UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Cabelo hoje e identidade cultural e politica ...

INTRODUÇÃO
Os sistemas de ensino no Brasil atualmente têm incorporado às suas práticas pedagógicas dispositivos visando à efetivação de ações afirmativas relativas à dívida contraída para com a população afro-descendente, como é o caso da Lei 10639 de 2003, que trata de incorporar ao currículo oficial a história e historicidade dos povos que aqui chegaram no Brasil colônia.
Considerando os aspectos pedagógicos inerentes ao processo em que se desenvolve a dialética entre educação e estética no universo das relações inter-raciais, e tendo em vista as teorias que sustentam as práticas educativas neste cenário, propõe-se através deste trabalho refletir sobre o posicionamento a ser assumido pela mulher negra, entendendo a estética além dos padrões pré-estabelecidos cultural e socialmente, identificando uma postura crítica e reflexiva sobre os desdobramentos advindos de tais questionamentos.
Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica contemplando estudos sobre a mulher negra, a estética e suas concepções de beleza, convergindo para os aspectos educativos, considerando que tais pressupostos estão diretamente vinculados aos tipos de relação que se efetivarão em suas práticas pedagógicas, desde que estas se incorporem à vivência cotidiana.
Nessa perspectiva espera-se contribuir para a emergência de uma mentalidade livre de estereótipos, em que a identidade negra e a valorização da mulher nesse contexto sejam

objetos de reflexão, abrindo discussão e possibilidades de debate no espaço acadêmico, tratando as questões étnico-raciais como relações sociais, promotoras de valorosos preceitos éticos e estéticos.

“Cabelo, cabeleira, cabeludo, descabelado…” Considerado por muitos apenas um instrumento estético, o cabelo vai muito além disso. Uma simples opção por um corte ou penteado diz bastante sobre a personalidade de uma pessoa. Para os negros especialmente, que desde a década de 1950 desfilam com seus black power imponentes, ele transcende o campo da beleza e significa um encontro com a identidade e, por quê não, uma ferramenta de afirmação.

A trajetória do black power tem início ainda nos anos 20, quando Marcus Garvey, tido como o precursor do ativismo negro na Jamaica, insistia na necessidade de romper com padrões de beleza eurocêntricos e a partir disso promover o encontro dos negros com suas raízes africanas. Décadas depois, nos Estados Unidos, o afro também começou a ganhar espaço e se tornou um dos protagonistas na luta pelos direitos civis nos anos 60. No entanto, foram as mulheres as grandes protagonistas dessa história. Condicionadas desde o tempo da escravidão a alisar o cabelo, elas bateram o pé e decidiram andar pelas ruas ao natural, o que causou espanto e resistência da comunidade branca.

Entre muitos, o nome de Angela Davis surge como um dos principais marcos nesta luta. Ativista desde os primeiros anos de sua juventude, a norte-americana fez parte do Partido
Comunista e também do movimento Panteras Negras. Em pouco tempo Angela havia se tornado uma das principais referências na luta pelos direitos dos negros e muito deste respeito vinha de seu afro, que de tão imponente, se tornava mais uma maneira de intimidar opressores.

Mesmo durante os tempos de opressão, os negros sempre estiveram presentes no campo das artes, estilos consagrados como jazz e blues, o último precursor do rock, são exemplos desta presença. Além de brindar o público com seu talento, estes artistas foram responsáveis por um braço da afirmação da estética afro nos quatro cantos do mundo. Jimi Hendrix, revolucionando com sua guitarra, criou tendência ao deixar seus esvoaçados cabelos crespos crescerem ao natural.

"A identidade negra é construída (ou reconstruída) cotidianamente como uma forma de autoafirmação em um ambiente hostil, onde qualquer relação com a África é vista como portadora de inferioridade. Há varias formas de se (re)construir essa identidade, e uma delas é através da adoção do cabelo afro"

Ainda no rock, o tecladista Billy Preston, famoso por ter tocado com os Beatles, também aderiu ao movimento e passou boa parte dos anos 70 excursionando com um black power de dar inveja. Por fim pinçamos o nome da sul-africana Miriam Makeba, carinhosamente chamada de Mama Africa, que durante seu exílio nos Estados Unidos, adotou o black power. Ainda em 1970, o fenômeno da disco music ganhou espaço e liderado pelos negros, surgiu com força total e logo caiu nas graças do público, tendo sido o black power um dos principais ícones do movimento, destacado na cabeça de membros de grupos como o
Earth Wind and Fire.Apesar de sair de moda nos anos 80, o afro voltou com força total no começo do século 21, mais uma vez amplamente difundido na música. A partir de 2000, Lauryn Hill e Lenny Kravitz e um pouco antes, a cantora Erykah Badu repescaram o fluxo da estética como mensagem de afirmação. Com o avanço dos anos, o estilou ganhou ainda mais força, e nomes como a baixista Esperanza Spalding e a cantora brasileira Anelis Assumpção foram exemplos da preferência aos cabelos naturais.


São quase 70 anos na luta da afirmação de estética como identidade na diáspora, em que o cabelo e sua naturalidade sobressaem aos padrões de beleza ocidentais para se afirmar como instrumento de resistência e cultura. Nesse contexto, seja na política ou nas artes, o black power foi e é um símbolo que transcende as fronteiras da beleza e significa para o negro o resultado da luta de seus antepassados e também a determinação em manter viva a identidade de quem lutou pelos seus direitos. Na busca de direitos, cabelo é identidade e é também um símbolo de respeito.

Cabelo hoje e identidade: quebrando estereótipos aqui no Brasil.

Ao passo em que se aprofundam as discussões sobre questões que envolvem padrões de beleza, fica a inferência de que a busca pela beleza tem raízes ainda na antiguidade, revelando-se tão antiga quanto a história da própria humanidade.

O discurso de que não há preconceito no Brasil, porque aqui existe a chamada democracia racial, há muito vem sendo questionado no campo acadêmico. A democracia racial foi definida como o mito fundador das relações raciais brasileiras, muito difundida por Gilberto Freyre, que em seu livro Casa Grande & Senzala pregava que no Brasil as três raças conviviam harmonicamente. Assim, parte-se do pressuposto de que por ser um país onde há uma mistura das “três raças – indígena, branca e negra”, todo mundo é um pouco miscigenado e portando não é possível se ter preconceito “é o mito aceito pela grande maioria, reproduzido na vida cotidiana”

Não e fácil - Aliada às mais diversas formas de discriminação ao negro, a capilar se faz uma das mais evidentes. Fruto de uma cultura seletiva, que busca impregnar que o ideal de beleza é aquele em que os cabelos devem ser controlados pela química com os processos
de alisamentos, às vezes nocivos à saúde da consumidora, como é a crítica que gira em torno das escovas permanentes, as chapinhas, etc., especialmente a mulher negra é alvo de múltiplas críticas devido seus cabelos não corresponderem aos "padrões de comportamentos" típicos da raça branca.

Na verdade, as críticas às afro-descendentes revelam a constante onda de discriminação ainda existente na sociedade brasileira, que por intermédio de uma ideologia padronizadora, vão de encontro à valorização dos traços e características raciais, desprezando a cultura e as tradições negras. 


Finalizando:

É evidente que apenas a adoção do estilo de cabelo africano não significa a adoção da identidade negra. Como vimos a construção da identidade se dá através de vários mecanismos sociais e culturais, onde o negro vai se familiarizando com a chamada cultura negra e com a causa de valorização do grupo. O movimento negro tem papel fundamental neste processo, visto que é através dele que várias conquistas em prol dos negros são conseguidas, e, além disso, permite a difusão de discussões sobre o que é ser negro em um país onde o mito da democracia racial já está impregnado na sociedade. Porém,
devemos ressaltar que a utilização do cabelo afro tem importância, pois demarca a conquista de território na sociedade pelo negro, sempre subjugado e visto com inferior. 

A conquista da equidade se dá através de pequenos passos, onde o principal dele é a aceitação do ser negr@ e o entendimento do que é ser negr@.

Um afro afro braço.

Claudia Vitalino.

FONTE:www.acaoeducativa.org.br/

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Beyoncé - If I Were A Boy

LEI DO VENTRE LIVRE - DIA DA MÃE PRETA :28 DE SETEMBRO

QUASE CIDADÃ - Por um lado, prevalece há séculos a noção convencional da Mãe Preta
construída pela sociedade racista: um símbolo de subordinação, abnegação e bondade passiva. Por outro lado, surge o retrato da mulher negra construído por ela própria na ação social, na militância política e na vivência cultural.
A ama era figura fundamental na Casa Grande.Era escolhida pela docilidade,pela higiene,pela força(física e espiritual)e pela beleza.A maioria dos criados de dentro eram angolanos,que logo se adaptavam ao dia a dia dos Engenhos e assimilavam facilmente os costumes e a religião dos brancos,embora jamais perdessem suas características africanas,como o linguajar “mole” e as crenças nos seus deuses primitivos.Pelo contato com as Iaiás,tornavam-se quase pessoas da família,confidentes e leva-e-trás das mocinhas e senhoras.
Mas,a função principal da ama era criar o sinhozinho,amamenta-lo,cuida-lo,embalar a sua rede,ensina-lo a falar e a rezar,enfim,era responsável pela saúde,pela higiene e pela formação do futuro senhor de engenho e logico dono de escravos...

Eram também amas e mucamas também eram responsáveis pela iniciação sexual das iaiás e sinhozinhos,ensinando-lhes os mistérios do sexo,assunto tabu,entre as senhoras brancas;meninas que se casavam quase sempre depois da primeira menarca,com senhores mais velhos,escolhidos pelos pais...


Essa figura muito presente na história brasileira, desde o período da escravidão até os primeiros anos do século XX, quando as negras passam a serem preteridas pelas brancas imigrantes. Momento em que a sociedade não valorizava mais o trabalho das mulheres negras e nem a presença delas na cidade. Amas criadeiras passaram a ser vistas como perigosas moradoras de cortiços que transmitiam doenças para as famílias brancas. A partir da metade do século XIX, apareceram imagens divergentes de ama-de-leite:
a mãe negra não era mais a encarnação do alimento e dos cuidados afetuosos, tornou-se também um espectro de doença medonha. Com o leite de seu corpo poderia infectar o inocente com a tuberculose, ou até mesmo a sífilis. As moléstias que antes os patrões, consideravam seu dever cuidar vieram a ser consideradas importações transportadas pelas criadas.

- A historiadora Maria Aparecida da Silva Lopes, afirma que nas primeiras décadas do século XX, muitos brancos passaram a deplorar o efeito corruptor que a criação dada por amas negras tinha sobre as crianças brancas, chegando a ponto de sugerir que os brancos absorviam os vícios das vidas dos negros, sem falar nas doenças passadas através do leite da

mãe preta. Estes rejeitavam inteiramente a idéia das contribuições culturais da mãe preta, declarando que algumas escravas negras em nada contribuíram para a formação da raça e da nacionalidade.

Apesar dessa rejeição, a partir de 1920, o dia 28 de setembro, dia da aprovação da lei do ventre livre, passou a ser adotado como o dia da mãe preta. E em 1954 foi inaugurada na cidade São Paulo, no Largo do Paissandu, um monumento à mãe preta.

Segundo o Locutor Antonio Cezar (maior colecionador [RankBrasil] em Datas Comemorativas e seus porquês):
Essa data comemorativa de São Paulo tem por fim, marcar a data da Lei Nº 2.040 de 28 de setembro de 1871 [também conhecida como "Lei do Ventre Livre" ou mais oficialmente como "Lei Rio Branco"], que foi assinada pela então regente brasileira, Princesa Isabel do Brasil, e que tinha a teórica pretensão de minimizar os efeitos negativos da escravidão de pessoas durante o império do Brasil, ao supostamente dar liberdade nata aos seres humanos nascidos das entranhas das então escravas brasileiras.

Registra-se apenas como pretenção, porque na prática, ao invés de nascidas livres [como apregoava a referida Lei Imperial], as crianças passariam a ser absurdamente exploradas, ao ficarem sob o poderio e autoridade dos senhores de suas mães até os oito anos completos. Uma vez completados os 8 anos de vida, o dito senhor teria duas opções, uma pior que a outra para os filhos das escravas:

Utilizar os trabalhos e serviços dos mesmos até que completassem 21 anos de idade; ou
negociar a entrega dos pequenos ao Estado [em troca de uma indenização de seiscentos mil réis].
Em qualquer das hipóteses, as crianças negras nascidas das escravas sempre sairiam perdendo, e muito, pois a tal "Lei do Ventre Livre" também cuidou de institucionalizar então uma das mais gritantes formas de exploração infantil, ao prever a criação de associações

e/ou estabelecimentos públicos para onde deveriam ser levadas as crianças que não permanecessem com os senhores de suas Mães escravas. Por sua vez, essas associações e/ou estabelecimentos poderiam explorar gratuitamente o trabalho dos ditos "menores" "livres", até que eles completassem 21 anos de idade, sendo-lhes facultado inclusive alugar os serviços dos "menores" sob sua guarda.

Mãe Preta
Foram muitos "nenéns" que se amamentaram
Pretos e brancos, todos recém-nascidos
Dos brancos até doutores se formaram
São irmãos de leite, porém desconhecidos... ( Autor: José de Freitas) 

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

Fonte:Silvane Aparecida da Silva: “Racismo e Sexualidade nas Representações de Negras e Mestiças no Final do Século XIX e Início do XX”./http://datascomemorativas.org/dia-da-gratidao-a-mae-preta-28-de-setembro/

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

PATERNIDADE PRETA

Introdução: Paternidade Patriarcal
No período chamado de Paternidade Patriarcal, o pai representava a figura de poder na

família. Sua autoridade era aceita com naturalidade no mundo agrícola em que vivia. A família era a unidade econômica maior, com o pai chefiando a produção e cada filho contribuindo ativamente, desde muito cedo, para a sobrevivência familiar. Ao pai competia prover as necessidades físicas de todos os familiares, treinando-os para o trabalho. Também devia orientar o crescimento moral e espiritual das crianças, responsabilizando-se por todas as medidas disciplinares que julgasse necessárias. Cabia ao pai, ainda, a escolha dos casamentos de seus filhos.

Muitas mudanças de ideias e de condições de vida começassem a ocorrer em meados do século XVIII. Com o crescimento da população e o declínio da atividade agrícola, os filhos começaram seu deslocamento em direção às cidades, longe do controle dos pais.O período vai de 1800 a 1880, refere-se à urbanização da classe média. Neste contexto, os pais tornaram-se provedores econômicos especializados, algumas vezes concorrentes dos próprios filhos mais velhos, deixando a casa para trabalhar e delegando às mulheres a administração da casa e a educação das crianças. Mas, embora tenham perdido muito da autoridade, os homens continuavam a agir como chefes da família.

Talvez uma das relações mais destruídas pela escravização tenha sido a paternidade preta. A justa reclamação de muitos filhos e filhas da ausência desse pai não é recente.

Ela dura mais de 500 anos.
A história do Brasil registra o que hoje ninguém desconhece: a construção histórica do país começa com o cimento da pluralidade de povos, representada esquematicamente pelas populações indígenas, pelos brancos, predominantemente portugueses, pelos negros  escravizados em África desde o século XVI até o século XIX. Apenas a partir de 1875, data-símbolo do início do processo migratório com a vinda de imigrantes brancos de várias procedências e, anos depois, em 1908, com a chegada dos japoneses, é que essa pluralidade deixou de ser trinária e se tornou complexa tal qual a conhecemos hoje.

Durante mais de 350 anos, esse pai era um “escravo reprodutor”: um homem preto era escolhido e obrigado a engravidar dezenas de “fêmeas” com as quais, mais tarde, ele não
teria contato. Em outros casos, mesmo que o pai quisesse manter contato com esse filho, ele era proibido e, se insistisse, era assassinado. Pro sistema racista da escravidão, o filho não era dele, mas propriedade do homem branco, que era também dono de sua “esposa”, da terra, de tudo.

REDEFININDO A IDENTIDADE
A reação dos negros a essa imagem estigmatizada se dá, de forma titubeante, com uma incipiente imprensa, nos primórdios da década de 10 (século XX).
A figura da maternidade preta, diferentemente, se manteve um pouco mais. Essas crianças precisavam ser amamentadas e cuidadas até que pudessem começar a trabalhar. Por tudo isso e mais um pouco, dizer que os pais pretos simplesmente abandonam os filhos porque são machistas, é não conhecer nossa história. Nosso drama racial não permitiu a paternidade negra durante quase 4 séculos, e hoje a gente colhe os danosos frutos disso.

Sei que homens pretos podem ser pais maravilhosos. Ele era presente, carinhoso, sensível, meio ranzinza, muito chorão.

SE LIGA: Mãe e pai. 50% e 50%. Meio a meio. Responsabilidades divididas. Criação dividida. Cuidados divididos. Desde sempre, o pai é tido como o ser que ajuda a mãe só quando ele pode. O ser que participa da reprodução, mas que só participa da criação nos finais de semana, sempre com diversão e sem responsabilidades.

Saudações às mulheres que criaram/criam seus filhos sem pais.

Parabéns aos aos pais que estão “dentro do modelo”, aos que fora do padrão estabelecido, aos que bebem, aos que perderam a sanidade, aos que estão encarcerados, aos que vivem na rua, no mundo. Aos pais aos pretinhos gays que estão lidando com o sistema racista da adoção.
Desejo que possamos ir reconstruindo as nossas famílias pretas. Exercer a paternidade
preta, essa paternidade-resistência, faz parte indiscutível desse processo. Muito amor e respeito para as famílias pretas . Temos muito trabalho de amor a fazer entre nós.


Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:https://pensamentosmulheristas.wordpress.com/www.jusbrasil.com.br

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Reis Africanos: Os Impérios Negros de Iorubá...

Império Ioruba-
A sudeste da atual Nigéria constituíra-se o poderoso e dinâmico grupo Ibo. Possuía uma


estrutura ultrademocrática que favorecia a iniciativa individual. A unidade sociopolítica era a aldeia. No sudoeste, desenvolveram-se os principados iorubás e aparentados, entre os séculos VI e XI. As suas origens, mergulhadas na mitologia dos deuses e semideuses, não nos fornecem, do ponto de vista cronológico, informações suficientes. O grande passado de todos estes príncipes é Odudua. Seria ele próprio filho de Olodumaré, que para muitos seria o Nimrod de que fala a Bíblia, ou segundo a piedosa tradição islâmica, de Lamurudu, rei de Meca. O seu filho Okanbi, teria tido sete filhos que vieram a ser todos “cabeças coroadas”, a reinar em Owu, Sabé, Popo. Benin, Olé, Ketu e Oyó. Por volta do século XII, Ifé era uma cidade-estado cujo soberano o Oni, era reconhecido como chefe religioso pelas outras cidades iorubás. É que Ifé, fora o lugar a partir de onde as terras se teriam espalhado sobre as águas originais para, segundo a tradição, fazerem nascer o mundo. Os iorubás foram expulsos da antiga Oyó pelos Nupês (Tapas) estabelecendo-se no que é a Oyó de hoje.
A partir do século XVI o poder da cidade-Estado de Oyó cresce até unificar toda as cidades-Estado ioruba. O alafin (rei de Oió) exerce a soberania temporal dos iorubas e também começa a questionar a legitimidade de Ifé, deificando Xangô, antigo rei oioano, como divindade principal.No século XVII o Império de Oyó dominará grande parte da Nigéria, incluindo o Reino de Daomé. A civilização dos iorubas alcançou grande prosperidade, notavelmente em relação à vida urbana. Censos iorubas de 1850 revelam 10 cidades com mais de 100 mil habitantes.

O Império de Oyo Yoruba (c. 1400 - 1835) foi um império da África Ocidental onde é hoje a Nigéria ocidental. O império foi criado pelos Yoruba, no século XV e cresceu para se tornar um dos maiores estados do Oeste africano encontradas pelos exploradores coloniais. Aumentou a vantagem riqueza adquirida através do comércio e de sua posse de uma poderosa cavalaria. O império de Oyo foi o estado mais importante politicamente na região de meados século XVII ao final do século XVIII, dominando não só outras monarquias Yoruba nos dias atuais Nigéria, República do Benim, e Togo, mas também outras monarquias africanas, sendo a mais notável o reino Fon do Dahomey localizado no que é hoje a República do Benim).

Império do Benin Famoso por sua arte, o Benin, situado à sudeste de Ifé, foi fundado, segundo a tradição, também por Oranian, pai de Xangô, sendo então, intimamente aparentado com Oyó e Ifé. A primeira dinastia a reinar teve, segundo mitos, primeiro doze Obas (reis) e terminou por uma revolta, quando se constituiu em reino. Seu apogeu ocorreu

no século XIV, com a capital Edo, que perdura até hoje. A cultura nagô, evidenciada nesta pesquisa, tem procedência no grupo dos escravos sudaneses do império iorubá, acima citado, em suas origens.Na verdade a denominação “nagô” foi dada, no Brasil, a língua iorubá que foi, na Bahia, a “língua geral” dos escravos, tendo dominado as línguas faladas pelos escravos de outras nações. O iorubá compreende vários subgrupos e dialetos, entre os quais o Egbá, que inclui o grupo Ketu e Ijexá, das tribos do mesmo nome, cujos rituais foram adotados, principalmente o Ketu, pelos candomblés mais conservadores. Do ewe “anago”, nome dado pelos daomeanos aos povos que falavam o iorubá, tanto na Nigéria como no Daomé (atual Benin), Togo e arredores, e que os franceses chamavam apenas nagô.
Os estudos dizem que teria sido fundado por Oranian, um ioruba. A sede é a cidade de Ubini.No século XVI é proibido a escravidão masculina, numa política de estímulo demográfico. O oba mantinha o monopólio na produção e circulação do marfim e da Pimenta.
O território onde o Benim se localiza era ocupado no período pré-colonial por pequenas monarquias tribais, das quais a mais poderosa foi a do reinado Fon de Daomé. A partir do século XVII, os portugueses estabelecem entrepostos no litoral, conhecido então como Costa dos Escravos. Os negros capturados são vendidos no Brasil e no Caribe. No século XIX, a França, em campanha para abolir o comércio de escravos, entra em guerra com reinos locais. Em 1892, o reinado Fon é subjugado e o país torna-se protetorado francês, com o nome de Daomé. Em 1904 integra-se à África Ocidental Francesa. O domínio colonial encerra-se em 1960, quando Daomé torna-se independente, tendo Hubert Maga como primeiro presidente. A partir de 1963, o país mergulha na instabilidade política,com seis sucessivos golpes militares.

"Em 1972, um grupo de oficiais subalternos toma o poder e institui um regime esquerdista, liderado pelo major Mathieu Kérékou, que governa até 1990."

 Kérékou nacionaliza companhias estrangeiras, estatiza empresas privadas de grande porte
e cria programas populares de saúde e educação. A doutrina oficial do Estado é o marxismo-leninismo, mas a agricultura e o comércio permanecem em mãos privadas. Em 1975, o país passa a designar-se Benim. O regime político entra em crise na década de 1980, e o governo recorre a empréstimos estrangeiros. Uma onda de protestos, em 1989, leva Kérékou a promover uma abertura política e econômica. Com a instituição do pluripartidarismo, surgem mais de 50 partidos. Nicéphore Soglo, chefe do governo de transição formado em 1990, é eleito presidente em 1991.



Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:unesdoc.unesco.org\www.casadasafricas.org.br

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Machado de Assis em ¨Preto e Branco¨

Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior
escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que frequentara o autodidata Machado de Assis.

De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa. Com a morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é até provável que assistisse às aulas nas ocasiões em que não estava trabalhando.

Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender. Consta que, em São Cristóvão, conheceu uma senhora francesa, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de Francês. Contava, também, com a proteção da madrinha D. Maria José de Mendonça Barroso, viúva do Brigadeiro e Senador do Império Bento Barroso Pereira, proprietária da Quinta do Livramento, onde foram agregados seus pais.

Aos 16 anos, publica em 12-01-1855 seu primeiro trabalho literário, o poema "Ela", na revista Marmota Fluminense, de Francisco de Paula Brito. A Livraria Paula Brito acolhia novos talentos da época, tendo publicado o citado poema e feito de Machado de Assis seu colaborador efetivo.

Com 17 anos, consegue emprego como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, e começa a escrever durante o tempo livre. Conhece o então diretor do órgão, Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sargento de milícias, que se torna seu protetor.

- É o fundador da cadeira nº. 23, e escolheu o nome de José de Alencar, seu grande amigo, para ser seu patrono.
- Por sua importância, a Academia Brasileira de Letras passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis.

Se liga :Dizem os críticos que Machado era "urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. ... A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica. ... Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos."

A temática da escravidão e do negro está completamente ausente da obra de Machado de Assis em sua primeira fase. Isso não é à toa, e não ocorreu porque era uma temática pouco relevante para o autor: certamente não esquecera de sua infância marcada pela pobreza, de sua descendência de escravos, de sua pele negra que devia ter lhe custado uma boa dose de sofrimento em sua própria vida, a despeito de que tenha conseguido ascender socialmente. Ocorre que, a alguém interessado em galgar degraus de uma posição social humilde rumo à inclusão entre a intelectualidade da classe dominante – ainda mais alguém negro – certamente não era conveniente tocar em um tema tão polêmico antes de firmar seu lugar social. E foi o que Machado fez. Paralelamente à ausência do tema do negro nessa fase de sua literatura, se deu o processo de “embranquecimento” do autor. Hoje mesmo raramente encontramos alguma referência à cor de Machado que não o classifique como “mulato”, termo que deriva da palavra “mula”, designando a mestiçagem. Isso quando muito. Na época, certamente a referência à negritude de Machado tornava-se um tabu cada vez maior conforme ele era incluído nos círculos “bem pensantes” da sociedade carioca, que incluíam racistas empedernidos do

calibre de um José de Alencar – grande amigo pessoal de Machado e autor das “Cartas a favor da escravidão”, escritas entre 1867 e 1868, defendendo a manutenção da instituição no Brasil quando já entrava em decadência mundialmente. Não seria demasiado classificar Alencar como uma espécie de “precursor intelectual” da teoria racista da “democracia racial” de Gilberto Freyre, a partir de romances como Iracema, em que apresenta uma visão idealizada e idílica da barbárie colonizadora dos portugueses como um simbólico romance entre uma índia e um português. Vale ressaltar que o nome de Alencar foi defendido por Machado para ser o patrono da cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras, tamanha era a admiração que nutria pelo seu amigo escravocrata.

A maturidade: a crítica social de um cínico...
Quando Machado já se encontra em uma posição social de conforto, tendo seu nome assegurado no cânone literário e sua condição econômica garantida, o autor irá realizar o melhor de sua obra, expressando aquilo que merecidamente o consagraria como um dos grandes autores da literatura mundial. É então que aparece a sua crítica social. Esta, no entanto, não é a de um autor que se indigna diante de uma sociedade de miséria, empenhando seus esforços em transformá-la, como vemos, por exemplo, nos poemas abolicionistas de Castro Alves. É a de alguém que tem a consciência plena de que nada irá mudar, e cabe apenas um apontamento pessimista, cínico e resignado da tamanha hipocrisia de uma sociedade da qual o próprio autor se tornou um “medalhão”. O cinismo de Machado ao criticar a sociedade é o de alguém que sabe que está cuspindo no prato em que comeu.

Para exemplificar essa postura, particularmente em relação à escravidão e ao racismo, tomamos aqui quatro exemplos. O primeiro é o famoso capítulo LXVIII de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “O Vergalho”, em que o antigo escravo alforriado de Brás Cubas, Prudêncio, é flagrado por ele castigando violentamente um outro negro publicamente, açoitando-o com um vergalho. A postura de Prudêncio, mesmo alforriado, diante de seu antigo senhor, é a de completa submissão, chamando-o de “nhonhô” e cessando os castigos ao pedido desse, respondendo

-Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede.” Assim fala Brás Cubas ao leitor: “Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas recebidas, - transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca, e desancava-o sem compaixão; ele gemia e sofria. Agora, porém, que era livre, dispunha de si mesmo, dos braços, das pernas, podia trabalhar, folgar, dormir desagrilhoado da antiga condição, agora é que ele se desbancava: comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera.

Finalizando:Os negros escravizados no Brasil, bem diferente de como aparecem na literatura de Machado, não eram meramente “coitados submissos”. Criaram milhares de Quilombos, protagonizaram enormes lutas de resistência, mataram senhores, fugiram aos milhares. Resistiram, sempre. Muito diferente da postura cínica que apresenta Machado quando, por meio de seu irônico narrador em “Pai contra mãe”, afirma: “(...) os escravos fugiam com freqüência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia

ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada”. A ironia de Machado dirige-se não apenas contra os senhores, mas também contra ele próprio, que não deixa de ser um pouco cúmplice desse estado de coisas. E naturaliza o mito de que os negros eram passivos diante da escravidão. Não eram, e, diferente de Machado, nunca tiveram a opção de se contentar em escrever linhas mordazes satirizando a escravidão. Para resistir, precisaram lutar, e muito, como ainda hoje o fazem contra uma sociedade racista que relega a eles o que há mais brutal na exploração e opressão.


Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
fonte:www.pragmatismopolitico.com.br/.www.esquerdadiario.com.br/www.passeiweb.com/estudos/

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Um dialogo Sobre: Apatia Social perda...

Indo direto ao ponto: Esse processo de lenta construção de uma população livre — que,
embora não diretamente envolvida no universo das relações socioeconômicas definidoras da estrutura hegemônica da Colônia e do Império, não pode ser considerada intersticial ou supérflua — foi decisivo para o que se seguiu ao final da escravização. Atenho-me a cinco desdobramentos relevantes para aquilo que me interessa aqui, isto é, a configuração social que deu sentido às relações de classe tecidas nos inícios da constituição da "ordem social competitiva" no Brasil.

Mas a inércia se manifestava em outra dimensão, mais profunda, porque fruto direto do impacto dos séculos de escravidão no imaginário da elite paulista. Os debates na Assembléia Legislativa da província durante os anos 1870 e seguintes, confrontando posições imigrantistas e contrárias, revelam a forte resistência de parte majoritária da elite governante a incorporar o elemento nacional à lavoura de café por meio da combinação de incentivos monetários e repressão à vadiagem... Talvez fosse possível obrigar os "vadios" a vender sua força de trabalho por lei, sob pena de prisão ou castigos físicos. Mas quanto seria preciso estender a noção de vadiagem para abranger todos os que a lavoura de café em expansão demandava, incluindo, por exemplo, os pequenos posseiros ou os proprietários de terras ou animais espalhados pelo vasto território provincial? Essa alternativa requeria um efetivo policial ramificado no território, o que não existia, ou então milícias privadas de grande envergadura, impensáveis num momento em que os capitais disponíveis estavam todos comprometidos com a lavoura cafeeira.

Teve resistencia; logico -A resistência combinava preconceito racial e desprezo pelo trabalhador livre nacional, visto como preguiçoso, inconfiável e privado de mentalidade moderna (burguesa, acumulativa), já que se satisfazia com muito pouco, de modo que não podia ser submetido ou disciplinado por incentivos pecuniários. Ademais, boa parte do elemento nacional tinha cor, e homem de cor, assim imaginava a elite paulista, só se submetia pela força e pelo látego. Parecia impensável tentar sua adesão voluntária ao trabalho. Nesse aspecto, é reveladora a carta do conselheiro Paula Souza transcrita por Florestan Fernandes em seu clássico sobre a integração do negro na sociedade de classes. na qual ele argumenta ao destinatário que os negros libertos trabalhavam do mesmo modo como faziam quando escravos simplesmente porque "precisam de viver e de alimentar-se, e, portanto, de trabalhar, coisa que eles compreendem em breve prazo [depois da libertação]". Pressuposta nessa argumentação está a concepção — obviamente compartilhada pelo destinatário — de que a única maneira de arrancar trabalho desse "bruto" era a força, já que ele parecia geneticamente propenso à preguiça e à vagabundagem. O Conselheiro, que aprendera rapidamente como funcionava o mercado de trabalho livre, sabia que a fome era o melhor corretivo para presumidas propensões atávicas à preguiça.O caráter ordeiro da população brasileira foi louvado em diversos momentos da nossa história, remota ou recente, e está na base do argumento, defendido por muitos pensadores da hora, segundo o qual a transição para o trabalho livre se deu de forma pouco traumática, ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos ou no Haiti, por exemplo. Nas primeiras décadas do século XX, a nascente sociologia brasileira veria no caráter pacífico do povo um elemento definidor da nacionalidade com raízes profundas na ordem anterior, marcada pelo familismo, o individualismo e o patrimonialismo, isto é, nossa herança ibérica, avessa a conflitos abertos e sobretudo à ação coletiva. Essas idéias estão igualmente presentes em Sérgio Buarque de Holanda, Oliveira Vianna ou Gilberto Freyre, ainda que encadeadas de forma diversa em cada qual e tratadas com maior ou menor distanciamento crítico. Nessa concepção, a ação coletiva aparece como corrupção da ordem natural das coisas, marcada pela sujeição individual dos subalternos a um potentado local que seria o senhor do destino de todos.

Se liga:O elemento alienígena trazido ao país pela imigração européia — estrangeiro mas

branco, e por isso civilizado — foi enquadrado na mesma ordem de percepções, aparecendo como portador de idéias sem lugar na realidade social brasileira, porque gestadas em um ambiente conturbado e afeito à luta de classes, oposto ao clima de concórdia pretensamente imperante no país. O estrangeiro com idéias socialistas ou anarquistas emergiu como um outro ainda mais perigoso do que o escravizados, pois seria capaz de contaminar corações e mentes com idéias que desestabilizariam a estrutura de dominação tradicional. O escravo fora temido por sua diferença e sobretudo por sua opacidade, que suscitaram o temor de uma sublevação negra que pusesse fim à civilização. O temor em relação ao socialista ou anarquista europeu ia além. Ele não queria o fim da civilização, mas um arranjo civilizatório que o incluísse de forma não-subordinada ou igualitária. Seu proselitismo poderia revelar ao brasileiro pacífico e ordeiro que sua posição na hierarquia social era injusta e que a ordem, portanto, era ilegítima. Poderia transformar o povo no inimigo interno que o escravo representara no ideário das elites.

O fim da escravidão não mudou esse quadro: em meio à generalizada pobreza no campo e à inacessibilidade das posições superiores, interditadas pela rígida hierarquia social, as expectativas de melhoria de vida permaneceram achatadas por várias décadas, somente ampliando-se com a intensificação da industrialização na segunda metade do século XX.

"A sociabilidade capitalista, em suma, teve de se haver com uma ordem profundamente antiliberal em suas práticas e visões de mundo"...

A situação social concreta da população negra brasileira e, tanto a ação quanto a inércia do Estado e do grande poderio econômico, sempre encontrou embasamento teórico que justificasse incursões preconceituosas e racistas. As desigualdades econômicas, materiais, educacionais e de acesso efetivo à cidadania sempre mantiveram forte dimensão étnico-racial.

Um olhar retrospectivo sobre a política social no país demonstra a ausência de espaços democráticos em sua formulação, que, somente após o fim da ditadura militar e a partir da mobilização social,que agora logico esta ameaçado...

As lutas da sociedade civil que antecederam e caracterizaram o período da redemocratização deram visibilidade às grandes demandas sociais, que se transformaram posteriormente em políticas públicas. Movimentos sociais, associações, entidades de classe e categorias profissionais construíram uma pauta de reivindicações que incluía direitos civis, políticos e sociais, como a melhoria das condições de vida, salário, educação e saúde. Esses atores construíram a agenda de mudanças que desaguou na elaboração da nova Constituição Federal, promulgada em 1988, inaugurando, assim, uma nova ordem democrática. Nesse contexto, a garantia e a ampliação dos direitos individuais e coletivos estão intimamente ligadas à formação da consciência política e à construção da cidadania.

A política de desenvolvimento social com inclusão procura romper com a lógica adotada pelo Estado brasileiro no passado. Lógica que se baseava na tutela do Estado sobre as iniciativas da sociedade civil. Em decorrência dessa visão patriarcal, mesmo quando atuando para proteger direitos sociais, o Estado agia autoritariamente, negando a participação popular e obstaculizando a construção de uma consciência pública.

Brasil: o país do Apartaihd camuflado

- Gente, quem pensa que a hegemonia branca do ministério do presidente interino Michel Temer é apenas um golpe simbólico à representatividade dos negros nos escalões superiores do governo ,seu primeiro ato, o de diminuir a quantidade de ministérios de 32 para 23, trouxe mais efeitos simbólicos do que práticos, assim como o corte de pouco mais de 4.000 cargos, anunciados na última sexta, cuja estimativa de economia gira em torno de 230 milhões de reais. "Na presença de um déficit orçamentário de 170,5 bilhões, o efeito de cortar ministérios e funções gratificadas é insignificante", afirma Gil Castello Branco, fundador e secretário-geral da organização Contas Abertas. Ele explica que antigos ministérios viraram secretarias, com estruturas similares, que encolheram pouco. Uma economia, portanto, pequena, pois o efeito foi a eliminação de alguns cargos comissionados repetidos.

Na contramão disso, entretanto, o Congresso, com a base de Temer, autorizou a criação de
14.000 cargos federais, além de ter permitido o aumento de salários de funcionários federais e do Ministério Público, com impacto de ao menos 58 bilhões até 2019, o que colocou seu plano de austeridade em xeque. Depois da polêmica, o presidente interino decidiu não apoiar a criação dos cargos e o aumento dos funcionários públicos.

Na prática, duas medidas de impacto foram tomadas até o momento -ambas já planejadas, ainda que com conteúdos diferentes, por sua antecessora. Com a super base que formou no Congresso, ao contemplar 11 partidos em seus ministérios, Temer garantiu, primeiro, a aprovação da nova meta fiscal, que autoriza o rombo de 170,5 bilhões. Também conseguiu aprovar em segundo turno na Câmara a Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permite que o Governo federal use sua arrecadação de forma mais livre, ampliando de 20% para 30% o percentual da receita que pode ser remanejado no Orçamentoo congelamento do aumento dos gastos públicos, que ficariam limitados à inflação do ano anterior, a partir da aprovação de uma lei que ainda deve ser enviada para o Congresso. Novamente, ganhou o aval dos investidores, ainda que tenha gerado mal estar com grupos da sociedade civil, já que a medida implicaria em cortar gastos com saúde, educação e previdência.

.“O governo interino fez, em um mês, o que a Dilma não conseguiu nos últimos doze”, afirma Márcio Holland, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-secretário do Ministério da Fazenda na gestão Guido Mantega, Arevogação de portarias que expandiriam moradias do Minha Casa, Minha Vida, feita logo na primeira semana de Governo, foi criticada pelos movimentos sociais...
Projeto Conservador

* Com o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos diluído no Ministério da Justiça, é improvável que a gestão Temer se empenhe na promoção de políticas de igualdade racial.

* Não bastasse o esvaziamento da pasta relativo aos Direitos Humanos, o histórico profissional do novo Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ratifica a ideia de que conquistas no campo das políticas raciais, como a lei de cotas que ajudou 150 mil jovens negros a ingressar em universidades, serão na melhor das hipóteses estagnadas.

* Advogado formado pela USP, onde atua como professor, Moraes estava desde janeiro de 2015 à frente da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, instituição que ordena as ações truculentas da Polícia Militar contra movimentos sociais e as operações de retirada dos estudantes que ocupavam escolas públicas por melhorias na qualidade do ensino.

* Foram desocupações nas quais a PM atuou sem mandado judicial e atropelando o Estatuto da Criança do Adolescente.

* Durante sua gestão na Segurança Pública, o número de mortes de suspeitos em confrontos com a polícia subiu 61%. Outra iniciativa contrária à promoção dos direitos humanos foi a determinação do sigilo de 50 anos para dados de boletins de ocorrência registrados pela polícia.

* Não é de se espantar que Moraes, que advogou para Eduardo Cunha e a cooperativa de transporte Trasncooper, suspeita de envolvimento com o PCC (Primeiro Comando da Capital), tenha classificado manifestações contra o impeachment de “atos de guerrilha”.

* Os entraves aos avanços nas políticas raciais se encontram também no Ministério da Educação, chefiado por Mendonça Filho, do Democratas. Em 2009, o partido entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo contra a implantação de cotas raciais nas universidades públicas.

* A legenda ajuizou o mesmo tipo de ação contra o Decreto nº 4.887/2003, cujo texto “regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos”.

* Para deixar a situação ainda mais difícil para o povo preto, a delimitação dos territórios quilombolas ficará sob responsabilidade da pasta comandada por Mendonça Filho, que incorporou o Ministério da Cultura.

"Impossível, nesta situação, não lembrar da figura clichê do lobo cuidando das ovelhas".

Em um vídeo que compartilhou em sua página no Facebook, Pinheiro, ex-ministro de Direitos Humanos no governo FHC e um dos oito integrantes da Comissão Nacional da Verdade, explica que a medida do presidente interino anulou uma “política de estado” que remonta aos anos 40.

Depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos, vários pactos foram assinados, como o Pacto internacional Sobre Direitos Civis e Políticos, a Convenção da Tortura, que o presidente Sarney assinou em 1985 – o Brasil foi um dos primeiros a assinar essa convenção. Depois outras convenções como a da discriminação racial, da violência contra a mulher, dos portadores de necessidades especiais (sic), sobre os desaparecimentos, enfim, pouco a pouco mais grupos sociais determinados foram tendo seus direitos reconhecidos.”

“Mas esse governo tem uma ignorância crassa sobre o que ocorreu no mundo desde 1948. Agora, o que é mais grave é o desconhecimento do que ocorreu no Brasil, porque praticamente todos presidentes da república desde o presidente José Sarney até a presidenta Dilma, todos contribuíram na construção de uma política de estado de direitos humanos”, disse o diplomata.

Conclusão:De acordo com projeções do IPEA, em pesquisa feita com base nos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a renda média da população negra só se equiparará à renda da população branca no ano de 2040, caso haja uma permanência das políticas públicas dirigidas, atualmente não mais em vigor.

Sendo assim esqueça esses dados:As rendas de negros e negras só serão iguais à da população branca daqui a 32 anos. Hoje, negros ganham, em média, 53% da renda do branco. A taxa de desemprego entre os negros é de 9,3%, enquanto que a dos brancos é de 7,5%. Nos setores com menor remuneração a maioria dos trabalhadores é negra, caso da agricultura (60,3%), construção civil (57,9%) e serviços domésticos (59,1%).

Aos donos de olhares mais atentos, é comum a percepção de que existe uma seleção étnica na oportunização de empregos de médio e alto prestígio. São raros os casos de ocupação de chefias ou demais cargos importantes por negros e negras. A presença de negros em cargos de nível executivo nas maiores companhias brasileiras é de apenas 3,5%, segundo pesquisa do Ibope/Instituto Ethos. A situação das mulheres negras é ainda
pior, uma vez que são vitimadas pelo duplo preconceito. A pesquisa realizada pelo Ibope/Instituto Ethos, de 2012, demonstra que mulheres negras ocupam menos de 0,5% de cargos executivos.

"Há um embranquecimento da população conforme se sobe na pirâmide social
"

A conceituação do "racismo institucional", ou "estrutural e sistêmico", cujo qual opera na sociedade a revelia dos indivíduos, traz em sua prática o reforço dos estereótipos preconceituosos. O racismo, o preconceito e a discriminação operam sobre a naturalização da pobreza, ao mesmo tempo em que a pobreza opera sobre a naturalização do racismo, exercendo uma importante influência na situação do negro no Brasil.

Pelas expectativas, voltaremos a ser um país de maioria negra. Como é possível ignorar as discrepâncias e os efeitos do racismo dirigido a uma população potencialmente majoritária em nosso país? Como aceitar que, apesar dos avanços sociais e econômicos vividos por nosso país durante todo o século XXI, a população negra não tenha sido atendida em demandas tão essenciais como, por exemplo, no campo da formação educacional?

Ta difícil em gente, quando com o fim da escravidão deixou um legado a todo militante no combate a um tipo de racismo tão específico, fruto desses mais de 500 anos de construção do Brasil.

O Racismo como dimensão da luta de classes na sociedade brasileira.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:www.coladaweb.com \28reuniao.anped.org.br/


Favelas as grandes vítimas do coronavírus no Brasil

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