UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. Esta organizada em de 26 estados brasileiros, e tornou-se uma referência internacional e tem cerca de mais de 12 mil filiados em todo o país. A UNEGRO DO BRASIL fundada em 14 de julho de 1988, em Salvador, por um grupo de militantes do movimento negro para articular a luta contra o racismo, a luta de classes e combater as desigualdades. Hoje, aos 33 anos de caminhada continua jovem atuante e combatente... Aqui as ações da UNEGRO RJ

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

"Dia Nacional de combate à intolerância religiosa"

Em 21 de janeiro comemora-se o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. O que podemos trazer à memória nesta celebração? Qual a sua importância para cada um de nós? A instituição de uma data nacional para comemorar uma certa postura é, especificamente neste caso,  uma manifestação civil de repúdio a toda forma de violência contra a manifestação religiosa pessoal ou grupal. No caso do Brasil, a liberdade de expressão religiosa é garantida pela Constituição. Vivemos uma atmosfera de aceitação e mistura de religiões, que, embora aparentemente sejam saudáveis, nem sempre são expressados ou vivenciados com um real espírito de abertura para o outro.


No Brasil, desde 2007, o dia 21 de janeiro é comemorado como o Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa. A data foi oficializada pelo presidente Lula através da Lei nº 11.635 como um incentivo ao respeito e à liberdade religiosa. A data escolhida homenageia Gildásia dos Santos e Santos, popularmente conhecida como Mãe Gilda. A sacerdotisa do terreiro Axé Abassá de Ogum, em Salvador, morreu de enfarte, após ver a própria foto publicada no jornal de uma igreja evangélica, acompanhada de insultos.
Foi oficializado pela Lei nº 11.635, em 2007. A data homenageia a sacerdotisa Gildásia dos Santos e Santos, a Mãe Gilda. Ialorixá do terreiro Axé Abassá de Ogum, em Salvador, Mãe Gilda morreu de enfarte, após ver sua foto publicada no jornal de uma igreja evangélica, acompanhada de texto depreciativo. Semanas antes, o terreiro de Mãe Gilda fora invadido por evangélicos. A Igreja Universal do Reino de Deus, responsável pela publicação da Folha Universal, foi condenada a indenizar a família da ialorixá.

Diferenças religiosas sempre existiram na história da humanidade, antes mesmo do Cristianismo. Talvez porque a escolha e a expressão de uma fé toque tão profundamente ao ser humano, esta mesma escolha passa a ser algo tão defendido por ele que acaba por afastá-lo e confrontá-lo com o outro. E, o que é pior, quando esta defesa ultrapassa o limite individual e passa ao grupal, nós nos encontramos com os distúrbios – e até mesmo com guerras – provocadas unicamente pela não concordância com a escolha do outro.

O que Deus deve pensar de tudo isso? Haveria realmente uma religião melhor que outra?  O que nos diria Jesus?  Se olharmos as experiências vividas por Jesus, veremos o Mestre convivendo com tranquilidade com pessoas de diferentes religiões ou posturas religiosas. Assim, falará com a samaritana, conversará com fariseus, com romanos, com levitas, frequentará a casa daqueles que são considerados espúrios pelos líderes religiosos, como Mateus, incluirá todos na salvação que propõe aos homens. Se pensarmos que Ele mesmo, Jesus, era um judeu atuante, que frequentava o Templo, que guardava as festas judaicas, que respeitava as tradições de seu povo, só podemos ter em mente que Ele enxergava algo além da simples escolha religiosa. Ele via os corações, Ele olhava além daquilo que cada um externava a partir de sua escolha. Por isso, deixará como único mandamento o amor ao próximo como a si mesmo.

Se pudéssemos viver a plenitude do mandamento maior de Jesus Cristo, certamente teríamos inúmeros problemas a menos, no que toca as questões religiosas. Se tivéssemos a coragem de amar o outro, olhando além de diferenças que perpassam raças, religiões, países, jeitos de ser e viver, o mundo certamente seria muito melhor.  Amar o outro como a si mesmo é o grande desafio da  humanidade!

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) o a Constituição Federal asseguram a oferta do ensino religioso nas escolas públicas de ensino fundamental, mas a frequência dos estudantes é facultativa. “Mesmo trabalhando com essa ideia de pluralidade religiosa e de respeito, o pai pode sim optar por não querer que o filho participe das aulas”. 

Para auxiliar no trabalho dos professores, bimestralmente, a Seduc disponibiliza conteúdos de ensino religioso no Ambiente Virtual de Assessoramento Curricular e Formação da Seduc. Neste local, as Diretorias Regionais de Ensino acessam o conteúdo e os assessores de currículo repassaram todo o material para as unidades escolares. São sugestões para planejamento de aula, projetos, além de diversas atividades que ajudam o professor a lecionar o ensino religioso no sentido ecumênico. 

Amar não é especificamente gostar do outro, já que o gostar diz respeito à afinidade, ao convívio, ao prazer de estar junto. Amar diz respeito à compreensão mais profunda da escolha alheia, ao respeito por seu jeito de ser e à busca de um entendimento comum que propicie um real encontro de seres humanos com o divino.

Estabelecer, portanto, um dia para (re)pensar a intolerância religiosa e suas conseqüências, e, ao mesmo tempo convidar a uma nova postura de diálogo e encontro é oferecer um momento propício para a reflexão individual de nossa própria postura, motivando-nos para começar nos nossos pequenos ambientes de convívio, a criar um mundo melhor.


“...Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar...” 
(Nelson Mandela)



Um afro abraço.


UNEGRO 25 ANOS.
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!
fonte:maivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/www.generoracaetnia.org.br/.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

População negra cresce no País:51% da população são formados por negros.


No Brasil, 51% da população são formados por negros. No entanto, as informações levantados para o banco de dados mostram que, apesar dos avanços, ainda existe uma grande desigualdade no país. Exemplo disso é que os negros representam apenas 20% dos brasileiros que ganham mais de dez salários mínimos. A população negra também representa apenas 20% dos brasileiros que chegam a fazer pós-graduação no país.
De acordo com o quadro está sendo montado, com base em dados da PNAD (Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar), 13% dos negros com idade a partir de 15 anos ainda são analfabetos. Somando todas as raças, o total de pessoas que não sabem ler nem escrever no País chega a 10% da população. O maior percentual de analfabetismo entre a população negra está registrado no Nordeste, 21%. Depois vêm o Norte e o Sul, abaixo da média, cada um com 10%, seguidos da região Centro Oeste, 9% e do Sudeste, com 8%.
Segundo os estudos coordenados pela subsecretaria de Ações Estratégicas da SAE, a maior concentração de negros analfabetos por faixa etária está registrada a partir de 65 anos: 45% desse grupo em todo o País. No Nordeste esse percentual se agrava e 57% da população negra com idade a partir de 65 não sabem ler nem escrever. Nas outras regiões as taxas são menores do que a registrada no Nordeste. No Centro-Oeste, 43% da população negra com idade a partir de 65 anos são analfabetos. No Norte, 42%, no Sul, 39% e no Sudeste 33%.
Considerando todos os segmentos raciais, no total do País, 31% das pessoas com 65 anos ou mais são analfabetos, incluídos aí os que se declaram negros. A maior concentração está no Nordeste, onde 51% das pessoas nessa faixa etária não sabem ler nem escrever.

Entre os mais jovens, com idade que vai de 15 a 29 anos, as taxas de analfabetismo na população negra caem consideravelmente. Fica em 6% no Nordeste, 2% no Norte, no Centro Oeste e na Região Sul e 1% no Sudeste. Na soma do país, 3% dos negros com idade de 15 a 29 anos não sabem ler nem escrever. Na faixa de 30 a 64 anos o percentual sobe para 15%.
Estes são apenas alguns dos dados do quadro que está sendo montado. Brevemente, todas as informações que compõem o Banco de Dados estarão disponíveis para consulta, não só no “Observatório da População Negra”, como no site da SAE.



Levantamento do IBGE aponta redução de 0,4% de brancos e de 0,9% de pardos no País.
O Brasil tem cerca de 16 milhões de brasileiros da cor preta ou da raça negra em 2011, de acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na última sexta-feira (21). Em 2009, o número de negros autodeclarados era de 13,1 milhões.

No ano de 2009, de acordo com a pesquisa, dos 191,8 milhões de brasileiros, além dos declarados negros, 92,5 milhões se consideravam brancos, 84,7 milhões pardos e 1,3 milhão declaravam ser de outra etnia.

A pesquisa aponta também que houve uma redução de 0,4% na população branca e de 0,9% da população parda, ao passo que a população preta aumentou em 1,4% entre 2009 e 2011.

No ano passado, além dos 16 milhões de pretos, o Brasil tinha também 93,2 milhões de brancos, 84 milhões de pardos e 1,8 milhão de pessoas de outras etnias. No total, o País alcançou 195,2 milhões de moradores.

Entenda a Pnad
O estudo considera cinco categorias para que a pessoa possa se classificar quanto à característica cor ou raça: branca, preta, amarela, parda ou indígena.

A denominação preta é usada pelo próprio IBGE. Na categoria amarela, entram pessoas que se declaram de origem japonesa, chinesa e coreana.

As pessoas pardas são aquelas que se consideram mulatas, caboclas, cafuzas, mamelucas ou mestiças de preto com pessoa de outra cor ou raça. 


Regiões brasileiras com maior e menor número de negros

No ano de 2009, a região Sudeste tinha a maior quantidade de negros — 6,2 milhões. Em 2011, a região se manteve com o maior número de pessoas que se consideram negras: 7 milhões.

A região com o menor número de negros é a Norte. Em 2009, eram 738 mil, enquanto, em 2011, o número passou para 1 milhão.

Homens e mulheres negras no Brasil


Dos 13 milhões de brasileiros que se consideravam negros em 2009, 6,5 milhões eram homens e 6,5 milhões, mulheres. Em 2011, este número aumentou para 8 milhões para cada lado, mantendo a igualdade entre os sexos.


REBELE-SE CONTRA O RACISMO!

UNEGRO 25 ANOS.

Um afro abraço.

fonte:R7/www.brasil.gov.br/noticias.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Nem sempre a vitória é tudo; nossa luta faz história: Aida dos Santos, uma mulher de garra


Em 1964, os Jogos foram disputados pela primeira vez no continente asiático. Tóquio tinha sido eleita como a sede olímpica de 1940, mas a capital japonesa desistiu em 1937, por causa do início da guerra contra a China. Em 1959, a cidade voltou vencer a eleição do Comitê Olímpico Internacional, para os Jogos de 1964.


 Foram investidos US$ 3 bilhões na construção de complexos esportivos, na infra-estrutura e no sistema de transporte da cidade, na época com mais de 10 milhões de habitantes. Grande parte desse valor veio da ajuda dos Estados Unidos, ainda em dívida com os japoneses pelos danos causados durante a Segunda Guerra.

 A Negra Aida fez  história no esporte.

Aida dos Santos (Rio de Janeiro, 1 de março de 1937) é uma ex-atleta brasileira. Participou de duas edições dos Jogos Olímpicos: em Tóquio 1964, ficou em quarto lugar no salto em altura. Quatro anos depois, nos Jogos da Cidade do México, ficou em vigésimo no Pentathlon. É mãe da jogadora de voleibol Valeska Menezes, e tem um instituto para promover a inclusão social por meio do atletismo e do voleibol.


Iniciou-se na prática esportiva jogando vôlei na escola onde estudava, em Niterói. Nascida em Icaraí, estudou na Escola Estadual Aurelino Leal, em Niterói. Iniciou-se no vôlei, mas uma amiga a levou para o atletismo. Não teve apoio do pai no início. O pai cobrava que ela nada ganhava com a prática esportiva. Ele a proibiu e ela teve de participar das primeiras competições, levada às escondidas por uma colega. Apanhou muito e superou todas as contrariedades.

Que há quase 50 anos, Aida Santos, marcou história no atletismo nacional? Sem nenhum apoio, treinador, tênis e até uniforme próprio, a carioca com aproximadamente  75 anos de idade entrou para a história , Aida teve o melhor desempenho de uma brasileira na história dos Jogos até as Olimpíadas de Atlanta em 1996, quando as atletas Jacqueline e Sandra conquistaram a medalha de ouro no vôlei de praia



Aida Santos foi a primeira atleta brasileira a chegar próxima de uma medalha olímpica. Em Tóquio, 1964, a carioca ficou na quarta posição no salto em altura, com 1,74m, mesmo com o pé torcido...

A atleta fez história nas Olimpíadas de Tóquio ao viajar como a única mulher da delegação brasileira. Sem técnico e sem material de competição, ela precisou de ajuda para preencher a ficha de inscrição em inglês e pegou uma sapatilha emprestada para competir no salto em altura. Surpreendeu quando conseguiu uma vaga na final e se tornou sensação ao ficar no quarto lugar, superada apenas pela romena Iolanda Balas, a australiana Michele Brown e a soviética Taisia Chenchik.

Sem a ajuda de ninguém, ela mal conseguiu preencher a ficha de inscrição, toda em inglês. Seu nome não constava na relação de atletas brasileiros e ela não pode retirar o material para competir. Nas eliminatórias, obteve a classificação às custas de uma torção no pé – estava acostumada a cair na areia, não na espuma. Movida apenas de garras e com uma sapatilha emprestada de um corredor cubano para a grande final, Aida voltou ao Brasil como heroína e representa o melhor do espírito olímpico.

"Eu nunca esperava voltar lá no Japão, quando me chamaram para ir eu pensei comigo mesmo que tinha que ir ao cardiologista antes e levei medicamentos porque a emoção é muito forte", revelou seu desempenho na capital japonesa logo ganhou reconhecimento e Aída foi apelidada de "Leoa de Tóquio". Após as Olimpíadas de 1964, ela competiu na Cidade do México-1968, no pentatlo, modalidade em que conquistou duas medalhas de bronze nos Jogos Pan-americanos de Winnipeg/67 e Cali/71.A visita ao Estádio Olímpico de Tóquio, no entanto, não trouxe apenas boas lembranças à atleta, que atualmente disputa competições de masters de vôlei. As dificuldades enfrentadas desde a viagem até os momentos de competição voltaram à cabeça de Aída dos Santos.

Como única mulher da delegação brasileira, ela fez as viagens acompanhando equipes masculinas. A ida a Tóquio foi ao lado da Seleção Brasileira de vôlei, que tinha Carlos Arhtur Nuzman na equipe, e teve uma escala em Paris. O retorno, com o time nacional de futebol, composto por amadores e comandado por Vicente Feola, técnico campeão da Copa do Mundo de 1958.

 Em 2006, Aída dos Santos recebeu o Troféu Adhemar Ferreira da Silva no Prêmio Brasil Olímpico, e em 2009 foi agraciada com o Diploma Mundial Mulher e Esporte, uma premiação especial do Comitê Olímpico Internacional.

Aida teve três clubes na vida: o Fluminense Atlético, de Niterói, onde começou, e competiu pelo Vasco e por seu clube do coração, o Botafogo. Ela é formada em Educação Física e Pedagogia. Fez Educação Física na UFRJ e Pedagogia na Universidade Gama Filho e foi diretora e técnica de atletismo do Botafogo por muitos anos. Aída também foi professora de Atletismo, Vôlei, Basquete, Natação, Ginástica e Ginástica Olímpica e Futsal na Universidade Federal Fluminense, por onde se aposentou há 12 anos. Atualmente, ela ainda serve ao Botafogo. Ela é benemérita, conselheira e suplente do Conselho Fiscal do Alvinegro carioca.

Títulos
Campeã estadual, brasileira, sul-americana e Pan-americana de salto em altura

1967 – Pan-Americano (Winninpeg-Canadá) – medalha de bronze no pentatlo;

1964 – Olimpiadas de Tóquio – 4° lugar no salto em altura com a marca de 1,74m, e melhor classificação olímpica do atletismo feminino em todos os tempos).

Aída foi a única representante do atletismo nacional e única mulher da delegação do Brasil nos Jogos de Tóquio 1964. A atleta, que também disputava provas de 100 metros rasos e lançamento de dardo, participou sem uniforme, sem técnico, sem médico, sem sapatilha de prego.

1968 – Olimpíadas no México ficando na 22ª.colocação na prova do pentatlo

1971 – Pan-Americano (Cáli-Colombia) – medalha de bronze no pentatlo

Foi homenageada em 1995 na inauguração da pista de atletismo da UFF que tem o seu nome.

E em 2006 foi homenageada com o Troféu Adhemar Ferreira da Silva, entregue anualmente a uma personalidade com importante vida atlética.


Um afro abraço.

fonte:memoriadoesporte.org.br/www.lagartense.com.br/Agencia Lance, Wikipedia, FARJ

Negra Mulheres:


 Nascida no Centro Histórico de Salvador em 10 de fevereiro de 1894, Mãe Menininha do Gantois, como ficou conhecida Maria Escolástica da Conceição Nazaré, teve como pais Joaquim e Maria da Glória. Descendente de escravos africanos, ainda criança foi escolhida para ser Iyálorixá no terreiro Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê, fundado em 1849 por sua bisavó, Maria Júlia da Conceição Nazaré, cujos pais eram originários de Agbeokuta, sudoeste da Nigéria.
Foi a quarta das Iyálorixá do Terreiro do Gantois e a mais famosa do País. Iniciada no culto aos orixás de Keto aos oito anos de idade, assumiu definitivamente o terreiro aos 28. Foi uma das principais articuladoras do término das restrições a cultos impostas pela Lei de Jogos e Costumes de 1930, que condicionava a realização de rituais à autorização policial e limitava o horário de término dos rituais às 22 horas.
Símbolo da luta pela aceitação do candomblé pela cultura dominante, Mãe Menininha 
abriu as portas do Gantois aos brancos e católicos. Nunca deixou de assistir às celebrações de missa e convenceu os bispos baianos a permitirem a entrada de mulheres – inclusive ela – vestidas com as roupas tradicionais das religiões de matriz africana nas igrejas. Umas das mães-de-santo mais famosas e importantes do país, 

Maria Escolástica Conceição Nazaré, mais conhecida como Mãe Menininha do 

Gantois, foi uma das grandes defensoras da preservação dos cultos Afro-brasileiros

na época da escravidão, principalmente nos espaços do Engenho Velho ou a Casa 

Branca, o terreiro mais antigo da Bahia. Mãe Menininha nasceu em 10 de fevereiro de 

1894. Tornou-se yalorixá em 1922, sob o reino de Oxum. Faleceu aos 92 anos, com 74 

de iniciação ao culto. Considerada por muitos uma sacerdotisa excepcional pelo ser 

humano que era, Mãe Menininha era conhecida ela sua tranqüilidade e sabedoria. 

Reverenciada por grandes personalidades do mundo artístico e político, Mãe 

Menininha foi  também imortalizada por Dorival Caymmi, na música Oração a Mãe 

Menininha, que a chamou de “a mãe da doçura”, “a Oxum mais bonita” e a celebrou 

com versos sublimes, como: “Olorum quem mandou essa filha de Oxum tomar conta 

da gente e de tudo cuidar”.A Iyálorixá faleceu de causas naturais, aos 
92 anos de idade.



Alzira Rufino

Alzira Rufino nasceu em Santos (São Paulo, Brasil), em 06 de julho de 1949. De família

 negra e pobre, tendo trabalhado desde criança, aos 17 anos foi admitida em um 

hospital como auxiliar de cozinha. Ficou na função por dois anos, período em que 

ganhou seu primeiro prêmio literário. Aos 19 anos, iniciou os estudos na área da 

saúde. Dedicando-se seriamente, galgou os diferentes níveis de sua área de atuação, 

até graduar-se em Enfermagem.

Em março de 1985, organizou a primeira Semana da Mulher da Região da Baixada 

Santista, reunindo todas as organizações de mulheres. Em 1986, fundou o Coletivo 

de Mulheres Negras da Baixada Santista, um dos mais antigos grupos de mulheres 

negras do Brasil. Em 1990, fundou a Casa de Cultura da Mulher Negra (CCMN).

Alzira é ialorixá, poeta e presidente da Casa de Cultura da Mulher Negra e tem 

recebido inúmeras homenagens e distinções, dentre elas: do Conselho Nacional da 

Mulher Brasileira, da Câmara Municipal de Santos e da Câmara Municipal do Cubatão;

 indicada por organizações brasileiras para integrar a delegação não-governamental 

para a Conferência Mundial de Direitos Humanos, em Viena. Em 2005, foi uma das mil 

mulheres indicadas para o Prêmio Nobel da Paz 2005. Recebeu homenagem da 

Subcomissão do Advogado Negro (Subseção Santos/SP da Ordem dos Advogados 

do Brasil); foi homenageada, juntamente com a CCMN, pela Assembléia Legislativa do

 Estado de São Paulo, com oPrêmio Zumbi dos Palmares; recebeu o Troféu Anid 

(Ação Negra de Integração e Desenvolvimento), na cidade de Barueri/SP.

Desde 1992, a ativista é fellow da Ashoka, tendo coordenado a Rede Feminista Latino-

americana e do Caribe contra a Violência Doméstica, Sexual e Racial, na sub-região

 Brasil (de 1995 a 1998). A Casa de Cultura da Mulher Negra (CCMN), presidida por 

Alzira, foi a primeira ONG brasileira a ser credenciada pela OEA (OAS), em 2001.

Tem publicado artigos em jornais e revistas brasileiras e do exterior. Ganhou diversos

 prêmios de poesia em nível local e nacional e tem publicações de poesia, ficção e 

ensaios.

Um afro abraço.
fonte:Cartilha Mulher Negra tem História – Alzira Rufino, Nilza Iraci, Maria Rosa Pereira, 1987, Santos; Roy Glasgow – “Nzinga”– Ed. Perspectiva, Col. Debates – 1982 – SP.
OLIVEIRA, Rachel de. Tramas da cor: enfrentando o preconceito no dia-a-dia escolar. São Paulo: Selo Negro, 2005

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Cuti, pseudônimo de Luiz Silva, é um dos mais engajados militantes da literatura afro-brasileira.

 Cuti:O poeta, ensaísta e escritor negro Cuti, pseudônimo de Luiz Silva, é um dos mais engajados militantes da literatura afro-brasileira. Nascido em Ourinhos, interior de São Paulo, em 31 de outubro de 1951.

Com o avanço das lutas contra o racismo, nas últimas décadas do século XX, os negros começaram a se tornar protagonistas das suas obras. Usando a palavra como forma de resistência, diversos escritores e poetas criaram uma produção diferenciada, com nuanças específicas, baseadas nos elementos culturais de origem africana e no resgate da dignidade. No livro Literatura negro-brasileira, quarto volume da Coleção Consciência em Debate, lançamento da Selo Negro Edições, o escritor e pesquisador Cuti, pseudônimo de Luiz Silva, analisa a participação do negro, como personagem, autor e leitor, na literatura brasileira.


Escritor profícuo e grande pesquisador, Cuti destaca os precursores e a nova geração dessa corrente – que alcançou um patamar significativo com os trinta anos de edição ininterrupta dos Cadernos Negros, coletânea anual de poemas e contos. “A literatura é alimento para o nosso imaginário, que se move o tempo todo, recebendo, produzindo e reproduzindo ideias, palavras, frases, imagens sobre o que somos como pessoa e povo”, revela o autor. Para ele, as palavras carregadas de emoções nutrem a dimensão interna de nosso ser. “Nossas relações inter-raciais também são mediadas pelo texto não referencial”, complementa. A obra cumpre, nessa dinâmica, o papel de trazer um deslocamento de perspectiva na superfície e na profundidade do texto ficcional e poético, estabelecendo uma formação discursiva dissonante no contexto hegemônico da ideologia racista que ainda vigora nos meios de comunicação brasileiros.

 Cuti é  um dos mais engajados militantes da literatura afro-brasileira. Formou-se em Letras (Português–Francês) pela Universidade de São Paulo em 1980 e pós-graduou-se em Teoria da Literatura no Instituto de Estudos da Linguagem (Unicamp). Autor de livros como Poemas da Carapinha e Batuque de Tocaia (edição do autor), foi um dos fundadores e membro do Quilombhoje Literatura — grupo paulistano de escritores surgido em 1980 e dedicado a discutir e aprofundar a experiência afro-brasileira na literatura — e um dos criadores e mantenedores da série Cadernos Negros, “nascida no bojo de um incipiente movimento que pretendia dar continuidade à histórica epopéia de uma imprensa negra”.
“Democracia racial é uma camisa de força da literatura negra.” O poeta e militante negro Luiz Silva, o Cuti, diz que a falsa idéia da boa convivência faz parte da ideologia racista.


 Pára Cuti, a literatura precisa de forte antídoto contra o racismo nela entranhado. Os autores nacionais, diz ele, principalmente os negro--brasileiros, lançaram-se a esse empenho, não por ouvir dizer, mas por sentir, por terem experimentado a discriminação em seu aprendizado. Ao longo da obra, ele fala sobre os precursores, destacando que Luiz Gama, Cruz e Sousa e Lima Barreto foram solitários, em especial no empenho de sua afirmação racial ou crítica ao racismo. No capítulo em que aborda os elos de gerações, por exemplo, revela que a literatura negro-brasileira passou a contar, a partir das primeiras décadas do século XX, com o início de uma vida literária negra nas associações culturais de caráter reivindicatório. E traça o perfil de autores que constituem esse grupo como Abdias Nascimento, Solano Trindade e Carlos de Assumpção, entre outros.

A PALAVRA NEGRO

A palavra negro
tem sua história e segredo
veias do São Francisco
prantos do Amazonas
e um mistério Atlântico
 
A palavra negro
tem grito de estrelas ao longe
sons sob as retinas
de tambores que embalam as meninas
dos olhos
 
A palavra negro
tem chaga tem chega!
tem ondas fortesuaves nas praias do apego
nas praias do aconchego
 
A palavra negro
que muitos não gostam
tem gosto de sol que nasce

A palavra negro
tem sua história e segredo
sagrado desejo dos doces vôos da vida
o trágico entrelaçado
e a mágica d'alegria
  
 
A palavra negro
tem sua história e segredo
e a cura do medo
do nosso país
 
A palavra negro
tem o sumo
tem o solo
a raiz.

 Um afro abraço.

fonte:www.uel.br/pos/letras/terraroxa

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

"Movimento black gospel e o movimento negro evangélico".

 A música gospel para alguns é algo recente. Porém, na verdade, suas origens são mais antigas, remontando ao final do séc. XIX início do séc. XX, nas Igrejas Evangélicas compostas em sua totalidade por irmãos negros nos Estados Unidos da América. Em inglês, a palavra "gospel" deriva-se do inglês antigo "God-spell" que significa "palavra de Deus", posteriormente derivando-se para "boas novas" em português, numa alusão ao Evangelho de boas novas ao mundo.
Dentro do movimento negro evangélico surge, naturalmente, o movimento black Music gospel. Isto se dá no Brasil a partir dos anos noventa. A junção desses dois movimentos ainda não aconteceu dados aos fatores históricos e questões de ordem teológicas. Grande parte dos membros deste movimento são oriundos das igrejas neo pentecostais  onde de certa forma, as doutrinas sufocam a militância porque não permitem a reflexão, menos ainda a consciência negra. Assim, este movimento busca uma transformação social aqui e agora, ficando apenas na musica.
Talvez um dos velhos estilos da música negra que realmente se aproximou do Gospel foi o Negro Spirituals (em português, as canções harmoniosas dos "Negros Espirituais"). A história dos negro spirituals se confunde com a história dos africanos em continente americano, existindo 3 marcos principais: 

1865: Abolição da escravatura, nos EUA.
1925: Renascença Negra.
1985: o Primeiro Dia do Dr. Martin Luther King.

As primeiras músicas negro spirituals foram inspiradas pela música africana. Algumas delas eram chamados de "shouts" (gritos, clamores) e acompanhavam danças típicas, incluindo bater palmas e o pés no chão. Após o culto, as congregações costumavam permanecer para um "clamor em círculo". Os homens e mulheres eram dispostos em círculo. A música começava, talvez com um cântico espiritual, e o círculo passava a se mover, primeiro lentamente, depois mais rápido com a aceleração do ritmo. A mesma frase musical era então repetida várias vezes durante horas. 

A escravidão foi um tema importante para a Igreja americana. Muitos pastores foram contra essa prática, como J. D. Long e assim muitos escravos foram aceitos nos cultos da Igreja. Os escravos permaneciam após o culto, nas Igrejas ou mesmo nas "casas de adoração" nas plantações, para cantarem e dançarem. Nos encontros rurais, milhares de escravos foram agrupados e listados por pregadores itinerantes, e cantavam cânticos espirituais ("spirituals"), por horas. Assim, nas zonas rurais, os "spirituals" eram cantados, principalmente fora das igrejas. Nas cidades, por volta de 1850, o Movimento Protestante Reavimento da Cidade criou um novo gênero de música, que era popular, para reuniões de avivamento organizado por este movimento, tendo sido erguidas tendas temporárias nos estádios, onde os frequentadores podiam cantar.

Na igreja, hinos e salmos eram cantados durante os cultos. Alguns deles foram transformados em canções típicas do afro-americano: são eles conhecidos como "Dr. Watts". O Dr. Isaac Watts foi um ministro Inglês, que publicou vários livros: "Hymns e Spiritual Songs", em 1707, "Os Salmos de Davi", em 1717. Várias denominações protestantes aprovaram seus hinos, que foram incluídos em vários hinários, naquele momento. 

As letras de "negro spirituals" eram intimamente ligadas com a vida dos seus autores: os escravos. Embora as canções de trabalho lidassem apenas com a sua vida diária, os spirituals foram inspirados pela mensagem de Jesus Cristo e sua Boa Nova (Evangelho) da Bíblia: "Você pode ser salvo". Eles são diferentes de hinos e salmos, porque eram uma maneira de compartilhar a condição difícil de ser escravo. Muitos escravos na cidade e nas plantações tentaram correr para um "país livre", que eles chamaram de "minha casa" ou "Doce Canaã, a Terra Prometida". Este país estava no lado norte do rio Ohio, que eles chamavam de "Jordão". 

Entre 1865 e 1925

A escravidão foi abolida em 1865. Então, alguns afro-americanos foram autorizados a ir para a faculdade. No Fisk University, uma das primeiras universidades para afro-americanos, em Nashville (Tennessee), alguns educadores decidiram arrecadar fundos para apoiar a sua instituição. Assim, realizaram turnês no Novo Mundo e na Europa, cantando "negro spirituals" (Fisk Jubilee Singers). Depois de 1865, a maioria dos afro-americanos não queriam lembrar as músicas que cantavam nos dias difíceis da escravidão. Isso significa que, mesmo quando cantavam negro spirituals, eles não tinham orgulho de fazê-lo.

Na década de 1890, sugem as Igrejas Santas e Santificadas (Holiness and Sanctified Churches), dentre as quais a Igreja de Deus em Cristo. Nessas igrejas, a influência das tradições africanas eram evidentes. Essas igrejas eram herdeiras das canções com gritos, palmas, bater os pés e de jubileu, como se fossem as antigas "casas de adoração" nas plantações.

No início do século XIX, os afro-americanos estavam envolvidos no "Segundo Despertamento". Eles se conheciam em reuniões campais e cantavam músicas sem hinário. Assim, as músicas eram compostas de forma espontânea. Eles eram chamados de "cânticos espirituais" e o termo "sperichil" (espiritual) apareceu pela primeira vez no livro "Slave Songs of United States".

O Segundo Despertamento dava grande destaque ao potencial de escolha e decisão do ser humano. Essa característica, que combinava com os ideais de liberdade e iniciativa individual da jovem nação, encontrou sua expressão mais eloqüente no avivalista Charles G. Finney (1792-1875), que empregava técnicas de “apelos” insistentes, num clima de muita emoção, bem como acompanhamento aos que se “decidiram por Cristo” através de conselhos, instruções, técnicas essas que foram, em geral, incorporadas nas “Cruzadas evangelísticas” até o presente. 

Entre 1925 e 1985

Na década de 1920, a Renascença Negra (Black Renaissance) foi um movimento artista sobre poesia e música. Surgida em bairros como o Harlem (considerado o palco do movimento), ela influenciou a maneira de cantar e interpretar "negro spirituals". Muitos nomes podem ser citados como representantes do movimento, tais como Langston Hughes, Claude McKay, Countee Cullen, dentre outros. 

Durante os anos de Black Renaissance, diversos artistas, tais como Marian Anderson ("Deep River", etc) e Paul Robeson ("We Are Climbing Jacob's Ladder", etc), promoveram o negro spirituals. Algumas deles incluíam negro spirituals em seus shows. Assim, Jules Bledsoe cantou "Deep River" num repertório que incluia clássicos e peças de ópera. Eva Jessie e seu coro criaram um oratório "A Vida de Cristo em Negro Spirituals" (1931). Dorothy Maynor era uma concertista, que costumava cantar negro spirituals.

O movimento teve uma grande importância para o desenvolvimento do negro spirituals. Em primeiro lugar, o significado histórico dessas canções foram apresentadas. Em seguida, os cantores foram "forçados" a se tornarem mais educados. Por exemplo, no século XX, os meninos costumavam cantar negro spirituals nos pátios das escolas. Seu modo de cantar não era sofisticado. Mas os educadores entendiam negro spirituals como peças musicais, e que portanto deviam ser interpretadas como tal. Novos grupos foram então formados, como a Highway QC´s (QC: Quincy College).

Esta melhoria constante do negro spirituals deu origem a outro tipo de músicas cristãs. Estas eram inspiradas na Bíblia (principalmente o Evangelho) e relacionadas com a vida diária. Thomas A. Dorsey foi o primeiro a compôr essas novas músicas (como o sucesso "There Will Be Peace in the Valley", composta para Mahalia Jackson, sendo mais tarde gravada por Elvis Presley). Ele as chamou de músicas gospel, mas algumas pessoas as chamavam "Dorseys". Ele é considerado como sendo o pai da música Gospel. A Igreja inicialmente não gostou do estilo de Dorsey e não achou apropriado para o santuário, na época. 

Muitos cantores surgiram nesta época, como Mahalia Jackson, uma das principais cantoras gospel dos Estados Unidos no século 20. Em 1963 ela cantou para 250 mil pessoas, na ocasião onde Martin Luther King Jr. fez seu famoso discurso "I Have a Dream" ("Eu tenho um sonho", discurso pelos direitos civis amplamente conhecido nos Estados Unidos). Também cantou "Take My Hand, Precious Lord" no funeral de Martin Luther King Jr.


Depois de 1985

O primeiro dia do Dr. Martin Luther King foi celebrado em 1985, tornou-se um feriado nacional em 1992. Este evento é um marco na história dos afro-americanos, mostrando que esta comunidade é uma parte da nação EUA.

Se liga:

O  movimento negro evangélico tem entre seus membros pessoas do movimento ecumênico e do movimento da missão integral, que entendem ser missão das igrejas a transformação da sociedade, a reflexão engajada e uma teologia contextualizada em sintonia com a negritude. O movimento black gospel é parte deste movimento porque de raiz negra.
Já vimos que o movimento pentecostal surgiu no mesmo ambiente que gerou a musica negra. Assim como o pentecostalismo é negro a sua musica também o é. A musica negra precisa ter sentido para o movimento black gospel e o movimento negro evangélico deve levar a reflexão para o movimento black gospel, mostrando que a musica negra tem sua raiz no sofrimento dos negros escravizados que não aceitando passivamente a servidão apropriaram-se da crença e da fé como instrumento de sua libertação. Os spirituals falam da libertação do povo negro efetuada por Deus, sua vontade em corrigir a opressão dos escravos negros.
A junção destes dois movimentos corrobora com seus objetívos precípuos, mas o movimento black gospel carrega consigo grande potencial de envolver as grandes massas negras.

Um afro abraço.fonte:http://www.negrospirituals.com/ Wikipédia, a enciclopédia livre/cpdoc.fgv.br/mosaico/negritudecrista.wikia.com/wik

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Dia 9 de Janeiro :LEI 10639/03

A Implementação da lei 10.639/03 e a recente vigência da lei 11.645/08.
Desde a década de 90, o surgimento de um aparato jurídico normativo que contemplasse a diversidade étnico-racial era reivindicado intensamente pelo Movimento Negro; na discussão acerca das "minorias raciais", étnicas, sexuais, religiosas etc.
A relevância da questão racial para o equacionamento da questão social no país ficou mais evidente quando, durante a campanha presidencial de 2002, os principais candidatos à presidência da República se viram obrigados a tratar, no debate público em rede nacional de televisão, o tema das ações afirmativas para negros.
A positividade do cenário se expandiu quando Lula sancionou, no dia 09 de janeiro de 2003, a lei nº 10.639, a primeira do seu governo. A referida lei altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e introduz a obrigatoriedade da temática história e cultura afrobrasileira no Ensino Básico públicos e privados. Durante o primeiro ano, em meio a controvérsias e ambiguidades, o diagnóstico que inspirava as iniciativas governamentais em relação à questão étnico-racial, como citamos abaixo, coincidia com as expectativas da maioria dos grupos e entidades negras espalhados por todo o país. Além disso, o surgimento, no âmbito do Ministério da Educação e da Secretaria de Educação Continuidade Alfabetização e Diversidade (SECAD), em 2003, indicava a importância que o tema da diversidade étnicoracial assumiria na área de política social do governo Lula.
Cinco anos após a promulgação da lei 10.639/03, que altera a LDB e institui a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira na educação básica, sua tímida implementação em nível nacional é marcada pela descontinuidade das políticas públicas; recentemente sancionada, a lei 11.645/08, que ratifica a 10.639/03 e torna obrigatório o ensino da história e cultura dos povos indígenas brasileiros, aguarda ser regulamentada e gera expectativas sobre sua adoção de fato 

Em instituições de ensino de todo o Brasil vem crescendo o número de iniciativas com o objetivo específico de atender uma alteração da LDB determinada pela lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que tornou obrigatório, na educação básica, o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira e a educação para as relações étnico-raciais. Esta lei foi ratificada por outra, a 11.645, de 10 de março de 2008, que acrescentou a história e cultura indígena ao texto original da 10.639/03. 
Na perspectiva nacional, porém, essas iniciativas acontecem de forma isolada e geralmente concretizam-se em função de um professor que assume a tarefa de abrir espaço para estes conteúdos em suas aulas. Cinco anos após a promulgação da lei 10.639/03, sua implementação vem seguindo o compasso descontínuo das políticas públicas pontuais – os exemplos citados no início desta ainda configuram-se como exceções no cenário educacional. 

Valorização da diversidade cultural
As leis 10.639/03 e 11.645/08 inscrevem-se no Artigo 26 da LDB, onde já constava, antes da promulgação destas, a necessidade se considerar, no ensino de História do Brasil, “as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia”. A alteração na LDB promovida pelas duas leis reforça e amplia este preceito, apontando os temas que devem constar no conteúdo programático das escolas especificamente com relação à história e cultura africana, afro-brasileira e dos povos indígenas, determinando a inserção destes temas em todo o currículo escolar, em diferentes disciplinas, e instituindo o Dia da Consciência Negra (20 de novembro) no calendário escolar. 

A Resolução do Conselho Nacional de Educação n° 1, de 17 de junho de 2004, tratando do parecer sobre as Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais e Para o Ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, regulamentou a lei 10.639/03. O documento incorpora a educação para as relações étnico-raciais como tema obrigatório no escopo da lei e indica ainda a necessidade de incluir estes conteúdos nas etapas de educação infantil e no ensino superior, além do ensino fundamental e médio, a fim de que a lei seja adequadamente cumprida. A lei 11.645/08 aguarda regulamentação semelhante.

A conjuntura dos últimos anos favoreceu a aprovação destas leis: de forma quase que inédita, pautas envolvendo a condição sócio-cultural e econômica atual de negros e dos povos indígenas começaram a ganhar espaço no âmbito do governo federal; no panorama internacional, está em curso uma ampla discussão sobre a importância de se valorizar a diversidade cultural e combater todas as formas de racismo, discriminação e intolerância, o que envolve tratados internacionais em que o Brasil é signatário.

“O preconceito racial não é um problema dos negros, é um problema do Brasil. É um problema que deve ser combatido por todos os brasileiros”, afirma André Lázaro, Secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) do MEC. “Um ambiente escolar sem preconceito certamente contribui para aprimorar o desempenho dos alunos. E uma criança aprende melhor lendo coisas que sejam interessantes para ela; se eu consigo que alunos negros leiam sobre História da África, estarei contribuindo para o aprendizado da leitura”. 
Lei 10.639/03: ações do governo e da sociedade civil 
A lei 10.639/03 também é fruto direto de reivindicações históricas do movimento negro e está amparada numa realidade marcada pela desigualdade, inclusive no campo educacional: de acordo com o IBGE (Censo 2000), entre os estudantes de ensino médio, a quantidade de brancos (52%) é quase o dobro da de negros e pardos (28,2%), e no ensino superior os brancos estão cerca de quatro vezes mais presentes que os negros. A diferença de escolaridade média entre negros (6,1 anos) e brancos (8,4 anos) na faixa dos 25 anos mantém-se a mesma (2,3 anos) há três gerações. “Um fato que se repete há três gerações não pode ser explicado senão por um problema estrutural da sociedade brasileira”, observa André Lázaro. Noventa milhões de descendentes de africanos povoam o país 120 anos após abolição, representando 49% da população brasileira, segundo dados do IPEA.

A vigência desta lei desencadeou ações, em todo o Brasil, tanto do poder público quanto da sociedade civil, com o objetivo de implementá-la. No âmbito federal o MEC, através da SECAD, organizou, de 2004 a 2006, fóruns de discussão, cursos, lançou e apoiou publicações didático-pedagógicas e estimulou a criação de Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros (NEABs) nas instituições de ensino superior. 

Em 2008 a Secretaria retomou uma mobilização mais intensa e, entre outras ações, promoveu os Diálogos Regionais, ciclo de encontros que desde o início do ano vem reunindo escolas, sindicatos, diretorias de ensino e organizações da sociedade civil de todas as regiões do país para discutir avanços e problemas locais referentes à aplicação da lei 10.639/03. Os resultados destes encontros irão subsidiar um plano de metas estabelecendo ações de curto, médio e longo prazos para a implementação efetiva da lei, em todo o Brasil, até 2015. O documento-base deste plano está sendo desenvolvido por um grupo de trabalho composto por representantes do governo e da sociedade civil.

Entre os estados, antes da promulgação desta lei as constituições da Bahia, Rio de Janeiro e Alagoas já apontavam para a necessidade de incorporar conteúdos referentes a ela em suas redes escolares. Depois da promulgação, Sergipe decretou sua lei estadual; no Mato Grosso do Sul, o Conselho de Educação local emitiu parecer sobre o tema. São Paulo não regulamentou a lei localmente e ofereceu aos professores da rede estadual um curso de formação. 

Com a promulgação da lei 10.639/03, algumas organizações da sociedade civil passaram a atuar fortemente no apoio à sua implementação, ou a dar continuidade a ações educacionais que já existiam antes dela dentro de segmentos do movimento negro, em parceria com o poder público ou com o apoio de organismos internacionais e empresas privadas. Um aspecto a ressaltar é que organizações não originárias do movimento negro também passaram a trabalhar pela implementação da lei. 

Houve a realização de cursos de capacitação, palestras e debates, o lançamento de publicações, a organização de consultas e pesquisas e a realização de concursos. Nestas duas últimas atividades destacam-se ações realizadas por duas organizações sediadas na cidade de São Paulo: o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (CEERT), que cria e executa diversos projetos voltados para a promoção da igualdade de raça e gênero, e a Ação Educativa, que promove o direito à educação e da juventude, o que inclui proposições de mudanças nas políticas públicas. As duas organizações integram o GT do SECAD/MEC responsável pela elaboração do plano nacional de metas para a implementação da lei 10.639/03. 
 “Outra questão é que a percepção que eles têm sobre os conflitos raciais na escola nem sempre chega aos pais. Há o silêncio. É preciso estar muito atento a isso. O racismo provoca um tipo de sofrimento para estes meninos e meninas a tal ponto que eles não verbalizam, não o expõem para as suas famílias”.

Implementação avança, mas lentamente
As mudanças, ocorreram em amplitude insuficiente para efetivar a implementação da lei 10.639/03 em nível nacional. Não foi realizada ainda uma pesquisa quantificando o número de instituições de ensino brasileiras que estão cumprindo a LDB de acordo com as alterações feitas pela lei 10.639/03. Há, no entanto, consensos em vários aspectos sobre como está a situação atual, de acordo com os entrevistados desta reportagem. Entre estes, a de que há professores, gestores e alunos que desconhecem a existência desta obrigatoriedade e/ou das diretrizes curriculares que as orientam, a formação inicial e continuada docente sobre o tema deixa a desejar e não há material didático-pedagógico adequado acessível a todos. 

“Na prática, a implementação da lei 10.639 não atende ao que esperávamos após cinco anos, embora tenha havido avanços”, avalia Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, professora titular da disciplina de Ensino-Aprendizagem das Relações Étnico-Raciais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Ex-integrante do Conselho Nacional de Educação, ela foi a relatora responsável pelo parecer que instituiu as diretrizes curriculares vinculadas à lei. “A sociedade brasileira gosta de fingir que não somos multiculturais. Essa mudança de mentalidade requerida pela lei, que implica quebra de preconceitos, de privilégios, faz com que a sua implantação não tenha a extensão requerida”. 

 Quando você leva para a sala de aula elementos ligados à origem africana, que têm muito a ver com o pertencimento das crianças que estão ali, mas que a escola não os reconhece, ocorre um embate cultural. Existe uma hierarquização histórica na relação dos descendentes de europeus com os indígenas, os negros e os mestiços”. Para ele, “na verdade o que está em marcha é um questionamento radical do modelo de educação, dos espaços sociais historicamente destinados aos negros, algo até mais amplo que a lei (10.639/03). E a escola tem um grande papel nisso. Ela tem sido um instrumento de controle, de apaziguamento social, que não pressupõe mudanças nas hierarquias”.

Uma outra razão importante para essa lentidão é a descontinuidade das políticas públicas em todas as esferas governamentais, com raras exceções, o que inclui a pequena atuação de boa parte dos conselhos de educação estaduais e municipais na tarefa de acompanhar a implementação da lei, além falta de orçamento para viabilizar ações. “Existem mais iniciativas da sociedade civil em implementar a lei do que do poder público”, afirma Billy Malachias, do CEERT. “Primeiro porque há dentro dos diferentes governos uma idéia de que isso é absolutamente desnecessário, ou seja, que a educação por si só já contempla o que está previsto na lei. Segundo, não há uma política de Estado para a sua implementação”. 
“O grande desafio mesmo é a vontade política, que envolve definição de dotação orçamentária em todos os âmbitos – federal, estadual e municipal – para produção e disseminação de material, para a formação inicial e continuada, e de núcleos estruturados dentro da gestão que possam fazer o acompanhamento dessa implementação, avaliando o que está dando certo e o que não está”. 

“Investir na formação de professores”
Num rol de ações práticas e prioritárias com a finalidade de implementar a lei, Salloma Salomão sugere: “Investir na formação de professores e mudar a estrutura curricular do ensino superior. É preciso formar educadores dispostos, abertos a desvelar e compreender a África, os africanos na diáspora, para além do estereótipo de que hoje a África é um lugar de miséria e de guerra étnica. Esses e outros estereótipos ainda predominam nas instituições de ensino, sem dúvida”, afirma. 
 “É realmente necessário um movimento conjunto – da sociedade civil, dos profissionais da educação, das instâncias governamentais de todos os âmbitos, dos gestores no geral, escolares e político-administrativos. O envolvimento de todos estes atores é essencial para garantir a implementação adequada da lei 10.639”. 

Diretrizes curriculares ainda são desconhecidas pela comunidade escolar
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira apresentam orientações, princípios e fundamentos para o planejamento, execução e avaliação dos conteúdos previstos pela lei 10.639/03.
Elas são destinadas a toda a comunidade escolar e sua elaboração apóia-se em marcos legais, como a Constituição Brasileira, o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Plano Nacional de Educação, além de uma consulta que contou com a participação de 250 pessoas, entre crianças e adultos, mulheres e homens. Trabalham temas como a consciência política e histórica da diversidade e ações educativas de combate ao racismo e discriminações, especificando conteúdos e formas de abordagem no ambiente escolar.

Inclusão da cultura afro-descendente nas escolas: um desafio à parte

Há uma tendência de se retrabalhar nas escolas sempre os mesmos ícones da cultura afro-brasileira, como a capoeira e o candomblé. Entre eles existe todo um universo que se perde, que realmente dá essa dimensão da enorme presença africana na cultura brasileira”. Essa é a opinião do etnomusicólogo Paulo Dias, presidente da Associação Cultural Cachuera!, organização especializada na pesquisa e divulgação da cultura popular tradicional brasileira de origem afro-descendente. Para ele, a introdução da cultura africana e afro-brasileira dentro nos currículos das instituições de ensino é um grande desafio. 

A barreira da escola em trabalhar com este conteúdo é produzida por vários fatores,um deles é a maciça presença da cultura hegemônica, de matriz européia, nas instituições de ensino, “agora voltadas para os Estados Unidos, mas o fundo é ainda é europeu. A versão contemporânea dessa hegemonia é a da cultura do consumo, se é que se pode chamar isso de cultura”, diz ele. 
“Os africanos e afro-descendentes têm formas próprias de expressão artística, têm uma visão de mundo diferente da do europeu. É mais simples apagar a diferença e colocar a cultura afro-descendente numa vala comum do folclore, do povo primitivo, etc., do que você considerar a diferença na sociedade. É aquela filosofia do ‘negro em seu lugar’; na verdade, uma estratégia de dominação que perpassa a história e a cultura do Brasil, desde a escravidão até hoje”, complementa.
Diversas manifestações da cultura afro-brasileira revelam a resistência dos povos africanos em manter a essência de suas crenças e visão de mundo. “E pensando em escola”, existe todo um cancioneiro que é mantido nas congadas, nos jongos, em várias tradições de matriz africana; são músicas que estão sendo cantadas há séculos, celebrando valores de resistência e as memórias do sofrimento, mas da superação do sofrimento também. Elas são riquíssimas e poderiam ser trabalhadas por essa perspectiva, principalmente no campo da História, mas também na música, nas artes, na dança, na educação física, porque esse cancioneiro é associado a formas expressivas onde coexistem a dança, o canto, os tambores, a mímica, o teatro, a riqueza das indumentárias – enfim, todo o simbolismo dessas formas de expressão que normalmente o ocidental europeu considera como formas autônomas, e que o africano vê como formas que coexistem”. 

Lei 11.645/08: para conhecer os povos indígenas de hoje
A promulgação da lei 11.645/08, que altera a LDB, ratifica e amplia a lei 10.639/03, instituindo a obrigatoriedade do ensino da história e cultura indígena nas escolas de educação básica, é justificada pelo governo federal com o objetivo de combater estereótipos presentes nas escolas e reforçar a valorização da diversidade nacional. “Temos uma idéia abstrata de índio, e é importante que possamos enxergar quem são os povos indígenas brasileiros no presente. Até bem recentemente houve aqui extermínio de grupos indígenas. 
Segundo dados do IBGE (1999/2000), a população brasileira indígena é de 734 mil pessoas – mas esse é um dado controverso, uma vez que há censos de outras instituições que apontam para uma população atual de 350 mil indígenas. Em 1500, quando Pedro Álvares Cabral aportou por aqui, os indígenas eram estimados em 5 milhões, compondo mais de 1,5 mil povos, que falavam mais de mil línguas distintas entre si. Na década de 1970 eles estavam reduzidos a 250 mil. O fortalecimento do movimento indígena, ladeado pela Constituição de 1988, que garantiu direitos aos seus povos, permitiu o crescimento desta população nas últimas décadas. 

No livro “O Índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje” (UNESCO/MEC/Fundação Ford/Museu Nacional), o índio baniwa Gersem dos Santos Luciano indica a existência de 222 povos que falam 180 línguas diferentes entre si. Entre estes povos, 61 são formados por grupos inferiores a 200 pessoas, ou seja, estão ameaçados de exinção étnica. Do total da população indígena existente, 60% vive na Amazônia e 13% do território nacional é indígena.

O Congresso Nacional foi o proponente da lei 11.645/08, que, diferentemente da 10.639/03, não passou por um período anterior e longo de debates. André Lázaro ficou sabendo dela quando já estava publicada. “Nem fui informado de sua tramitação”, diz ele. “Mas isso não tira o mérito da lei. É justa do ponto de vista do seu interesse. Deve ser cumprida”.


Surpresa, alegria e cautelaEntre os índios e não-índios ligados ao estudo e divulgação da história e cultura dos povos indígenas brasileiros, a lei 11.645/08 foi recebida com surpresa, alegria e cautela. “Ninguém respeita aquilo que não conhece. O índio que se aprende nas escolas é o do passado, a história e cultura indígena que é ensinada parece um conto de fadas. É muito vergonhoso que outros países do mundo conheçam melhor do que os brasileiros os povos indígenas daqui”.Um preocupação reside na adoção efetiva da lei.“Vivemos num país de muitas leis e pouco cumprimento. Não creio que mais uma lei resolva, mas certamente ela é um start para que a sociedade se mobilize”, diz Munduruku. A antropóloga Artionka Capiberibe, doutoranda do Museu Nacional/UFRJ e pesquisadora de longa data dos índios da etnia palikur, pensa de forma semelhante: “A aplicação das leis aqui no Brasil é complicada. Mas a partir do momento em que esta lei (11.645/08) foi instituída, os movimentos sociais e indígenas passaram a poder, legitimamente, fazer pressão para que ela seja implementada”. 

“Eu tenho imensa reserva quando vejo propostas de mudança curriculares que não vêm ancoradas em estratégias que apóiem os professores a melhorar seu trabalho. Essa me parece mais uma delas. Muda-se a lei e espera-se que a realidade mude com ela. Não é assim na vida real”, afirma o antropólogo Luis Donisete Benzi Grupione, pesquisador- associado do Núcleo de História Indígena e do Indigenismo da Universidade de São Paulo (USP), autor de livros de referência sobre o tema e consultor do MEC para educação indígena. “Creio que nem as escolas, nem os professores tomaram conhecimento dessa lei. Por isso é importante que o MEC e as Secretarias Estaduais de Educação proponham ações para que a lei ganhe efetividade. Sem esse esforço, continuamos no velho e surrado bordão, da larga distância entre o que diz a lei e o que ocorre na prática”. 

André Lázaro informa que, entre as ações iminentes do Governo Federal pela implementação da lei, estão a abertura de um edital para a elaboração de livros didáticos sobre história e cultura indígena, programada para este ano, e o início da elaboração de diretrizes curriculares para a temática, pelo Conselho Nacional de Educação.“Nos últimos anos temos dado atenção especial à educação indígena, o que incluiu a produção de livros, em parceria com universidades, que poderão ser aproveitados para o ensino da história e cultura indígena em toda a educação básica”, diz ele.“Também temos um acúmulo referente à lei 10.639, que certamente vai nos ajudar na implementação da 11.645”. 
“As escolas devem ouvir os indígenas”
Quais os conteúdos e os tipos de abordagem mais adequados para se apresentar a história e a cultura dos povos indígenas nas escolas? O que deve mudar prioritariamente no ensino? Foram perguntas que fizemos a entrevistados desta reportagem, que deram várias sugestões. 

“As escolas podem tratar da diversidade dos povos indígenas que existem hoje em seus próprios Estados”, opina Jurandir Siridiwê Xavante. “O meu Estado, por exemplo, é o de Mato Grosso. Lá existem 42 povos indígenas. Quem vive em Mato Grosso conhece esses povos? Não”. 
Daniel Munduruku concorda: “É preciso mostrar a cultura indígena como individualidades, e não com esta cínica maneira de conhecer nossos povos. Deve-se banir a generalização, pois isso acaba alimentando o estereótipo e o preconceito”. Para ele, “sem a formação adequada dos professores nada irá acontecer efetivamente”. 

Ele sugere, como conteúdos primordiais a serem trabalhados nas escolas: “Aspectos da pré-história brasileira – de onde vieram os indígenas; as ondas migratórias e as diferenças que isso geraram; onde estão localizados os povos indígenas; como era a vida e sua relação com a natureza, e como está isso hoje; qual a contribuição dos povos indígenas para a cultura brasileira”. E completa: “as escolas devem ouvir os indígenas; as escolas devem ler os povos indígenas”. 
Para Artionka Capiberibe, “é preciso diminuir o desconhecimento generalizado sobre a história da participação dos índios na formação do Brasil”. 
“A escola trata mal a questão indígena, seja em termos do passado, seja do presente. Portanto o primeiro desafio que essa lei coloca diz respeito a uma mudança de paradigma no tratamento da diversidade étnica e cultural formativa do país”, afirma. “Penso que se esta lei permitir um novo olhar sobre os índios, esse olhar deve ser marcado pelo reconhecimento da enorme sócio diversidade que existiu e existe no país, de 1500 aos dias de hoje. Portanto, um enfoque prioritário para os professores é acabar com a visão de que todos os índios moram em ocas e tabas e falam tupi”. 
Perspectiva de aproximação
O trabalho que já foi realizado para implementar a lei 10.639/03 tende a abrir caminhos para a lei 11.645/08 e, talvez, criar uma aproximação maior entre os que estão trabalhando por ambas as causas. “Admiro o que está sendo feito pelos negros na divulgação da lei (10.639/03)”, diz Jurandir Siridiwê Xavante. 

“Estamos planejando ouvir as lideranças indígenas, os movimentos indígenas que trabalham na perspectiva da educação, para saber qual o interesse deles em torno da lei 11.645”.


Um afro abraço.
UNEGRO/ 25 ANOS - Rebele-se Contra o Racismo!
fonte:www.cachuera.org.br /www010.dataprev.gov.br

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