UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

sexta-feira, 23 de março de 2018

Capoeirista ,filósofo popular:Vicente Ferreira mais pode me chamar de Mestre Pastinha

Em 5 de abril de 1889, nascia Vicente Ferreira Pastinha, responsável pela difusão da Capoeira
Angola, bem como pela reunião e organização dos princípios e fundamentos de um dos maiores símbolos da cultura brasileira.

Filho do espanhol José Señor Pastinha e da baiana Eugênia Maria de Carvalho, nasceu na Rua do Tijolo em Salvador, Bahia.

Na virada do século XIX para o século XX, Pastinha foi apresentado à capoeira, segundo ele próprio, por pura sorte. Quando tinha em torno de 10 anos, em consequência de um arenga de garotos, da qual sempre saía perdendo, conheceu Benedito, preto africano que se tornaria seu mestre.

“A minha vida de criança foi um pouquinho amarga. Encontrei um rival, um menino que era rival meu. Então, nós entrávamos em luta. E, na janela de uma casa, tinha um africano apreciando a minha luta com esse menino. Então quando acabava de brigar, que eu passava, o velho me chamava: ‘Meu filho, vem cá!’ Eu cheguei na janela e ele, então, me disse: ‘Você não pode brigar com aquele menino. Aquele menino é mais ativo do que você. Aquele menino é malandro! Você quer brigar com o menino na raça, mas não pode. O tempo que você vai pra casa empinar raia, você vem aqui pro meu cazuá.’ Então, aceitei o convite do velho, que pegava a me ensinar capoeira. Ginga pr’aqui, ginga pra lá, ginga pr’aqui, ginga pra lá, cai, levanta. Quando ele viu que eu já estava em condições pra corresponder com o menino, ele disse: ‘Você já pode brigar com o menino’. Então, eu saí. Quando eu vinha, a mãe dele via que eu ia passar, gritava: ‘Honorato, aí vem seu, camarada.’ O menino puca. De dentro de casa o menino pulava no meio da rua com o satanás. Aí, pegou a insistir e na hora que eu insisti, pum, passou a mão. Eu saí debaixo. Ele tornou a passar a mão em mim, eu tornei a sair debaixo. Ele disse: ‘Ah, você tá vivo, hein?!’ Ele insistiu a terceira vez, eu aqui rebati a mão dele e sentei-lhe os pés. Ele recebeu, caiu. Tornei a sentar o pé nele, ele tornou a cair. A mãe dele foi e disse: ‘Vê se não vai apanhar!’ Aí eu disse: ‘Vai ver ele apanhar agora!’.”
"Quando eu tinha uns dez anos - eu era franzininho - um outro menino mais taludo do que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua - ir na venda fazer compra, por exemplo - e a gente se pegava em briga.


Tornou-se discípulo de Benedito e passou a frequentar sua casa todos os dias dado o grande interesse que a capoeira tinha conseguido despertar nele. Pastinha aprendeu além das técnicas, a mandinga. Benedito ensinou-lhe tudo o que sabia.
Durante esse período, o menino Pastinha também frequentava o Liceu de Artes e Ofício, onde aprendeu entre outras coisas a arte da pintura. Em 1902, Pastinha entrou para e escola de aprendizes marinheiros, onde passaria oito anos de sua vida. Na Marinha, praticou esgrima (treinou com espada e florete) e estudou música (violão), ao mesmo tempo em que ensinava capoeira a seus companheiros.

Em 1910, aos 21 anos, pede baixa da corporação. De lá já sai como professor de capoeira, atividade a qual decide se dedicar. Nesse período, tinha que ministrar suas aulas às escondidas na sua própria casa, pois a capoeira figurava no Código Penal como atividade proibida, com sujeição a pena de prisão de dois a seis meses, sendo esse período dobrado no caso dos “chefes ou cabeças”. Foi exatamente o endurecimento da repressão à capoeira que levou Mestre Pastinha a interromper suas aulas. Entre os 1913 e 1934, teve que trabalhar de pintor, pedreiro, entregador de jornais e até tomou conta
de casa de jogos.

Em 1941, Pastinha foi convidado por seu antigo aluno, Raimundo Aberrê, a assisti-lo na roda de capoeira da Jinjibirra (Gengibirra). Lá, de acordo com o próprio Pastinha, lhe aguardava uma surpresa:  “No Jinjibirra, tinha um grupo de capoeirista, só tinha mestre, os maiores mestres daqui da Bahia. O Aberrê me convidou pra eu ir assistir a ele jogar, num dia de domingo. Quando eu cheguei lá, ele procurou o dono da capoeira, que era o Amorzinho, que era um guarda civil. Chamou o Amorzinho, o Amorzinho no aperto da minha mão foi e entregou a capoeira pra eu tomar conta, dizendo:‘Há muito que o esperava para lhe entregar esta capoeira para o senhor mestrar’. Eu ainda tentei me esquivar, me desculpando, porém, tomando a palavra o Sr. Antônio Maré disse-me: ‘Não há jeito, não, Pastinha, é você mesmo quem vai mestrar isto aqui’. Como os camaradas deram-me o seu apoio, aceitei.”

Assumindo a missão de organizar a Capoeira Angola e de devolver a ela seu valor e visibilidade, enfraquecidas pela emergência e popularização da Capoeira Regional, Mestre Pastinha funda o Centro Esportivo Capoeira Angola (CECA), localizado no Largo do Cruzeiro de São Francisco, a primeira escola de Capoeira Angola. Em sua academia, Pastinha adotou um uniforme com as cores de seu time do coração, onde treinou quando rapaz, o preto e o amarelo do Esporte Clube Ypiranga.

Em 1952, o CECA foi oficializado e três anos depois sua sede muda para seu endereço mais famoso: o casarão da Praça do Pelourinho, nº 19. Neste período, Pastinha já estava com 66 anos de idade.
Neste endereço, reuniam-se capoeiristas consagrados como Valdemar da Paixão, Noronha, Maré, Divino, Traíra. O CECA era uma escola de mestres, que transmitia a tradição dos angoleiros. Lá formaram-se outros grandes nomes da capoeira, como Curió, Albertino, Gildo Alfinete, Valdomiro, João Grande e João Pequeno.
Mestre Pastinha sempre prezou pela cordialidade entre seus alunos e pregava que os capoeiristas não deveriam apelar para a violência quando estivessem vadiando (jogando). Ao contrário, sustentava que a calma era a maior aliada do capoeira.
“É o controle do jogo que protege aqueles que o praticam para que não descambe no excesso do vale tudo. Note bem, estou falando em sentido de demonstração, e não de desafio, porque sempre traz consequências às vezes desastrosas. Tira toda a beleza e o brilho da capoeira […]”

Para o Mestre, as pessoas costumam se admirar com a capoeira ao percebem que se trata de uma luta em que “dois camaradas jogam sem egoísmo, sem vaidade. É maravilhosa e educada.”
Mestre João Pequeno, aluno que recebeu do próprio Pastinha a missão de dar continuidade ao CECA e ao seu trabalho, resumiu bem os ensinamentos do maior de todos os angoleiros:

“O capoeirista para bater não precisa encostar o pé. Ele deve ter seu corpo freado, manejado para quando ele levar o pé e vir que o adversário não se defendeu, ele frear antes do pé encostar. Porque quem tá de parte vê que não bateu porque ele não quis. Então para bater não precisa dar pancada no adversário.”  Como reconhecimento por sua contribuição à cultura afro-brasileira, em 1966, Mestre Pastinha realizou o
seu sonho de conhecer a África ao representar o Brasil por meio da Capoeira Angola, no 1º Festival Mundial das Artes Negras, em Dacar/Senegal. Como ele já não estava enxergando bem, consequência de uma trombose que atingiu sua visão, não chegou a vadiar em terras africanas.

Apesar desse raro momento de reconhecimento do Estado brasileiro da importância de Pastinha, o Velho Mestre trabalhou e empenhou-se pelo crescimento da Capoeira Angola quase sempre sem qualquer apoio ou incentivo dos órgãos públicos. Ao contrário disso, em 1971, foi vítima do processo de gentrificação (higienização social) que se deu no Pelourinho, local que começava a ser visado pela especulação imobiliária dado o forte apelo turístico do lugar.

Obrigado pela Prefeitura de Salvador a se retirar do casarão, que entraria em processo de restauração, sob a promessa de retornar ao fim desse, Pastinha viu-se forçado a se mudar e nunca mais pôde voltar à famosa sede do CECA, que deu lugar a um restaurante do SENAC.
Segundo Mestre Curió, aluno de Pastinha, com muita resistência deram um espaço para a academia na Ladeira do Ferrão, conhecida como Ladeira do Mijo.
Com esse ato de destrato e desconsideração, Mestre Pastinha entrou em depressão e teve uma forte piora de sua saúde física. Pastinha viveu seus últimos dias morando num quarto escuro e úmido, na Rua Alfredo Brito n° 14, no Pelourinho. Além da terceira esposa, Maria Romélia, poucos foram os que ajudaram o Mestre.

Após esse período foi enviado para o abrigo para idosos Dom Pedro II, onde permaneceu até a sua morte. Mestre Pastinha morreu cego, quase paralítico e abandonado, no dia 13 de novembro de 1981, aos 92 anos. O Brasil perdia um dos seus maiores mestres. Não só o mestre da Capoeira Angola, mas o mestre da filosofia popular.

O grande escritor Jorge Amado, admirador de Mestre Pastinha e também um dos que lhe deram suporte em momentos difíceis de sua vida, dizia que ele não era apenas um praticante da capoeira, mas um teórico dela. Em seu livro Capoeira Angola (1965), Pastinha defendia a natureza não violenta do jogo e afirmava que a capoeira conferia dignidade, honradez e decência aos seus praticantes.

Em 1964 o Mestre publica o seu livro intitulado “Capoeira Angola”, onde o escritor Jorge Amado teve o prazer de escrever:  “... mestre da Capoeira de Angola e da cordialidade baiana, ser de alta civilização, homem do povo com toda a sua picardia, é um dos seus ilustres, um dos seus abas, de seus chefes. É o primeiro em sua arte. Senhor da agilidade e da coragem, da lealdade e da convivência fraternal. Em sua escola no pelourinho, Mestre Pastinha constrói cultura brasileira, da mais real e da melhor...” 

Além do livro, o mestre gravou também um disco com cinco faixas. O disco intitulado “Pastinha Eternamente”, conta com depoimentos na voz do próprio mestre e músicas de capoeira, cantadas por Mestre Traíra. Este disco é simplesmente uma raridade e está disponível para download na internet. No final do post disponibilizarei o link para o download. 

Em abril de 1966, integrou a delegação brasileira no 1° Festival de Artes Negras, no Senegal, Dakar na África, onde recebe várias homenagens e confirma que na África não existe qualquer coisa que se pareça com a nossa capoeira. Com todo esse destaque Mestre Pastinha começa a receber o apoio de várias
instituições governamentais até que em 1971 o destino (ou o sistema) lhe pregaria uma grande peça.


Capoeira, patrimônio cultural- A história de vida e os ensinamentos de Mestre Pastinha, junto com a de outros mestres, que tenham sido seus alunos ou não, da Capoeira Angola ouRegional, motivou outras pessoas a praticar a capoeira, que se disseminou pelo país e pelo mundo, tornando-se um dos maiores símbolos da cultura brasileira.


A complexidade e expressividade da capoeira levaram o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) a registrar a Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira como patrimônios culturais imateriais brasileiros, em 2008, estando inscritos, no Livro de Registro das Formas de Expressão e no Livro de Registro dos Saberes, respectivamente.

Seis anos depois, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) conferiu à Roda de Capoeira o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

“Eu nasci pra capoeira, só deixo a capoeira quando eu morrer.
Eu amo o jogo da capoeira. E não há outra coisa melhor na minha vida do que a capoeira.”
Vicente Ferreira Pastinha

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

Fontes:http://mestrepastinha.com/mestre-pastinha/https://www.youtube.com/watch?v=wqY9ykRn7b8

quinta-feira, 22 de março de 2018

Contribuição negra à arte brasileira: Pintores Negros...

Brasil Colônia e suas relações com o estudo da cultura afro-brasileira
Os modos de representação de indivíduos de ascendência africana na esfera da arte, investigando algumas das identidades resultantes da representação do negro em diversas épocas e as maneiras pelas quais as artes visuais ocidentais se relacionam com a experiência de afrodescendentes na diáspora, com vários exemplos de seu protagonismo no Brasil e também no contexto internacional, num quadro geral de narrativas em que a presença negra é esparsa.

Em nós, até a cor é um defeito, um vício imperdoável de origem, o estigma de um crime [...]. Mas os críticos esqueceram que esta cor é a origem da riqueza de milhares de salteadores que nos insultam; que esta cor convencional da escravidão, como supõem os especuladores, à semelhança da terra, ao travez da escura superfície, encerra vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade. (Luis Gama)

Quando a Lei Eusébio de Queirós, que determinou o fim do tráfico negreiro no Brasil, foi promulgada, em 1850, Luís Gonzaga Pinto da Gama tinha apenas 20 anos e começava a sua caminhada enquanto poeta e abolicionista. Ele não viveu para assistir à assinatura da Lei Áurea, em 1888, que decretou o fim da escravidão, e certamente não estaria contente com a real situação dos negros após a chegada dos séculos XX e XXI. Mesmo com os direitos conquistados, a condição social dos negros libertos não mudou drasticamente e a segregação racial permaneceu. Todavia, apesar das dificuldades impostas por uma sociedade retrógrada, com uma forte herança rural e escravocrata, com ideias muitas vezes amparadas em teorias evolucionistas, a busca por reconhecimento e por cidadania continuou.

Todo esse caldeirão social não poderia deixar de afetar o âmbito da arte. Pelas telas dos pintores brasileiros e estrangeiros que aqui estiveram, e também pelas imagens produzidas pela então nova tecnologia da fotografia, foram sentidas as nuances da mudança de condição e de imagem dos negros. Este artigo procura mostrar algumas características e mudanças da representação da figura do negro no período que vai de 1850 até 1950, da Lei Eusébio de Queirós à volta ao poder por Getúlio Vargas. Um recorte de cem anos, no qual verificamos a busca pela origem do povo brasileiro e o fortalecimento do nacionalismo. Cem anos que optamos por dividir em três partes. A primeira começa em 1850 e vai até a abolição da escravatura, momento em que a pintura brasileira está bastante vinculada a encomendas sobre um passado heroico e bravo e que viu o surgimento do grande mercado das fotografias de família. Na segunda parte, destacamos a apresentação de aspectos do cotidiano e da condição social nas primeiras décadas do negro liberto. A terceira e última parte se situa no período em que obras de escritores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior foram lançadas e no qual o apoio governamental para o fortalecimento do nacionalismo contribuiu para se discutir uma ideia de nação e de povo brasileiro.

Os cem anos compreendidos neste texto revelam uma nação em busca de identidade. As transformações
que ocorreram nesse período deixaram marcas e reflexos sentidos até hoje, encerraram algumas questões e abriram outras ainda por resolver. Porém, não há como negar que a presença negra é marcante em toda a trajetória do Brasil enquanto país: na cultura, na arte, na política e em várias outras áreas. Como diz Freyre em Casa grande e senzala, “Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo – há muita gente de jenipapo ou mancha mongólica pelo Brasil – a sombra, ou pelo menos a pinta do indígena ou do negro”

O negro trabalhador livre - A obra Limpando Metais (1923) , de Armando Vianna (1897-1992),
retrata uma jovem negra, com um vestido branco, limpando a prataria e os cristais de uma casa. Estes estão dispostos desordenadamente na mesa, com alguns guardanapos vermelhos; no canto, vemos um grande vaso azul e ao fundo tem-se a cristaleira emoldurando a personagem. O que mais chama a atenção é o olhar da moça, que não é direcionado ao objeto que está sendo polido, nem ao espectador, mas está virado para a esquerda, como se observasse algo no ambiente ou vagasse pela imensidão, inerte em seus pensamentos, a exemplo da Negra tatuada vendendo caju [, de Jean-Baptiste Debret. Maraliz de Castro Vieira Christo, ao analisar essa tela de Vianna, afirma: Mesmo sem um levantamento rigoroso, os quadros mais conhecidos permitem perceber a preocupação sobre o lugar da mulher negra na sociedade brasileira. As opções são pessimistas: desaparecer pela miscigenação, permanecer reclusa na periferia e morros, ou aprisionar-se na cozinha, trabalhando sempre. 

O alienar-se da negra de Armando Vianna é, de certa forma, a conscientização desse processo.
Esta mulher negra representa ainda o mercado de trabalho após a abolição, que continuou muito próximo das tarefas realizadas na escravatura: trabalhos braçais, domésticos e informais. A temática era relevante, mas, embora tenha conquistado uma medalha de prata na Exposição Geral de Belas Artes, a tela de feitura realista foi obliterada, na historiografia de arte brasileira, pelo sucesso de outras, como, por exemplo, A negra , de Tarsila do Amaral(1886-1973), realizada no mesmo ano de 1923 em Paris, com uma técnica “inovadora”, influenciada pelo cubismo.

A tela de Tarsila tem um fundo esquemático de faixas de cores frias (azul, verde, branco, marrom), com apenas uma folha de bananeira, que contrasta com a pele escura da mulher, desenhada em linhas curvas simples, de pernas cruzadas e braço apoiado no joelho. A mulher não tem cabelos, mas é representada com
lábios polpudos e seio farto, além do mesmo olhar distante. A Negra logo se tornaria um ícone da modernidade brasileira. Com relação às suas fontes,

segundo um depoimento da própria artista, a imagem desta negra é fruto das histórias contadas pelas mucamas da fazenda em sua infância. Falavam de coisas que impressionaram a menina Tarsila, como o caso das escravas dedicadas a trabalhar nas plantações de café, e que impedidas de suspender o trabalho, amarravam pedrinhas nos bicos dos seios, para que estes, desta forma alongados, pudessem ser colocados por sobre os ombros, a fim de poder amamentar seus filhos, que carregavam as costas.

A figura com o seio à mostra está longe da sensualidade que seria predicada posteriormente às mulatas e aproxima-se mais de uma espécie de “deusa-mãe” da fartura ou da fertilidade, evocando todas as amas de leite que alimentavam e cuidavam das crianças brancas, muitas vezes deixando de nutrir seus próprios filhos. Mas, na pintura de Tarsila, A Negra não é coligada ao seu labor: rompendo com os padrões então ainda usuais de representação feminina no Brasil, esta mulher torna-se, como afirmou Maraliz Christo, uma espécie de arquétipo.

Em outro registro estilístico, mas também mostrando uma figura que se impõe ao espectador, temos a obra Zumbi (1927) , de Antonio Parreiras (1860-1937), que retrata um herói negro. O líder que conquistou sua liberdade e auxiliou muitos outros a conseguirem a sua em difíceis fugas está de pé, segurando um rifle e atento ao horizonte, forte e pronto para a luta. Sua postura remete ao cânone da representação dos reis, apoiados em seu cetro, o que confere a Zumbi o devido reconhecimento e dignidade. Ao fundo, uma paisagem, com relva e rochas, indiciando os locais ermos onde os quilombos eram criados, mas, mais que isso, dando uma sensação de amplidão que remete ao fim da opressão sofrida.

Representar a dignidade dos negros também parece ter sido a intenção de Lasar Segall (1891-1957), que restitui o filho ao seu devido colo em Mãe preta (1930) A tela mostra a mulher vestida de branco segurando a criança de roupa colorida; seus rostos se encontram, numa cena de profundo carinho e cuidado, demonstrando a íntima relação maternal ai existente. Como vimos, muitos artistas desde a abolição visavam demonstrar a humanidade do negro, que muitas vezes foi visto como raça inferior. Mas, para nós, esta obra de Segall tem um teor delicado particular, que individualiza e humaniza as figuras.

Embora o artista reitere a temática e pinte várias mães negras, algumas com seus filhos no colo de acordo com o tipo cristão de Nossa Senhora sentada com Jesus ou amamentando-o, o título desta tela parece indicar uma crítica. Segall renega o mito da mãe pretaque preconizava a adoção das crianças brancas como seus filhos e a gratidão pela bondade do senhor. Ele mostra que a verdadeira mãe preta é aquela que pode cuidar do seu próprio filho.

Filho este que não é necessariamente só negro, mas também branco e índio, o resultado de uma miscigenação das raças que não resulta no branqueamento, mas sim evidencia um processo que foi tomado por parcela dos intelectuais brasileiros como uma característica identitária do Brasil. Esse é o caso de Cândido Portinari (1903-1962), que o idealizou tal processo em várias de suas telas. Na obra Mestiço (1934) , por exemplo, Portinari apresenta no primeiro plano da imagem um homem forte, de braços cruzados. Sua tez não é completamente escura, apresentando tons amarelados; seu cabelo é ondulado, seus lábios são carnudos e seus olhos são negros, porém o formato deles é tipicamente indígena.

A imponência da figura e seus olhos fitando o espectador dão a ele uma atitude altiva e poderosa. Ele parece saber da sua indispensabilidade para a produção rural, mas também indagar sobre sua presença ali. A possível crítica feita pelo pintor à permanência de uma espécie de escravidão disfarçada é evidenciada por Annateresa Fabris:

Verdadeiras “máquinas de trabalho afeitas a toda sorte de esforço,” as figuras de trabalhadores propostas por Portinari estabelecem uma continuidade crítica entre passado e presente, pois têm como elemento comum a apresentação da atividade produtiva como alienação.

Também representando a miscigenação e a mão-de-obra trabalhadora, porém agora em um ambiente urbano, a obra Operários (1933) , de Tarsila do Amaral, apresenta diversos rostos desconexos de corpos, que ocupam quase a totalidade da tela, formando uma grande massa. Eles são separados por uma diagonal do segundo plano no canto superior esquerdo, que apresenta chaminés com fumaça, fazendo clara referência às fábricas, frutos do processo massivo da industrialização almejada pelo governo brasileiro de então. O quadro realizado pela artista demonstra que a força de trabalho, tão necessária na industrialização, não comporta distinção de sexo, idade ou raça: a massa de operários é composta de mulheres e homens, jovens e velhos, negros e brancos, todos com o mesmo olhar cansado e triste fitando o espectador, trabalhadores com salários presumivelmente baixos e sabendo-se reificados nas linhas de produção.

 No contexto das tendências modernas, um olhar diferenciado é aquele de Alberto da Veiga Guignard (1896-1962). Ao pintar o retrato intitulado A família do fuzileiro naval (1935) , Guignard utiliza a mesma estrutura dos retratos hieráticos das grandes famílias da elite brasileira, conferindo à família negra representada no quadro reconhecimento e dignidade. A tela apresenta a senhora sentada à direita, com o
marido ao seu lado, pousando a mão sobre seu ombro e o do filho (aparentemente o caçula). Há mais dois jovens em pé e um rapaz sentado, fardado como o pai. Os outros personagens estão ricamente vestidos e sua posição social também é evidenciada pelos móveis (cadeiras, tapete, papel de parede). Ao fundo, vê-se uma paisagem, que pode ser vislumbrada pela grande janela na frente da qual posam para o retrato.

Parece que há nessa obra um desejo explícito da família ou do pintor em expor o orgulho em ser brasileiro não só pela farda usada, que era também um indício da status social, mas também por alguns dos objetos incluídos, como a bandeira na mão de um dos jovens, no fundo há palmeiras e, pendurada na veneziana da janela, uma gaiola com um canarinho. O apelo nacionalista se relaciona à necessidade de constituir o negro como parte desta cultura “verde-amarela” e de reconhecê-lo parte de um país em ascensão - não apenas como oprimido, mas compartilhando a mesma sociedade dos brancos. 

Todavia, segundo Orlando Mollica, a paisagem quase onírica do fundo da obra acaba
[...] atribuindo-lhes um caráter meramente, ou melhor, altamente alegórico: simulacro de uma cidadania que se dá apenas no plano virtual, de um país que, mesmo atravessando um período político de transformações profundas, quanto mais se moderniza, mais precisa se manter no passado para que se mantenha fiel à sua cultura, à forma como foi moldado pela colonização portuguesa.

Essa busca pela construção da identidade nacional incorporou diversos elementos da cultura negra como símbolos da nação brasileira. Manifestações que em períodos anteriores foram malvistas, como, por exemplo, o samba e a capoeira, tornavam-se agora coisas “tipicamente” brasileiras, sendo exaltadas pelos artistas. A beleza e sensualidade da mulher negra ou da mulata não foi deixada de lado nesta iconografia. Muitas vezes, as representações que as incluem são imbuídas de crítica social, pois acabam se associando a uma visão machista da mulher ou à prostituição; porém, é inegável o fascínio que as mulatas despertavam e despertam, mostrando o quanto ainda prevalece uma visão associada ao exotismo e ao sexo, similar aquela produzida, mais de um século antes, por alguns dos chamados artistas viajantes.

 Emiliano Di Cavalcanti pintou uma série de mulatas durante a sua carreira, não em ambientes de trabalho, mas geralmente em ambientes festivos ou naturais. No quadro Mulata com pássaro (c.1950) , não identificamos um cenário específico (bar, rua de cidade, etc.). O fundo é dominado por tons avermelhados, podendo indicar um fim de tarde. Há alguns galhos verdes, sob um dos quais está o grande pássaro branco (similar a uma pomba) que esconde parte do peito da mulher, embora deixe à mostra uma nesga do seio direito, dando um toque de sutil sensualidade, complementado pelos lábios carnudos, pelas flores no cabelo e pelas cores do quadro.

No entanto, o olhar da moça é vago, quase triste ou compassivo, parecendo conflitar com a representação de apelo erótico tão usual e que acabou se tornando um característica associada à mulher brasileira em todos os cantos do mundo. O pássaro branco em seu colo parece denotar um quê de ingenuidade com relação à jovem: ela representa uma beleza de força natural, que, ainda que possa por isso ser ainda mais excitante, parece aqui questionar o espectador sobre as formas de vê-la. O elemento feminino não só parece estar integrado à natureza tropical como, em larga medida, se confunde com a própria noção de natureza. Dessa maneira, a mulata, mulher da terra, afro-americana, é valorizada na representação também por significar uma espécie oposição à cultura branca ocidental (FERNANDES, 2008, p. 160).

Certamente este último período por nós aqui delimitado, que culminaria com a eleição de Getúlio Vargas pelo povo, foi um dos mais profícuos nas representações de negros e negras, que visavam valorizá-los e lhes preservar um espaço devido na cultura nacional. Em muitas das obras então produzidas, ainda permanecem
estigmas, contradições e dificuldades vividas; em outras, há a afirmação da personalidade dos retratados e de seus espaços. Todas fazem refletir o quanto, ainda hoje, a igualdade não é uma realidade plena.

Se liga: - Além disso, é de se notar que, mesmo com a sistemática segregação e negação, as culturas de origem africana persistiram e influenciaram diversos âmbitos da cultura brasileira, como a religião, o esporte, a culinária, a música e a dança. Isso aconteceu não porque um ímpeto nacionalista assim o quis, mas porque desde as primeiras levas de escravos que aqui chegaram, a vontade de se manter viva fez com que aspectos dessas culturas africanas permanecessem e se entranhassem por todo o país, alimentando uma nova cultura. Nesse sentido, encerramos o trabalho lembrando de Câmara Cascudo, que, em sua obra Made in Africa, de 1964, ao procurar identificar elementos culturais africanos existentes no Brasil e ao confirmar a permanência de muitos destes, exclamou: “Vendo-os em nossa terra, reconhecidos, identificados nas raízes imóveis, é possível o grito gaiato de Luanda: - Tala on n’bundo! Olha o negro!”

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

fonte:http://www.dezenovevinte.net/obras/obras_negros.htm/<http://orlandomollica.blogspot.pt/2011_04_01_archive.htm/http://www.dezenovevinte.net/artigos_imprensa/revista_brasil/1916_resenhas_b.htm

segunda-feira, 12 de março de 2018

Dia Internacional da Eliminação da Discriminação Racial " 21 de Março"

O dia 21 de março marca ainda outras conquistas da população negra no mundo: a independência
da Etiópia, em 1975, e da Namíbia, em 1990, ambos países africanos.

Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1966, em memória à tragédia que ficou conhecida como“Massacre de Shaperville”, em 1960, na cidade de Joanesburgo, na África do Sul.

Na ocasião, 20 mil negros protestavam pacificamente contra a Lei do Passe - que os obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde eles poderiam transitar na cidade - quando se depararam com tropas do exército, que abriram fogo sobre a multidão, matando 69 pessoas e ferindo outras 186. 

-"Além de lembrar a tragédia, a data criada pela ONU passou a ser um dia em que pessoas em todo o mundo protestam contra o racismo e pelo fim da discriminação racial".

É triste constatar que ainda hoje, em 2018, o ser humano precisa combater este tipo de discriminação. A intolerância ao diferente existe e é bem real. Desagradam-me os argumentos de que não existem diferenças, que somos todos iguais e que não precisamos falar mais sobre este assunto. Não! Não somos iguais! Somos diferentes, basta olhar! Mas o que precisamos é enxergar a diferença, aceitá-la e mais do que isso, não usá-la como desculpa para o tratamento diferenciado, para recusas e pior, para a violência tão presente e implacável.

Que seja este um tempo de reflexão, de mudança e de recomeço.
O negro no Brasil O Brasil foi a última nação da América a abolir a escravidão. Entre 1550 e 1850, data oficial do fim do tráfico de negros, cerca de 3.600.000 africanos chegaram ao Brasil. A força de trabalho desses homens produziu a riqueza do País durante 300 anos. Apesar de a maior parte dos escravos não saber ler nem escrever, isso não significava que não tivessem cultura. Eles trouxeram para o Brasil seus
hábitos, suas crenças, suas formas de expressão religiosa e artística, além de terem conhecimentos próprios sobre técnicas de plantio e de produção. Entretanto, a violência e a rigidez do regime de escravidão não permitiam que os negros tivessem acesso à educação. Oprimido e explorado, o negro encontrava nas suas raízes africanas a força para resistir à dominação dos senhores nas suas fazendas. E muitos aspectos de sua cultura permaneceram vivos, como, por exemplo, a religião. O candomblé, ritual religioso com danças, oferendas e cultos para Orixás, atravessou a história e aparece como uma prova de preservação das raízes do povo africano no Brasil.

Hoje, no Brasil, ainda é possível ver os reflexos dessa história de desigualdade e exploração. Alguns indicadores referentes a população, família, educação, trabalho e rendimento e que são importantes para retratar de forma resumida a situação social de brancos, pretos e pardos, revelam desigualdades em todas as dimensões e áreas geográficas do País. Apontam, também, para uma situação marcada pela pobreza, sobretudo para a população de pretos e pardos.

Se liga- A cada ano, o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial oferece uma oportunidade para refletir sobre a importância do combate ao racismo, à xenofobia e a todas as formas de intolerância. De uma forma especialmente solene, este ano de comemoração do fim da Segunda Guerra Mundial e da libertação dos campos de concentração nos lembra que a promoção dos ideais da dignidade, do respeito e da solidariedade é uma necessidade para toda a comunidade internacional. As lembranças de discriminações passadas não se apagam com o tempo, já que a discriminação, em várias formas diferentes,
ainda afeta os direitos e a dignidade de indivíduos e comunidades inteiras. As práticas de “limpeza étnica” e racismo na Internet, bem como a corrente estigmatização de minorias, povos indígenas e trabalhadores migrantes, fazem parte de nossa vida diária. Nossa responsabilidade, mais do que nunca, é prevenir e combater essas manifestações. Para coibir essas ocorrências, e conforme sua Constituição, a UNESCO continua a dar atenção à educação dos jovens, especialmente educação para os direitos humanos. Também continua a trabalhar com o pluralismo, o desenvolvimento sustentável e a promoção da diversidade cultural, de modo a estabelecer em nossas práticas e representações uma atitude tolerante e receptiva ao outro. Por fim, no sentido de reafirmar a importância do princípio da igualdade para todos e ilustrar sua vitalidade, a UNESCO lançou, no ano passado, um projeto em larga escala para criar uma Coalizão Internacional de Cidades contra o Racismo, em parceria com grandes redes de parceiros públicos e privados envolvidos no combate à discriminação. 

O esforço de aumentar a consciência da tolerância mútua e alterar estados mentais e padrões de comportamentos agora exige estratégias inovadoras e audazes que implicam na participação de todos os atores na área. É uma questão de justiça, mas também a única forma possível de restaurar o elo cívico e
social minado em muitas sociedades. A Carta das Nações Unidas afirma que todas as pessoas devem gozar de direitos humanos e liberdades fundamentais sem distinção de cor, sexo, língua ou religião. O ano de 2005, no qual celebramos o sexagésimo aniversário da fundação das Nações Unidas e também da UNESCO, oferece uma oportunidade para renovar pessoalmente este compromisso coletivo. O Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial nos oferece mais uma ocasião para reafirmá-lo, de modo que todos os cidadãos possam viver em dignidade, igualdade e paz.

Claudia Vitalino.

fonte:www.brasilia.unesco.org

Alguns Poetas Africanos

A África é um continente que tem seus mistérios e suas seduções, bem como faz parte do nosso imaginário ocidental como uma região de aventuras e de pura a mais pura natureza. Porém a África também é um continente de guerras tribais e fraticidas, e até mesmo de antigos e recentes genocídios.

A África não sabemos o que realmente é, mas que muito nos significa. E é desse outro universo que nos parece tão mais distante que os milhares de quilômetros que nos separam, inaugurarei com poesia africana o espaço aqui reservado às várias e diversas literaturas do mundo, além do meu. Abaixo um rápido apanhado de alguns poemas da África de língua portuguesa (a Luso áfrica) que é constituída dos seguintes países: Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

A poesia africana, a partir da década de 1930, passou a apresentar características de importante relevância para a divulgação da consciência negra o que se deu graças ao movimento que revolucionou a África, o chamado Movimento da Negritude. Este movimento surgiu em 1935 e tinha como líderes Aimé Césaire, Damas e Leopold Senghor. O que aconteceu com isso, portanto, foi um projeto de renascimento dos povos negros e o Movimento da Negritude foi a principal arma utilizada.
A literatura de países africanos de língua portuguesa (Angola, Moçambique, São Tomé e
Príncipe, Cabo Verde e Guiné Bissau), a poesia em particular, partiu para mostrar o que os seus intelectuais faziam em termos de cultura e qual o vínculo dos escritos com o ser negro, o ser africano.
Sendo assim, com o intuito de divulgar a literatura africana, aproximá-la mais da realidade da população brasileira, iremos abordar a seguir a história de alguns poetas de origem africana.

A MINHA DOR
Dói
a mesmíssima angústia nas almas
dos nossos corpos perto e à distância.E o preto que gritou é a dor que se não vendeu 
nem na hora do sol perdido nos muros da cadeia. 
( Noemia de Sousa/Moçambique)


Poetas Africanos e suas obras
Manuela Margarido: Alto como o Silêncio; Os Poetas e Contistas Africanos; Poetas de S. Tomé e Príncipe. (S. Tomé e Príncipe).
Jorge Barbosa: Arquipélago; Ambiente; Caderno de um Ilhéu; Meio Milénio; Júbilo; Panfletário. (Cabo Verde).
Corsino Fortes: Pão e Fonema; Árvore e Tambor. (Cabo Verde).
Francisco José Tenreiro: Negro de Todo o Mundo; Ilha do Nome Santo; Canção do Mestiço; Poesia Negra de Expressão Portuguesa; Coração em África. (S. Tomé e Príncipe).
Agostinho Neto: Quatro Poemas de Agostinho Neto; Poemas; Sagrada Esperança; A Renúncia Impossível. (Angola).
Arlindo Barbeitos: Angola Angolê Angolema; Sonho; Fiapos de Sonho; Na Leveza do Luar Crescente. (Angola).
José Craveirinha: Xigubo; Cantico a un dio di Catrame; Karingana ua karingana; Cela 1; Maria; Izbranoe. (Moçambique).
Luís Carlos Patraquim: Monção; A Inadiável Viagem; Mariscando Luas; Lidemburgo Blues; Pneuma; O osso côncavo e outros poemas; Antologia Poética. (Moçambique).
Anne Kellas: Poems from Mt. Moono; Anthologies: A writer in Stone; Like a House on Fire; Moorilla Mosaic; River of Verse. (África do Sul).
Samira Negrouche: Les Vagues du silence; L’opéra cosmique; A l'ombre de Grenade; Cabinet Secret;
Le Jazz des oliviers; Instance départ. (Argélia).

A CIDADE À NOITE

A festa dos reclamos luminosos é minha. Não gosto de coisas reais. Todas as ilusões me pertencem. Sou milionário universal da fantasia. Gosto de passar pelas montras e sonhar... Sonhar sonhando, sem cobiça, sem pólvora, sem sangue, sem ódio, sem ferir o mundo. 
( Jorge Macedo/Angola)

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

Fontes:http://www.cronopios.com.br/site/ensaios.asp?id=1208

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

8 de Março-Escurecer o Feminismo e uma necessidade das Negras do Brasil e do mundo

As necessidades das mulheres negras são muito peculiares e sem que seja feita uma profunda análise do racismo brasileiro.

O Feminismo Negro é um movimento social e um segmento protagonizado por mulheres negras, com o objetivo de promover e trazer visibilidade às suas pautas e reivindicar seus direitos. No Brasil, seu início se deu no final da década de 1970, a partir de uma forte
demanda das mulheres negras feministas: o Movimento Negro tinha sua face sexista, as relações de gênero funcionavam como fortes repressoras da autonomia feminina e impediam que as ativistas negras ocupassem posições de igualdade junto aos homens negros; por outro lado, o Movimento Feminista tinha sua face racista, preterindo as discussões de recorte racial e privilegiando as pautas que contemplavam somente as mulheres brancas.

"É importante que desnaturalizemos palavras usadas tão corriqueiramente como “mulher” e “negra”. As mulheres negras são mulheres negras porque são consideradas assim históricas, sociológica e culturalmente".

O problema da mulher negra se encontrava na falta de representação pelos movimentos sociais hegemônicos. Enquanto as mulheres brancas buscavam equiparar direitos civis com os homens brancos, mulheres negras carregavam nas costas o peso da escravatura, ainda relegadas à posição de subordinadas; porém, essa subordinação não se limitava à figura masculina, pois a mulher negra também estava em posição servil perante a mulher branca. A partir dessa percepção, a conscientização a respeito das diferenças femininas foi ganhando cada vez mais corpo. Grandes nomes da militância feminina negra foram fazendo história, a exemplo de Lélia Gonzalez , Sueli Carneiro  e outras. A atenção e a produção de conteúdo foram dedicadas a discussões de raça e classe, buscando romper uma zona de conforto que o ativismo feminista branco cultivava especialmente aquele que limitava sua ótica aos problemas das mulheres de boa condição financeira e acesso à educação.

No entanto, isso não foi suficiente para que o Feminismo Hegemônico passasse a
reconhecer as ativistas negras e resgatasse as memórias das mulheres que lutaram na linha de frente de diversos movimentos sociais. Para as meninas e mulheres que vêm a conhecer os movimentos pelos direitos da mulher, há um vácuo de modelos negros nos quais se espelhar, mas não por falta de pessoas atuantes e sim por causa da invisibilidade. É preciso que haja a iniciativa de buscar figuras inspiracionismo, caso contrário os nomes mais celebrados serão extremamente limitados.

Se liga: As mulheres brancas, são companheiras importantíssimas para a luta contra o machismo, mas estas também estão inseridas em um sistema que a protegeu durante todo o tempo, que não a jogou as ruas para conseguir o pão do dia-a-dia. Em muitos momentos estas se revelam enquanto opressoras.

As mulheres negras até hoje vivenciam a intervenção do racismo aquela que  foi o “esteio da família” brasileira, em nossas mãos estava o cuidado com os filhos das brancas e dos nossos, além de dar conta do sustento da família, (o IPEA também apresentou que as mulheres negras estão entre a maioria das chefes de família), vide que nós estávamos nas ruas, trabalhando, labutando, enquanto as companheiras brancas estavam relegadas ao espaço privado.

A autonomia  do feminismo negro- A combinação de preconceitos como o racismo e o machismo têm sido pensados através da interseccionalidade, conceito que se refere mais amplamente às articulações entre a discriminação de gênero, a homofobia, o racismo e a
exploração de classe. Ele teve origem nas reivindicações de feministas negras, judias, lésbicas, operárias, etc., que demandaram atenção para a multiplicidade contida na ideia de “mulher”, argumentando que a opressão não poderia ser entendida unicamente pelo viés da diferença de gênero.

A relação das mulheres negras com o movimento feminista hegemônico nunca foi fácil. Por deterem o domínio racial e contarem com maior número de lideranças consolidadas, as feministas brancas resistem às questões das mulheres negras. Grande parte das reclamações relatadas são repetições de um único discurso: as negras criam caso, plantam confusão e discórdia, enxergam racismo onde há boas intenções e não são compreensivas.

A luta das feministas negras é uma batalha contínua para nivelar seu lugar ao lugar das mulheres brancas. Isso, por si, levanta a importante reflexão sobre a representação feminina na mídia, seu espaço no mercado de trabalho, o lugar de vítima da violência sexual, o protagonismo da maternidade, entre outros temas, pois se há tanto por que as mulheres brancas precisam lutar, é bastante preocupante o fato de que as mulheres negras nem sequer conquistaram igualdade quando em comparação com outros indivíduos do seu próprio gênero.

Nós também podemos- Nos espaços de militância mistos também as mulheres negras precisam disputar, falar sobre economia, conjuntura política do século XXI, direito, historia,cultura,ciências sociais e quaisquer outros assuntos pertinentes à sociedade que não cabelo, racismo, empoderamento estético e  Portanto ressaltamos que partimos de contextos históricos e sociais diferenciados, onde as mulheres negras necessitaram construir espaços

específicos para a sua militância .  Esses contextos históricos diferenciados levarão a pautas diferenciadas, onde as mulheres negras trazem para si também a luta contra o racismo, exercendo sua militância também nos espaços mistos do movimento negro pois uma mulher negra no poder, uma presidenta negra, uma “direção” negra, certamente mexe com o psicológico de toda uma um grupo e consequentemente de uma nação negra  e apropriação cultural. A mulher negra tem autonomia política para se expressar livremente, caso ela tenha conhecimentos teóricos para além do racismo, mesmo que ela mostre uma clara gama de instrução sobre outras linhas de conhecimento.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.

Rebele-se Contra o Racismo! 

UNEGRO RIO DE JANEIRO -30 anos de luta!

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Maria Negra e outras curiosidades


Bíblia foi manipulada como desculpa para subjugar negros

História da África  -O ensino da História da África e do Negro Brasileiro seria um caminho alternativo à discriminação racial. O ensino da História mostra apenas a visão eurocêntrica do mundo e os negros apresentados como inferiores e escravizados. Não mostra as contribuições deles para a cultura brasileira. “Apesar de ser obrigatório pela lei 10.639, desde 2003, as escolas públicas e particulares ignoram o ensino da História da África na grade curricular”. 

Dentre as coisas que devem ser aprendida pelas crianças na escola é de que a humanidade começou na África negra. Os africanos antigos legaram o surgimento da civilização e as invenções básicas para qualquer sociedade: agricultura, pecuária e metalurgia.

O professor aponta que Brasil foi um dos maiores traficantes de escravizados do mundo e acumulou riquezas com isso, ajudando na desestabilização e enfraquecimento de várias regiões da África como Congo, Angola, Guiné e Moçambique. 

No livro de Gênesis conta-se a história de Noé e os três filhos dele Sem, Cã e Jafé. Depois de Noé se embriagar, Cã teria visto a nudez do pai e contou aos dois irmãos. Sem e Jafé andaram de costas levando uma capa para cobrir o pai. Quando despertou do sono, Noé tomou conhecimento e amaldiçoou o filho. “Maldito seja Canaã e seja servo dos servos a seus irmãos”. Por outro lado, Noé abençoou os outros dois filhos e sempre confirmando que Canaã lhe seja servo.

“Na escravidão, o trabalho rude, pesado, grosseiro e o trabalho em geral braçal era para o negro, por ele ser considerado um decaído frente a Deus. Imposição da mansidão e da docilidade pelo poder da Palavra e do chicote aos oprimidos; emprego do batismo era como distinção e início da redenção do negro”, explicou ao Olhar Direto o professor Flavio Nascimento.

Muito do racismo atual e da violência contra o negro, um ser considerado inferior nas mentes das pessoas, esta assentado na violência social originada no passado para defesas de privilégios, benesses e mordomias que prosseguem até hoje sob novas formas. 

No século XVIII, em um episódio em Campo Grande, Minas Gerais, os bandeirantes apresentaram 3000 pares de orelhas como prova de destruição de um quilombo. O negro fugitivo recapturado recebia uma letra F com ferro em brasa. “Como serão as torturas nas delegacias e presídios atuais? Que juízos sobre os negros foram construídos desde então? Por que a abordagem policial envolvendo outro negro precisa ser desrespeitosa, agressiva e ofensiva?”.Na Antiguidade Clássica, os povos julgavam o conceito de raça pela cultura, pouco tendo a ver com a cor da pele. Mas a partir do século VIII da era Cristã foi 'forjada' uma passagem bíblica, a Maldição de Cã como argumento para subjugar um ser humano pela aparência física tratando-o como ser humano inferior. A Igreja Católica passou a comprar e possuir escravos africanos. Para embasar, utilizou-se da Maldição de Cã. 


Negras nas histórias bíblicas- Para percebermos a presença negra na Bíblia devemos considerar o seu contexto, não vamos ver escrito na bíblia: pessoas pretas, negras ou africanas. Mas vamos ler os termos etíopes, egípcios, hebreus, ou outros termos tribais. Etiópia é mencionada mais de 40 vezes na Bíblia; Egito é mencionado aproximadamente 700 vezes, e África é mencionada mais do que qualquer outro continente da terra na Bíblia. Também devemos considerar que o “Oriente Médio”, incluindo a Terra Santa foi conectado ao mapa da África até 1859, quando o Canal de Suez foi concluído. Tudo isso nos mostra que a Bíblia é um livro afro-asiático e tem muitos negros e negras como protagonistas. Nesta direção, vejamos 10 pessoas negras nas histórias bíblicas e como ilustração as imagens da última série do fotógrafo James C. Lewis.

A Rainha de Sabá -A primeira vez que a Bíblia menciona uma Rainha refere-se a uma mulher negra. (Gn 10: 7). A tradição etíope afirma que o nome da rainha era Makeda, mas as Escrituras se refere a ela como a Rainha de Sabá, ou a Rainha do Sul, e sua fama era tal que 2.000 anos depois, Jesus Cristo conhecia seus feitos. Jesus se referiu a ela dizendo que tinha vindo dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. – Mt 12.42.

A Rainha Candace - Corajosas guerreiras, as candaces são as rainhas mães da realeza africana na antiguidade. Em Atos 8, no Novo Testamento da Bíblia, a Rainha Candace é citada quando Filipe, o Evangelista, encontra um chefe dos tesouros de “Candace, rainha dos etíopes“, cujo nome não foi mencionado no texto. Importante esclarecer que na Antiguidade, o termo Etiópia era utilizado para denominar a região onde se situavam os povos negros do
continente africano. O nome Candace foi dado a todas as rainhas da Etiópia durante o seu tempo, bem como o título de Faraó foi dado a todos os reis africanos do antigo Egito.

Zípora a mulher negra - Zípora, uma africana, esposa de Moisés, e filha de Jetro (Êxodo 2: 21). Segundo a Bíblia, Deus permitiu que os israelitas casassem com mulheres cusitas/etíopes ( negras) Êxodo (34: 11 e 16). Há diversas passagens Bíblicas que demonstram que Deus mantinha uma relação única com os etíopes, assim como mantinha com os Israelitas: “Não me sois, vós, ó filhos de Israel, como os filhos dos etíopes?” (Amós 9:7), “Príncipes virão do Egito; a Etiópia cedo estenderá para Deus as suas mãos” (Salmo 68:31). Moisés, que escreveu os primeiros cinco livros da Bíblia, se casou com Zipora, etíope, e foi criticado por Miriã e Arão (Números 12: 1).

Tamar a negra da linhagem de Cristo - Tamar aparece pela primeira vez na Bíblia depois que Judá vai para Canaã. Então Tamar, a mulher Cananeia (Negra) fica grávida de Judá, e dá à luz aos gêmeos Zerá e Perez, formando a Tribo de Judá, antepassados do rei Davi e de José e Maria, os pais terreno de Jesus. Gênesis 38.

Maria a mãe de Jesus - Maria, é detalhada no primeiro capítulo de Mateus, mas é contruída em base à genealogia de José, que descende de Davi, como também sublinha Lucas 1,27. De Maria apenas se diz que era uma virgem, esposa de José e não se fala nada dos seus pais e nem da sua vida antes da anunciação.

"Ao mesmo tempo é muito comum ouvirmos que os pais de Maria são Joaquim e Ana. Essa informação, porém é extra-bíblica, provém dos escritos apócrifos". 

Há muitos apócrifos que falam da vida de Maria, do seu nascimento. Entre eles está o Proto Evangelho de Tiago, que conta como Joaquim e Ana, casal cheio de fé, não tinha filhos e como sofriam por causa disso. Ambos intercedem a Deus, que lhes dá uma filha, Maria, que eles, em sinal de gratidão, consagram a criança a Deus e quando completou dois anos foi entregue aos sacerdotes do Templo. Depois foi entregue como esposa a José.

Os antepassados de Maria na genealogia de Jesus Cristo são Tamar, Raabe, Rute, Bateseba (Mateus 1:1-16). As primeiras senhoras mencionadas eram de descendência de
Cam. Assim, Maria pode ser descendentes dos povos semitas e de Cam. Deus enviou Maria e José para o Egito com o propósito de esconder omenino Jesus do rei Herodes (Mateus 2:13). Eles não poderiam se esconder no norte da África se fosse uma família branca.

Jesus nasceu em Africa - Além da sua linhagem negra, Jesus nasceu em África. Os Evangelhos dizem de maneira explícita que Jesus nasceu em “Belém de Judá, no tempo do rei Herodes” (Mt 2,1 cfr. 2, 5.6.8.16), (Lc 2, 4.15), (Jo 7, 40-43). Nos tempos antigos, incluindo o tempo de Jesus, Belém de Judá era considerado parte de África. Até a construção do Canal de Suez, Israel fazia parte da África. Esta visão haveria de perdurar até 1859, quando o engenheiro francês Ferdinand de Lesseps pôs-se a construir o Canal de Suez. A partir daí, foi a África separada não somente geográfica, mas sobretudo histórica, cultural e antropologicamente do que hoje chamamos Oriente Médio. Aquela milenar extensão da África passa a figurar nos mapas como se fora Ásia.Além disso, também entra em questão a própria história de Jesus: sendo que ele foi enviado a Maria e José, denominados os "Negros no norte da África (Mateus 2:13)", que esconderiam o filho entre ouros negros e árabes. Portanto, era muito difícil que um loiro de olhos azuis passasse desapercebido entre egípcios, romanos, árabes e judeus, que têm uma diferença étnica bastante perceptível.

Se nada disso te convenceu, fica essa escritura (do Apocalipse 1:15), "com seu cabelo lanoso, sendo comparado à lã do cordeiro, e os pés com a cor de bronze queimado", e (Apocalise 1:15) "uma aparência semelhante à pedra de jaspe e de sardônio" (Apocalipse 4:3), o que deixa bastante claro a cor de sua pele.

Simão o Negro - Os evangelhos são unânimes em afirmar que um certo Simão de Cirene ajudou Jesus a carregar a cruz, a caminho do Calvário (Mt 27.32; Mc 15.21; Lc 23. 26). Cirene fica no norte da África. Em Atos 13:1 ele reaparece como, Simeão Níger,Simão o negro, ele é um dos pastores da igreja, é o homem que impõe as mãos sobre Paulo para enviá-lo ao campo missionário. A Bíblia fala dos seus filhos e esposa como pessoas importantes na Igreja.

Sofonias o profeta negro -O capítulo 1 do livro de Sofonias o identifica pela sua família: “Palavra do SENHOR, que veio a Sofonias, filho de Cusi, filho de Gedalias, filho de Amarias, filho de Ezequias, nos dias de Josias, filho de Amom, rei de Judá.” Sofonias foi filho de um homem chamado Cusi; esse nome – Cush, em hebraico – significa Etiópia, e Etiópia significa “a terra do povo de rostos queimados”, ou seja: pessoas negras; baseando-se nisso, Sofonias foi um homem negro.

Moisés era um hebreu – Moisés tinha as características físicas dos egípcios  A Bíblia em várias ocasiões descreve os antigos hebreus como parecendo os egípcios. Em Gênesis capítulo 50 versículos 7-11, a escritura descreve os hebreus como parecido com os egípcios. Um exemplo bíblico aconteceu no enterro de Jacó (Israel) que morreu na terra do Egito, os hebreus e egípcios foram à terra de Canaã para enterrá-lo. Os cananeus disseram: “Grande luto para os egípcios.” Lembrando que no cortejo estava os hebreus e egípcios que vão enterrar um hebreu, e os cananeus identificaram os dois como egípcios. Se os hebreus fosse um povo de pele branca os cananeus teriam reconhecido os dois, dizendo: “Este é um grande
luto dos egípcios e hebreus.”

 Israelita da tribo de Levi (Êxodo 2: 1-3). Ele passou 40 anos no Egito (Atos 7:23), era o neto do Faraó (Êxodo 2: 6, 10). Moisés tinha as mesmas características físicas dos egípcios, ele foi criado na casa de Faraó, como o neto de Faraó, quando o faraó ordenou que todas as crianças, do sexo masculino, hebraicas fossem mortas ao nascer. Se os israelitas eram um povo de pele branca, como poderia Moisés hebraico sobreviver secretamente na casa de Faraó, entre egípcios de pele negra durante 40 anos, e não ser notado. As filhas do sacerdote de Midiã também descreveram Moisés ao pai como um “egípcio”.

Adão o primeiro homem - No hebraico, Adão é definido com o solo marrom-avermelhado, pele escura como uma sombra. O Jardim do Éden foi descrito em Gênesis como tendo sido perto de um sistema de quatro rio na região das terras de Cush, Havilá, Assur, que hoje seria perto das fronteiras do Leste do Sudão, Etiópia e Eritréia. O berço da humanidade foi confirmado quando os mais antigos restos humanos foram encontrados na Etiópia em 1974. Ciência e Bíblia confirmam: o berço da humanidade foi na África Oriental.


Um afro abraço.
Claudia Vitalino.


fonte:https://br.pinterest.com/rawnoire/bible/:http://realhistoryww.com/world_history/ancient/Misc/Jesus/Jesus.htm

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Nossa historia:Dinastia salomônica dos Imperadores da Etiópia.

Outro dia, lendo as insultuosas manifestações de governantes e da imprensa italiana, ambos propriedade do
peripatético, um perigoso irresponsável, o fascista Silvio Berlusconi, sobre uma decisão soberana do presidente do Brasil (o caso Battisti), acabamos lembrando da Etiópia.

Ainda: lendo sobre a posição do Itamarati, a favor do sigilo eterno de documentos, ficamos muito curiosos a respeito do voto brasileiro no infame incidente de 1936, bem como sobre a atuação da diplomacia brasileira nessa e em outras ocasiões.

A Etiópia - significado de "terra de paz superior", segundo especialistas - é o sítio que possui os traços mais antigos da humanidade, bem como um dos países mais velhos do mundo. Sua dinastia remonta a dez séculos antes de Cristo.

A Igreja Ortodoxa Etíope (nada tem a ver com a Católica, é independente, mas reconhece a ascendência da Igreja Ortodoxa Copta, estabelecida por São Marcos no Egito, cujo chefe é o Papa de Alexandria, sucessor de São Marcos) afirma que na igreja Nossa Senhora Maria de Zion, em Aksum, repousa a Arca da Aliança mencionada na Bíblia, dentro da qual estariam as Tábuas da Lei onde estão inscritos os Dez Mandamentos.

Segundo descobertas e estudos recentes, é o berço do homo sapiens. 
Até 1935 nunca fora dominada por uma potência externa. Todos os seus vizinhos de fronteira já haviam se transformado, a ferro e fogo, em colônias inglesas, francesas e italianas.

Tendo como pretexto um mero tiroteio na divisa com uma colônia italiana (Eritréia), em 3 de outubro de 1935 os exércitos de Mussolini iniciaram a invasão. Houve tenaz resistência dos etíopes, enfrentando as armas modernas do invasor. Um morticínio terrível, para os africanos: pedras e lanças contra metralhadoras, tanques, canhões e gás venenoso.

A Etiópia valeu-se da Liga das Nações, que decretou sanções ao invasor. Sanções de mentira: em 5 de maio de 1936 houve a ocupação de Adis Abeba. O fracasso da Liga em impedir a agressão foi um sinal do que viria em 1939: a pior guerra de todos os tempos, a segunda mundial.

Em junho de 1936 o imperador Hailé Sélassie (nascido com o nome de Tafari Makonnen, em 23/7/1892,
morto em 27/8/1975), novamente recorreu à Liga das Nações, se fazendo presente na reunião em Genebra, onde proferiu o seu mais famoso discurso.

A LINHAGEM SALOMÔNICA NA ETIÓPIA.- E apoderar-se-á dos tesouros de ouro e de prata e de todas as coisas preciosas do Egito; e os líbios e os etíopes o seguirão. Daniel 11:43
Porventura não foram os etíopes e os líbios um grande exército, com muitíssimos carros e cavaleiros? Confiando tu, porém, no Senhor, ele os entregou nas tuas mãos. 2 Crônicas 16:8
Menelik, o primeiro Imperador da Etiópia, tradicionalmente acredita-se ser o filho do rei Salomão de Israel e Makeda, aRainha de Sabá. Sua história está no livro etíope Kebra Nagast.

Makeda, rainha da Etiópia1 há seis anos,2 viajou para Jerusalém para conhecer a sabedoria de Salomão.3 Salomão usou um truque, fez a rainha, que era virgem, ficar com sede, e trocar sua virgindade por água.2
Nove meses e cinco dias após a Rainha ter se separado de Salomão, na terra de BÂLÂ ZADÎSÂRĔYÂ, a rainha deu à luz um menino, que foi chamado de BAYNA-LEḤKEM.4 De acordo com lendas etíopes ele nasceu na província de Hamasienem Eritrea.

Aos doze anos de idade, o menino quis saber quem era seu pai, e ouviu que era o rei Salomão, mas a rainha disse que ela era seu pai e sua mãe, mas depois que ele perguntou pela terceira vez, ela disse que seu pai era de um país distante.4Aos vinte e dois anos de idade, resolveu visitar seu pai.

Quando ele chegou a Israel, foi recebido como tendo vindo dos domínios de Candace e da Etiópia, e foi reconhecido como filho de Salomão; 5 Salomão pretendia, com mil mulheres diferentes, ter mil filhos homens, para conquistar as terras de todos seus inimigos, mas só teve três filhos homens, dentre os quais o mais velho, o filho da Rainha da Etiópia, era o filho da profecia.5 Reoboão tinha então sete anos de idade e era o único filho homem que estava com Salomão.

Tradicionalmente se credita que trouxe a Arca da Aliança para a Etiópia, quando ao alcançar maioridade, fora visitarJerusalém a fim de conhecer o pai.

De acordo com o Kebra Nagast, o rei Salomão tinha a intenção de enviar para o filho alguns nobres sacerdotes do templo e guerreiros junto com Menelik no retorno dele para o reino de Sabá. É suposto que ele tenha tido uma réplica da Arca, mas conta a lenda que o filho de Zadok o sumo-sacerdote trocou a réplica secretamente com a real Arca, permanecendo na Etiópia até os dias de hoje, mais exatamente na antiga cidade de Axum.

Na morte da Rainha Makeda, Menelik assumiu o trono com o título “novo de Imperador” e “Rei dos Reis de Etiópia”. Ele fundou a “Dinastia Salomonica” da Etiópia que governou o país com poucas interrupções durante aproximadamente três mil anos ou 225 gerações, depois terminadas com o Imperador Haile Selassie em 1974.

O LENDÁRIO REI PRESTES JOÃO- Com a expansão do império de Gêngis Khan no século XII, e com a intensificação dos contatos entre Ocidente e Oriente, monges e mercadores cristãos constataram que o “verdadeiro” reino de Preste João não ficava na Ásia Central, nem no Extremo Oriente, mas na Índianota ,
onde a cristandade europeia passou a procurá-lo. Era a época das antigas comunidades de cristãos indianos, chamados “seguidores de São Tomé”.2 .

A “hipótese indiana” era respaldada por viajantes que afirmavam ter encontrado um soberano cristão no norte da Índia, na corte de Tamerlão. A existência de um império etíope já era conhecida pelos ocidentais graças aos monges africanos que visitavam Jerusalém e às cartas enviadas ao papa “negus”, sacerdote etíope e soberano daquele reino. Esse império também é citado por frei Jordano de Sévérac, bispo da costa do Malabar. Foi quando a ideia de que a Etiópia poderia ser o reino do misterioso Preste João, realçada depois que uma embaixada enviada pelo “negusa nagast” (negus da Etiópia) chegou à corte papal de Avinhão, ganhou força (1310). Esse movimento reforçou a hipótese da existência, “em algum lugar do nordeste da África”, de um reino em guerra com os muçulmanos. Os europeus queriam se aliar a Preste João para enfrentar os muçulmanos. Havia, porém, dificuldade de localizar o misterioso rei e sacerdote.2 .
Os navegadores portugueses, ao desembarcarem na costa da África (1486), em busca de uma rota para as Índias, ouviram dos “notáveis” do reino do Benin que o grande rei “Ogané”, a quem deviam lealdade, reinava a “vinte luas de marcha para o norte, ao sul do Egito”. Ao ouvir esse relato, o rei João II de Portugal enviou dois homens ao rei Ogané, certo de que ele era Preste João.2 .

Os lusos, Pero de Covilhã e Afonso de Paiva, junto com uma soma em dinheiro levaram um planisfério para marcarem o local exato do reino misterioso. Em 7 de março de 1487 partiram. Somente Covilhã chegou ao destino. Desembarcou emZeila, antigo porto etíope, seguindo pelo interior até Gondar. Covilhã foi recebido pelo “negus” Alexandre, Leão de Judá, “Rei dos Reis”.

Assim como Preste João, o imperador etíope governava um reino que no passado havia dominado a costa oriental da África e que, com a expansão do Islã, fora empurrado para o interior do continente e resistiram durante séculos aos ataques muçulmanos. Com a morte do “negus” Alexandre, o seu filho e sucessor, Naod, convidou Covilhã a permanecer no reino.3 Covilhã aceitou a proposta de receber morada e esposa etíope, com quem teve filhos. Vinte anos depois (1520), uma nova embaixada portuguesa foi enviada à Etiópia. Na partida, Covilhã se recusou a seguí-los e permaneceu até a morte, segundo relato de um dos integrantes dessa nova embaixada, o padre Francisco Álvares, em seu “Verdadeira informação das terras do Preste João das Índias”. Foi a partir daí (século XVI) que o lendário rei deu lugar a um soberano real, aliado aos portugueses na disputa travada com os muçulmanos pelo controle das rotas comerciais do mar Vermelho.
A aliança, entretanto, era frágil. O exército do rei etíope era equipado com armas brancas. Já os muçulmanos possuíam arcabuzes e canhões fornecidos pelos turcos, que se aproximavam cada vez mais pelo mar Vermelho. Os portugueses tiveram dificuldade para barrar esse avanço. Os etíopes foram derrotados e obrigados a se refugiar nas montanhas. Ameaçados e sem recursos pedem ajuda aos portugueses que desembarcaram (1541) com uma tropa de 400 homens armados com canhões, comandados por Cristóvão da Gama. Os lusos vencem os muçulmanos, mas são derrotados quando sofrem contra ataque islâmico e perdem metade da tropa, incluindo aí o comandante. Os sobreviventes reuniram então os camponeses etíopes sob o comando do jovem “negus” Galawdewos (Cláudio) e saem vitoriosos sobre os muçulmanos em 21 de fevereiro de 1543.

Numa inversão da lenda, os europeus salvam o rei Preste João pondo um fim à busca mítica. Na questão da fé, a situação também se inverteu. A inquisição portuguesa enviou jesuítas à Etiópia para averiguar as práticas religiosas do Preste João e qualificou o monarca e seus seguidores de hereges. O “negus”, porém recusou a conversão ao catolicismo. Em 1634, os últimos jesuítas foram expulsos da Etiópia pondo fim a 140 anos de relação amigável entre o império etíope e Portugal.

Portanto, eis que eu estou contra ti, e contra os teus rios; e tornarei a terra do Egito deserta, em completa desolação, desde a torre de Syene até aos confins da Etiópia. Ezequiel 29:10
A espada virá ao Egito, e haverá grande dor na Etiópia, quando caírem os traspassados no Egito; e tomarão a sua multidão, e serão destruídos os seus fundamentos. Ezequiel 30:4

Naquele dia sairão mensageiros de diante de mim em navios, para espantarem a Etiópia descuidada; e haverá neles grandes dores, como no dia do Egito; pois, eis que já vem. Ezequiel 30:9
E, ouvindo Ebede-Meleque, o etíope, um eunuco que então estava na casa do rei, que tinham posto a Jeremias na cisterna (estava, porém, o rei assentado à porta de Benjamim), Jeremias 38:7
Porque eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador; dei o Egito por teu resgate, a Etiópia e a Seba em teu lugar. Isaías 43:3

Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal. Jeremias 13:23

Então disse o Senhor: Assim como o meu servo Isaías andou três anos nu e descalço, por sinal e prodígio sobre o Egito e sobre a Etiópia, Isaías 20:3

Assim o rei da Assíria levará em cativeiro os presos do Egito, e os exilados da Etiópia, tanto moços como velhos, nus e descalços, e com as nádegas descobertas, para vergonha do Egito. Isaías 20:4
Subi, ó cavalos, e estrondeai, ó carros, e saiam os valentes; os etíopes, e os do Líbano, que manejam o escudo, e os lídios, que manejam e entesam o arco. Jeremias 46:9

Então deu ordem o rei a Ebede-Meleque, o etíope, dizendo: Toma contigo daqui trinta homens, e tira a Jeremias, o profeta, da cisterna, antes que morra. Jeremias 38:10
E disse Ebede-Meleque, o etíope, a Jeremias: Põe agora estes trapos velhos e rotos, já apodrecidos, nas axilas, calçando as cordas. E Jeremias assim o fez. Jeremias 38:12
Não me sois, vós, ó filhos de Israel, como os filhos dos etíopes? diz o Senhor: Não fiz eu subir a Israel da terra do Egito, e aos filisteus de Caftor, e aos sírios de Quir? Amós 9:7

E há de ser que naquele dia o Senhor tornará a pôr a sua mão para adquirir outra vez o remanescente do seu povo, que for deixado, da Assíria, e do Egito, e de Patros, e da Etiópia, e de Elã, e de Sinar, e de Hamate, e das ilhas do mar. Isaías 11:11

'Vai, e fala a Ebede-Meleque, o etíope, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: Eis que eu trarei as minhas palavras sobre esta cidade para mal e não para bem; e cumprir-se-ão diante de ti naquele dia. Jeremias 39:16"

Assim diz o SENHOR: O trabalho do Egito, e o comércio dos etíopes e dos sabeus, homens de alta estatura, passarão para ti, e serão teus; irão atrás de ti, virão em grilhões, e diante de ti se prostrarão; far-te-ão as suas súplicas, dizendo: Deveras Deus está em ti, e não há nenhum outro deus. Isaías 45:14
E Asa, e o povo que estava com ele os perseguiram até Gerar, e caíram tantos dos etíopes, que já não havia neles resistência alguma; porque foram destruídos diante do Senhor, e diante do seu exército; e levaram dali mui grande despojo. 2 Crônicas 14:13
 E falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher cusita, com quem casara; porquanto tinha casado com uma mulher cusita. Números 12:1

Vi as tendas de Cusã em aflição; tremiam as cortinas da terra de Midiã. Habacuque 3:7
Então foram chamados os escrivães do rei, naquele mesmo tempo, no terceiro mês (que é o mês de Sivã),
aos vinte e três dias; e se escreveu conforme a tudo quanto ordenou Mardoqueu aos judeus, como também aos sátrapas, e aos governadores, e aos líderes das províncias, que se estendem da Úndia até Etiópia, cento e vinte e sete províncias, a cada província segundo o seu modo de escrever, e a cada povo conforme a sua língua; como também aos judeus segundo o seu modo de escrever, e conforme a sua língua. Ester 8:9
E disse Joabe a Cusi: Vai tu, e dize ao rei o que viste. E Cusi se inclinou a Joabe, e correu. 2 Samuel 18:21

Na mitologia grega, Mêmnon (em grego: Μέμνων) era um rei etíope e filho deTitono e Eos. Ajudou Príamo, rei troiano, a combater os gregos. Durante a guerrade Troia, levou um exército para defesa de Troia e foi morto por Aquiles em retaliação pela morte de Antíloco. A morte de Mêmnon ecoa a morte de Heitor, outro defensor de Troia que Aquiles também matou em vingança pela companheiro caído. As lágrimas de Eos pela morte do filho ainda são vistas no orvalho da manhã.

Um afro abraço
Claudia Vitalino

Fontes:Wikipédia. Kebra Negast. Disponível em:https://pt.wikipedia.org/wiki/Kebra_Negast. Acesso em: 31 ago. 2015.Wikipédia. Beth Israel. Disponível em: https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=https://en.wikipedia.org/wiki/Beta_Israel&prev=search. Acesso em: 31 ago. 2015.

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