UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

NEGRAS LÉSBICAS:O estereótipo sapatão: visibilidade, lesbofobia e f​eminilidade

"​SER UMA MULHER NEGRA LÉSBICA ME GARANTE PRESENCIAR LESBOFOBIA E RACISMO EM ESPAÇOS DE LUTA. ALGUMAS MUITAS VEZES ISSO ACONTECE DE FORMA NÃO PENSADA POR QUEM PRATICA E OUTRAS TANTAS DE FORMA BASTANTE DESLEGITIMADORA.”
​ ((REBECA NASCIMENTO )​

Estas colocações são a base da linha de pensamento aqui apresentada. Qual a representação das mulheres lésbicas na mídia? Qual o estereótipo de sapatão a que estamos acostumadas e acostumados? Quem são as lésbicas que sofrem diretamente com a lesbofobia e o que a feminilidade tem relação com isso?
Carol Ferza coloca muito bem qual a representação das mulheres lésbicas na televisão brasileira. Lésbicas brancas seguem o padrão de beleza imposto que já sabemos muito bem. Além de pertencerem a uma classe social financeiramente perfeita, suas vidas profissionais e pessoais não são afetadas pela orientação sexual. Lésbicas negras, por outro lado, são representadas de uma forma geral como a maioria dos homens negros são representados: atuando com trabalhos braçais, em péssima situação financeira, com interesses prioritariamente sexuais em relação a outras mulheres e sem acesso à educação.
“MEU DESEJO POR REPRESENTATIVIDADE NÃO VISA SIMPLESMENTE UMA VONTADE DE NUTRIR MINHA AUTOESTIMA. NÃO! TRATA-SE DE EDUCAR AS PESSOAS, MOSTRAR LÉSBICAS NEGRAS (E AS DEMAIS COLORIDAS) NA SUA ESSÊNCIA COMO PESSOAS, COMO CIDADÃS, COMO SERES HUMANOS DOTADOS DE SUAS VIRTUDES E MAZELAS COMO QUALQUER OUTRA, INDEPENDENTE DE SUA SEXUALIDADE.” (CAROL FERZA)

Essa representação difere sensivelmente da representação de mulheres lésbicas das grandes produções dos EUA, onde existem mulheres lésbicas brancas e negras, em suas variadas trajetórias, corpos, vivências e preferências, tanto em Orange Is The New Black quanto em The L Word – onde nenhuma das séries colocam mulheres brancas e negras em pé de igualdade – e outras séries e programas existentes, atuais ou não. Lembrando que isso não significa que são representações boas, muito pelo contrário, mas algo a ser tratado em outro texto, não apenas pela representação, mas também por todas as possíveis críticas a se fazer nas duas séries.

Rebeca aponta os impasses de militar sendo uma lésbica negra. O movimento negro ainda não está preparado para falar sobre lesbofobia e todas as agressões recorrentes às lésbicas negras, e o movimento lésbico ainda não está preparado para falar e discutir sobre racismo e todas as agressões recorrentes às lésbicas negras. Um ano se passou e poucas

mudanças ocorreram. Coletivos do movimento negro ainda não conseguem fazer o recorte para dialogar conosco e coletivos feministas prioritariamente lésbicos não avançam na desconstrução do racismo enraizado nos discursos, reações e pensamentos. As ações coletivas nos espaços feministas, quando não são prioritariamente lésbicos, abrangem pautas que possuem relação com mulheres lésbicas mas desconsideram estas mulheres, como Agnes Aguiar aponta e questiona.

A falta de representação e representatividade acarretam em formas de expressão que diferem a convivência, o discurso e a compreensão de tudo o que está em nossa volta. Como já mencionei, mesmo sem saber muito bem o que procurava, nunca me senti representada direta ou indiretamente na mídia, o que me fez absorver alguns padrões e demorar bastante tempo para me desprender dos mesmos. Um deles foi a feminilidade.

É bastante complicado, para mim, falar ou escrever sobre feminilidade. Não discordo de reflexões acerca da feminilidade que apontam que é uma imposição social extremamente agressora que fomenta o capitalismo patriarcal, mas não deixo de pensar, ainda assim, que mulheres negras tiveram suas feminilidades negadas desde que seus corpos começaram a desenvolver-se. A feminilidade está, atualmente, conectada com a beleza, delicadeza e sutileza feminina, no coração de mãe, na grande conquista que é dar vida a outro ser. Que
mulher negra é considerada delicada? Que mulher negra é considerada bela pelos padrões de beleza? Que mulher negra é sutil? Que mulher negra considera uma conquista dar vida a outro ser?

Na descoberta da minha lesbianidade, equivocadamente achei que precisaria me parecer ao máximo com um garoto para poder me aproximar de mulheres lésbicas, mas ao longo dos anos, percebi que resistir à feminilidade, para muitas mulheres, é algo que as protegem do assédio sexual – como consequência, as tornam uma sapatão visível e, automaticamente, as deixam mais vulneráveis às agressões lesbofóbicas da sociedade, por não serem “lésbica padrão da televisão” que atrai os olhares masculinos e fetichizam a relação lésbica.

O estereótipo sapatão é, muitas vezes, diretamente associado com a não aceitação da feminilidade. Ou seja, lésbicas masculinas ou a butch, estão muito mais vulneráveis às agressões lesbofóbicas da sociedade do que, por exemplo, lésbicas femininas, que estão mais vulneráveis a terem suas relações afetivas e sexuais extremamente fetichizadas pelo olhar masculino e a mídia num todo.


Mulheres lésbicas negras, “femininas ou masculinas”, estão suscetíveis às agressões lesbofóbicas e racistas e, independentemente de suas aparências e comportamentos, é impossível separar lesbianidade e negritude, mesmo quando essa mulher não corresponde aos esteriótipos de mulher negra e mulher lésbica. Sempre teremos dificuldade em encontrar espaços onde nossa saúde, não apenas corporal mas mental também, nossa vivência, nossas necessidades, nossa segurança, nossa representação, nossa participação e autonomia sejam inseridas em discussões, estejam representadas de uma forma séria e relevante. Sempre será extremamente difícil ter que dizer para as pessoas que existem lésbicas negras e existem negras lésbicas. Enquanto nossa representatividade for inexistente, enquanto formos pessoas invisíveis na sociedade, teremos a necessidade de nos colocarmos à frente de coletivos e espaços (públicos ou não), cobrando representação, pautando nossas próprias necessidades, mas não passando por cima das necessidades e pautas de outras mulheres, com diferentes sexualidades.

NÓS EXISTIMOS E RESISTIMOS.
 Que toda mulher negra e lésbica se afirme por mim, por
ela e por todas:Somos negras e lésbicas.

Afro abraços!

Por:Marisa Justino
UnegroNova Iguaçu / RJ
​Diretoria Plena - pasta LGBT

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