido atuaremos pela ampliação da sua inclusão nas políticas públicas, bem como, em toda e qualquer discussão do movimento negro brasileiro, enquanto instrumento de transformação
social.

III - Criar a "Convergências da Luta de Combate ao Racismo no Brasil".

Considerações:
a) É um espaço de busca de consensos em torno de pautas e agendas comuns.
b) Visa a construção de programas, agendas e lutas para além da institucionalidade da promoção da igualdade racial.
c) Sua metodologia de construção de convergências de pautas e agendas deve partir de consensos decorrentes dos acúmulos de cada força política e organização nacional, regional e local do movimento negro brasileiro.
d) Deve incorporar e se relacionar com os novos movimentos existentes ou em criação na luta de combate ao racismo no Brasil.
e) A "Convergências da Luta de Combate ao Racismo no Brasil" deve estar inserida, além das lutas de combate ao racismo, no debate mais amplo sobre o Desenvolvimento e de um Projeto para o Brasil.
IV – Propostas iniciais para a construção da "Convergências da luta de combate o racismo no Brasil".

+ Incorporar em nossas pautas as políticas e programas de luta contra o racismo com os objetivos do Decênio Internacional para os Afrodescendentes (2015 – 2014): Reconhecimento, Justiça e Desenvolvimento.

+ Apontar para agendas e pautas que são estratégicas para a população negra brasileira como: uma nova política de segurança pública e sobre as drogas.

+ Prioridades apresentadas para a construção de um plano e uma agenda de lutas: mulheres negras, juventude negra, quilombolas, intolerância religiosa e os direitos LGBT.

+ Eixos de lutas a serem considerados no ano de 2016: o racismo nas Olimpíadas; as eleições municipais com o estímulo e o apoio das candidaturas negras.


Assinam essa declaração:
ABPN - Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, APN's - Agentes Pastorais Negros, CEN - Coletivo de Entidades Negras, Círculo Palmarino, CONAJIRA - Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade
Racial, CONAQ - Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas, CONEN - Coordenação Nacional de Entidades Negras, ENEGRECER – Coletivo Nacional de Juventude Negra, FNMN - Fórum Nacional de Mulheres Negras, FONAJUNE – Fórum Nacional de Juventude Negra, MNU - Movimento Negro Unificado, QUILOMBAÇÃO, Rede Afro LGBT, Rede Amazônia Negra, UNEGRO - União de Negros pela Igualdade.

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