UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

domingo, 9 de outubro de 2011

Preconceitos e dores diferentes?





Uma versão de um ótimo quadro da atriz e comediante Wanda Sykes foi recentemente disponibilizado com legenda na Internet, dando espaço para uma discussão em alguns sites brasileiros sobre as particularidades do preconceito contra gays (a homofobia) e sua comparação com o preconceito contra negros (o racismo). Aproveitando o questionamento no Sindrome de Estocolmo, fiz os comentários a seguir.



Antes de tudo, é difícil comparar sofrimentos.


A persistente desigualdade social entre negros e brancos é cruel. Não há como aceitar que se minimize o sofrimento e prejuízo que o racismo ainda causa hoje, nem é essa a pretensão deste texto. O que podemos arriscar é tentar avaliar as modalidades e os aspectos em que as pessoas são atingidas por preconceitos diferentes. Nestes termos, acho que é possível observar que gays sofrem atualmente mais com as modalidades de agressão direta e de certos tipos de discriminação naturalizada e justificada socialmente.


Primeiro, o espaço de convivência social, como trabalho e espaços públicos. Geralmente, negros são poupados de verbalizações racistas nem que seja por educação e hipocrisia, algo que não costuma acontecer entre homossexuais, cuja maioria está invisível (embora a visibilidade não seja garantia de deixar de ouvir esses comentários). Quando alguém faz comentários racistas no trabalho ou outro espaço público costuma freqüentemente encontrar censura de pelo menos um ou de todos colegas, enquanto comentários homofóbicos são moeda corrente na maioria dos ambientes sociais, usados tranqüilamente para “quebrar o gelo” e reforçar a mensagem de que homossexuais não são bem-vindos ou inferiores. A interação em espaços públicos não se limita a verbalizações que minam a auto-estima e a disposição dos homossexuais que podem ser comparadas ao bullying, mas também práticas discriminatórias são extremamente comuns. É verdade que práticas discriminatórias ocorrem com negros também, mas há uma diferença importante em relação ao racismo: as pessoas ainda acham socialmente aceitável apresentar a sexualidade como um motivo justo para discriminar, enquanto o racismo precisa de desculpas indiretas e racionalizações para agir. É comum encontrar pessoas que acham natural não querer dividir um quarto em viagem de negócios com alguém homossexual, enquanto que uma justificativa semelhante usando a raça seria certamente caso de demissão. Até mesmo o atendimento em redes de saúde também é uma situação onde existem relatos de profissionais que evitam e até mesmo se negam a atender homossexuais, enquanto os outros colegas de profissão discutem se essa é ou não uma atitude aceitável.


Como o vídeo de Wanda Sykes mostra de forma humorada, negros geralmente podem contar com a família (igualmente negra ou inter-racial) para lhes fornecer amor, uma rede de apoio contra o preconceito e ajudar a construir uma auto-imagem positiva. Gays começam sua construção identitária solitários (em uma familia heterossexual, sem modelos de referência próximos e que ensina que ser gay é ruim e vergonhoso). Muitas vezes os jovens gays têm todo o apoio familiar retirado quando o assunto é trazido a tona: recebem menos investimento educacional depois da “decepção” dos pais ou mesmo acabam sendo expulsos (ou levados a sair) de casa. De modo geral, negros tem a possibilidade de construir sua identidade dentro de uma família afetuosa enquanto gays só conseguem fazê-lo depois de abandonar ou afastar-se de sua comunidade original opressiva, muitas vezes sem levar nada consigo e sem saber onde encontrar e como inserir-se numa nem sempre disponível ”comunidade gay/simpatizante” que o apoie e permita sociabilizar-se. Não por acaso, temos um alto índice de suicídio entre adolescentes e jovens gays. Existem também alguns trabalhos sobre gays adolescentes moradores de ruas nos EUA (muitos por terem sido expulsos ou levados a sair de casa) infelizmente não conheço paralelo sobre o assunto no Brasil, mas podemos intuir que uma situação semelhante acontece por aqui.


E por fim, como a o homossexualidade se apresenta na população geral e não por classe social ou etnia, ser gay e negro/pardo é extremamente comum. Pode-se admitir perfeitamente que a maioria dos gays é pobre e portanto duplamente invisível para sociedade. A vida da maioria gay/negra/lésbica/pobre/travesti é algo muito distante da imagem fashion e sofisticada dos gays na mídia (mesmo quando negativamente representados). O que talvez mostre o quanto é injusto comparar preconceitos quando suas vítimas localizam-se entre tantas intersecções.


fonte:nucleounisex.org/...

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