UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

sábado, 28 de abril de 2018

Primeiro de Maio: "Desigualdade salarial entre brancos e negros gera prejuízo de R$ 808 bilhões"

O 1º de Maio tem sido, ao longo dos anos, uma comemoração, um feriado para quem trabalha ou quem está desempregado, um dia de descanso, uma data no calendário de feriadões a mais no ano.
Vemos toda uma apologia ao lazer e ao ócio, literalmente um dia em que os empresários, CDL, indústria e demais setores do trabalho fazem desta data uma festa. A começar pela propaganda: “Dia do Trabalho!”. Sindicatos fazem sorteios de carros e prêmios, apresentações artísticas, dentre outros eventos culturais que, segundo eles, visam ao prazer do ofício. O que muita gente não sabe é que a história deste “feriado” condiz com uma batalha constante daqueles que lutavam por melhores condições de vida. Seu nome correto era “Dia do Trabalhador”, mais precisamente: “Dia do Internacionalismo Proletário”. Alguns costumam pensar que aquelas lutas pelos direitos são muito antigas e hoje já estão ultrapassadas, por isso não há motivos para continuar lembrando de velhas memórias...

Vocês sabem que á história contada é a versão dos vencedores. Pouco se sabe que, em 1937, Getúlio Vargas foi obrigado a criar um ministério do trabalho que se encarregou de controlar todos os sindicatos, uma resposta dada para a organização em massa dos trabalhadores, que era capaz de conquistar grandes mudanças. Vargas destrói o sindicalismo e se proclama “pai dos pobres”, “pai dos trabalhadores”. Não é à toa: aqueles que deveriam ser defensores das causas sociais, os políticos, são os nossos maiores inimigos porque privilegiam seus próprios interesses individuais e não nos representam. Aqueles que deveriam ser nossos defensores contra a exploração no trabalho, as centrais sindicais, são nossos traidores quando não estão ombro a ombro com os que estão todo o dia na labuta. É através de festas e “feriados” que um e outro transformam a vida do povo em pão-e-circo. Ainda por cima, a mídia tem a função de propagandear a ideologia dos poderosos, escondendo a história do 1º de maio e tirando seu caráter de reivindicação.

Se liga: E importante registrar que até aquele momento não se tinha nada que resguardassem o trabalhador

Essa data marcou definitivamente o que chamamos de luta de classes e, no entanto, esse confronto entre aqueles poucos que têm muito contra aqueles muitos que têm pouco, hoje em dia é cada vez mais atual. Há desigualdade entre categorias, assim como precarização dos trabalhos, desigualdade
entre homens e mulheres, trabalho infantil, informalidade, semi-escravidão, altos impostos, aposentadoria individual, déficit de carteiras assinadas, dentre outras carências que o trabalhador e o desempregado sofrem. Enquanto os políticos passam a reivindicar seus próprios salários, a maioria da população reparte as migalhas dessa riqueza não distribuída. Isso, sem falar das contínuas reformas trabalhistas, com antigos direitos que são definitivamente usurpados pelas novas leis, na chamada “flexibilização”. De fato, se estamos tão longe das discussões abertas e públicas sobre política, estamos mais longe ainda das jornadas de luta pela melhoria salarial e por nossos direitos, que hoje perdemos pouco a pouco. Ter uma carteira assinada hoje é uma vitória! Mais de 15 milhões de pessoas estão inseridas no trabalho informal sem quaisquer assistências e direitos, como férias, vale-alimentação, vale-transporte, 13º salário, etc. Toda cidadã e cidadão tem direito a uma vida de subsistência digna, livre da exploração. Isso é exatamente o que não acontece neste país e no mundo.

 - Somos de 55% da população brasileira se declara negra e parda — um número que vem crescendo na última década. Há dez anos, por exemplo, essa porcentagem era de 50% e, em 2004, de 48%. 86% afirmam hoje sentir orgulho de ser negro, segundo o estudo. "Se a população negra brasileira (112 milhões) formasse um país, seria o décimo primeiro maior do mundo"
Negros e pardos ganham menos que os trabalhadores brancos


Se os negros ganhassem salários iguais aos dos brancos no Brasil, seriam injetados na economia brasileira R$ 808,83 bilhões. Esse é o preço da desigualdade atual, segundo o estudo O Desafio da
Inclusão, do instituto de pesquisa Locomotiva e do IBGE. "Um branco paulistano de 40 anos, com curso superior, como eu, ganha em média 31% a mais do que um negro paulistano com curso superior da mesma idade e na mesma função", atualmente à frente do instituto, em evento realizado em São Paulo,. A pesquisa do Locomotiva é focada na população negra e ouviu 2 mil brasileiros em 70 cidades.

Trata-se de uma fatia da população que tem menos acesso a universidades e educação. Enquanto 18% dos adultos brancos têm curso superior, a porcentagem entre os negros é de 8%. 93% dos jovens negros nunca fizeram um curso de idiomas e 60% não receberam qualificação profissional. Entre aqueles com curso superior, a renda média de um homem negro é, em média, de R$ 4,8 mil (versus R$ 6,7 mil do homem branco), enquanto a da mulher negra é de R$ 2,9 mil (versus R$ 3,8 mil da mulher branca).

O racismo na cara do trabalhador: Negros em pleno seculo XXI é tratado como trabalhador de segunda Classe
Aqueles que conseguiram entrar na faculdade, subir em suas carreiras e conseguir boa remuneração ainda são poucos. Mesmo sendo a maioria da população, os negros representam apenas 19% da população brasileira que ganha acima de R$ 10 mil por mês.

O estudo também aponta que a renda da população negra no Brasil é de R$ 1,6 trilhão. É um mercado com grande potencial consumidor, equivalente ao 17º maior do mundo —

São 28 milhões de pessoas com intenção de comprar móveis para casa e 11 milhões com vontade de adquirir um smartphone nos próximos 12 meses. E isso mesmo tendo uma visão pessimista do futuro. 78% dos negros avaliam de forma negativa a situação atual do país e 88% têm medo de perder seu padrão de vida.

Segundo o estudo, o brasileiro reconhece que existe racismo no Brasil (93% das pessoas), mas são poucos que enxergam o próprio preconceito. Apenas 3% declararam abertamente que preferem evitar conviver com negros.

A menor diferença de brancos para negros, portanto, está entre analfabetos: a média salarial de brancos que não sabem ler ou escrever é de R$ 1.249,35 , enquanto para negros é de R$ 1.144,48 (R$
91,61 para cada 100).

Negros ou pardos ganham cerca de 90% do salário de brancos em todas as classificações de estudo mais baixas, até o ensino fundamental completo. Dali em diante que a diferença cresce. Quando entram na universidade, a relação chega a ficar abaixo dos 80%.

Ao completar o ensino superior, o salário de todos dão um salto, mas ele é mais expressivo entre brancos. A média salarial pula de R$ 2.719,98 para os R$ 5.589,25 — aumento de 105%. Entre negros, a diferença parte de R$ 2.252,55 para os R$ 3.777,39 — ou 67% a mais.
Sendo assim ou sem reformas os  trabalhadores negros que construíram este pais com dor,suor e as vodas de milhares dos seu não tem o que comemorar...

Rebele-se Contra o Racismo!

PRA SENZALA EU NÃO VOLTO NÃO! 

Um afro abraço.

Claudia Vitalno. CTB RJ\UNEGRO RJ\Pesquisadora\Historiadora

fonte:https://epocanegocios.globo.com\ IBGE

segunda-feira, 23 de abril de 2018

fé e sincretismo: Salve Jorge Ogun!

O sincretismo foi um mecanismo cultural decisivo para a reconstituição das religiões africanas no
Brasil. A própria palavra “santo” serviu de tradução para “orixá”, inclusive nos termos “mãe de santo”, “filho de santo”, “povo de santo” e outras palavras compostas em que originalmente a palavra africana era orixá. E esse santo é o santo católico.

O candomblé se formou e se transformou no contexto social e cultural católico do Brasil do século xix. Pelo sincretismo, os orixás passaram a ser identificados com os santos, sendo louvados, assim, tanto nos terreiros como nas igrejas. Os seguidores dos orixás no Brasil, especialmente nos primeiros tempos, eram também católicos, e muitos rituais realizados no terreiro eram complementados por cerimônias atendidas na igreja.

Isso mesmo, candomblé e Igreja católica andam juntos. Nem podia ser diferente. Antes da primeira constituição republicana brasileira, de 1891, o catolicismo era a religião oficial do Estado e a única tolerada. Nesse período anterior à República, atos civis como o registro de nascimento e o casamento eram atribuições das paróquias católicas. Quem era brasileiro devia ser também católico, ou não tinha lugar na sociedade. O candomblé nasceu, assim, como uma espécie de segunda religião de negros católicos, fossem escravos ou livres, nascidos no Brasil ou na África. Só em anos recentes o candomblé foi se tornando religião autônoma, apartada do catolicismo, mas o sincretismo ainda persiste na maioria dos terreiros. O candomblé, que aos poucos vai deixando de lado o sincretismo, dos anos 1960 para cá vem se transformando em religião para todos, sejam negros, pardos, brancos ou amarelos, sem fronteiras de etnia, cor, classe social ou origem geográfica.

O preconceito racial, que considerava o negro africano um ser inferior ao homem branco, se
desdobrou em preconceito contra a religião fundada por negros livres e escravos. Aos longo de mais
de um século, em diferentes partes do país, terreiros foram invadidos, depredados e fechados, pais e filhos de santo, presos, objetos sagrados, profanados, apreendidos e destruídos. Isso obrigou o candomblé a se esconder, buscando lugares distantes, às vezes no meio do mato, para poder realizar suas cerimônias em paz. Transformou-se numa religião de muitos segredos, pois tudo tinha que ocultar dos olhares impiedosos da sociedade branca. O sincretismo católico lhe serviu também de guarida e disfarce. A presença de um altar com os santos católicos ocupando lugar de relevo no barracão do candomblé com Pierre verger e carybé nações de candomblé. A religião dos deuses africanos é denominada xangô em Pernambuco, tambor de mina no Maranhão e batuque no Rio Grande do Sul. No Rio de Janeiro, proveniente de cultos baianos e locais, houve uma antiga religião denominada macumba, que no início do século x, em contato com o espiritismo kardecista, se transformou na mais nova religião afro-brasileira: a umbanda.

Os caminhos de Ogún até São Jorge
Ogún é talvez, o maior exemplo do sincretismo mundial. Nasce na África como Ogún, passa pela Grécia como Ares, que na sua figura espartana era Enialao, e recebia como Ogún africano sacrifício de cães; e Hefesto. Vai à Roma como Marte, chega à Lituânia como Kalvellis e encontra o cristianismo como São Jorge da Capadócia. Na verdade, uma entidade guerreira evocada em tempos
de guerra.

São Jorge é reconhecidamente um dos santos católicos mais populares do Brasil. Uma das maiores devoções, principalmente no estado do Rio de Janeiro e na Bahia. É o padroeiro e protetor de um dos mais populares clubes de futebol do Brasil, o Corinthians Paulista. Um santo adorado e cultuado tanto no catolicismo, quanto na Umbanda, onde é sincretizado com o orixá Ogún.
Entretanto poucos sabem que este santo popular no Brasil, padroeiro de importantes nações como a Inglaterra e Turquia, na verdade não é mais um santo do cânon católico. Ou seja, perdeu seu status de santo durante o Concílio Vaticano II, realizado sob a liderança do Papa Paulo VI entre os anos 1962 e 1969. Isto porque, uma comissão neste, que foi o mais importante congresso eucarístico da Igreja do Século XX, foi incumbida de analisar a veracidade e a comprovação da existência de muitos santos que, por devoção popular, e pelo fato da Igreja Romana ter sido construída e constituída sobre as ruínas do Império Romano, poderia ser somente incorporação de deuses pagãos, ou mesmo mitos Greco-romanos. E junto com mais de 100 santos na mesma condição de lendas, o querido São Jorge acabou por entrar no bojo da cassação e perdendo o seu mandato de santo.

Os mais devotos nem mesmo querem saber deste fato. Ora, São Jorge é São Jorge, o Guerreiro, e santo ou não santo, “Salve Jorge”.

Entretanto, muitos que nem mesmo atentarariam para este fato não pararam para perceber porque as igrejas em honra a este santo não mais existem, sendo pouquíssimas no Rio de Janeiro, e em São Paulo somente uma capela dentro do clube do Corinthians, no parque São Jorge. E se o Brasil ainda tem um resquício do culto a Jorge da Capadócia permitido deve-se a um pedido pessoal do Cardeal D. Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Emérito de São Paulo, corintiano fervoroso ao papa Paulo VI. Entretanto, nos outros países o guerreiro de Lida e matador de dragões ficou nos livros de história ou confinado na lua mesmo.

Contra o santo pesa o fato de que Jorge da Capadócia, é que somente o seu talento em matar animais
mitológicos já lhe conferia uma desconfiança natural, afinal, sabe-se muito bem que o dragão nunca existiu, e se o dragão não passou pela Terra, o seu matador bem que poderia ser mitológico também, como Sir Lancelot e os cavaleiros da Távola Redonda do Rei Arthur.

Se liga: Tal  como um santo mitológico conseguiu chegar ao século XX com tanto fervor em todas as religiões cristãs do mundo, posto que na Igreja Católica Armênia e Ortodoxa Grega ele ainda goza dos seus privilégios canônicos. Como então este culto permaneceu com tanta força, fazendo com que Jorge da Capadócia chegasse até o ponto de ser o padroeiro de países tão importantes como a Grã Bretanha? É que Jorge é um dos únicos que caminharam desde os primórdios da humanidade com as mesmas características e cultos. A sua liturgia começa justamente na África, como um Orisà Emorá chamado de Ogún Oni-Iré entre os Yourubanos, ou seja, Rei dos Irès, vai aos povos Bantus como Roxo-Mucumbo (Kassange) e Macumbé (Kibindo e Oviobundo e Muxincongo). E de alguma modo parte para a Europa em diversas formas. Entretanto com cultos idênticos. Passa pela Grécia como Ares, que na sua figura espartana era Enialao, e recebia como Ogún africano sacrifício de cães, e Hefesto. Vai à Roma como Marte, chega à Lituânia como Kalvellis e encontra o cristianismo como São Jorge da Capadócia.

Mas qual a coincidência entre todas estas entidades ou divindades mitológicas, e qual seria a sua identificação com Jorge da Capadócia? É que todos são entidades da Guerra, protetores dos Exércitos; forjadores do aço e das armas. Senhores das espadas e das armas de metal. Entidades sempre evocadas durante as guerras com o respeito e o temor de invocação com motivos claros e necessidades prementes. Além do fato de quase todos receber cultos idênticos, como sacrifícios de
cães e oferendas de inhame e feijão preto, como é o caso de Hefesto, Ogun, Enialao e Marte.
No Brasil, São Jorge é um dos santos mais queridos. Muito pelo fato do povo possuir características lutadoras, um povo que teve que superar vicissitudes e todo o tipo de preconceito para se tornar o mais cosmopolita de todo o Planeta. Um povo que, como o culto de Jorge acolhe a cultura e o saber de todo o mundo. Além do fato de, ser a Umbanda talvez a maior responsável pelo sucesso de São Jorge no Brasil. É ele o santo-Orixá mais popular e querido na Umbanda Sagrada. Jorge e Ogún são, sem dúvida alguma a dupla santo-orixá mais querida do Brasil, e assim será. E mais ainda sabendo que, esta dupla não é simplesmente um Ogún.

O sincretismo criado nas senzalas como São Sebastião-Oxossi, Santa Bárbara-Yansã ou São Jerônimo-Xangô. São Jorge realmente, pela sua hermenêutica antropológica e teológica é verdadeiramente...

Então, Salve Jorge, com todas as razões e motivos, eOgún -Yé- Patakori-Aowndeji!
Um afro abraço.
Claudia Vitalino

terça-feira, 17 de abril de 2018

África Negra na obra de Cheikh Anta Diop

A realidade vivida pelos povos da África Negra durante o período colonial, bem como, após
as chamadas independências da grande maioria dos países que compõem a África Negra, provocou dentre os próprios africanos diversos sentimentos

No pensamento de Cheikh Anta Diop, podemos dizer que as independências poderiam favorecer uma configuração prejudicial para a África Negra, no sentido que não se livrariam de um contexto geográfico e geopolítico que precisaria ser mudado com certa urgência. É neste sentido que nasce o projeto de criação um Estado Federal da África Negra, no qual se percebe respostas a fatos históricos desta parte do planeta negados pelo Ocidente. É justamente a partir de tal restauração dos fatos que Diop apresenta, não só as razões para a unidade da África Negra, como também os caminhos para sua realização. Na primeira parte do trabalho, procurou-se expor as razões para a criação do Estado Federal da África Negra e, na segunda, falar da atualidade do pensamento de Cheikh Anta Diop, considerando a África Negra nos dias de hoje.

O sistema de exploração e opressão colonial entra em período áureo central à volta dos anos 1920 e 1950, depois de reprimidas as resistências internas de cada país africano e uma vez terminadas as invasões em todo continente. Este é de facto o período de ouro do colonialismo e a coroação das decisões acordadas na famosa Conferência de Berlim de 1884/ 85, onde as grandes nações Europeias dividiram entre si todo o continente africano como um bolo de aniversário, sem terem qualquer consideração pelos africanos (…) que as colônias existiam para darem lucros aos seus possuidores europeus e não beneficiar os africanos, e que os africanos eram obrigados a fornecer as matérias primas para a Europa –

O centro do mundo. Quanto à obtenção dos lucros, que era o fim principal porque possuíam colônias, havia também duas formas de exploração dos africanos(as) obrigar os negros a trabalharem nas minas dos brancos ou nas roças de café, cacau, cana-de-açúcar etc. Sempre com salários baixos de miséria e nunca lhes permitir que tivessem roças próprias (KAMABAYA, 2011:102)

História e História da África
Cabe dizer que na ótica de Diop o legado da Conferência de Berlim não poderia trazer mais vantagens para os africanos do que para os próprios europeus. Daí toda a legitimidade de qualquer novo projeto pensado por africanos e que levaria à implementação de um novo mapa para os africanos. Este projeto de partilha da África é, sem dúvida, uma das violências proferidas e sofridas por europeus e africanos, respectivamente. Não sendo um projeto ingênuo, a não ser para a grande maioria dos africanos de hoje, esta partilha almejava, dentre outros objetivos, embaralhar as antigas formas de organização dos africanos, enfraquecer as relações entre africanos, apagar sua história, impor-lhes uma nova, na qual se enxergam a partir de do seu colonizador, perpetrar sua dominação, em todos os sentidos, sobre eles próprios.

“Mil anos antes dos pensadores gregos, Sócrates, Platão, Zenão, etc., os egípcios, com a reforma de Amenófis IV, tinham claramente em mente a ideia de um Deus universal responsável pela criação e que todos os homens sem exceção podiam louvar: ele não era o Deus de nenhuma tribo, de nenhuma cidade, tampouco de nenhuma nação, mas sim o do gênero humano.3” (DIOP, 1987:37).

Como Diop costuma afirmar: “O Egito foi para a África o que a Grécia foi para o Ocidente”. Portanto, a negação arbitrária de presença negra dominante no passado do Egito seria no mínimo um “crime intelectual” motivado pelo racismo, que embaçaria as bases comunsde
uma história da qual todos os negros de hoje são herdeiros.

Historiografia contemporânea- Seria uma grande lacuna procurar entender o projeto de criação de um Estado Federal da África Negra, perdendo de vista a colonização da África em geral, e da África Negra em particular. A propósito, Aimé Césaire, no Discurso sobre o Colonialismo mostra que a colonização exercida pelos europeus, em vez levar a civilização para os povos supostos carecer dela, desumanizou os colonizados, ao passo que provocou o mesmo efeito no próprio europeu

.É importante sublinhar que Diop não era solitário nesta na busca de soluções para a libertação da África Negra. Já no final dos anos 1950, grandes pensadores políticos africanos, como kwame Nkrumah, Patrice Lumumba, Amílcar Cabral e, mais tarde, Thomas Sankara apontaram o dilema fundamental dos africanos (MOORE, 2010:33). Antes da manifestação destes, já se falava de pan-africanismo, movimento mais defendido fora do que dentro da África. Na ótica deste movimento, a união dos povos africanos, desconsiderando as fronteiras, seria uma resposta prática à condição de violentados na qual se encontram. Para Diop a resolução deste problema, ao qual a África está submetida, começaria por outro projeto intelectual de autoconhecimento por meio da própria história, após o qual, o projeto de um espaço territorial africano se realizaria paulatinamente e, em médio prazo, levaria a um território único da África Negra.

Finalizando:
Um ambiente geopolítico coerente e estável sobre as bases de uma racionalidade centralizada em suas atividades econômicas internas e externas era imprescindível. Sem esta, as nações africanas “desapareceriam” uma após outra, engolidas pelas duras realidades do cenário internacional e pelas incessantes guerras civis, tal qual os líderes já o perfilhavam nos anos 60.
recentes da historiografia sobre a África têm sido um ataque considerável ao eurocentrismo na História disciplinar. É perceptível, sobretudo, que o esforço por uma história interdisciplinar, nesta área do conhecimento, tem permitido uma reconstrução histórica mais complexa, em que a utilização cruzada de fontes se tornou uma premissa metodológica. Tal fato tornou-se uma condição necessária para uma história menos eurocêntrica em relação à África; e, como colocou Ki-Zerbo (1980: 377), uma premissa para a concretização de um projeto transdisciplinar do conhecimento, ainda a ser construído.


 Por outro lado, a continuidade de uma perspectiva que visou descolonizar a História da África, em um âmbito mais geral, reforçou um viés de interpretação heurística deveras interessante. Assim, os conceitos de trabalho historiográfico parecem cada vez mais imanentes à própria história, em vez de basearem em categorias fechadas, construídas a posteriori. Tal tendência tem aproximado, cada vez mais, a História da Antropologia. Aí, a
novidade tem sido a difusão de uma “antropologização” dos conceitos historiográficos, que postula uma visão crítico-assimilativa acerca das categorias clássicas de entendimento dos fatos sociais. Neste sentido, por exemplo, desde uma perspectiva africana, autores como Akinjogbin et al. (1981), vêm postulando uma ressignificação conceitual de categorias
Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

fonte:www.pordentrodaafrica.com /https://www.revistas.usp.br

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Dia 19 de Abril ou Todo dia é dia de índio?

Deve ser também um dia de reflexão sobre a importância da preservação dos povos indígenas, da manutenção de suas terras e respeito às suas manifestações culturais. 

Devemos lembrar também, que os índios já habitavam nosso país quando os portugueses aqui chegaram em 1500. Desde esta data, o que vimos foi o desrespeito e a diminuição das populações indígenas. Este processo ainda ocorre, pois com a mineração e a exploração dos recursos naturais, muitos povos indígenas estão perdendo suas terras...

“A palavra chegou até o século XXI e continua sendo um fantasma a assustar os nativos brasileiros. [...] Ao conseguir se livrar deste modo genérico de referir-se aos povos indígenas, a sociedade brasileira irá dar um passo enorme na sua capacidade de conviver com a diferença. [...] Aqui não há índios, há indígenas; não há tribos, mas povos; não há uma gente indígena, mas muitas gentes, muitas cores, muitos saberes e sabores.”

Índio = ˈĩdju
ETNOGRAFIA antiquado relativo aos povos aborígenes do continente americano ou aos grupos étnicos descendentes dos nativos americanos(Índios) nome masculino

ETNOGRAFIA antiquado membro de um desses grupos ou povos depreciativo designação preconceituosa, discriminatória ou ignorante de indígena americano

Impactos do contato- As estimativas sobre os contingentes populacionais dos povos que habitavam a região que agora denominamos Brasil variam mais de acordo com os interesses políticos de seus autores do que com relação à metodologia adotada.

A dominação européia: "Em nome de Deus"-A modernidade emergiu sob o mito da criação de uma racionalidade instrumental, que levou o homem europeu a confrontar-se com o outro, que habitava o "novo mundo". Cristóvão Colombo, representante máximo da mentalidade "moderna" européia, deixou registrado em seu diário que o objetivo final de suas viagens era
o enriquecimento e a expansão do cristianismo; porém, logo se percebeu de que o Deus dos espanhóis era o ouro: "Estava atento e tratava de saber se havia ouro... Não quero parar, para ir mais longe, visitar muitas ilhas e descobrir ouro". Colombo pedia, em suas orações, que Deus o ajudasse a encontrar o referido metal: "Que nosso Senhor nos ajude, em sua misericórdia, a descobrir este ouro..." . A segunda intenção de Colombo era a de expandir o cristianismo aos povos "bárbaros", com o apoio dos Bispos e do Papa, juntamente com toda a Igreja, com o objetivo final de obter maior financiamento para tal empreendimento: as viagens às Américas. A sua próxima viagem será "para a glória da Santíssima Trindade e da Santa religião cristã" e, para isso, Colombo "espera a vitória do eterno Deus, como ela sempre me foi dada no passado" e sintetiza: "Espero em Nosso Senhor poder propagar seu Santo nome e seu Evangelho no universo". Todos sabiam que Colombo era um fervoroso cristão, inclusive que não viajava aos domingos, respeitando, assim, os mandamentos de Deus, seguindo os ensinamentos da Igreja.

Alguns autores estimam a população indígena no século XVI entre 2 e 4 milhões de pessoas, pertencentes a mais de 1.000 povos diferentes; Darcy Ribeiro afirma que desapareceram mais de 80 povos indígenas somente na primeira metade do século XX, sendo que a população total teria diminuído, de acordo com esse autor, de 1.000.000 para 200.000 pessoas(1). O extermínio de muitos povos indígenas no Brasil por conflitos armados, as epidemias, a desorganização social e cultural são processos de depopulação que não podem ser tratados sem uma análise das características internas e da história de cada uma dessas sociedades. Estudos sobre os diferentes impactos que uma mesma epidemia teve sobre diferentes povos ainda estão por surgir; as relações entre esses povos e diferentes agências indigenistas ou frentes de colonização e seus impactos na dinâmica demográfica de suas populações também não foram ainda estudadas.

A partir de análises demográficas e antropológicas de populações autóctones de diferentes regiões colonizadas pelos europeus, sabe-se que, após um longo período de perdas populacionais causadas por guerras, epidemias e pelos processos de escravização, os povos indígenas iniciam um processo de recuperação demográfica, muitas vezes consciente. Alguns estudos exemplares demonstram essa tendência de recuperação e, portanto, crescimento acelerado dessas populações, quando se tem acesso a fontes de dados com séries históricas.A comemoração do “Dia do Índio"

A escolha do dia 19 de abril é uma referência à data em que lideranças indígenas se reuniram pela primeira vez em assembleia, no Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México em 1940. Fora do continente americano, a homenagem é feita no dia 9 de agosto, por determinação da Organização das Nações Unidas (ONU).

Na visão de Munduruku, a comemoração nas escolas é, em geral, um equívoco, porque costuma generalizar a diversidade indígena, criando uma imagem equivocada e distante da realidade. “Dessa maneira, as crianças acabam aprendendo a discriminar em vez de se aproximar. Isso naturalmente gera uma desinformação capaz de alimentar o preconceito contra nossos povos.”

A saída seria, então, esquecer o Dia do Índio como data comemorativa e pensar em como aproveitar a ocasião para fazer uma leitura crítica das questões que afetam esses povos. “É
importante que as escolas comecem a pensar os indígenas como seus contemporâneos, ou seja, como grupos que estão vivendo este mesmo tempo, com todas as suas facilidades tecnológicas e, mesmo assim, procurando manter vivas suas tradições. Assim, todos poderão perceber que são povos que lutam por dignidade e pelo direito de manter suas formas ancestrais de vida.”

"Qualquer estimativa da população global de 1500 terá de levar em conta fatores históricos, tais como efeitos diferenciados das doenças sobre povos distintos e os movimentos espaciais de grupos indígenas em decorrência do contato, entre outros." 
(Jonh Monteiro. A Dança dos Números, in Tempo e Presença, São Paulo: CEDI, ano 16, n. 273, 1994).

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

fonte:HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1986./LAS CASAS, Bartolomeu. O paraíso destruído: brevíssima relação da destruição das Índias./Porto Alegre: L&PM, 1984, p. 32.LEÓN-PORTILLA, Miguel. A conquista da América vista pelos índios. Petrópolis: Vozes, 1984./OLIVEIRA, Adélia Engracia de. Esta terra tem dono. Ciência Hoje, Rio de Janeiro, SBPC, v. 2, n.º 10, jan./ fev., 1984)./TODOROV, Tzvetan. A Conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 9.

domingo, 8 de abril de 2018

Todos Iguais, Todos Diferentes



. Existe preconceito de todas as cores e de todos os tipos, que chega uma hora que tu te pergunta: Até quando?

Porque a diferença existe e porque a discriminação é real é preciso mudar mentalidades. Quando olhamos para o "Outro" há sempre uma apreciação que nos é instintiva. Muitas das vezes não sabemos como olhar, porque somos capazes de o julgar de uma forma subjetiva. Neste julgamento que fazemos, colocamos à frente de tudo as aparências, as crenças, as orientações e deixamos de lado o valor real que Ele tem.

Nem todos temos a côr da pele igual, nem as mesmas crenças, os mesmos gostos, ou a mesma altura, todas as pessoas exteriormente falando são diferentes umas das outras. Mas no interior, bem lá dentro somos todos iguais. Precisamos de carinho, de atenção, de afetos, todos precisamos de felicidade para sermos alguém melhor e mais forte.

 Precisamos de saber viver com as nossas diferenças e fazer a diferença, respeitar as dos outros.
Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

fonte:www.inclusive.org.br/arquivos/

Favelas as grandes vítimas do coronavírus no Brasil

O Coronavírus persiste e dados científicos se tornam disponíveis para a população, temos observado que a pandemia evidencia como as desigual...