UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O Racismo no Brasil e no mundo saindo do armário ...

O relator da ONU encarregado de avaliar a discriminação no mundo, Doudou Diène, diz que
o preconceito é cada vez maior em muitos países e que no Brasil ele está profundamente arraigado em toda a sociedade.

Se liga...
“O racismo está influenciando esse diferencial de taxa de homicídios. Não conseguimos uma metodologia que seja capaz de quantificar exatamente qual é este percentual, mas cremos, com certeza, que boa parte desse diferencial seja devido ao racismo”...
Gente nada e mais cômodo para o racista politicamente correto, que quer praticar seu racismo na frente de todo mundo, mas não quer correr nenhum risco legal ou social com isso, do que uma tragédia como a que aconteceu durante o último mês nessa infeliz Faixa de Gaza. Foi uma grande oportunidade para o crime perfeito. Como o Exército de Israel despejou sobre Gaza foguetes que destroem tudo o que encontram pela frente, incluindo gente de carne e osso, contra um restinho de terra onde 1,7 milhão de pessoas se apertam num miserável espaço de 360 quilômetros quadrados, só poderia haver um resultado: sangue, lágrimas, crianças mortas e feridas, hospitais e escolas que viram entulho, ruínas e todas as desgraças da guerra. As cenas desse horror aparecem todos os dias. Quem pode aprovar as imagens de pais e mães em desespero, carregando nos braços seus filhos ensanguentados? Ninguém que tenha um grama de compaixão dentro da alma. Entra
rapidamente em cena, a essa altura, o praticante do racismo seguro: enfia-se na armadura moral fornecida pelo sofrimento dos inocentes, e dentro dela, com toda a segurança e conforto, põe para fora suas secretas convicções raciais contra os judeus.

É claro que muitas pessoas bem-intencionadas podem manifestar sua indignação ética e política contra o bombardeio de Gaza e,(nos que participamos do FSM na Turquia, no mês de Março recebemos denuncia e vimos a barbaria) ao mesmo tempo, não carregar dentro de si nenhum traço de antissemitismo; espera-se, até, que sejam a maioria dos que criticam Israel no momento. Mas também é 100% certo que o ódio contra os judeus, seja de altos teores, seja nas modalidades light, aproveitou o escudo oferecido pelos foguetes israelenses para mostrar a sua cara no Brasil e no mundo. Trata-se de sentimentos que estão aí há 2 000 anos; podem estar anestesiados, mesmo porque não são aceitos nas sociedades democráticas, mas não vão embora. No caso, sua existência fica comprovada pela prática aberta do preconceito – antes de examinarem qualquer fato, ou admitirem que a tragédia de Gaza tem mais de um lado, os antissemitas escondidos no armário vêm para fora afirmando que Israel está empenhado em exterminar fisicamente a população palestina em sua fronteira. Atribuem aos judeus, historicamente perseguidos, a conveniente posição de agressores cujo objetivo estratégico seria sobreviver à custa de um “genocídio”.

- O percentual de negros assassinados no Brasil é 132% maior do que o de brancos, revela pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea, intitulada Vidas Perdidas e Racismo no Brasil. Embora as razões para explicar esses dados não estejam totalmente claras, “20% da causa da morte de negros” pode ser atribuída a “questões
socioeconômicas”, como diferenças em relação a emprego, moradia, estudo e renda do trabalhador, diz Rodrigo Leandro de Moura, um dos autores do estudo realizado pelo Ipea, em entrevista à IHU On-Line, concedida por e-mail.

Os outros 80%, esclarece, podem ser explicados por uma “variável socioeconômica que não observamos, mas, apesar de não conseguirmos imaginar qual seja, pensamos que um componente importante para explicar esse dado seja o racismo”. E acrescenta: “O que reforça a tese de racismo é que as características socioeconômicas podem ser afetadas por ele. Então, por exemplo, o negro sofre discriminação no mercado de trabalho, pode ter mais dificuldade de ter acesso a postos de trabalho qualificados, pode sofrer bloqueio de oportunidades de seu crescimento profissional e também pode ter o que chamamos de desigualdade de oportunidades e, por causa disso, sofrer tratamento desigual no que se refere às oportunidades no mercado de trabalho”

IBGE: Brasil é mais negro. Cuidado Racista ...

O Brasil tem 190.755.799 habitantes. É o que constata a Sinopse do Censo Demográfico 2010, como vocês já sabem que os  dados mostram ainda que o país segue a tendência de envelhecimento, que para cada grupo de 100 mulheres há 96 homens e que há mais pessoas se declarando pretas e pardas.

Segundo o Censo 2010, atualmente, 24,1% da população brasileira é menor de 14 anos; em 1991, essa faixa etária representava 34,7% da população. Outro fenômeno verificado é o aumento contínuo da representatividade de idosos: 7,4% da população têm mais de 65 anos, contra 4,8% em 1991.

Já a taxa média anual de crescimento baixou de 1,64%, em 2000, para 1,17%, em 2010. Mesmo assim a população brasileira aumentou quase vinte vezes desde o primeiro recenseamento realizado no Brasil, em 1872, quando foram contados 9.930.478 habitantes. Outro dado aponta que as maiores taxas médias de crescimento anual de população foram

observadas nas regiões Norte (2,09%) e Centro-Oeste (1,91%), seguidas das pelas regiões Nordeste (1,07%), Sudeste (1,05%) e Sul (0,87%).

De acordo com o IBGE, a média de moradores por domicílio caiu para 3,3; em 2000, a relação entre as pessoas moradoras nos domicílios particulares ocupados e o número de domicílios particulares ocupados era de 3,8. Esse comportamento persistiu tanto na área urbana quanto na área rural, diz o Instituto.

Distribuição por sexo – O levantamento aponta que há 96 homens para cada 100 mulheres no país, resultado em um excedente de 3.941.819 mulheres. Entretanto, nascem mais homens no Brasil: a cada 205 nascimentos, 105 são de homens. A diferença ocorre, segundo o IBGE, porque a taxa de mortalidade masculina é superior. Na relação por situação de domicílio, os homens são maioria no meio rural: 15.696.816 homens para 14.133.191 mulheres. Já no meio urbano, as mulheres seguem à frente, como na média nacional: são 83.215.618 para 77.710.174 homens.

Casais gays – A pesquisa do IBGE mostra que o Brasil já registra mais de 60 mil pessoas vivendo com parceiros do mesmo sexo. A região Sudeste é a que tem mais casais que se assumiram homossexuais, com 32.202. Em seguida, está a região Nordeste, com 12.196; e a Sul, com 8.034. O número representa 0,2% do total de cônjuges (37,547 milhões) em todo o país. É a primeira vez que o dado foi pesquisado.

Negros e pardos – Os dados trazem ainda a informação de que há mais pessoas se declarando pretas e pardas. Este grupo subiu para 43,1% e 7,6%, respectivamente, na década

de 2000, enquanto, no censo anterior, era 38,4% e 6,2% do total da população brasileira. Já a população branca representava, em 2010, 47,7% do total; a população amarela (oriental) 1,1% e, a indígena, 0,4%.

Analfabetismo caiu – O Instituto aponta que houve melhora no índice de analfabetismo: hoje 9% da população brasileira não é alfabetizada; em 2000 eram 12,9%. Em números absolutos, 14,6 milhões de pessoas não sabem ler nem escrever, de um universo de 162 milhões de pessoas com mais de 10 anos.

A comunidade negra  sabe que só libertação foi apenas juridicamente nos negros e negras sabemos, mais e bom lembrar que não admitiram ate hoje os nossos direitos à terra, ao trabalho, à moradia e à educação decente e de qualidade, 300 anos de escravização deixaram marcas em nos e ainda um mal estar na elite não negra que não quer dividir e nem fazer concessões  a uma maioria ainda colocada a margem  apesar disso o nosso ideal de construir o Brasil para tod@s e não para uma memoria e por isso  que lutamos!
Um afro abraço.

fonte:noticias.r7.com/brasil/denuncias-de-racismo-no-brasil\unegro


segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Lenda ou verdade : Anastacia a escrava de Olhos Azuis

O livro “Santo de Casa Também Faz Milagre: A Construção Simbólica da Escrava Anastácia” escrito pela Mônica Dias de Sousa, levanta uma hipótese do culto a Escrava Anastácia tenho
sido criado na década de 70. Uma das descobertas é referente a imagem mais conhecida dela, que pode ser uma reprodução tirada do livro “Voyage Auour Du Munde”, escrito pelo pesquisador francês Etienne Arago, publicado nu século XIX. 
A historia da Anastácia começa em 1740, quando um navio negreiro de nome Madalena, desembarca no porto do Rio de Janeiro, trazendo a bordo a princesa Delminda, oriunda de uma tribo bantu, da família do rei Galanga. Ele viria ser conhecido depois como Chico Rei – personagem da historia oficial de Minas Gerais, responsável pela alforria de seu povo através da extração de ouro.
Histórico

A existência da escrava Anastácia é colocada em dúvida pelos estudiosos do assunto, já que não existem provas materiais da mesma.

Seu culto foi iniciado em 1968, quando numa exposição da Igreja do Rosário do Rio de Janeiro em homenagem aos 80 anos da Abolição, foi exposto um desenho de Étienne Victor Arago representando uma escrava do século XVIII que usava Máscara de Flandres que permitia à pessoa enxergar e respirar, sem, contudo, levar alimento àboca.

No imaginário popular, a Escrava Anastácia era uma escrava de linda de rara beleza, que chamava atenção de qualquer homem. Ela era curandeira, ajudava os doentes, e com suas mãos, fazia verdadeiros milagres. Por se negar a ir para a cama com seu senhor e se manter virgem, apanhou muito e foi sentenciada a usar uma máscara de ferro por toda a vida, só

tirada às refeições, e ainda sendo espancada, o que a fez sobreviver por pouco tempo, tempo esse durante o qual sofreu verdadeiros martírios. Quando Anastácia morreu, seu rosto estava todo deformado. Escrava Anastácia é cultuada tanto no Brasil quanto na África.

Há um Santuário da Escrava Anastácia no Rio de Janeiro, mais precisamente na Rua Taubaté, 42, Oswaldo Cruz.

Primeira Versão

"- A escrava Anastácia seria filha de Delminda, uma bela princesa banto que foi trazida como escrava para o Brasil num navio negreiro e, depois de vendida, foi violentada por seu dono, engravidando".
Anastácia, nome grego que signiica "Ressurreição, teria nascido em 12 de maio de 1741. Era uma mulata dotada de rara beleza, tinha os olhos azuis, era muito inteligente e tinha o dom da cura, apenas impunha as mãos e as doenças desapareciam. A beleza e bondade de Anastácia incomodavam as mulheres brancas, que com inveja começaram a persegui-la.

Os homens a perseguiam, tentando roubar sua virgindade. Mas Anastácia era protegida pelo senhor Joaquim Antônio,, filho da senhora do engenho, Joaquina Pompeu, e não permitia que ningu´pem abussasse dela. Mas Joaquim estava há muito tempo apaixonado por Anastácia e começou a assediá-la, rogando um amor que lhe era negado.Então, seu amor transformou-se em ódio, e oaquim mandou que se colocasse em Anastácia uma máscara de folha de flandres, usada nas minas para que os escravos não engolissem as pepitas de ouro. Anastácia viveu assim amordaçada durante anos, só lhe sendo retirada a máscara para comer. Por fim a bela escrava adoeceu gravemente, e mesmo antes de morrer ainda curou seu algoz de uma doença pulmonar grave. Anastácia morreu vítima de gangrena em seu pescoço e boca. Então desde essa data se espalharam pelo país relatos de curas e graças alcançadas por sua intercessão.

Segunda Versão

Tenso sido descoberto o Brasil no ano de 1500, e não suportanto os índios nativos os trabalhos pesados, logo os colonizadores e governantes precisaram importar escravos para a lavoura e outros afazeres. Daí vieram os célebres navios negreiros, aprisionando os pobres

negros africanos, que eram capturados em sua terra para aqui serem vendidos como escravos.

Eram os desventurados negros oriundos, em sua maioria, de Guiné, Congo e Angola. Entre eles veio uma princesa Bantu de nome Anastácia, que se destacava pelo seu porte altivo, beleza dos traços fisionômicos e sua juventude.

Era bonita de dentes alvos e lábios sensuais, olhos azuis onde sempre se notava uma lágrima a rolar silenciosa. Teria sido mucama de uma família nobre que, ao regressar a Portugal, a teria vendido a um rico senhor de engenho. Foi levada por seu novo dono para uma fazenda perto do Rio de Janeiro, onde sua vida passou por uma brutal transformação.

Cobiçada pelos homens, invejada pelas mulheres, foi amada e respeitada pelos demais escravos, nos quais encontravam uma conselheira amiga e alguém que tinha poderes de cura para os males do corpo e da alma.

Estóica, serena, submissa aos algozes até morrer, assim ela viveu até o fim. Chamavam-na Anastácia pois esse foi o nome que recebeu no batismo católico. Trabalhava na lavoura, e um dia, ao comer um torrão de açúcar, foi vista pelo malvado feitor que, chamando-a de ladra, colocou-lhe uma mordaça na boca. Esse castigo era infame e chamou a atenção da Sinhá Moça que, vaidosa e ciumenta da beleza da escrava, tinha receio que seu marido se apaixonasse por ela, mandando colocar também uma gargantilha de ferro em Anastácia.

Anastácia morreu no Rio de Janeiro depois de anos de agonia. Os restos mortais estavam na Igreja do Rosário e sumiram após um incêndio, fazendo com que a crença popular tornasse a moça um mito religioso, capaz de realizar, ainda nos dias de hoje, verdadeiros milagres. Por isso, muitas entidades, ligadas não somente às lideranças negras, femininas ou masculinas, como as comunidades religiosas afro-brasileiras, particularmente as ligadas à religião católica, estão unidas no propósito de solicitar ao Papa, a beatificação da escrava Anastácia.Um dia, o filho do casal cai doente sem que ninguém o consiga curar, em desespero os pais recorrem a escrava Anastácia e pedem sua cura, que se realiza para o espanto de todos. Mas Anastácia já estava muito doente, com gangrena, por causa da tortura que lhe fora imposta, e veio a falecer pouco depois, embora tenha sido levada para o Rio de Janeiro para ser tratada.

O feitor, a Sinhá Moça e o marido desta ficaram com tanto remorso, que fizeram o velório de Anastácia na capela da fazenda. Declaram-na forra depois de morta e sepultaram-na na igreja. Tarde demais se arrrependeram... 

Se liga:
Cultuada no Brasil como santa e heroína, considerada uma das mais importantes figuras femininas da história negra, a saga da escrava Anastácia ainda tem o poder de nos emocionar
. Muito bonita, tornou-se objeto de desejo e obsessão do feitor de sua fazenda. Por nunca ter aceitado o assédio do rapaz, foi violentada e condenada a viver com uma máscara no rosto, que era retirada apenas durante as refeições.

Oficialmente a historia de Anastácia foi recuperada em 1968 na exposição sobre os 80 anos da Abolição da Escravatura, na Igreja do Rosário, cidade do Rio de Janeiro. A partir dali começou a devoção que hoje é estimada em 28 milhões de fiéis. Há inclusive um santuário da Santa Negra, no bairro Vaz Lobo.

Um afro abraço.

fonte:www.sobrenatural.org

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Um passeio sobre a Literatura Negra do inicio do seculo passado...


O negro como sujeito: a atitude compromissada.

A literatura do negro surge com as obras de alguns pioneiros, como o irônico Luís Gama (1850-1882), filho de africana com fidalgo baiano e o primeiro a falar em versos do amor por
uma negra. É também destacado pelas estrofes satíricas da "Bodarrada" ("Quem sou eu?"), de que transcrevo um fragmento:

A visão distanciada nas quais o negro ou o descendente de negro reconhecido como tal é personagem, ou em que aspectos ligados às vivências do negro na realidade histórico-cultural do Brasil se tornam assunto ou tema. Envolve, entretanto, procedimentos que, com poucas exceções, indiciam ideologias, atitudes e estereótipos da estética branca dominante.

Em "O navio negreiro", o apelo a que empunhem a bandeira da libertação é feito aos "heróis do Novo Mundo", a Andrada, o patriarca da independência brasileira, a Colombo, o descobridor da América. Zumbi nem pensar... Vejo exceções no final de "A criança" ("Amigo, eu quero o ferro da vingança"), também na última estrofe de "Bandido negro": ("Cai orvalho do sangue do escravo/Cai orvalho da face do algoz./Cresce, cresce vingança feroz"), nas associações imagísticas de "Saudação a Palmares", na vingança individualizada de Lucas, em quem o "selvagem" emerge para lavar a honra da mulher amada. Repare-se que a ênfase, nesses casos, recai sempre no ato vingativo, nunca no problema central, que seria a luta pela liberdade ou a referência a posicionamentos coletivos, isto numa época em que Palmares e outros quilombos já eram realidades.

"O herói Macunaíma, do romance do mesmo nome, de sua autoria, é, nas suas mutações, singularmente representativo, quando nasce preto e vira branco". Os versos do "Improviso do mal da América", entretanto, situam, na passagem que segue, outro posicionamento:
...Me sinto branco na curiosidade imperiosa de ser.
Mas eu não posso me sentir negro nem vermelho!
Decerto que essas cores também tecem minha roupa arlequinal
Mas eu não me sinto negro, mas eu não me sinto vermelho,
Me sinto só branco, relumeando caridade e acolhimento,
Purificado na revolta contra os brancos, as pátrias,
as guerras, as posses, as preguiças e as ignorâncias
Me sinto só branco agora, sem ar neste ar livre da América!
Me sinto só branco em minha alma crivada de raças....

Estamos diante de uma poesia que não foge à tônica do seu tempo, necessário dizê-lo. Apesar do seu empenho consciente e do seu entusiasmo, o poeta não consegue livrar-se, nos seus textos, das marcas profundas de uma formação desenvolvida no bojo de uma cultura escravista. O que move a sua indignação é, sobretudo, o sofrimento do negro, que ele vê como ser humano, e mais a necessidade de a nação livrar-se da mancha da escravidão. Ele,
como percebeu José Guilherme Merquior, "não busca a especificidade cultural e psicológica do negro; ao contrário, assimilando-lhe o caráter aos ideais de comportamento da raça dominante, branqueia a figura moral do preto, facilitando-lhe assim a identificação simpática das plateias burguesas com os sofrimentos dos escravizados...

Da condição de fera à perversão o caminho é curto. E o negro pervertido ganha a cena no excelente romance O bom crioulo (1885), de Adolfo Caminha, uma história de homossexualismo, corajosíssima, para aquele momento, e em A carne (1888), de Júlio Ribeiro, onde, segundo o narrador, a liberação dos instintos de Lenita, a branca personagem
central, se deve à promiscuidade com os escravos. Daí para a conclusão de que a raça negra é inferior a distância é curtíssima, como O presidente negro (1926), de Monteiro Lobato, deixa entrever.

Instinto liricizado é a marca do sofrido Juca Mulato (1917), poema de Menotti del Picchia. Apesar da aparente valorização do mestiço, tomado como centro de referência e caracterizado simpaticamente no seu mundo emocional por um "narrador" distanciado, retoma-se a demonstração de que os mulatos também sentem. Destacar esse personagem ainda era, entretanto, uma atitude inusitada e vanguardista na época da publicação do texto.

Na obra do mulato Mário de Andrade (1893-1945), encontro algumas passagens reveladoras
de uma posição dividida, a acreditar-se na identidade entre o eu lírico e o poeta. Na "Meditação do Tietê" aparece uma referência à vinculação com a etnia:

Eu me sinto grimpado no arco da Ponte das Bandeiras,
Bardo mestiço, e meu verso vence a corda
Da caninana sagrada, e afina com os ventos dos ares, e
[enrouquece
Úmido nas espumas das águas do meu rio
E se espatifa nas dedilhações brutas do incorpóreo
[Amor...

O negro ou o mestiço de negro erotizado, sensualíssimo, objeto sexual, é uma presença que vem desde a Rita Baiana, do citado O cortiço, e mesmo do mulato Firmo, do mesmo romance, passa pelos poemas de Jorge de Lima, como "Nega Fulô", suaviza-se nos Poemas da negra (1929), de Mário de Andrade e ganha especial destaque na configuração das mulatas de Jorge Amado. A propósito, a ficção do excepcional romancista baiano contribui fortemente para a visão simpática e valorizadora de inúmeros traços da presença das manifestações ligadas ao negro na cultura brasileira, embora não consiga escapar das armadilhas do estereótipo. Basta recordar o caso do ingênuo e simples Jubiabá, do romance do mesmo nome, lançado em 1955, e da infantilizada e instintiva Gabriela, de Gabriela, cravo e canela (1958), para só citar dois exemplos. A seu favor, o fato de que, na esteira da tradição do romance realista do século passado no país, a maioria de suas estórias inserem-se no espaço da literatura-espelho e, no caso, refletem muito do comportamento brasileiro em relação às mulheres que privilegia.

...Ainda na galeria do estereótipo, que não tenho pretensão de esgotar, vale assinalar a figura do negro exilado na cultura brasileira, como tem sido apontado por alguns críticos e de que um exemplo se encontra em Urucungo(1933), livro de poemas de Raul Bopp.

Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição.
E a maior desta loucura?... Usura....

Quem são seus doces objetos?... Pretos.
Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.

Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.

Dou ao demo os insensatos,
Dou ao demo a gente asnal,
Que estima por cabedal
Pretos, mestiços, mulatos...
Um afro abraço.


fonte:
https://pensamentovivoblog.wordpress.com/

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Lendas Africanas: lenda do beijo e exu

LENDA DE EXÚ -
Quando se ouve falar em candomblé a figura de Exu para os leigos geralmente está ligada à idéia de algo demoníaco como uma entidade que deva ser execrada da humanidade. 


É dito que diferente dos demais orixás, Exu não tem uma data no calendário, que todos os dias são dele, mas sinceramente tenho sérias desconfianças de que seja ariano (talvez daí venha a minha identificação). Na minha cabeça é um destes questionamentos como se Deus é Brasileiro. Sua força é inegável, notada pelo simples fato ser representante dos 365 dias do ano.

Como não se identificar com Exu? É o orixá que está mais próximo da realidade humana e por tal motivo considerado o Orixá das Causas Materiais. Assim como ocorre no signo de Áries, seu elemento é fogo e suas características todas remetem a uma personalidade forte e intensa.
Então, se você antes o repudiava sem sequer conhecê-lo, sinto lhe dizer, mas Exu está ao seu lado o tempo todo e é melhor querê-lo por perto e como amigo, pois a vida sem ele seria muito vazia.

Exu está na personalidade de quem é crítico e original, em pessoas que não ligam muito para opiniões alheias... Ele é um bom vivant, adepto da lei do menor esforço, melhor amigo das horas de lazer, em suma: o melhor companheiro das baladas. Exu é Yang, é calor humano, quentura, verão, multidão, carnaval, estádio de futebol. Ele está presente no grito de GOL, no namoro, no desejo, na paixão, na gula, na gargalhada, no abraço apertado e nos prazeres mais intensos e instintivos da vida ele é o mais alegre e comunicativo de todos os orixás. Olorun, quando o criou, deu-lhe, entre outras funções, a de comunicador e elemento de ligação entre tudo o que existe. Por isso, nas festas que se realizavam no orun (céu), ele tocava tambores e cantava, para trazer alegria e animação a todos.



Sempre foi assim, até que um dia os orixás acharam que o som dos tambores e dos cânticos estavam muito altos, e que não ficava bem tanta agitação. Então, eles pediram a Exú, que parasse com aquela atividade barulhenta, para que a paz voltasse a reinar.

Assim foi feito, e Exú nunca mais tocou seus tambores, respeitando a vontade de todos.


Um belo dia, numa dessas festas, os orixás começaram a sentir falta da alegria que a música trazia. As cerimônias ficavam muito mais bonitas ao som dos tambores. Novamente, eles se reuniram e resolveram pedir a Exú que voltasse a animar as festas, pois elas estavam muito sem vida.

Exú negou-se a fazê-lo, pois havia ficado muito ofendido quando sua animação fora censurada, mas prometeu que daria essa função para a primeira pessoa que encontrasse.

Exu (Èsù) é a figura mais controversa do panteão africano, o mais humano dos orixás, senhor do princípio e da transformação. Deus da terra e do universo; na verdade, Exu é a ordem, aquele que se multiplica e se transforma na unidade elementar da existência humana. Exu é o ego de cada ser, o grande companheiro do homem no seu dia-a-dia.

Muitas são as confusões e equívocos relacionados com Exu, o pior deles associa-o à figura do diabo cristão; pintam-no como um deus voltado para a maldade, para a perversidade, que se ocuparia em semear a discórdia entre os seres humanos. Na realidade, Exu contém em si todas as contradições e conflitos inerentes ao ser humano. Exu não é totalmente bom nem totalmente mau, assim como o homem: um ser capaz de amar e odiar, unir e separar,

promover a paz e a guerra.

O maniqueísmo, próprio das grandes religiões monoteístas, não se aplica ao Candomblé, muito menos a Exu. A cultura africana desconhece oposições, em especial a oposição entre bem e mal; sabe-se aqui que o bem de um pode perfeitamente ser o mal de outro, portanto, cada um deve dar o melhor de si para obter tudo de bom na sua vida, sempre cultuando, agradando e agradecendo a Exu, para que ele seja, no seu quotidiano, a manifestação do amor, da sorte, da riqueza e da prosperidade.

Exu é o orixá que entende como ninguém o princípio da reciprocidade, e, se agradado como se deve, saberá retribuir; quando agradecido pela sua retribuição, torna-se amigo e fiel escudeiro. No entanto, quando esquecido é o pior dos inimigos e volta-se contra o negligente, tirando-lhe a sorte, fechando-lhe os caminhos e trazendo catástrofes e dissabores.

Exu é a figura mais importante da cultura iorubá. Sem ele o mundo não faria sentido, pois só através de Exu é que se chega aos demais orixás e ao Deus Supremo Olodumaré. Exu fala toda as línguas e permite a comunicação entre o orum e o aiê, entre os orixás e os homens.

Exu é o dono do mercado, o seu guardião, por isso todo o comerciante e aqueles que lidam com venda devem agradar a Exu. As vendedoras de acarajé, por exemplo, oferecem sempre o primeiro bolinho a Exu, atirando-o à rua, não só para vender bem, mas também par afastar as perturbações, evitar assaltos etc., ou seja, para que Exu seja de facto um guardião e proteja o seu negócio.

É importante ressaltar que Exu não tem amigos nem inimigos. Exu protege sempre aqueles que o agradam e sabem retribuir os seus favores.

Exu foi a primeira forma dotada de existência individual. Não se sabe ao certo a sua região de origem em África, pois em todos os reinos se presta culto a Exu. Sabe-se, no entanto, que chegou a ser rei de Kêtu. Exu renasceu várias vezes e a sua história revela que é filho de Orunmilá ou de Oxum, dependendo do momento em que renasce.

Características dos filhos de Exu
Os filhos de Exu são alegres, sorridentes, estão sempre de bem com a vida, são ambiciosos, extrovertidos, espertos, inteligentes, atentos. Sabem como ninguém ser sociáveis e diplomáticos, pois conhecem o valor de uma boa amizade, fazem questão de manter o maior número possível de amigos.

Rapidamente, os filhos de Exu se tornam pessoas populares, amadas por uns, odiadas por outros. Extremamente dinâmicos, os filhos deste orixá não se desanimam nunca, mantêm sempre a certeza de que as coisas, mais cedo ou mais tarde, acabam por mudar a seu favor.

Pessoas com impressionante facilidade de comunicação, boa lábia, com charme conseguem tudo o que querem. Irónicas e perigosas, costumam manter uma vida sexual bastante agitada, sem pudores. São pessoas extremamente rápidas, que não pensam: fazem.

Os filhos de Exu possuem uma facilidade impressionante para entrar e sair de confusões, são do tipo que arma a bagunça, sai ileso e ainda se diverte com as consequências. Esquecem
facilmente as ofensas, não guardam rancor, mas não perdem a oportunidade de se vingar. Gostam da rua, das festas e das conversas intermináveis, comportamento próprio de um orixá que é só alegria.

Logo apareceu um homem, de nome Ogan. Exú confiou-lhe a missão de tocar tambores e entoar cânticos para animar todas as festividades dos orixás. E, daquele dia em diante, os homens que exercessem esse cargo seriam respeitados como verdadeiros pais e denominados Ogans.

Se liga:
Como todo Yang tem seu Yin, com esta figura não podia ser diferente. Rei dos excessos: encontramos Exu também nos vícios, nas substâncias tóxicas, na bagunça, na raiva, na vingança, no ciúme e na preguiça. De fato, estas características não são nada positivas, mas discordo de quem quer resumir Exu a elas. Como força dos extremos, ele está presente no bem e no mal e cabe a cada um de nós saber extrair o melhor dele, afinal até mesmo o poder
do livre arbítrio é guiado por Exu: símbolo da ligação entre o que há de mais obscuro e mais claro no ser humano.

Um afro abraço.
fonte:urandeiravidente\unegro-povos tradicionais

terça-feira, 8 de setembro de 2015

O Modelo Ideal Imaginario do Espelho Brasileiro.

No Brasil, onde metade da população é constituída por negros, segundo o IBGE, é importante que se faça uma reflexão no que diz respeito às igualdades, principalmente quando se percebe que um grande universo de pessoas se espelha na grande “máquina” de criação de perspectivas, que é a mídia. Portanto, seria desejável mostrar todas as raças de forma mais equilibrada, e que todas as pessoas se reconhecessem nesse meio, para não precisarem se espelhar em modelos idealizados de beleza.

Segundo o cineasta Joel Zito Araújo, em seu livro A negação do Brasil (leia resenha), "o enfoque racial da televisão brasileira é resultado da incorporação do mito da democracia racial brasileira, da ideologia do branqueamento e do desejo de euro-norte-americanização de suas elites". A negação do Brasil se transformou em documentário no início do ano e uma das cópias foi entregue ao Ministro da Cultura, Gilberto Gil, numa tentativa de se abrir um diálogo para a questão e aumentar a participação dos negros na TV, que hoje não passa de 10%. "Existem mais negros na tevê dinamarquesa do que na brasileira", constata.

O racismo refere-se ao "preconceito de cor da pele", ou seja, mesmo que o indivíduo negro pertença a uma classe social favorecida, pode ser discriminado em diferentes situações, embora em menor grau de acordo com BRASIL. Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989: “Serão punidos...os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. A intenção do presente estudo é compreender o que se passa na mídia brasileira, no que se refere à discriminação racial...

 O Brasil possui uma grande multiplicidade étnica, no entanto, não se percebe toda essa mistura de cores na mídia, de uma forma geral, ou especificamente quando se trata da publicidade e propaganda. Faz-se necessário dizer que existe uma grande diferença entre

racismo e preconceito, tendo em vista que o racismo é uma atitude de diferenciação acerca da tonalidade da pele e o preconceito é relatado como uma restrição, ou preferência a um sujeito baseado na sua cor. Portanto, pretende-se nos capítulos seguintes, analisar o processo discriminatório racial, que ocorre nas publicidades em geral, na moda e nas telenovelas brasileira os negros também são ridicularizados nos programas de humor (o famoso “politicamente incorreto” nada mais é do que um eufemismo para disseminar preconceitos), tratados de maneira humilhante nos programas policiais e encontram em publicações da imprensa conservadora (principalmente na revista Veja) um importante obstáculo para as suas principais causas e reivindicações (como o sistema de cotas raciais e políticas sociais para a população mais pobre). Em suma, mais de trezentos anos após a sua morte, a luta de Zumbi dos Palmares pela verdadeira libertação do negro continua atual.

A inserção do negro na "mídia "...
"Continua o nosso reacionário: Por que motivo os negros, em grande maioria, moram nos cortiços? A resposta, asseguro-lhe, é muito fácil: a pouca valia que imprimem aos seus trabalhos; a pouca ou nenhuma cultura e a acentuada dolência dos seus passos; a inércia e a falta de vontade e iniciativa para uma reação na trilha do progresso, são as causas principais que obrigam os negros às misérias do cortiço."

 A publicidade tem uma enorme influência na sociedade como agente modificador de comportamento cultural e de valores, estimulando o consumo e influenciando comportamentos, portanto, “a publicidade oferece aos nossos desejos um universo subliminar que insinua que a juventude, a saúde, a virilidade, bem como a feminilidade, dependem daquilo que compramos é ainda é retratado em imagem sempre das mesmas formas: socialmente carente, trabalhador braçal, malandro ou atleta. Também é engraçado perceber que o cabelo do negro na mídia possui apenas três variações: black power, ou com trancinhas ou curto quase raspado. Fora desses padrões o negro homem sempre é mostrado de cabeça raspada. Alguns podem argumentar que essas são as únicas opções possíveis, mas dizer isso só revelaria ignorância quanto ao visual do negro no cotidiano.


O modelo Ideal Imaginário do espelho brasileiro.


-"Brasil, o branqueamento é freqüentemente considerado como um problema do negro que, descontente e desconfortável com sua condição de negro, procura identificar-se como não negro, miscigenar-se com ele para diluir suas características raciais.” (CARONE; BENTO, 2002 p. 25).


O branqueamento é incorporado pela população, sendo fornecido pela elite não negra à sociedade e se apresenta por meio de uma desvalorização da estética negra e, em contrapartida, uma valorização da estética branca. Portanto, o branqueamento possui traços de uma cultura marcada pela escravidão e principalmente pelo processo da mestiçagem no Brasil. “Os casos de ascensão social de pessoas de cor não enriqueciam o grupo social dos negros, uma vez que as pessoas de cor que ‘subiam um degrau’ eram encaradas como ‘negros de alma branca’” (FERNANDES, 1965).

O branco europeu ainda se faz presente no imaginário social como um padrão universal, e, portanto, como o melhor representante da espécie humana; em contrapartida, o negro acaba

sendo representado por uma raça, um ser particularizado, ou o oposto da espécie humana, ou seja, o branco carrega consigo uma superioridade, o absoluto, enquanto o negro passa a ser submisso a essa “perfeição.

 Negro na Publicidade atual...
Note-se que a presença do negro na mídia, de forma geral ainda é muito pequena, muito embora estes já atinjam, mesmo que minoritariamente, um espaço significativo no mercado publicitário; portanto, é necessário que se faça uma observação acerca da inserção do negro na publicidade. O Projeto de Lei do BRASIL nº 4370/98, em tramitação no Congresso Nacional, que determina a porcentagem mínima de negros que deve atuar na publicidade, indica que existe uma preocupação em tornar possível a efetiva inserção do negro nos diversos espaços de atuação da sociedade.

Finalizando:
Embora ainda de forma tímida, observa-se a inserção contínua do negro na mídia brasileira, principalmente na propaganda. No entanto, essa inserção não traduz ainda o de grande avanço do Brasil na luta contra a discriminação racial. O que se vê claramente é que o mercado chegou à conclusão de que a raça negra está se apresentando como um forte segmento consumidor e, desta forma, está percebendo nitidamente que a presença do negro na mídia pode ser um importante aliado na divulgação dos seus produto...

-"A nova Constituição brasileira, também de 1988, passou a considerar o racismo como crime, o que foi regulamentado no ano seguinte, pela a Lei 7.716, do  então deputado negro Carlos Alberto Caó (por isso conhecida como "lei Caó"). "A partir de então, expressões que destacavam a cor de pele da pessoa citada, como: 'o bandido negro', sumiram das notícias".

 Um afro abraço.

 fonte:www.comciencia.br/reportagens/negros/UNEGRORJ

domingo, 6 de setembro de 2015

As conquistas da população negra e sua identidade...

Nas raízes históricas da sociedade brasileira a cultura política sempre reservou aos indivíduos da população negra uma posição subalterna na hierarquia social. A posição imposta a estes indivíduos tem na esfera do trabalho a sua expressão mais clara e definida, sobre os quais persistem inúmeras situações de discriminação, ligadas a valores negativos imputados à
imagem social do negro a partir de: marca da cor, habilidade pessoal .    A afrocidadanização também representa e abarca diversos sentidos, tais como: o reconhecimento da identidade racial como positiva; o protagonismo da população negra como fundadora e criadora da sociedade brasileira; o direito à igualdade e à liberdade de seus direitos e deveres; o direito à diferença; o direito a disputar os benefícios sociais em igualdade de oportunidades e de condições, ou seja, a afrocidadanização seria um processo de construção de uma verdadeira democracia racial, uma equidade social na qual todos os indivíduos, inclusive os da população negra, sejam contemplados e plenamente estabelecidos na sociedade brasileira.

A efetivação deste sonho é um processo que tem a ver com outras conquistas básicas: a conquista de capital cultura, a partir da ampliação das oportunidades educacionais; a mudança do habitus cultural da sociedade brasileira, que considera os indivíduos da população negra como subalternos. Portanto, a afro consciência de se pertencer à população negra aliada à ação social representa a garantia da cidadania plena.
A discussão sobre o acesso de negros nas universidades foi intensificada, em virtude da ampliação do debate em torno da possibilidade efetiva da implementação das políticas de ação afirmativa na sociedade brasileira. Esta política é um instrumento específico, capaz de efetivar a inédita presença nas universidades brasileiras de segmentos sociais até então ausentes desse espaço de construção da cidadania.

Neste sentido, o que desejo é pensar esta integração como expressão ampla do exercício pleno da cidadania, através de um processo de cidadanização ou, melhor ainda, de um processo de afrocidadanização. O conceito de afrocidadanização forjado por mim representa meu sonho, minha utopia. Ele está alicerçado em três pilares fundamentais: o Afro, que dá significado e concretude à consciência do indivíduo da população negra de sua identidade racial positiva; Ação, representando um processo de luta e de conquista galgada na participação nos movimentos sociais; e o terceiro pilar, a Cidadania, que representa a conquista de todos os direitos significativos aos indivíduos em uma sociedade democrática e justa.


Movimentos Sociais...
Os movimentos sociais são considerados como uma fonte da formação de política e teve um
papel de destaque nas lutas contra o regime militar, onde as ações do estado eram questionadas.Os movimentos contestavam diversas formas de segregação que a ditadura impunha a muitos setores da sociedade, mas foi nos anos 80 que os movimentos foram fortalecidos graças a intensa organização civil em torno dessas questões.

São ações coletivas que agem como resistência a exclusão e lutam pela inclusão social. Segundo Gohn "movimentos sociais são ações sociais coletivas de caráter sócio – político e cultural que viabilizam distintas formas da população de se organizar e expressar suas demandas" (2001; p.13). Essas organizações partem de uma simples denúncia e são expressas a partir de ações como mobilizações coletivas.

A partir das reflexões de Ilse Scherer-Warren, pode-se caracterizar movimento social como um "grupo mais ou menos organizado, sob uma liderança determinada ou não; possuindo programa, objetivos ou plano comum; baseando-se numa mesma doutrina, princípios valorativos ou ideologia; visando um fim específico ou uma mudança social" (1987;p.13).

Desde 1886, vários países do mundo celebram o dia 1º de maio como a data comemorativa das conquistas dos trabalhadores ao longo da história. No Brasil, mesmo com a Consolidação das leis do trabalho – CLT em 1943, as diferenças históricas desfavoráveis aos negros no mercado de trabalho ainda persistem.(JARDIM,2012).

A população negra é alvo de desigualdade no mercado de trabalho, sua inserção no campo profissional enfrenta grandes desafios, pois o ambiente de trabalho é um lugar onde centram atitudes que transmitem preconceito e racismo.

Os campos de atuação profissional são setores em que predominam postos de trabalho com menores exigências de qualificação e experiência profissional, menores remunerações, e consequentemente condições de trabalho mais precárias e menos valorizadas socialmente; como por exemplos: empregos domésticos e na construção civil entre outros. (JARDIM, 2012).

"E comum pessoas negras ocupando cargos de inferioridade e submissão mesmo tendo capacidade, habilidade e escolaridade para exercerem cargos de liderança."

A Lei nº 10.639/03 5é uma alteração da Lei nº9.394, de 20 de dezembro de 1996, que instituiu Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de História e Cultura Afro- Brasileira e Africana.

"Conhecer nossas origens e nossas raízes é buscar sedimentar nossa identidade ainda inconclusa."

Estudar e refletir sobre a África de ontem e de hoje, a história do Brasil contada na perspectiva do negro, com exemplos na política, na economia, na sociedade em geral é um dos objetivos que precisamos alcançar.[...]a constante presença da marca africana dos nossos ancestrais na literatura, na música,na criatividade,na forma de viver e de pensar,de dançar,de falar,de rezar e festejar.(Moraes,2010,p.7)
A escola é uma instituição que forma gerações e tem como competência de respeitar matrizes culturais e constrói identidades, visando a dignidade do indivíduo, respeitando as especificidades da herança cultural inclusa na infinita diversidade que constitui a riqueza humana.

A Lei nº9.394/96 passou a vigorar acrescida dos seguintes artigos:

Art.26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficinas e particulares, torna-se obrigatório e cultura Afro-Brasileira[...].

Art.79-B.O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como "Dia Nacional da Consciência Negra"6
Porém, a implementação dessa Lei é defeituosa por dois motivos.O primeiro,sendo por não há uma qualificação adequada na formação dos professores para ministrar os conteúdos obrigatórios sancionados na Lei.O segundo, seria pela falta de estabelecimento de metas para esta implementação e a não indicação do órgão responsável por tal fiscalização.(MORAES;2010)

Devemos ter certos cuidados em relação a abordagens do ponto de vista pedagógicos, no que
se refere o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e africana. A problemática não está na escolha do tema a veiculação de ideias racistas, mas,sobretudo, "na abordagem, na escolha de materiais, no cuidado com a construção dos argumentos"(MORAES;2010,p.23), mas na não discussão de situações cotidianas em que o preconceito se expressa, tanto na sala de aula como nos outros espaços e momentos escolares.

Movimento Negro
Com o passar do tempo, os movimentos sociais ganharam novas identidades, dentre elas as questões étnico – raciais, como por exemplo, o movimento afro-brasileiro que deixou de ser predominantemente movimento de manifestações culturais para ser também de luta de construção de identidade e de luta contra a discriminação racial e todas as formas de preconceito. (GOHN;2001)

(...)Movimento negro é a luta dos negros na perspectiva de resolver seus problemas na sociedade abrangente, em particular os provenientes dos preconceitos e das discriminações raciais, que os marginalizam no mercado de trabalho, no sistema educacional, político, social e cultural. Para o movimento negro, a questão racial, é por conseguinte uma questão de identidade racial, é utilizada não só como elemento de mobilização, mas também de mediação das reivindicações políticas.Em outras palavras para o movimento negro, a "raça" é o fator determinante de organização dos negros em torno de um projeto comum de ação.

Uma cultura que difere dos "padrões da normalidade" que é imposto pela sociedade legitimada por preconceitos o negro é "inferiorizado" ( em vários aspectos, dentre eles destaca-se a cor da pele que muitas vezes é motivo de risos e piadas. Possuem um patrimônio cultural diversificado, saberes que dizem respeito à religião,culinária, música e dança etc. A enorme dificuldade em ingressar no mercado de trabalho e nas Universidades marcam essa luta.

A participação do povo negro na construção da sociedade brasileira, nos ajuda na superação de mitos, na discussão sobre a áfrica escravizada com uma visão de caráter selvagem, incivilizado ou inferiores pela cor da pele (JARDIM;2012). Precisa-se romper com esses preconceitos arraigados em nosso imaginário social que tendem a tratar a cultura negra e africana como sofrimento, miséria ou pessoas menos favorecidas(GOHN;2001).

Os movimentos negros visam resgatar e garantir a construção de oportunidades iguais que primam pelo conhecimento garantindo os direitos e a valorização da história, da cultura e da identidade dos mesmos, direcionando a população negra quanto às reivindicações, para que os negros fossem integrados de fato à sociedade, usufruindo os mesmos direitos enquanto
cidadãos (DOMINGUÊS;2007). Lutam juntos por uma sociedade anti-racista e igualitária, alcançando a equidade entre raças e classes, como forma de eliminar as desigualdades sociais, presentes em nosso país desde a colonização, explorando os que são "desiguais" em classe e cor.

A luta dos negros vem tentando resolver seus problemas na sociedade que é composta por indivíduos preconceituosos e racistas, que os marginalizam,oprimem e os humilham em diversos segmentos como educação, política, mercado de trabalho entre outros. Lutam para garantir o fortalecimento e manutenção de suas culturas e valores e, sobretudo sua identidade enfrentando toda e qualquer forma de exclusão racial (ARAÚJO Jr;2005).

Nas décadas de 60 e 70 a juventude brasileira ligada aos movimentos sociais negros, reforça sua identidade através da música, por meio do Soul Music e da moda através do estilo Black Power, essas formas de representação social que até hoje está ligada ao negro, se iniciaram nos Estados Unidos juntamente como o movimento pelos direitos civis em que Martin Luther King lutava pela igualdade entre negros e brancos. (MERLO;2011)

Relembrando: Dentre as lutas e representações de resistência do povo negro lembramos os grandes marcos como Zumbi dos Palmares, reconhecido como um dos principais representantes da resistência negra a escravidão no período do Brasil colonial,Revolta dos Malês e Chibata, manifestações decorrentes de um processo histórico de insatisfações individuais e coletivas.

Sabemos que os negros foram trazidos da África para o Brasil, tiveram que lidar com o novo o desconhecido e arbitrário nesse contexto essa população teve que se reinventar, sendo obrigados a deixarem de praticar seus costumes adotando práticas europeias. Viam em embarcações chamadas de navio negreiro, em péssimas condições sem nenhum respeito eram maltratados e humilhados, ao chegarem no Brasil eram vendidos para os donos de terra (MEDEIROS;2008).

Alguns negros resistiam, fugiam e formavam os quilombos, que eram comunidades grandes de negros, escondidos na mata fechada. Diante dessa junção em pequenos grupos foram nascendo os primeiros movimentos organizados.
Moraes enfatiza que, após a abolição da escravidão, os primeiros anos foi marcada por uma longa luta para efetivação de uma verdadeira liberdade á população negra. Apesar do pequeno contingente de escravos libertos em 13 de maio de 1888, a grande parcela da população brasileira definida étnica e racialmente como negra foi tomada pelas autoridades como um problema para o desenvolvimento da nação. (MORAES,2010).

Com a proclamação da república a situação ficou ainda pior para a população negra,uma vez que a oligarquia agrária se instalou no poder. O governos oligárquicos que se instalaram na América Latina entre 1889 e 1930 foram extremamente refratários em relação a populações negras. (GEORGE ANDREWS,2007 apud MORAES,2010, p.36).

Diante dessa realidade os escravos, agora libertos não mediram esforços para encontrar saídas ao caso de exclusão e opressão mantido no pós-abolição, surgiram nas principais capitais mobilizações definidas como protesto negro. (MORAES,2010)
A imprensa negra foi um dos primeiros movimentos negros, deu inicio a profundas mudanças no país a partir de ideias que buscavam levantar assuntos como forma de protesto antirracista nos jornais que circulavam no pais. (FERNANDA MERLO; 2011).

Procurava dentro das possibilidades da época lutar pela integração da população negra no ambiente social urbano daquele período, a questão educacional era uma das principais reivindicações, vista como possibilidade de obterem um lugar digno no seio da sociedade. (MORAES;2010).

A partir daí surgem movimentos que vão dando força ao movimento negro no país, entre eles está a Frente Negra Brasileira (1931-1937) que se inicia em São Paulo, objetivando a interação do negro na sociedade para que o mesmo usufruísse dos mesmos direitos dos
brancos, visto que, os negros viviam as margens, impedidos de exercerem seus papeis devido à hierarquia de raças imposta à sociedade (MORAES;2010)

Em 1937, com o golpe do Estado Novo de Getúlio Vargas,a Frente Negra foi fechada e proibida de funcionar. Em 1944 no Rio de Janeiro surge o Teatro Experimental do Negro- TEN, é um dos movimentos mais reconhecidos, criado por Abdias do Nascimento para contestar a discriminação racial através da formação de atores e dramaturgos afro-brasileiros.(MORAES;2010)

A educação do Teatro Negro incorporou ao projeto: a perspectiva emancipatória do negro em seu percurso político e consciente de inserção no mercado de trabalho ( na medida em que pretendia formar profissionais no campo artístico no teatro) (ROMÃO,2005, apud MORAES,2010,p.43)

O TEN reuniu pessoas comuns operários, empregadas domésticas, pessoas sem profissão definidas, e implicou em sua atuação um comprometimento de caráter pedagógico indo além da formação de atores, tendo por base um veiculo poderoso de educação popular, tornando-os mais conscientes e autônomos (MORAES;2010).

Finalizando
É necessário antes de tudo romper com os nossos próprios preconceitos, arrancar do nosso interior toda carga negativa de racismo e interiorização ao negro, para que assim possamos nós juntar aos movimentos por uma sociedade igualitária.
Neste sentido também, as sutilezas da discriminação racial à brasileira, pautadas principalmente no fenótipo, tomado por Castro e Guimarães (1993) como uma forma de capital, têm sido solapadas em sua virulência pelas recentes transformações nas consciências das identidades raciais — uma das maiores contribuições que a educação superior tem prestado aos indivíduos da população negra. Além disso, é igualmente significativa a quantidade de reflexões sobre este tema que naturalmente aparece, quando indagados sobre a questão da identidade racial negra positiva ou sobre a percepção de racismo. De fato, a construção de uma identidade racial negra positiva vem transformando o habitus cultural da sociedade brasileira, que vai lentamente passando da desqualificação do negro e do descrédito da sua capacidade profissional para o reconhecimento do valor das suas conquistas individuais e coletivas nas esferas da educação  e do trabalho.


Essas questões devem ser discutidas cotidianamente, para que possamos conscientizar as pessoas e principalmente as autoridades.
Com este estudo podemos concluir que os movimentos sociais assumem grande relevância na garantia de oportunidades iguais. Lutam em prol de uma sociedade anti-racista, afim de alcançar a equidade entre raças e classes.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.
fonte:arquivo.geledes.org.br/

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Jorge Ben -- "Xica Da Silva"


Nossa gente nossa historia:Charles Drew Médico e Cientista

 

 Cientista médico e cirurgião estadunidense nascido em Washington, D.C, pioneiro no desenvolvimento dos bancos de sangue e internacionalmente reconhecido como autoridade em plasma sanguíneo, cujas ideias revolucionaram a medicina, especialmente de emergência e cirúrgica. Filho de Richard e Nora Drew, graduou-se no Amherst College (1926) com um grau B.A. e onde foi jogador de american football, e empregou-se no Morgan College ensinado biologia e diretor de atletismo.Chegou a McGill University onde obteve os graus M.D. e C.M., master de surgery, (1933) em medicina. Recebeu o doutorado em ciências médicas na Columbia University's College of Medical and Surgeons (1940). Tornou-se o primeiro diretor do American Red Cross Blood Bank (1941) e abriu um banco de plasma sangüíneo no Presbyterian Hospital in New York City, NY. Praticou medicina e ensinou cirurgia ao longo de toda sua carreira. Chefe de cirurgia do departamento da Howard University (1941-1950), ajudou a estabelecer bancos de sangue para servir aos Aliados da Europa durante a II Guerra Mundial (1939-1945).

Em 1943, durante a II Guerra Mundial, o comando militar norte-americano proibiu transfusões de sangue de negros para soldados brancos. Esta técnica, que já salvou milhões de vidas, era, então, uma recente inovação científica, fruto das pesquisas de um brilhante médico, Charles Drew, que também respondia pela presidência da Cruz Vermelha norte-americana. Este mesmo Drew insurgiu-se contra a determinação do Pentágono, que considerou um disparate. No entanto, prevaleceu a decisão dos generais e o cientista foi destituído de seu cargo à frente da Cruz Vermelha. Um pequeno detalhe exacerba o ridículo deste capítulo da História: Charles Drew, o brilhante cientista que desenvolveu a técnica de transfusão de sangue, era afro-descendente.

Eis, infelizmente, uma metáfora perfeita do racismo. A elite da sociedade racista sempre foi pragmática e racional no momento de aproveitar o conhecimento dos negros. Ao mesmo tempo, com estupidez que beira a bestialidade, também sempre insistiu no mito da inferioridade negra. Os generais do Pentágono não viram nenhum problema em utilizar-se da maravilhosa descoberta do plasma, que viabilizou a transfusão de sangue, mesmo vinda do cérebro de um negro. Mas não conseguiram digerir a idéia de que soldados brancos pudessem receber sangue de afro-descendentes.

Por mais gritante que esta esquizofrenia intelectual possa nos parecer, ela tem sua lógica. Não só nos Estados Unidos, mas em todas as terras onde se desenvolveram economias fundadas na mão-de-obra escrava negra, se criou e difundiu um sistema de idéias para sustentar que estas pessoas eram destituídaos de humanidade, sensibilidade, inteligência ou qualquer outro tipo de virtude. Sua única

Mesmo nas lides mais rudes, se observa outra faceta desta mesma contradição. Os negros trabalhavam à exaustão, enquanto as elites brancas orgulhavam-se das mãos de toque suave e das unhas compridas, sinais evidentes de que não precisavam trabalhar. No entanto, era sobre os negros que recaía – e ainda recai – a pecha de preguiçosos e indolentes.

IDEOLOGIAS NÃO SE FUNDAMENTAM EM FATOS, MAS EM INTERESSES
A lógica desta imensa farsa está nas necessidades da expoliação – do trabalho dos negros e da terra dos indígenas. O mito da inferioridade racial foi construído para adormecer as consciências, mas não apenas da sociedade branca. Estava apontado também contra as consciências negras (e indígenas).

Costumamos pensar nas ideologias como estruturas, ou até como sistemas, mas a compreensão mais adequada é a de um processo. Como as sociedades, as ideologias existem em transformação e adaptação permanentes. São carregadas de contradições e elementos, não só racionais e objetivos, mas também inconscientes. Elas não se fundamentam em fatos, mas em interesses – e os interesses se transformam ao longo do tempo. Assim, quando os senhores adquiriam escravos em função dos seus conhecimentos e habilidades, não atendiam a uma racionalidade neutra, mas à racionalidade dos seus interesses. Esta mesma racionalidade lhes ditava a necessidade de inferiorizar os negros. Sob este prisma, não há contradição no fato de que a mesma sociedade procurava escravos letrados para ajudarem na administração de seus negócios e proibia explicitamente a alfabetização dos negros.

A verdadeira contradição da sociedade escravocrata não residia na esquizofrenia da sua racionalidade, mas na necessidade de destruir constantemente os trabalhadores que a sustentavam. Durante o dia, precisava de homens fortes, saudáveis e lúcidos, para enfrentar duras jornadas de trabalho. À noite, precisava embriagá-los para destruir sua capacidade de resistência. A informação nos vem de fonte insuspeita, Gilberto Freyre, talvez o maior ícone do racismo cordial brasileiro. Até as crianças negras da eram obrigadas a beber cachaça nas senzalas, todas as noites. Segundo Freyre, porém, “para prevenir a verminose”.

Neste ponto, é preciso esclarecer que este relato não é uma queixa contra o passado de sofrimentos a que foi submetido o povo negro. Seu objetivo é reestabelecer a verdade histórica para enfrentar e superar, hoje, o racismo herdado dos séculos passados. Hoje, o pensamento racista cordial sobrevive e detecta, por exemplo, a realidade do alcoolismo entre os negros como uma evidência a confirmar seus preconceitos. Mas solenemente ignora o peso da herança da cachaça servida à força nas senzalas sobre gerações de famílias negras. A forte rejeição à estratégia de cotas, por sua vez, frequentemente se apresenta como embasada num “democrático” conceito de “igualdade”: as cotas para negros no ensino universitário e no serviço público, segundo esta “democrática igualdade”, seriam a imposição de um “racismo às avessas” que “privilegiaria” os negros, em detrimento dos brancos.

Como se Histórias diferentes no passado não resultassem em realidades diferentes hoje! Esta conversa tão bonita, de que “somos todos iguais”, revela uma ignorância que poderia causar espanto, se não conhecêssemos as contradições históricas que reproduz. Ora, os abusos da era escravocrata não deixaram de causar efeitos com a assinatura da Lei Áurea da princesa Isabel, nem sobre as condições materiais de vida – de negros e brancos – nem sobre os ideários – de negros e brancos. Não
contribuição à sociedade, portanto, só poderia ser o trabalho mais rudimentar, para o qual era apenas necessária a força física. Ao mesmo tempo, os escravos eram selecionados e adquiridos de acordo seus talentos. Para trabalhar com o ouro, nas Minas Gerais brasileiras, por exemplo, os colonizadores portugueses precisaram buscar escravos das regiões africanas onde se praticavam a mineração e a metalurgia, pois os portugueses estabelecidos no Brasil pouco conheciam destas artes. Na Bahia, a História ficou marcada pela ação dos escravos muçulmanos que, sabendo ler e calcular, eram utilizados na administração dos negócios dos senhores, muitas vezes iletrados.
é por acaso que ainda hoje policiais abordam jovens negros trabalhadores e estudantes, à noite, simplesmente em função da cor da pele, deixando em paz jovens arruaceiros brancos.Sentiam ânsia de vômito ao pensar nesta hipótese, pois para eles, o negro continuava sendo algo repelente.

ATÉ O AMBIENTE ESCOLAR É CONSTRUÍDO A PARTIR DE CONCEITOS DA SOCIEDADE NÃO NEGRA
Tampouco seria mero acaso se algum leitor, defensor da “democrática igualdade” acusasse este texto de “racismo ás avessas” por supostamente apresentar os jovens negros como “trabalhadores e estudantes” e os jovens brancos como “arruaceiros”. Releia, se quiser, para certificar-se de que não foi feita nenhuma generalização. Não se disse que nunca a polícia aborda jovens arruaceiros brancos. Tampouco que todos os jovens brancos são arruaceiros. Nem se disse que todos os jovens negros são trabalhadores e estudantes. Tampouco que não existam jovens negros arruaceiros. O que foi dito é que jovens negros, mesmo se trabalhadores e estudantes, são frequentemente abordados pela polícia como suspeitos, simplesmente em função da cor da pele. E não é verdade? No entanto, há quem acredite que existe “igualdade” de condições para negros e brancos que queiram chegar ao ensino universitário.

Não há esta igualdade. Não por força de alguma conspiração urdida contra os negros, mas pela simples reprodução natural do racismo e da desigualdade, como processos históricos. O próprio ambiente escolar é construído a partir de conceitos da sociedade branca. Tome qualquer livro escolar e observe as ilustrações, especialmente as que retratam grupos de pessoas. A boa vontade oficial e os conceitos “politicamente corretos” já fazem com que todos eles apresentem sempre um negro entre um grupo de pessoas brancas. Quase sempre aparecem também uma pessoa de feições asiáticas e outra indígena. No entanto, em que medida estas ilustrações reproduzem a real proporção racial existente no país? Se isto acontecesse, não haveria quem se escandalizasse e acusasse os editores de “racismo às avessas”?

Pois agora já ouvimos quem se sinta desconfortável pela existência de uma lei determinando que a História da África, dos afrodescendentes e dos indígenas seja incluída nos currículos escolares! Não há uma linha sequer, nesta lei, que proíba falar da História dos portugueses, espanhós, alemães, italianos, etc., mas preocupa a “supervalorização” dos negros e indígenas! Porque “supervalorização”? Não são eles metade da população brasileira? Não apontam as projeções estatísticas que, nas próximas décadas, serão a maioria? Não seria justo, portanto, que pelo menos metade dos nossos currículos escolares estivessem voltados para a realidade deste segmento da população?

A questão essencial, aqui, é a dos ambientes retratados e da cultura que se idealiza como a “melhor” a ser ensinada aos alunos. A título de exemplo, vamos observar que a família negra tem características especiais, como o forte traço matriarcal e a amplitude, não tão comuns nas famílias brancas. Esta família, embora seja a de metade dos brasileiros, não é reconhecida no ambiente escolar. Não há nenhuma maldade oculta por trás desta realidade. Simplesmente, a grande maioria dos pedagogos não

No entanto, já se vão 50 anos desde que Paulo Freire demonstrou que a correspondência entre o ambiente escolar, por um lado e, por outro, o ambiente cultural em que os alunos crescem e vivem, além dos muros da escola, é decisiva para o aprendizado. E, mesmo assim, há quem queira afirmar que existe “igualdade” de condições para negros e não negros que queiram chegar ao ensino universitário.

O RACISMO CORDIAL SE APRESENTA SIMPÁTICO AOS NEGROS,MAS LHES NEGA A VERDADE DO PROTAGONISMO HISTÓRICO.

Não há dúvida de que evoluímos muito desde o tempo da escravidão. Mesmo assim, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que seja completamente superada esta deformação da sociedade brasileira (e de tantas outras). Mas, aqui, cabe perguntar: os mais importantes progressos resultaram de concessões bondosas da sociedade branca ou da luta do povo negro?

Para responder, vamos lembrar do episódio conhecido como “Revolta da Chibata”, ao final da primeira década do século XX. Passados mais de 20 anos da abolição da escravatura, a marinha brasileira ainda amarrava soldados negros aos mastros de seus navios para chicoteá-los, como punição por qualquer ato de desobediência. A estupidez foi banida dos nossos navios só depois que os negros se rebelaram, tomaram uma esquadra e apontaram seus canhões contra o palácio do Catete, no Rio de Janeiro, então sede do governo da República. Os participantes da revolta e seu líder, João Cândido, celebrado como “o Almirante Negro”, foram cruelmente punidos. Porém, o medo de novas sublevações dos negros e do repúdio da opinião pública, fez com que os almirantes brancos abolissem a chibata da marinha brasileira.

Diante dos fatos, cabe renovar a pergunta: foi o sentimento de “democrática igualdade” ou o “racismo às avessas” dos negros revoltados que acabou com o chicote nos navios brasileiros? Qualquer uma das duas respostas, se isolada, é simplória. A luta dos negros foi o fator decisivo. E foi reforçada pela indignação de setores da sociedade dominante. No entanto, o racismo impregnado na historiografia oficial inverte a realidade e nos apresenta bondosos intelectuais brancos como os maiores heróis da libertação e promoção social negra.

Esta é uma das facetas do racismo cordial. Ele se apresenta simpático aos negros, mas lhes nega a verdade do protagonismo histórico. Atribui a libertação dos escravos não à luta dos negros, mas, aos versos do poeta abolicionista Castro Alves e à bondade da Princesa Isabel. Assim, silencioso, eficaz – até porque se justifica com o “cordial” argumento de que relembrar lutas poderia acender a chama do ódio – realimenta a falácia da superioridade racial. Em contraponto, expor a verdade da luta negra não precisa ser um exercício de “racismo às avessas”. Para enfatizar a importância decisiva da luta dos negros contra a escravidão, não é preciso negar a generosidade de setores da sociedade branca. No entanto, continua sendo necessário compreender os limites, mesmo das mais generosas disposições.

PARA SUPERAR O EUROCENTRISMO, É NECESSÁRIO UM PENSAMENTO HISTÓRICO QUE RECONHEÇA E INCLUA TODAS AS RAÇAS E CULTURAS

Convém repetir que, ao entendermos que cabe aos negros – e indígenas – protagonizar a continuidade da luta contra o racismo, não estamos praticando um “racismo às avessas”. Simplesmente, constatamos que, na História, quem mais e melhor luta contra a opressão é o oprimido. Isto, no entanto, não deve esconder que a conquista e o acolhimento de pessoas brancas são essenciais para a construção de uma sociedade realmente democrática, inclusiva e definitivamente não racista.

E este é um dos grandes desafios postos à frente dos militantes negros da igualdade: afirmar a História e a cultura negra, com toda sua ampla gama de valores e o seu “universo de belezas”, sem perder de vista a contribuição de outras etnias. E, aí deve ser incluída a História e a cultura dos povos indígenas, que a visão eurocêntrica oculta também dos olhos afro-descendentes. Faz parte compreender a interpenetração das raças e culturas. A História do povo negro não se conta sem o encontro e a fusão com outros povos, especialmente no Brasil. E, mais uma vez, enfatizamos que não estamos falando somente sobre a fusão com o povo europeu, mas também, e muito fortemente, com os povos indígenas.

Uma segunda faceta deste desafio é a atitude intelectualmente honesta diante da sociedade e da História. Não vale elevar os povos negros e indígenas à santidade, ignorando sua realidade humana. Os negros, como os brancos, como os asiáticos, como os indígenas, como todos os povos, afinal... também produziram ditadores sanguinários. Assim como podemos traçar paralelos entre Mandela e Gandhi, podemos colocar lado a lado Hitler e Idi Amin Dada. A História negra não pode ignorar os caçadores negros de escravos negros em território africano, nem os capitães do mato negros caçando escravos fugidos negros, já no Brasil. Da mesma forma, para compreender a igualdade humana entre todos os povos, ao redimensionarmos o poder dos versos de Castro Alves, não podemos ignorá-lo. O mesmo vale para a bondade, mesmo que insípida, da Princesa Isabel. Aliás, para compreender melhor o gênero humano, seria interessante saber como pode ter sido gerada esta generosa visão no próprio ventre da sociedade escravocrata.

A questão essencial, porém, é que toda esta realidade precisa ser vista, estudada e compreendida a partir de um ponto de vista não negro, nem europeu, mas universal. A visão eurocêntrica não deve ser substituída por uma visão centrada na África. A tarefa de construir a igualdade exige uma visão que compreenda e aceite a diversidade também no seu campo de leitura do mundo.

É BENÉFICO E URGENTE COMPREENDER E ASSUMIR VALORES CULTURAIS INDÍGENAS E NEGROS

Mais uma vez repetimos: é preciso ouvir também os indígenas. E, de novo, esta insistência não é fruto da generosidade de nossos sentimentos igualitários, mas da relevância que os indígenas vem assumindo na atualidade, como resultado das suas lutas históricas. Hoje, estão exercendo papel decisivo na evolução política do Equador e do Paraguai; lideram movimentos revolucionários no México e se articulam em todo o continente americano, do extremo norte, no Canadá, ao extremo sul, no Chile. Na Bolívia lideram uma ampla coalização de forças populares que assumiu o governo do país e vem trazendo contribuições surpreendentes (pelo menos aos olhos do eurocentrismo) para a vida política contemporânea, como a Declaração dos Direitos da Terra.

Novamente, vale insistir na importância de superar a visão eurocêntrica da História ao analisar também estes fatos. Como vimos anteriormente, é possível ao “racismo cordial” ter autêntica generosidade em relação aos povos negros e indígenas. Esta generosidade, porém, não consegue ir além da pretensão de “elevar” seres humanos de outras raças ao estágio civilizatório alcançado pela sociedade branca, o que já é outra forma de manifestar a crença na “superioridade” de uma raça sobre as outras. Este “estágio civilizatório”, porém, trouxe a humanidade à beira de um precipício: a contradição entre um mundo físico limitado e um sistema econômico cuja essência é a expansão permanente.
De qualquer forma, devemos ter presentes duas reflexões importantes. A primeira é que compreender e assumir valores culturais negros e indígenas não significa santificá-los, ou, em outras palavras, abster-se da visão crítica. A segunda é que a evolução das culturas negras e indígenas se dará em processo de fusão com valores ocidentais e orientais. Terá relação também com o que hoje acontece com os povos do Extremo Oriente, com o mundo muçulmano, com os povos da África, da Europa e do resto da América. E terá relação também com as tecnologias do mundo moderno.

a conhece e, portanto, não poderia considerá-la na elaboração dos currículos e planos pedagógicos. Observe-se: a grande maioria dos pedagogos é branca, como resultado da constante reprodução das desiguladades e do racismo.
Se liga:
O fundamental, de qualquer forma, é que a compreensão de outros pontos de vista transforma nossa visão de mundo. Olhar para a História com olhos indígenas joga por terra a primeiro e fundamental conceito que as crianças aprendem em sala de aula sobre o Brasil, ou seja, que ele foi “descoberto” pelos portugueses. Aos olhos indígenas, o Brasil nunca foi descoberto. No mínimo, o Brasil foi

E, se a História brasileira fosse contada com a voz dos negros? Seriam diferentes os mapas e as nações. Seria outra a compreensão do que é a vida e, ainda, outro o futuro. Talvez o futuro desejado pela maioria das comunidades negras, por exemplo, não seja o de morar em blocos de concreto, encurraladas e distantes dos amigos e parentes (já observamos a grande importância da família para as comunidades negras, muito mais ampla e inclusiva do que a família da moderna cultura ocidental). Por outro lado, talvez, nos bons sonhos de quem dorme nas favelas, muito mais do que blocos de concreto, exista uma polícia que não chegue dando tiro em tudo que é preto e se move, sem pensar se é sobrinho, filho, neto ou enteado de quem quer que seja.
Recebeu muitas honras e prêmios, incluindo o diploma de cirurgia pelo American Board of Surgery of Johns Hopkins University (1941), e a Spingarn Medal da National Association of the National Association for the Advancement of Colored People - NAACP (1944). Morreu em acidente de automóvel de conflitantes versões, próximo a Burlington, numa região rural da North Carolina. Um selo em sua homenagem foi lançado (1981) pela U.S. postage.

Todas estas considerações nos levam à necessidade de compreender a existência de uma História Popular ainda diferente daquela que pode ser percebida apenas com olhos indígenas, negros ou

invadido. Brasil? De que lugar estamos falando? De onde vem este nome? Como se pode perceber, a diferença de ponto de vista muda o próprio mapa do mundo. Aqueles que chamamos generalizadamente de “índios” são muitos diferentes povos, culturas e nações! Ou alguém acredita que os Incas foram extintos? Ou que os Guaranis deixaram de existir? As fronteiras que eles vêem, porém, são diferentes daquelas que percebe a sociedade ocidental. E, já que estamos falando em História, também é diferente o futuro que desejam.
europeus. Nos convidam a erguer ainda pouco mais o olhar, para compreender que nenhuma se conta sem a outra. E que nenhuma tem futuro sem a outra.

Um afro abraço.

fonte:Wikipédia

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