INTRODUÇÃO
Os sistemas de ensino no Brasil atualmente têm incorporado às suas práticas pedagógicas dispositivos visando à efetivação de ações afirmativas relativas à dívida contraída para com a população afro-descendente, como é o caso da Lei 10639 de 2003, que trata de incorporar ao currículo oficial a história e historicidade dos povos que aqui chegaram no Brasil colônia.
Considerando os aspectos pedagógicos inerentes ao processo em que se desenvolve a dialética entre educação e estética no universo das relações inter-raciais, e tendo em vista as teorias que sustentam as práticas educativas neste cenário, propõe-se através deste trabalho refletir sobre o posicionamento a ser assumido pela mulher negra, entendendo a estética além dos padrões pré-estabelecidos cultural e socialmente, identificando uma postura crítica e reflexiva sobre os desdobramentos advindos de tais questionamentos.
Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica contemplando estudos sobre a mulher negra, a estética e suas concepções de beleza, convergindo para os aspectos educativos, considerando que tais pressupostos estão diretamente vinculados aos tipos de relação que se efetivarão em suas práticas pedagógicas, desde que estas se incorporem à vivência cotidiana.
Nessa perspectiva espera-se contribuir para a emergência de uma mentalidade livre de estereótipos, em que a identidade negra e a valorização da mulher nesse contexto sejam
objetos de reflexão, abrindo discussão e possibilidades de debate no espaço acadêmico, tratando as questões étnico-raciais como relações sociais, promotoras de valorosos preceitos éticos e estéticos.
“Cabelo, cabeleira, cabeludo, descabelado…” Considerado por muitos apenas um instrumento estético, o cabelo vai muito além disso. Uma simples opção por um corte ou penteado diz bastante sobre a personalidade de uma pessoa. Para os negros especialmente, que desde a década de 1950 desfilam com seus black power imponentes, ele transcende o campo da beleza e significa um encontro com a identidade e, por quê não, uma ferramenta de afirmação.
A trajetória do black power tem início ainda nos anos 20, quando Marcus Garvey, tido como o precursor do ativismo negro na Jamaica, insistia na necessidade de romper com padrões de beleza eurocêntricos e a partir disso promover o encontro dos negros com suas raízes africanas. Décadas depois, nos Estados Unidos, o afro também começou a ganhar espaço e se tornou um dos protagonistas na luta pelos direitos civis nos anos 60. No entanto, foram as mulheres as grandes protagonistas dessa história. Condicionadas desde o tempo da escravidão a alisar o cabelo, elas bateram o pé e decidiram andar pelas ruas ao natural, o que causou espanto e resistência da comunidade branca.
Entre muitos, o nome de Angela Davis surge como um dos principais marcos nesta luta. Ativista desde os primeiros anos de sua juventude, a norte-americana fez parte do Partido Comunista e também do movimento Panteras Negras. Em pouco tempo Angela havia se tornado uma das principais referências na luta pelos direitos dos negros e muito deste respeito vinha de seu afro, que de tão imponente, se tornava mais uma maneira de intimidar opressores.
Mesmo durante os tempos de opressão, os negros sempre estiveram presentes no campo das artes, estilos consagrados como jazz e blues, o último precursor do rock, são exemplos desta presença. Além de brindar o público com seu talento, estes artistas foram responsáveis por um braço da afirmação da estética afro nos quatro cantos do mundo. Jimi Hendrix, revolucionando com sua guitarra, criou tendência ao deixar seus esvoaçados cabelos crespos crescerem ao natural.
"A identidade negra é construída (ou reconstruída) cotidianamente como uma forma de autoafirmação em um ambiente hostil, onde qualquer relação com a África é vista como portadora de inferioridade. Há varias formas de se (re)construir essa identidade, e uma delas é através da adoção do cabelo afro"
Ainda no rock, o tecladista Billy Preston, famoso por ter tocado com os Beatles, também aderiu ao movimento e passou boa parte dos anos 70 excursionando com um black power de dar inveja. Por fim pinçamos o nome da sul-africana Miriam Makeba, carinhosamente chamada de Mama Africa, que durante seu exílio nos Estados Unidos, adotou o black power. Ainda em 1970, o fenômeno da disco music ganhou espaço e liderado pelos negros, surgiu com força total e logo caiu nas graças do público, tendo sido o black power um dos principais ícones do movimento, destacado na cabeça de membros de grupos como o Earth Wind and Fire.Apesar de sair de moda nos anos 80, o afro voltou com força total no começo do século 21, mais uma vez amplamente difundido na música. A partir de 2000, Lauryn Hill e Lenny Kravitz e um pouco antes, a cantora Erykah Badu repescaram o fluxo da estética como mensagem de afirmação. Com o avanço dos anos, o estilou ganhou ainda mais força, e nomes como a baixista Esperanza Spalding e a cantora brasileira Anelis Assumpção foram exemplos da preferência aos cabelos naturais.
São quase 70 anos na luta da afirmação de estética como identidade na diáspora, em que o cabelo e sua naturalidade sobressaem aos padrões de beleza ocidentais para se afirmar como instrumento de resistência e cultura. Nesse contexto, seja na política ou nas artes, o black power foi e é um símbolo que transcende as fronteiras da beleza e significa para o negro o resultado da luta de seus antepassados e também a determinação em manter viva a identidade de quem lutou pelos seus direitos. Na busca de direitos, cabelo é identidade e é também um símbolo de respeito.
Cabelo hoje e identidade: quebrando estereótipos aqui no Brasil.
Ao passo em que se aprofundam as discussões sobre questões que envolvem padrões de beleza, fica a inferência de que a busca pela beleza tem raízes ainda na antiguidade, revelando-se tão antiga quanto a história da própria humanidade.
O discurso de que não há preconceito no Brasil, porque aqui existe a chamada democracia racial, há muito vem sendo questionado no campo acadêmico. A democracia racial foi definida como o mito fundador das relações raciais brasileiras, muito difundida por Gilberto Freyre, que em seu livro Casa Grande & Senzala pregava que no Brasil as três raças conviviam harmonicamente. Assim, parte-se do pressuposto de que por ser um país onde há uma mistura das “três raças – indígena, branca e negra”, todo mundo é um pouco miscigenado e portando não é possível se ter preconceito “é o mito aceito pela grande maioria, reproduzido na vida cotidiana”
Não e fácil - Aliada às mais diversas formas de discriminação ao negro, a capilar se faz uma das mais evidentes. Fruto de uma cultura seletiva, que busca impregnar que o ideal de beleza é aquele em que os cabelos devem ser controlados pela química com os processos de alisamentos, às vezes nocivos à saúde da consumidora, como é a crítica que gira em torno das escovas permanentes, as chapinhas, etc., especialmente a mulher negra é alvo de múltiplas críticas devido seus cabelos não corresponderem aos "padrões de comportamentos" típicos da raça branca.
Na verdade, as críticas às afro-descendentes revelam a constante onda de discriminação ainda existente na sociedade brasileira, que por intermédio de uma ideologia padronizadora, vão de encontro à valorização dos traços e características raciais, desprezando a cultura e as tradições negras.
Finalizando:
Os sistemas de ensino no Brasil atualmente têm incorporado às suas práticas pedagógicas dispositivos visando à efetivação de ações afirmativas relativas à dívida contraída para com a população afro-descendente, como é o caso da Lei 10639 de 2003, que trata de incorporar ao currículo oficial a história e historicidade dos povos que aqui chegaram no Brasil colônia.
Considerando os aspectos pedagógicos inerentes ao processo em que se desenvolve a dialética entre educação e estética no universo das relações inter-raciais, e tendo em vista as teorias que sustentam as práticas educativas neste cenário, propõe-se através deste trabalho refletir sobre o posicionamento a ser assumido pela mulher negra, entendendo a estética além dos padrões pré-estabelecidos cultural e socialmente, identificando uma postura crítica e reflexiva sobre os desdobramentos advindos de tais questionamentos.
Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica contemplando estudos sobre a mulher negra, a estética e suas concepções de beleza, convergindo para os aspectos educativos, considerando que tais pressupostos estão diretamente vinculados aos tipos de relação que se efetivarão em suas práticas pedagógicas, desde que estas se incorporem à vivência cotidiana.
Nessa perspectiva espera-se contribuir para a emergência de uma mentalidade livre de estereótipos, em que a identidade negra e a valorização da mulher nesse contexto sejam
objetos de reflexão, abrindo discussão e possibilidades de debate no espaço acadêmico, tratando as questões étnico-raciais como relações sociais, promotoras de valorosos preceitos éticos e estéticos.
“Cabelo, cabeleira, cabeludo, descabelado…” Considerado por muitos apenas um instrumento estético, o cabelo vai muito além disso. Uma simples opção por um corte ou penteado diz bastante sobre a personalidade de uma pessoa. Para os negros especialmente, que desde a década de 1950 desfilam com seus black power imponentes, ele transcende o campo da beleza e significa um encontro com a identidade e, por quê não, uma ferramenta de afirmação.
A trajetória do black power tem início ainda nos anos 20, quando Marcus Garvey, tido como o precursor do ativismo negro na Jamaica, insistia na necessidade de romper com padrões de beleza eurocêntricos e a partir disso promover o encontro dos negros com suas raízes africanas. Décadas depois, nos Estados Unidos, o afro também começou a ganhar espaço e se tornou um dos protagonistas na luta pelos direitos civis nos anos 60. No entanto, foram as mulheres as grandes protagonistas dessa história. Condicionadas desde o tempo da escravidão a alisar o cabelo, elas bateram o pé e decidiram andar pelas ruas ao natural, o que causou espanto e resistência da comunidade branca.
Entre muitos, o nome de Angela Davis surge como um dos principais marcos nesta luta. Ativista desde os primeiros anos de sua juventude, a norte-americana fez parte do Partido Comunista e também do movimento Panteras Negras. Em pouco tempo Angela havia se tornado uma das principais referências na luta pelos direitos dos negros e muito deste respeito vinha de seu afro, que de tão imponente, se tornava mais uma maneira de intimidar opressores.
Mesmo durante os tempos de opressão, os negros sempre estiveram presentes no campo das artes, estilos consagrados como jazz e blues, o último precursor do rock, são exemplos desta presença. Além de brindar o público com seu talento, estes artistas foram responsáveis por um braço da afirmação da estética afro nos quatro cantos do mundo. Jimi Hendrix, revolucionando com sua guitarra, criou tendência ao deixar seus esvoaçados cabelos crespos crescerem ao natural.
"A identidade negra é construída (ou reconstruída) cotidianamente como uma forma de autoafirmação em um ambiente hostil, onde qualquer relação com a África é vista como portadora de inferioridade. Há varias formas de se (re)construir essa identidade, e uma delas é através da adoção do cabelo afro"
Ainda no rock, o tecladista Billy Preston, famoso por ter tocado com os Beatles, também aderiu ao movimento e passou boa parte dos anos 70 excursionando com um black power de dar inveja. Por fim pinçamos o nome da sul-africana Miriam Makeba, carinhosamente chamada de Mama Africa, que durante seu exílio nos Estados Unidos, adotou o black power. Ainda em 1970, o fenômeno da disco music ganhou espaço e liderado pelos negros, surgiu com força total e logo caiu nas graças do público, tendo sido o black power um dos principais ícones do movimento, destacado na cabeça de membros de grupos como o Earth Wind and Fire.Apesar de sair de moda nos anos 80, o afro voltou com força total no começo do século 21, mais uma vez amplamente difundido na música. A partir de 2000, Lauryn Hill e Lenny Kravitz e um pouco antes, a cantora Erykah Badu repescaram o fluxo da estética como mensagem de afirmação. Com o avanço dos anos, o estilou ganhou ainda mais força, e nomes como a baixista Esperanza Spalding e a cantora brasileira Anelis Assumpção foram exemplos da preferência aos cabelos naturais.
São quase 70 anos na luta da afirmação de estética como identidade na diáspora, em que o cabelo e sua naturalidade sobressaem aos padrões de beleza ocidentais para se afirmar como instrumento de resistência e cultura. Nesse contexto, seja na política ou nas artes, o black power foi e é um símbolo que transcende as fronteiras da beleza e significa para o negro o resultado da luta de seus antepassados e também a determinação em manter viva a identidade de quem lutou pelos seus direitos. Na busca de direitos, cabelo é identidade e é também um símbolo de respeito.
Cabelo hoje e identidade: quebrando estereótipos aqui no Brasil.
Ao passo em que se aprofundam as discussões sobre questões que envolvem padrões de beleza, fica a inferência de que a busca pela beleza tem raízes ainda na antiguidade, revelando-se tão antiga quanto a história da própria humanidade.
O discurso de que não há preconceito no Brasil, porque aqui existe a chamada democracia racial, há muito vem sendo questionado no campo acadêmico. A democracia racial foi definida como o mito fundador das relações raciais brasileiras, muito difundida por Gilberto Freyre, que em seu livro Casa Grande & Senzala pregava que no Brasil as três raças conviviam harmonicamente. Assim, parte-se do pressuposto de que por ser um país onde há uma mistura das “três raças – indígena, branca e negra”, todo mundo é um pouco miscigenado e portando não é possível se ter preconceito “é o mito aceito pela grande maioria, reproduzido na vida cotidiana”
Não e fácil - Aliada às mais diversas formas de discriminação ao negro, a capilar se faz uma das mais evidentes. Fruto de uma cultura seletiva, que busca impregnar que o ideal de beleza é aquele em que os cabelos devem ser controlados pela química com os processos de alisamentos, às vezes nocivos à saúde da consumidora, como é a crítica que gira em torno das escovas permanentes, as chapinhas, etc., especialmente a mulher negra é alvo de múltiplas críticas devido seus cabelos não corresponderem aos "padrões de comportamentos" típicos da raça branca.
Na verdade, as críticas às afro-descendentes revelam a constante onda de discriminação ainda existente na sociedade brasileira, que por intermédio de uma ideologia padronizadora, vão de encontro à valorização dos traços e características raciais, desprezando a cultura e as tradições negras.
Finalizando:
É evidente que apenas a adoção do estilo de cabelo africano não significa a adoção da identidade negra. Como vimos a construção da identidade se dá através de vários mecanismos sociais e culturais, onde o negro vai se familiarizando com a chamada cultura negra e com a causa de valorização do grupo. O movimento negro tem papel fundamental neste processo, visto que é através dele que várias conquistas em prol dos negros são conseguidas, e, além disso, permite a difusão de discussões sobre o que é ser negro em um país onde o mito da democracia racial já está impregnado na sociedade. Porém,
devemos ressaltar que a utilização do cabelo afro tem importância, pois demarca a conquista de território na sociedade pelo negro, sempre subjugado e visto com inferior.
devemos ressaltar que a utilização do cabelo afro tem importância, pois demarca a conquista de território na sociedade pelo negro, sempre subjugado e visto com inferior.
A conquista da equidade se dá através de pequenos passos, onde o principal dele é a aceitação do ser negr@ e o entendimento do que é ser negr@.
Um afro afro braço.
Claudia Vitalino.
FONTE:www.acaoeducativa.org.br/
Um afro afro braço.
Claudia Vitalino.
FONTE:www.acaoeducativa.org.br/