Luta contra o racismo: Uma corrida inglória
Para o filósofo e cientista político francês, apesar de todos os esforços para combater o mito das raças, a ciência está fadada a chegar eternamente em segundo lugar na corrida contra o preconceito.
Entre os cientistas, ganha mais força, a cada dia, a tese de que a humanidade tem uma origem única e o conceito de raça simplesmente não existe. Mas o racismo, teimosamente, insiste em sobreviver. Pierre-André Taguieff, filósofo e cientista político do CNRS (Centro Nacional de Pesquisas Científicas), é considerado um dos homens mais habilitados atualmente, na França, a falar sobre esse fenômeno. Aos 45 anos, cinco livros publicados sobre o assunto, ele trabalha em Paris, no próprio apartamento, totalmente tomado por livros, recortes, jornais e revistas. “Gosto de trabalhar à moda antiga”, responde a qualquer um que tenta, em vão, descobrir onde se esconde seu computador. Da sala, o mar de papéis acabou transbordando, literalmente, para os demais cômodos. Até mesmo a cozinha, onde mesa e cadeiras são apenas silhuetas por trás das pilhas de documentos. A aparente desorganização, no entanto, não interfere na lucidez de suas análises. O problema do preconceito é infinitamente mais complicado do que se imagina, como se aprende em seu livro Face ao Racismo, de 1989. “Lutar contra o racismo, para citar uma alegoria do filósofo americano Rudolf Carnap (1891-1970), é como tentar consertar um barco que navega no oceano agitado por uma tempestade.” Nesta entrevista, Taguieff mostra de que maneira mudaram as manifestações racistas através do tempo, e explica por que é tão difícil banir o preconceito.
* Marco Coledan teria chamado o brasileiro Renato Santos, o Centenário, de ‘negro sujo'
Para o filósofo e cientista político francês, apesar de todos os esforços para combater o mito das raças, a ciência está fadada a chegar eternamente em segundo lugar na corrida contra o preconceito.
Entre os cientistas, ganha mais força, a cada dia, a tese de que a humanidade tem uma origem única e o conceito de raça simplesmente não existe. Mas o racismo, teimosamente, insiste em sobreviver. Pierre-André Taguieff, filósofo e cientista político do CNRS (Centro Nacional de Pesquisas Científicas), é considerado um dos homens mais habilitados atualmente, na França, a falar sobre esse fenômeno. Aos 45 anos, cinco livros publicados sobre o assunto, ele trabalha em Paris, no próprio apartamento, totalmente tomado por livros, recortes, jornais e revistas. “Gosto de trabalhar à moda antiga”, responde a qualquer um que tenta, em vão, descobrir onde se esconde seu computador. Da sala, o mar de papéis acabou transbordando, literalmente, para os demais cômodos. Até mesmo a cozinha, onde mesa e cadeiras são apenas silhuetas por trás das pilhas de documentos. A aparente desorganização, no entanto, não interfere na lucidez de suas análises. O problema do preconceito é infinitamente mais complicado do que se imagina, como se aprende em seu livro Face ao Racismo, de 1989. “Lutar contra o racismo, para citar uma alegoria do filósofo americano Rudolf Carnap (1891-1970), é como tentar consertar um barco que navega no oceano agitado por uma tempestade.” Nesta entrevista, Taguieff mostra de que maneira mudaram as manifestações racistas através do tempo, e explica por que é tão difícil banir o preconceito.
* Marco Coledan teria chamado o brasileiro Renato Santos, o Centenário, de ‘negro sujo'
Um bate-boca entre um italiano e um brasileiro no sábado (30) terminou em expulsão no Tour do Rio de ciclismo. O italiano Marco Coledan, da equipe Trevidiani, foi acusado de fazer insultos racistas contra o brasileiro Renato Santos, o Centenário, que corre pela DataRo. Durante uma discussão na etapa Teresópolis-Rio das Ostras, Coledan teria chamado Renato de “negro sujo". A organização do evento decidiu excluir o italiano da disputa.
Murilo Ferraz, que também é da DataRo, morou na Itália durante oito meses e entendeu a ofensa proferida por Coledan. Ele contou para Renato Santos, e a equipe levou a reclamação à organização do Tour, que termina neste domingo.
"Isso é inadmissível. A briga pode acontecer com qualquer um, mas não com palavras racistas. O Coledan me ofendeu com palavras racistas, falou “nero” e uma outra palavra que eu não consegui entender, e o Murilo me contou que era algo como “negro sujo”. Denunciei aos comissários, e isso desfez a equipe principal deles. Não vou levar o caso à polícia. O fato de ele não estar competindo já é uma punição", afirmou Renato.
Técnico de Coledan na Trevidiani, Mirko Rossato minimizou a discussão. "Houve uma briga como em qualquer outra corrida. Na Itália essa situação é comum, mas foi uma decisão da organização, e a gente aceita. Renato ofendeu o Marco, e o Marco respondeu com uma palavra que na Itália não tem o menor significado racista", disse Rossato, sem entrar em detalhes sobre qual palavra foi usada.
Murilo Ferraz discorda de Rossato e garante que houve racismo. "Foi racismo mesmo. Na Itália existe rivalidade, um esbarra no outro durante a prova, mas não a ponto de xingar e magoar outro ciclista.
O Racismo...
O racismo foi redefinido sem que se tenham usado noções biológicas ou mesmo de desigualdade, comuns principalmente durante o apogeu do nazismo. Hoje, existe o que eu chamo de racismo cultural ou diferencialista. Cultural porque não se fala em termos de Biologia ou Genética, e sim, de etnias e culturas. Diferencialista porque não coloca estas culturas numa escala hierárquica, como era o caso para as raças “branca”, “negra” e “amarela”. Diz-se somente “existem culturas, homens que fazem parte dessas culturas e que não podem viver fora delas. Cada indivíduo é de uma cultura e de uma só — ele está limitado a ela”. Esse tipo de idéia está mais próximo da essência do racismo do que a própria teoria da desigualdade das raças, que é, paradoxalmente, menos radical. O racismo biológico supõe que existe um termo comum entre as diferentes raças, pois elas podem ser comparadas. Os que eu chamo de diferencialistas nem sequer aceitam comparação. Não existe nem porta ou ponte entre as diferenças culturais. Elas são entidades voltadas para si mesmas, uma fatalidade à qual não se pode fugir.
Pode-se, sem dúvida, lutar contra a pseudociência com a ciência. Sem problemas. Mas as teorias anti-racistas não estão funcionando porque elas utilizaram argumentos da “sabedoria”. Estes argumentos são levados em consideração unicamente no mundo em que eles são considerados sérios. Cada um vive, no entanto, em vários mundos: um científico, outro da experiência vivida, etc. No mundo da razão, cada um pode estar de acordo com o anti-racismo científico. Mas no mundo da experiência vivida, existe sempre aquele “mas”: “Você tem razão, mas você não o conhece. Sou eu que vivo lado a lado com alguém diferente, que come outra comida, ouve música exótica ou cheira mal”. Pode-se também lutar contra um mito com outro mito, como aconteceu a partir da década passada. A tática anti-racista foi fazer a apologia do mestiço: ele é mais bonito e mais “rico” que os outros, pois tem várias origens raciais e culturais. Um absurdo, pois voltamos ingenuamente ao racismo biológico. A crise anti-racista, a meu ver, se deve a estes dois fatores: quando o discurso é científico, ele passa ao largo do problema; quando é simbólico, faz parte do mesmo campo de idéias.O racismo tem duas fontes: uma instintiva e outra histórica. A origem daquilo que chamamos racismo encontra-se enraizada no comportamento instintivo de preservação do território, da defesa deste território. É um comportamento primário, original. Mas não foi esta fonte que fomentou o racismo elaborado que conhecemos hoje. Este fenômeno data da modernidade ocidental, é histórico. O racismo elaborado não é instintivo, e sim, o fruto da sociedade em que vivemos, fruto da nossa história.
fonte:super.abril.com.br/ciencia-www.ibahia.com/...
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