
Mesmo longe de se tornar a democracia racial apregoada por
Gilberto Freyre, em sua obra maior, Casa-Grande & Senzala, na década de
1930, hoje, muitos negros têm superado os obstáculos que os impediam de
conquistar status, antes exclusivos de brancos das "famílias
tradicionais".
É óbvio que as crises atingem a todos e sabemos que, nessas
horas, a população afro-brasileira é a primeira a ser alijada de suas
conquistas. Mas a chamada "classe média negra", já ultrapassa os 15%
da população, segundo pesquisa do IBGE. Desde a última década do século 20, o
número de chefes de família negros que ganham mais de cinco salários mínimos
praticamente dobrou.
Já nos primeiros anos deste século, falava-se que a parcela dos
20% de brasileiros mais ricos era formada por 80% de brancos, mas que os negros
já quase atingiam 19%. E, apesar da luta constante dos sempre privilegiados e
de vários meios de comunicação apregoando contra as ações afirmativas e, em
especial, contra as cotas em universidades, o número de estudantes negros que
chegam aos cursos superiores dobrou em relação às três últimas décadas do
século passado.
Até fritar o cabelo, se quiser, ou frisá-lo, usar dread look ou
raspar a cabeça. Mais que uma estética, privilegiou a liberdade. E a gente tem
de exigir o melhor para nós mesmos, a elegância, juntar a beleza interior com a
exterior", comenta. O ator, um dos mais influentes do Brasil, faz questão
de mostrar a importância do negro na sociedade brasileira, com cerca de 90
milhões de afrodescendentes.
Seu sonho é um reavivamento do sentido de clã. "Se 10
milhões de negras resolvessem, por exemplo, sabotar a compra de um sabão que
elas consomem, mas cuja publicidade não utiliza negros, ou escrevessem à
direção das empresas, editoras e agências por se sentirem ausentes nas
publicações, em espetáculo, no carnaval, enfim, em tudo o que é realizado, a
história seria diferente. Por que comprar o produto que nos rejeita? Por que
assistir a um espetáculo que nos trata como inferiores?", finaliza.
Ainda temos uma longa caminhada.

Os homens negros também colaboram para a baixa autoestima da
mulher negra quando têm preferência pelos padrões de beleza impostos pela
sociedade. Por incrível que pareça, o parceiro negro de uma mulher negra
influencia (pra não dizer “determina”) no modo como ela cuida do cabelo,
optanto, muitas vezes, por deixá-los lisos e compridos recorrendo, inclusive, a
alongamentos.
Acredito que a grande parte das pessoas sofre de baixa
autoestima e que a psicologia ou psicanálise podem ajudar a resolver o
problema, porém, no caso da mulher negra, ainda é preciso uma solução mais
complexa que exige uma profunda renovação de valores, autoaceitação e coragem
para nadar contra a corrente do preconceito.
Por falar em concurso de beleza:
A vitória da angolana Leila Lopes, eleita a mais bela mulher do
mundo, representa muito neste Ano Internacional dos Afrodescendentes declarado
pela ONU, e tem um significado ainda mais especial pelo fato dessa eleição ter
acontecido no Brasil – país com maior população negra do mundo fora da África.
Não foi a primeira vez que uma mulher negra venceu. Em 1.977,
Janelle “Penny” Comissiong Chow, de Trinidad Tobago, tornou-se a primeira negra
a conquistar o Miss Universo. Mas foi a primeira vez que uma africana
conquistou o título em 60 anos de concurso.O fato acontece no Brasil, país em que apesar de sua população majoritariamente negra (somos 50,7% de pretos e pardos, de acordo com o Censo do IBGE 2010), ainda tem o loiro escandinavo, de olho azul, como modelo único de beleza.
O padrão eurocêntrico imposto tem sido o instrumento ideológico, por meio do qual o racismo destrói a autoestima das crianças negras, especialmente das meninas, vítimas do alisamento forçado dos cabelos, da “chapinha” a que se auto-impõem, mecanismos por meio dos quais buscam se adequar à estética branca dominante.
No Brasil do mito da democracia racial, ainda é comum o uso da expressão “cabelo ruim” para se referir ao crespo dos cabelos negros.
A eleição da Miss Angola como a mulher mais bela do mundo pode contribuir para o fim desta ditadura estética, contribuindo para a elevação da autoestima de quem não se enquadra no padrão eurocêntrico dominante: negros, índios, orientais, ciganos etc.
Com toda a certeza, o símbolo em que a angolana se tornou a partir deste Miss Universo – e justo na cidade mais negra do mundo fora da África, que é São Paulo – contribuirá para que as meninas negras comecem a se libertar das “chapinhas” e, ao assumirem sua própria estética, reforçar e fortalecer sua auto-estima.
Se somos vários, porque deveríamos nos enquadrar em padrões únicos? Se temos tantos modelos de beleza (brancos, negros, índios, orientais), porque devemos aceitar a ditadura de um único – o loiro escandinavo -, herança das políticas de branqueamento adotadas pelo Estado, notadamente, nas primeiras quatro décadas do século XX?
Se liga:
Na verdade, Leila Lopes
é a quarta mulher africana a se tornar Miss Universo. Antes dela, foram eleitas
duas sul-africanas (ambas brancas) e uma de Botsuana. Veja matéria com
entrevista da Miss Brasil, 1.989, Flávia Cavalcante.

Para Carvalho, a mudança, tanto nos números quanto na auto-estima de pretos e pardos, se dá por uma série de fatores. O principal, na opinião dele, é o aumento do debate sobre a questão racial no Brasil e a adoção de políticas públicas de valorização desse segmento.
Outro fator é o fortalecimento do movimento negro e também o surgimento de personalidades negras em diversos setores da sociedade. "O que eu posso ser? Tudo o que estou vendo é que fui escravo, mas agora posso ser algo diferente. Talvez eu possa ser presidente, ministro do Supremo Tribunal Federal, um corredor da Fórmula 1", exemplifica a estudante de História na UnB Luiana Maia, referindo-se a Barack Obama, eleito presidente dos EUA; a Joaquim Barbosa, ministro do STF, e a Lewis Hamilton, campeão mundial de Fórmula 1.
Revista Raça 13 anos de
valorização da beleza negra:
Advogado Hédio Silva –“Claro
que ainda há muito a se fazer para uma maior valorização da raça negra,
principalmente mudar as cabeças viciadas pelos preconceitos e racismo à
brasileira que resultam em atitudes discriminatórias em vários aspectos. O
advogado Hédio Silva, que foi secretário de Estado da Justiça, em São Paulo,
comenta que geralmente causa estranheza um negro ocupar um cargo dessa
envergadura num governo.

“Autoestima, seja qual for o nível, é uma experiência íntima; reside no cerne do nosso ser. É o que EU penso e sinto sobre mim mesmo, não o que o outro pensa e sente sobre mim. Quando crianças, nossa autoconfiança e nosso autorrespeito podem ser alimentados ou destruídos pelos adultos conforme tenhamos sido respeitados, amados, valorizados e encorajados a confiar em nós mesmos. Mas, em nossos primeiros anos de vida, nossas escolhas e decisões são muito importantes para o desenvolvimento futuro de nossa autoestima.”
Dados Importantes:
A população negra que forma o Brasil
constitui 52% do total de 180 milhões de pessoas, segundo o IBGE. -
Desses, 34%, estão abaixo do nível de pobreza, de acordo com levantamento feito
pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.
- A taxa de
desemprego para a população negra é de 20,9%, enquanto a taxa da população
branca fica em 13%.
- O Brasil
possui a 2ª maior população negra do mundo, atrás apenas da Nigéria.
- Quanto à
exposição ao vírus HIV, entre os grupos mais atingidos estão as mulheres, as
gestantes e seus filhos. Em 1985, a relação era de 30 homens infectados para
apenas uma mulher. Atualmente, ela é de um homem para uma mulher – na sua
maioria, mulheres negras, o que configura uma feminilização e racialização da
contaminação por HIV.
- As
desigualdades e discriminações ainda não foram superadas no contexto
educacional: os livros didáticos ainda reproduzem estereótipos de gênero e
raça, e comportamentos na sala de aula e alguns materiais utilizados ainda são
grandes desafios para a redução dessas discriminações.
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- As mulheres
ainda ocupam menos das 9% das cadeiras na Câmara dos Deputados e 12% no Senado.
Em Pernambuco, dos 49 parlamentares, apenas 7 são mulheres; dessas, apenas duas
são negras.
Um afro abraço
Fonte:revista raça/ http://pt.shvoong.com/humanities/1799365-aprofundar-mais-significado-conceito-auto/
Afropress
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