UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

domingo, 30 de agosto de 2015

O Negro Pixinguinha, músico (1897-1973)

Pixinguinha, é considerado por muitos  o pai da música brasileira. Normalmente reconhecido
Foi o primeiro maestro-arranjador contratado por uma gravadora no Brasil. Era um músico profissional quando boa parte dos mais importantes músicos eram amadores (os principais chorões eram funcionários públicos e faziam música nos horários de lazer). Pixinguinha foi antes de tudo um pesquisador de música, sempre inovando e inserindo novos elementos na música brasileira. Foi muitas vezes incompreendido, e apenas anos mais tarde passavam a dar o devido valor a suas invenções.

Pixinguinha foi um menino prodígio, tocava cavaquinho com 12 anos. Aos 13 passava ao bombardino e a flauta. Até hoje é reconhecido como o melhor flautista da história da música brasileira. Mais velho trocaria a flauta pelo saxofone, pois não tinha mais a firmeza e embocadura necessárias. Aos desessete anos grava suas primeiras instrumentações, vindo a no ano seguinte gravar suas primeiras composicoes, nada menos que as pérolas Rosa e Sofres Porque Queres.

"apenas" por ser um flautista virtuoso e um compositor genial, costuma-se desprezar seu lado de maestro e arranjador. Pixinguinha criou o que hoje são as bases da música brasileira. Misturou a
então incipiente música de Ernesto Nazareh , Chiquinha Gonzaga e dos primeiros chorões com ritmos africanos, estilos europeus e a música negra americana, fazendo surgir um estilo genuínamente brasileiro. Arrajou os principais sucessos da então chamada época de ouro da música popular brasileira, orquestrando de marchas de carnaval a choros.

 Quando compôs "Carinhoso", entre 1916 e 1917 e "Lamentos" em 1928, que são considerados alguns dos choros mais famosos, Pixinguinha foi criticado e essas composições foram consideradas como tendo uma inaceitável influência do jazz, enquanto hoje em dia podem ser vistas como avançadas demais para a época. Além disso, "Carinhoso" na época não foi considerado choro, e sim uma polca.
 
Outras composições, entre centenas de composições em 1922 têm uma experiência que transforma significativamente sua música. Um milionário patrocina a viagem de Pixinguinha e de seu grupo Os 8 Batutas para uma turnê europeia. A temporada em Paris que deveria ser de um mês dura seis, tendo
que ser interrompida devido a compromissos já assumidos no Brasil. Na Europa Pixinguinha trava contato com a moderna música europeia e com o jazz americano, então moda em Paris.


"Pixinguinha morreu na igreja de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, quando seria padrinho em uma cerimônia de batismo. Foi enterrado no Cemitério de Inhaúma."

Um afro abraço.

fonte: www.samba-choro.com.br


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

29 de Agosto dia da visibilidade lesbica descobrindo: Identidades e Reconhecimento

O Dia da Visibilidade sbica foi criado em referência a 29 de agosto de 1996, quando
ocorreu o I Seminário Nacional de Lésbicas (Senale), no Rio de Janeiro. Essa foi a primeira vez que lésbicas se reuniram para discutir vários tipos de questões, que também incluíam o machismo, dentro e fora do movimento LGBT. Mas a data em si ainda é um pouco controversa: para algumas pessoas o Dia da Visibilidade Lésbica deveria ser comemorado em 19 de agosto, quando o Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF) fez a primeira manifestação de lésbicas contra o preconceito e discriminação em São Paulo, em 1983.

Para começo de conversa.
Nos últimos anos, cresce no Brasil e na América Latina o interesse por estudos sobre homossexualidade, ao mesmo tempo em que há uma proliferação importante de movimentos homossexuais no Brasil, aqui chamados de GLBTTT (gays, lésbicas, bi-sexuais, Travestis, Transexuais, Transgeneros) como forma de incluir múltiplas identidades “não-heterossexuais

A temática lésbica, que nem sempre teve espaço no campo feminista, passa a ter um espaço importante nesta mobilização, conseguindo recentemente a inclusão de uma representação deste “segmento” de mulheres no Conselho Nacional de Direitos das Mulheres. Nossa proposta visa criar um espaço de reflexão sobre questões envolvendo a homossexualidade feminina na conjugalidade, maternidade, em relações de violência, na luta por reconhecimento de cidadania e de direitos sexuais.

 Relações familiares: olhares para a cidadania lésbica.
O debate sobre as homossexualidades tem caminhado em crescente escala e ocupado espaço nos debates político e teórico. Como a visibilidade tem sido uma das pautas de reivindicação das lésbicas que estão inseridas no movimento, indagações surgem em torno do resultado real, ou seja, quais as conseqüências desse desvelamento nos diversos espaços sociais?

-Nós não queremos viver sem homens, nós não precisamos e não queremos eles e somos felizes assim. Lutamos pra ter direitos, assim como as mulheres que se relacionam com homens lutam. Querendo um atendimento médico que saiba quem somos nós e quais são nossas praticas, queremos reconhecimento familiar, direito á adoção sem ter que expor toda

a vida para desconhecidos, queremos nossos empregos garantidos e principalmente, queremos nossos corpos livres do achismo masculino fetichista e supremacista. Nós não nos mostramos pra provocar, nós nos mostramos porque existimos apesar de toda a exclusão...

 Assumir-se lésbica e um desafio:
Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa, junto a mulheres lésbicas, sobre os desafios e os enfrentamentos do processo de se assumir lésbica, ou seja, qual a conseqüência da publicização/visibilidade do amor entre mulheres numa sociedade hegemonicamente heterossexual e patriarcal.

"Ser lésbica é também enfrentar o descontentamento da familia quando sabem que você não lhes dará neto da forma esperada, talvez de forma nenhuma. Sua mãe não vai ter aquele genro pra elogiar e seu pai não descansará em paz porque um outro homem fará o papel de cuidador da sua princesa."

O que os olhos não vê : prevenção à saúde de mulheres que fazem sexo com mulheres.
A sexualidade humana é construída e moldada socialmente a partir de sistemas sócio-culturais contrastantes e hierarquizados.Pra uma lésbica ir numa consulta ginecológica, significa deixar de fazer vários exames ou fazer alguns com um espaço bem maior de tempo porque homens transmitem muitas doenças, mas também é perceber uma incógnita na cabeça dos médicos sobre Como se prefinir das doenças possíveis? Nunca saberemos porque,, não existimos.
Desde a década de 60, com a revolução sexual, a invenção do anticoncepcional, o divorcio e a inserção da mulher no mercado de trabalho, se deliberou uma reorganização nas relações amorosas, fazendo com que as relações homo-afetivo-sexuais de entre mulheres ganhassem outros contornos. O objetivo deste estudo é conhecer as atitudes preventivas com a saúde sexual de mulheres que fazem sexo com mulheres diante hepatite B e das DSTs/AIDS. A pesquisa de campo foi realizada numa abordagem antropológica, com mulheres entre 18 e

25 anos, a partir de entrevistas semi-estruturadas e gravadas; da participação observante em um Bar GLS em Belém-PA, estando atenta ao comportamento destas mulheres na escolha do par. Poderia se pensar numa licenciosidade descontrolada sem critério de escolha de parceiras, onde os códigos de relacionamentos instantâneos e fugazes como o ficar, são mais constantes do que o namoro ou relacionamentos baseados na fidelidade e no compromisso. Entretanto, diante das vicissitudes da vida social em tempos de uma pandemia da AIDS as mulheres jovens adotam regras e normas que regulam a seleção de suas companheiras, que se traduzem em prevenção à saúde sexual, mas a falta de informação sobre as doenças, as formas de transmissão e de prevenção nos mostram uma lacuna na educação em saúde para estes agravos a saúde.

"Ser lésbica é lidar com o fato de que você foi ensinada a odiar mulheres, mas você descobre que as ama, e como se faz isso? como amar uma mulher? bem, você terá que aprender sozinha porque pra sociedade mulheres que se amam não existem."

Lésbicas negras e o desafio da visibilidade.
Atenção ainda menor tem sido dada à questão da organização das lésbicas negras o que possivelmente expressa, dentre outras coisas, a pouca importância atribuída à questão racial na análise das formações identitárias homossexuais. Neste trabalho, buscamos contribuir para a superação dessa lacuna através da análise das bases ideológicas e organizacionais de uma organização de feminismo lésbico negro. Estrutura esta que inviabiliza a autonomia das mulheres sobre os seus corpos e inferioriza sua sexualidade, e quando não, as hipersexualiza, no tocante as mulheres.
Precisamos passar do silencio ao grito para garantir o direito de existir e a possibilidade de ter uma vida segura e digna. Hoje nossa luta é por representatividade. Porque somos muitas, não temos um espelho do que somos e representatividade importa. Lutamos contra diferentes vetores de opressão, nós lésbicas negras se ouvidas, podemos contribuir para a formulação de estratégias coletivas para subverter a hegemonia* e confundir a hierarquia da dominação.

 Violência.
Infelizmente, ainda há lésbicas sofrendo estupros corretivos, sendo mortas, há lesbofobia dentro dos ambientes de trabalho, universidades, escolas, e principalmente, em âmbitos domésticos, nas famílias; situações que são mais proeminente se atreladas/ acrescentadas (a)o racismo que mulheres negras e lésbicas vivenciam.

 Se liga:

A 8ª Ação Lésbica do Distrito Federal, que retrata com ênfase a divulgação de que a Lei Maria da Penha também se aplica em relações lésbicas e às lésbicas suas relações na sociedade.Assim, a ação visa informar um grande número de pessoas sobre todas as formas

de abusos que uma garota lésbica pode sofrer especificamente por ser lésbica (como estupros corretivos), dos que ela pode sofrer dentro de seu relacionamento com outra mulher (com a iniciativa Consenso Sexual entre Lésbicas) além de alertar sobre a contínua ocorrência da lesbofobia.


 Nós mulheres da UNEGRO e do coletivo Lésbico utilizamos este espaço virtual na busca da visibilidade negras militantes de nosso trabalho e luta!

 Um afro abraço.


fonte: Coletivo Estadual de Lesbicas da UNEGRORJ\ visibilidadelesbica.tumlr.com /fotos net

sábado, 22 de agosto de 2015

Deuses Africanos: AGANJU é o Orixá da terra inculta, Senhor do Vulcão

O Senhor das Cavernas, O Barqueiro Divino.

"Aganju não é um Xangô, mas este orixá foi incluído dentro do culto ao Orixá no Brasil (Candomblé). "

Na mitologia africana Aganju é um doador de força e de saúde. Aganju é o transportador da carga (os ombros e as costas pertencem a Aganju) é o defensor dos menos favorecidos, oprimidos e escravizados. Há quem diga que Aganju não é um Orisa, mas sim uma força de vida que supera os obstáculos e faz o impossível. Aganju fornece acesso ao reino do desconhecido, as profundezas do qual o mundo foi e é criado, (Okun, “A obscuridade”, o


reino de Olokun). Aganju é o governnte que proporciona acesso a todas as áreas inexploradas, inacessiveis. Aganju é o governante que proporciona acesso a climas hostis e potencialmente hostil à existência humana deserto, floresta, Ártico, Antártico, a altura das montanhas, grutas, cavernas, abismos,minas, etc. Aganju pode ser traduzido como: Agan = estéril, ju = deserto, ou mais precisamente como: local desconhecido, inexplorado, desabitado. Todos os lugares onde só os mais cordiais e / ou sobrevivem pessoas melhor preparadas. Aganju se encontra nas profundezas do oceano, nas profundezas do espaço, na energia que não foi explorada, na compreensão da mente e da emoção. Aganju é o guardião o canal através do qual profundidades inexplicáveis das emoções humanas são vividas e expressas, (boca e garganta são Aganju). Obscuro, intestino com distúrbio doloroso, absurdo e irracional, medos paralisantes são do ambito de Aganju, é através de Aganju que aprendemos a super nossos medos. Quentes emoções perigosas, mortal, incontrolados e incontroláveis é Aganju; e por meio de Aganju que aprendemos a canalizar e redirecioná-las. Aganju tem uma estreita relação com Oxun. Eles estão ligados de diversos modos: pela emoção Aganju é a profundidade da emoção em estado bruto, encarnação grosseiro rude. Enquanto Oxun é a profundidade da emoção em sua comovente, doce / amargo doce encarnação. Aganju explora, supera e vence o rio acima, Osun promove o comércio e as relações sociais, pelos mesmos meios. Aganju supera barreiras e obstáculos para ver o que está do outro lado. Osun planta a cultura e traz à luz da civilização. Aganju é o proprietário do rio. E o deu para Osun. Houve um tempo em que Osun não tinha lugar para viver. Nenhum outro ORISA lhe ajudaria. Aganju viu que Osun necessitava de ajuda. Então ele deu o rio a ela como lar. Aganju é a abertura a novas possibilidades inexploradas, inesperado. Aganju é a abertura do todas as riquezas do mundo. As riquezas minerais de minas terrestres e a mineração de todos os tipos pertencem a Aganju (mas é através da tecnologia de Ogun que a humanidade pode acessá-la e buscá-la). Aganju é o desafio, a luta de impedir, e desejo que leva para superá-los. Aganju é primordial e não - o homem do fogo de todos os tipos, o Sol e outras estrelas e cometas. Um dos nomes do louvor a Aganju é Irawo, que pode ser traduzido como uma estrela. O fogo nas entranhas da terra, geotérmica, gêiseres, fontes termais, etc. Vulcões (Oke onine, Montanhas de Fogo) é um símbolo importante de Aganju.

"Vulcões, conforme definido pelo World Book Encyclopedia são aberturas "terra superfície através da qual os gases de lava quente e fragmentos de rocha explodem."

....Os mitos o descrevem como “O Gigante entre os Òrìsà... seria filho de Oro Iná divindade que em algumas regiões esta considerado como uma divindade masculina e em outras femininas, cujo o qual habita as câmera de magmas, situadas no interior da crosta terrestre... Os antigos o descrevem como “O Temível entre todos”... Divindade de caráter forte, tempestuoso, colérico e belicoso... As forças da natureza que lhe pertencem são representações de sua tremenda energia, como a potência dos rios que dividem territórios, a lava vulcânica que percorre a crosta terrestre, os terremotos e o impulso que faz a Terra girar em torno de seu eixo... Recebe o título de Òkèrè ao tornar-se esposo de Yemoja... Aganjú representando os raios solares, Olókun as águas salgadas e Olósa as águas doces, celebram um pacto entre eles, em manter o equilíbrio da atmosfera do planeta, afim de que seja possível o ciclo vital de todos os seres... Aganjú foi o quarto Aláàfin Óyó, embora existam mitos que o descrevem que ele reinou em Sakí, cidade vizinha de Ìséyìn a noroeste de Òyó... O reinado de Aganjú foi longo e próspero... Ele tinha o dom de domar animais selvagens e as serpentes venenosas... Dentro de seu palácio mantinha um Ekún – Leopardo, seu animal de estimação, sobretudo o simbolo da coragem, que costumara encostar seus pés como se fosse uma esteira, daí recebendo o epíteto de Ekùn Olóju Iná – Leopardo dos olhos de fogo e Ekún f'eninjú tànná – Leopardo de olhos fulgurantes... Foi o primeiro a agregar o patio na parte da frente de detrás do palácio para a celebração de ritos... Embelezou todo o palácio, ornamentou postes esculpidos em bronze, assim originando o costume de colocar colgantes (pingentes) como adornos de acordo com a ocasião festiva, contudo sendo um soberano de gostos muitos refinados...(¹parte do texto escrito por Baba Guido)


Foi o terceiro orixá designado para vir para a Terra, Aganju é uma divindade primordial. Aganju é a força que, como o Sol, que é um de seus símbolos, é essencial para o crescimento, assim como um cultivador das civilizações. Como o vulcão com que é associado, ele forma a base sobre a qual as sociedades são construídas. Nos mitos, Aganju é às vezes tratado como uma divindade primordial, associado à terra (em oposição à água) e às montanhas e vulcões. Do consórcio de Obatalá, o céu, com sua esposa, a terra, nasceram dois filhos: Aganju, a terra firme, e Iemanjá, as águas. Da união com Aganju, Iemanjá deu à luz a Orungã, o ar, o espaço entre a terra e o céu.

AGANJU NÃO É UM SANGÒ, MAS FOI INCLUSO AOS CULTOS NO CANDOMBLÉ COMO UM XANGÔ, ELE É O DEUS DOS VULCÕES E MONTANHAS E É UM ORIXÁ PRESENTE NA CRIAÇÃO DA TERRA...

Se liga:
Foi o terceiro orixá designado para vir para a Terra, Aganju é uma divindade primordial.

Aganju é a força que, como o Sol, que é um de seus símbolos, é essencial para o crescimento, assim como um cultivador das civilizações. Como o vulcão com que é associado, ele forma a base sobre a qual as sociedades são construídas. Em alguns mitos é às vezes tratado como uma divindade primordial, associado à terra (em oposição à água) e às montanhas e vulcões. Do consórcio de Obatalá, o céu, com sua esposa, a terra, nasceram dois filhos: É a terra firme, e Iemanjá, as águas. Da união com Yemanjá deu à luz a Orungã, o ar, o espaço entre a terra e o céu.

Um afro abraço.

fonte:unegro- povos tradicionais.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Africa e sua grandesa esquecida...

 A África tem uma história. Já foi o tempo em que nos mapas-múndi e portulanos, sobre grandes
Com efeito, a história da África, como a de toda a humanidade, é a história de uma tomada de

Apenas um grande esforço de edições e reedições judiciosas, de tradução e difusão na África, permitirá, pelo efeito multiplicador desses novos fluxos conjugados, transpor um novo limiar qualitativo e crítico sobre a visão do passado Africano. Por outro lado, quase tão importante quanto a grande quantidade de documentos novos será a atitude dos pesquisadores ao examiná-los, e assim que numerosos textos explorados desde o século XIX ou mesmo depois, mas ainda no período colonial, reclamam imperiosamente uma releitura expurgada de qualquer preconceito anacrônico e marcada por uma visão endógena. Assim sendo, as fontes escritas a partir das escrituras subsaarianas (vai, bamum, ajami) não devem ser negligenciadas.

consciência. Nesse sentido, a história da África deve ser reescrita. E isso porque, até o presente momento, ela foi mascarada, camuflada, desfigurada, mutilada. Pela "força das circunstâncias", ou seja, pela ignorância e pelo interesse. Abatido por vários séculos de opressão, esse continente presenciou gerações de viajantes, de traficantes de escravos, de exploradores, de missionários, de procônsules, de sábios de todo tipo, que acabaram por fixar sua imagem no cenário da miséria, da barbárie, da irresponsabilidade e do caos. Essa imagem foi projetada e extrapolada ao infinito ao longo do tempo, passando a justificar tanto o presente quanto o futuro.

espaços, representando esse continente então marginal e servil, havia uma frase lapidar que resumia o conhecimento dos sábios a respeito dele e que, no fundo, soava também como um álibi: "Ibi sunt leones". Aí existem leões. Depois dos leões, foram descobertas as minas, grandes fontes de lucro, e as "tribos indígenas" que eram suas proprietárias, mas que foram incorporadas às minas como

propriedades das nações colonizadoras. Mais tarde, depois das tribos indígenas, chegou a vez dos povos impacientes com opressão, cujos pulsos já batiam no ritmo febril das lutas pela liberdade.
Neste texto, encontramos uma introdução ao estudo da História Africana, suas características peculiares, o uso das ciências tais como a arqueologia, a linguística, a História Oral no contexto específico da África, etc. Um texto indispensável para entendermos os procedimentos adequados parao estudo desta História e do Africanismo in História Geral da África. São Paulo; Ática, 1981 volume

A Arqueologia
Os testemunhos mudos revelados pela arqueologia são em geral mais eloqüentes ainda do que os testemunhos oficiais dos autores de certas crônicas. A arqueologia, por suas prestigiosas descobertas, já deu uma contribuição valiosa à história Africana, sobretudo quando não há crônica oral ou escrita disponível (como é o caso de milhares de anos do passado Africano). Apenas objetos-testemunho, enterrados com aqueles a quem testemunham, velam sob o pesado sudário de terra por um passado sem rosto e sem voz. Alguns deles são particularmente significativos como indicadores e medidas da civilização: objetos de ferro e a tecnologia envolvida em sua fabricação, cerâmicas com suas técnicas de produção e estilos, peças de vidro, escrituras e estilos gráficos, técnicas de navegação, pesca e tecelagem, produtos alimentícios, e também estruturas geomorfológicas, hidráulicas e vegetais ligadas à evolução do clima. A linguagem dos achados arqueológicos possui, por sua própria natureza, algo de objetivo e irrecusável. Assim, o estudo da tipologia das cerâmicas e dos objetos de osso e metal encontrados na região nígero-chadiana do Saara demonstra a ligação entre os povos pré-islâmicos (Sao) da bacia chadiana e as áreas culturais que se estendem até o Nilo e o deserto líbio. Estatuetas de argila cozida com talabartes cruzados, ornatos corporais das estatuetas, formas de vasos e braceletes, arpões e ossos, cabeças ou pontas de flechas e facas de arremesso ressuscitam assim, graças a seus parentescos, as solidariedades vivas de épocas antigas , para além desta paisagem contemporânea massacrada pela solidão e pela inércia. Diante disso, a localização, a classificação e a proteção dos sítios arqueológicos Africanos se impõem como prioridade de grande urgência, antes que predadores ou profanos irresponsáveis e turistas sem objetivos científicos os pilhem e os desorganizem, despojando-os, dessa maneira, de qualquer valor histórico sério. Mas a exploração destes sítios por projetos prioritários de escavação em grande escala só poderá desenvolver-se no contexto de programas interAfricanos sustentados por poderosa cooperação internacional.

A tradição oral
Paralelamente às duas primeiras fontes da história Africana (documentos escritos e arqueologia), a tradição oral aparece como repositório e o vetor do capital de criações sócio-culturais acumuladas pelos povos ditos sem escrita: um verdadeiro museu vivo. A história falada constitui um fio de
Cada vez que um deles desaparece, é uma fibra do fio de Ariadne que se rompe, é literalmente um fragmento da paisagem que se torna subterrâneo. Indubitavelmente, a tradição oral é a fonte histórica mais íntima, mais suculenta e melhor nutrida pela seiva da autenticidade. "A boca do velho cheira mal"- diz um provérbio Africano - "mas ela profere coisas boas e salutares".
Por mais útil que seja, o que é escrito se congela e se desseca. A escrita decanta, disseca, esquematiza e petrifica: a letra mata. A tradição reveste de carne e de cores, irriga de sangue o esqueleto do passado. Apresenta sob as três dimensões aquilo que muito freqüentemente é esmagado sobre a superfície bidimensional de uma folha de papel. A alegria da mãe de Sundiata, transtornada pela cura súbita de seu filho, ecoa ainda no timbre épico e quente dos griots * do Mali. É claro que muitos obstáculos devem ser ultrapassados para que se possa peneirar criteriosamente o material da tradição oral e separar o bom grão dos fatos, da palha das palavras-armadilhas – falsas Janelas abertas para a simetria -, do brilho e das lantejoulas de fórmulas que constituem apenas a embalagem circunstancial de uma mensagem vinda de longe.

Certamente, no discurso épico, a fragilidade do encadeamento cronológico constitui seu verdadeiro calcanhar de Aquiles; as seqüências temporais subvertidas criam um quebra-cabeças onde a imagem do passado não nos chega de modo claro e estável como num espelho de boa qualidade, mas como um reflexo fugaz que dança sobre a agitação da água. A duração média dos reina- dos ou das gerações constitui um domínio extremamente controvertido no qual as extrapolações feitas a partir de períodos recentes são muito pouco seguras, em razão das mutações demográficas e políticas. Por vezes, um dinasta excepcional e carismático polariza sobre si os feitos mais notáveis de seus predecessores e sucessores que, assim, são literalmente eclipsados. É o que acontece com certos dinastas de Ruanda, como Da Monzon, rei de Segu (início do século XIX), a quem os griots atribuem toda a grande conquista desse reino.
Ariadne muito frágil para reconstituir os corredores obscuros do labirinto do tempo. Seus guardiões são os velhos de cabelos brancos, voz cansada e memória um pouco obscura, rotulados às vezes de teimosos e meticulosos (veilesse oblige): ancestrais em potencial. São como as derradeiras ilhotas de uma paisagem outrora imponente, ligada em todos os seus elementos por uma ordem precisa e que hoje se apresenta erodida, cortada e devastada pelas ondas mordazes do "modernismo". Fósseis em sursis!

Por outro lado, o texto literário oral retirado de seu contexto é como peixe fora da água: morre e se decompõe. Isolada, a tradição assemelha-se a essas máscaras Africanas arrebatadas da comunhão dos fiéis para serem expostas à curiosidade dos não iniciados. Perde sua carga de sentido e de vida. Por sua própria existência e por ser sempre retomada por novas testemunhas que se encarregam de sua transmissão, a tradição adapta-se às expectativas de novos auditórios - adaptação essa que se refere primordialmente à apresentação da mensagem, mas que não deixa intacto o conteúdo. E não vemos também mercadores ou mercenários da tradição que servem à vontade versões de textos escritos reinjetados na própria tradição?!

Enfim, o próprio conteúdo da mensagem permanece freqüentemente hermético, esotérico mesmo. Para o Africano, a palavra é pesada. Ela é fortemente .ambígua, podendo fazer e desfazer, sendo capaz de acarretar malefícios. É por isso que sua articulação não se dá de modo aberto e direto. A palavra é envolvida por apologias, alusões, subentendidos e provérbios claro-escuros para as pessoas comuns, mas luminosos para aqueles que se encontram munidos das antenas da sabedoria. Na África, a palavra não é desperdiçada.

Em suma, o discurso da tradição, seja ela épica, prosaica, didática ou ética, pode ser histórico sob um tríplice ponto de vista. Em primeiro lugar, ele é revelado r do conjunto de usos e valores que animam um povo e que condicionam seus atos futuros pela representação dos arquétipos do passado. Fazendo isso, a epopéia não só reflete, mas também cria a história. Quando Da Monzon é tratado de "senhor das águas e dos homens", expressa-se com isso o caráter absoluto de seu poder. Contudo, essas mesmas narrativas mostram-no consultando incessantemente seus guerreiros, seus griots, suas mulheres . O senso de honra e de reputação explode na famosa réplica do "canto do arco" em louvor a Sundiata (Sundiata Fasa): "Saya Kaoussa maIo yé" . Esse valor também se exprime muito bem no episódio da luta de Bakary Dian contra os Peul do Kournari. Ressentido, o bravo Bakary retirara-se para sua aldeia, Dongorongo; diante das súplicas de seu povo para que retomasse o comando das tropas de Segu, cedeu apenas quando foi tocado na corda sensível do orgulho e da glória: "As velhas palavras trocadas, esquece-as. É o teu nome agora que precisa ser considerado; pois vem-se ao mundo para construir um nome. Se nasces, cresces e morres sem ter um nome, vieste por nada, partiste por nada". Bakary, então, exclama: "Griots de Segu, já que vós vistes, não será impossível. Farei o que me pedis, por meu renome. Não o farei por Da Monzon. Não o farei por ninguém em Segu. Fá-lo-ei somente por minha reputação. Mesmo depois de minha morte, isso será acrescentado ao meu nome". Encontramos um traço similar de civilização e lei, quando Silamaka diz: "Tendes sorte que me seja
proibido matar mensageiros".

Em suma, a recomposição do passado está longe de ser integralmente imaginária. Encontram-se aí fragmentos de lembranças, filões de história que freqüentemente são mais prosaicos que os ornamentos coloridos da imaginação épica: "Foi assim que surgiu essa instituição de pastores coletivos nas aldeias bambara. Se eras escolhido e feito pastor, tornavas-te Peul público. Os Peul públicos guardavam os rebanhos do rei. Eram homens de etnias diferentes, e seu pastor chefe chamava-se Bonke". Ou ainda "Nessa época não se usavam babuchas, mas chinelas de couro de boi curtido, com um cordão na parte da frente (em tomo do dedo grande do pé) e um outro no calcanhar".

Por conseguinte, a multiplicidade de versões transmitidas por clãs adversários, por exemplo, pelos griots-clientes de cada nobre protetor (horon, dyatigui), longe de constituir uma desvantagem,


representa uma garantia suplementar para a crítica histórica. E a conformidade das narrativas, como no caso dos griots bambara e peul, que pertencem a campos inimigos, dá um realce particular à qualidade desse testemunho.

Essa tradição rígida, institucionalizada e formal é geralmente melhor estruturada e sustentada pela música de corte que se integra a ela, que a escande em partes didáticas e artísticas. Alguns dos instrumentos utilizados, como o Sosso BaIla (balafo de Sumauro Kante), são em si mesmos, por sua Antigüidade, monumentos dignos de uma investigação de tipo arqueológico. Mas as correspondências entre tipos de instrumento e tipos de música, de cantos e de danças constituem um mundo minuciosamente regulado, no qual as anomalias e as adições posteriores são facilmente detectadas. Cada gênero literário oral possui, assim, um instrumento específico em cada região cultural: o baila (xilofone) ou o bolon (harpa-alaúde) para a epopéia mandinga; o bendré dos Mossi (grande tambor redondo de uma só face, feito com uma cabaça e tocado com as mãos nuas) para a exaltação, muitas vezes silenciosa, dos nomes de guerra (zabyouya) dos soberanos; o mvet (harpa-cítara) para os poetas, músicos dos Fang em suas Nibelungen tropicais. Veículos da história falada, esses instrumentós são venerados e sagrados. Com efeito, incorporam-se ao artista, e seu lugar é tão importante na mensagem que, graças às línguas tonais, a música torna-se diretamente inteligível, transformando-se o instrumento na voz do artista sem que este tenha necessidade de articular uma só palavra. O tríplice ritmo tonal, de intensidade e de duração, faz-se então música significante, nessa espécie de "semântico-melodismo" de que falava Marcel Jousse. Na verdade, a música encontra-se de tal modo integrada à tradição que algumas narrativas somente podem ser transmitidas sob a forma cantada. A própria canção popular, que exprime a "vontade geral" de forma satírica, às vezes temperada de humor negro, e que permaneceu vigorosa mesmo com as lutas eleitorais do século XX,
O que se diz aqui sobre a música vale também para outras formas de expressão, como as artes plásticas, cujas produções são, por vezes, a expressão direta de personagens, de acontecimentos ou de culturas históricas, como nos reinos de Abomey e do Benin (baixos-relevos) ou na nação Kuba (esculturas).

Em poucas palavras; a tradição oral não é apenas uma fonte que se aceita por falta de outra melhor e à qual nos resignamos por desespero de causa. É uma fonte integral, cuja metodologia já se encontra bem estabelecida e que confere à história do continente Africano uma notável originalidade.

A lingüística
A história da África tem na lingüística não apenas uma ciência auxiliar, mas uma disciplina autônoma que, no entanto, a conduz diretamente ao âmago de seu próprio objeto. Percebe-se bem isso no caso da Núbia, que se encontra amortalhada no duplo silêncio opaco das ruínas de Meroé e da escrita meroítica não decifrada porque a língua permanece desconhecida . É claro que há muito a ser feito nesse campo, começando pela catalogação científica das línguas. Na verdade, não é necessário sacrificar a abordagem descritiva à abordagem comparatista e sintética com pretensões tipológicas e genéticas. É por meio de uma análise ingrata e minuciosa do fato lingüístico, "com seu significante de consoantes, vogais e tons, com suas latitudes combinatórias em esquemas sintagmáticos, com seu significado vivido pelos falantes de uma determinada comunidade" 14, que se pode fazer extrapolações retroativas, operação que muitas vezes se toma difícil pela falta de conhecimento histórico profundo dessas línguas.

A antropologia e a etnologia
O mesmo comentário aplica-se a fortiori à antropologia e à etnologia. Na verdade, o discurso etnológico tem sido, por força das circunstâncias, um discurso com premissas explicitamente discriminatórias e conclusões implicitamente políticas, havendo entre ambas um exercício "científico" forçosamente ambíguo. Seu principal pressuposto era muitas vezes a evolução linear: à frente da caravana da humanidade ia a Europa, pioneira da civilização, e atrás os povos "primitivos" da Oceania, Amazônia e África. Como se pode ser índio, negro, papua, árabe? O "outro", atrasado, bárbaro, selvagem em diversos graus, é sempre diferente, e por essa razão torna-se objeto de interesse do pesquisador ou de cobiça do traficante. A
etnologia recebeu, assim, procuração geral para ser o ministério da curiosidade européia diante dos "nossos nativos". Apreciadora dos estados miseráveis, da nudez e do folclore, a visão etnológica era muitas vezes sádica, lúbrica e, na melhor das hipóteses, um pouco paternalista. Salvo exceções, as dissertações e os relatórios resultantes justificavam o status quo e contribuíam para o "desenvolvimento do subdesenvolvimento" . O evolucionismo à Darwin, apesar de seus grandes méritos, o difusionismo de sentido único, que tem visto muitas vezes a África como o escoadouro passivo das invenções de outros lugares, o funcionalismo de Malinowski e de Radcliffe-Brown, enfim, que negava toda dimensão histórica às socIedades primitivas, todas essas escolas se adaptavam naturalmente à situação colonial na qual proliferavam como num terreno fértil


Desse modo, toda a África foi simbolizada por imagens que os próprios Africanos podiam considerar estranhas, exatamente como se a Europa fosse definida no começo do século XX pelos costumes à mesa e pelas formas de moradia ou pelo nível técnico das comunidades do interior da Bretanha, do Cantal ou da Sardenha. Além disso, o método etnológico baseado na entrevista individual, marcado com o selo de uma experiência subjetiva total porque intensa, mas total apenas no nível do microcosmo, desemboca em conclusões "objetivas" muito frágeis para que possam ser extrapoladas.
Enfim, por uma dialética implacável, o próprio objeto da etnologia, sob a influência colonial, desvanecia-se pouco a pouco. Os indígenas primitivos, que viviam da coleta e da caça, e mesmo do "canibalismo", transformavam-se aos poucos em subproletários dos centros periféricos de um sistema mundial de produção cujos pólos estão situados no hemisfério norte. A ação colonial consumia e aniquilava seu próprio objeto.

A partir daí novos instrumentos podem ser aperfeiçoados para apreender sua evolução singular.
Ao mesmo tempo, a abordagem marxista, com a condição de não ser dogmática, e a abordagem estruturalista de Lévi-Strauss contribuem também com observações válidas, mas opostas, sobre a evolução dos povos ditos sem escrita. O método marxista, essencialmente histórico e para o qual a história é a consciência coletiva em ação, insiste muito mais nas forças produtivas e nas relações de produção, na práxis e nas normas; o método estruturalista, por sua vez, quer desvendar os mecanismos inconscientes mas lógicos, os conjuntos coerentes que sustentam e enquadram a ação dos espíritos e das sociedades. Bebendo nessas novas fontes, a antropologia será, esperamos, algo mais que uma Fênix que, em defesa da causa, haja renascido das cinzas de um certo tipo de etnologia
historiografia da África.

Primeiramente, a interdisciplinaridade, cuja importância é tal que chega quase a constituir por si só uma fonte específica. Assim, a sociologia política aplicada à tradição oral no Reino de Segu enriqueceu consideravelmente uma visão que, sem isso, limitar-se-ia às linhas esqueléticas de uma árvore genealógica marcada por alguns feitos estereotipados. A complexidade, a interpenetração de estruturas às vezes modeladas sobre hegemonias antigas (o modelo mali, por exemplo) aparecem, assim, em sua realidade concreta e viva.

E foi exatamente um elemento de antropologia cultural (o texto de iniciação dos pastores peul ) que permitiu a certos pré-historiadores interpretarem corretamente os enigmas dos afrescos do Tassili: animais sem patas
do quadro chamado O Boi e a Hidra, o mágico U de Ouan Derbaouen, etc.
Assim, decorridos mais de 10 mil anos, os ritos de hoje permitem identificar as cinco irmãs míticas dos sete filhos do ancestral Kikala nas cinco maravilhosas dançarinas dos afrescos de Jabbaren.
A expansão dos Bantu, atestada pelas fontes concordantes da lingüística, da tradição oral, da arqueologia e da antropologia, bem como pelas primeiras fontes escritas em árabe, português, inglês e pelos africânderes, torna-se uma realidade palpável susceptível de ser ordenada numa síntese cujas arestas se mostram mais nítidas no encontro desses diferentes planos. Do mesmo modo, os argumentos lingüísticos juntam-se aos da tecnologia para sugerir uma difusão dos gongos reais e sinos cerimoniais geminados a partir da África ocidental em direção ao baixo Zaire, ao Shaba e a Zâmbia. Mas as provas arqueológicas trariam, evidentemente, uma confirmação inestimável para tal fato. Essa combinação de fontes impõe-se ainda mais quando se trata de minorar as dificuldades relativas à cronologia. Não é sempre que dispomos de datas determinadas pelo carbono14. E quando existem, estas devem ser interpretadas e confrontadas com dados de outras fontes, como a metalurgia ou a cerâmica (materiais e estilos). E não é sempre que podemos contar, como ao norte do Chade , com enormes quantidades de fragmentos de cerâmicas que permitem construir uma tipologia representada numa escala cronológica de seis níveis. Uma excelente demonstração desta conjugação de todas as fontes disponíveis é a que permite estabelecer uma tipologia diacrônica dos estilos pictóricos e cerâmicos e confrontá-los para extrair uma série cronológica que se estende por oito milênios, sendo o todo sustentado pelas sondagens estratigráficas e confirmado pelas datações de carbono 14 e pelo estudo da flora, da fauna, do habitat e da tradição oral .

Essa concepção do tempo é histórica em muitos aspectos. Nas sociedades africanas gerontocráticas, a noção de anterioridade no tempo é ainda mais carregada de sentido que em outros lugares, pois nela estão baseados os direitos Sociais, como o uso da palavra em público, a participação numa dança reservada, o acesso a certas iguarias, o casamento, o respeito de outrem, etc. Além disso, a primogenitura não é, na maioria das vezes, um direito exclusivo na sucessão real; o número dos pretendentes (tios, irmãos, filhos) é sempre grande e a Idade e levada em conta no contexto de uma competição bastante aberta. Decorre daí uma preocupação ainda maior com a cronologia. Mas não há necessidade de saber que alguém nasceu em determinado ano: o essencial é pro.var que nasceu antes de determinada pessoa. As referências a uma cronologia absoluta impõem-se apenas no caso de sociedades mais amplas e mais anônimas.

-"Na verdade, somente a utilização da escrita e o acesso às religiões "universalistas" que dispõem de um calendário dependente de um terminus a quo preciso, assim como a entrada no universo do lucro e da acumulação monetária, remodelaram a concepção "tradicional" do tempo. Em sua época, porém, tal concepção respondia adequadamente às necessidades das sociedades em questão."

É necessariamente uma história dos povos, pois na África mesmo o despotismo de certas dinastias tem sido sempre atenuado pela distância, pela ausência de meios técnicos que agravem o peso da centralização, pela perenidade das democracias aldeãs, de tal modo que em todos os níveis, da base ao topo, é conselho reunido pela e para a discussão constitui o cérebro do corpo político. É uma história dos povos porque, com exceção de algumas décadas contemporâneas, não foi moldada de acordo com as fronteiras fixadas pela colonização, pelo simples motivo de que a posição territorial dos povos africanos ultrapassa em toda parte as fronteiras herdadas da partilha colonial. Assim, para tomar um exemplo entre mil, os Senufo ocupam uma área correspondente a parte do Mali, da Costa do Marfim e do Alto Volta. No contexto geral do continente, terão maior destaque os fatores comuns resultantes de origens comuns e de intercâmbios inter-regionais milenares de homens, mercadorias, técnicas, idéias, em suma, de bens materiais e espirituais. Apesar dos obstáculos impostos pela natureza e do baixo nível técnico, tem havido desde a Pré-História uma certa solidariedade continental entre o vale do Nilo e o Sudão, até a floresta da Guiné; entre esse mesmo vale e a África oriental, incluindo, entre outros acontecimentos, a dispersão dos Luo; entre o Sudão e a África central pela diáspora dos Bantu; entre a fachada atlântica e a costa oriental pelo comércio transcontinental através do Shaba.

Os fenômenos migratórios ocorridos em grande escala no espaço e no tempo não devem ser entendidos conto uma imensa onda humana atraída pelo vazio ou deixando o vazio atrás de si. Mesmo a saga torrencial de Chaka, o mfécane, não pode ser interpretada unicamente nesses termos. O movimento de grupos Mossi (Alto Volta) em direção ao norte, a partir do Dagomba e do Mamprusi (Gana), foi realizado por bandos de cavaleiros que, de etapa em etapa, foram ocupando as várias regiões; no entanto, só podiam concretizar tal ocupação amalgamando-se aos autóctones, tomando esposas nativas. Os privilégios judiciais que eles próprios se outorgavam provocaram rapidamente a proliferação de suas escarificações faciais (uma espécie de carteira de identidade), enquanto a língua, bem como as instituições dos recém-chegados, prevaleceram
a ponto de eliminar as dos outros povos. Outros costumes, como os ligados aos cultos agrários ou os que regiam os direitos de estabelecimento, continuavam a ser de competência dos chefes locais, ao mesmo tempo que se instauravam relações de "parentesco de brincadeira" com certos povos encontrados pelo caminho. O grande conquistador "mossi" Ubri, aliás, já era ele próprio um "mestiço". Esse esboço de processo por osmose deve substituir quase sempre o cenário romântico e simplista da invasão niilista e devastadora, como foi longa e erradamente representada a irrupção dos Beni Hilal na África do Norte.
Os excessos da antropologia física, com seus preconceitos racistas, são hoje rejeitados por todos os autores sérios. Mas os "Hamitas" e outras "raças morenas", inventadas em defesa da causa, não cessaram de povoar as miragens e os fantasmas de espíritos ditos científicos.

Há vários milênios, os dados propriamente biológicos, constantemente subvertidos pela seleção ou pela oscilação genética, não dão nenhuma referência sólida para a classificação, nem sobre o grupo sangüíneo, nem sobre a freqüência do gene Hbs, que determina uma hemoglobina anormal e que, associado a um gene normal, reforça a resistência à malária. Isto ilustra o papel importantíssimo da adaptação ao meio natural. A estatura mais elevada e a bacia mais larga, por exemplo, coincidem com as zonas de maior seca e de calor mais intenso. Neste caso, a morfologia do crânio mais estreito e mais alto (dolicocefalia) é uma adaptação que permite uma menor absorção de calor. O vocábulo "tribo" será tanto quanto possível banido desta obra, exceto no caso de certas regiões da África do Norte 31, em razão de suas conotações pejorativas e das diversas idéias falsas que o sustentam. Por mais que se destaque que a "tribo" é essencialmente uma unidade cultural e, às vezes, política, alguns continuam a vê-Ia como um estoque biologicamente distinto e destacam os horrores das "guerras tribais", cujo saldo muitas vezes se limitava a algumas dezenas de mortos ou menos que isso; esquecem, porém, todos os intercâmbios positivos que ligaram os povos Africanos no plano biológico, tecnológico, cultural, religioso, sócio-político, etc., e que dão aos empreendimentos Africanos um indiscutível ar de família.

Além do mais, esta história deverá evitar ser excessivamente factual, pois com isso correria o risco de destacar em demasia as influências e os fatores externos. Certamente, o estabelecimento de fatos chaves é uma tarefa primordial, indispensável até, para definir o perfil original da evolução da África. Mas serão tratadas com especial interesse as civilizações, as instituições, as estruturas: técnicas agrárias e de metalurgia, artes e artesanato, circuitos comerciais, formas de conceber e organizar o poder, cultos e modos de pensamento filosófico ou religioso, técnicas de modernização, o problema das nações e pré-nações, etc.

Finalmente, por que esse retorno às fontes Africanas? Enquanto a busca desse passado pode ser, para os estrangeiros, uma simples curiosidade, um exercício intelectual altamente estimulante para a mente desejosa de decifrar o enigma da Esfinge, o sentido real dessa iniciativa deve ultrapassar tais objetivos puramente individuais, pois a história da África é necessária à compreensão da história universal, da qual muitas passagens permanecerão enigmas obscuros enquanto o horizonte do continente Africano não tiver sido iluminado.

 Dessa forma a história torna-se essa disciplina sinfônica em que a palavra é dada simultaneamente a todos os ramos do conhecimento; em que a conjunção singular das vozes se transforma de acordo com o assunto ou com os momentos da pesquisa, para ajustar-se às exigências do discurso. Mas essa reconstrução póstuma do edifício há pouco construído com pedras vivas é importante sobretudo para os Africanos, que têm nisso um interesse carnal e que penetram nesse domínio após séculos ou décadas de frustração, como um exilado que descobre os contornos ao mesmo tempo velhos e novos, porque secretamente antecipados, da almejada paisagem da pátria. Viver sem história é ser uma ruína ou trazer consigo as raízes de outros. É renunciar à possibilidade de ser raiz para outros que vêm depois. É aceitar, na maré da evolução humana, o papel anônimo de plâncton ou de protozoário. É preciso que o homem de Estado Africano se interesse pela história como uma parte essencial do patrimônio nacional que deve dirigir, ainda mais porque é pela história que ele poderá ter acesso ao conhecimento dos outros países Africanos na óptica da unidade Africana.

Mas esta história é ainda mais necessária aos próprios povos para os quais ela constitui um direito fundamental. Os Estados Africanos devem organizar equipes para salvar, antes que seja tarde demais, o maior número possível de vestígios históricos. Devem-se construir museus e promulgar leis para a proteção dos sítios e dos objetos. Devem ser concedidas bolsas de estudo, em particular para a formação de arqueólogos. Os programas e cursos devem sofrer profundas modificações, a partir de uma perspectiva Africana. A história é uma fonte na qual poderemos não apenas ver e reconhecer nossa própria imagem, mas também beber e recuperar nossas forças, para prosseguir adiante na caravana do progresso humano. Se tal é a finalidade desta História Geral da África, essa laboriosa e enfadonha busca, sobrecarregada de exercícios penosos, certamente se revelará fecunda e rica em inspiração multiforme. Pois em algum lugar sob as cinzas mortas do passado existem sempre brasas impregnadas da luz da ressurreição.

 Se liga:

A palavra ÁFRICA possui até o presente momento uma origem difícil de elucidar. Foi imposta a partir dos romanos sob a forma ÁFRICA, que sucedeu ao termo de origem grega ou egípcia Líbia, país dos Lebu ou Lubin do Gênesis. Após ter designado o litoral norte-Africano, a palavra África passou a aplicar-se ao conjunto do continente, desde o fim do século I antes da Era Cristã. Mas qual é a origem primeira do nome? Começando pelas mais plausíveis, pode-se dar as seguintes versões: A palavra África teria vindo do nome de um povo (berbere) situado ao sul de Cartago: os Afrig. De onde Afriga ou Africa para designar a região dos Afrig. Uma outra etimologia da palavra África é retirada de dois termos fenícios, um dos quais significa espiga, símbolo da fertilidade dessa região, e o outro, Pharikia, região das frutas. A palavra África seria derivada do latim aprica (ensolarado) ou do grego apriké (isento de frio). Outra origem poderia ser a raiz fenícia faraga, que exprime a idéia de separação, de diáspora. Enfatizemos que essa mesma raiz é encontrada em certas línguas Africanas (bambara). Em sânscrito e hindi, a raiz apara ou africa designa o que, no plano geográfico, está situado "depois", ou seja, o Ocidente. A África é um continente ocidental.

 "Uma tradição histórica retomada por Leão, o Africano, diz que um chefe iemenita chamado Africus teria invadido a África do norte no segundo milênio antes da Era Cristã e fundado uma cidade chamada Afrikyah. Mas é mais provável que o termo árabe Afriqiyah seja a transliteração árabe da palavra África. Chegou-se mesmo a dizer que Afer era neto de Abraão e companheiro de Hércules!"

 Roteiro dos conflitos na atualidade:
ÁFRICA

Angola. Desde a independência de Angola, em 1975, a Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), reclama o direito à autoderminação e mantém acções de guerrilha contra as tropas de Luanda. A situação não se alterou após o final da guerra civil angolana, em 2002.

RD Congo. A guerra com o Ruanda, entre 1998 e 2002, matou mais de dois milhões de pessoas. Persistem conflitos no leste do país entre etnias rivais pelo controlo do território.

Costa do Marfim. Dividida em duas desde a tentativa de golpe de Estado de 2002, com o norte controlado pelos rebeldes e o sul pelas forças do presidente Laurent Gbagbo.

Nigéria. Os raptos são frequentes na região do Delta do Níger, de onde é extraída a maior parte do petróleo nigeriano. Grupos locais protestam de forma violenta contra as companhias petrolíferas, por estas não contribuírem para o desenvolvimento da região, que é uma das mais pobres do país.

Somália. Não possui governo central desde a queda do ditador Siad Barre, em 1991, que mergulhou o país na guerra civil, vitimando milhares de cidadãos. A milícia Tribunais Islâmicos da Somália declarou guerra santa ao governo e seus aliados etíopes.

Sudão. Apesar da paz assinada com o Sul depois de uma longa e mortífera guerra civil, continuam os ataques das milícias pró-governamentais no Darfur, que causaram mais de 400 mil mortos e 2 milhões de refugiados. A situação já foi definida como um “genocídio lento.”

Uganda. O brutal conflito entre o governo do Uganda e o Exército de Resistência do Senhor (LRA), que dura desde 1986, baixou ultimamente de intensidade e, inclusivamente, já se verificaram conversações de paz. Entretanto, obrigou 1,4 milhões de pessoas a abandonar o norte do país; foram raptadas mais de um milhão de crianças e mulheres e mortos milhares de camponeses.

Um afro abraço.

fonte:www.dw.com/pt/após-a-independência-como-vivem.../a-17108544

domingo, 16 de agosto de 2015

Nossa Historia nossa gente: Jesse Owens

A participação do negro no esporte mundial tem suscitado a curiosidade e o interesse de muitas pessoas, estejam elas ligadas diretamente às áreas das atividades físicas, ou não. Também, algumas pesquisas, dentro desse tema, já foram feitas para tentar explicar o
desempenho dos atletas negros em algumas modalidades esportivas, sendo quase que exclusivamente voltadas para as “individualidades biológicas” dos afro-descendentes. 

"Há certas pessoas que estão acima de pautas, escopo de trabalho. Jesse Owens é uma delas. O sujeito que calou a boca de Adolf Hitler diante de 100 mil pessoas".

Tendo sua origem no feito do lendário corredor norte-americano Jesse Owens, na Olimpíada de Berlim, em 1936, a proposta deste artigo é justamente oferecer uma releitura do negro no esporte e refletir como foram produzidas, através da história, várias representações que engendraram muitas identidades neste sujeito, priorizando desnaturalizar uma destreza, a priori, para determinados esportes e outros, não. A questão do conhecimento que orientou esta pesquisa foram os estudos culturais e sua perspectiva da produção de identidade. Para tanto, procura-se resgatar um pouco da história da Educação Física no Brasil e seus primeiros olhares para as pessoas negras, mostrando como ela foi usada pelo movimento eugênico, para seus intentos de melhoria da raça brasileira.

Um discurso étnico-racial...

Temos observado ainda, muitas discussões a cerca da cor, dos brasileiros principalmente. Alguns cientistas de diversas áreas têm debatido sobre esse assunto. Enquanto alguns tentam demonstrar a diferença genética entre brancos e negros com a superioridade dos brancos, outros como Gilberto Freyre, que "enriqueceu" a ciência com a teoria Casa Grande – Senzala, onde se baseava os costumes da época, para ele os negros viviam numa paz regozijante da escravidão que se tornaram produtos dela, estudando a sociedade, isto não quer dizer que estavam corretos nas suas análises.

A Educação Física, aos poucos, foi adentrando no país; em 1931 torna-se obrigatória, por lei, a sua prática nas escolas secundárias, como promotora da saúde física, da educação moral e da regeneração da raça. Adotou-se, primeiramente, o método francês ou militar, que buscava eficiência nos movimentos, de forma racional e metódica, visando obter qualidades físicas e morais do indivíduo, de forma disciplinada.

A institucionalização da Educação Física no ensino brasileiro veio atender aos discursos
eugênico e autoritário do Estado, nos anos de1930, quando , também, foi intensa a entrada de livros e artigos, de cunho eugênico, de autores estrangeiros, como o periódico de Irving Fischer, A nova educação física, destacado por Catarino Filho (1982, p. 168-169):

“A nova educação física deverá formar um homem típico que tenha as seguintes características: talhe mais delgado que cheio, gracioso de musculatura, flexível, de olhos claros, pele sã, ágil, desperto, erecto, dócil, entusiasta, alegre, viril, imaginoso, senhor de si mesmo, sincero, honesto, puro de atos e de pensamentos, dotado com o senso de honra e da justiça, comparticipando do companheirismo de seus semelhantes'...

Jesse Owens: a performance esportiva

“O que importa são as rupturas significativas – em que velhas correntes de pensamento são rompidas, velhas constelações deslocadas e elementos novos são reagrupados ao redor de uma nova gama de premissas e temas”.

Jesse Owens, o “antílope de ébano”, como ficou conhecido por sua grande velocidade, saiu da bacia do Mississipi, no sul dos Estados Unidos - onde foram cometidas muitas atrocidades em nome do preconceito racial contra os negros - e veio a ganhar quatro medalhas de ouro na Olimpíada de Berlim, em 1936, de 100 m rasos, 200m, revezamento 4X100m e salto em distância, causando a irritação de Hitler e sua propaganda nazista de superioridade da raça ariana.

A performance de Jesse Owens quebrou um discurso secular de inferioridade das pessoas negras dentro do esporte, principalmente olímpico, e inspirou outros atletas negros a se lançarem no mundo do esporte; um deles foi Carl Lewis, considerado o sucessor de Owens,
também vindo do Mississipi. Lewis também ganhou quatro medalhas de ouro em Seul, em 1988.

O feito de Jesse Owens, até então, não tinha sido realizado por nenhum outro atleta de qualquer outra etnia. Esta conquista tornou-se um divisor de águas; um deles, foi o número cada vez maior de negros que começou a se destacar no atletismo mundial, de forma marcante, nas provas de velocidade e salto em distância, como também, superando, até então, a divisão de esporte de negros e esporte de brancos.

A partir dos resultados de Jesse Owens e do avanço das técnicas de treinamento, a raça negra começou a ser vista como objeto de estudo pela ciência do esporte. O negro passa de uma concepção de inferior, dentro de um movimento evolucionista, darwiniano e eugênico, para a rotulação a certos esportes em que a questão econômica não era um empecilho, como: o atletismo, principalmente nas provas de velocidade, pois, mais tarde os atletas negros se destacariam, também, nas provas de meio fundo e fundo, boxe e o futebol.

Na corrente de ascensão do treinamento esportivo, o esporte olímpico fugiu ao ideal do Barão de Cobertim, idealizador dos Jogos Olímpicos da era moderna. A "união entre os povos” era o que ele priorizava, mas, os jogos viraram uma disputa política dentro do esporte. O bloco socialista e o capitalista lutavam por uma superioridade dentro do campo esportivo. Esse período ficou conhecido como guerra fria, onde o primado no esporte era de quem possuía as melhores técnicas de treinamento e conseguia obter os melhores resultados.

A fisiologia, a cinesiologia e a anatomia passaram a exercer papel preponderante nesta filosofia; surgem os princípios do treinamento esportivo que vigoram até hoje na preparação física, sendo que, um deles, o da “individualidade biológica”, é o escopo do presente estudo. A individualidade biológica analisa os indivíduos e suas características genotípicas e fenotípicas para dirigi-lo a uma determinada modalidade esportiva e os métodos de treinabilidade. Essa nova proposta moldou o sujeito negro a determinados esportes e a representá-lo como corredor nato de velocidade, uma representação gerada a partir do crescente aparecimento de velocistas negros.

Como já mencionado, o sujeito negro foi alvo de muitos estudos, dentro do campo esportivo, e a fisiologia procurou decompô-lo em sistemas de funcionamento isolado. Atribuíram o desempenho dos atletas negros velocistas, segundo os estudos de Cintra Filho (1997), ao seu alto percentual de fibras rápidas, quadril mais estreito, quadríceps mais robusto e pernas (segmento do membro inferior abaixo do joelho até o tornozelo) mais finas; tudo isso para proporcionar uma melhor aerodinâmica para o deslocamento em alta velocidade. Também, foram buscar respostas na África, onde os corredores de provas de velocidade provinham da parte ocidental e os de prova de longa duração, da parte oriental; sendo essas duas regiões separadas, geograficamente, durante muito tempo, pela grande fossa africana ao leste, oriundas, no passado, por erupções vulcânicas e ao norte, pelo árido clima do deserto.

Outra questão inquietante é que tal supremacia dos velocistas negros e fundistas (corredores de longas distâncias) só ocorre entre o sexo masculino, sendo que, no feminino, existe um equilíbrio. Não é objetivo deste trabalho aprofundar-se nesta questão, pois, trata-se de assunto para outro estudo, mas, uma pergunta instiga, sob essa perspectiva: na cultura patriarcal em que são educados homens e mulheres de qualquer grupo étnico-racial, as habilidades corporais masculinas não são sempre mais favorecidas?

Recentemente, presencia-se a ruptura do sujeito negro, frente a estes discursos preestabelecidos pela ciência. Um exemplo disto é o nadador negro do Suriname, Anthony
Nesty, que ganhou em Seul, em 1988, a medalha de ouro no nado borboleta, modalidade que exige maior esforço e técnica do atleta. Nesty ganhou de dois ícones da natação mundial, o norte-americano, Mattheu Biondi e o alemão ocidental Michel Gross.

No Suriname, havia uma única piscina oficial de 50m, onde Nesty treinava, o bastante para o atleta negro ganhar uma bolsa de estudos na Universidade da Flórida, nos Estados Unidos e tornar-se o primeiro e único negro a ganhar uma medalha de ouro de natação dos Jogos Olímpicos. Outro exemplo que quebrou o discurso sobre a fraca performance do negro na natação é o nadador brasileiro Edivaldo Valério, primeiro negro a compor a equipe olímpica da natação brasileira e a ganhar uma medalha de bronze nas Olimpíadas de 2000, em Sydney, no revezamento 4x100m livres.

Muitos acontecimentos vêm rompendo as representações que traduziram o negro em determinadas identidades, no âmbito esportivo e em outros campos sociais. Exemplo disso são as irmãs Wilhams no tênis, Tiger Wods no golfe, Rogério Clementino, primeiro cavaleiro negro do mundo elitista do hipismo (que irá compor a seleção brasileira nas Olimpíadas de Pequim) e o novo fenômeno da Fórmula 1, talvez, o último baluarte instituído como lugar de branco e rico a ser rompido por uma identidade negra, o inglês Lewis Hamilton, que, no Grande Prêmio do Brasil, em 2007, foi chamado pela repórter Global, como “inglesinho com jeito de jogador de futebol”. Esse comentário alude às representações que são produzidas na mídia do negro no esporte, pois, o fato de ver um afro-inglês na Fórmula 1 remete a algo fora do lugar, quando esse ambiente deveria ser um campo de futebol. Embora Hamilton não tenha nenhum jeito de jogador de futebol, o fato de ser negro, historicamente, o reduz a este esporte.

Também estiveram nos Jogos Pan-americanos, realizados na cidade do Rio de Janeiro em 2007, vários nadadores negros que obtiveram destaque. Este processo de quebra de discursos vem acontecendo com a descentralização de grupos das sociedades, que tentam se parecer homogêneas e de arrazoado chauvinismo. Os grupos étnicos, religiosos, raciais, etc., encobertos por essas supostas identidades nacionais unificadas, vêm procurando emergir e reivindicar outros espaços de atuação.

Finalizando...

O esporte, como grande fenômeno social, deu guarida ao sujeito negro pela sua inserção e representatividade, em algumas modalidades na prática esportiva. Durante muito tempo, o negro ficou estigmatizado nessas modalidades, estabelecidas por discursos científicos que o naturalizaram com habilidades corporais a priori. Esta imagem “natural”, produzida do atleta negro, alude a um outro debate, o da diferença.


Os esportes são um grande meio de se obter fama, dinheiro e sucesso, e é neste caminho que muitos negros pobres do Brasil e do mundo procuram caminhar. Se esforçam cada vez mais para obterem melhores resultados em sua carreira de esportista. Lutam contra a fome, o preconceito e a discriminação, já que vivem em lugares onde a ascensão social é predominante...
A ocidentalização da maneira de ser e ver das pessoas, ou seja, macho, branco, católico, heterossexual, se espraiou e se difundiu para grande parte das sociedades mundiais. Uma concepção de alteridade foi atribuída para aqueles que fugissem a esses padrões pre-estabelecidos e, como conseqüência, remetidos a um lugar diminuto no cenário social. Dentro deste processo de tentativa da homogenização da sociedade, ser diferente não
significa virar objeto de estudo, como são as pessoas negras, mas sim, construtores de sua própria identidade, numa sociedade híbrida, que não quer se amalgamar, e sim, confrontar-se, buscando comparações entre os grupos que formam as populações e o que representam.

Um olhar olhar acerca da história do sujeito negro, saindo dos alicerces em que sempre esteve fixado, e sugerir a reconstrução de outras formas de contextualizar a trajetória dos negr@s, na participação das atividades humanas.

Um afro abraço.

fonte: enciclopedia livre

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Os Crimes Contra Humanidade segundo os estudiosos não se reconhece a escravização Negra por que ?...

Infelizmente, muitos crimes, envolvendo milhares de pessoas, já foram cometidos em diversos países ao
longo da história. Alguns afetaram tantas vidas e causaram tantas mortes que ficaram marcados no tempo e são relembrados sempre, como o holocausto nazista.

 Separamos uma lista alguns crimes contra a humanidade.

* Holocausto judeu (1939-1945)
Vítimas: 6 milhões de judeus – autores: nazistas.
Em 1933, Adolf Hitler subiu ao poder na Alemanha e estabeleceu um regime racista sob o enganoso título de Nacional-Socialista. Esse regime foi baseado na doutrina racial de acordo com a qual os alemães arianos pertenciam à “raça pura”, enquanto os judeus eram considerados como “Untermenschen”, subumanos, que não faziam parte da raça humana. Os judeus foram perseguidos e mal tratados por muitos anos, até que em 1939 começaram a ser capturados e levados em comboios para os campos de concentração. Chegando aos campos eram separados em filas de mulheres, outras de homens e de crianças. Aqueles que estavam em condições físicas iriam trabalhar, (pensando que iriam sobreviver), os outros eram levados para as câmaras de gás, onde se despiam e em seguida eram mortos com gás. Depois os corpos eram queimados em crematórios ou então faziam-se algumas atrocidades, como a utilização da pele para candeeiros ou experiências médicas com as crianças.

* Genocídio ucraniano (1932-1933)
Vítimas: 3 milhões de ucranianos – autora: União Soviética.
Entre os anos 1932 e 1933, os ucranianos protagonizaram, a contragosto, algumas das páginas mais tristes e menos conhecidas da história soviética. Foram “páginas em branco”, porque foram omitidas durante décadas pelo regime capitaneado, à época, por Stalin. Ele queria dar uma “lição aos nacionalistas renitentes”. Primeiramente, acabou com os agricultores, assassinou muitos proprietários abonados e os demais foram deportados para o Casaquistão e a Sibéria. O segundo passo foi a nacionalização das pequenas propriedades privadas, e por fim, decretou o confisco dos alimentos. Pela primeira vez no Estado moderno alguém utilizaria a fome como uma arma de destruição coletiva.

*Sangue no Camboja (1975-1979)
Vítimas: 1,7 milhão de pessoas – autor Khmer Vermelho.
Pol Pot, líder dos comunistas que tomaram o poder no Camboja, resolveu “limpar” o país, não de uma etnia específica (embora minorias chinesas e vietnamitas tenham sido dizimadas depois), mas de todos os que pensassem de uma maneira anticomunista. Os intelectuais, monges e qualquer pessoa com uma profissão foram considerados “maçãs podres”. Quem não foi fuzilado na hora foi para campos de reeducação, onde trabalhavam até a morte. É o mais famoso autogenocídio da História. O desprezo pela vida marcava o lema do Khmer Vermelho: “Manter você vivo não nos traz nenhum benefício. Destruir você não será nenhuma perda para nós”.

*Morte em massa na Armênia (1915-1917)
Vítimas: 1,5 milhão de armênios – autores: Turcos Otomanos.
Na Primeira Guerra, acusados de traição e de complô com os russos, 2 milhões de armênios foram obrigados a deixar suas casas e marchar até uma região desértica próxima da Síria, onde eram deixados para morrer. É considerado o primeiro genocídio moderno em larga escala, feito de forma organizada
(serviu de inspiração para Hitler, que sempre o citava como exemplo). Até hoje, a Turquia nega o massacre. Quem “escoltava” os armênios até o deserto eram grupos paramilitares formados por ex-presidiários, que estupravam, roubavam e matavam os exilados durante a jornada.

* Massacre em Ruanda (Abril de 1994)
Vítimas: 700 mil Tútsis – autoras: Milícias Hútus.
Durante cem dias, milícias hútus promoveram um banho de sangue nesse pequeno país africano, na tentativa de exterminar os tútsis, outro grupo étnico. Além da barbárie, o que mais chocou o mundo foi a posição passiva da ONU e das grandes potências, que assistiram à carnificina sem intervir. Ao final, guerrilheiros tútsis tomaram o país. Aí, foi a vez de 2 milhões de hútus, com medo de vingança, deixarem a região. A principal arma usada para matar os tútsis eram as machetes (facões). Milhares delas foram importadas da China meses antes, num ato calculado de preparação.

* Porajmos, a caçada aos ciganos (1939-1945)
Vítimas: 500 mil Romanis (ciganos) – autores: nazistas.
Quando os nazistas chegavam aos acampamentos ciganos, matavam sem dó. Muitas vezes, eles nem faziam a seleção na chegada aos campos de concentração – acabavam com todos. Até hoje, os 500 mil ciganos mortos (na proporção, um grupo tão grande quanto o de judeus assassinados na Segunda Guerra) são pouco lembrados. Um dos casos mais macabros do médico nazista Josef Mengele é o dos gêmeos ciganos Guido e Ina, costurados um ao outro, pelas costas, como siameses. A mãe matou os dois com morfina para terminar com o sofrimento.


* Revolta Circassiana (últimas décadas do século XIX)
Vítimas: 400 mil circassianos – autor Império Russo.
Por volta de 1860, os russos estavam terminando de dominar o Cáucaso e a região da Chechênia. Mas no seu caminho estavam os circassianos, povos muçulmanos. Foi quando o general Yevdokimov teve a brilhante ideia de “convidar” (leia-se obrigar) os nativos a se mudar para o vizinho Império Otomano. Para garantir que os montanheses fossem realmente embora, os soldados destruíram aldeia por aldeia. A limpeza étnica foi tão completa que hoje ninguém mais na região do Cáucaso fala os idiomas dos povos circassianos.

* Crueldade na Bósnia (1992-1995)
Vítimas: 200 mil Bósnios – autores: Milícias e exército Sérvio.
Quando a antiga Iugoslávia se separou em vários Estados, os sérvios tentaram abocanhar o máximo de território. Quem mais sofreu foram os bósnios. Discriminados por serem muçulmanos, milhares foram executados e enterrados em valas comuns, enquanto a Europa e os EUA só assistiam. Em Srebrenica, milícias sérvias, debaixo do nariz das tropas da ONU, mataram 8 mil homens entre 12 e 60 anos. Cerca de 40 mil mulheres bósnias foram sistematicamente estupradas. E quando engravidavam eram obrigadas a dar à luz.

* Terror no Timor Leste (1975-1999)
Vítimas: 150 mil timorenses – autora: Indonésia.
Quando a ex-colônia portuguesa no sudeste da Ásia foi ocupada pela Indonésia, experimentou o inferno: plantações foram queimadas com napalm e seus reservatórios de água foram envenenados. E cerca de 20
mil pessoas “desapareceram”. Mesmo em protestos pacíficos, a repressão era brutal. Em 1991, 400 estudantes foram fuzilados em um cemitério por causa de uma passeata, diante de jornalistas do mundo inteiro. Em 1999, antes de sair do Timor, milícias indonésias mataram 61 pessoas que estavam escondidas numa igreja. A atrocidade ficou conhecida como Massacre de Liquiçá.

* Hererós e Namaquas (1904-1907)
Vítimas: 65 mil Hererós e 10 mil Namaquas – autora: Alemanha.
Foi o primeiro genocídio do século 20, na região onde hoje fica a Namíbia. Os poucos que não foram expulsos para o deserto de Kalahari acabaram nos campos de concentração, identificados por números e obrigados a trabalhar até a morte. Metade dos namaquas e 80% dos hererós foram mortos (os judeus perderam cerca de 35% de seu povo durante o massacre nazista). Um século depois, os alemães pediram desculpas, mas não ofereceram nenhuma compensação. Os alemães ainda envenenavam os poços pelo deserto. Anos depois, ossadas foram achadas em buracos – as pessoas cavavam com as próprias mãos em busca de água.

-Se tem 10 crime não relacionada que e a escravidão negra por que ninguém quer assumir essa conta e consequência do resultado direto e indireto na africa e no mundo pois mudou a trajetória do mundo e ate sucessão monárquica?...

Reduzir um homem à escravidão, comprá‑lo, vendê‑lo, retê‑lo na servidão, tudo isso são verdadeiros crimes, e crimes piores que o roubo. Com efeito, esbulha‑se o escravo não somente de qualquer propriedade mobiliária ou fundiária, mas da faculdade de a adquirir, da proprie­dade do seu tempo, das suas forças, de tudo o que a natu­reza lhe deu para conservar a sua vida ou prover às suas necessidades. A este mal junta‑se o de retirar ao escravo o direito de dispor da sua pessoa.

Ou não há moral de todo, ou é necessário convir neste princípio. Bem pode a opinião não estigmatizar este tipo de crime, bem pode a lei do país tolerá‑lo, nem a opinião nem a lei podem alterar a natureza das acções: e mesmo que esta opinião fosse a de todos os homens e o género humano reunido tivesse, a uma só voz, aprovado esta lei, tal crime permaneceria sempre um crime.

No que se segue, compararemos frequentemente com o roubo a acção de reduzir à escravidão. Estes dois cri­mes, embora o último seja muito menos grave, têm gran­des relações entre eles; e como um sempre foi o crime do mais forte, e o roubo o do mais fraco, encontramos todas as questões sobre o roubo resolvidas de antemão, e de acordo com os bons princípios, por todos os moralistas, enquanto o outro crime nem sequer
tem o seu nome nos seus livros. É necessário exceptuar, contudo, o roubo à mão armada, que se chama conquista, e outras espécies de roubos em que é igualmente o mais forte a esbulhar o mais fraco. Os moralistas também fazem vista grossa a estes crimes, bem como o de reduzir seres humanos à escravidão.

A razões alegadas para desculpar a escravidão dos negros...

"Diz‑se, para desculpar a escravidão dos negros comprados em África, que estes infelizes são ou criminosos condenados ao derradeiro suplício, ou prisioneiros de guerra que seriam executados, não fossem eles comprados pelos Europeus."

De acordo com este raciocínio, alguns escritores apresentam‑nos o tráfico dos Negros como sendo quase um acto de humanidade. Mas observaremos:

* Que este facto não está provado e nem sequer é verossímil. O quê? Antes de os Europeus comprarem os Negros, os Africanos degolavam todos os prisioneiros! Matavam não somente as mulheres casadas, como era, diz‑se, outrora uso entre uma horda de ladrões orientais, mas até as raparigas não casadas, coisa nunca antes relatada acerca de nenhum povo. O quê? Não fôssemos nós buscar negros a África, e os Africanos matariam os escravos que destinam agora a ser vendidos! Cada um dos dois parti­dos preferiria espancar até à morte os seus prisioneiros a trocá‑los! Para acreditar em factos inverosímeis são necessários testemunhos idóneos, e aqui temos apenas os das pessoas empregadas no comércio dos Negros. Nunca tive a ocasião de os frequentar, mas havia, entre os Romanos, homens que se consagravam ao mesmo comér­cio, e o seu nome é ainda uma ofensa.

* Supondo que se salva a vida do negro que se compra, não seria menos criminoso comprá‑lo, se fosse para revendê‑lo ou reduzi‑lo à escravidão. Seria uma acção igual à de um homem que, depois de ter salvo um infeliz perse­guido por assassinos, o roubasse. Ou então, se supusermos que os Europeus levaram os Africanos a deixar de matar os prisioneiros, seria a acção de um homem que tivesse conseguido dissuadir salteadores de assassinarem os tran­seuntes, e os tivesse persuadido a satisfazerem‑se com roubá‑los com ele. Dir‑se‑á, numa ou noutra destas supo­sições, que este homem não é um ladrão? Um homem que, para salvar outro da morte, lhe desse do seu necessário, estaria sem dúvida no direito de exigir uma compensação; poderia adquirir um direito sobre os bens e até sobre o trabalho de quem salvou, descontando, contudo, o que é necessário à subsistência do obrigado: mas não poderia sem injustiça reduzi‑lo à escravidão. Podem adquirir‑se direitos sobre a propriedade futura de outro homem, mas nunca sobre a sua pessoa. Um homem pode ter o direito de forçar outro homem a trabalhar para ele, mas não o de o forçar a obedecer‑lhe.

* A desculpa alegada é tanto menos legítima, quanto é, pelo contrário, o infame comércio dos bandidos da Europa que faz nascer entre os Africanos guerras quase contínuas, cujo único motivo é o desejo de fazer prisioneiros para os vender. Frequentemente, os próprios Europeus fomentam estas guerras mediante dinheiro ou intrigas, de modo que são culpados não somente do crime de reduzir homens à escravidão, mas ainda de todos os assassínios cometidos em África para preparar este crime. Têm a arte pérfida de excitar a cupidez e as paixões dos Africanos, de levar o pai a entregar os filhos, o irmão a trair o irmão, o príncipe a vender os súbditos. Deram a este infeliz povo o gosto destrutivo dos licores fortes. Comunicaram‑lhe este veneno, que, escondido nas florestas da América, se tornou, graças à activa avi­dez dos Europeus, um dos flagelos do globo; e ainda se atrevem a falar de humanidade!

*Ainda que a desculpa que alegamos umas linhas acima desculpasse o primeiro comprador, não poderia desculpar nem o segundo comprador nem o colono que fica com o negro, porque não têm agora o motivo de subtrair à morte o escravo que compram. São, em relação ao crime de reduzir à escravidão, o que é, em relação a um roubo, aquele que divide o saque com o ladrão, ou antes, o que encarrega outrem de um roubo, e que compartilha com ele o produto. A lei pode ter motivos para tratar diferen­ciadamente o ladrão e o seu cúmplice, ou o seu instigador; mas, em moral, o delito é o mesmo.

Por último, esta desculpa é absolutamente nula para os negros nascidos na fazenda. O senhor que os cria para os deixar na escravidão é criminoso, porque o cuidado que lhes dedicou na infância não pode dar‑lhe qualquer apa­rência de direito sobre eles. Com efeito, porque tiveram necessidade dele? É porque arrebatou
aos seus pais, com a liberdade, a faculdade de cuidar do seu filho. Será, pois, pretender que o primeiro crime pode dar direito a come­ter o segundo. Aliás, suponhamos mesmo que a criança negra foi abandonada livremente pelos seus pais: pode o direito de um homem sobre uma criança abandonada que criou ser o de a reduzir à escravidão? Daria uma acção de humanidade o direito a cometer um crime?

A escravidão dos criminosos legalmente condenados também não é legítima. Com efeito, uma das condições necessárias para que a pena seja justa é que seja determi­nada pela lei, quer quanto à sua duração, quer quanto à sua forma. Assim, a lei pode condenar a trabalhos públicos, porque a duração do trabalho, o alimento, as punições em caso de preguiça ou revolta, podem ser determinados pela lei; mas a lei nunca pode sentenciar um homem a ser escravo de outro homem em particular, porque a pena, dependendo então em absoluto do capricho do senhor, é necessariamente indeterminada. Aliás, é tão absurdo como atroz atrever‑se a aventar que a maior parte dos infelizes comprados em África é constituída por crimi­nosos. Será que se teme que o desprezo por eles não seja suficiente, que não sejam tratados com bastante dureza? E que como é que se pode supor a existência de um país onde se cometessem tantos crimes, e onde, no entanto, se fizesse uma justiça rigorosa?

"Da pretensa necessidade da escravidão dos negros, considerada em relação ao direito que dela pode resultar para os seus senhores"

Pretende‑se que é impossível cultivar as colônias sem os negros escravos. Admitiremos aqui esta alegação, suporemos que esta impossibilidade é absoluta: é claro que não pode tornar a escravidão legítima. Com efeito, se a necessidade absoluta de conservar a nossa existência pode autorizar‑nos a lesar o direito de outro homem, a violência deixa de ser legítima no preciso momento em que esta necessidade absoluta cessa igualmente: ora, não está aqui em causa este tipo de necessidade, mas apenas a perda da fortuna dos colonos. Assim, inquirir se este interesse torna a escravidão legítima é inquirir se me é permitido conservar a minha fortuna mediante um crime.
 A necessidade absoluta que eu pudesse ter dos cavalos do meu vizinho para cultivar o meu campo não me
daria o direito de lhos roubar; mas então porque teria eu o direito de o obrigar a ele próprio, pela violência, a cultivar para mim?
 Esta pretensa necessidade não altera, pois, nada aqui, e não torna a escravidão menos criminosa por parte do senhor.

Um afro abraço.
Fonte :livro os 10 mais\unegro

domingo, 9 de agosto de 2015

EXPOSIÇÃO LÉLIA GONZALEZ É SUCESSO DE PUBLICO1

A UNEGRO RJ É ELOGIADA PELA MINISTRA NILMA LINO GOMES / SEPPIR PELA EXCELENTE ATIVIDADE DO NÚCLEO DE NOVA IGUAÇU

A exposição em NI realizada pelo núcleo d@ Unegr@ - em parceria com a REDEH - foi um
gooll de placa. Entramos com pé direito. A Ministra visitou e deu a entrevista oficial no nosso stand. Falou da importância de LÉLIA GONZALEZ e como que ela ficou feliz ao encontrar o movimento social organizado em um espaço político de pesquisadores e intelectuais. De forma muito consciente , citou que não tem como desassociar a luta contra o racismo , do combate à homolesbotransfobia.

Pedimos que ela assinasse o livro de presença, o que o fez com maior prazer.

A Ministra deu um show de simpatia e humildade!

A exposição foi parte da programação cultural do Copene Sudeste e recebeu

aproximadamente 300 visitantes.

Dentre @s visitantes tivemos a honra de receber Maria da Conceição Evaristo / Escritora e Drª em Letras.
Teresa Cárdenas / Escritora Cubana
Beatriz Moreira Costa / Mãe Beata de Iemanjá ( Sacerdotisa Suprema dos Candomblés Ketu - Iorubá, Escritora, /atriz e Artesã )
Luciana Barreto / ( TV BRASIL )
Ministra Nilma Lino Gomes / SEPPIR / UFMG

Essa foi é uma iniciativa da Unegro- Nova Iguaçu em parceria com a associação Rede de Desenvolvimento Humano (REDEH-RJ).

 Missão cumprida Unegrin@s!

A razão pela intolerância, sexismo, racismo, homofobia existe é o medo. As pessoas têm
medo de seus próprios sentimentos, medo do desconhecido.
Afro abraços!
 
 fonte: Sonia Lopes\ UNEGRO-Nova Iguaçu

 

Favelas as grandes vítimas do coronavírus no Brasil

O Coronavírus persiste e dados científicos se tornam disponíveis para a população, temos observado que a pandemia evidencia como as desigual...