A população negra corresponde a mais da metade dos brasileiros: 54%, segundo o IBGE. Na América
Latina e no Caribe, 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes, de acordo com a Associação Mujeres Afro. Tanto no Brasil quanto fora dele, porém, essa população também é a que mais sofre com a pobreza: por aqui, entre os mais pobres, três em cada quatro são pessoas negras, segundo o IBGE.
A Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que resultou no Dossiê Mulheres Negras: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil (2013), constituem o grupo que se encontra no maior número de situações de vulnerabilidade social. São elas que apresentam os menores índices de escolaridade; que recebem os menores salários, embora sejam as que tenham a jornada diária de trabalho mais extensa; se encontram majoritariamente em empregos informais, sem garantia de direitos trabalhistas; entre elas encontra-se o maior percentual de chefia de famílias monoparentais; etc.
Em 2015, foi publicado o Mapa da Violência 2015: homicídios de mulheres no Brasil, realizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), a pedido da ONU Mulheres. Esse estudo revelou que entre 2003 e 2013 o número de mulheres negras mortas violentamente no país subiu 54,2%, enquanto que no mesmo decênio houve um recuo de 9,8% nos assassinatos de mulheres brancas. O documento destacou que, em 2013, “morreram assassinadas, proporcionalmente ao tamanho das respectivas populações, 66,7% mais meninas e mulheres negras do que brancas.”
Esses são dados que, indubitavelmente, decorrem de cerca de 400 anos de colonialismo e de economia escravocrata, que sequestrou e massacrou a população de diversos povos do continente africano e deu início à diáspora negra em direção ao Novo Mundo. Tal origem e a similaridade das opressões vivenciadas pela população negra, mais especificamente pelas mulheres negras ao longo desse período, resulta numa realidade socioeconômica comum às afrodescendentes da transnação latino-americana e caribenha. Noutras palavras, os índices recentemente revelados pelas pesquisas do IPEA e da Flacso/ONU Mulheres sobre as mulheres negras do Brasil possuem extrema semelhança com as condições e perspectivas de vida das mulheres negras de vários outros países da região.
O reconhecimento dessas similitudes implicou na declaração do dia 25 de julho como o Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, data estabelecida durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-caribenhas, realizado em 1992, em Santo Domingo (República Dominicana). Situadas no cruzamento de vários eixos de poder e desigualdade (gênero, raça, classe e origem) as mulheres negras precisaram se organizar a parte e provocar reflexões críticas tanto no movimento negro quanto no movimento feminista, pois nem um dos dois contemplava suas demandas específicas, já que até meados da década de 1970 se enxergavam como movimentos constituídos por identidades homogêneas.
As razões que levaram, há mais de 30 anos, mulheres negras de toda parte da América Latina e do
Caribe a se articularem continuam, infelizmente, bastante atuais. Enfrentar simultaneamente o racismo, o sexismo, o classismo, a lgbtfobia e a xenofobia foi a estratégia encontrada pelo movimento das mulheres afro-latinas e caribenhas para dar visibilidade a si próprias, suas necessidades, suas lutas e suas conquistas.
Assim como o Dia Internacional da Mulher (comemorado em 8 de março), o 25 de Julho não tem como objetivo festejar: a ideia é fortalecer as organizações voltadas às mulheres negras e reforçar seus laços, trazendo maior visibilidade para sua luta e pressionando o poder público.
A celebração do Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha é extremamente relevante por valorizar suas contribuições políticas, intelectuais, econômicas e socioculturais no processo histórico de seus países e do continente. Ademais, foi também graças à articulação das mulheres afro-latinas e caribenhas que os governos da região passaram a constituir acordos e políticas internas e internacionais que vêm permitindo avanços na participação das mulheres negras em espaços como a universidade pública, o mercado formal de trabalho, os veículos mídia e a política partidária.
Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra
Em 2 de junho de 2014, a então presidenta Dilma Rousseff instituiu, por meio da Lei nº 12.987, o dia 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Tereza Benguela liderou entre 1750 e 1770, após a morte de seu companheiro, José Piolho, o Quilombo do Quariterê, situado entre o rio Guaporé e a atual cidade de Cuiabá, capita de Mato Grosso. O lugar abrigava mais de 100 pessoas.
Durante seu comando, a Rainha Tereza criou uma espécie de parlamento e reforçou a defesa do Quilombo do Quariterê com armas adquiridas a partir de trocas ou levadas como espólio após conflitos. Nas suas terras eram cultivados milho, feijão, mandioca, banana e algodão, utilizado na fabricação de tecidos.
Tereza de Benguela é, assim como outras heroínas negras, um dos nomes esquecidos pela historiografia nacional, que, nos últimos anos, devido ao engajamento do movimento de mulheres negras e à pesquisa ou ao resgate de documentos até então não devidamente estudados, na busca de recontar a história nacional e multiplicar as narrativas que revelam a formação sociopolítica brasileira.
Festival Latinidades
No mês do Julho das Pretas alusivo ao Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha ocorre em atividades finalizando aqui no estado do Rio de Janeiro com a marcha 2018 em Copacabana. Considerado uma das maiores de mulheres negras da América Latina, durante todo mês acontecera debates, shows, publicações, espetáculos, capacitações e economia criativa, estimulando o diálogo entre o poder público, organizações não-governamentais, movimentos sociais e culturais, universidades, redes, coletivos e outros grupos.
Tema da marcha 2018.Pela vida do povo preto e por mais mulheres negras no poder!
Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
fonte:Marcha de Mulheres Negras\ONU
Latina e no Caribe, 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes, de acordo com a Associação Mujeres Afro. Tanto no Brasil quanto fora dele, porém, essa população também é a que mais sofre com a pobreza: por aqui, entre os mais pobres, três em cada quatro são pessoas negras, segundo o IBGE.
A Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que resultou no Dossiê Mulheres Negras: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil (2013), constituem o grupo que se encontra no maior número de situações de vulnerabilidade social. São elas que apresentam os menores índices de escolaridade; que recebem os menores salários, embora sejam as que tenham a jornada diária de trabalho mais extensa; se encontram majoritariamente em empregos informais, sem garantia de direitos trabalhistas; entre elas encontra-se o maior percentual de chefia de famílias monoparentais; etc.
Em 2015, foi publicado o Mapa da Violência 2015: homicídios de mulheres no Brasil, realizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), a pedido da ONU Mulheres. Esse estudo revelou que entre 2003 e 2013 o número de mulheres negras mortas violentamente no país subiu 54,2%, enquanto que no mesmo decênio houve um recuo de 9,8% nos assassinatos de mulheres brancas. O documento destacou que, em 2013, “morreram assassinadas, proporcionalmente ao tamanho das respectivas populações, 66,7% mais meninas e mulheres negras do que brancas.”
Esses são dados que, indubitavelmente, decorrem de cerca de 400 anos de colonialismo e de economia escravocrata, que sequestrou e massacrou a população de diversos povos do continente africano e deu início à diáspora negra em direção ao Novo Mundo. Tal origem e a similaridade das opressões vivenciadas pela população negra, mais especificamente pelas mulheres negras ao longo desse período, resulta numa realidade socioeconômica comum às afrodescendentes da transnação latino-americana e caribenha. Noutras palavras, os índices recentemente revelados pelas pesquisas do IPEA e da Flacso/ONU Mulheres sobre as mulheres negras do Brasil possuem extrema semelhança com as condições e perspectivas de vida das mulheres negras de vários outros países da região.
O reconhecimento dessas similitudes implicou na declaração do dia 25 de julho como o Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, data estabelecida durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-caribenhas, realizado em 1992, em Santo Domingo (República Dominicana). Situadas no cruzamento de vários eixos de poder e desigualdade (gênero, raça, classe e origem) as mulheres negras precisaram se organizar a parte e provocar reflexões críticas tanto no movimento negro quanto no movimento feminista, pois nem um dos dois contemplava suas demandas específicas, já que até meados da década de 1970 se enxergavam como movimentos constituídos por identidades homogêneas.
As razões que levaram, há mais de 30 anos, mulheres negras de toda parte da América Latina e do
Caribe a se articularem continuam, infelizmente, bastante atuais. Enfrentar simultaneamente o racismo, o sexismo, o classismo, a lgbtfobia e a xenofobia foi a estratégia encontrada pelo movimento das mulheres afro-latinas e caribenhas para dar visibilidade a si próprias, suas necessidades, suas lutas e suas conquistas.
Assim como o Dia Internacional da Mulher (comemorado em 8 de março), o 25 de Julho não tem como objetivo festejar: a ideia é fortalecer as organizações voltadas às mulheres negras e reforçar seus laços, trazendo maior visibilidade para sua luta e pressionando o poder público.
A celebração do Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha é extremamente relevante por valorizar suas contribuições políticas, intelectuais, econômicas e socioculturais no processo histórico de seus países e do continente. Ademais, foi também graças à articulação das mulheres afro-latinas e caribenhas que os governos da região passaram a constituir acordos e políticas internas e internacionais que vêm permitindo avanços na participação das mulheres negras em espaços como a universidade pública, o mercado formal de trabalho, os veículos mídia e a política partidária.
Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra
Em 2 de junho de 2014, a então presidenta Dilma Rousseff instituiu, por meio da Lei nº 12.987, o dia 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Tereza Benguela liderou entre 1750 e 1770, após a morte de seu companheiro, José Piolho, o Quilombo do Quariterê, situado entre o rio Guaporé e a atual cidade de Cuiabá, capita de Mato Grosso. O lugar abrigava mais de 100 pessoas.
Durante seu comando, a Rainha Tereza criou uma espécie de parlamento e reforçou a defesa do Quilombo do Quariterê com armas adquiridas a partir de trocas ou levadas como espólio após conflitos. Nas suas terras eram cultivados milho, feijão, mandioca, banana e algodão, utilizado na fabricação de tecidos.
Tereza de Benguela é, assim como outras heroínas negras, um dos nomes esquecidos pela historiografia nacional, que, nos últimos anos, devido ao engajamento do movimento de mulheres negras e à pesquisa ou ao resgate de documentos até então não devidamente estudados, na busca de recontar a história nacional e multiplicar as narrativas que revelam a formação sociopolítica brasileira.
Festival Latinidades
No mês do Julho das Pretas alusivo ao Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha ocorre em atividades finalizando aqui no estado do Rio de Janeiro com a marcha 2018 em Copacabana. Considerado uma das maiores de mulheres negras da América Latina, durante todo mês acontecera debates, shows, publicações, espetáculos, capacitações e economia criativa, estimulando o diálogo entre o poder público, organizações não-governamentais, movimentos sociais e culturais, universidades, redes, coletivos e outros grupos.
Tema da marcha 2018.Pela vida do povo preto e por mais mulheres negras no poder!
Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
fonte:Marcha de Mulheres Negras\ONU
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