UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Jorge Ben -- "Xica Da Silva"


Nossa gente nossa historia:Charles Drew Médico e Cientista

 

 Cientista médico e cirurgião estadunidense nascido em Washington, D.C, pioneiro no desenvolvimento dos bancos de sangue e internacionalmente reconhecido como autoridade em plasma sanguíneo, cujas ideias revolucionaram a medicina, especialmente de emergência e cirúrgica. Filho de Richard e Nora Drew, graduou-se no Amherst College (1926) com um grau B.A. e onde foi jogador de american football, e empregou-se no Morgan College ensinado biologia e diretor de atletismo.Chegou a McGill University onde obteve os graus M.D. e C.M., master de surgery, (1933) em medicina. Recebeu o doutorado em ciências médicas na Columbia University's College of Medical and Surgeons (1940). Tornou-se o primeiro diretor do American Red Cross Blood Bank (1941) e abriu um banco de plasma sangüíneo no Presbyterian Hospital in New York City, NY. Praticou medicina e ensinou cirurgia ao longo de toda sua carreira. Chefe de cirurgia do departamento da Howard University (1941-1950), ajudou a estabelecer bancos de sangue para servir aos Aliados da Europa durante a II Guerra Mundial (1939-1945).

Em 1943, durante a II Guerra Mundial, o comando militar norte-americano proibiu transfusões de sangue de negros para soldados brancos. Esta técnica, que já salvou milhões de vidas, era, então, uma recente inovação científica, fruto das pesquisas de um brilhante médico, Charles Drew, que também respondia pela presidência da Cruz Vermelha norte-americana. Este mesmo Drew insurgiu-se contra a determinação do Pentágono, que considerou um disparate. No entanto, prevaleceu a decisão dos generais e o cientista foi destituído de seu cargo à frente da Cruz Vermelha. Um pequeno detalhe exacerba o ridículo deste capítulo da História: Charles Drew, o brilhante cientista que desenvolveu a técnica de transfusão de sangue, era afro-descendente.

Eis, infelizmente, uma metáfora perfeita do racismo. A elite da sociedade racista sempre foi pragmática e racional no momento de aproveitar o conhecimento dos negros. Ao mesmo tempo, com estupidez que beira a bestialidade, também sempre insistiu no mito da inferioridade negra. Os generais do Pentágono não viram nenhum problema em utilizar-se da maravilhosa descoberta do plasma, que viabilizou a transfusão de sangue, mesmo vinda do cérebro de um negro. Mas não conseguiram digerir a idéia de que soldados brancos pudessem receber sangue de afro-descendentes.

Por mais gritante que esta esquizofrenia intelectual possa nos parecer, ela tem sua lógica. Não só nos Estados Unidos, mas em todas as terras onde se desenvolveram economias fundadas na mão-de-obra escrava negra, se criou e difundiu um sistema de idéias para sustentar que estas pessoas eram destituídaos de humanidade, sensibilidade, inteligência ou qualquer outro tipo de virtude. Sua única

Mesmo nas lides mais rudes, se observa outra faceta desta mesma contradição. Os negros trabalhavam à exaustão, enquanto as elites brancas orgulhavam-se das mãos de toque suave e das unhas compridas, sinais evidentes de que não precisavam trabalhar. No entanto, era sobre os negros que recaía – e ainda recai – a pecha de preguiçosos e indolentes.

IDEOLOGIAS NÃO SE FUNDAMENTAM EM FATOS, MAS EM INTERESSES
A lógica desta imensa farsa está nas necessidades da expoliação – do trabalho dos negros e da terra dos indígenas. O mito da inferioridade racial foi construído para adormecer as consciências, mas não apenas da sociedade branca. Estava apontado também contra as consciências negras (e indígenas).

Costumamos pensar nas ideologias como estruturas, ou até como sistemas, mas a compreensão mais adequada é a de um processo. Como as sociedades, as ideologias existem em transformação e adaptação permanentes. São carregadas de contradições e elementos, não só racionais e objetivos, mas também inconscientes. Elas não se fundamentam em fatos, mas em interesses – e os interesses se transformam ao longo do tempo. Assim, quando os senhores adquiriam escravos em função dos seus conhecimentos e habilidades, não atendiam a uma racionalidade neutra, mas à racionalidade dos seus interesses. Esta mesma racionalidade lhes ditava a necessidade de inferiorizar os negros. Sob este prisma, não há contradição no fato de que a mesma sociedade procurava escravos letrados para ajudarem na administração de seus negócios e proibia explicitamente a alfabetização dos negros.

A verdadeira contradição da sociedade escravocrata não residia na esquizofrenia da sua racionalidade, mas na necessidade de destruir constantemente os trabalhadores que a sustentavam. Durante o dia, precisava de homens fortes, saudáveis e lúcidos, para enfrentar duras jornadas de trabalho. À noite, precisava embriagá-los para destruir sua capacidade de resistência. A informação nos vem de fonte insuspeita, Gilberto Freyre, talvez o maior ícone do racismo cordial brasileiro. Até as crianças negras da eram obrigadas a beber cachaça nas senzalas, todas as noites. Segundo Freyre, porém, “para prevenir a verminose”.

Neste ponto, é preciso esclarecer que este relato não é uma queixa contra o passado de sofrimentos a que foi submetido o povo negro. Seu objetivo é reestabelecer a verdade histórica para enfrentar e superar, hoje, o racismo herdado dos séculos passados. Hoje, o pensamento racista cordial sobrevive e detecta, por exemplo, a realidade do alcoolismo entre os negros como uma evidência a confirmar seus preconceitos. Mas solenemente ignora o peso da herança da cachaça servida à força nas senzalas sobre gerações de famílias negras. A forte rejeição à estratégia de cotas, por sua vez, frequentemente se apresenta como embasada num “democrático” conceito de “igualdade”: as cotas para negros no ensino universitário e no serviço público, segundo esta “democrática igualdade”, seriam a imposição de um “racismo às avessas” que “privilegiaria” os negros, em detrimento dos brancos.

Como se Histórias diferentes no passado não resultassem em realidades diferentes hoje! Esta conversa tão bonita, de que “somos todos iguais”, revela uma ignorância que poderia causar espanto, se não conhecêssemos as contradições históricas que reproduz. Ora, os abusos da era escravocrata não deixaram de causar efeitos com a assinatura da Lei Áurea da princesa Isabel, nem sobre as condições materiais de vida – de negros e brancos – nem sobre os ideários – de negros e brancos. Não
contribuição à sociedade, portanto, só poderia ser o trabalho mais rudimentar, para o qual era apenas necessária a força física. Ao mesmo tempo, os escravos eram selecionados e adquiridos de acordo seus talentos. Para trabalhar com o ouro, nas Minas Gerais brasileiras, por exemplo, os colonizadores portugueses precisaram buscar escravos das regiões africanas onde se praticavam a mineração e a metalurgia, pois os portugueses estabelecidos no Brasil pouco conheciam destas artes. Na Bahia, a História ficou marcada pela ação dos escravos muçulmanos que, sabendo ler e calcular, eram utilizados na administração dos negócios dos senhores, muitas vezes iletrados.
é por acaso que ainda hoje policiais abordam jovens negros trabalhadores e estudantes, à noite, simplesmente em função da cor da pele, deixando em paz jovens arruaceiros brancos.Sentiam ânsia de vômito ao pensar nesta hipótese, pois para eles, o negro continuava sendo algo repelente.

ATÉ O AMBIENTE ESCOLAR É CONSTRUÍDO A PARTIR DE CONCEITOS DA SOCIEDADE NÃO NEGRA
Tampouco seria mero acaso se algum leitor, defensor da “democrática igualdade” acusasse este texto de “racismo ás avessas” por supostamente apresentar os jovens negros como “trabalhadores e estudantes” e os jovens brancos como “arruaceiros”. Releia, se quiser, para certificar-se de que não foi feita nenhuma generalização. Não se disse que nunca a polícia aborda jovens arruaceiros brancos. Tampouco que todos os jovens brancos são arruaceiros. Nem se disse que todos os jovens negros são trabalhadores e estudantes. Tampouco que não existam jovens negros arruaceiros. O que foi dito é que jovens negros, mesmo se trabalhadores e estudantes, são frequentemente abordados pela polícia como suspeitos, simplesmente em função da cor da pele. E não é verdade? No entanto, há quem acredite que existe “igualdade” de condições para negros e brancos que queiram chegar ao ensino universitário.

Não há esta igualdade. Não por força de alguma conspiração urdida contra os negros, mas pela simples reprodução natural do racismo e da desigualdade, como processos históricos. O próprio ambiente escolar é construído a partir de conceitos da sociedade branca. Tome qualquer livro escolar e observe as ilustrações, especialmente as que retratam grupos de pessoas. A boa vontade oficial e os conceitos “politicamente corretos” já fazem com que todos eles apresentem sempre um negro entre um grupo de pessoas brancas. Quase sempre aparecem também uma pessoa de feições asiáticas e outra indígena. No entanto, em que medida estas ilustrações reproduzem a real proporção racial existente no país? Se isto acontecesse, não haveria quem se escandalizasse e acusasse os editores de “racismo às avessas”?

Pois agora já ouvimos quem se sinta desconfortável pela existência de uma lei determinando que a História da África, dos afrodescendentes e dos indígenas seja incluída nos currículos escolares! Não há uma linha sequer, nesta lei, que proíba falar da História dos portugueses, espanhós, alemães, italianos, etc., mas preocupa a “supervalorização” dos negros e indígenas! Porque “supervalorização”? Não são eles metade da população brasileira? Não apontam as projeções estatísticas que, nas próximas décadas, serão a maioria? Não seria justo, portanto, que pelo menos metade dos nossos currículos escolares estivessem voltados para a realidade deste segmento da população?

A questão essencial, aqui, é a dos ambientes retratados e da cultura que se idealiza como a “melhor” a ser ensinada aos alunos. A título de exemplo, vamos observar que a família negra tem características especiais, como o forte traço matriarcal e a amplitude, não tão comuns nas famílias brancas. Esta família, embora seja a de metade dos brasileiros, não é reconhecida no ambiente escolar. Não há nenhuma maldade oculta por trás desta realidade. Simplesmente, a grande maioria dos pedagogos não

No entanto, já se vão 50 anos desde que Paulo Freire demonstrou que a correspondência entre o ambiente escolar, por um lado e, por outro, o ambiente cultural em que os alunos crescem e vivem, além dos muros da escola, é decisiva para o aprendizado. E, mesmo assim, há quem queira afirmar que existe “igualdade” de condições para negros e não negros que queiram chegar ao ensino universitário.

O RACISMO CORDIAL SE APRESENTA SIMPÁTICO AOS NEGROS,MAS LHES NEGA A VERDADE DO PROTAGONISMO HISTÓRICO.

Não há dúvida de que evoluímos muito desde o tempo da escravidão. Mesmo assim, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que seja completamente superada esta deformação da sociedade brasileira (e de tantas outras). Mas, aqui, cabe perguntar: os mais importantes progressos resultaram de concessões bondosas da sociedade branca ou da luta do povo negro?

Para responder, vamos lembrar do episódio conhecido como “Revolta da Chibata”, ao final da primeira década do século XX. Passados mais de 20 anos da abolição da escravatura, a marinha brasileira ainda amarrava soldados negros aos mastros de seus navios para chicoteá-los, como punição por qualquer ato de desobediência. A estupidez foi banida dos nossos navios só depois que os negros se rebelaram, tomaram uma esquadra e apontaram seus canhões contra o palácio do Catete, no Rio de Janeiro, então sede do governo da República. Os participantes da revolta e seu líder, João Cândido, celebrado como “o Almirante Negro”, foram cruelmente punidos. Porém, o medo de novas sublevações dos negros e do repúdio da opinião pública, fez com que os almirantes brancos abolissem a chibata da marinha brasileira.

Diante dos fatos, cabe renovar a pergunta: foi o sentimento de “democrática igualdade” ou o “racismo às avessas” dos negros revoltados que acabou com o chicote nos navios brasileiros? Qualquer uma das duas respostas, se isolada, é simplória. A luta dos negros foi o fator decisivo. E foi reforçada pela indignação de setores da sociedade dominante. No entanto, o racismo impregnado na historiografia oficial inverte a realidade e nos apresenta bondosos intelectuais brancos como os maiores heróis da libertação e promoção social negra.

Esta é uma das facetas do racismo cordial. Ele se apresenta simpático aos negros, mas lhes nega a verdade do protagonismo histórico. Atribui a libertação dos escravos não à luta dos negros, mas, aos versos do poeta abolicionista Castro Alves e à bondade da Princesa Isabel. Assim, silencioso, eficaz – até porque se justifica com o “cordial” argumento de que relembrar lutas poderia acender a chama do ódio – realimenta a falácia da superioridade racial. Em contraponto, expor a verdade da luta negra não precisa ser um exercício de “racismo às avessas”. Para enfatizar a importância decisiva da luta dos negros contra a escravidão, não é preciso negar a generosidade de setores da sociedade branca. No entanto, continua sendo necessário compreender os limites, mesmo das mais generosas disposições.

PARA SUPERAR O EUROCENTRISMO, É NECESSÁRIO UM PENSAMENTO HISTÓRICO QUE RECONHEÇA E INCLUA TODAS AS RAÇAS E CULTURAS

Convém repetir que, ao entendermos que cabe aos negros – e indígenas – protagonizar a continuidade da luta contra o racismo, não estamos praticando um “racismo às avessas”. Simplesmente, constatamos que, na História, quem mais e melhor luta contra a opressão é o oprimido. Isto, no entanto, não deve esconder que a conquista e o acolhimento de pessoas brancas são essenciais para a construção de uma sociedade realmente democrática, inclusiva e definitivamente não racista.

E este é um dos grandes desafios postos à frente dos militantes negros da igualdade: afirmar a História e a cultura negra, com toda sua ampla gama de valores e o seu “universo de belezas”, sem perder de vista a contribuição de outras etnias. E, aí deve ser incluída a História e a cultura dos povos indígenas, que a visão eurocêntrica oculta também dos olhos afro-descendentes. Faz parte compreender a interpenetração das raças e culturas. A História do povo negro não se conta sem o encontro e a fusão com outros povos, especialmente no Brasil. E, mais uma vez, enfatizamos que não estamos falando somente sobre a fusão com o povo europeu, mas também, e muito fortemente, com os povos indígenas.

Uma segunda faceta deste desafio é a atitude intelectualmente honesta diante da sociedade e da História. Não vale elevar os povos negros e indígenas à santidade, ignorando sua realidade humana. Os negros, como os brancos, como os asiáticos, como os indígenas, como todos os povos, afinal... também produziram ditadores sanguinários. Assim como podemos traçar paralelos entre Mandela e Gandhi, podemos colocar lado a lado Hitler e Idi Amin Dada. A História negra não pode ignorar os caçadores negros de escravos negros em território africano, nem os capitães do mato negros caçando escravos fugidos negros, já no Brasil. Da mesma forma, para compreender a igualdade humana entre todos os povos, ao redimensionarmos o poder dos versos de Castro Alves, não podemos ignorá-lo. O mesmo vale para a bondade, mesmo que insípida, da Princesa Isabel. Aliás, para compreender melhor o gênero humano, seria interessante saber como pode ter sido gerada esta generosa visão no próprio ventre da sociedade escravocrata.

A questão essencial, porém, é que toda esta realidade precisa ser vista, estudada e compreendida a partir de um ponto de vista não negro, nem europeu, mas universal. A visão eurocêntrica não deve ser substituída por uma visão centrada na África. A tarefa de construir a igualdade exige uma visão que compreenda e aceite a diversidade também no seu campo de leitura do mundo.

É BENÉFICO E URGENTE COMPREENDER E ASSUMIR VALORES CULTURAIS INDÍGENAS E NEGROS

Mais uma vez repetimos: é preciso ouvir também os indígenas. E, de novo, esta insistência não é fruto da generosidade de nossos sentimentos igualitários, mas da relevância que os indígenas vem assumindo na atualidade, como resultado das suas lutas históricas. Hoje, estão exercendo papel decisivo na evolução política do Equador e do Paraguai; lideram movimentos revolucionários no México e se articulam em todo o continente americano, do extremo norte, no Canadá, ao extremo sul, no Chile. Na Bolívia lideram uma ampla coalização de forças populares que assumiu o governo do país e vem trazendo contribuições surpreendentes (pelo menos aos olhos do eurocentrismo) para a vida política contemporânea, como a Declaração dos Direitos da Terra.

Novamente, vale insistir na importância de superar a visão eurocêntrica da História ao analisar também estes fatos. Como vimos anteriormente, é possível ao “racismo cordial” ter autêntica generosidade em relação aos povos negros e indígenas. Esta generosidade, porém, não consegue ir além da pretensão de “elevar” seres humanos de outras raças ao estágio civilizatório alcançado pela sociedade branca, o que já é outra forma de manifestar a crença na “superioridade” de uma raça sobre as outras. Este “estágio civilizatório”, porém, trouxe a humanidade à beira de um precipício: a contradição entre um mundo físico limitado e um sistema econômico cuja essência é a expansão permanente.
De qualquer forma, devemos ter presentes duas reflexões importantes. A primeira é que compreender e assumir valores culturais negros e indígenas não significa santificá-los, ou, em outras palavras, abster-se da visão crítica. A segunda é que a evolução das culturas negras e indígenas se dará em processo de fusão com valores ocidentais e orientais. Terá relação também com o que hoje acontece com os povos do Extremo Oriente, com o mundo muçulmano, com os povos da África, da Europa e do resto da América. E terá relação também com as tecnologias do mundo moderno.

a conhece e, portanto, não poderia considerá-la na elaboração dos currículos e planos pedagógicos. Observe-se: a grande maioria dos pedagogos é branca, como resultado da constante reprodução das desiguladades e do racismo.
Se liga:
O fundamental, de qualquer forma, é que a compreensão de outros pontos de vista transforma nossa visão de mundo. Olhar para a História com olhos indígenas joga por terra a primeiro e fundamental conceito que as crianças aprendem em sala de aula sobre o Brasil, ou seja, que ele foi “descoberto” pelos portugueses. Aos olhos indígenas, o Brasil nunca foi descoberto. No mínimo, o Brasil foi

E, se a História brasileira fosse contada com a voz dos negros? Seriam diferentes os mapas e as nações. Seria outra a compreensão do que é a vida e, ainda, outro o futuro. Talvez o futuro desejado pela maioria das comunidades negras, por exemplo, não seja o de morar em blocos de concreto, encurraladas e distantes dos amigos e parentes (já observamos a grande importância da família para as comunidades negras, muito mais ampla e inclusiva do que a família da moderna cultura ocidental). Por outro lado, talvez, nos bons sonhos de quem dorme nas favelas, muito mais do que blocos de concreto, exista uma polícia que não chegue dando tiro em tudo que é preto e se move, sem pensar se é sobrinho, filho, neto ou enteado de quem quer que seja.
Recebeu muitas honras e prêmios, incluindo o diploma de cirurgia pelo American Board of Surgery of Johns Hopkins University (1941), e a Spingarn Medal da National Association of the National Association for the Advancement of Colored People - NAACP (1944). Morreu em acidente de automóvel de conflitantes versões, próximo a Burlington, numa região rural da North Carolina. Um selo em sua homenagem foi lançado (1981) pela U.S. postage.

Todas estas considerações nos levam à necessidade de compreender a existência de uma História Popular ainda diferente daquela que pode ser percebida apenas com olhos indígenas, negros ou

invadido. Brasil? De que lugar estamos falando? De onde vem este nome? Como se pode perceber, a diferença de ponto de vista muda o próprio mapa do mundo. Aqueles que chamamos generalizadamente de “índios” são muitos diferentes povos, culturas e nações! Ou alguém acredita que os Incas foram extintos? Ou que os Guaranis deixaram de existir? As fronteiras que eles vêem, porém, são diferentes daquelas que percebe a sociedade ocidental. E, já que estamos falando em História, também é diferente o futuro que desejam.
europeus. Nos convidam a erguer ainda pouco mais o olhar, para compreender que nenhuma se conta sem a outra. E que nenhuma tem futuro sem a outra.

Um afro abraço.

fonte:Wikipédia

domingo, 30 de agosto de 2015

O Negro Pixinguinha, músico (1897-1973)

Pixinguinha, é considerado por muitos  o pai da música brasileira. Normalmente reconhecido
Foi o primeiro maestro-arranjador contratado por uma gravadora no Brasil. Era um músico profissional quando boa parte dos mais importantes músicos eram amadores (os principais chorões eram funcionários públicos e faziam música nos horários de lazer). Pixinguinha foi antes de tudo um pesquisador de música, sempre inovando e inserindo novos elementos na música brasileira. Foi muitas vezes incompreendido, e apenas anos mais tarde passavam a dar o devido valor a suas invenções.

Pixinguinha foi um menino prodígio, tocava cavaquinho com 12 anos. Aos 13 passava ao bombardino e a flauta. Até hoje é reconhecido como o melhor flautista da história da música brasileira. Mais velho trocaria a flauta pelo saxofone, pois não tinha mais a firmeza e embocadura necessárias. Aos desessete anos grava suas primeiras instrumentações, vindo a no ano seguinte gravar suas primeiras composicoes, nada menos que as pérolas Rosa e Sofres Porque Queres.

"apenas" por ser um flautista virtuoso e um compositor genial, costuma-se desprezar seu lado de maestro e arranjador. Pixinguinha criou o que hoje são as bases da música brasileira. Misturou a
então incipiente música de Ernesto Nazareh , Chiquinha Gonzaga e dos primeiros chorões com ritmos africanos, estilos europeus e a música negra americana, fazendo surgir um estilo genuínamente brasileiro. Arrajou os principais sucessos da então chamada época de ouro da música popular brasileira, orquestrando de marchas de carnaval a choros.

 Quando compôs "Carinhoso", entre 1916 e 1917 e "Lamentos" em 1928, que são considerados alguns dos choros mais famosos, Pixinguinha foi criticado e essas composições foram consideradas como tendo uma inaceitável influência do jazz, enquanto hoje em dia podem ser vistas como avançadas demais para a época. Além disso, "Carinhoso" na época não foi considerado choro, e sim uma polca.
 
Outras composições, entre centenas de composições em 1922 têm uma experiência que transforma significativamente sua música. Um milionário patrocina a viagem de Pixinguinha e de seu grupo Os 8 Batutas para uma turnê europeia. A temporada em Paris que deveria ser de um mês dura seis, tendo
que ser interrompida devido a compromissos já assumidos no Brasil. Na Europa Pixinguinha trava contato com a moderna música europeia e com o jazz americano, então moda em Paris.


"Pixinguinha morreu na igreja de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, quando seria padrinho em uma cerimônia de batismo. Foi enterrado no Cemitério de Inhaúma."

Um afro abraço.

fonte: www.samba-choro.com.br


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

29 de Agosto dia da visibilidade lesbica descobrindo: Identidades e Reconhecimento

O Dia da Visibilidade sbica foi criado em referência a 29 de agosto de 1996, quando
ocorreu o I Seminário Nacional de Lésbicas (Senale), no Rio de Janeiro. Essa foi a primeira vez que lésbicas se reuniram para discutir vários tipos de questões, que também incluíam o machismo, dentro e fora do movimento LGBT. Mas a data em si ainda é um pouco controversa: para algumas pessoas o Dia da Visibilidade Lésbica deveria ser comemorado em 19 de agosto, quando o Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF) fez a primeira manifestação de lésbicas contra o preconceito e discriminação em São Paulo, em 1983.

Para começo de conversa.
Nos últimos anos, cresce no Brasil e na América Latina o interesse por estudos sobre homossexualidade, ao mesmo tempo em que há uma proliferação importante de movimentos homossexuais no Brasil, aqui chamados de GLBTTT (gays, lésbicas, bi-sexuais, Travestis, Transexuais, Transgeneros) como forma de incluir múltiplas identidades “não-heterossexuais

A temática lésbica, que nem sempre teve espaço no campo feminista, passa a ter um espaço importante nesta mobilização, conseguindo recentemente a inclusão de uma representação deste “segmento” de mulheres no Conselho Nacional de Direitos das Mulheres. Nossa proposta visa criar um espaço de reflexão sobre questões envolvendo a homossexualidade feminina na conjugalidade, maternidade, em relações de violência, na luta por reconhecimento de cidadania e de direitos sexuais.

 Relações familiares: olhares para a cidadania lésbica.
O debate sobre as homossexualidades tem caminhado em crescente escala e ocupado espaço nos debates político e teórico. Como a visibilidade tem sido uma das pautas de reivindicação das lésbicas que estão inseridas no movimento, indagações surgem em torno do resultado real, ou seja, quais as conseqüências desse desvelamento nos diversos espaços sociais?

-Nós não queremos viver sem homens, nós não precisamos e não queremos eles e somos felizes assim. Lutamos pra ter direitos, assim como as mulheres que se relacionam com homens lutam. Querendo um atendimento médico que saiba quem somos nós e quais são nossas praticas, queremos reconhecimento familiar, direito á adoção sem ter que expor toda

a vida para desconhecidos, queremos nossos empregos garantidos e principalmente, queremos nossos corpos livres do achismo masculino fetichista e supremacista. Nós não nos mostramos pra provocar, nós nos mostramos porque existimos apesar de toda a exclusão...

 Assumir-se lésbica e um desafio:
Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa, junto a mulheres lésbicas, sobre os desafios e os enfrentamentos do processo de se assumir lésbica, ou seja, qual a conseqüência da publicização/visibilidade do amor entre mulheres numa sociedade hegemonicamente heterossexual e patriarcal.

"Ser lésbica é também enfrentar o descontentamento da familia quando sabem que você não lhes dará neto da forma esperada, talvez de forma nenhuma. Sua mãe não vai ter aquele genro pra elogiar e seu pai não descansará em paz porque um outro homem fará o papel de cuidador da sua princesa."

O que os olhos não vê : prevenção à saúde de mulheres que fazem sexo com mulheres.
A sexualidade humana é construída e moldada socialmente a partir de sistemas sócio-culturais contrastantes e hierarquizados.Pra uma lésbica ir numa consulta ginecológica, significa deixar de fazer vários exames ou fazer alguns com um espaço bem maior de tempo porque homens transmitem muitas doenças, mas também é perceber uma incógnita na cabeça dos médicos sobre Como se prefinir das doenças possíveis? Nunca saberemos porque,, não existimos.
Desde a década de 60, com a revolução sexual, a invenção do anticoncepcional, o divorcio e a inserção da mulher no mercado de trabalho, se deliberou uma reorganização nas relações amorosas, fazendo com que as relações homo-afetivo-sexuais de entre mulheres ganhassem outros contornos. O objetivo deste estudo é conhecer as atitudes preventivas com a saúde sexual de mulheres que fazem sexo com mulheres diante hepatite B e das DSTs/AIDS. A pesquisa de campo foi realizada numa abordagem antropológica, com mulheres entre 18 e

25 anos, a partir de entrevistas semi-estruturadas e gravadas; da participação observante em um Bar GLS em Belém-PA, estando atenta ao comportamento destas mulheres na escolha do par. Poderia se pensar numa licenciosidade descontrolada sem critério de escolha de parceiras, onde os códigos de relacionamentos instantâneos e fugazes como o ficar, são mais constantes do que o namoro ou relacionamentos baseados na fidelidade e no compromisso. Entretanto, diante das vicissitudes da vida social em tempos de uma pandemia da AIDS as mulheres jovens adotam regras e normas que regulam a seleção de suas companheiras, que se traduzem em prevenção à saúde sexual, mas a falta de informação sobre as doenças, as formas de transmissão e de prevenção nos mostram uma lacuna na educação em saúde para estes agravos a saúde.

"Ser lésbica é lidar com o fato de que você foi ensinada a odiar mulheres, mas você descobre que as ama, e como se faz isso? como amar uma mulher? bem, você terá que aprender sozinha porque pra sociedade mulheres que se amam não existem."

Lésbicas negras e o desafio da visibilidade.
Atenção ainda menor tem sido dada à questão da organização das lésbicas negras o que possivelmente expressa, dentre outras coisas, a pouca importância atribuída à questão racial na análise das formações identitárias homossexuais. Neste trabalho, buscamos contribuir para a superação dessa lacuna através da análise das bases ideológicas e organizacionais de uma organização de feminismo lésbico negro. Estrutura esta que inviabiliza a autonomia das mulheres sobre os seus corpos e inferioriza sua sexualidade, e quando não, as hipersexualiza, no tocante as mulheres.
Precisamos passar do silencio ao grito para garantir o direito de existir e a possibilidade de ter uma vida segura e digna. Hoje nossa luta é por representatividade. Porque somos muitas, não temos um espelho do que somos e representatividade importa. Lutamos contra diferentes vetores de opressão, nós lésbicas negras se ouvidas, podemos contribuir para a formulação de estratégias coletivas para subverter a hegemonia* e confundir a hierarquia da dominação.

 Violência.
Infelizmente, ainda há lésbicas sofrendo estupros corretivos, sendo mortas, há lesbofobia dentro dos ambientes de trabalho, universidades, escolas, e principalmente, em âmbitos domésticos, nas famílias; situações que são mais proeminente se atreladas/ acrescentadas (a)o racismo que mulheres negras e lésbicas vivenciam.

 Se liga:

A 8ª Ação Lésbica do Distrito Federal, que retrata com ênfase a divulgação de que a Lei Maria da Penha também se aplica em relações lésbicas e às lésbicas suas relações na sociedade.Assim, a ação visa informar um grande número de pessoas sobre todas as formas

de abusos que uma garota lésbica pode sofrer especificamente por ser lésbica (como estupros corretivos), dos que ela pode sofrer dentro de seu relacionamento com outra mulher (com a iniciativa Consenso Sexual entre Lésbicas) além de alertar sobre a contínua ocorrência da lesbofobia.


 Nós mulheres da UNEGRO e do coletivo Lésbico utilizamos este espaço virtual na busca da visibilidade negras militantes de nosso trabalho e luta!

 Um afro abraço.


fonte: Coletivo Estadual de Lesbicas da UNEGRORJ\ visibilidadelesbica.tumlr.com /fotos net

sábado, 22 de agosto de 2015

Deuses Africanos: AGANJU é o Orixá da terra inculta, Senhor do Vulcão

O Senhor das Cavernas, O Barqueiro Divino.

"Aganju não é um Xangô, mas este orixá foi incluído dentro do culto ao Orixá no Brasil (Candomblé). "

Na mitologia africana Aganju é um doador de força e de saúde. Aganju é o transportador da carga (os ombros e as costas pertencem a Aganju) é o defensor dos menos favorecidos, oprimidos e escravizados. Há quem diga que Aganju não é um Orisa, mas sim uma força de vida que supera os obstáculos e faz o impossível. Aganju fornece acesso ao reino do desconhecido, as profundezas do qual o mundo foi e é criado, (Okun, “A obscuridade”, o


reino de Olokun). Aganju é o governnte que proporciona acesso a todas as áreas inexploradas, inacessiveis. Aganju é o governante que proporciona acesso a climas hostis e potencialmente hostil à existência humana deserto, floresta, Ártico, Antártico, a altura das montanhas, grutas, cavernas, abismos,minas, etc. Aganju pode ser traduzido como: Agan = estéril, ju = deserto, ou mais precisamente como: local desconhecido, inexplorado, desabitado. Todos os lugares onde só os mais cordiais e / ou sobrevivem pessoas melhor preparadas. Aganju se encontra nas profundezas do oceano, nas profundezas do espaço, na energia que não foi explorada, na compreensão da mente e da emoção. Aganju é o guardião o canal através do qual profundidades inexplicáveis das emoções humanas são vividas e expressas, (boca e garganta são Aganju). Obscuro, intestino com distúrbio doloroso, absurdo e irracional, medos paralisantes são do ambito de Aganju, é através de Aganju que aprendemos a super nossos medos. Quentes emoções perigosas, mortal, incontrolados e incontroláveis é Aganju; e por meio de Aganju que aprendemos a canalizar e redirecioná-las. Aganju tem uma estreita relação com Oxun. Eles estão ligados de diversos modos: pela emoção Aganju é a profundidade da emoção em estado bruto, encarnação grosseiro rude. Enquanto Oxun é a profundidade da emoção em sua comovente, doce / amargo doce encarnação. Aganju explora, supera e vence o rio acima, Osun promove o comércio e as relações sociais, pelos mesmos meios. Aganju supera barreiras e obstáculos para ver o que está do outro lado. Osun planta a cultura e traz à luz da civilização. Aganju é o proprietário do rio. E o deu para Osun. Houve um tempo em que Osun não tinha lugar para viver. Nenhum outro ORISA lhe ajudaria. Aganju viu que Osun necessitava de ajuda. Então ele deu o rio a ela como lar. Aganju é a abertura a novas possibilidades inexploradas, inesperado. Aganju é a abertura do todas as riquezas do mundo. As riquezas minerais de minas terrestres e a mineração de todos os tipos pertencem a Aganju (mas é através da tecnologia de Ogun que a humanidade pode acessá-la e buscá-la). Aganju é o desafio, a luta de impedir, e desejo que leva para superá-los. Aganju é primordial e não - o homem do fogo de todos os tipos, o Sol e outras estrelas e cometas. Um dos nomes do louvor a Aganju é Irawo, que pode ser traduzido como uma estrela. O fogo nas entranhas da terra, geotérmica, gêiseres, fontes termais, etc. Vulcões (Oke onine, Montanhas de Fogo) é um símbolo importante de Aganju.

"Vulcões, conforme definido pelo World Book Encyclopedia são aberturas "terra superfície através da qual os gases de lava quente e fragmentos de rocha explodem."

....Os mitos o descrevem como “O Gigante entre os Òrìsà... seria filho de Oro Iná divindade que em algumas regiões esta considerado como uma divindade masculina e em outras femininas, cujo o qual habita as câmera de magmas, situadas no interior da crosta terrestre... Os antigos o descrevem como “O Temível entre todos”... Divindade de caráter forte, tempestuoso, colérico e belicoso... As forças da natureza que lhe pertencem são representações de sua tremenda energia, como a potência dos rios que dividem territórios, a lava vulcânica que percorre a crosta terrestre, os terremotos e o impulso que faz a Terra girar em torno de seu eixo... Recebe o título de Òkèrè ao tornar-se esposo de Yemoja... Aganjú representando os raios solares, Olókun as águas salgadas e Olósa as águas doces, celebram um pacto entre eles, em manter o equilíbrio da atmosfera do planeta, afim de que seja possível o ciclo vital de todos os seres... Aganjú foi o quarto Aláàfin Óyó, embora existam mitos que o descrevem que ele reinou em Sakí, cidade vizinha de Ìséyìn a noroeste de Òyó... O reinado de Aganjú foi longo e próspero... Ele tinha o dom de domar animais selvagens e as serpentes venenosas... Dentro de seu palácio mantinha um Ekún – Leopardo, seu animal de estimação, sobretudo o simbolo da coragem, que costumara encostar seus pés como se fosse uma esteira, daí recebendo o epíteto de Ekùn Olóju Iná – Leopardo dos olhos de fogo e Ekún f'eninjú tànná – Leopardo de olhos fulgurantes... Foi o primeiro a agregar o patio na parte da frente de detrás do palácio para a celebração de ritos... Embelezou todo o palácio, ornamentou postes esculpidos em bronze, assim originando o costume de colocar colgantes (pingentes) como adornos de acordo com a ocasião festiva, contudo sendo um soberano de gostos muitos refinados...(¹parte do texto escrito por Baba Guido)


Foi o terceiro orixá designado para vir para a Terra, Aganju é uma divindade primordial. Aganju é a força que, como o Sol, que é um de seus símbolos, é essencial para o crescimento, assim como um cultivador das civilizações. Como o vulcão com que é associado, ele forma a base sobre a qual as sociedades são construídas. Nos mitos, Aganju é às vezes tratado como uma divindade primordial, associado à terra (em oposição à água) e às montanhas e vulcões. Do consórcio de Obatalá, o céu, com sua esposa, a terra, nasceram dois filhos: Aganju, a terra firme, e Iemanjá, as águas. Da união com Aganju, Iemanjá deu à luz a Orungã, o ar, o espaço entre a terra e o céu.

AGANJU NÃO É UM SANGÒ, MAS FOI INCLUSO AOS CULTOS NO CANDOMBLÉ COMO UM XANGÔ, ELE É O DEUS DOS VULCÕES E MONTANHAS E É UM ORIXÁ PRESENTE NA CRIAÇÃO DA TERRA...

Se liga:
Foi o terceiro orixá designado para vir para a Terra, Aganju é uma divindade primordial.

Aganju é a força que, como o Sol, que é um de seus símbolos, é essencial para o crescimento, assim como um cultivador das civilizações. Como o vulcão com que é associado, ele forma a base sobre a qual as sociedades são construídas. Em alguns mitos é às vezes tratado como uma divindade primordial, associado à terra (em oposição à água) e às montanhas e vulcões. Do consórcio de Obatalá, o céu, com sua esposa, a terra, nasceram dois filhos: É a terra firme, e Iemanjá, as águas. Da união com Yemanjá deu à luz a Orungã, o ar, o espaço entre a terra e o céu.

Um afro abraço.

fonte:unegro- povos tradicionais.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Africa e sua grandesa esquecida...

 A África tem uma história. Já foi o tempo em que nos mapas-múndi e portulanos, sobre grandes
Com efeito, a história da África, como a de toda a humanidade, é a história de uma tomada de

Apenas um grande esforço de edições e reedições judiciosas, de tradução e difusão na África, permitirá, pelo efeito multiplicador desses novos fluxos conjugados, transpor um novo limiar qualitativo e crítico sobre a visão do passado Africano. Por outro lado, quase tão importante quanto a grande quantidade de documentos novos será a atitude dos pesquisadores ao examiná-los, e assim que numerosos textos explorados desde o século XIX ou mesmo depois, mas ainda no período colonial, reclamam imperiosamente uma releitura expurgada de qualquer preconceito anacrônico e marcada por uma visão endógena. Assim sendo, as fontes escritas a partir das escrituras subsaarianas (vai, bamum, ajami) não devem ser negligenciadas.

consciência. Nesse sentido, a história da África deve ser reescrita. E isso porque, até o presente momento, ela foi mascarada, camuflada, desfigurada, mutilada. Pela "força das circunstâncias", ou seja, pela ignorância e pelo interesse. Abatido por vários séculos de opressão, esse continente presenciou gerações de viajantes, de traficantes de escravos, de exploradores, de missionários, de procônsules, de sábios de todo tipo, que acabaram por fixar sua imagem no cenário da miséria, da barbárie, da irresponsabilidade e do caos. Essa imagem foi projetada e extrapolada ao infinito ao longo do tempo, passando a justificar tanto o presente quanto o futuro.

espaços, representando esse continente então marginal e servil, havia uma frase lapidar que resumia o conhecimento dos sábios a respeito dele e que, no fundo, soava também como um álibi: "Ibi sunt leones". Aí existem leões. Depois dos leões, foram descobertas as minas, grandes fontes de lucro, e as "tribos indígenas" que eram suas proprietárias, mas que foram incorporadas às minas como

propriedades das nações colonizadoras. Mais tarde, depois das tribos indígenas, chegou a vez dos povos impacientes com opressão, cujos pulsos já batiam no ritmo febril das lutas pela liberdade.
Neste texto, encontramos uma introdução ao estudo da História Africana, suas características peculiares, o uso das ciências tais como a arqueologia, a linguística, a História Oral no contexto específico da África, etc. Um texto indispensável para entendermos os procedimentos adequados parao estudo desta História e do Africanismo in História Geral da África. São Paulo; Ática, 1981 volume

A Arqueologia
Os testemunhos mudos revelados pela arqueologia são em geral mais eloqüentes ainda do que os testemunhos oficiais dos autores de certas crônicas. A arqueologia, por suas prestigiosas descobertas, já deu uma contribuição valiosa à história Africana, sobretudo quando não há crônica oral ou escrita disponível (como é o caso de milhares de anos do passado Africano). Apenas objetos-testemunho, enterrados com aqueles a quem testemunham, velam sob o pesado sudário de terra por um passado sem rosto e sem voz. Alguns deles são particularmente significativos como indicadores e medidas da civilização: objetos de ferro e a tecnologia envolvida em sua fabricação, cerâmicas com suas técnicas de produção e estilos, peças de vidro, escrituras e estilos gráficos, técnicas de navegação, pesca e tecelagem, produtos alimentícios, e também estruturas geomorfológicas, hidráulicas e vegetais ligadas à evolução do clima. A linguagem dos achados arqueológicos possui, por sua própria natureza, algo de objetivo e irrecusável. Assim, o estudo da tipologia das cerâmicas e dos objetos de osso e metal encontrados na região nígero-chadiana do Saara demonstra a ligação entre os povos pré-islâmicos (Sao) da bacia chadiana e as áreas culturais que se estendem até o Nilo e o deserto líbio. Estatuetas de argila cozida com talabartes cruzados, ornatos corporais das estatuetas, formas de vasos e braceletes, arpões e ossos, cabeças ou pontas de flechas e facas de arremesso ressuscitam assim, graças a seus parentescos, as solidariedades vivas de épocas antigas , para além desta paisagem contemporânea massacrada pela solidão e pela inércia. Diante disso, a localização, a classificação e a proteção dos sítios arqueológicos Africanos se impõem como prioridade de grande urgência, antes que predadores ou profanos irresponsáveis e turistas sem objetivos científicos os pilhem e os desorganizem, despojando-os, dessa maneira, de qualquer valor histórico sério. Mas a exploração destes sítios por projetos prioritários de escavação em grande escala só poderá desenvolver-se no contexto de programas interAfricanos sustentados por poderosa cooperação internacional.

A tradição oral
Paralelamente às duas primeiras fontes da história Africana (documentos escritos e arqueologia), a tradição oral aparece como repositório e o vetor do capital de criações sócio-culturais acumuladas pelos povos ditos sem escrita: um verdadeiro museu vivo. A história falada constitui um fio de
Cada vez que um deles desaparece, é uma fibra do fio de Ariadne que se rompe, é literalmente um fragmento da paisagem que se torna subterrâneo. Indubitavelmente, a tradição oral é a fonte histórica mais íntima, mais suculenta e melhor nutrida pela seiva da autenticidade. "A boca do velho cheira mal"- diz um provérbio Africano - "mas ela profere coisas boas e salutares".
Por mais útil que seja, o que é escrito se congela e se desseca. A escrita decanta, disseca, esquematiza e petrifica: a letra mata. A tradição reveste de carne e de cores, irriga de sangue o esqueleto do passado. Apresenta sob as três dimensões aquilo que muito freqüentemente é esmagado sobre a superfície bidimensional de uma folha de papel. A alegria da mãe de Sundiata, transtornada pela cura súbita de seu filho, ecoa ainda no timbre épico e quente dos griots * do Mali. É claro que muitos obstáculos devem ser ultrapassados para que se possa peneirar criteriosamente o material da tradição oral e separar o bom grão dos fatos, da palha das palavras-armadilhas – falsas Janelas abertas para a simetria -, do brilho e das lantejoulas de fórmulas que constituem apenas a embalagem circunstancial de uma mensagem vinda de longe.

Certamente, no discurso épico, a fragilidade do encadeamento cronológico constitui seu verdadeiro calcanhar de Aquiles; as seqüências temporais subvertidas criam um quebra-cabeças onde a imagem do passado não nos chega de modo claro e estável como num espelho de boa qualidade, mas como um reflexo fugaz que dança sobre a agitação da água. A duração média dos reina- dos ou das gerações constitui um domínio extremamente controvertido no qual as extrapolações feitas a partir de períodos recentes são muito pouco seguras, em razão das mutações demográficas e políticas. Por vezes, um dinasta excepcional e carismático polariza sobre si os feitos mais notáveis de seus predecessores e sucessores que, assim, são literalmente eclipsados. É o que acontece com certos dinastas de Ruanda, como Da Monzon, rei de Segu (início do século XIX), a quem os griots atribuem toda a grande conquista desse reino.
Ariadne muito frágil para reconstituir os corredores obscuros do labirinto do tempo. Seus guardiões são os velhos de cabelos brancos, voz cansada e memória um pouco obscura, rotulados às vezes de teimosos e meticulosos (veilesse oblige): ancestrais em potencial. São como as derradeiras ilhotas de uma paisagem outrora imponente, ligada em todos os seus elementos por uma ordem precisa e que hoje se apresenta erodida, cortada e devastada pelas ondas mordazes do "modernismo". Fósseis em sursis!

Por outro lado, o texto literário oral retirado de seu contexto é como peixe fora da água: morre e se decompõe. Isolada, a tradição assemelha-se a essas máscaras Africanas arrebatadas da comunhão dos fiéis para serem expostas à curiosidade dos não iniciados. Perde sua carga de sentido e de vida. Por sua própria existência e por ser sempre retomada por novas testemunhas que se encarregam de sua transmissão, a tradição adapta-se às expectativas de novos auditórios - adaptação essa que se refere primordialmente à apresentação da mensagem, mas que não deixa intacto o conteúdo. E não vemos também mercadores ou mercenários da tradição que servem à vontade versões de textos escritos reinjetados na própria tradição?!

Enfim, o próprio conteúdo da mensagem permanece freqüentemente hermético, esotérico mesmo. Para o Africano, a palavra é pesada. Ela é fortemente .ambígua, podendo fazer e desfazer, sendo capaz de acarretar malefícios. É por isso que sua articulação não se dá de modo aberto e direto. A palavra é envolvida por apologias, alusões, subentendidos e provérbios claro-escuros para as pessoas comuns, mas luminosos para aqueles que se encontram munidos das antenas da sabedoria. Na África, a palavra não é desperdiçada.

Em suma, o discurso da tradição, seja ela épica, prosaica, didática ou ética, pode ser histórico sob um tríplice ponto de vista. Em primeiro lugar, ele é revelado r do conjunto de usos e valores que animam um povo e que condicionam seus atos futuros pela representação dos arquétipos do passado. Fazendo isso, a epopéia não só reflete, mas também cria a história. Quando Da Monzon é tratado de "senhor das águas e dos homens", expressa-se com isso o caráter absoluto de seu poder. Contudo, essas mesmas narrativas mostram-no consultando incessantemente seus guerreiros, seus griots, suas mulheres . O senso de honra e de reputação explode na famosa réplica do "canto do arco" em louvor a Sundiata (Sundiata Fasa): "Saya Kaoussa maIo yé" . Esse valor também se exprime muito bem no episódio da luta de Bakary Dian contra os Peul do Kournari. Ressentido, o bravo Bakary retirara-se para sua aldeia, Dongorongo; diante das súplicas de seu povo para que retomasse o comando das tropas de Segu, cedeu apenas quando foi tocado na corda sensível do orgulho e da glória: "As velhas palavras trocadas, esquece-as. É o teu nome agora que precisa ser considerado; pois vem-se ao mundo para construir um nome. Se nasces, cresces e morres sem ter um nome, vieste por nada, partiste por nada". Bakary, então, exclama: "Griots de Segu, já que vós vistes, não será impossível. Farei o que me pedis, por meu renome. Não o farei por Da Monzon. Não o farei por ninguém em Segu. Fá-lo-ei somente por minha reputação. Mesmo depois de minha morte, isso será acrescentado ao meu nome". Encontramos um traço similar de civilização e lei, quando Silamaka diz: "Tendes sorte que me seja
proibido matar mensageiros".

Em suma, a recomposição do passado está longe de ser integralmente imaginária. Encontram-se aí fragmentos de lembranças, filões de história que freqüentemente são mais prosaicos que os ornamentos coloridos da imaginação épica: "Foi assim que surgiu essa instituição de pastores coletivos nas aldeias bambara. Se eras escolhido e feito pastor, tornavas-te Peul público. Os Peul públicos guardavam os rebanhos do rei. Eram homens de etnias diferentes, e seu pastor chefe chamava-se Bonke". Ou ainda "Nessa época não se usavam babuchas, mas chinelas de couro de boi curtido, com um cordão na parte da frente (em tomo do dedo grande do pé) e um outro no calcanhar".

Por conseguinte, a multiplicidade de versões transmitidas por clãs adversários, por exemplo, pelos griots-clientes de cada nobre protetor (horon, dyatigui), longe de constituir uma desvantagem,


representa uma garantia suplementar para a crítica histórica. E a conformidade das narrativas, como no caso dos griots bambara e peul, que pertencem a campos inimigos, dá um realce particular à qualidade desse testemunho.

Essa tradição rígida, institucionalizada e formal é geralmente melhor estruturada e sustentada pela música de corte que se integra a ela, que a escande em partes didáticas e artísticas. Alguns dos instrumentos utilizados, como o Sosso BaIla (balafo de Sumauro Kante), são em si mesmos, por sua Antigüidade, monumentos dignos de uma investigação de tipo arqueológico. Mas as correspondências entre tipos de instrumento e tipos de música, de cantos e de danças constituem um mundo minuciosamente regulado, no qual as anomalias e as adições posteriores são facilmente detectadas. Cada gênero literário oral possui, assim, um instrumento específico em cada região cultural: o baila (xilofone) ou o bolon (harpa-alaúde) para a epopéia mandinga; o bendré dos Mossi (grande tambor redondo de uma só face, feito com uma cabaça e tocado com as mãos nuas) para a exaltação, muitas vezes silenciosa, dos nomes de guerra (zabyouya) dos soberanos; o mvet (harpa-cítara) para os poetas, músicos dos Fang em suas Nibelungen tropicais. Veículos da história falada, esses instrumentós são venerados e sagrados. Com efeito, incorporam-se ao artista, e seu lugar é tão importante na mensagem que, graças às línguas tonais, a música torna-se diretamente inteligível, transformando-se o instrumento na voz do artista sem que este tenha necessidade de articular uma só palavra. O tríplice ritmo tonal, de intensidade e de duração, faz-se então música significante, nessa espécie de "semântico-melodismo" de que falava Marcel Jousse. Na verdade, a música encontra-se de tal modo integrada à tradição que algumas narrativas somente podem ser transmitidas sob a forma cantada. A própria canção popular, que exprime a "vontade geral" de forma satírica, às vezes temperada de humor negro, e que permaneceu vigorosa mesmo com as lutas eleitorais do século XX,
O que se diz aqui sobre a música vale também para outras formas de expressão, como as artes plásticas, cujas produções são, por vezes, a expressão direta de personagens, de acontecimentos ou de culturas históricas, como nos reinos de Abomey e do Benin (baixos-relevos) ou na nação Kuba (esculturas).

Em poucas palavras; a tradição oral não é apenas uma fonte que se aceita por falta de outra melhor e à qual nos resignamos por desespero de causa. É uma fonte integral, cuja metodologia já se encontra bem estabelecida e que confere à história do continente Africano uma notável originalidade.

A lingüística
A história da África tem na lingüística não apenas uma ciência auxiliar, mas uma disciplina autônoma que, no entanto, a conduz diretamente ao âmago de seu próprio objeto. Percebe-se bem isso no caso da Núbia, que se encontra amortalhada no duplo silêncio opaco das ruínas de Meroé e da escrita meroítica não decifrada porque a língua permanece desconhecida . É claro que há muito a ser feito nesse campo, começando pela catalogação científica das línguas. Na verdade, não é necessário sacrificar a abordagem descritiva à abordagem comparatista e sintética com pretensões tipológicas e genéticas. É por meio de uma análise ingrata e minuciosa do fato lingüístico, "com seu significante de consoantes, vogais e tons, com suas latitudes combinatórias em esquemas sintagmáticos, com seu significado vivido pelos falantes de uma determinada comunidade" 14, que se pode fazer extrapolações retroativas, operação que muitas vezes se toma difícil pela falta de conhecimento histórico profundo dessas línguas.

A antropologia e a etnologia
O mesmo comentário aplica-se a fortiori à antropologia e à etnologia. Na verdade, o discurso etnológico tem sido, por força das circunstâncias, um discurso com premissas explicitamente discriminatórias e conclusões implicitamente políticas, havendo entre ambas um exercício "científico" forçosamente ambíguo. Seu principal pressuposto era muitas vezes a evolução linear: à frente da caravana da humanidade ia a Europa, pioneira da civilização, e atrás os povos "primitivos" da Oceania, Amazônia e África. Como se pode ser índio, negro, papua, árabe? O "outro", atrasado, bárbaro, selvagem em diversos graus, é sempre diferente, e por essa razão torna-se objeto de interesse do pesquisador ou de cobiça do traficante. A
etnologia recebeu, assim, procuração geral para ser o ministério da curiosidade européia diante dos "nossos nativos". Apreciadora dos estados miseráveis, da nudez e do folclore, a visão etnológica era muitas vezes sádica, lúbrica e, na melhor das hipóteses, um pouco paternalista. Salvo exceções, as dissertações e os relatórios resultantes justificavam o status quo e contribuíam para o "desenvolvimento do subdesenvolvimento" . O evolucionismo à Darwin, apesar de seus grandes méritos, o difusionismo de sentido único, que tem visto muitas vezes a África como o escoadouro passivo das invenções de outros lugares, o funcionalismo de Malinowski e de Radcliffe-Brown, enfim, que negava toda dimensão histórica às socIedades primitivas, todas essas escolas se adaptavam naturalmente à situação colonial na qual proliferavam como num terreno fértil


Desse modo, toda a África foi simbolizada por imagens que os próprios Africanos podiam considerar estranhas, exatamente como se a Europa fosse definida no começo do século XX pelos costumes à mesa e pelas formas de moradia ou pelo nível técnico das comunidades do interior da Bretanha, do Cantal ou da Sardenha. Além disso, o método etnológico baseado na entrevista individual, marcado com o selo de uma experiência subjetiva total porque intensa, mas total apenas no nível do microcosmo, desemboca em conclusões "objetivas" muito frágeis para que possam ser extrapoladas.
Enfim, por uma dialética implacável, o próprio objeto da etnologia, sob a influência colonial, desvanecia-se pouco a pouco. Os indígenas primitivos, que viviam da coleta e da caça, e mesmo do "canibalismo", transformavam-se aos poucos em subproletários dos centros periféricos de um sistema mundial de produção cujos pólos estão situados no hemisfério norte. A ação colonial consumia e aniquilava seu próprio objeto.

A partir daí novos instrumentos podem ser aperfeiçoados para apreender sua evolução singular.
Ao mesmo tempo, a abordagem marxista, com a condição de não ser dogmática, e a abordagem estruturalista de Lévi-Strauss contribuem também com observações válidas, mas opostas, sobre a evolução dos povos ditos sem escrita. O método marxista, essencialmente histórico e para o qual a história é a consciência coletiva em ação, insiste muito mais nas forças produtivas e nas relações de produção, na práxis e nas normas; o método estruturalista, por sua vez, quer desvendar os mecanismos inconscientes mas lógicos, os conjuntos coerentes que sustentam e enquadram a ação dos espíritos e das sociedades. Bebendo nessas novas fontes, a antropologia será, esperamos, algo mais que uma Fênix que, em defesa da causa, haja renascido das cinzas de um certo tipo de etnologia
historiografia da África.

Primeiramente, a interdisciplinaridade, cuja importância é tal que chega quase a constituir por si só uma fonte específica. Assim, a sociologia política aplicada à tradição oral no Reino de Segu enriqueceu consideravelmente uma visão que, sem isso, limitar-se-ia às linhas esqueléticas de uma árvore genealógica marcada por alguns feitos estereotipados. A complexidade, a interpenetração de estruturas às vezes modeladas sobre hegemonias antigas (o modelo mali, por exemplo) aparecem, assim, em sua realidade concreta e viva.

E foi exatamente um elemento de antropologia cultural (o texto de iniciação dos pastores peul ) que permitiu a certos pré-historiadores interpretarem corretamente os enigmas dos afrescos do Tassili: animais sem patas
do quadro chamado O Boi e a Hidra, o mágico U de Ouan Derbaouen, etc.
Assim, decorridos mais de 10 mil anos, os ritos de hoje permitem identificar as cinco irmãs míticas dos sete filhos do ancestral Kikala nas cinco maravilhosas dançarinas dos afrescos de Jabbaren.
A expansão dos Bantu, atestada pelas fontes concordantes da lingüística, da tradição oral, da arqueologia e da antropologia, bem como pelas primeiras fontes escritas em árabe, português, inglês e pelos africânderes, torna-se uma realidade palpável susceptível de ser ordenada numa síntese cujas arestas se mostram mais nítidas no encontro desses diferentes planos. Do mesmo modo, os argumentos lingüísticos juntam-se aos da tecnologia para sugerir uma difusão dos gongos reais e sinos cerimoniais geminados a partir da África ocidental em direção ao baixo Zaire, ao Shaba e a Zâmbia. Mas as provas arqueológicas trariam, evidentemente, uma confirmação inestimável para tal fato. Essa combinação de fontes impõe-se ainda mais quando se trata de minorar as dificuldades relativas à cronologia. Não é sempre que dispomos de datas determinadas pelo carbono14. E quando existem, estas devem ser interpretadas e confrontadas com dados de outras fontes, como a metalurgia ou a cerâmica (materiais e estilos). E não é sempre que podemos contar, como ao norte do Chade , com enormes quantidades de fragmentos de cerâmicas que permitem construir uma tipologia representada numa escala cronológica de seis níveis. Uma excelente demonstração desta conjugação de todas as fontes disponíveis é a que permite estabelecer uma tipologia diacrônica dos estilos pictóricos e cerâmicos e confrontá-los para extrair uma série cronológica que se estende por oito milênios, sendo o todo sustentado pelas sondagens estratigráficas e confirmado pelas datações de carbono 14 e pelo estudo da flora, da fauna, do habitat e da tradição oral .

Essa concepção do tempo é histórica em muitos aspectos. Nas sociedades africanas gerontocráticas, a noção de anterioridade no tempo é ainda mais carregada de sentido que em outros lugares, pois nela estão baseados os direitos Sociais, como o uso da palavra em público, a participação numa dança reservada, o acesso a certas iguarias, o casamento, o respeito de outrem, etc. Além disso, a primogenitura não é, na maioria das vezes, um direito exclusivo na sucessão real; o número dos pretendentes (tios, irmãos, filhos) é sempre grande e a Idade e levada em conta no contexto de uma competição bastante aberta. Decorre daí uma preocupação ainda maior com a cronologia. Mas não há necessidade de saber que alguém nasceu em determinado ano: o essencial é pro.var que nasceu antes de determinada pessoa. As referências a uma cronologia absoluta impõem-se apenas no caso de sociedades mais amplas e mais anônimas.

-"Na verdade, somente a utilização da escrita e o acesso às religiões "universalistas" que dispõem de um calendário dependente de um terminus a quo preciso, assim como a entrada no universo do lucro e da acumulação monetária, remodelaram a concepção "tradicional" do tempo. Em sua época, porém, tal concepção respondia adequadamente às necessidades das sociedades em questão."

É necessariamente uma história dos povos, pois na África mesmo o despotismo de certas dinastias tem sido sempre atenuado pela distância, pela ausência de meios técnicos que agravem o peso da centralização, pela perenidade das democracias aldeãs, de tal modo que em todos os níveis, da base ao topo, é conselho reunido pela e para a discussão constitui o cérebro do corpo político. É uma história dos povos porque, com exceção de algumas décadas contemporâneas, não foi moldada de acordo com as fronteiras fixadas pela colonização, pelo simples motivo de que a posição territorial dos povos africanos ultrapassa em toda parte as fronteiras herdadas da partilha colonial. Assim, para tomar um exemplo entre mil, os Senufo ocupam uma área correspondente a parte do Mali, da Costa do Marfim e do Alto Volta. No contexto geral do continente, terão maior destaque os fatores comuns resultantes de origens comuns e de intercâmbios inter-regionais milenares de homens, mercadorias, técnicas, idéias, em suma, de bens materiais e espirituais. Apesar dos obstáculos impostos pela natureza e do baixo nível técnico, tem havido desde a Pré-História uma certa solidariedade continental entre o vale do Nilo e o Sudão, até a floresta da Guiné; entre esse mesmo vale e a África oriental, incluindo, entre outros acontecimentos, a dispersão dos Luo; entre o Sudão e a África central pela diáspora dos Bantu; entre a fachada atlântica e a costa oriental pelo comércio transcontinental através do Shaba.

Os fenômenos migratórios ocorridos em grande escala no espaço e no tempo não devem ser entendidos conto uma imensa onda humana atraída pelo vazio ou deixando o vazio atrás de si. Mesmo a saga torrencial de Chaka, o mfécane, não pode ser interpretada unicamente nesses termos. O movimento de grupos Mossi (Alto Volta) em direção ao norte, a partir do Dagomba e do Mamprusi (Gana), foi realizado por bandos de cavaleiros que, de etapa em etapa, foram ocupando as várias regiões; no entanto, só podiam concretizar tal ocupação amalgamando-se aos autóctones, tomando esposas nativas. Os privilégios judiciais que eles próprios se outorgavam provocaram rapidamente a proliferação de suas escarificações faciais (uma espécie de carteira de identidade), enquanto a língua, bem como as instituições dos recém-chegados, prevaleceram
a ponto de eliminar as dos outros povos. Outros costumes, como os ligados aos cultos agrários ou os que regiam os direitos de estabelecimento, continuavam a ser de competência dos chefes locais, ao mesmo tempo que se instauravam relações de "parentesco de brincadeira" com certos povos encontrados pelo caminho. O grande conquistador "mossi" Ubri, aliás, já era ele próprio um "mestiço". Esse esboço de processo por osmose deve substituir quase sempre o cenário romântico e simplista da invasão niilista e devastadora, como foi longa e erradamente representada a irrupção dos Beni Hilal na África do Norte.
Os excessos da antropologia física, com seus preconceitos racistas, são hoje rejeitados por todos os autores sérios. Mas os "Hamitas" e outras "raças morenas", inventadas em defesa da causa, não cessaram de povoar as miragens e os fantasmas de espíritos ditos científicos.

Há vários milênios, os dados propriamente biológicos, constantemente subvertidos pela seleção ou pela oscilação genética, não dão nenhuma referência sólida para a classificação, nem sobre o grupo sangüíneo, nem sobre a freqüência do gene Hbs, que determina uma hemoglobina anormal e que, associado a um gene normal, reforça a resistência à malária. Isto ilustra o papel importantíssimo da adaptação ao meio natural. A estatura mais elevada e a bacia mais larga, por exemplo, coincidem com as zonas de maior seca e de calor mais intenso. Neste caso, a morfologia do crânio mais estreito e mais alto (dolicocefalia) é uma adaptação que permite uma menor absorção de calor. O vocábulo "tribo" será tanto quanto possível banido desta obra, exceto no caso de certas regiões da África do Norte 31, em razão de suas conotações pejorativas e das diversas idéias falsas que o sustentam. Por mais que se destaque que a "tribo" é essencialmente uma unidade cultural e, às vezes, política, alguns continuam a vê-Ia como um estoque biologicamente distinto e destacam os horrores das "guerras tribais", cujo saldo muitas vezes se limitava a algumas dezenas de mortos ou menos que isso; esquecem, porém, todos os intercâmbios positivos que ligaram os povos Africanos no plano biológico, tecnológico, cultural, religioso, sócio-político, etc., e que dão aos empreendimentos Africanos um indiscutível ar de família.

Além do mais, esta história deverá evitar ser excessivamente factual, pois com isso correria o risco de destacar em demasia as influências e os fatores externos. Certamente, o estabelecimento de fatos chaves é uma tarefa primordial, indispensável até, para definir o perfil original da evolução da África. Mas serão tratadas com especial interesse as civilizações, as instituições, as estruturas: técnicas agrárias e de metalurgia, artes e artesanato, circuitos comerciais, formas de conceber e organizar o poder, cultos e modos de pensamento filosófico ou religioso, técnicas de modernização, o problema das nações e pré-nações, etc.

Finalmente, por que esse retorno às fontes Africanas? Enquanto a busca desse passado pode ser, para os estrangeiros, uma simples curiosidade, um exercício intelectual altamente estimulante para a mente desejosa de decifrar o enigma da Esfinge, o sentido real dessa iniciativa deve ultrapassar tais objetivos puramente individuais, pois a história da África é necessária à compreensão da história universal, da qual muitas passagens permanecerão enigmas obscuros enquanto o horizonte do continente Africano não tiver sido iluminado.

 Dessa forma a história torna-se essa disciplina sinfônica em que a palavra é dada simultaneamente a todos os ramos do conhecimento; em que a conjunção singular das vozes se transforma de acordo com o assunto ou com os momentos da pesquisa, para ajustar-se às exigências do discurso. Mas essa reconstrução póstuma do edifício há pouco construído com pedras vivas é importante sobretudo para os Africanos, que têm nisso um interesse carnal e que penetram nesse domínio após séculos ou décadas de frustração, como um exilado que descobre os contornos ao mesmo tempo velhos e novos, porque secretamente antecipados, da almejada paisagem da pátria. Viver sem história é ser uma ruína ou trazer consigo as raízes de outros. É renunciar à possibilidade de ser raiz para outros que vêm depois. É aceitar, na maré da evolução humana, o papel anônimo de plâncton ou de protozoário. É preciso que o homem de Estado Africano se interesse pela história como uma parte essencial do patrimônio nacional que deve dirigir, ainda mais porque é pela história que ele poderá ter acesso ao conhecimento dos outros países Africanos na óptica da unidade Africana.

Mas esta história é ainda mais necessária aos próprios povos para os quais ela constitui um direito fundamental. Os Estados Africanos devem organizar equipes para salvar, antes que seja tarde demais, o maior número possível de vestígios históricos. Devem-se construir museus e promulgar leis para a proteção dos sítios e dos objetos. Devem ser concedidas bolsas de estudo, em particular para a formação de arqueólogos. Os programas e cursos devem sofrer profundas modificações, a partir de uma perspectiva Africana. A história é uma fonte na qual poderemos não apenas ver e reconhecer nossa própria imagem, mas também beber e recuperar nossas forças, para prosseguir adiante na caravana do progresso humano. Se tal é a finalidade desta História Geral da África, essa laboriosa e enfadonha busca, sobrecarregada de exercícios penosos, certamente se revelará fecunda e rica em inspiração multiforme. Pois em algum lugar sob as cinzas mortas do passado existem sempre brasas impregnadas da luz da ressurreição.

 Se liga:

A palavra ÁFRICA possui até o presente momento uma origem difícil de elucidar. Foi imposta a partir dos romanos sob a forma ÁFRICA, que sucedeu ao termo de origem grega ou egípcia Líbia, país dos Lebu ou Lubin do Gênesis. Após ter designado o litoral norte-Africano, a palavra África passou a aplicar-se ao conjunto do continente, desde o fim do século I antes da Era Cristã. Mas qual é a origem primeira do nome? Começando pelas mais plausíveis, pode-se dar as seguintes versões: A palavra África teria vindo do nome de um povo (berbere) situado ao sul de Cartago: os Afrig. De onde Afriga ou Africa para designar a região dos Afrig. Uma outra etimologia da palavra África é retirada de dois termos fenícios, um dos quais significa espiga, símbolo da fertilidade dessa região, e o outro, Pharikia, região das frutas. A palavra África seria derivada do latim aprica (ensolarado) ou do grego apriké (isento de frio). Outra origem poderia ser a raiz fenícia faraga, que exprime a idéia de separação, de diáspora. Enfatizemos que essa mesma raiz é encontrada em certas línguas Africanas (bambara). Em sânscrito e hindi, a raiz apara ou africa designa o que, no plano geográfico, está situado "depois", ou seja, o Ocidente. A África é um continente ocidental.

 "Uma tradição histórica retomada por Leão, o Africano, diz que um chefe iemenita chamado Africus teria invadido a África do norte no segundo milênio antes da Era Cristã e fundado uma cidade chamada Afrikyah. Mas é mais provável que o termo árabe Afriqiyah seja a transliteração árabe da palavra África. Chegou-se mesmo a dizer que Afer era neto de Abraão e companheiro de Hércules!"

 Roteiro dos conflitos na atualidade:
ÁFRICA

Angola. Desde a independência de Angola, em 1975, a Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), reclama o direito à autoderminação e mantém acções de guerrilha contra as tropas de Luanda. A situação não se alterou após o final da guerra civil angolana, em 2002.

RD Congo. A guerra com o Ruanda, entre 1998 e 2002, matou mais de dois milhões de pessoas. Persistem conflitos no leste do país entre etnias rivais pelo controlo do território.

Costa do Marfim. Dividida em duas desde a tentativa de golpe de Estado de 2002, com o norte controlado pelos rebeldes e o sul pelas forças do presidente Laurent Gbagbo.

Nigéria. Os raptos são frequentes na região do Delta do Níger, de onde é extraída a maior parte do petróleo nigeriano. Grupos locais protestam de forma violenta contra as companhias petrolíferas, por estas não contribuírem para o desenvolvimento da região, que é uma das mais pobres do país.

Somália. Não possui governo central desde a queda do ditador Siad Barre, em 1991, que mergulhou o país na guerra civil, vitimando milhares de cidadãos. A milícia Tribunais Islâmicos da Somália declarou guerra santa ao governo e seus aliados etíopes.

Sudão. Apesar da paz assinada com o Sul depois de uma longa e mortífera guerra civil, continuam os ataques das milícias pró-governamentais no Darfur, que causaram mais de 400 mil mortos e 2 milhões de refugiados. A situação já foi definida como um “genocídio lento.”

Uganda. O brutal conflito entre o governo do Uganda e o Exército de Resistência do Senhor (LRA), que dura desde 1986, baixou ultimamente de intensidade e, inclusivamente, já se verificaram conversações de paz. Entretanto, obrigou 1,4 milhões de pessoas a abandonar o norte do país; foram raptadas mais de um milhão de crianças e mulheres e mortos milhares de camponeses.

Um afro abraço.

fonte:www.dw.com/pt/após-a-independência-como-vivem.../a-17108544

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