UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Carnaval RIO 2016:6 escolas de samba que retratam Orixás e entidades

Tolerância só no Carnaval? Escolas de Samba e as referências afro-religiosas...
Todo ano é a mesma coisa. Pipocam episódios de intolerância religiosa contra cultos e religiões brasileiras com influências africanas e indígenas – como a Umbanda, por exemplo   
– e, quando chega o último dia do ano, lá vão milhares e milhares de pessoas vestidas de branco, por todas as praias do Brasil, com flores, frutas, barquinhos e mais um monte de badulaques fazer oferendas de Ano Novo. Isso quando não vão apenas para ‘pular as sete ondinhas’, num exercício mecânico e desprovido de maiores conhecimentos ritualísticos.

Parece que foi com o enredo Festa dos deuses afro-brasileiros, da escola de samba Em Cima da Hora, em 1974, que os enredos sobre orixás e outras divindades africanas viraram moda no carnaval carioca. Tão em moda que, de lá pra cá, no Rio e em São Paulo, não há ano em que não se volte ao tema, às vezes em doses triplas. Mas a história vem de mais longe.

 -O Carnaval, a festa popular mais famosa do Brasil, período de muita alegria e visibilidade para o país. E é neste período que boa parte das Escolas de Samba, Blocos e Grupos Carnavalescos bebem à vontade na inesgotável fonte da cultura brasileira e nas influências africanas e indígenas que permeiam toda a nossa história.
De novo, muitos dos que atiram as primeiras pedras, se ‘esquecem’ da intolerância e saem cantando e repetindo sambas-enredo cheios de referências a Guias, Orixás e tradições religiosas que, no restante do ano, são abominados.

Os quase 516 anos da nação consigamos compreender claramente o processo de formação da cabeça dos brasileiros: gente miscigenada, cordial e pacífica que, ao mesmo tempo, não valoriza suas origens étnicas, é cada vez mais irritada e, infelizmente, cada vez mais violenta com os ‘diferentes’.

A intolerância religiosa – por mais que o termo não esteja correto, pois o que se busca é respeito e não apenas a tolerância – persiste. Segundo o escritor e antropólogo Roberto da Matta, em recente entrevista ao programa Canal Livre, da Band, “o que nos deixa angustiados não é a igualdade e não a desigualdade”. Basta observarmos o comportamento do nosso povo nas filas (seja lá onde for), no trânsito, na política, enfim, em todo e qualquer espaço público que requeira educação e civilidade para o benefício de muitos possa estar acima do privilégio de poucos.


05 fevereiro, 2016
Por: Umbanda Eu Curto
CATEGOR
Grupo Especial
Desfile: 07/02 e 08/02

4. G.R.E.S. ACADÊMICOS DO SALGUEIRO
Enredo: A ópera dos Malandros

A Acadêmicos do Salgueiro já causou polêmica antes mesmo de desfilar. O ensaio técnico da escola trouxe com tudo o enredo A Ópera dos malandros, inspirado na obra de Chico Buarque. Durante o ensaio a rainha da bateria, Viviane Araújo surgiu vestida de Maria Padilha, o que resultou em ataques intolerantes a rede social da atriz. Salgueiro, aguardamos ansiosamente pelo desfile oficial!

“EU VOU POR BECOS E VIELAS
CHEGOU O BARÃO DAS FAVELAS
QUEM ME PROTEGE NÃO DORME
MEU SANTO É FORTE, É QUEM ME GUIA
NA LUTA DE CADA MANHÃ
UM MENSAGEIRO DA PAZ
DE LARÔS E SARAVÁS”

5. G.R.E.S. UNIDOS DO VIRADOURO

Enredo: O alabê de Jerusalém, a saga de Ogundana
A Viradouro traduz no enredo – que fala sobre um africano que decidiu virar discípulo de Jesus -o forte sincretismo religioso existente no país. Nos versos a escola canta sobre Xangô, Oxum.. e ainda chama atenção para a intolerância religiosa, inspirado-se na ópera Alabê de Jerusalém – Os intolerantes, de Altay Veloso. Esse enredo vale a pena conferir!

“E CHORA COM ESSA GUERRA SANTA
QUE SANGRA ESSE PLANETA AZUL
Ó MEU BRASIL, CUIDADO COM A INTOLERÂNCIA
TU ÉS A PÁTRIA DA ESPERANÇA
À LUZ DO CRUZEIRO DO SUL”


SEX, 05 FEV DE 2016

Série A Grupo de Acesso – escolas que disputam vaga para desfilar no Grupo Especial no carnaval do próximo ano.

Desfiles: 05/02 e 06/02

Total: 14 escolas

1. G.R.E.S. ALEGRIA DA ZONA SULEnredo: Ogum
A escola vai homenagear a figura de um dos orixás do panteão africano, que também é sincretizado com São Jorge em algumas regiões do país. Guerreiro, corajoso, forte e valente, Ogum, é considerado o orixá da metalurgia, da agricultura e da tecnologia.

“QUANDO TOCA O ADARRUM
É BATUQUE PRA OGUM… AXÉ (AXÉ, AXÉ)
PATAKORI GUERREIRO, NOS ABENÇOAI
OGUNHÊ, MEU PAI”

2. G.R.E.S. RENASCER JACAREPAGUÁ

Enredo: Ibejís – Nas brincadeiras de Criança: os Orixás que viraram Santos no Brasil
A renascer traz a figura dos Ibejís (orixás-crianças), protetores das crianças e sincretizados com os santos católicos Cosme e Damião.

“QUEM MANDA HOJE É BEIJADA,
AMOR QUE TRAZ PROTEÇÃO
SALVE COSME E DAMIÃO”


3. G.R.E.S. ACADÊMICOS DO CUBANGO

Enredo: Um banho de mar à fantasia
Com o tema voltado para preservação das águas, a Cubango mistura consciência ecológica com a mitologia dos Orixás. O enredo fala sobre a “lavagem do Bonfim”, Yemanjá, Oxum dentre outros Orixás.

“POR ESSAS ONDAS MORA IEMANJÁ

DEPOIS DOS OCEANOS, OLOKUM
EM ÁGUAS CLARAS DE PAI OXALÁ
DESÁGUA MAMÃE OXUM

6. G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA

Enredo: Maria Bethânia – A Menina dos olhos de Oyá
A homenagem da verde e rosa não é especificamente para um dos orixás. Mas, quando fala-se de Maria Bethânia impossível não relacioná-la a cultura que a cantora carrega tão talentosamente nos versos de suas músicas. Além do que, o enredo está cheio de referências as divindades!


“OYÁ… ENTREGO A TI A MINHA FÉ
O ABEBÉ REDUZ AXÉ
FIZ UM PEDIDO PRO BONFIM ABENÇOAR
OXALÁ, XEU ÊPA BABÁ!
OH, MINHA SANTA, ME PROTEJA, ME ALUMIA”


Que o Carnaval seja uma festa de alegria, mas com respeito ao próximo e a todos. Que respeitemos, desde já, as opiniões e crenças de todos, e assim possamos criar um círculo virtuoso, onde um católico ou evangélico, por exemplo, cante um samba-enredo em homenagem a um Guia ou aos Orixás e, no resto do ano, respeite os demais que
escolheram a Umbanda ou o Candomblé como a qualquer outra crença religiosa a serem seguidas.

Um afro abraço.

fonte:https://umbandaead.wordpress.com

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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

‘Caráter não se mede por sexualidade’, diz transexual Silvânia Santos conselheira tutelar...

Silvânia Santos foi eleita pela população para ocupar o cargo público.
Trabalho é garantir direitos de crianças e adolescentes em situação vulnerável

por Marina Fontenele
Trabalhar na defesa dos direitos e em busca de dias melhores para crianças e adolescentes. Esse é o objetivo da conselheira tutelar Silvânia Santos de Sousa, 26 anos,

transexual eleita para a função com quase 400 votos da população da Zona Norte de Aracaju. Membro do Grupo Homossexual do Bugio (GHB) e ligada a movimentos transgêneros, ela afirma que é a primeira transexual do Brasil a assumir, de forma titular, ao cargo de conselheira tutelar.

“Competência e caráter não se medem pela sexualidade. Um amigo me disse que eu tinha tudo para dar errado diante do preconceito que ainda existe a sociedade: nasci negra, na periferia, deficiente e transexual. Mas eu não quis me vitimar, pelo contrário, eu acreditei nos meus sonhos e quis mostrar que eu sou capaz de ajudar as pessoas e trabalhar pela comunidade”, afirma Silvânia, que assumiu a função pública neste mês.

Antes de a população elegê-la conselheira, Silvânia já
fazia um trabalho voluntário de aula de dança para crianças do bairro Bugio. “Aquilo me realizava então pensei que eu poderia chegar a mais crianças e adolescentes que merecem atenção. Tive medo no início, mas a comunidade me apoiou e me confiou essa missão”, lembra. As aulas eram mantidas através de doações de comerciantes da região. Nessa época, Silvânia era funcionária da recepção de uma empresa e ainda não tinha vestia de forma feminina.

“Os principais problemas que eu e meus colegas de trabalho vamos combater são evasão escolar e hospitalar, negligência, violência física, psicológica e sexual, entre outros. Nosso dever é garantir os direitos de crianças e adolescentes que estão em situação de vulnerabilidade social, em risco de violência ou opressão. Vamos conversar com a família, aconselhar para que situações como estas não aconteçam mais”, destaca.

Para a transexual, a experiência de quem vivenciou algumas dessas dificuldades aguçou a sensibilidade. “Hoje minha família me apoia, mas já passei por humilhação na rua e ouvi muitos comentários maldosos até assumir de vez a minha felicidade porque ser transexual não é só uma mudança de visual e de órgão sexual, mas sim a adequação à minha identidade”.

De acordo com a conselheira municipal, o racismo acontece fora de casa e a vítima geralmente tem o apoio da família, que acolhe e encoraja. “Já o preconceito sexual, muitas vezes já começa dentro do núcleo familiar quando a criança apresenta trejeitos de homossexual e nesses casos a pessoa fica sem chão, sem ter a quem recorrer. Acaba que a casa se torna um ‘terreno inimigo’, é preciso reverter esse tipo de situação”, analisa.

Silvânia acredita que a evasão escolar é outro problema grave, que precisa do apoio de todos no combate. “A evasão escolar de homossexuais é uma coisa que preocupa muito também porque isso acaba reduzindo as futuras possibilidades de trabalho. E, menos oportunidades podem acabar impulsionando a prostituição e a entrada no submundo da marginalidade. Todos têm o direito à educação e possuem capacidade de realizar seus
sonhos”, finaliza. Para o futuro, ela planeja cursar faculdade de Direito e continuar com o trabalho na comunidade.

Tem negro no arco - íris, sim!
Respeitosamente,
Marisa Justino
Unegro / RJ
Coordenação Estadual do Coletivo LGBT

FONTE eFoto: Marina Fontenele/G1)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Semba ou Samba: Unindo Brasileiros e Africanos...

A cultura brasileira e, logicamente, a rica música que se faz e consome no país estruturam-se a partir de duas básicas matrizes africanas, provenientes das civilizações conguesa e iorubana. A primeira sustenta a espinha dorsal dessa música, que tem no samba sua face mais exposta. A segunda molda, principalmente, a música religiosa afro-brasileira e os estilos dela decorrentes. Entretanto, embora de africanidade tão expressiva, a música popular brasileira, hoje, ao contrário da afro-cubana, por exemplo, distancia-se cada vez mais dessas matrizes. E caminha para uma globalização tristemente enfraquecedora.

"Semba é um dos estilos musicais angolanos mais populares. A palavra semba significa umbigada em kimbundo."


O cantor Carlos Burity defende que a estrutura mais antiga do semba situa-se na masemba (umbigada), uma dança angolana do interior caracterizada por movimentos que implicam o encontro do corpo do homem com o da mulher: o cavalheiro segura a senhora pela cintura e puxa-a para si provocando um choque entre os dois (semba).

Como explica que o semba (género musical), actual é resultado de um processo complexo de fusão e transposição, sobretudo da guitarra, de segmentos rítmicos diversos, assentes fundamentalmente na percussão, o elemento base das culturas africanas.

O Samba que veio do Semba é um gênero musical, que deriva de um tipo de dança, de raízes

africanas, surgido no Brasil e considerado uma das principais manifestações culturais populares brasileiras.





Das congadas ao samba: a matriz congo
Já nos primeiros anos da colonização, as ruas das principais cidades brasileiras assistiam às festas de coroação dos “reis do Congo”, personagens que projetavam simbolicamente em nossa terra a autoridade dos muene-e-Kongo, com quem os exploradores quatrocentistas portugueses trocaram credenciais em suas primeiras expedições à África subsaariana.

Esses festejos, realçados por muita música e dança, seriam não só uma recriação das celebrações que marcavam a entronização dos reis na África como uma sobrevivência do costume dos potentados bantos de animarem suas excursões e visitas diplomáticas com danças e cânticos festivos, em séqüito aparatoso. E os nomes dos personagens, bem como os textos das cantigas entoadas nos autos dramáticos em que esses cortejos culminavam, eram permeados de termos e expressões originadas nos idiomas quicongo e quimbundo.

Esses cortejos de “reis do Congo”, na forma de congadas, congados ou cucumbis (do quimbundo kikumbi, festa ligada aos ritos de passagem para a puberdade), influenciados pela espetaculosidade das procissões católicas do Brasil colonial e imperial, constituíram,

certamente, a velocidade inicial dos maracatus, dos ranchos de reis (depois carnavalescos) e das escolas de samba – que nasceram para legitimar o gênero que lhes forneceu a essência.

Sobre as origens africanas do samba veja-se que, no início do século XX, a partir da Bahia, circulava uma lenda, gostosamente narrada pelo cronista Francisco Guimarães, o Vagalume, no clássico Na roda do samba, de 1933 , segundo a qual o vocábulo teria nascido de dois verbos da língua iorubá:san, pagar, e gbà, receber. Depois de Vagalume, muito se tentou explicar a origem da palavra, alguém até lhe atribuindo uma estranha procedência indígena. Mas o vocábulo é, sem dúvida, africaníssimo. E não iorubano, mas legitimamente banto.

Samba, entre os quiocos (chokwe) de Angola, é verbo que significa “cabriolar, brincar, divertir-se como cabrito”. Entre os bacongos angolanos e congueses o vocábulo designa “uma espécie de dança em que um dançarino bate contra o peito do outro”. E essas duas formas se originam da raiz multilinguísticasemba, rejeitar, separar, que deu origem ao quimbundo di-semba, umbigada – elemento coreográfico fundamental do samba rural, em seu amplo leque de variantes, que inclui, entre outras formas, batuque, baiano, coco, calango, lundu, jongo etc

O tempo passa mais o samba não deixa dúvidas da relação entre o Brasil e a África. Desde sua origem até hoje, brasileiros e africanos procuram enfatizar a semelhança que os dois têm quando o assunto é samba. Os dois continentes irmãos trabalharam juntos para terem hoje, em suas culturas, um dos gêneros mais apreciados pelo mundo, transformando o samba em um símbolo da cultura afro-brasileira.

Afoxés e blocos afro: a matriz iorubá

As condições históricas da vinda maciça de iorubanos para o Brasil, do fim do século XVIII aos primeiros anos da centúria seguinte, fizeram com que a língua desse povo se transformasse numa espécie de língua geral dos africanos na Bahia e seus costumes gozassem de franca hegemonia. Esse fato, aliado, posteriormente, ao trabalho de reorganização das comunidades jeje-nagôs empreendido principalmente pela ialorixá Mãe Aninha, Obá Biyi (1869-1938) e pelo babalaô Martiniano do Bonfim, Aji Mudá (1858-1943), na Bahia, em Recife e no Rio de Janeiro, fez com que os iorubás passassem a ser vistos como a principal referência no processo civilizatório da diáspora africana no Brasil. Mas mesmo antes
das ações concretas daquelas duas grandes lideranças, as tradições iorubanas já faziam presença na música. Tanto assim que, a partir do carnaval de 1897, saía às ruas de Salvador, encenando, com canto, danças e alegorias, temas da tradição nagô, o clube Pândegos d’África, considerado o primeiro afoxé baiano.

Música popular e religiões africanas
A origem banta (bantu) do samba, como vimos, já está devidamente comprovada. Da mesma forma, é também banta a origem dos vocábulos “umbanda”, “macumba” “mandinga” etc, pertencentes ao universo dos cultos bantos do Brasil. Antes, porém, de entrarmos no cerne do nosso objetivo, façamos o seguinte esclarecimento.

O registro mais antigo que se conhece de cultos bantos em nosso país é o da cabula, denunciado numa pastoral do bispo D. João Corrêa Nery no Espírito Santo, no fim do século retrasado. Congregando, entre 1888 e 1900, mais de 8 mil pessoas, a comunidade dos

cabulistas, entretanto, e certamente também em função da repressão, não dispunha de templo organizado em espaço físico exclusivo. Suas reuniões de culto eram secretas, realizando-se ora em casa de um adepto ora no meio da mata, mas com práticas, vestimentas e paramentos – segundo o famoso relato do bispo Nery, divulgado por Nina Rodrigues.

Considerado uma manifestação popular africana, o samba é estimado como um ritmo urbano característico do Rio de Janeiro, cidade capital do Brasil colônia. As primeiras canções do gênero foram associadas ao Carnaval, elas eram marchinhas arranjadas por compositores de peso, como Heitor Prazeres, Pixinguinha, João da Baiana, que compunham sambas-maxixe, e como Chiquinha Gonzaga, que marcou a história da música, com seus hinos carnavalescos como o inesquecível “Ô Abre Alas”. As marchinhas inicialmente eram criadas por esses reconhecidos compositores, que eram remunerados pelas escolas de samba. Ao longo do tempo, elas foram substituídas pelos sambas-enredo.

- Mais tarde, o gênero ganhou estruturas modernizadas; sendo dois grupos fundamentais para essa nova “cara” que o samba estava ganhando: os grupos carnavalescos dos bairros Estácio de Sá e os do bairro Osvaldo Cruz, com compositores dos morros da Mangueira, Salgueiro e São Carlos.

Em razão das deficiências imobiliárias, as pessoas com baixa renda passaram a se deslocar para os morros do Rio de Janeiro, O samba acompanhou o processo e dessa nova estrutura social surgiram novos talentos musicais. A consolidação do gênero vem com o surgimento das “tias baianas”, peças fundamentais na composição do samba urbano. Os instrumentos

que formaram a base e foram essenciais para a composição do samba foram os de percussão, como pandeiros e chocalhos. Ao passar dos anos, outros instrumentos ganharam espaço, como cavaquinho e cuíca. Além disso, para que as escolas realizassem seus desfiles na passarela do samba com o tempo determinado pelo regulamento, um novo formato foi introduzido – o ritmo mais acelerado, aquele que hoje deixa qualquer um com vontade de dançar.

A África distante, cada vez mais
A presença africana na música brasileira, pelo menos em referências expressas, vai se tornando cada vez mais rarefeita. Aparece, via Jamaica, no carnaval dos blocos afro baianos e nos sambas-enredo das escolas cariocas e paulistanas – especialmente nas homenagens a divindades. Mas nada de modo tão intenso como ocorre na música que se faz em Cuba e em outros países do Caribe.

Mesmo com a explosão comercial da chamada salsa, a partir de Porto Rico e via Miami, na música afro-caribenha de hoje é raro um disco que não contenha pelo menos uma cantiga inspirada em temas da religiosidade africana e interpretada com fervor apaixonado. Tito Puente, Mongo Santamaría, Célia Cruz, Rubén Bladez e muitos outros são exemplos fortes, o mesmo não acontecendo no Brasil, pelo menos na música mais largamente consumida.

Finalizando:

Acreditamos que a música popular brasileira, de raízes tão acentuadamente africanas, seja vítima de um processo de desafricanização ainda em curso. Senão, vejamos. Quando a bossa-nova resolveu simplificar a complexa polirritmia do samba e restringir sua percussão ao estritamente necessário, não estaria embutido nesse gesto, tido apenas como estético
, uma intenção desafricanizadora? E quando a indústria fonográfica procura modernizar os ritmos afro-nordestinos (de maracatu para mangue-beat, por exemplo), não estará querendo fazer deles menos “boçais” e mais “ladinos”, pela absorção de conteúdos do pop internacional?
... Bem esta aberto o debate.

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

fote:www.snh2013.anpuh.org/www.arte.seed.pr.gov.br/

sábado, 30 de janeiro de 2016

Índios e Negros se Unem no Amazonas Contra o Racismo...

A região Amazônica apresenta peculiaridades populacionais e geográficas / ambientais que a tornam diferente das demais regiões do país.
Em 1865 o conhecido zoólogo e geólogo do século XIX Louis Agassiz veio para o Brasil comandando a Expedição Thayer (apenas para esclarecer, Agassiz era um convicto racialista e racista que defendia as ideias do que seria conhecido por Eugenia, e seus registros da população negra/miscigenada tinham como intenção corroborar com suas teorias racistas), porém o registro produzido pelo fotógrafo oficial da expedição quando da passagem por Manaus, hoje tem um efeito positivo, ajudar a desconstruir a falaciosa ideia de que "na Amazônia a escravidão negra e a notada presença populacional afro, não existiram ou foram ínfimas", abaixo fotos feitas na época com parte dessa população invisibilisada pelo senso comum:

o ponto de vista histórico, a presença negra no estado também é evidenciada, o Amazonas teve aporte de escravos oriundos do Pará e Maranhão, verificável em documentos e relatos de época, bem como em consequências culturais no estado como o tambor de mina e o boi-bumbá , o Amazonas foi o segundo estado do país a abolir a escravidão (4 anos antes da lei Áurea de 1888) após uma campanha abolicionista de 16 anos largamente documentada, teve a AFRICAN HOUSE e no pós-abolição conhecidos “bairros negros” como a Vila São José (onde hoje é a praça da saudade) , seringal mirím , a tradicional praça 14 e o Zumbi dos Palmares, teve também o primeiro governador Afro-descendente do Brasil (Eduardo Ribeiro) em fins do séc. XIX, presença histórica de negros barbadianos e seus descendentes. Recentemente começaram a ser mapeados remanescentes de quilombos em áreas no interior (Manaquiri, Novo Airão, Rio Marau (Maués)

A presença negra na cultura do Amazonas apesar de costumeiramente negada é muito perceptível , basta observar por exemplo o enorme consumo de vatapá (comida típica de origem africana) em toda e qualquer festa, a própria manifestação cultural símbolo e orgulho da identidade amazonense,o Boi-Bumbá (originado a partir do bumba-meu-boi ), foi introduzida em Parintins por um negro descendente de escravos maranhenses, Lindolfo Monteverde, no auto do boi-bumbá são os protagonistas principais (além do boi...) pai Francisco e mãe Catirina (ambos negros).

A escola de samba pioneira de Manaus nascida no reduto negro da praça 14 , a Vitória Régia é também um destes pontos de visibilidade. Juntamente com o conhecido "barranco" e imediações onde ainda hoje residem muitas famílias negras...

A contribuição de afro-descendentes naturais do Amazonas ou aqui radicados no campo da cultura por vezes tem atingido proporções nacionais como o famoso compositor Chico da Silva, ou mesmo internacionais como grupos de capoeiristas amazonenses dando aulas na Coréia, Europa e Jamaica, além de diversos grupos de samba e interpretes consagrados em

outros ritmos como Cileno no Reggae, Elisa Maia no "pop black" e a família Kingston nos tradicionais repertórios de festas de formatura... ou ainda de artistas fortemente influenciados pela cultura negra como a internacional Marcia Siqueira e diversas bandas de reggae e grupos de HIP-HOP.

Religiosidade
Há farta documentação sobre a presença de cultos afro em Manaus desde fins do séc. XIX e a presença de milhares de terreiros nos dias atuais (segundo estimativas da Confederação Amazonense de Religiões de Matriz Africana, mais de 4.000 terreiros). A presença da religiosidade Afro já se faz sentir onde antes era ignorada ou em espaços anteriormente negados.

Durante o séc. XX novos fluxos migratórios da Pará e nordeste (notadamente Maranhão) trouxeram mais negros para o estado, além do constante trânsito de integrantes das forças armadas e familiares. 


Dentre os vários mitos regionais um é o da inexistência ou baixa presença de população negra, tal mito se mantém devido em parte a generalizados conceitos étnicos errôneos e principalmente à baixa produção bibliográfica sobre o tema no contexto regional e a não sistematização e disponibilização de dados até então dispersos, mas que uma vez

consolidados mostrarão uma realidade diferente do imaginário popular.
O Movimento Negro, conceitos Antropológicos e Histórico-Sociais bem como o IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA) definem população NEGRA (Afro-descendente) como sendo a soma dos auto-declarados de cor preta e parda, o que no caso do Amazonas reflete uma inexatidão devido ao fato da evidente origem indio-descendente da maioria dos “pardos” locais, o que não elimina o fato de que mesmo em minoria, significativa parcela dos pardos do Amazonas é Afro-descendente (O que pode e precisa ser determinado utilizando-se de pesquisas e técnicas de estatística populacional, mas até o momento não foi feito com respaldo e rigor científico).

- A população do Amazonas de acordo com o último censo do IBGE (2000) tem a seguinte composição no relativo a questão cor/raça :

AMAZONAS
Brancos 
Pretos
Pardos
Amarelos (e Indígenas)
24,8%
 3,7%
  65,7%
4,4%

Comparando apenas a população de cor preta com a Indígena, verifica-se “empate técnico” do ponto de vista estatístico, o que significa que dizer que “não há pretos no estado” seria o mesmo que dizer que “não há indígenas no Amazonas”..., sendo estes últimos considerados históricamente a base de origem populacional , mas há de se observar que população negra
não é apenas a de cor preta..., mas sim a soma de cor preta e parda..., ampliando então grandemente a representatividade dos afro-descendentes na população do estado.


Observando os dados gerais brasileiros nota-se que a população parda de origem Afro em todas as outras regiões do pais onde não ocorre esta peculiaridade, é “grossus modus” sempre de 4 a 6 vezes maior que a auto-declarada preta e na média nacional cerca de 7,5 vezes maior, em teoria não há motivos que indiquem que tal fenômeno não se repetiria no Amazonas , o que em hipótese faria com que a população parda de origem Afro no Amazonas fosse estimada na ordem de 22% da população o que somado aos 3,7% de pretos auto-declarados giraria em torno de 25% da população do estado (ou seja..., A MESMA PROPORÇÃO DE POPULAÇÃO "BRANCA", SEIS VEZES MAIS QUE A POPULAÇÃO INDÍGENA E A METADE DA POPULAÇÃO PARDA INDIO-DESCENDENTE), DESMONTANDO ASSIM O MITO DA INEXISTÊNCIA OU INSIGNIFICÂNCIA DA PRESENÇA NEGRA NO AMAZONAS.

Movimento Negro...
 movimento no Amazonas onde a presença da população negra é tímida e a descendência indígena na cultura e características é predominante. Quanto a isso França, responde: “A nossa luta é contra o racismo. Temos brancos, japoneses, índios. Todo o mundo que quer se

organizar e ter ações políticas contra o racismo tem o direito de se filiar e ajudar a gente neste trabalho”. União de Negros Pela Igualdade - UNEGRO e Associação do Movimento Orgulho Negro do Amazonas - AMONAM criam o "Grupo de Dança Afro Contemporânea Abi Omim",Amzonia Negra, FUCABEAM (Federação dos Cultos Afro Brasileiros do Estado do Amazonas) e outras ong e entidades.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Contos Africanos:Os dois reis de Gondar (Etiópia)...


Era um dia como os de outrora... e um pobre camponês, tão pobre que tinha apenas a pele sobre os ossos e três galinhas que ciscavam alguns grãos de teff que encontravam pela terra poeirenta, estava sentado na entrada da sua velha cabana como todo fim de tarde. De repente, viu chegar um caçador montado a cavalo. O caçador se aproximou, desmontou, cumprimentou-o e disse: — Eu me perdi pela montanha e estou procurando o caminho que leva à cidade de Gondar. — Gondar?

Fica a dois dias daqui — respondeu o camponês.

— O sol já está se pondo e seria mais sensato se você passasse a noite aqui e partisse de manhã cedo. O camponês pegou uma das suas três galinhas, matou-a, cozinhou-a no fogão a lenha e preparou um bom jantar, que ofereceu ao caçador. Depois de comerem os dois juntos sem falar muito, o camponês ofereceu sua cama ao caçador e foi dormir no chão ao lado do fogo. No dia seguinte bem cedo, quando o caçador acordou, o camponês explicou-lhe como teria que fazer para chegar a Gondar: — Você tem que se enfiar no bosque até encontrar um rio, e deve atravessá-lo com seu cavalo com muito cuidado para não passar pela parte mais funda. Depois tem que seguir por um caminho à beira de um precipício até chegar a uma estrada mais larga... O caçador, que ouvia com atenção, disse:  — Acho que vou me perder de novo. Não conheço esta região...

Você me acompanharia até Gondar? Poderia montar no cavalo, na minha garupa. — Está

certo — disse o camponês —, mas com uma condição. Quando a gente chegar, gostaria de conhecer o rei, eu nunca o vi. — Você irá vê-lo, prometo. O camponês fechou a porta da sua cabana, montou na garupa do caçador e começaram o trajeto. Passaram horas e horas atravessando montanhas e bosques, e mais uma noite inteira. Quando iam por caminhos sem sombra, o camponês abria seu grande guarda-chuva preto, e os dois se protegiam do sol. E quando por fim viram a cidade de Gondar no horizonte, o camponês perguntou ao caçador: — E como é que se reconhece um rei? — Não se preocupe, é muito fácil: quando todo mundo faz a mesma coisa, o rei é aquele que faz outra, diferente. Observe bem as pessoas à sua volta e você o reconhecerá. Pouco depois, os dois homens chegaram à cidade e o caçador tomou o caminho do palácio.

 Havia um monte de gente diante da porta, falando e contando
histórias, até que, ao verem os dois homens a cavalo, se afastaram da porta e se ajoelharam à sua passagem. O camponês não entendia nada. Todos estavam ajoelhados, exceto ele e o caçador, que iam a cavalo. — Onde será que está o rei? — perguntou o camponês. — Não o estou vendo! — Agora vamos entrar no palácio e você o verá, garanto! E os dois homens entraram a cavalo dentro do palácio. O camponês estava inquieto. De longe via uma fila de pessoas e de guardas também a cavalo que os esperavam na entrada.

Quando passaram na frente deles, os guardas desmontaram e somente os dois continuaram em cima do cavalo. O camponês começou a ficar nervoso: — Você me falou que quando todo mundo faz a mesma coisa... Mas onde está o rei? — Paciência! Você já vai reconhecê-lo! É só lembrar que, quando todos fazem a mesma coisa, o rei faz outra. Os dois homens desmontaram do cavalo e entraram numa sala imensa do palácio.

Todos os nobres, os cortesãos e os conselheiros reais tiraram o chapéu ao vê-los. Todos estavam sem chapéu, exceto o caçador e o camponês, que tampouco entendia para que servia andar de chapéu dentro de um palácio. O camponês chegou perto do caçador e murmurou: — Não o estou vendo!

— Não seja impaciente, você vai acabar reconhecendo-o!

Venha sentar comigo. E os dois homens se instalaram num grande sofá muito confortável. Todo mundo ficou em pé à sua volta. O camponês estava cada vez mais inquieto. Observou bem tudo o que via, aproximou-se do caçador e perguntou: — Quem é o rei? Você ou eu? O

caçador começou a rir e disse: — Eu sou o rei, mas você também é um rei, porque sabe acolher um estrangeiro! E o caçador e o camponês ficaram amigos por muitos e muitos anos...

Um afro abraço.

fonte:www.companhiadasletras.com.br
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sábado, 23 de janeiro de 2016

Coletivo UNEGRO - LGBT /RJ de cara nova.


Venha vestir essa camisa!
O COLETIVO UNEGRO LGBT - RJ, é um movimento de Homens e Mulheres Negros e Negras Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais que se organizam para o enfrentamento às discriminações de raça, orientação sexual, gênero e identidade de
gênero e temos atuado junto aos Movimentos Sociais, provando que a organização das especificidades soma para a luta de todos os segmentos sociais que sofrem as mazelas das estruturas opressoras considerando a identidade de objetivos, uma vez que somos também um Coletivo do Movimento Negro.
A UNEGRO LGBTT - RJ, é uma organização pluriidentitária e pluripartidária, que busca contribuir na luta contra o racismo, a homofobia e discriminações inter-cruzadas. Nossa atuação tem foco nas negras lésbicas, mulheres bissexuais, mulheres trans, travestis, homens trans e gays negros ._
O setor da população negra cujas dificuldades, marginalização e reivindicações, geralmente e de forma lamentável, sequer são consideradas quando discutimos a luta contra a opressão racial. Estamos falando de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis negros (as).
Milhões de LGBT´s cujas vidas são cercadas, ora pela invisibilidade ora pela violência; tanto pela discriminação racial quanto pelas humilhações e sofrimentos que correm soltos em um mundo em que a heterossexualidade é tida como a única forma “digna”, “respeitosa”, “aceitável” e “correta” de se viver.
Uma dura realidade que marcou a vida de lésbicas, gays, trans, bis e travestis como o performático Madame Satã, o escritor James Baldwin, o pintor Jean-Michel Basquiat, o poeta Langston Hughes, a ativista trans Marsha P. Johnson (que esteve na linha de frente da Rebelião de Stonewall), o escritor modernista Mário de Andrade, o impagável e genial Paulette (do Dzi Croquetes), a cantoras de jazz e blues 'Ma' Rainey (conhecida como a “Mãe do Blues”) e Bessie Smith e a travesti e passista da Beija-Flor Piu (brutalmente assassinada em setembro passado).
Onde classe, raça, gênero e orientação sexual se encontram
Em um artigo com o genial título “Gays ricos, bichas pobres”, publicado nos Cadernos AEL (Unicamp, em 18/19, 2003), Juan P. Pereira Marsiaj faz uma série de considerações sobre “desenvolvimento, desigualdade socioeconômica e homossexualidade no Brasil” que também pode servir como ponto de partida para discutirmos as terríveis conseqüências decorrentes da combinação do racismo com a LGBTfobia, dentro de uma perspectiva de classe.

Referindo-se ao trabalho do historiador norte-americano John D´Emilio – particularmente “Capitalism and Gay Identity” (“Capitalismo e Identidade Gay”) –, Marsiaj lembra que a comunidade e a identidade LGBT foram moldadas pelo capitalismo durante as diferentes fases do sistema, refletindo os efeitos que estas transformações, principalmente nos modos de trabalho e produção, tiveram sobre os aspectos mais distintos da sociedade: da arte à cultura; dos meios de comunicação à Educação; das relações sociais às formas de organização familiar (um tema, em particular, sobre o qual o autor se detém para discutir as relações entre LGBTs e classe).

Como lembra Marsiaj, “a classe social afeta as possibilidades de estabelecimento das relações homoafetivas e de redes homossociais, que são de suma importância para o desenvolvimento de uma auto-identificação como gay ou lésbicas” (p. 139). Ou seja, como acontece também em relação aos héteros, as condições econômicas interferem, de forma indireta ou direta, no jeito como as pessoas namoram, se relacionam afetiva e amorosamente, nos tipos de grupos que participam etc.

E tudo isso cumpre um papel fundamental na possibilidade de um LGBT se assumir como tal e na forma como ele ou ela vai se colocar e se ver diante da sociedade. Algo particularmente difícil nas relações familiares. Não é uma regra, mas, geralmente, quanto mais pobre mais complicada a história pode ser, pois “para os setores populares no Brasil, a função econômica da família retém uma grande importância. A renda das classes mais baixas é irregular e pequena, tornando muito difícil a independência econômica de um indivíduo de sua família” (p. 139).

Quem vive na periferia, nasceu nos cortiços e favelas ou pertence aos setores mais pobres da classe operária (e, por tabela, na maioria dos casos, é negro ou negra) conhece muito bem esta história. Nessas famílias, até mesmo por uma questão de sobrevivência, todo mundo tem que “entrar com a grana” e, consequentemente, pais e mães contam, desde muito cedo, com o dinheiro dos filhos (as) e com a ideia de que eles vão permanecer em casa “até o casamento”.

Uma situação totalmente diferente dos LGBT’s de classe média e alta (brancos em sua enorme maioria) que, como lembra Marsiaj, podem “se dar ao luxo de manter um apartamento para [seus] encontros, ou têm meios para pagar um quarto de motel para tais fins”. (p. 140)

E isso, com certeza, faz toda diferença na hora de se assumir como LGBT. Levar o companheiro o companheira pra casa, fugir da cilada do casamento tradicional etc., é muito mais difícil. Não que seja impossível. Pelo contrário. Em alguns casos, a própria dependência econômica acaba “forçando” a aceitação por parte dos familiares. Afinal, não dá pra expulsar de casa alguém que é fundamental pra pagar as contas e esta “situação abre espaços de tolerância no âmbito familiar que permitem, sob certas condições, um alto nível de liberdade.” (p. 140)

Contudo, isto não é a regra. Para a infelicidade de todos envolvidos, na maioria dos casos, os LGBT’s continuam na casas dos pais, “enrustidos” (“dentro do armário”, como se diz) ou negando sua identidade e, pra satisfazer as expectativas, acabam mantendo relacionamentos com gente do sexo oposto e, até mesmo, casando. Uma situação que, nos dias de hoje, é ainda mais complicada, na medida em que LGBTfóbicas, racistas e machista igrejas fundamentalistas ganham mais e mais espaços na periferia, inclusive entre famílias negras.

Para negros e negras, não há “libertação pelo consumo”
Se assumir uma identidade LGBT na família já é complicado, viver plenamente como tal também não é nada fácil. A começar pelos espaços que existem para os LGBTs pobres e negros se encontrarem, se sociabilizarem e manterem relações amorosas e, obviamente, sexuais.

Para negros(as) e pobres, como também lembra Marsiaj, os encontros e o namoros geralmente se dão nos “espaços públicos”: os parques, as praças, os “banheirões” e os cantos escuros das ruas. Já para os que pertencem às classes médias e às elites, os pontos de encontro são os “espaços comerciais”: as saunas, os bares, os restaurantes e boates.

E qualquer LGBT negro ou negra que já tenha freqüentado qualquer um destes lugares sabe muito bem o quanto eles “são brancos” e o quanto a pele mais escura destoa dos padrões de beleza e, muitas vezes, é vista como sinal de que estão atrás de “favores financeiros”.

No mundo neoliberal em que vivemos que, dentre outros tantos estragos, colocou um sinal de igual entre o conceito de cidadania, “empoderamento” individual e o poder aquisitivo, essa situação é ainda mais grave, como já foi destacado no artigo “The Sexual Citizen: queer politics and beyond” (“O cidadão sexual: política queer e além” – um termo “pós-moderno” utilizado para LGBTs), publicado por David Bell e Jon Binnie.
Segundo os autores, essa “estratégia de liberação pelo consumo”, pode levar (e com certeza o faz) “à aceitação de um tipo de gay (branco, de classe média), visto como um modelo de cidadão-consumidor e uma maior marginalização de todos os outros ‘devassos’
que não se encaixam nessa forma”, ou como Marsiaj diz, referindo-se aos brasileiros: “corre-se o risco de aceitar o gay rico e marginalizar ainda mais a bicha pobre” (p. 142).
E, se tudo isto não bastasse, como já foi dito por Luis Mott (do Grupo Gay da Bahia, responsável por levantamentos anuais sobre os ataques e assassinatos) são os LGBT’s negros (as) que estão mais expostos a situações marcadas pela brutalidade e a violência.

Venha somar com a gente; você também pode vestir essa camisa contra o preconceito e discriminação.

UNEGRO - RJ CONTRA A LGBTfobia!!
Tem negro no arco - íris, sim!

Respeitosamente,

Marisa Justino
Unegro / RJ
Coordenação Estadual do Coletivo LGBT
Fonte: Enciclopédia livre

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